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1 CONTRATOS DE COLABORAÇÃO EMPRESARIAL

O comércio foi o grande responsável pelo surgimento e desenvolvimento


do direito comercial. O contrato de compra e venda mercantil se traduz na
principal modalidade contratual para exploração do comércio, pois, intermedia
bens entre o mercado produtor e o mercado consumidor, entretanto, a compra e
a venda, não consiste na única forma de contrato que interessa ao comércio.
Pois, com o desenvolvimento da economia e a complexidade das relações
econômicas surgiu uma grande quantidade de contratos específicos destinados
especialmente a facilitação do comércio, aproximando assim, o produtor do
consumidor. Contratos estes, seguindo a terminologia de Fábio Ulhoa Coelho,
contratos de colaboração.
Trata-se, em síntese, de contratos entre empresários que dinamizam a
atividade empresarial, aproximando o produtor do bem ou prestador do serviço
dos seus respectivos consumidores finais. Assim, o colaborador assume a
obrigação contratual de ajudar a formar ou ampliar o mercado consumidor do
colaborado.
A colaboração pode ser feita por intermediação ou por aproximação:
Na intermediação, o colaborador compra produtos do colaborado em
condições especiais, para depois revender esses produtos adquiridos aos
consumidores (ex.: concessão comercial); nesta, o colaborador não adquire
produtos do colaborado, mas apenas consegue compradores para esses
produtos (ex.: representação comercial). A distinção relevante entre essas duas
modalidades de colaboração está na forma como o colaborador obtém seu
retorno financeiro:
na intermediação, seu ganho está na diferença entre o preço de compra
ao colaborado e o preço de revenda ao consumidor;

na aproximação, seu ganho está no recebimento de um percentual por


cada compra conseguida para o colaborado, ao qual se dá o nome comissão.
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2 Subordinação empresarial nos contratos de colaboração

Em todos os contratos de colaboração que iremos analisar adiante, há


uma marca característica: a subordinação empresarial entre o colaborador e o
colaborado. Destaque-se que essa subordinação é empresarial, e não pessoal,
uma vez que esta, se presente, poderia configurar a existência de relação
empregatícia, o que não é o caso. Essa subordinação empresarial, em síntese,
representa a obrigatoriedade de o colaborador manter uma organização de sua
atividade seguindo padrões fixados pelo colaborado.
Em todos os contratos que analisaremos a seguir, perceberemos que há
entre colaborador e colaborado uma relação de subordinação. Em alguns
contratos, o grau de subordinação é maior (franquia, por exemplo). Em outros, a
subordinação pode não ser tão acentuada (representação comercial, por
exemplo).
O que se deve questionar, porém, é se esta subordinação empresarial
típica dos contratos de colaboração é suficiente para caracterizar essas avenças
como relações contratuais assimétricas, a justificar o dirigismo contratual como
forma de tutelar os interesses dos colaboradores (representantes, franqueados
etc.), os quais seriam, na visão de alguns, contratantes vulneráveis ou
hipossuficientes. Segundo a opinião de André Ramos, essa tese é insustentável.
Ainda que saibamos que, muitas vezes, o colaborador é um empresário
individual ou uma pequena sociedade empresária, enquanto o colaborado é uma
sociedade empresária de maior porte, não podemos concordar com a ideia de
que contratos de colaboração são relações assimétricas nas quais é necessário
o dirigismo contratual. Relações entre empresários não podem ser tratadas,
conforme já frisamos, como relações cíveis, de consumo ou de trabalho.
Empresários são profissionais dos seus respectivos ramos e negociam com
outros empresários como iguais, por mútuo consentimento e para mútua
vantagem, razão pela qual devem ter ampla liberdade para contratar entre si e,
em contrapartida, suportar os prejuízos normais de tais contratações.
No entanto, se formos observar algumas leis que disciplinam tais
contratos, p ex, a Lei 4.886/1965, que disciplina o contrato de representação
comercial, veremos que elas são extremamente protetivas e “dirigistas”, algo
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que, no nosso entender, não é compatível com a essência dos contratos


empresariais.
Na jurisprudência do STJ, podemos encontrar, felizmente, julgados que
reconhecem o caráter empresarial dos contratos de colaboração e, portanto,
reconhecem a plena validade das cláusulas livremente pactuadas. Confiram-se
a propósito os seguintes julgados que analisaram a validade de cláusula de
eleição de foro em contrato de concessão mercantil, um tipo muito comum de
contrato de colaboração, que estudaremos adiante:

Processo civil. Recurso especial. Ação cautelar. Incidente de exceção de


incompetência. Contratos celebrados entre montadora e concessionária de
veículos. Cláusula de eleição de foro. Validade. – Os ajustes firmados entre
montadora e concessionária de veículos constituem contratos empresariais
pactuados entre empresas de porte, financeiramente capazes de demandar no
foro de eleição contratual. – A mera circunstância de a montadora de veículos
ser empresa de maior porte do que a concessionária não é suficiente, por si só,
a afastar o foro eleito. – Recurso especial provido (REsp 471.921/BA, Rel. Min.
Nancy Andrighi, 3.ª Turma, j. 03.06.2003, DJ 04.08.2003, p. 297).

Processual civil. Recurso especial. Competência. Foro de eleição.


Empresas de grande porte. Alto valor do contrato. Montadora de veículos e
concessionária. Precedentes da 2.ª Seção. 1 – Contratos firmados entre
montadora e concessionária de veículos constituem contratos empresariais
pactuados entre empresas de porte, financeiramente capazes de demandar no
foro de eleição contratual. 2 – A mera circunstância de a montadora de veículos
ser empresa de maior porte do que a concessionária não é suficiente, por si só,
a afastar o foro eleito. – Recurso especial conhecido e provido para reconhecer
a competência do foro de eleição, qual seja, da cidade de São Bernardo do
Campo/SP, para o processo e julgamento do feito (REsp 827.318/RS, Rel. Min.
Jorge Scartezzini, 4.ª Turma, j. 12.09.2006, DJ 09.10.2006, p. 309).
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3 As cláusulas de exclusividade nos contratos de colaboração

Outro tema deveras interessante relacionado aos contratos de


colaboração empresarial é o referente às cláusulas de exclusividade, muito
comuns nessas avenças.
Tais cláusulas são muitos importantes nos contratos de colaboração, uma
vez que visam a assegurar ao colaborador (representante, franqueado etc.) o
retorno dos investimentos que eles provavelmente fizeram para iniciar a
colaboração (pesquisa de mercado, formação de estoque, campanhas
publicitárias etc.). Assim, por exemplo, fica o colaborado obrigado a não
comercializar diretamente seus produtos na região do colaborador, nem por meio
de outro colaborador.
Pense-se, por exemplo, no caso do contrato de representação comercial.
Se isso fosse possível, o representante comercial que fez todo o trabalho de
abertura daquele mercado referente à sua zona de exclusividade sofreria
prejuízos consideráveis, uma vez que teve gastos para promover o produto.
Assim, jamais conseguiria o representante praticar preços compatíveis, já que
necessita embutir seus gastos nos preços. Portanto, a cláusula de exclusividade
de zona é, em síntese, o segredo, no mais das vezes, para o sucesso de um
contrato de colaboração. Portanto, as partes devem estar bastante atentas na
hora de redigir o contrato, para que tal assunto seja tratado com cuidado.
Em alguns contratos, porém, dado o dirigismo contratual que marca suas
respectivas leis, a cláusula de exclusividade de zona é considerada implícita,
como ocorre, por exemplo, no contrato de representação comercial (vide art. 31
da Lei 4.886/1965, que analisaremos adiante).
Finalmente, ainda sobre as cláusulas de exclusividade comumente
presentes nos contratos de colaboração empresarial, é importante lembrar que,
não obstante elas sejam absolutamente justificáveis do ponto de vista do direito
empresarial, muitas vezes elas são contestadas no âmbito do direito
concorrencial perante a autoridade antitruste (no Brasil, o Conselho
Administrativo de Defesa Econômica – CADE), a qual, em algumas situações,
rechaça tais estipulações, por vislumbrar nelas, em determinadas circunstâncias,
efeitos nocivos à livre concorrência.
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Na visão liberal adotada na presente obra, a intervenção do CADE nesses


casos é descabida. Aliás, a própria existência de uma autoridade antitruste é
questionável num regime capitalista de livre mercado genuíno. As cláusulas de
exclusividade só são contratadas quando se justificam economicamente, para
ambas as partes. Com efeito, se determinada relação contratual entre
empresários ostenta uma cláusula de exclusividade, é porque tal cláusula se
afigura vantajosa para ambos os contratantes. Caso contrário, não teria sido
convencionada. Um distribuidor aceita uma cláusula de exclusividade porque ela
lhe traz benefícios, como o retorno mais rápido e fácil dos investimentos
realizados para iniciar a contratação. Por outro lado, a mesma cláusula de
exclusividade é benéfica também para o distribuído, porque provavelmente sem
ela nenhum distribuidor se interessaria em realizar os investimentos iniciais
necessários à distribuição de seus produtos.
O dever geral de colaboração também é mencionado nas obrigações impostas
pelo artigo 104 da Lei no 11.101/2005 ao falido. Qualquer pessoa que seja
considerada falida deverá cumprir as obrigações previstas nesse dispositivo.

O PROJETO DE CÓDIGO COMERCIAL

Está em trâmite no Congresso Nacional o Projeto de Lei n. 1.572/2011, o


qual pretende instituir um novo Código Comercial. O corpo do projeto está
dividido em livros, títulos e capítulos que tratam dos variados institutos do direito
empresarial, a começar por princípios, empresário individual, sociedade
empresária e intelectual, obrigações e contratos empresariais, títulos de crédito,
agronegócio, processo empresarial, comércio marítimo e eletrônico, entre
outros.

O projeto visa revogar a parte que ainda resta em vigor do Código Comercial
de 1850, dispositivos do Código Civil que cuida das questões empresariais,
especialmente o Livro II da Parte Especial, e outras normas de conteúdo
empresarial.

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