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Universidade Federal de Viçosa – Campus Florestal

Engenharia de Alimentos
EAF 388 – Laboratório de Fenômenos de Transporte

Determinação da Viscosidade de fluidos

Ana Luiza de Melo Souza Mat. 1390


Ana Paula Hanke de Oliveira Mat. 1357
Pedro Henrique Lopes Marques Mat. 356
Raquel Lucena de Souza Mat. 1379
Saulo Baêta Espindola Mat. 1143
Professor: Fábio Takahashi

Florestal
26/08/2016
1. INTRODUÇÃO

Atualmente existe um aumento na demanda de mercado de óleos vegetais de


diversas fontes naturais e com diversas aplicações. Independentemente da aplicação, se
faz necessário o conhecimento das propriedades termofísicas pois são fundamentais para
o planejamento das etapas de projeto de equipamentos e processo e para a especificação
do produto. Na indústria de alimentos esse conhecimento é necessário também para
processos que envolvam transferência de calor como tratamento térmico e
armazenamento de produtos.

Dentre as propriedades termofísicas citadas temos a viscosidade que é a


resistência de um líquido em fluir por uma superfície ou duto e não apresenta relação com
a densidade, mas apresenta alta relação com a temperatura. No viscosímetro rotacional a
viscosidade é medida pela velocidade angular de uma parte móvel, que pode ser no
formato de palhetas ou cilindro, separada de uma parte fixa pelo líquido.

Fluidos são as substâncias que se deformam quando submetidas à pressão, não


importando se essa tensão é muito pequena. Os fluidos não-newtonianos são aqueles que
não apresentam uma taxa de cisalhamento proporcional à tensão aplicada, dentre eles se
encontram os dilatantes e o pseudoplásticos. Os fluidos dilatantes têm sua viscosidade
aumentada com o aumento da tensão e o contrário ocorre nos fluidos chamados
pseudoplásticos. Dentre os fluidos dilatantes está a solução de água e amido e dos
pseudoplásticos o ketchup. Os fluidos dilatantes apresentam um problema nas tubulações
das indústrias, pois ao aplicada a tensão por uma bomba haverá obstrução da tubulação,
sendo assim o conhecimento dessa propriedade muito importante no projeto de uma
indústria.

2. OBJETIVOS

 Determinar a viscosidade do óleo de soja em diferentes temperaturas;

 Observar o comportamento de um fluido dilatante.


3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Segundo Moura et al. (2000), o estudo da viscosidade é essencial para várias


aplicações, desde os projetos e avaliação de processos até o controle de qualidade, a
correlação com a avaliação sensorial e a compreensão da estrutura dos materiais.

A viscosidade de um fluido é a resistência à deformação ou ao escoamento e pode


ser entendida como uma fricção interna. A definição mais comum de viscosidade é a
Viscosidade Absoluta, também chamada de Coeficiente de Viscosidade Dinâmica,
representada pela letra grega μ, cuja unidade no SI é o Pa.s (N.s.m-2 = kg.m-1. s-1 ).

Para calcular a viscosidade do fluido usa-se um viscosímetro. Seu princípio


baseia-se na medida da resistência ao escoamento em tubo capilar ou pelo torque
produzido pelo movimento de um elemento através do fluido. Existem vários tipos de
viscosímetros, por exemplo: viscosímetro rotativo, capilar de bola e outros (Figura 1)
(DIAS, NOGUEIRA e OLIVEIRA, 2014).

Figura 1: Tipos de Viscosímetro (Fonte: https://pt.wikibooks.org)

Os fluidos podem ser classificados como líquidos, gasosos ou sólidos elásticos, e


segundo Silva (2000), com base no seu comportamento reológico em dois grandes grupos
que são os fluidos newtonianos e os fluidos não newtonianos (Figura 2).
Figura 2: Representação esquemática dos tipos de Fluido (LEAL, 2005)

Fluidos cujas viscosidades absolutas dependem apenas da temperatura e pressão


são chamados fluidos Newtonianos, e apresentam uma relação linear entre o gradiente de
velocidade ou a taxa de deformação e a tensão cisalhante, esse tipo de comportamento é
representado por uma parte dos líquidos e soluções, sendo a água um exemplo típico
(TANNER, 1988).

Os fluidos não newtonianos são aqueles em que a tensão de cisalhamento não é


diretamente proporcional à taxa de deformação, são dependentes do valor da deformação
e do tempo de aplicação da tensão de cisalhamento. Neste tipo de fluido não ocorre uma
relação linear entre o valor da tensão de cisalhamento aplicada e a velocidade de
deformação angular (ABDULLAH, 2011). Grande número de fluidos, em vários ramos
da indústria, apresenta esse comportamento.

O comportamento dos fluidos está representado na Figura 3.

Figura 3: Comportamento dos diferentes tipos de fluidos. Fonte: (PEREIRA, 2006)


Os fluidos dilatantes não possuem uma tensão de cisalhamento inicial, porém sua
viscosidade aparente aumenta com o incremento da taxa de deformação. Esse tipo de
comportamento foi observado originalmente em suspensões concentradas e uma possível
explicação para isso é que, em repouso, o espaço entre as partículas é mínimo e o líquido
lubrifica a superfície de contato para preenchê-lo (PEREIRA, 2006).

Os fluidos de espessamento se comportam como sólidos quando submetidos a


estresse mecânico ou de corte, sendo assim classificados como dilatantes. A mistura de
amido de milho com água é um exemplo desse tipo de fluido, que se trabalhados com
outros materiais, podem ser utilizados como esquis que absorvem impactos ou amadura
corporal leve (WAGNER e BRADY, 2009).

Pseudoplásticos: São substâncias que, em repouso, apresentam suas moléculas em


um estado desordenado, e quando submetidas a uma tensão de cisalhamento, suas
moléculas tendem a se orientar na direção da força aplicada. E quanto maior esta força,
maior será a ordenação e menor será a viscosidade aparente. Exemplos: polpas de frutas,
caldos de fermentação, melaço de cana.

Plásticos de Bingham: Apresentam uma relação linear entre a tensão de


cisalhamento e a taxa de deformação, a partir do momento em que se atinge a tensão de
cisalhamento inicial. Exemplos: fluidos de perfuração de poções de petróleo, algumas
suspensões de sólidos granulados.

Herschel-Bulkley: Também chamado de Bingham generalizado. Este tipo de


fluido também necessita de uma tensão inicial para começar a escoar. Entretanto, a
relação entre a tensão de cisalhamento e a taxa de deformação não é linear. Esta relação
depende do expoente adimensional n, característico para cada fluido.

A viscosidade dos líquidos tende a diminuir com o aumento da temperatura,


enquanto que a variação da pressão exerce efeitos mínimos, exceto para altíssimas
pressões. A seguir, temos um quadro que exemplifica o comportamento da viscosidade
do fluido com relação a temperatura.
Para Mafart e Béliar (1994), a relação do tipo Arrhenius (Equação 1) é expressa
em termos da temperatura absoluta (T), da constante universal dos gases ideais (R), da
energia de ativação (Ea), da viscosidade (η) e de uma constante (η0), que, para Pereira,
Queiroz e Figueirêdo (2003) é chamada de parâmetro de ajuste.

η = η0 . exp(Ea/R.T) ( Equação 1)

A energia de ativação (Ea), segundo Pereira, Queiroz e Figueirêdo (2003), indica


a sensibilidade da viscosidade devido à mudança de temperatura; maiores valores da
energia de ativação significam que a viscosidade é relativamente mais sensível à mudança
de temperatura.

4. MATERIAL E METODOS

4.1. Material
 Viscosímetro Rotacional;
 Béquer 600 mL;
 Bastão de Vidro;
 Registrador de Temperatura;
 Óleo de Soja;
 Polvilho Doce.

4.2. Métodos

4.2.1. Experimento 1 – Viscosidade do Óleo de Soja


Adicionou-se óleo de soja em um béquer e transferiu-se este béquer para um
freezer para refrigeração. Após o óleo de soja ser refrigerado, levou-se o béquer para um
viscosímetro rotacional para fazer análise de viscosidade.
No viscosímetro rotacional, mediu-se a viscosidade do óleo de soja, variando a
velocidade de rotação para que a viscosidade ficasse na faixa de 30 e 90, enquanto
registrava-se a variação da temperatura do óleo através de um registrador de temperatura.
Anotou-se os resultados.
4.2.2. Experimento 2 – Solução de Amido
Em um vasilhame, fez-se uma solução de amido adicionando água e polvilho doce
e observou-se o comportamento dessa solução quanto a sua viscosidade.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1. Óleo de Soja:

Os resultados obtidos no procedimento com óleo de soja são mostrados na tabela


1.

Viscosidade (mPa×s) Velocidade (m/s) Constante Temperatura (K)


39,0 L-3 20 269,85
37,0 L-3 20 274,85
33,0 H-12 5 277,15
62,5 H-30 2 280,15
56,0 H-30 2 281,55
55,0 H-30 2 283,65
Tabela 1 – Valores encontrados no procedimento

A partir dos resultados encontrados foi possível encontrar uma equação que
relaciona viscosidade e temperatura, como mostrado na figura 4.

Viscosidade do óleo de soja


3
2.5 y = -12982x + 48.203
ln(viscosidade)

R² = 0.8245
2
1.5
1
0.5
0
0.0035 0.00355 0.0036 0.00365 0.0037 0.00375
1/T (K)

Figura 4 – Viscosidade do óleo de soja.

Foi possível observar a relação inversamente proporcional da viscosidade e


temperatura que após 280,15 K. Esse resultado está coerente com o esperado, uma vez
que com o aumento da temperatura, as moléculas passam a se movimentar mais
rapidamente, consequentemente as forças intermoleculares se tornam menos efetivas e
por isso a viscosidade diminui (TOMAZ, 2013). Além disso, o valor da viscosidade
encontrados no procedimento para 283,65 K está coerente com o valor encontrado por
Brock (2008), para a temperatura de 284 K a viscosidade era de 57 mPa×s.

A alteração observada também pode ter ocorrido devido a variação da velocidade


do viscosímetro, uma vez que a Lei de Stokes diz que a viscosidade é inversamente
proporcional a velocidade terminal do fluido (TOMAZ, 2013).

5.2. Solução de Amido:

A viscosidade da amostra com solução de amido (Figuras 5 e 6) aumentava a


medida que a tensão aplicada aumentava. Esse resultado era esperado, uma vez que esse
tipo de solução se comporta como fluidos não-newtonianos dilatantes (MOTTA, 2007).
Esse comportamento pode ser explicado por que na mistura de amido e água no
repouso os grânulos de amido são envolvidos por moléculas de água. Porém, ao se aplicar
uma tensão brusca (fazendo movimentos rápidos e fortes), a água é removida dos espaços
entre os grânulos, aumentando assim o contato entre os grânulos. Isso faz com que o
choque entre os grânulos seja maior, e por isso essa solução se comporta como um sólido
(MOTTA, 2007).

Figuras 5 e 6: Determinação da viscosidade da solução de amido.

6. CONCLUSÃO
Foi determinado a viscosidade do óleo de soja por viscosímetro rotacional em
diferentes temperaturas e notou-se que com o aumento da temperatura a viscosidade do
óleo de soja diminui. Foi observado o comportamento de uma solução de água com
amido, que é um fluido dilatante.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABDULLAH W. S. Viscoplastic Finite Element Analysis of Complex Geotechnical
Problems. Jordan Journal of Civil Engineering, vol. 5, n. 2, 2011, p. 302-314.

BROCK, J., et. al. 2008 Determinação experimental da viscosidade e condutividade


térmica de óleos vegetais. Ciência e Tecnologia de Alimentos.v.28, n.3, Campinas, 2008.

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Fernanda C.; CORAZZA, Marcos L.; OLIVEIRA, José V.; Determinação experimental
da viscosidade e condutividade térmica de óleos vegetais. Ciênc. Tecnol. Aliment.
Campinas, 28(3): 564-570, jul.-set. 2008.

DIAS, C. A., NOGUEIRA, I., OLIVEIRA, M. Viscosímetro Rotativo. Universidade


Federal do Amazonas – Faculdade de Tecnologia – Departamento de Engenharia dos
Materiais. 2014. Disponível em: <http://pt.slideshare.net/izauranogueira/viscosmetro-
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Dissertação (mestrado). Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Instituto de
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MAFART, P.; BÉLIARD, E. Ingeniería industrial alimentaria, volumen II: Técnicas de
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MOURA, S.C.S.R. et al. Manual do Seminário Propriedades Termofísicas Aplicadas na


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MOTTA, Mariele K. F.; Maizena com água: fluído não-newtoniano; Universidade


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1988, 451p.
TOMAZ, Plinio; disponível desde 21 de Agosto de 2013, em
<http://www.pliniotomaz.com.br/downloads/livros/livro_remocao/capitulo08.pdf>
acesso em 25 de agosto de 2016 às 19:12.

Wagner, Norman J.; Brady, John F. Shear thickening in colloidal dispersions. Physics
Today , American Institute of Physics. pp.27-32. Outubro de 2009.

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