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3 APRESENTAÇÃO
4 UNIDADE 1 – Introdução
4 1.1 - O pensamento: a base da informação

6 1.2 – A história e compreensão do saber humano

6 1.3 - Uma nova abordagem humana

8 1.4 – As características do pensamento moderno

9 UNIDADE 2 – A Globalização e o poder da informação


9 2.1 – O fenômeno da Globalização

SUMÁRIO
10 2.2 – O poder da informação – reflexo social

10 2.2.1 – Definição de poder

10 2.2.2 – Os efeitos sociais advindos da Globalização

11 2.3 – A Era da Informação

13 2.4 - A informação e a nova tecnologia

14 UNIDADE 3 – Comunicação, Informação e a Expansão do Conhecimento


14 3.1 – A Comunicação social e a liberdade de informação

15 3.2 – O processo comunicativo

16 3.3 – O poder da comunicação

18 3.4 – A comunicação e seus fatores

19 3.4.1 – A comunicação como mídia

19 3.4.2 - A comunicação como interação

19 3.4.3 - A Comunicação como indústria

20 3.4.4 - A comunicação como cultura

21 UNIDADE 4 – A Sociedade da Informação ou Educação


21 4.1 - Perspectivas atuais da educação

21 4.2 - Professor e aluno

23 4.3 – A utilização de tecnologias na Educação

25 4.4 – Críticas frente às novas tendências da educação

28 CONSIDERAÇÕES FINAIS
29 REFERÊNCIAS
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APRESENTAÇÃO

A disciplina “Informação, Comunicação e guardar que trabalha com sujeitos diferen-


Educação” tem como objetivo oferecer ao tes nas áreas econômica, política e social.
leitor – alunos, professores, pesquisadores Assim, podemos questionar: como tratar
e demais interessados nas transformações esse sujeito inserido em um processo?
e evoluções do sistema de informação e na
Na expectativa de refletir os tópicos ci-
interação do sujeito com o mundo – um pa-
tados e contribuir para os questionamen-
norama das principais teorias comunicati-
tos dos leitores, convidamos para um mer-
vas, bem como o reflexo dessas no proces-
gulho na era da informação.
so educacional.
A autora
A vida moderna, mais do que nunca,
transforma-se num ritmo acelerado, devi-
do ao inconsciente passo dos avanços tec-
nológicos. Com consequência, a informa-
ção se propaga auspiciosamente, gerando
sérios desafios sociais e educacionais. As-
sim, nota-se a necessidade de se refletir
sobre a maneira pela qual o conhecimento
se renova e avança e como a sociedade se
vê inserida nesse processo.

Diante da evolução dos meios de comu-


nicação e a rapidez da informação, pode-
mos dizer que as pessoas desfrutam de
maneira semelhante e as oportunidades
são igualitárias? Outros conceitos são per-
tinentes nessa análise tecnológica, como
pobreza, exclusão? Como abordar esse as-
sunto frente às mazelas sociais?

Além de toda uma reflexão a respeito


da “Informação, Comunicação e Educação”
propor-nos-emos a analisar as questões
sociais que refletem diretamente e indi-
retamente nas transformações da socie-
dade, a fim de compreender que a “utopia”
na Educação é um estado platônico. Os in-
divíduos são seres complexos, os quais se
relacionam e interagem em contextos an-
tagônicos. Em contrapartida, a educação,
utopicamente, busca um ideal sem se res-
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UNIDADE 1 – Introdução

A partir da segunda metade do século Na sociedade da informação, a es-


XX, diante das inovações técnico-científi- cola deve servir de bússola para na-
cas ocorridas, o mundo assisti a um grande vegar nesse mar de conhecimento,
dinamismo. Essa produtividade, criada pelo superando a visão utilitarista de só
homem para expressar e nomear conceitos, oferecer informações “úteis” à com-
objetos e diferentes campos do conheci- petitividade, para obter resultado.
mento, acontece notadamente no universo Deve oferecer uma formação geral
das ciências e das distintas atividades profis- na direção de uma educação inte-
sionais. gral. Significa orientar criticamente,
sobretudo as crianças e os jovens, na
Diante desse contexto social, os indivídu-
busca de informações que os façam
os veem-se submersos na Era da Informa-
crescerem e não embrutecer.
ção, a qual se traduz por redes, teias, árvores
do conhecimento, em unidades dinâmicas e Assim, observa-se que o educador in-
criativas. Gadotti (2000, p. 46) ressalta que tensificou o seu trabalho, por tornar-se um
“o conhecimento é o grande capital da huma- indivíduo aprendente e mostrar-se um faci-
nidade. Não é apenas o capital da transnacio- litador da aprendizagem, o docente não mais
nal que precisa dele para a inovação tecno- detém a informação e sim encontra meios
lógica. Ele é básico para a sobrevivência de para buscá-la e interagi-la com os “outros”.
todos.” Dessa forma, o professor quando motiva
seus alunos a refletirem, permiti com que
Tendo em vista a afirmação feita pelo au-
eles processam informações, auxiliando-os
tor, o conhecimento deve estar disponível
a adquirir maiores e melhores conhecimen-
a todos, uma vez que é a base da sobrevi-
tos.
vência. Portanto, cabe as instâncias que se
dedicam ao saber, organizar um movimento Embora muitos profissionais critiquem,
de renovação, a fim de aproveitar-se de toda principalmente educadores, a teoria e a prá-
essa riqueza de informações. Assim, a es- tica devem caminhar paralelamente, pois,
cola, como instituição-base, deve propagar o profissional precisa indagar a sua praxis e
as inovações tecnológicas, orientando os observar que, atualmente, não mais se fala
dicentes a “navegar” nesse vasto campo, na num indivíduo conhecedor da área de atua-
busca de informações que os façam crescer ção, mas de um “sujeito” interativo, eclético,
e desenvolver criticamente. diversificado e empreendedor.
Neste momento, em que a escola parece A informação deixou de ser uma área ou
perder o controle sobre a informação do in- especialidade para tornar-se dimensão de
divíduo, é que se encontra pela primeira vez tudo, modificando totalmente a maneira
determinante o conhecimento, pois a escola como a sociedade se organiza.
passa a ser gestora da aprendizagem. Se-
gundo Gadotti (2000, p.73): 1.1 - O pensamento: a base
da informação
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De acordo com Cassirer (2000, p. 209- ções cuja denominação é o conhecimento.


210): Sendo que esse conhecimento, desde os
primórdios, possibilitou-lhe a indagação e a
No início do vigésimo terceiro
busca de explorações, as quais facilitavam
mês”, diz D.R. Major, “a criança de-
o desenvolvimento de sua própria sobrevi-
senvolveu a mania de dar nome às
vência cujos obstáculos estimularam o saber.
coisas, como se quisesse contar aos
Assim, ao comparar o homem aos demais
outros os seus nomes ou nos cha-
animais, vê-se que o pensamento humano
mar a atenção para as coisas que
é exclusivo dessa espécie, uma vez que ele
está examinando. Olha e aponta demonstrou ser capaz de modificar a sua
para um dos objetos, ou toca-o com experiência, expandi-la, dar um significado
a mão, diz-lhe o nome olhando, para diferente e a posteriori transmitir aos seus
os companheiros.” Tal atitude não descendentes.
seria compreensível não fora o fato
de que o nome, no desenvolvimen- Tais formas de interpretação e vivência
to mental da criança, exerce função diante dos fatos possibilitam que os indiví-
de primeiríssima importância. [...]. duos agrupem-se em modos de vida dife-
Aprendendo a nomear as coisas, a rentes, perpetuando a diversidade cultural.
criança não acrescenta simplesmen- Dessa forma, o mundo ao seu redor passou a
te uma lista de sinais artificiais ao ser dotado de sentido e significado, confor-
seu conhecimento anterior de obje- me Cassirer (1997, p. 25), “O que caracteriza
tos empíricos já prontos. Aprende, o homem é a riqueza e sutileza, a variedade
antes, a formar os conceitos desses e a versatilidade de sua natureza”.
objetos, a entrar em acordo com o As diferenças culturais advêm dos obstá-
mundo objetivo. Daí por diante, pisa culos e necessidades enfrentadas em fun-
terreno mais firme. Suas percepções ção de sua história. A própria reprodução das
vagas, incertas, flutuantes, e seus maneiras de vida existentes revela as novas
sentimentos confusos principiam a manifestações do saber, as quais tentarão
assumir nova forma. ser superadas ao desenvolver mecanismos
O homem é um ser que distingui dos de- de conservação e mudança de acordo com
mais animais pela necessidade de aprendi- cada contexto.
zado, uma vez que o seu comportamento Observamos que Costa (2005), ao re-
não desenvolve naturalmente em relação ao tratar os primórdios da civilização, mostra
mundo, nem transmite aos seus descenden- a ação dos indivíduos como o reflexo de um
tes pelos genes. Para Cassirer (1997, p. 48), pensamento, ao qual, caso fosse aceito pelo
“Comparando aos outros animais, o homem grupo, tornava ritual. Para isso, ele utilizou,
não vive apenas em uma realidade mais am- exemplificadamente, a morte, pois ao es-
pla, vive, pode-se dizer, em uma nova dimen- colher o enterro como “a melhor forma” da
são da realidade [...] o homem vive em um ação, a qual começava a perpetuar, o homem
universo simbólico”. conceituava suas fases, tornando-os fatos
Essa capacidade de pensar o mundo as- acumulativos e repetitivos, a cada novo em-
segurou ao homem o conjunto de informa- pecilho era necessário a análise de novas
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ações, permitindo a elaboração de novas gregos, uma vez que relatavam o período da
propostas de interpretação de uma nova re- civilização micênica e transmitiam os valores
alidade existente. da cultura por meio das histórias dos deuses
e antepassados, expressando uma determi-
Em todos os momentos de transforma-
nada concepção de vida. Assim, observa-se
ção, dependendo de fatores sociais, da tra-
que o herói vive na dependência dos deuses
dição, da influência de grupos ou resistência
e do destino, faltando-lhe a noção de liber-
cultural, os povos desenvolvem diferentes
dade e vontade.
maneiras de compreender a vida e o ambien-
te. Portanto, como administrar o tempo para Uma leitura baseada no senso comum nos
compreender a evolução do pensamento? faria compreender que o mito é uma forma
fantasiosa de explicar a realidade ainda não
1.2 – A história e compreen- justificada pela razão. Dessa maneira, os mi-
tos seriam lendas, fábulas, crenças, portan-
são do saber humano to, uma forma inferior de conhecimento. No
Para discutirmos a respeito do conheci- entanto, como forma de compreensão da
mento é necessário voltar aos primórdios da realidade, o mito não é visto de tal manei-
abordagem, mesmo na Antiguidade e Idade ra, e sim como verdade, a qual se apresenta
Média, para investigar os anseios dos pro- corrente e logicamente, fundamentada em
blemas metafísicos, uma vez que ao homem argumentos e provas verossímeis.
não era dada a capacidade de conhecer.
Nas sociedades “primitivas”1 , os indivídu-
Somente na Idade Média que a teoria do os utilizam a forma sobrenatural para auxili-
conhecimento consegue independência. á-los na compreensão dos fenômenos natu-
Nesse momento, o realismo dos gregos pas- rais e assim poderem usufruir dos benefícios
sa a ser criticado, evidenciando, explicita- em diversos ramos da atividade humana.
mente, a preocupação com questões sobre a
origem, essência e certeza do conhecimen- Por volta de fins do século VII a.C, aconte-
to humano. Para explicar os fundamentos ceu a passagem da mentalidade mítica para
do saber, é imprescindível aludir a Filosofia o pensamento crítico racional e filosófico,
cujos princípios são base para organização uma vez que tais princípios não eram abor-
do processo cognitivo. dados pela explicação dos fatos através da
mitologia. A consciência mítica é ingênua e
A Filosofia pode ser compreendida como desprovida de problematização.
modo de pensar, o qual segue o ser humano
a fim de entender o modo e a maneira de agir 1.3 - Uma nova abordagem
sobre ele. Ela nos possibilita ter mais de uma
dimensão, além da que é dada pelo agir ime- humana
diatamente. O saber humano rompe com a estrutura
mítica, a qual os indivíduos estavam habitu-
Para os antigos gregos, predominava a
ados a agir conforme os ensinamentos en-
consciência mítica como fim da explicação
viados pelos deuses. Desligando do senso
dos fatos, por isso, os mitos gregos são mui-
comum, desenvolveram uma reflexão a fim
to conhecidos na atualidade. As epopéias
possuíam uma função didática na vida dos 1  O termo primitivo se distingue de inferior.
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de compreender o mundo na sua objetivida- riquecimento dos comerciantes, decorrente


de. Este período ficou conhecido como mila- da expansão do mundo grego. A economia
gre grego, salto considerado abrupto para a era pré-monetária, baseada na troca de
época. Dentre as transformações e novida- mercadorias, cuja simbologia detinha o cará-
des apresentadas, destacam-se: a invenção ter sagrado e afetivo. Por volta do século VII
da escrita e da moeda, a lei escrita, o nasci- a.C, a moeda surge com a função de facilitar
mento da polis (fatores esses decisivos para os negócios e impulsionar o comércio que se
o desenvolvimento da civilização grega). Se- encontra em ascensão. Simbologicamente,
gundo Pessanha (1994, p. 34): esse metal precioso representou a transpo-
sição para o pensamento racional, além da
O homem novo do Renascimen-
democratização de um valor.
to: aquele que se liberta da tradi-
ção pela dúvida e confirma seu valor Com a expansão comercial e o desenvol-
através dos resultados de seus es- vimento da colonização, o homem grego
forços, aquele que confia em suas iniciou seus contatos com outras culturas,
experiências e em sua razão; o que influenciando uma visão de mundo mais
confia no novo, pois assume sua rea- eclética. Observa-se então, dentro de con-
lização dentro da temporalidade. textos de grandes transformações, o pen-
samento racional sendo cada vez mais pres-
A criação da escrita e da moeda represen- crito. A partir dessa nova abordagem, a razão
tou uma revolução para o pensamento racio- torna-se característica indispensável à expli-
nal crítico. A escrita, mesmo existindo restri- cação dos fatores.
tamente aos escribas, no período micênico,
com funções administrativas, assume nesse No entanto, apesar da hegemonia da ra-
segundo momento um significado diferente, zão em contraste com a teologia e a mitolo-
por desligar-se de preocupações esotéricas gia, nota-se que a razão entra em declínio no
e religiosas. Quanto a essa mudança, assina- momento da ascensão da Igreja católica, pe-
la Vernant: ríodo este coincidente com a Idade Média. O
poder da Igreja Católica mostra-se incontes-
“a escrita não terá mais por objeto tável e a fé e a crença passam novamente a
constituir para o uso do rei arquivos se manifestarem de modo intenso.
no recesso de um palácio; terá corre-
lação doravante com a função de pu- No período renascente, o homem redes-
blicidade; vai permitir divulgar, colo- cobre o seu poder de investigar o mundo.
car igualmente sob o olhar de todos, Devido a isso, há uma nova maneira dos ho-
os diversos aspectos da vida social e mens compreenderem as relações estabele-
política”. (VERNANT, 1997, p. 25) cidas entre si e a natureza, numa abordagem
coletiva. Inicia-se, portanto, um período de
A escrita passa a ser propagada em pra- aprimoramento das técnicas, desenvolvem-
ças públicas para análise e crítica, deixando -se as universidades e instituições científi-
de ser reservada a quem detêm o poder, tor- cas. O conhecimento espalha-se através dos
nando-se mais abstrata e, portanto, indis- princípios do conhecimento científico, come-
pensável a uma abertura de horizontes. çando a interpretar e explicar a experiência
A invenção da moeda é o resultado do en- social utilizando métodos e instrumentos
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de averiguação. Assim, a transformação dos


postulados sobre o pensamento intensifica
a mudança da realidade social.

1.4 – As características do
pensamento moderno
Admite-se, de maneira geral, que a mu-
dança na forma de compreender o mundo
sofreu e realizou uma radicalíssima revolu-
ção espiritual, conscientização do pensa-
mento humano em detrimento aos aspectos
religiosos, a substituição da preocupação
de compreender o outro mundo; agora pre-
domina a preocupação com esta vida e este
mundo. As metas transcendentais são afas-
tadas do homem moderno, o qual abandona
a contemplação - a simples contemplação da
natureza e do ser – para, enfim, colocar em
práxis o desejo da dominação e da subjuga-
ção.

O racionalismo afirma-se como caracte-


rística relevante para o pensamento moder-
no. Transitando dos princípios dogmáticos à
mentalidade crítica, assume uma atitude po-
lêmica perante às concepções tradicionais:
só a razão é capaz de conhecer. O homem
moderno passa a questionar a Igreja e o sa-
ber, caracterizando o conhecimento como
um saber que leva à dúvida, à indagações.
Assim, o indivíduo se coloca como centro dos
interesses e decisões, mais livres para inter-
pretar o seu mundo.

Nessa virada, o conhecimento não parte


apenas dos princípios, mas da própria reali-
dade observada, a qual é submetida à expe-
rimentações, a fim de explicar os fatos pelo
espírito científico.
9
UNIDADE 2 – A Globalização e o poder
da informação
2.1 – O fenômeno da Globa- informação. A real importância não
vem do fato de ter se iniciado a era
lização espacial, iniciou-se a era da comuni-
O fenômeno da Globalização faz-se pre- cação global por satélite. (NAISBITT,
sente na atualidade de forma avassala- 1983, p. 12)
dora, expandido-se a cada dia, alterando
A globalização é considerada também
estruturas políticas, econômicas, jurídicas
como a fase de desenvolvimento do capi-
e ideológicas. Isso é possível, pois as tec-
talismo, cuja origem se dá com a acumu-
nologias, as comunicações e a economia
lação de riquezas, através da pirataria,
fazem do planeta uma unidade cada vez
do roubo, dos monopólios e do controle
mais entrelaçada, complexa e inter-rela-
de preços praticados pelos Estados ab-
cionada. O que de acordo com Sklair:
solutistas. A comercialização era a fonte
Historicamente, a sociedade mun- primeira de riquezas para os Estados e a
dial se tornou uma ideia acreditável nascente burguesia. No século XVI, acon-
somente nos últimos séculos, e a ci- tece, paulatinamente, a substituição dos
ência, a tecnologia, a indústria e os artesãos e as corporações de ofício pelo
valores universais estão produzin- trabalhador livre assalariado, pelo operá-
do um mundo do século XX que di- rio e pela indústria.
fere de quaisquer épocas passadas
Com a Revolução Industrial, consoli-
(SKLAIR, 1995, p. 14)
dou-se o sistema capitalista baseado em
Alguns autores acreditam que a globa- duas classes: a burguesia, detentora de
lização originou-se do século XV com as capital; e o proletariado, que possuía ape-
Grandes Navegações, uma vez que a Euro- nas a sua força de trabalho. A partir da se-
pa relacionou com outros povos e nações gunda metade da década de 1970, a Revo-
do mundo como um todo e o capitalismo lução Técnico-Científica, o conhecimento
encontrou, dessa maneira, as possibilida- e a tecnologia avançam-se. Os setores
des para se desenvolver. de ponta são a informática, a robótica, as
telecomunicações, a química fina e a bio-
Para outros, a globalização é um pro-
tecnologia. Neste período, a burguesia
cesso notável do século XX, através da
investiu na inovação tecnológica e as má-
comunicação via satélite, o que propiciou
quinas foram cada vez mais aprimorando
uma transformação profunda na socieda-
e aumentando a produção que se expan-
de, Naisbitt destaca:
dia por todo mundo, estabelecendo laços
(...)1957, marca o começo da glo- de dependência entre as nações. Segun-
balização, da revolução da informa- do Ianni:
ção. Os soviéticos lançam o Sputnik
Na base da ruptura que abala a
– o catalisador tecnológico que fal-
geografia e a história no fim do sé-
tava numa crescente sociedade de
culo XX, está a globalização de capi-
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talismo. Em poucas décadas, logo se forma de produção. Foucault ressalta:


revela que o capitalismo se tornou
A burguesia compreende perfei-
um modo de produção global. Está
tamente que uma nova legislação ou
presente em todas as nações e na-
uma nova constituição não serão su-
cionalidades, independente de seus
ficientes para garantir a hegemonia;
regimes políticos e de suas tradições
ela compreende que deve inventar
culturais ou civilizatórias. Aos pou-
uma nova tecnologia que assegura-
cos, ou de repente, as forças pro-
rá a irrigação dos efeitos do poder
dutivas e as relações de produção
por todo o corpo social, até mesmo
organizadas em moldes capitalistas
em suas menores partículas. (FOU-
generalizam por todo o mundo. (IAN-
CAULT, 1.979, p. 218).
NI, 1.997, p. 221).

2.2 – O poder da informação 2.2.2 – Os efeitos sociais


– reflexo social advindos da Globalização
Marx, um seleto intelectual da Sociolo-
2.2.1 – Definição de poder gia, realizou uma crítica radical ao modelo
O poder é tido como um dos três prin- histórico de sociedade, apontando suas
cípios fundamentais que rege a vida do contradições e antagonismos. Marx, jun-
homem em sociedade e a totalidade das tamente com Engels, identificou uma so-
relações humanas. Está presente em di- ciedade dividida em classes sociais, cada
versas organizações do relacionamento uma com regras e condutas apropriadas
humano e não deve ser confundido com a ao sistema capitalista.
mera força física. A coercitividade é pre-
Com a divisão do trabalho, acreditava
sente, pois o sujeito, caso não seja domi-
que a sociedade moderna era a principal
nado, pode sofrer sanções, mas, apenas
fonte de exploração, opressão e aliena-
pela técnica da argumentação, o poder
ção. Afirmava Marx, em “O Manifesto Co-
pode ser intitulado.
munista”:
Michel Foucault, em “A Microfísica do
A história de todas as sociedades
Poder”, estabelece um nexo entre o sa-
que existiram até os nossos dias tem
ber e o poder. Para ele, a verdade não se
sido a história das lutas das classes.
encontra separada do poder; é o poder
que gera o saber, desenvolve a chamada Homem livre e escravo, patrício
sociedade disciplinar, pois, segundo esse e plebeu, barão e servo, mestre de
autor, o poder está disseminado em uma corporação e companheiro, numa
rede de instituições disciplinadoras como palavra opressores e oprimidos,
pais, professor, médico, entre outras, que em constante oposição, tem vivido
baseando no discurso, o faz circular. As- numa guerra ininterrupta, ora fran-
sim, com o capitalismo, houve a necessi- ca, ora disfarçada; uma guerra que
dade de desenvolver a sociedade disci- terminou sempre, ou por uma trans-
plinar, a qual se tornou adequada à nova formação revolucionária da socie-
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dade inteira, ou pela destruição das Refletindo sobre a crítica de Marx,


duas classes em luta. exemplificamos:

Nas primeiras épocas históricas, O pior analfabeto é o analfabeto


verificamos, quase por toda parte, político.
uma completa divisão da socieda-
Ele não ouve, não fala, nem parti-
de em classes distintas, uma escala
cipa dos acontecimentos políticos.
graduada de condições sociais. Na
Roma antiga encontramos patrícios, Ele não sabe que o custo de vida, o
cavaleiros, plebeus, escravos, ser- preço do feijão, do peixe, da farinha,
vos; e, em cada uma destas grada- do aluguel, do sapato e do remédio
ções especiais. dependem das decisões políticas.
A sociedade burguesa moderna, O analfabeto político é tão burro
que brotou das ruínas da sociedade que se orgulha e estufa o peito di-
feudal, não aboliu os antagonismos zendo que odeia política. Não sabe
de classe. Não fez senão substituir o imbecil que, da sua ignorância po-
novas classes, novas condições de lítica, nasce a prostituta, o menor
opressão, novas formas de luta às abandonado, e o pior de todos os
que existiram no passado. bandidos, que é o político vigarista,
pilantra, corrupto e o lacaio das em-
Entretanto, a nossa época, a épo-
presas nacionais e multinacionais.
ca da burguesia caracteriza-se por
ter simplificado os antagonismos de (BRECHT, Bertolt. O Analfabeto
classe. A sociedade divide-se cada político. 1982, p. 183.)
vez mais em dois vastos campos
opostos, em duas grandes classes
diametralmente opostas: a burgue-
sia e o proletariado. (MARX, 1984 p. 2.3 – A Era da Informação
365-366) Segundo Marx:

Marx tentou mostrar que no capitalis- A História [...] em cada uma de


mo sempre haveria desigualdade social, suas fases, encontra um resultado
uma vez que a exploração é a base da pro- material, uma soma de forças de pro-
dução. E como o indivíduo produzia mais dução, uma relação historicamente
para o empresário, torna-se alienado, criada com a natureza, e entre outros
pois o trabalhador deixa de ter o domínio indivíduos, que cada geração trans-
de seu processo de trabalho e dele não mite à geração seguinte; uma massa
se beneficia. A dominação estendia-se de forças produtivas, de capitais e de
ao campo político, ideológico e jurídico da condições que embora sendo modifi-
sociedade. Com o apóio do Estado, a clas- cadas pela nova geração prescreve a
se dominante impõe seus interesses e esta suas próprias condições de vida
busca, no Direito, a sistematização da sua e lhe imprime um determinado de-
vontade individual. senvolvimento, um caráter especial.
Mostra que, portanto, as circunstân-
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cias fazem os homens, assim como paridade da sociedade contemporânea, é


os homens fazem as circunstâncias. imprescindível perceber como se dá a va-
(MARX, 1984, p. 56) riabilidade cultural, a fim de dialogar com
a diferença.
A partir da citação de Marx, observa-
-se que o gênero humano apresenta um 1 – A cultura não deriva de apti-
desenvolvimento acumulativo no que se dões inatas transmitidas ao homem
refere ao controle tecnológico sobre a na- pela herança genética através de um
tureza e a maneira pela qual a sociedade longo processo de aprendizagem a
compreende as transformações. que foi submetido no decurso de sua
socialização em determinado grupo
Com a globalização e os reflexos desta,
ou sociedade.
a informação tomou um reflexo de inten-
sa ampliação e relevância. O advento dos 2 – O homem compartilha com as
satélites de telecomunicação possibilitou demais espécies vivas de um con-
a circulação de informação em tempo real; junto de necessidades básicas bio-
os acontecimentos são transmitidos a logicamente herdadas. No entanto,
qualquer lugar do mundo no exato instan- diferentemente destas espécies, ele
te em que estão acontecendo. Dessa for- respondeu a estas necessidades de
ma, o mundo tornou uma “aldeia global”, forma radicalmente diversa em fun-
expressão bastante utilizada para se re- ção mesmo da sua condição biológi-
ferir à globalização cultural e informativa, ca, que tornou capaz de simbolizar e
com o intuito de enfatizar a proximidade abstrair a concretude do homem. Ou
dos povos. seja, através da palavra, o homem
pôde representar mentalmente as
Tal conceituação “Era da Informação”,
coisas do mundo sem precisar para
justifica-se pela importância dada ao co-
isso, tocá-las, manuseá-las ou mani-
nhecimento, em todos os setores, em con-
pulá-las.
sequência da informatização e do proces-
so de globalização das telecomunicações. 3 – Ao contrário dos demais seres
Todavia, o que se constata é a exclusão de vivos, o homem atuou sobre o seu
uma massa da população não inserida no próprio processo evolutivo na medi-
processo de evolução do conhecimento, da em que, pôde se adaptar à condi-
por não dispor de condições elementares ções ambientais e naturais extrema-
para a participação ativa no processo cog- mente adversas criando, ele mesmo,
nitivo. os meios necessários a esta adapta-
ção.
As disparidades regionais e sociais se
acentuam confirmando o pensamento 4 – Diferentemente dos demais
de Karl Marx. Para muitos estudiosos da seres vivos, o homem mantém com
sociedade contemporânea, esses não o mundo uma dupla relação. Ele é
são os problemas cruciais do desenvolvi- parte da natureza enquanto espécie
mento tecnológico na Era da Informação. viva, mas ao mesmo tempo, pôde se
Para que se possa compreender essa dis- construir de um modo que o permitiu
13

ir além das condições naturais a ele patentes de produtos e processos;


impostas, seja no que diz respeito a comunicada em relatórios, protóti-
sua própria estrutura interna e orgâ- pos, desenhos, painéis de controle
nica, seja no que tange às suas rela- de máquinas; gravada em películas
ções com o meio externo no qual se cinematográficas; transmitida em
insere. programas de rádio ou televisão, por
telegrama ou telefone. (DANTAS,
2.4 - A informação e a nova 2002, p. 117).

tecnologia Costa (2005) diz que o investimento na


A partir das considerações feitas ao comunicação resultou na imposição das
longo do estudo, tornou-se patente o formas de regulamentação existentes
desenvolvimento das ciências no sécu- que organizavam o trabalho, a produção,
lo XVIII e o seu impulso durante o século as relações entre as pessoas e as comu-
XX. Neste período, a ciência passou por nicações. Denominou esse processo de
transformações consideráveis em varias “desregulamentação”, o qual inclui as pri-
áreas do saber. Intensificaram-se os pro- vatizações dos serviços públicos, as leis
jetos coletivos e interdisciplinares, redu- de Direito autoral, a distinção entre tra-
zindo as fronteiras dos trabalhadores e balho manual e informação. Devido a isso,
aproximando as disciplinas. Notou-se que a economia informal cresce, uma vez que
áreas do conhecimento como, Psicologia, a automatização tende a substituição da
Sociologia, Antropologia, Biologia, entre mão-de-obra, gerando assim, grandes on-
outras, muito contribuíram para explicar das de desemprego. A sociedade vivencia
fenômenos e transformações sociais. uma forte interdependência, convicção
dada ao processo de globalização que
O desenvolvimento da informática, da gera um pensamento em múltiplas redes.
automação e das telecomunicações foi
fator decisivo para compreender os pro-
cessos produtivos que se tornaram mais
integrados, centralizados e planejados.

A informatização dos meios de produ-


ção propiciou a agilidade do fluxo, dando
à economia um ritmo nunca cogitado an-
teriormente. Uma nova mercadoria surge
em decorrência da mercantilização das
relações sociais: A informação. E, apartir
disso, a informação passa a ser a principal
fonte de valor que circula pelas redes de
comunicação. De acordo com Dantas:

O que a grande maioria das pesso-


as vem produzindo em seu trabalho
é informação social. Registrada em
14
UNIDADE 3 – Comunicação, Informação e a
Expansão do Conhecimento
3.1 – A Comunicação social ma. Portanto, a informação é o resultado
do processo histórico, cujas mudanças
e a liberdade de informação econômicas, políticas e ideológicas inter-
De acordo com o art. 5º, XIV da CF/88, ferem concomitantemente.
segundo os princípios legais, a comuni-
O desenvolvimento tecnológico mo-
cação social conferiu especial ênfase à
dificou profundamente a forma como o
liberdade de pensamento, de criação, de
conhecimento passou a ser produzido,
expressão, de informação e a livre divul-
registrado, reproduzido e disseminado.
gação dos fatos, valores constitucional-
A imprensa se instaurou, alternando o
mente gravados como direitos fundamen-
modo de fazer-se cultura.
tais do indivíduo.
A produção de conhecimento instau-
Observa-se que a norma prescrita esta-
rava o uso cada vez maior de recursos
belece pontos relativamente subjetivos.
tecnológicos, a fim de propagar os princí-
Contudo, à norma destacam-se outros
pios do capitalismo: o lucro e o poder. No
dispositivos legais que a complementa
século XIX, pela maior acessibilidade aos
como: inviolabilidade da honra, da intimi-
meios de comunicação, em princípio o ba-
dade e da vida privada – caso não cumpri-
rateamento do papel, fez surgir os primei-
do, sujeito a sanções de responsabilização
ros jornais que passaram a ser produzidos
civil e criminal.
em série, reduzindo a distância entre as
Segundo o art. 5º e 220 da CF/88, para pessoas e disseminando a informação.
que a liberdade de informação seja efeti- Assim, o mundo, o qual dependia de uma
va, a manifestação do pensamento e sua comunicação direta e oral, transforma-se
propagação também devem ser. É livre a radicalmente, devido à representativida-
manifestação do pensamento, sob qual- de tecnológica. Para Mcluhan:
quer forma, processo ou veiculação sem
Foi só com o advento do telégra-
qualquer restrição, vedada qualquer for-
fo que a mensagem começou a via-
ma de censura de natureza política, ideo-
jar mais depressa do que os mensa-
lógica e artística. Acrescente-se que na li-
geiros. Antes dele, as estradas e a
berdade de manifestação do pensamento
palavra escrita eram estritamente
é vedado o direito de manifestá-lo, tê-lo
interligadas. Com o telégrafo, a in-
em segredo.
formação se destacou de certos
A liberdade do indivíduo somente é bens sólidos como a pedra e o papiro,
ressaltada quando as transformações tal como o dinheiro se desligara an-
políticas de ideologias antagônicas são tes do couro, do lingote e dos metais,
destituídas do poder vigente. Para exem- para terminar em papel. (MCLUHAN,
plificar, o regime ditatorial, de princípios 1.971, p. 108).
autocráticos e absolutistas, contrapõe os
Observa-se, de maneira revolucionária,
direitos fundamentais mencionados aci-
15

como o universo da mídia se intensifica, o absoluto. Pelo menos pensa que


ampliando e multiplicando-se em escalas isso possa ocorrer (...) O amor pro-
surpreendentes. A imagem, com a função mete comunicações de fusão, assim
de integrar povos de diferentes idiomas, como as fortes pulsões de ambição
desenvolveu-se, alcançando democrati- ou de poder. Uma manifestação pú-
camente a todos, independente do nível blica pode pôr-me em estado de co-
de alfabetização. Dessa forma, há o avan- municação emotiva, um encontro, o
ço da televisão e da fotografia. discurso de um líder; vibro juntamen-
te com milhares de outros indivíduos.
A sociedade midiática foi responsável
pela mudança de paradigma dos indivídu- Em resumo, vivo em meio à co-
os, acrescentando novo valor, reduzindo municações múltiplas, que distingo
a distância e aumentando a velocidade da umas das outras de maneira implí-
informação, o que resulta no processo de cita. Com efeito, sei bem, sem que
homogeneização cultural. seja preciso explicar-me a cada vez,
que a comunicação científica de um
3.2 – O processo comunica- de meus colegas a um colóquio re-
cente é de tipo diverso da que re-
tivo cebo ou me é transmitida em minha
Segundo Sfez (1994): secretária eletrônica, não possuindo
tampouco a mesma intensidade da
O tudo-comunicar que penso ter como um amigo. Um
Em geral, que se entende por “co- mundo as separa e, contudo, eu as
municar”? reúno todas sob o termo genérico de
“comunicação”.(SFEZ, 1.994, p. 37).
Recebo uma comunicação telefô-
nica. Estabeleço, corto ou perturbo O ato comunicativo é um ato social e,
comunicações. Fui bem sucedido ou como tal, concretiza as diversas manifes-
não em comunicar minhas impres- tações cotidianas e culturais por meio de
sões, ideias ou sentimentos a meu interação. De um lado, temos um falante
parceiro, a meu vizinho, ao público. que, ao emitir sua mensagem e posicionar-
-se por meio dela, escolherá um assunto,
Comunico-me também com o uni- um código e suas possíveis combinações,
verso físico através dos meus senti- a fim de atingir uma intenção. Do outro,
dos. Assim, vejo e escuto, apreendo temos o destinatário, ou seja, o interlo-
a arte contemporânea, que me co- cutor, o qual construirá sentido à mensa-
munica arrepios de adesão ou des- gem. Necessita para isso, além de decifrar
gosto, aprecio a natureza, esse mar o código, atribuir significados a partir de
que vejo azul, esse lago tranquilo. sua competência de leitura.
Posso ainda, em alguns casos, co- Assim temos:
municar-me com Deus ou com algum
princípio eterno supraterrestre e
chegar ao êxtase, comunicação com
16

A palavra comunicação, cuja origem la- dialogar, com vista ao bom entendi-
tina “comunicare”, quer dizer comunhão, mento entre pessoas.
estar com, partilhar de alguma coisa ou
O princípio ideológico é fundamental
dar conhecimento às pessoas de alguma
para compreender o processo comunica-
coisa, informar. A partir do significado
cional, por relacionar-se sempre sobre o
da palavra, observa-se que dependendo
prisma do conflito entre os interlocuto-
da intenção do falante e do interlocutor,
res, os quais são marcados por concep-
uma definição é mais cabível em detri-
ções históricas, sociais e o “poder” de do-
mento da outra. A primeira, a comunica-
minação sobre o pensamento de outrem.
ção é entendida em uma perspectiva mais
espontânea, na qual os interlocutores
se interagem; na segunda definição, ao
3.3 – O poder da comunica-
interlocutor cabe a tarefa de receber as ção
informações, de modo passivo, como se Para compreender o poder da comuni-
fosse destituído de conhecimento, com- cação, ressaltar-nos-emos alguns concei-
petência, ideologia (assunto a ser traba- tos sobre o termo do poder.
lhado no próximo capítulo). No entanto,
como já foi ressaltado, a comunicação é O poder é tido como um dos três incen-
um ato social, que necessita de interação tivos fundamentais que dominam a vida
para efetivar-se, opondo a segunda defi- do homem em sociedade e rege a totali-
nição. dade das relações humanas. Consiste na
faculdade de alguém impor a sua vontade
No dicionário Aurélio (2004), o verbete a outro, não sendo meramente por força
comunicação é definido assim: física, mas podendo utilizar da coerção
Sf. 1. Ato ou efeito de comunicar(- para que se mostre; ou utilização, até
-se). 2. Processo de emissão, trans- mesmo da retórica, para a persuasão da
missão e recepção e/ou sistemas sua argumentatividade.
convencionados. 3. A mensagem re- A conceituação dada ao termo é o re-
cebida por esses meios. 4. A capaci- flexo da história humana, o qual mesmo
dade de trocar ou discutir ideias, de modificado, às vezes é exercido conforme
17

princípios já vigentes. do, formas de interdição da comunicação,


como coloca Oliveira 2 :
Nos Estados teocráticos, o poder legí-
timo é consentido por Deus, nas monar- a) O poder de falar, de decidir ou de
quias hereditárias, o poder é transmitido agir é tão concentrado que as pessoas não
de geração em geração e mantido pela se sentem responsáveis em participar ati-
força da tradição; em governos aristo- vamente das decisões e preferem cumprir
cráticos, apenas os “melhores” exercem apenas as ordens;
funções de mando: os mais ricos, os mais
b) A opinião dissonante (diferente)
fortes, os de linhagens nobres, os da eli-
tem um custo emocional e político para as
te do saber, entre outros.; na democracia,
pessoas e, dentro de um clima de comuni-
o poder legítimo nasce do consenso, da
cação verticalizada 3 , torna-se mais van-
vontade do povo.
tajoso para o indivíduo calar a sua opinião
Apesar da hierarquia, teoricamente ser e restringir a sua participação;
extinta da democracia, o poder nem sem-
c) A comunicação, ainda nesse con-
pre se realiza de acordo com a vontade
texto, concentra o poder em pessoas de-
do povo. No processo comunicativo, por
tentoras de cargos ou de alguma forma de
exemplo, a competência é dada àqueles
saber (o médico, o chefe, o gerente, por
que têm a autoridade para falar e ser es-
exemplo) de tal maneira que inibe os ou-
cutado, ora pessoas mais graduadas, ora
tros membros de se manifestarem, por in-
de classe social alta, ora pessoas consa-
segurança ou intuição de que sua opinião
gradas socialmente. Nota-se que sempre
terá pouco valor ou credibilidade;
existirá a luta de classes mencionadas em
Karl Marx. Desse modo, a comunicação d) Também, a ausência de condições
se realiza em uma esfera de poder, a qual reais de participação (instrução, dificul-
se relaciona a hierarquia das pessoas na dade de acesso e entendimento da in-
sociedade, portanto, detentoras de um formação) inibe as pessoas e determina
poder político, social, cultural e econô- uma integração pouco produtiva entre os
mico maior em relação às outras, ou seja, membros da equipe.
segundo o ditado popular, “manda quem
Para mediar essa forma de comunica-
pode, obedece quem tem juízo”.
ção deve haver maior facilidade de infor-
Assim como uma determinada pessoa mações, capacitação dos profissionais e
está envolvida em uma disputa pelo poder, amplas possibilidades de manifestações
a comunicação será restrita em função da de pensamento, independente de hierar-
mensagem que a mesma fará circular, em quia.
relação ao seu interesse. Em contraparti-
da, a autora será alvo de permanentes bo-
atos por inspirar objeções ao grupo e não
pertencer à política adotada. Termo muito 2- Professor do Departamento de comunicação Social da FAFI-
abordado na comunicação empresarial. CH/UFMG.

3- Contexto vertical de comunicação é aquele em que ocorrem


É muito comum, em contexto politiza- muitos conflitos, dificultando a integração das pessoas no gru-
po de trabalho.
18

3.4 – A comunicação e seus


Esse esquema, baseado no linguista
fatores Roman Jakobson, reúne os elementos da
Tomando como base o esquema do pro- comunicação e suas respectivas funções
cesso comunicativo, dependendo de nos- de linguagem. Para Jakobson:
sa intenção, do sentido, podemos enfa-
Embora distingamos seis aspectos
tizar os fatores, os quais se resultam nas
básico da linguagem, dificilmente
funções da linguagem. Veja:
lograríamos encontrar mensagens
Referente verbais que preenchessem uma úni-
função referencial ca função. A diversidade reside não
Mensagem no monopólio de alguma dessas di-
versas funções, mas numa diferen-
função poética
te ordem hierárquica de funções. A
estrutura verbal de uma mensagem
depende basicamente da função
predominante. (JAKOBSON, Romam,
Canal s/d).
função fática Para exemplificar as funções da lingua-
Código gem, colocar-nos-emos alguns textos.
função metalinguística

Função conativa

Função referencial
O governo federal repassou R$ 152 milhões desde 2003
a pelo menos 43 entidades cujos dirigentes são ligados ao
MST, informa Marta Salomon. O valor é mais de três vezes
maior que o investigado pelo TCU, que apura repasses a
apenas quatro associações. Algumas dessas entidades fo-
Eduardo Knapp/Folha Imagem ram criadas após os principais braços jurídicos do MST.
19

Função emotiva Sobre esse enfoque, o interesse da


comunicação baseava na dominação dos
meios de comunicação, a fim de poder uti-
lizá-los em função da própria sociedade,
de forma democrática.

3.4.2 - A comunicação
como interação
A comunicação é vista como um pro-
cesso integrado e interativo que envolve
diferentes linguagens verbais e não-ver-
bais. O receptor não é mais tido como mero
Função metalinguística registrador das mensagens; dele depende
Gastei uma hora pensando um verso a comunicação, pois a continuidade des-
que a pena não quer escrever ta é garantida a partir de suas respostas.
Nessa concepção, a comunicação envolve
No entanto ele está cá dentro
conhecimentos extratextuais, os quais
inquieto, vivo. interferem na informação.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
3.4.3 - A Comunicação
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira. como indústria
(Carlos Drummond de Andrade) O elemento crítico dessa abordagem é
a luta de classes e o aparelho repressivo
A partir das funções das linguagens, do Estado. A comunicação através da mí-
podemos compreender a comunicação so- dia é vista como uma formação de pressão
bre vários aspectos. ideológica e de dominação sobre as clas-
ses subalternas, ou seja, a sociedade de
3.4.1 – A comunicação massas.

como mídia Ansiosos por não se expressarem numa


cultura de massas, os estudiosos mani-
No século XX, já era evidente o poder
festavam a aversão à uma cultura de se-
da mídia sobre as pessoas, devido a in-
gunda linha, que poderia ser criada por
tensificação do processo de globalização
essa sociedade. Diziam que a cultura midi-
em todo o mundo. Notava-se, portanto,
ática buscava a aglutinação de pessoas de
que os meios de comunicação, além de
origem diferente, numa manifestação de
serem usados na publicidade e venda de
unanimidade. Por trás dessa ideologia, a
produtos, ou transmissão de mensagens,
comunicação volta-se para os fins capita-
integraria ou interferia na sociedade, mo-
listas, e o Estado, como responsável pela
tivando-a sobre as massas 4 .
4- Massa refere-se uma população rebaixada, indiferenciada.
20

regulamentação, vai ao encontro desses


benefícios. Portanto, a informação e a co-
municação mostra-se como uma forma de
dominação, sucedendo até mesmo como
preconceituosas.

3.4.4 - A comunicação
como cultura
O conceito de cultura simboliza tudo o
que é aprendido e partilhado pelos indiví-
duos de um determinado grupo e que con-
fere uma identidade dentro do grupo que
pertence, além de referir-se à crenças,
comportamentos, valores, instituições,
regras morais que permeiam e identificam
uma sociedade.

Renunciando a concepção economicis-


ta de cultura, percebeu-se a necessidade
de valorização do receptor da comunica-
ção, uma vez que ele a recebe dá-lhe o
significado às mensagens, de acordo com
o seu próprio conhecimento e interação
com o mundo, ou seja, sua cultura. Assim,
dá-lhe valor e existência no processo de
comunicação e na construção da cultura.

A partir dessas análises, dependendo


do enfoque dado ao processo comunica-
tivo, os reflexos sociais são divergentes.
Com a relevância das novas tecnologias da
informação e da comunicação, o homem
se vê mergulhado em um universo ora de
autonomia, ora de dominação.

A informação possibilita-nos a intera-


ção com o outro e com o mundo, mas, ao
mesmo tempo, isola-nos, por nos tornar
seres condicionados a tanto conhecimen-
to, não paramos para nos autoconhecer.
21
UNIDADE 4 – A Sociedade da Informação
ou Educação
4.1 - Perspectivas atuais da própria origem da educação tradicional
explica muitas controvérsias existentes,
educação era destinada a uma pequena minoria e a
Durante o desenvolvimento do traba- cultura do indivíduo era bastante diferen-
lho, muitas transformações foram apre- te dos comportamentos atuais.
sentadas, desde a conceituação do pen-
A virada do milênio marca um período
samento à mudanças de ordem política e,
de catástrofe na educação. O sistema es-
principalmente, tecnológica.
colar não tem dado conta da educação bá-
Quando se fala em educação, a palavra sica de qualidade e as bases teóricas para
“perspectiva” parece ser incoerente dian- implementação da educação com forma-
te da descrença de muitos profissionais ção crítica, socializadora, frente ao desen-
da área. volvimento tecnológico, não apresentam
consistência necessária para os caminhos
A palavra “perspectiva” vem do latim
mais seguros, diante a sua práxis.
“perspeativus” que deriva de dois verbos
“perspecto”, que significa “ olhar até o fim, É certo que reviver a “época de felici-
examinar atentamente” e “ perspicio”, dade” é uma utopia. A clientela é ecléti-
que significa “ olhar atrás, ver bem, olhar ca, heterogênea e, ainda, as atitudes dos
atentamente e caminhar com cuidado, re- discentes são reflexos de mudanças de
conhecer claramente” 5 . personalidades e de valores, até mesmo
de humanos. O professor – educação – em
Segundo o dicionário Aurélio (2004),
hipótese alguma, conseguirá dominar os
“perspectiva é a arte de representar os
alunos apenas transmitindo conhecimen-
objetos sobre um plano tais como se apre-
to. Atualmente, com as novas tecnolo-
sentam à vista: pintura que representa
gias de informação, o estudante busca o
paisagem e edifícios a distância; pano-
conhecimento que deseja. Portanto, vael
rama; aparência; aspecto, aspecto sobre
as seguintes reflexoões: A profissão de
o qual uma coisa se apresenta, ponto de
professor está no fim? Será necessário re-
vista; expectativa, esperança”.
pensar o processo de ensino-aprendiza-
A educação atual vê-se enraizada nas gem e o papel do educador diante de tan-
concepções da educação tradicional, a tos meios de se propagar a informação?
qual, ainda é considerada por muitos pro-
fissionais como a época da “ felicidade”. 4.2 - Professor e aluno
O professor detentor do saber transmitia As crises no sistema educacional afe-
o conhecimento a seus alunos, e estes, tam diretamente a sociedade escolar.
apáticos e passivos, o recebiam. Dessa Como já sabemos, essa mudança é devido
maneira, alguns professores relatam que à modificação do paradigma do proces-
“Naquela época o aluno aprendia”. No en- so de construção do saber. Não podemos
tanto, os educadores esquecem que a
5- Dicionário Escolar Latino-Português, de Ernesto Faria.
22

mais viver platonicamente motivando que conteúdos, pois estes envelhecem


uma educação desligada do mundo e da rapidamente. Não basta aprender a co-
vida em sociedade. nhecer. È preciso aprender a pensar, a
pensar a realidade e não apenas “pensar
Segundo Moraes (1998), a missão da
pensamentos”, pensar o já dito, o já feito,
escola mudou. É preciso focalizar o indi-
reproduzir o pensamento. É preciso pen-
víduo, aquele sujeito original, singular,
sar também o novo, reinventar o pensar,
diferente e único, específico em seu capi-
pensar e reinventar o futuro.
tal genético e toda a espécie humana, um
sujeito coletivo, inserido numa ecologia Aprender a fazer – É indissociável do
cognitiva da qual fazem parte outros hu- aprender a conhecer. A substituição de
manos. certas atividades humanas por máquinas
acentuou o caráter cognitivo do fazer. O
Ao professor, destaca o desafio de ga-
fazer deixou de ser puramente instru-
rantir o movimento do processo educa-
mental. Nesse sentido, vale mais hoje a
cional, fruto da interação entre educador
competência pessoal que torna a pessoa
e educando.
apta a enfrentar novas situações de em-
No entanto, os novos paradigmas da prego, mas apta a trabalhar em equipe, do
escola permeiam por uma relação de har- que a pura qualificação profissional. Hoje,
monia entre professor-aluno, o que nem o importante na formação do trabalhador,
sempre acontece. A violência em sala de também do trabalhador em educação, é
aula é realidade frequente em grandes saber trabalhar coletivamente, ter inicia-
centros urbanos e mesmo no interior. Pro- tiva, gostar do risco, ter intuição, saber
blema que atravessa o poderio da escola, comunicar-se, saber resolver conflitos, ter
uma vez que o indivíduo é sujeito de suas estabilidade emocional. Essas são, acima
ações e entendê-las nem sempre cabe ao de tudo, qualidades humanas que se ma-
educador, diante de sua realidade. nifestam nas relações interpessoais man-
tidas no trabalho. A flexibilidade é essen-
Portanto, hoje, compreender o pro-
cial. Existem hoje perto de 11mil funções
cesso educacional e o sujeito, centro da
na sociedade contra aproximadamente
aprendizagem, é ser um professor diver-
60 profissões oferecidas pelas universi-
sificado e atualizado, a fim de tentar atin-
dades. Como as profissões evoluem muito
gir os quatro pilares do conhecimento,
rapidamente, não basta preparar-se pro-
discutido por Delors6 .
fissionalmente para um trabalho.
Aprender a conhecer – Prazer de com-
Aprender a viver juntos – a viver com
preender, descobrir, construir e recons-
os outros. Compreender o outro, desen-
truir o conhecimento, curiosidade, auto-
volver a percepção da interdependência,
nomia, atenção. Inútil tentar conhecer
da não-violência, administrar conflitos.
tudo. Isso supõe uma cultura geral, o que
Descobrir o outro, participar em projetos
não prejudica o domínio de certos assun-
comuns. Ter prazer no esforço comum.
tos especializados. Aprender a conhecer é
mais do que aprender a aprender. Apren- 6- Co-ordenador do Relatório para a UNESCO da Comissão In-
der mais linguagens e metodologias do ternacional sobre Educação para o século XXI.
23

Participar de projetos de cooperação. inovação da produção do conhecimento.


Essa é a tendência. No Brasil, como exem-
Ladislau Dowbor (1998), após descre-
plo desta tendência, pode-se citar a inclu-
ver as facilidades que as novas tecnolo-
são de temas/eixos transversais (ética,
gias oferecem ao professor, apresenta
ecologia, cidadania, saúde, diversidade
uma questão que é pertinente: “o que eu
cultural) nos Parâmetros Curriculares Na-
tenho a ver com tudo isso, se na minha es-
cionais, que exigem equipes interdiscipli-
cola não tem nem biblioteca e com o meu
nares e trabalho em projetos comuns.
salário eu não posso comprar um compu-
Aprender a ser – Desenvolvimento tador?”, e, ele responde que será preci-
integral da pessoa: inteligência, sensibi- so trabalhar em dois tempos: o tempo do
lidade, sentido ético e estético, respon- passado e o tempo do futuro. Fazer tudo
sabilidade pessoal, espiritualidade, pen- hoje para superar as condições do atraso
samento autônomo e crítico, imaginação, e, ao mesmo tempo, criar as condições
criatividade, iniciativa. Para isso não se para aproveitar amanhã as possibilidades
deve negligenciar nenhuma das potencia- das novas tecnologias.
lidades de cada indivíduo.A aprendizagem
Pensar no uso tecnológico, apenas
não pode ser apenas lógico-matemática e
como um meio avançado e atual voltado
linguística.Precisa ser integral.
para o ensino-aprendizagem, é pautar-
-se numa educação restrita. Diante dos
4.3 – A utilização de tecnolo- entraves, políticos, sociais, educacionais,
gias na Educação ambientais, é necessário despertar a
A tecnologia permite uma nova lingua- consciência da sociedade para a gravida-
gem para enfrentar a dinâmica do proces- de desses problemas e adoção de medidas
so de ensino-aprendizagem. Através da em busca de soluções. Dessa forma, vê-se
mensagem eletrônica, que envolve um que a educação deve ser concebida numa
pensar dinâmico, o ambiente de aprendi- visão mais complexa e ampla, relacionada
zagem torna-se mais rico e curioso e o su- à formação do indivíduo cidadão.
jeito é mais valorizado por tornar-se sujei- O pensamento atual da educação preci-
to-pesquisador. sa extrapolar as questões de didática, dos
No ambiente computacional a intera- métodos de ensino, dos conteúdos curri-
tividade é fundamental, por facilitar as culares, a fim de encontrar caminhos mais
atividades cognitivas de troca de infor- coerentes com o momento histórico em
mação. Assim, o professor também está que estamos vivendo. No entanto, pensa-
sempre aprendendo a aprender em con- va-se que o professor, nessa nova pers-
dições de equidade com o estudante. Se- pectiva de ensino, seria fadado ao fracas-
gundo Sacristian (1998, p. 23), “A Internet so, pois com o uso de tecnologias na sala
está gerando popularidade a um ritmo de aula, o ensino exige muito da atenção
muito mais selvagem que qualquer ou- do professor.
tro meio de comunicação do passado.” É A internet é um mecanismo ideal para
importante observar que o uso da tecno- incentivar os alunos a buscar o conhe-
logia está na potencialidade de criação e
24

cimento e ser o sujeito ativo do ensino- próprio aprendizado conscientemente. A


-aprendizagem. Mas, é importante distin- autonomia inserida no ambiente virtual
guir informação e conhecimento, porque possibilita a criticidade do alunado, pela
os aprendizes não podem limitar-se ape- necessidade de avaliação das informa-
nas em contextos de informação e o pro- ções contidas na fonte de pesquisa. Cabe
fessor precisa motivá-los para o apro- também ao professor, interferir no pro-
fundamento do conhecimento. Segundo cesso, a fim de fundamentar e ampliar as
Moran (2000): bases do conhecimento que o aluno con-
tém. Conforme Moran (2000):
Muitas formas de dar aula hoje
não se justificam mais. Perdemos A internet é uma tecnologia que
tempo demais, aprendendo muito facilita a motivação dos alunos, pela
pouco, nos desmotivamos continu- novidade e pelas possibilidades
amente. Tanto professores quanto inesgotáveis de pesquisa que ofe-
alunos, temos a clara sensação de rece. Essa motivação aumenta se o
que em muitas aulas convencionais professor a faz em um clima de con-
perdemos muito tempo. O professor fiança, de abertura, de cordialidade
precisa estar atento, porque a ten- com os alunos. Mais que a tecnolo-
dência na Internet é para a disper- gia, o que facilita o processo de ensi-
são fácil. O intercâmbio constante no-aprendizagem é a capacidade de
de resultados, a supervisão do pro- comunicação autêntica do professor,
fessor pode ajudar a obter melhores de estabelecer relações de confiança
resultados. O papel do professor é com os seus alunos, pelo equilíbrio,
de acompanhar cada aluno, incen- competência e simpatia com que
tivá-lo, resolver suas dúvidas, di- atua. O aluno desenvolve a apren-
vulgar as melhores descobertas. As dizagem cooperativa, a pesquisa
aulas na Internet se alternam com as em grupo, a troca de resultados. A
aulas habituais, nas quais acrescen- interação bem-sucedida aumenta a
tamos textos escritos e vídeos para aprendizagem, Em alguns casos, há
aprofundar os temas pesquisados uma competição excessiva, mono-
inicialmente na Internet. Posterior- pólio de determinados alunos sobre
mente, cada aluno desenvolve um o grupo. Mas, no conjunto, a coope-
tema específico de pesquisa, que ele ração prevalece [...]. A possibilidade
escolhe, conciliando o seu interesse de divulgar páginas pessoais e gru-
pessoal e o da matéria [...] (MORAN, pais na Internet gera uma grande
2000, p. 55). motivação, visibilidade e responsa-
bilidade para professores e alunos.
O desenvolvimento da ação educativa
(MORAN, 2000, p. 48).
nesse novo processo de aprendizagem
permite ao educando uma interação em Todos esses aspectos mencionados no
tempo real com o outro, vivendo a reali- uso da tecnologia em sala de aula são im-
dade de modo prático e dinâmico. Assim, prescindíveis neste novo cenário mundial.
ele se tornará capaz de estruturar o seu No entanto, as bases teóricas do processo
25

educacional precisam reformar as novas redes televisivas, a condição em que mui-


diretrizes da educação, para que profes- tas crianças e adolescentes são expostas
sores vejam a importância da capacitação para estudar é paradoxal com as novas
continuada diante do atraso e passam a tendências da educação. E, ainda, a falta
transmitir o conhecimento através de no- de preparo e capacitação dos educadores
vos caminhos. agrava ainda mais toda essa situação.

Portanto, como pensar essa nova abor-


4.4 – Críticas frente às novas dagem do ensino-aprendizagem, tendo
tendências da educação em vista todas essas contradições?
Diante desse novo panorama educa- Voltar-nos-emos na proposta de
cional, muitas indagações permeiam as Dowbor: temos que trabalhar em dois
diretrizes propostas e necessárias para a tempos, o tempo do passado e o tempo do
interação no novo cenário mundial. futuro. Que seja, lamentar-se diante des-
Lamentavelmente, muitos atrasos ain- se paradoxo não resolve as incoerências;
da não foram superados. Apesar de signi- é necessário, portanto, fazer a diferença.
ficativas melhorias, as matrículas no ensi- O professor em uma sala tradicional
no fundamental não concentram todas as precisa criar um mundo real e ao mesmo
regiões do país de forma unânime. Além tempo artificial, para proporcionar condi-
disso, a repetência e a evasão continuam ções concretas de ensino. Mas, isso não
sendo problemas no quadro educacio- impede que o professor utilize uma nova
nal. Em função da acentuada repetência, metodologia, a fim de propor a pesquisa,
a grande maioria dos estudantes desiste a dúvida, a pergunta, a busca de infor-
muito cedo da escola, tendo em vista o mação e a construção do saber. Assim,
desestímulo causado pela repetência e a conseguirá superar em partes o déficit
necessidade prematura de ingressar no de aprendizagem sem os recursos tecno-
mercado de trabalho para garantir a so- lógicos, isto é, trabalhou para superar o
brevivência. atraso. No entanto, precisa criar as condi-
Quando relatamos o próprio desempe- ções para aproveitar o futuro. Esse aspec-
nho dos alunos nas disciplinas curricula- to depende muito da relação de evolução
res, o resultado é alarmante. O aprovei- entre o Estado e a Sociedade e o próprio
tamento das disciplinas fundamentais, pensamento daquele frente ao desenvol-
como Português e Matemática, é muito vimento de uma sociedade mais instruída,
superficial e incompleto. Isso prejudica o capacitada, autônoma, criativa, a qual se
desenvolvimento e a agilidade do raciocí- coopera e relaciona-se na aldeia global.
nio mental e formal da criança e do ado- Para que isso realmente aconteça,
lescente em processo de informação. deve partir do próprio “sujeito”, responsá-
Acrescenta-se a esse quadro educa- vel por todas as modificações no contex-
cional, a precariedade da infraestrutura to mundial. Por exemplo, se o professor
de muitas escolas em todo o nosso país. dispuser de todos os recursos tecnológi-
Como frequentemente são mostradas em cos para ministrar uma boa aula, mas não
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estar ciente da função desse material, a cimento é construído mediante proces-


tecnologia não contribuirá para o proces- sos reflexivos. A capacidade de reflexão
so ensino-aprendizagem. Assim, nota-se pressupõe recursividade, ou seja, refletir
que apenas bons materiais não farão da na ação, e, uma vez realizada, refletir so-
escola um centro de excelência em apren- bre ela, buscando novas práticas gerado-
dizagem; o educador precisa repensar os ras de novos conhecimentos. Ao promo-
conceitos sobre a educação. ver a reflexão na ação, ao dialogar com a
realidade, com a situação-problema, e ao
Quando dizemos que a teoria e a práti-
refletir sobre a ação desenvolvida, esta-
ca precisam integrar-se, sempre ouvimos
ríamos promovendo um refinamento do
os seguintes relatos: “A prática é muito
pensamento reflexivo, deixando de enfa-
diferente da teoria”. Acreditamos que re-
tizar a racionalidade técnica e a mecaniza-
almente são questões, as quais necessi-
ção do pensamento.
tam de reflexão e empreendimento para
sua efetividade. Mas, não creiamos que a 3) Flexibilidade da estrutura curricu-
prática seja diferente da teoria. Na ver- lar – é por meio da proposta curricular que
dade, os educadores não estão dispostos se estrutura a mudança no sistema edu-
a buscar novas teorias para o processo cativo. Numa proposta onde se pretende
educacional e, assim, modificar sua prá- mudança e inovação, os professores não
xis. Primeiro, os profissionais urgem pela podem ser consumidores de propostas
transformação teórica, para em seguida, curriculares elaboradas em organismos
buscar metodologias diferentes para o centrais de planejamento e controle. É um
ensino. currículo inter-relacionado, contextuali-
zado, datado, enraizado no local, gerado
Portanto, nessa nossa conjuntura, o
nos processos de reflexão e transforma-
processo de capacitação de docentes
ção que ocorrem no ato de aprender. Ao
envolve algumas diretrizes importantes,
mesmo tempo, não deixa de considerar
como coloca Viana (200, p. 43):
questões mais amplas e globais.
1) Integração teoria e prática – um 4) Interdisciplinaridade – um currí-
dos aspectos fundamentais é não disso-
culo aberto, interpretativo, que permite
ciar a ferramenta de sua utilização peda-
desenvolver a capacidade de organizar,
gógica, trabalhando a relação teoria-prá-
combinar inquirir, a partir de uma estrutu-
tica como uma unidualidade, para que não
ra aberta, admite que os pensamentos e
se perca a visão da multidimensionalida-
conectem entre si, compreende as inter-
de, da complexidade do fenômeno educa-
-relações existentes entre os diferentes
tivo.
conhecimentos e as disciplinas existen-
2) Adoção do enfoque reflexivo na tes.
prática pedagógica – o atual modelo 5) Integração cooperativa entre
científico esclarece que não somos espec- educação, ciência e tecnologia, dirigi-
tadores do mundo, mas construtores da da para a expansão e o progresso do
realidade por intermédio de nossa ação- conhecimento – a capacitação para o uso
-reflexão sobre o mundo e que o conhe- das novas tecnologias informacionais de-
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verá impulsionar a transformação da edu-


cação na direção de uma cidadania moder-
na, superando o isolamento educacional
em relação à aquisição de conhecimentos
científicos e tecnológicos, no sentido de
criar maior sinergia entre eles.

6) Aprendizagem autônoma – as
transformações no conhecimento, os
avanços científicos, as mudanças nas or-
ganizações, no trabalho e na própria vida
requerem, como condição de sobrevivên-
cia, autonomia, capacidade de decisão,
criatividade, além de uma educação per-
manente.

A partir dessas diretrizes, o trabalho do


professor atenderá às exigências das no-
vas tendências da educação neste novo
contexto mundial.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A revolução da ciência e da tecnologia re- acentuadas no contexto educacional. Além


quer que os indivíduos aprendam melhor e disso, mostrar-nos presentes e receptíveis
continuamente. E, por essa razão, podemos aos desafios propostos nessa perspectiva
concluir que o desafio da Era da Informação educacional.
é realizar a integração entre os indivíduos, a
fim de que estes percebam a dinamicidade
do contexto mundial e incorporem as vari-
áveis políticas, culturais, tecnológicas e hu-
manas neste novo paradigma.

Nesse processo de desenvolvimento da


aprendizagem, a educação também precisa
integrar-se aos princípios da modernidade,
para não evidenciar atrasos e arcaísmos que
rompem com a nova tendência da educação.
No entanto, como já ressaltado, muitos de-
safios devem ser vencidos diante da realida-
de do ensino em nosso país.

Moraes (1998) diz que educar neste con-


texto, é desenvolver a compreensão de que
é impossível querer desacelerar o mundo e,
sim, procurar adaptar a forma de educar às
mudanças rápidas e aceleradas presentes
em nossa vida. É ter uma atitude interna de
abertura e não fechamento, uma atividade
de questionamento crítico e, ao mesmo tem-
po, de aceitação daquilo que julgar relevante.
Envolve a compreensão dos impactos sociais
e políticos decorrentes dos fenômenos de-
mográficos e a aquisição de valores compatí-
veis com a vida numa sociedade planetária. É
preciso preparar os indivíduos para vivencia-
rem uma nova ética entre os povos capaz de
melhorar a convivência.

Entretanto, para que possamos combi-


nar esses elementos no processo de en-
sino-aprendizagem, é necessária, primor-
dialmente, a própria forma individualizada,
com princípios críticos e abertos à inovações
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