Não-Objetos de Arte, Não-Objetos de Vestir

Vestuário, Linguagem e Outros Parangolés como "Inter-Faces" Sociais

Carga-horária: ​ 64 horas1

Introdução:

Vestir-se é um ato [poético] de autoprodução social. Dizemos poético em razão de poesia e

produção terem a mesma origem no grego – ​poiesis - e com isso queremos chamar
atenção para o fato de que produzir moda não pode ser confundido com “apenas fabricar”
roupas.

Trata-se de um ato estético – do grego ​Aesthesis ​(“o modo como as coisas do mundo me
afetam”) – e político – modo de ser do homem livre na ​pólis – termos, nesse caso,
indissociáveis, visto que ambos se referem às maneiras como o sujeito se expõe no mundo
público, no meio social do qual faz parte ou no qual pretende se inserir.

O designer, além de não criar sozinho (há uma ampla gama de co-criadores envolvida no
processo - modelistas, designers de estampas, pesquisadores de tendências, industriais
têxteis, etc.) não cria também apenas com tecidos, desenhos e modelagens, cria sobretudo
com a linguagem, a produção de sentidos, as formas de ser e se comportar, os valores e
maneiras de pertencer ao mundo e os modos de distribuição dos lugares (sociais, políticos,
culturais, pessoais, etc.) dos indivíduos.

A tropicália como "movimento contra-cultural" já traz consigo exemplos de sobra da potência

poética do vestuário e da sua capacidade de "tensionar" o ambiente social e colocar sob
suspeita os valores correntes, fundando novas maneiras de pertencer à cidade, à cultura,
ao país e à política. Isto é um fato. Todavia, acreditamos que na obra obra de artistas como
Hélio Oiticica e Lygia Clark o papel da roupa assume uma importância ainda mais evidente,
à medida que em suas criações o ato de vestir torna-se uma "ferramenta" das artes para
reelaborar a relação entre pessoas, espaços, posições, coisas e mundo.

As convergências entre moda, vestuário, produção de linguagem e formas vestíveis são

parte dos temas que trataremos no presente curso, tendo como fio condutor os "problemas"
da arte colocados pela produção estética do movimento da Tropicália.

1
Programa pensado para a oferta na modalidade de extensão ou oficina com prazo de duração
pré-definido.
 Objetivo:

Partindo da reflexão acerca de escritos de artistas brasileiros vizinhos ao movimento da

Tropicália (tais como Hélio Oiticica, Lygia Clark, mas não só eles, expandindo nossas
leituras para outros artistas das décadas de 60 e 70, tais como Artur Barrio, Cildo Meirelles,
dentre outros) buscaremos pensar, por intermédio de exercícios práticos de criação
colaborativa, as relações entre corpo, formas de vestir, moda, projeto, linguagem e
movimento.

O curso pretende ser um convite a pensarmos o designer de moda como um poeta e

produtor de pequenas habitações e, a partir disso, à "descoberta" da produção de moda
como ato poético e não puramente fabril.

Público-Alvo:

Estudantes ou profissionais de moda, design, artes, comunicação e afins ou simplesmente

pessoas que se interessem em refletir sobre as relações entre moda, formas de vestir,
linguagem e sociedades.

Metodologia:

As metodologias aplicadas partirão do conceito de aprendizado por projeto e contarão com

aulas expositivas; discussão em grupo; exercícios práticos de co-criação poética.

Apesar de a presente proposta ter sido configurada como uma oficina ou curso de extensão,
poderá também ser oferecida como um laboratório permanente, comportando inclusive a
participação simultânea de outros professores (história da arte, produção de moda,
figurinos, história do vestuário, costura e modelagem, etc.) o que contribuiria muitíssimo
com a experiência de aprendizado dos alunos.

Corpo Docente:

Guido Conrado.
Mestre e Doutorando em Filosofia da Arte e Estética pela PUC-Rio.

Linkedin:​ ​https://www.linkedin.com/in/guido-conrado-a3a5a830/
Lattes:​ ​http://lattes.cnpq.br/9139019675721169
 Programa

1ª encontro​ – Introdução aos temas do Lab.;

2ª encontro​ – O Vestuário Como Linguagem;

3ª encontro​ – Exercício Livre de Co-criação: Vestuário como Linguagem;

4ª encontro - O Que Significa Ser Um Poeta do Vestuário? – Desdobramentos críticos da

aula anterior.

5ª encontro​ - Lab. de Experimentação – Vestuário/ Técnica/ Poesia.

6ª encontro - ​A Teoria do Não-Objeto.

7ª encontro –​ O que pode significar um não-objeto de vestir.

8ª encontro ​ - Lab de Experimentação. Vestuário, não-objetos e subjetividades.

9ª encontro - ​Hábito, habito – a linguagem do vestuário e a criação de espaços comuns.

10ª encontro ​ – Hábito, habito. Continuação da aula anterior.

11ª encontro - E O Verbo Se Fez Carne e Habitou Entre Nós – o privilégio da linguagem
no processo de produção em moda.

12ª encontro - E O Verbo Se Fez Carne e Habitou Entre Nós – continuação da aula
anterior.

13ª encontro – Poesia é Inovação – o olhar do poeta como estratégia para se pensar o
processo criativo em moda.

14ª encontro​ – Lab. de co-criação poética – Poesia, Moda, Lugares.

15ª encontro​ - Lab. de co-criação poética – Continuação do laboratório anterior.

16ª encontro – ​Considerações finais, avaliação dos processos.

 Bibliografia

ARENDT, Hannah. A Condição Humana. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária,

2005.
BACHELARD, Gaston. A Poética do Espaço. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2003.

BARTHES, Roland. Imagem e Moda, Inéditos, vol.3. São Paulo: Editora Martins Fontes,
2005.

CRANE, Daiane / COIMBRA, Cristiana. A Moda e Seu Papel Social. São Paulo: Editora
Senac, 2006.

FERREIRA; COTRIM (org.). Escritos de Artistas: Anos 60/70. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor ltda. 2006.

HEIDEGGER, Martin. Construir Habitar e Pensar In Ensaios e Conferências. Petrópolis:

Editora Vozes, 2002.

LYOTARD, Jean-François. O Inumano – Considerações Sobre o Tempo. Lisboa: Editorial

Estampa, 1997.

MARCUSE, Herbert. A Dimensão Estética. Lisboa: Edições 70, 1999.

RANCIERE, Jacques. A Partilha do Sensível. São Paulo: Editora 34, 2005.

_________________ O Desentendimento. São Paulo: Editora 34, 1996.

VIRNO, Paolo. A Gramática da Multidão. Pubblicazione italiana: Rubbettino Editore

Catanzaro, Italia. 2001. Tradução para o português de Leonardo Retamoso Palma. Santa
Maria, RS, Brasil. Setembro de 2003.

__________ Virtuosismo e Revolução: A Política no Império. Rio de Janeiro: Civilização

Brasileira, 2008.

__________ When The Word Becomes Flesh - Language And Human Nature. South
Pasadena, 2015.