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O desenvolvimento econômico da China e o papel das mulheres

A ascensão econômica da China nas últimas décadas é um fenômeno que tem chamado atenção
tanto da mídia quanto da comunidade acadêmica, ainda mais devido ao papel central do país na
economia global conquistado nos últimos anos.
Alguns autores destacam o papel crucial da China para um desenvolvimento mais autônomo
entre os países do Sul, enquanto outros apontam que o crescimento chinês e sua influência na
economia global podem estar levando a uma nova forma de imperialismo, tão prejudicial quanto às
anteriores. Outro ponto de destaque sobre o desenvolvimento chinês é a relação do país com o meio
ambiente, tendo em vista que a crescente exploração de recursos naturais e o aumento do consumo
num país com sua dimensão territorial e populacional pode impactar todo o planeta, fazendo assim
com que o país ocupe um lugar chave nos debates e nas políticas internacionais sobre mudanças
climáticas e desenvolvimento sustentável.
A despeito de todas essas possíveis desvantagens (imperialismo, degradação ambiental etc),
para alguns autores, como por exemplo Sugihara (2002) e Arrighi (2007), o modelo de
desenvolvimento adotado pelo leste asiático, em especial o sucesso do caso chinês, podem
contribuir positivamente para o desenvolvimento dos demais países cujo processo de
industrialização não se deu nos mesmos moldes e no mesmo período que aqueles que integram o
chamado “primeiro mundo”.
Ao analisar as especificidades regionais e os elementos internos que permitiram o
desenvolvimento dos países do leste asiático, a questão de gênero, mais especificamente o papel de
homens e mulheres no desenvolvimento econômico destes países, muitas vezes recebe pouco ou
nenhum destaque, apesar das exceções, como o artigo de Kenneth Pomeranz (2003), que será
discutido mais adiante.
Ainda que não seja foco do texto “Neoliberalism ‘with Chinese characteristics’”, ao denotar
aspectos neoliberais do desenvolvimento chinês, Harvey (2005) enfatiza que dentre os imigrantes
de áreas rurais que tem sua força de trabalho superexplorada nas fábricas chinesas, a grande maioria
é composta por jovens mulheres.
Outra ponto importante sobre a divisão do trabalho entre homens e mulheres é como ela pode
oferecer alternativas a outras formas de desenvolvimento, como por exemplo a interdependência
regional. Um exemplo desse caso é a relação entre China e Japão em alguns momentos dos últimos
dois séculos, em que o aprofundamento da divisão sexual do trabalho na China propiciou ao país
um deslocamento importante, passando de uma maior interdependência em relação ao Japão para
uma maior autossuficiência, como aponta Pomeranz.
O exemplo acima ajuda a ilustrar que mesmo para quem busca compreender as relações
externas da China para com os demais países – e isso implica em conhecer também sua dinâmicas
econômicas internas ​– os diferentes papéis desempenhados por homens e mulheres são
fundamentais para a compreensão deste processo como um todo.
Assim, pensar tais diferenças no desenvolvimento econômico dos países do Leste Asiático
permite não só observar as peculiaridades de cada país quanto as relações de gênero, mas também
quais os impactos que essas relações exercem na economia geral do país, podendo afetar inclusive
suas políticas externas a longo prazo.
Deste modo, o presente trabalho pretende apresentar um breve panorama do desenvolvimento
de países do leste asiático, sempre que possível destacando a China, mas também tentando
incorporar à discussão qual o papel das mulheres nesta etapa de desenvolvimento.
Ainda que esta discussão não atraia diretamente quem busca entender um possível
imperialismo chinês, pelo menos não a curto prazo, ela é fundamental para aqueles que veem nos
padrões de desenvolvimento do leste asiático um modelo a ser seguido pelos demais países do eixo
Sul, em especial a América Latina. Analisar tais peculiaridades internas, ainda que num eixo
específico (relações de gênero na esfera produtiva), permite que os demais países que queiram se
inspirar no modelo reflitam sobre suas próprias especificidades, de modo a pensar nos limites e nas
adaptações que a aplicação de tal modelo demandaria.
Antes de entrar diretamente no papel das mulheres neste processo, é importante expor
brevemente o processo de desenvolvimento econômico de diferentes regiões do mundo com o fim
da era colonial, a fim de evidenciar a posição da China neste cenário.

O Leste Asiático e o processo de industrialização na era pós colonial


No texto “O emparelhamento na industrialização”, Deepak Nayyar (2014) examina se os países
da Ásia, África e América Latina tiveram sucesso em suas tentativas de industrialização na era pós
colonial, iniciada por volta de 1950.
O autor aponta que neste período as estratégias de desenvolvimento adotadas pelos países de
tais regiões são contrastantes com seu passado durante a segunda metade do século XIX e segunda
metade do século XX. Nayyar destaca três dimensões dessa mudança: limitação do grau de abertura
e de integração à economia mundial; papel estratégico do Estado; industrialização como imperativo
do processo de emparelhamento, começando pela substituição de importações no setor
manufatureiro.
Nayyar relaciona o processo de industrialização a uma transformação estrutural das economias,
sendo a composição da produção e do emprego as dimensões mais importante dessa transformação.
De acordo com o padrão clássico, o autor argumenta que a tendência é que na fase inicial a
participação do setor agrícola na produção e no emprego sejam grandes, e na medida em que ocorre
a industrialização, há uma absorção da mão de obra excedente do setor agrícola para as indústrias,
aumentando a participação no setor manufatureiro na produção e no emprego, diminuindo assim a
do setor agrícola. Com o avanço da industrialização e após o deslocamento da mão de obra de
ocupações de baixa produtividade para a alta produtividade, a participação do setor industrial na
produção e no emprego declina, e aumenta a contribuição do setor de serviços.
Apesar deste ter sido o padrão em países que se industrializaram principalmente entre os
séculos XVIII e XIX, os países que se desenvolveram após este período não necessariamente
passaram por esses três estágios, sendo comum a ocorrência de nações que passaram de uma fase
predominantemente agrícola para a etapa de serviços, sem passar pela fase na qual a indústria
predomina. A China, ressalta o autor, é uma das poucas exceções, cujo processo de
desenvolvimento se aproxima mais dos padrões clássicos, ao contrário da Índia, que seguiu um
padrão não tradicional.
Analisando dados sobre mudanças estruturais em grupos de países da Ásia, África e América
Latina, o autor evidencia o papel de destaque que teve a Ásia no deslocamento de mão de obra de
setores de baixa produtividade para aqueles com alta produtividade nos últimos anos, enquanto na
África e América Latina esse deslocamento não ocorreu1. Em relação à participação destes países
no valor agregado industrial global, Nayyar revela que África não teve mudanças significativas nas
últimas quatro décadas, enquanto a América Latina apresentou um tímido aumento, e a Ásia mais
uma vez se destacou, chegando a contribuir com quase ⅓ do valor agregado industrial global em
2010.
Nayyar também destaca a importância do papel do Estado no desenvolvimento desses países na
segunda metade do século XX e início do século XXI. Segundo o autor, entre 1950 e 1970 era um
consenso entre os países desenvolvimentistas que o Estado exercesse um papel de apoio ou
liderança no processo. No entanto, a partir da reflexão do sucesso ou não de países que seguiram
este caminho, no início dos anos 1970, muitos destes países mudaram de perspectiva e optaram por

1
Pensando nas questões de gênero, seria interessante comparar como se deu esse deslocamento entre homens e
mulheres nas diferentes regiões analisadas.
seguir as orientações econômicas da tradição neoclássica, adotando principalmente políticas
voltadas ao mercado e à abertura econômica.
Tal hegemonia neoclássica não durou muito, argumenta o autor. Segundo ele: “Países
conformistas e liberalizadores tiveram um desempenho abaixo do esperado, ao passo que países que
não eram conformistas, sem serem liberalizadores, foram os que se saíram bem”. No primeiro grupo
estavam diversos países da África e da América Latina, ao passo que a Ásia submeteu as receitas da
economia neoclássica à uma série de críticas e as adaptou a sua realidade local, conseguindo assim
obter o sucesso que os demais não alcançaram. Deste modo, cabe entender com mais detalhes como
se deu o crescimento da Ásia nos últimos anos e quais peculiaridades contribuíram para que a
região se destacasse em relação às demais.
Para analisar o processo de industrialização nos países do leste asiático no longo prazo,
Sugihara (2002) recorre à ideia de revolução industriosa, em contraposição à ideia revolução
industrial, a fim de entender as diferenças entre estes países e o modelo desenvolvido na Europa
Ocidental.
Segundo o autor, até o final do século XVIII, tanto as regiões centrais da Europa Ocidental
como as Leste Asiático apresentavam sinais promissores de desenvolvimento para uma agricultura
comercial e de proto-industrialização. Porém, com o advento da Revolução Industrial inglesa, os
países do leste asiático passaram a ficar em desvantagem em relação à Europa Ocidental,
especialmente em relação à sua contribuição no PIB mundial entre 1820 até 1945. Assim, enquanto
alguns países europeus tentaram seguir o modelo inglês com a importação de tecnologias e capital,
os países do leste asiático fizeram sua própria trajetória com as revoluções industriosas.
Diante da escassez de capital e de terras, estes países, em especial a China, passaram a
intensificar a força de trabalho disponível em abundância. Esta força de trabalho intensiva era
centrada principalmente nas unidades familiares e/ou nas comunidades e vilas, assim como uma
mesma força de trabalho era aplicada em diversas atividades.
De acordo com argumento desenvolvido por Sugihara, este modelo baseado no uso intensivo
do trabalho seria fundamental para o desenvolvimento econômico do Leste Asiático a partir da
segunda metade do século XX. Para o autor: “It was not the industrial revolution in Britain or the
subsequent Western technological advance alone, but the fusion between such technology and East
Asian human resource exploitation that produced the very high rate of economic growth in East
Asia” (p. 116). O autor destaca ainda a importância do modelo decorrente dessa fusão, uma vez que
possibilitou que uma parcela maior da população mundial pudesse desfrutar dos benefícios da
industrialização.
Assim, foi a combinação destas duas trajetórias geradas a partir da Revolução Industrial e das
Revoluções Industriosas que países do Leste Asiático conseguiram adaptar e integrar suas
especificidades locais aos elementos centrais do capitalismo global, de modo a crescer
significativamente a partir da segunda metade do século XX. O caso chinês descrito por Harvey
(2005) é um bom exemplo desta fusão, pois além de contar com a grande exploração da força de
trabalho, o país também adotou medidas que visavam incorporar as tecnologias dos países centrais
às suas forças produtivas.

O papel das mulheres


Apresentadas brevemente algumas características gerais do desenvolvimento do Leste Asiático
ao longo dos últimos anos, resta discutir qual foi o papel das mulheres neste processo. Para isso,
recorre-se ao texto “Women’s work, family, and economic development in Europe and East Asia:
long-term trajectories and contemporary comparisons”, do historiador Kenneth Pomeranz.
Pomeranz (2003) inicia o texto questionando a prática de estudiosos que ao tentarem investigar
as diferenças entre desenvolvimento da Europa Ocidental e do Leste Asiático a partir da estrutura
familiar e dos papéis de gênero acabavam enxergando tais elementos como estáveis ao longo do
tempo, atribuindo um caráter relativamente“liberal” à Europa e sua propulsão de homens e
mulheres no mercado, enquanto em países como China e Japão essa tendência seria menor.
Para o autor, essa dicotomia pouco se sustenta, e pretende enfatizar a flexibilidade dos papéis
de gênero nestas regiões ao longo do tempo. Resumindo o objetivo do texto:
“This chapter questions arguments that rely on stable cultural differences (or even “essences”)
to explain economic divergence on the one hand, and claims for either long-run convergence or a
common set of stages, on the other. Instead it emphasizes the flexibility of economically relevant
gender roles in both Europe and East Asia, while also arguing that economic development is
sufficiently path-dependent that cultural differences as they exist at any one moment can have a
lasting impact. Differences in gender norms during the seventeenth to twentieth centuries did matter,
but not necessarily in the ways cited in the literature” (p. 125).

O autor apresenta três padrões distintos sobre os papéis de gênero no decorrer dos séculos, de
modo a contrapor a dicotomia tradicional entre Ocidente e Oriente, na qual aparentemente o
primeiro seria mais liberal quanto ao uso da força de trabalho das mulheres. O primeiro modelo é
baseado na Europa Ocidental, nele, há uma pequena diferença na mobilidade de homens e
mulheres, sendo comum que a grande maioria de mulheres trabalhasse tanto para o mercado quanto
para a produção para uso doméstico. Entretanto, especialmente a partir do final do século XVIII até
meados do século XX, Pomeranz argumenta que as famílias eram encorajadas a encontrar uma
situação na qual mulheres e crianças não trabalhassem para o mercado.
O segundo padrão é o chinês, no qual foi continuamente esperado que mulheres produzissem
tanto para o mercado quanto para o uso doméstico, sendo esta dupla tarefa não só necessária como
também desejável. Porém, o autor destaca que os diferentes tipos trabalhos remunerados eram
distribuídos de formas distintas entre homens e mulheres.
Já o Japão apresenta as características do terceiro padrão, no qual existe a ideia de que as
mulheres produzam somente para o consumo doméstico, ainda que com menor força do que no caso
Europeu.
Apesar das diferenças, o autor argumenta que os três padrões, cada um em sua medida,
contribuíram para a acumulação de capital a partir da apropriação de uma parcela significativa dos
produtos produzidos pelas mulheres, assim como também contribuíram e interferiram na
comoditização de bens, serviços e fatores de produção. Outro ponto ressaltado é que nenhum dos
casos apresenta noções fixas do relacionamento entre esfera doméstica e produção voltada para o
mercado, sendo essas noções variáveis ao longo do tempo.
De acordo com Pomeranz, tanto na Europa Ocidental, como na China e no Japão é possível
encontrar mulheres desprovidas de poder e que são forçadas a trabalhar em troca de um pequeno
retorno. Por outro lado, também é possível encontrar nos três padrões famílias capazes de investir
em suas filhas, de modo a aprimorar suas habilidades femininas (womanly skills). Essas
habilidades, no entanto, variam de região para região, e nesse sentido a China apresenta
características peculiares em relação ao Japão e à Europa Ocidental.
Enquanto nestas duas regiões as habilidades e conhecimentos que contribuíam para a
mobilidade das mulheres tendiam para uma orientação puramente doméstica, no caso chinês, muitas
das “habilidades femininas” eram as mesmas que ajudavam as famílias rurais a ascenderem em
direção a tipos de produção com maior retorno. Segundo o argumento do autor:
“To that extent, what separates our cases seems less a matter of women’s status – i.e. of one
society being particularly oppressive of women, creating a pool of super-cheap labor – and more one
of gender roles: how varying ideas of what sorts of work helped one fulfill true womanhood (or
manhood) shaped a household’s adaptations to the changing economic returns of various activities”
(Pomeranz, 2003, p.131).

Diferentemente da Europa, a ociosidade nunca foi motivo de prestígio na China, nem mesmo
entre as elites. Assim, ao contrário dos países europeus no século XIX, o aumento da renda das
famílias chinesas não refletiu num afastamento das mulheres do trabalho orientado para o mercado,
mas sim no tipo de atividade produtiva em que as mulheres se engajavam.
Ainda que a análise de Pomeranz forneça um panorama do papel das mulheres no
desenvolvimento da China desde o século XVI, as observações a seguir darão ênfase à segunda
metade do século XX, visto que o presente trabalho foca no desenvolvimento chinês na era pós
colonial.
A Revolução Chinesa, segundo o autor, desempenhou um papel importante na vida das
mulheres, pois a utilização da força de trabalho de todos os adultos fez com que muitas mulheres
fossem inseridas num sistema de força de trabalho remunerada. Pomeranz argumenta ainda que o
maoísmo mudou significativamente a vida econômica das mulheres, mas de forma muito diferente
nas áreas urbanas e rurais. Enquanto as mulheres das zonas urbanas parecem ter se aproximado de
uma maior igualdade econômica em relação aos homens, as da zona rural, apesar de terem obtido
alguns ganhos, foram prejudicadas em muitos aspectos. Tais diferenças ainda parecem estar
presentes, uma vez que ao descrever as características do “neoliberalismo chinês”, Harvey (2005,
p.148) também menciona o contraste de possibilidades econômicas das mulheres nos setores
urbanos e rurais.
Pensando na China pós Mao, Pomeranz destaca três aspectos do desenvolvimento do país que
se interrelacionam: (1) a proeminência das mulheres, especialmente jovens, nos arranjos das linhas
de montagem orientadas para a exportação; (2) a feminização da agricultura em muitas das áreas
rurais mais dinâmicas da China, enquanto homens se deslocam para áreas industriais com melhor
remuneração; (3) a maneira como as TVEs (township and village enterprises) utilizam
simultaneamente os limites da mobilidade da força de trabalho feminina para aumentar suas taxas
de acumulação, enquanto dispõem as posições de trabalho mais cobiçadas de maneira que tendem a
reforçar a liderança masculina na família. Para o autor, os dois primeiros aspectos não são uma
exclusividade chinesa, estando presente em diversas outras sociedades, chamando então a atenção
para o fenômeno das TVEs, que desempenham um papel fundamental no desenvolvimento local
chinês.
Além de exercerem as funções menos desejadas e serem praticamente excluídas das posições
administrativas das TVEs, o autor aponta como a porção de jovens que abandonam a escola para
atender as exigências do trabalho familiar é significativamente maior entre as meninas,
especialmente nos casos em que a família possui uma maior quantidade de terra por trabalhador.
Para o autor, estas meninas estão sendo sacrificadas para o benefício de terceiros: “They are being
deprived of the opportunity to accumulate human capital in narrowly economic terms, and of
cultural resources, in order to aid the accumulation of a unity they will not remain part of” (p. 155).
Para além das diferenças nas zonas rurais, Pomeranz também salienta como os trabalhos que
envolvem alta tecnologia se concentram desproporcionalmente nos homens, assim como as
mulheres são alocadas em funções nas quais a possibilidade de desenvolver novas habilidades é
baixa.
O autor não nega a possibilidade de que o desenvolvimento chinês nos últimos anos,
especialmente nas zonas rurais, tenha se firmado sobre a superexploração da mão de obra feminina.
Porém, questiona sobre quem de fato se beneficia do excedente produzido pelo trabalho das
mulheres. Se por um lado as firmas se beneficiam com a exploração da mão de obra feminina com
os baixos salários, estes costumam contribuir significativamente na vida das famílias rurais que
recebem dinheiro de suas filhas. Algo semelhante acontece com as TVEs, pois além de beneficiar
os empresários, os lucros de tais empreendimentos são cruciais para o desenvolvimento dos serviços
locais.
Independente de quem seja o maior beneficiado, a partir dos exemplos listados acima, nota-se
que a força de trabalho feminina exerce papel fundamental nas atividades econômicas da China.
Apesar de serem grandes contribuidoras, as mulheres ainda desfrutam dos benefícios de tal
crescimento de forma desigual em relação aos homens.
Dessa forma, aqueles que veem no modelo chinês uma possibilidade de maior autonomia para
as demais nações, também devem refletir sobre como o país lida com suas desigualdades internas.
Enquanto alguns podem ver os papeis de gênero como algo meramente cultural, o exemplo chinês
evidencia como esses papéis não só são influenciados como também influenciam a dinâmica
econômica, especialmente a longo prazo.
Com o recente fim da política do filho único, por exemplo, é interessante investigar
futuramente como esta política pode ter impactado a divisão de trabalho entre homens e mulheres,
especialmente nas zonas urbanas. Outro ponto importante que poderia ser desenvolvido a partir das
reflexões acima é pensar, além dos casos do Leste Asiático e da Europa Ocidental, como os
diferentes papéis de homens e mulheres impactaram ou foram impactados pelo processo de
industrialização e desenvolvimento da América Latina.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARRIGHI, Giovanni. Epílogo. In:Adam Smith em Pequim: origens e fundamentos do século XXI.
São Paulo: Boitempo, pp. 379-389. 2008.
HARVEY, David. Neoliberalism ‘with Chinese characteristics. In: A brief history of neoliberalism.
Oxford University Press, pp.120-152. 2005.

NAYYAR, Deepak. O emparelhamento na industrialização. In: A corrida para o crescimento.


Países em desenvolvimento na economia global. Rio de Janeiro: Contraponto, pp. 159-198. 2014.

POMERANZ; Kenneth. “Women’s work, family, and economic development in Europe and East
Asia: long-term trajectories and contemporary comparisons”. In: Arrighi, Giovanni & Hamashita,
Takeshi & Selden, Mark (Eds.)L The Resurgence of East Asia. 500, 150 and 50 year perspectives.
London, Routledge, 2003.

SUGIHARA, Karou. The East Asian path of economic development. A long-term perspective. In:
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