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Teoria e questões comentadas


Prof. Décio Terror Aula 7

Depreende-se das informações do texto que, nos crimes cibernéticos


chamados impuros ou impróprios¹, o resultado extrapola o universo virtual² e
atinge bens materiais alheios à informática³.
Os impuros ou impróprios¹ são aqueles em que o agente se vale do
computador como meio para produzir resultado que ameaça ou lesa outros
bens², diferentes daqueles da informática³.
Gabarito: C

Questão 2: Infere-se dos fatos apresentados no texto que a consideração de


crime para os delitos cibernéticos foi determinada há várias décadas, desde o
surgimento da Internet.
Comentário: A questão aponta como inferência, isto é, interpretação
implícita, mas ela é literal.
Fica claro no segundo parágrafo que a consideração de crime para os
delitos cibernéticos é algo novo (datado de 2012): “É importante destacar
que o art. 154-A do Código Penal (Lei n.º 12.737/2012) trouxe para o
ordenamento jurídico o crime novo de ‘invasão de dispositivo informático’”.
Assim, não é uma consideração de várias décadas, mesmo porque a
internet não tem muitas décadas de vida.
Gabarito: E

Questão 3: Anatel 2014 Analista (banca CESPE)

A mensagem veiculada nesse texto centra-se no descompasso existente entre


a alta tecnologia empregada nos aparelhos celulares e a baixa qualidade dos
serviços oferecidos pelas operadoras de telefonia celular.
Comentário: A interpretação é literal, concorda?! No primeiro quadrinho,
fala-se da quantidade de aplicativos, das várias opções do aparelho, observa-
se a imagem feliz do usuário. No segundo, vê-se uma imagem de um homem
das cavernas indicando um serviço ultrapassado, antigo, sem recursos. O
conectivo de contraste “Já” marca ainda mais a ideia contrastante ao avanço
da tecnologia marcado no quadrinho anterior.
Assim, realmente a afirmativa está correta.

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7. O Ocidente está sempre sofrendo invasões do Oriente.


8. Mísseis nucleares são a melhor saída para qualquer situação bélica.
9. Os extremistas não têm bom relacionamento com o Ocidente.
10. O Ocidente aguarda estático um ataque do Oriente.
Vamos às respostas com base nos vestígios!
1. O Ocidente necessita construir mísseis. (C)
(Inferência certa, pois o vestígio é “É preciso”)
2. Há uma finalidade de defesa contra o ataque de extremistas. (C)
(Inferência certa, pois o vestígio é a oração subordinada adverbial de
finalidade “para defender o Ocidente de um ataque soviético”.)
3. Os mísseis atuais não são suficientes para conter os ataques de extremistas.
(E) (Inferência errada, pois não há evidência no texto de que já havia mísseis
anteriormente)
4. Uma guerra de mísseis vai destruir o mundo inteiro e não apenas os
extremistas. (E)
(Inferência errada, pois a expressão “destruir o mundo inteiro” é uma
suposição com base em expressão categórica. Não há certeza de que os
mísseis destruirão por completo o mundo, mas é certo que vão abalar o mundo
inteiro.)
5. A ação dos diplomatas com os extremistas é o único meio real de
dissuadi-los de um ataque ao Ocidente. (E)
(Inferência errada, pois novamente há expressão categórica, pois pode haver
outros meios, outras negociações, não só pelos diplomatas.)
6. Todo o Oriente está contra o Ocidente. (E)
(Inferência errada, pois novamente há expressão categórica. Não se sabe se
todo o Oriente está contra o Ocidente. Pelo texto, apenas os extremistas)
7. O Ocidente está sempre sofrendo invasões do Oriente. (E)
(Inferência errada, pois novamente há expressão categórica: “sempre”. Além
disso, houve uma palavra que extrapolou o texto: “invasões”. Nada foi
afirmado sobre invasão no texto.)
8. Mísseis nucleares são a melhor saída para qualquer situação bélica. (E)
(Consideração sem fundamento no texto. Veja as palavras categóricas.)
9. Os extremistas não têm bom relacionamento com o Ocidente. (C)
(Inferência possível, pois é vista a preocupação de possível ataque.)
10. O Ocidente aguarda estático um ataque do Oriente. (E)
(Consideração sem fundamento no texto.)
Assim, quando você for realizar as questões de interpretação, verá
muitas dessas expressões categóricas ou palavras que extrapolam o conteúdo
do texto. Normalmente, já consideramos as questões erradas já na primeira
leitura, por estarem bem fora do contexto. Mas, logicamente, sempre devemos
voltar ao texto para confirmar. Aí vem o “burilamento”. Deve-se ter paciência
para encontrar os vestígios que comprovem sua resposta como a correta.
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Na organização do poder político no Estado moderno, à luz da tradição
iluminista, o direito tem por função a preservação da liberdade humana, de
maneira a coibir a desordem do estado de natureza, que, em virtude do risco
da dominação dos mais fracos pelos mais fortes, exige a existência de um
poder institucional. Mas a conquista da liberdade humana também reclama a
distribuição do poder em ramos diversos, com a disposição de meios que
assegurem o controle recíproco entre eles para o advento de um cenário de
equilíbrio e harmonia nas sociedades estatais. A concentração do poder em
um só órgão ou pessoa viria sempre em detrimento do exercício da liberdade.
É que, como observou Montesquieu, “todo homem que tem poder tende a
abusar dele; ele vai até onde encontra limites. Para que não se possa abusar
do poder, é preciso que, pela disposição das coisas, o poder limite o poder”.
Até Montesquieu, não eram identificadas com clareza as esferas de
abrangência dos poderes políticos: “só se concebia sua união nas mãos de um
só ou, então, sua separação; ninguém se arriscava a apresentar, sob a forma
de sistema coerente, as consequências de conceitos diversos”. Pensador
francês do século XVIII, Montesquieu situa-se entre o racionalismo cartesiano
e o empirismo de origem baconiana, não abandonando o rigor das certezas
matemáticas em suas certezas morais. Porém, refugindo às especulações
metafísicas que, no plano da idealidade, serviram aos filósofos do pacto social
para a explicação dos fundamentos do Estado ou da sociedade civil, ele
procurou ingressar no terreno dos fatos.
Fernanda Leão de Almeida. A garantia institucional do Ministério Público em
função da proteção dos direitos humanos. Tese de doutorado. São Paulo: USP,
2010, p. 18-9. Internet: <www.teses.usp.br> (com adaptações).
Questão 7: Montesquieu busca a explicação dos fundamentos do Estado ou
da sociedade civil de forma análoga à dos metafísicos.
Comentário: Basta lermos o último parágrafo, especificamente na expressão
“refugindo às especulações metafísicas”, além da dualidade “plano da
idealidade” X “terreno dos fatos”.
O verbo “refugindo” significa “distanciando, recuando”, sentido contrário
ao adjetivo “análoga” do pedido da questão, cuja afirmação está errada.
Assim, percebemos que Montesquieu procurou o terreno dos fatos, diferente
das especulações metafísicas, que serviram aos filósofos do pacto social no
plano da idealidade.
Gabarito: E

Questão 8: No Estado moderno, cabe ao Ministério Público a função da


preservação da liberdade humana, de forma a proteger os mais fracos da
dominação dos mais fortes.
Comentário: No primeiro período do texto, é afirmado que “Na organização
do poder político no Estado moderno, à luz da tradição iluminista, o direito
tem por função a preservação da liberdade humana, de maneira a coibir a
desordem do estado de natureza, que, em virtude do risco da dominação dos
mais fracos pelos mais fortes, exige a existência de um poder institucional.”
Já a questão afirma que cabe ao Ministério Público a função da

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preservação da liberdade humana, de forma a proteger os mais fracos da


dominação dos mais fortes.
Assim, a questão quis induzir o candidato a pensar que esse “poder
institucional” pudesse ser unicamente o “Ministério Público”, mas sabemos que
não é só ele que age em função da liberdade humana. Assim, a afirmação está
errada.
Gabarito: E

Questão 9: A conquista da liberdade humana pressupõe a distribuição do


poder em ramos diversos.
Comentário: A questão trabalha a interpretação com base no sentido dos
vocábulos “reclama” e “pressupõe”.
No texto foi afirmado que “a conquista da liberdade humana também
reclama a distribuição do poder em ramos diversos”.
O verbo “reclama”, neste contexto, significa necessita, precisa, depende.
Assim, para haver conquista da liberdade humana, deve-se lutar, exigir a
distribuição do poder em ramos diversos.
Porém, com a troca do vocábulo “reclama”, que traduz um valor de
exigência, pelo vocábulo “pressupõe”, o qual traduz uma ideia de simples
suposição, subentendimento, há uma divergência de sentido. É como se não
precisasse lutar por essa distribuição do poder em ramos diversos, é como se
isso fosse algo intrínseco e naturalmente parte da conquista da liberdade
humana, pois se diz que simplesmente a conquista da liberdade humana
pressupõe a distribuição do poder em ramos diversos.
Esta questão causou muita polêmica, pois, numa leitura rápida, sem o
devido aprofundamento, parece realmente que as duas ideias são análogas,
mas a original traduz uma exigência e a segunda, uma simples suposição,
algo como se já fizesse parte intrinsecamente, o que não é verdade.
Gabarito: E

Questão 10: Segundo Montesquieu, aquele que não encontra limites para o
exercício do poder que detém tende a agir de forma abusiva.
Comentário: A questão aborda diretamente a observação de Montesquieu:
“todo homem que tem poder tende a abusar dele; ele vai até onde encontra
limites. Para que não se possa abusar do poder, é preciso que, pela disposição
das coisas, o poder limite o poder”.
Assim, na visão dele, se não há limites, é natural o homem agir de
forma abusiva. Portanto, a afirmação está correta.
Gabarito: C

MPU 2015 Analista (banca CESPE)


A persecução penal se desenvolve em duas fases: uma fase
administrativa, de inquérito policial, e uma fase jurisdicional, de ação penal.
Assim, nada mais é o inquérito policial que um procedimento administrativo
destinado a reunir elementos necessários à apuração da prática de uma
infração penal e de sua autoria. Em outras palavras, o inquérito policial é um
procedimento policial que tem por finalidade construir um lastro probatório
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mínimo, ensejando justa causa para que o titular da ação penal possa formar
seu convencimento, a opinio delicti, e, assim, instaurar a ação penal cabível.
Nessa linha, percebe-se que o destinatário imediato do inquérito policial é o
Ministério Público, nos casos de ação penal pública, e o ofendido, nos casos de
ação penal privada.
De acordo com o conceito ora apresentado, para que o titular da ação
penal possa, enfim, ajuizá-la, é necessário que haja justa causa. A justa
causa, identificada por parte da doutrina como uma condição da ação
autônoma, consiste na obrigatoriedade de que existam prova acerca da
materialidade delitiva e, ao menos, indícios de autoria, de modo a existir
fundada suspeita acerca da prática de um fato de natureza penal. Dessa
forma, é imprescindível que haja provas acerca da possível existência de um
fato criminoso e indicações razoáveis do sujeito que tenha sido o autor desse
fato.
Evidencia-se, portanto, que é justamente na fase do inquérito policial
que serão coletadas as informações e as provas que irão formar o
convencimento do titular da ação penal, isto é, a opinio delicti. É com base
nos elementos apurados no inquérito que o promotor de justiça, convencido
da existência de justa causa para a ação penal, oferece a denúncia,
encerrando a fase administrativa da persecução penal.
Hálinna Regina de Lira Rolim. A possibilidade de investigação do
Ministério Público na fase pré-processual penal. Artigo científico. Rio
de Janeiro: Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, 2010, p. 4.
Internet : <www.emerj.tjrj.jus.br>. (com adaptações) .
Questão 11: A fase do inquérito policial em que são coletadas as informações
e as provas que irão formar o convencimento do titular da ação penal é
denominada opinio delecti.
Comentário: Pela própria análise sintática, podemos perceber o erro na
afirmação da questão, pois “opinio delecti” é o aposto explicativo, o qual se
refere ao convencimento do titular da ação penal. Isso é confirmado no último
parágrafo, quando se afirma o seguinte:
“...o convencimento do titular da ação penal, isto é, a opinio delicti”
Já a questão afirma que “opinio delecti” é a denominação de uma fase
do inquérito policial.
Gabarito: E

Questão 12: A fase jurisdicional da persecução penal tem início após o


oferecimento da denúncia pelo promotor de justiça.
Comentário: Realizando a questão com cunho puramente interpretativo, sem
os conhecimentos prévios do direito, o que certamente já ajuda bastante
nesta questão, devemos observar uma sequência de informações do texto:
Primeiro, foi afirmado que a “persecução penal se desenvolve em duas
fases: uma fase administrativa, de inquérito policial, e uma fase jurisdicional,
de ação penal.”.
Em seguida, afirma-se que “o destinatário imediato do inquérito policial
é o Ministério Público, nos casos de ação penal pública, e o ofendido, nos

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casos de ação penal privada.”.


Isso é confirmado no último período do texto: “É com base nos
elementos apurados no inquérito que o promotor de justiça, convencido da
existência de justa causa para a ação penal, oferece a denúncia, encerrando a
fase administrativa da persecução penal.”. Assim, ao término da primeira fase
(“fase administrativa da persecução penal”), após o convencimento do
promotor de justiça, entra-se imediatamente na próxima (“fase jurisdicional
da persecução penal”).
Por tudo isso, confirmamos que a afirmação está correta, pois realmente
a fase jurisdicional da persecução penal tem início após o oferecimento da
denúncia pelo promotor de justiça.
Gabarito: C

Questão 13: A existência de prova da materialidade delitiva é suficiente para


que se considere a existência de indícios de autoria.
Comentário: Fica fácil observar que a afirmativa está errada, pois o segundo
parágrafo nos informa que a “justa causa...consiste na obrigatoriedade de que
existam prova acerca da materialidade delitiva e, ao menos, indícios de
autoria, de modo a existir fundada suspeita acerca da prática de um fato de
natureza penal.”. Assim, esses dois elementos grifados acima são paralelos e
substanciais para confirmar a justa causa.
Já a questão afirma que a prova acerca da materialidade delitiva
indicaria a existência de indícios de autoria, relação esta que não se encontra
no texto.
Gabarito: E

Questão 14: Anatel 2014 Técnico (banca CESPE)


No começo dos tempos, as pessoas precisavam aproveitar o período em
que o Sol estava radiante para praticar suas atividades diárias. Com o passar
dos anos, essa diferenciação entre dia para agir e noite para dormir foi ficando
menos evidente. Isso porque o advento da iluminação e, mais precisamente,
da iluminação pública, permitiu que as pessoas desfrutassem mais da noite e
deixou as cidades mais seguras e bonitas. Dos lampiões a querosene aos leds,
a evolução da iluminação contribuiu para a transformação das cidades e dos
hábitos das pessoas.
Desde a Idade Média, os seres humanos vinham tentando resolver o
problema da escuridão com velas e outros artefatos. Nesse período, eram
usadas tochas com fibras torcidas e impregnadas com material inflamável. Foi,
sobretudo, no século XV que a iluminação pública se tornou uma preocupação
nas cidades. A história indica que, em 1415, na Inglaterra, a iluminação surgiu
como uma solução para amenizar a violência e, principalmente, os roubos a
comerciantes, que aconteciam com frequência na região.
Não é à toa que especialistas consideram a iluminação como uma
grande aliada das cidades na luta contra a violência urbana, já que é uma
grande inibidora de atos de vandalismo, roubo e agressões.
Internet: <http://www.osetoreletrico.com.br> (com adaptações).

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O texto estabelece uma relação paradoxal entre iluminação


pública e aumento de segurança urbana.
Comentário: Paradoxal se configura como duas características antagônicas,
isto é, opostas entre si. O texto não marcou oposição, contraste entre
iluminação pública e segurança urbana. Na realidade, a iluminação pública
ajudou na segurança urbana.
A interpretação não é literal, mas o trecho final do texto “especialistas
consideram a iluminação como uma grande aliada das cidades na luta contra a
violência urbana, já que é uma grande inibidora de atos de vandalismo, roubo
e agressões” nos indica que não há relação paradoxal.
Assim, a afirmativa da questão está errada.
Gabarito: E

Anatel 2014 Técnico (banca CESPE)


As cidades foram criadas para a segurança de seus habitantes. Foram
elas que propiciaram, segundo autores clássicos e contemporâneos, o
desenvolvimento da cidadania, da racionalidade econômica, de um sistema de
leis válidas para todos e de novas formas de associação entre indivíduos, fora
dos laços de parentesco e de servidão. Desde o clássico de Weber (1958) até
as obras mais recentes de Godbout (1997) e Jacobs (1993), a liberdade é
apresentada como uma conquista urbana. Essas novas formas de liberdade
foram saudadas porque dissolviam laços de domínio dos poderes familiares e
feudais que impediam o aparecimento de um poder público voltado para o
povo (Habermas, 1994). Mas, simultaneamente, por atraírem pessoas vindas
de diferentes lugares, com diferentes culturas, religiões, compromissos
políticos e identificações, que apenas se esbarrariam nos novos espaços, as
cidades teriam, então, comprometido o estabelecimento de relações
duradouras entre seus habitantes.
Alba Zaluar. A abordagem ecológica e os paradoxos da cidade. Revista de
Antropologia, São Paulo: USP, 2010, v. 53, n.º 2, p. 613 (com adaptações).
Questão 15: Infere-se da leitura do texto que as cidades propiciaram, além
do fortalecimento dos laços de parentesco entre os indivíduos,
desenvolvimento da cidadania, da racionalidade econômica, de um sistema de
leis válidas para todos e de novas formas de associação pessoal.
Comentário: Note que a questão recortou literalmente expressões dos
primeiros períodos do texto, porém o advérbio “fora” é um vestígio que nos
traz a informação de que as cidades não propiciaram fortalecimento dos laços
de parentesco entre os indivíduos. Houve a afirmação, no segundo período do
texto, de que houve novas formas de associação entre indivíduos, fora dos
laços de parentesco e de servidão.
Isso é confirmado nos períodos seguintes, em que se afirma que as
novas liberdades promovidas pela conquista urbana dissolviam laços de
domínio dos poderes familiares e feudais.
Confirme isso com os elementos grifados no texto e na afirmativa:

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Texto:
As cidades foram criadas para a segurança de seus habitantes. Foram elas
que propiciaram, segundo autores clássicos e contemporâneos, o
desenvolvimento da cidadania, da racionalidade econômica, de um sistema de
leis válidas para todos e de novas formas de associação entre indivíduos, fora
dos laços de parentesco e de servidão. Desde o clássico de Weber (1958)
até as obras mais recentes de Godbout (1997) e Jacobs (1993), a liberdade é
apresentada como uma conquista urbana. Essas novas formas de liberdade
foram saudadas porque dissolviam laços de domínio dos poderes
familiares e feudais que impediam o aparecimento de um poder público
voltado para o povo (Habermas, 1994).
Afirmativa da questão:
Infere-se da leitura do texto que as cidades propiciaram, além do
fortalecimento dos laços de parentesco entre os indivíduos,
desenvolvimento da cidadania, da racionalidade econômica, de um sistema de
leis válidas para todos e de novas formas de associação pessoal.
Assim, a afirmativa está errada.
Gabarito: E

Questão 16: De acordo com o texto, as cidades, por congregarem pessoas


de diferentes classes sociais, não contribuem para a manutenção de relações
duradouras entre os habitantes.
Comentário: O último período do texto localiza a afirmação da questão. Este
último período realmente afirma que “as cidades teriam comprometido o
estabelecimento de relações duradouras entre seus habitantes”. Porém, a
questão afirma que o motivo é apenas a diferença de classes sociais, mas o
texto não mostra essa simples diferença de classes sociais. A causa, segundo
o texto, é a atração de “pessoas vindas de diferentes lugares, com diferentes
culturas, religiões, compromissos políticos e identificações, que apenas se
esbarrariam nos novos espaços”. Definitivamente, isso não tem relação com a
diferença de classe social.
Gabarito: E

Questão 17: Anatel 2014 Técnico (banca CESPE)


A palavra comunicação significa normalmente o ato de tornar comum a
muitos. A partir do século XVII (até o século XIX), ganhou projeção a
expressão meio ou linhas de comunicação, designando as facilidades trazidas
pelo desenvolvimento das ferrovias, canais e rodovias no deslocamento de
pessoas e objetos. Do século XIX ao século XX, o sentido da palavra se
aproximou cada vez mais daquilo que hoje pode ser chamado de mídia (meios
pelos quais se passa informação e se mantém o contato mediado, indireto).
Foi a partir desse momento que a indústria da comunicação (transporte de
bens simbólicos) separou-se semanticamente da indústria de transportes
(transporte de bens físicos e pessoas).
É importante ressaltar que o termo comunicação carrega, no mundo
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moderno, as marcas de sua ambiguidade original (tornar comum a muitos,


partilhar, trocar). Nesse sentido, quando se fala em comunicação face a face
ou interativa, pode-se dizer que se trata de troca e partilha, mas quando se
fala de comunicação mediada, como rádio e TV, destaca-se consideravelmente
a sua função de tornar comum a muitos.
Pierre Bordieu. Questões de sociologia e comunicação.
FAPESP, ANABLUME, 2007, p. 42-3 (com adaptações).
Infere-se do texto que o termo “comunicação” adquire, no mundo moderno,
interpretações distintas.
Comentário: Nota-se que o último parágrafo refere-se ao mundo moderno. A
questão trabalha a inferência por meio da estrutura comparativa e
contrastante “quando se fala em comunicação face a face ou interativa, pode-
se dizer que se trata de troca e partilha, mas quando se fala de comunicação
mediada, como rádio e TV, destaca-se consideravelmente a sua função de
tornar comum a muitos”.
Dessa forma, realmente, o termo “comunicação” adquire, no mundo
moderno, interpretações distintas.
Gabarito: C

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As traduções são muito mais complexas do que se imagina. Não me
refiro a locuções, expressões idiomáticas, gírias, flexões verbais, declinações e
coisas assim. Isso pode ser resolvido de uma maneira ou de outra, se bem
que, muitas vezes, à custa de intenso sofrimento por parte do tradutor.
Refiro-me à impossibilidade de encontrar equivalências entre palavras
aparentemente sinônimas, unívocas e univalentes. Por exemplo, um alemão
que saiba português responderá sem hesitação que a palavra da língua
portuguesa “amanhã” quer dizer “morgen”. Mas coitado do alemão que vá
para o Brasil acreditando que, quando um brasileiro diz “amanhã”, está
realmente querendo dizer “morgen”. Raramente está. “Amanhã” é uma
palavra riquíssima e tenho certeza de que, se o Grande Duden fosse brasileiro,
pelo menos um volume teria de ser dedicado a ela e a outras que partilham da
mesma condição.
“Amanhã” significa, entre outras coisas, “nunca”, “talvez”, “vou pensar”,
“vou desaparecer”, “procure outro”, “não quero”, “no próximo ano”, “assim
que eu precisar”, “um dia destes”, “vamos mudar de assunto” etc. e, em
casos excepcionalíssimos, “amanhã” mesmo. Qualquer estrangeiro que tenha
vivido no Brasil sabe que são necessários vários anos de treinamento para
distinguir qual o sentido pretendido pelo interlocutor brasileiro, quando ele
responde, com a habitual cordialidade, que fará tal ou qual coisa amanhã. O
caso dos alemães é, seguramente, o mais grave. Não disponho de estatísticas
confiáveis, mas tenho certeza de que nove em cada dez alemães que
procuram ajuda médica no Brasil o fazem por causa de “amanhãs” casuais
que os levam, no mínimo, a um colapso nervoso, para grande espanto de seus
amigos brasileiros.
João Ubaldo Ribeiro. A vida é um eterno amanhã.
In: Um brasileiro em Berlim. 1993 (com adaptações).

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Questão 18: Infere-se da leitura do texto que os brasileiros, na maioria das


vezes, usam a palavra “amanhã” em sentido metafórico, e os alemães, em
sentido literal.
Comentário: O sentido metafórico é o da linguagem abstrata, uma
comparação ideológica, o sentido é estendido, ampliado. Já o sentido literal é
o sentido real da palavra, sentido original.
A segunda parte do primeiro parágrafo abarca essa interpretação, pois o
autor começa falando que o alemão entende literalmente amanhã como
“morgen”, isto é, dia posterior ao de hoje. Já os brasileiros estendem este
sentido a tantos outros, figurativos, com várias aplicações diferentes.
Confirme isso:
Por exemplo, um alemão que saiba português responderá sem hesitação que
a palavra da língua portuguesa “amanhã” quer dizer “morgen”. Mas coitado do
alemão que vá para o Brasil acreditando que, quando um brasileiro diz
“amanhã”, está realmente querendo dizer “morgen”. Raramente está.
“Amanhã” é uma palavra riquíssima e tenho certeza de que, se o Grande
Duden fosse brasileiro, pelo menos um volume teria de ser dedicado a ela e a
outras que partilham da mesma condição.
Gabarito: C

Questão 19: Depreende-se da leitura do texto que, apesar de não se basear


em estatísticas, o autor constrói sua argumentação com dados advindos do
sistema de saúde brasileiro.
Comentário: O autor faz uma brincadeira a respeito do uso da palavra
“amanhã”. Ele não quis usar dados do sistema de saúde brasileiro. Apenas
situou em sua brincadeira uma estatística inventada, numa suposta consulta a
um médico brasileiro. Confirme:
Não disponho de estatísticas confiáveis, mas tenho certeza de que nove em
cada dez alemães que procuram ajuda médica no Brasil o fazem por causa de
“amanhãs” casuais que os levam, no mínimo, a um colapso nervoso, para
grande espanto de seus amigos brasileiros.
Gabarito: E

Questão 20: Antaq 2014 Técnico (banca CESPE)


Hidrovia é uma rota predeterminada para o tráfego aquático. Há muito
tempo, o homem utiliza a água como estrada, e a Amazônia é o maior
exemplo disso. O transporte por hidrovias apresenta grande capacidade de
movimentação de cargas a grandes distâncias com baixo consumo de
combustível, além de propiciar uma oferta de produtos a preços competitivos.
A ampliação do uso da hidrovia é uma tendência mundial por uma questão
ambiental.
A viabilização de uma navegação segura no rio Madeira, por exemplo,
permite o escoamento da produção de grãos de Rondônia e Mato Grosso para
o Amazonas e daí para o Atlântico. Isso cria um corredor de desenvolvimento
integrado, com transporte de alta capacidade e baixo custo para grandes
distâncias, elimina um grave problema estrutural do setor primário, com a

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redução significativa da dependência do modal rodoviário até os portos do


Sudeste, e representa mais uma opção de integração nacional, com a redução
de trânsito pesado nas rodovias da região Centro-Sul.
Idem (com adaptações).
Infere-se das informações do texto que o transporte por hidrovia ajuda a
preservar o meio ambiente, dado o baixo consumo de combustível, e reduz a
dependência do transporte rodoviário.
Comentário: O texto confirma cada expressão utilizada na afirmativa, pois
realmente se pode entender do texto que o transporte por hidrovia ajuda a
preservar o meio ambiente (conforme se vê no trecho “por uma questão
ambiental”), dado o baixo consumo de combustível (conforme se vê no trecho
“movimentação de cargas a grandes distâncias com baixo consumo de
combustível”, e reduz a dependência do transporte rodoviário (como se vê no
trecho “redução significativa da dependência do modal rodoviário até os
portos do Sudeste... com a redução de trânsito pesado nas rodovias da região
Centro-Sul”).
Gabarito: C

Questão 21: Antaq 2014 Técnico (banca CESPE)


As obras de dragagem objetivam remover os sedimentos que se
encontram no fundo do corpo d'água para permitir a passagem das
embarcações, garantindo o acesso ao porto. Na maioria das vezes, a
dragagem é necessária quando da implantação do porto, para o aumento da
profundidade natural no canal de navegação, no cais de atracação e na bacia
de evolução. Também é necessária sua realização periódica para o alcance das
profundidades que atendam o calado das embarcações.
Internet: <www.antaq.gov.br> (com adaptações).
Depreende-se das informações do texto que a dragagem realizada na
implantação do porto para garantir o acesso das embarcações é definitiva, não
havendo necessidade de ser refeita.
Comentário: A afirmativa está errada, pois a dragagem realizada na
implantação do porto para garantir o acesso das embarcações não é definitiva,
e há necessidade de ser refeita, conforme se observa no último período do
texto: “Também é necessária sua realização periódica para o alcance das
profundidades que atendam o calado das embarcações”.
Gabarito: E

Todo texto é veiculado com base em três tipos básicos: descritivo,


narrativo e dissertativo. A banca CESPE cobra a diferença entre os tipos de
texto.
Tipologia textual.
Veremos apenas o essencial da tipologia, noções que são cobradas nas
provas da banca CESPE.

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Descritivo
O texto descritivo enfatiza o estático, é um retrato, um recorte de uma
paisagem, uma ação, um costume. O texto descritivo vai induzindo o leitor a
imaginar o espaço, o tempo, o costume, isto é, tudo que ambienta a história, a
informação.
“Luzes de tons pálidos incidem sobre o cinza dos prédios. Nos bares,
bocas cansadas conversam, mastigam e bebem em volta das mesas. Nas
ruas, pedestres apressados se atropelam. O trânsito caminha lento e
nervoso. Eis São Paulo às sete da noite.”
(em Platão e Fiorin)
Podemos notar no texto muitos adjetivos, juntamente com a enumeração
de substantivos e verbos. Não há interpretação de movimento neste texto.
Tudo é recorte de instantes, por isso poderíamos pintar um quadro com base
na imagem que ele nos sugere.
Assim, descrever é enumerar características, ações e elementos que
produzem uma imagem “congelada” do instante ou da rotina.
Dentre a variedade de textos descritivos, ressaltam-se os textos
instrucionais, injuntivos. Veja um exemplo:

INSTRUÇÕES
Verifique se este caderno:
- corresponde a sua opção de cargo.
- contém 70 questões, numeradas de 1 a 70.
- contém a proposta e o espaço para o rascunho da Prova Discursiva.
Caso contrário, reclame ao fiscal da sala outro caderno.
Não serão aceitas reclamações posteriores.
- Para cada questão existe apenas UMA resposta certa.
- Leia cuidadosamente cada uma das questões e escolha a resposta
certa.
- Essa resposta deve ser marcada na FOLHADE RESPOSTAS que você
recebeu.
Capa de uma prova de concurso

Este texto é uma capa da prova de concurso. Nele se observa uma


ordenação lógica, uma interlocução direta com o leitor (o candidato ao cargo).
Assim, a característica fundamental do texto instrucional é levar o receptor a
modificar comportamento, a agir de acordo com os preceitos emanados do
texto, seguir a sequência. Este tipo de texto é também chamado de injuntivo
ou prescritivo. Apresenta em sua estrutura procedimentos a serem seguidos.
O texto descritivo pode se manifestar por meio de vários gêneros
textuais, como manual de instrução, bula, capa de uma prova de concurso, os
fragmentos enumerativos de um edital, receita etc.

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Narrativo
Diferentemente do texto descritivo, o narrativo é aquele que trabalha o
movimento, as ações se prolongam no tempo, sendo esta a característica
principal. Narrar é contar uma história, baseando-se na ótica do narrador
(aquele que conta), sobre uma ou mais ações de um personagem(ns), numa
sequência temporal, em determinado lugar. A história pode ser imaginária
(ficção) ou real (fato). Pode ser contada por alguém que é o pivô da história
(narrador-personagem), ou por alguém que está testemunhando as ações
(narrador-observador). Quando há o narrador-personagem, há verbos ou
pronomes em primeira pessoa do singular. Quando há narrador-observador, há
verbos e pronomes em terceira pessoa.
Muitas vezes, quando o autor de um texto quer considerar um problema
relevante na sociedade, parte de um fato (narra uma pequena história real) e
a partir dela tece suas considerações. Assim, pode-se dizer que a primeira
parte do texto é narrativa e a segunda é dissertativa, a qual será vista adiante.
O texto dissertativo pode se manifestar por meio de vários gêneros
textuais, como piada, fábula, parábola, conto, novela, crônica, romance,
entrevista etc.
Eis um bom exemplo deste tipo de texto encontrado na prova do CESPE
(médico perito INSS -2009), em que os elementos da narrativa se fazem
presentes.
A Revolta da Vacina
O Rio de Janeiro, na passagem do século XIX para o século XX, era ainda uma
cidade de ruas estreitas e sujas, saneamento precário e foco de doenças como febre
amarela, varíola, tuberculose e peste. Os navios estrangeiros faziam questão de
anunciar que não parariam no porto carioca e os imigrantes recém-chegados da
Europa morriam às dezenas de doenças infecciosas.
Ao assumir a presidência da República, Francisco de Paula Rodrigues Alves
instituiu como meta governamental o saneamento e reurbanização da capital da
República. Para assumir a frente das reformas, nomeou Francisco Pereira Passos para
o governo municipal. Este, por sua vez, chamou os engenheiros Francisco Bicalho
para a reforma do porto e Paulo de Frontin para as reformas no centro. Rodrigues
Alves nomeou ainda o médico Oswaldo Cruz para o saneamento.
O Rio de Janeiro passou a sofrer profundas mudanças, com a derrubada de
casarões e cortiços e o consequente despejo de seus moradores. A população apelidou
o movimento de o “bota-abaixo”. O objetivo era a abertura de grandes bulevares,
largas e modernas avenidas com prédios de cinco ou seis andares.
Ao mesmo tempo, iniciava-se o programa de saneamento de Oswaldo Cruz.
Para combater a peste, ele criou brigadas sanitárias que cruzavam a cidade
espalhando raticidas, mandando remover o lixo e comprando ratos. Em seguida o alvo
foram os mosquitos transmissores da febre amarela.
Finalmente, restava o combate à varíola. Autoritariamente, foi instituída a lei de
vacinação obrigatória. A população, humilhada pelo poder público autoritário e
violento, não acreditava na eficácia da vacina. Os pais de família rejeitavam a
exposição das partes do corpo a agentes sanitários do governo.
A vacinação obrigatória foi o estopim para que o povo, já profundamente
insatisfeito com o “bota-abaixo” e insuflado pela imprensa, se revoltasse. Durante
uma semana, enfrentou as forças da polícia e do exército até ser reprimido com

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violência. O episódio transformou, no período de 10 a 16 de novembro de 1904, a


recém-reconstruída cidade do Rio de Janeiro em uma praça de guerra, onde foram
erguidas barricadas e ocorreram confrontos generalizados.
Internet: <www.ccs.saude.gov.br> (com adaptações).

Observe os traços temporais que marcam a evolução dos


acontecimentos, ao mesmo tempo em que as ações vão sendo desenvolvidas
num cenário (Rio de Janeiro). Veja os elementos temporais: “na passagem do
século XIX para o século XX”; “Ao assumir a presidência da República”; “Ao
mesmo tempo”; “Em seguida”; “Finalmente”; “Durante uma semana”; “no
período de 10 a 16 de novembro de 1904”.
Com isso, observa-se que há uma história sendo contada por alguém que
não participou dela (narrador-observador). Ele não tem necessidade de se
posicionar diante de alguma situação, o que se pretende com o texto é narrar
um fato que ocorreu no Rio de Janeiro. Como o texto se fundamenta na
informação, diz-se que há um ponto de vista objetivo.
Com base no texto acima, resolva as questões a seguir:

Questão 22: Médico Perito INSS / 2009 / nível superior (banca CESPE)
O texto faz um histórico da Revolta da Vacina, ocorrida no Rio de Janeiro,
mostrando explicitamente o ponto de vista do autor acerca do tema.
Comentário: Realmente houve um histórico sobre a Revolta Vacina, pois
foram narrados os fatos que a cercaram. Mas o erro está em dizer que houve
ponto de vista explícito do autor acerca do tema. Houve apenas a narrativa do
fato, o narrador não faz considerações, por isso não toma nenhum ponto de
vista explicitamente.
Gabarito: E

Questão 23: Médico Perito INSS / 2009 / nível superior (banca CESPE)
O texto apresenta marcadores que evidenciam a progressão da narrativa, tais
como “Ao mesmo tempo” e “Finalmente”.
Comentário: Estas são algumas das expressões que marcam a evolução do
tempo, típica estrutura de texto narrativo.
Gabarito: C

Questão 24: MPU 2015 Técnico (banca CESPE)


A partir de uma ação do Ministério Público Federal (MPF), o Tribunal
Regional Federal da 2ª Região (TRF2) determinou que a Google Brasil
retirasse, em até 72 horas, 15 vídeos do YouTube que disseminam o
preconceito, a intolerância e a discriminação a religiões de matriz africana, e
fixou multa diária de R$ 50.000,00 em caso de descumprimento da ordem
judicial. Na ação civil pública, a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão
(PRDC/RJ) alegou que a Constituição garante aos cidadãos não apenas a
obrigação do Estado em respeitar as liberdades, mas também a obrigação de
zelar para que elas sejam respeitadas pelas pessoas em suas relações
recíprocas.
Predomina no texto em apreço o tipo textual narrativo.

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Comentário: O texto realmente é narrativo, pois conta um fato passado. Isso


é confirmado por meio de verbos no tempo pretérito perfeito do indicativo,
como “determinou”, “fixou”, “alegou”. Além disso, conseguimos perceber os
personagens das ações, como “Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2)”
e “Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (PRDC/RJ)”.
Assim, conseguimos entender uma evolução temporal, ações,
personagens e lugar (Brasil), elementos importantes para observarmos o
predomínio do texto narrativo.
Gabarito: C

Veja outro exemplo de narrativa, agora com o ponto de vista


subjetivo, pois o narrador se coloca na história:

"O pungente amor"

A descoberta da poesia de Carlos Drummond de Andrade, em 1949, atingiu-me


de maneira contraditória: chocou-me e obrigou-me a mudar de rumo.
Para que se entenda melhor o que ocorreu, devo esclarecer que a poesia que
fazia até ali nascera da leitura dos parnasianos, com os quais aprendera a compor
sonetos rigorosamente rimados e metrificados. Ignorava a poesia moderna. Alguns
"sonetos brancos" de Murilo Mendes publicados num jornal da cidade impressionaram-
me, mas não me ganharam. Foi a leitura de Poesia até agora, de Drummond, que
provocou o choque. Havia no livro um poema intitulado "Lua diurética". Fiquei
perplexo: aquilo não podia ser poesia, disse-me, pois poesia para mim era, por
exemplo, "Ora direis, ouvir estrelas, certo/ perdeste o senso..." ou "Hão de chorar por
ela os cinamomos...". Lua diurética não tinha nada a ver...
Mas não conseguia largar o livro de Drummond. Lia e relia alguns dos poemas
que mais me perturbavam. E terminei tomando uma decisão: ler os críticos modernos
para entender o que era de fato aquela poesia antipoética.
E assim, na Biblioteca Pública, descobri O empalhador de passarinhos, de Mário
de Andrade, As cinzas do purgatório, de Otto Maria Carpeaux. Não sei se entendi
direito o que diziam, não me lembro. Mas terminei por admitir que havia uma nova
poesia, distinta da que conhecia, cujo mérito era exatamente estar ligada ao
cotidiano. Em breve rendia-me ao fascínio de poemas como "Onde há pouco
falávamos" e "Viagem na família" ("Fala fala fala fala/ Puxava pelo casaco/ que se
desfazia em barro"). Uma outra dimensão da realidade se revelava a meus sentidos.
É verdade que passei a ler ao mesmo tempo todos os poetas modernos que me
caíam nas mãos: Bandeira, Jorge de Lima, Murilo Mendes, Mário de Andrade. E poetas
estrangeiros, como Rilke, Eliot e, mais tarde, Rimbaud, Lautréamont, Mallarmé e
Artaud... O que bebi neles amontoou-se dentro de mim, fundiu-se, virou sangue, fala,
fogo - um magma que me temperou e me fez nascer de novo.
A verdade é que, agora, quando releio alguns dos poemas de Drummond
daquela época, me reconheço neles, percebo que sua fala está entranhada na minha,
que aprendi com ele o "o pungente amor" da vida.
Ferreira Gullar. In: http://revistacult.uol.com.br/website/dossie

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Dissertativo
Dissertar é um processo em que o emissor transmite conhecimento,
relata, expõe ideias, discorre sobre determinado assunto, argumenta. De certa
maneira, o texto mostra o ponto de vista que o autor tem de determinado
assunto, fundamentado em argumentos e raciocínios baseados em sua
vivência, conhecimento, posturas.
É certo dizer que ele engloba um conjunto de juízos. É próprio de temas
abstratos e usado em textos críticos, teses, exposição, explanação e
argumentação.
Dependendo do ponto de vista, da organização e do conteúdo, a
dissertação pode simplesmente relatar saberes científicos, dados estatísticos,
etc ou pode também buscar defender um princípio, uma visão parcial ou não
de um assunto, apresentando argumentos precisos, exemplos, contradições,
comparações, causas etc, para defender suas ideias. Sua estrutura
normalmente é a seguinte:
1) Introdução: é o parágrafo que abre a discussão ou simplesmente
expõe a informação principal, da qual se partirá nos próximos parágrafos à
exemplificação, explicação, etc. Neste parágrafo normalmente se encontra o
tópico frasal, o qual também é entendido como tese, cuja função é transmitir
a opinião do autor, o centro da informação.
2) Desenvolvimento: pode ser composto de um ou mais parágrafos, os
quais servem para ampliar e analisar o conteúdo informado na introdução.
Nele, encontramos os procedimentos argumentativos, que podem conter a
relação de causa e consequência, exemplificações, contrastes, citações de
autoridades no assunto. Enfim, é o debate ou simplesmente o mergulho nas
implicações do tema.
3) Conclusão: é o fechamento da informação, seja ela crítica ou não.
Muitas vezes iniciadas por elementos como “Portanto”, “Em suma”, “Enfim”,
etc. Nela há normalmente a ratificação, confirmação da tese, tomando por
base os argumentos dos parágrafos de desenvolvimento.
O texto dissertativo pode se manifestar por meio de vários gêneros
textuais, como editorial, artigo de opinião, carta de leitor, os diversos
discursos políticos, de defesa, de acusação, resenhas, relatórios, textos
publicitários etc.
Com base nisso, a dissertação se divide em dois tipos:
a) Dissertativo-expositivo: quando o autor apenas transmite os
saberes de uma comunidade (como em livros didáticos, enciclopédias etc), não
colocando sua opinião sobre o assunto, mas apenas os dados objetivos.
Veja alguns exemplos de texto dissertativo-expositivo:
Ferramenta que devolve spam ao emissor já é realidade
Uma nova ferramenta para combater a praga do spam foi recentemente
desenvolvida. O sistema é capaz de devolver os e-mails inconvenientes às

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pessoas que os enviaram, e está estruturado em torno de uma grande base de


dados que contém os números de identificação dos computadores que enviam
spam. Depois de identificar os endereços de onde procedem, o sistema reenvia
o e-mail ao remetente.
A empresa que desenvolveu o sistema assinalou que essa ferramenta
minimiza o risco de ataques de phishing, a prática que se refere ao envio
maciço de e-mails que fingem ser oficiais, normalmente de uma entidade
bancária, e que buscam roubar informação como dados relativos a cartões de
crédito ou senhas.
Internet: <http://informatica.terra.com.br>. Acesso em mar./2005 (com adaptações).
(Prova: ANS / 2005 / superior/ CESPE)

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união


indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce
por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos
desta Constituição.
(Excerto da CF/88. In: http://www.planalto.gov.br)

Não se nota em nenhum dos dois textos a intervenção do autor,


sinalizando sua opinião. Houve apenas a exposição de fato (no primeiro) e de
dado conceitual (no segundo).
Note que nesses dois textos não houve a opinião do autor. A base deles
foi a transmissão do saber, a informação. Por isso são textos dissertativo-
expositivos.
b) Dissertativo-argumentativo ou opinativo: quando o autor
transmite sua opinião dentro do texto. Geralmente é o que a banca CESPE
cobra nos concursos, tanto em interpretação de textos quanto na elaboração
de redações.
Veja alguns exemplos de texto dissertativo-argumentativo:
Existe, por certo, um abismo muito largo e profundo entre a cosmovisão
dos médicos em geral (fundada em sua leitura dos fenômenos biológicos) e as
concepções de vida da vasta maioria da população. Salta à vista, na
abordagem do assunto (a ética e a verdade do paciente), que se fica, mais
uma vez, diante da pergunta feita por Pôncio Pilatos a Jesus Cristo, encarando,
como estava, um homem pleno de sua verdade, “O que é a verdade?” E é
evidente que um e outro se cingiam a verdades díspares.
Dalgimar Beserra de Menezes. A ética médica e a verdade
do paciente. In: Desafios éticos, p. 212-5 (com adaptações).
(Prova: ANS / 2005 / superior)

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Com pouco mais de meio século de atividade da indústria automobilística


no Brasil, de acordo com registros, foram vendidos 2,5 milhões de carros.
Contraposto aos sucessivos recordes de congestionamentos nas grandes
cidades brasileiras, esse resultado expõe as fragilidades de um modelo de
desenvolvimento e urbanização que privilegia o transporte motorizado
individual, prejudica a mobilidade e até a produtividade das pessoas. O carro,
no entanto, não é o único vilão. A solução para o problema da mobilidade
passa pela criação de alternativas ao uso do transporte individual.
“Como as opções alternativas ao transporte individual são pouco
eficientes, pela falta de conforto, segurança ou rapidez, as pessoas continuam
optando pelos automóveis, motocicletas ou mesmo táxis, ainda que
permaneçam presas no trânsito”, afirma S. G., profissional da área de
desenvolvimento sustentável. Contudo, restringir o uso do carro não resolve o
problema. De acordo com consultores em transportes, a tecnologia é uma das
ferramentas para equacionar o problema do trânsito, desde que escolhida e
implementada com competência.
Enfrentamento do problema da mobilidade determinará futuro das
grandes metrópoles. In: Revista Ideia Socioambiental. São Paulo.
Internet: <www.ideiasocioambiental.com.br>. (com adaptações).
(Prova: DETRAN 2010 Médio)

Ponto de vista:
Os diversos tipos de texto são expressos por um emissor, que orienta o
leitor sobre o que se quer defender, criticar, contrastar. Esse ponto de vista
pode ser objetivo ou subjetivo.
Texto subjetivo:
É subjetivo (intimista) o texto em que a impressão do autor extrapola a
razão, a informação do texto. Logicamente todo texto possui de alguma forma
a opinião do autor, aquilo em que ele acredita. Mas isso pode se dar de forma
velada (mascarada) ou enfática. No texto subjetivo, o autor se mostra pelo uso
de verbos e pronomes em primeira pessoa, com vocabulário depreciativo ou
demasiado valorativo. A intenção é mostrar sua insatisfação, supervalorização,
baseado na emoção, no sentimento.
Como a linguagem é dinâmica e é por meio dela que o texto se veicula,
não se pode ser categórico ao se analisar o tipo de texto, nem mesmo seu
ponto de vista; pois tudo depende da intenção do autor. Um texto pode ser
objetivo, mas com alguns traços de subjetividade, assim como um texto
altamente subjetivo pode possuir traços de objetividade. Leia o texto a seguir,
extraído do blog de Diogo Mainard, colunista da Revista Veja. Perceba nele os
verbos e pronomes em primeira pessoa, certos vocábulos que mostram a
liberdade expressiva de sua opinião altamente pessoal. Isso caracteriza o texto
dissertativo-argumentativo, com ponto de vista subjetivo:
O leitor de VEJA já sabe o que esperar de mim: em matéria de
prognósticos eleitorais, eu erro fatalmente, eu erro teimosamente, eu erro
rumorosamente. Nos primeiros meses de 2008, prognostiquei que a candidata

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petista chegaria em quinto lugar. Dois anos e meio depois, estou aqui
reivindicando meu erro. Errei, errei, errei.
É bom errar. É bom repetir que errei. Só há um aspecto de meu trabalho
de que realmente me orgulho: eu nunca tentei compreender a mente ou o
comportamento de meus compatriotas. Eu me atormentaria se um dia, mesmo
que por engano, acabasse acertando um resultado eleitoral. Os valores aos
quais sou mais apegado ruiriam. Quem compreende a mente e o
comportamento dos brasileiros é Valdemar Costa Neto. Quem compreende a
mente e o comportamento dos brasileiros é a Mulher Melancia. Quem
compreende a mente e o comportamento dos brasileiros é Chico Buarque. Eles
sabem o que os brasileiros querem. Eu só sei o que os brasileiros repelem.
Eles repelem Antonello da Messina e Memling. Eles repelem Pitágoras e
Empédocles.
De todos os nossos escritores, o único que conseguiu compreender a
mente e o comportamento dos brasileiros foi Euclides da Cunha. Eu sempre
recorro a ele quando tenho de tratar do assunto. Ele é meu Valdemar Costa
Neto particular. Euclides da Cunha podia interpretar o caráter de uma pessoa a
partir do formato e da medida de suas orelhas ou de sua testa. Eu me
pergunto como ele teria interpretado o formato e a medida das orelhas de um
eleitor do PT, como Chico Buarque.
http://veja.abril.com.br/blog/mainardi/

Texto objetivo:
O ponto de vista objetivo procura basear-se em fatos, argumentos,
informações, evitando transparecer a opinião pessoal do autor. O texto
continua sendo opinativo, mas o autor mascara sua opinião para ganhar
credibilidade. Para isso se baseia em argumentos de autoridade (especialistas
entendidos no assunto, leis, regulamentos), pensamentos filosóficos, máximas,
etc. Tudo para fugir da impressão, do “eu acho”. Quanto mais dados para
consubstanciar a opinião “velada” do autor, melhor para a sustentação dos
argumentos, tornando o texto objetivo, com verbos e pronomes normalmente
em terceira pessoa.
Veja um exemplo de trecho dissertativo-argumentativo, com ponto de
vista objetivo.
O homem e a natureza
A idéia de que a natureza existe para servir o homem seria apenas
ingênua, se não fosse perigosamente pretensiosa.
Essa crença lançou raízes profundas no espírito humano, reforçada por
doutrinas que situam corretamente o homo sapiens no ponto mais alto da
evolução, mas incidem no equívoco de fazer dele uma espécie de finalidade da
criação. Pode-se dizer com segurança que nada na natureza foi feito para
alguma coisa, mas pode-se crer em permuta e equilíbrio entre seres e coisas.
A aquisição de características muito específicas como a linguagem, raciocínio
lógico, memória pragmática, noção de tempo e capacidade de acumular não
fizeram do homem um ser superior no sentido absoluto, mas apenas mais bem
dotado para determinados fins.

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Isso não lhe confere autoridade para pretender que todo o resto do
universo conhecido deve prestar-lhe vassalagem, como de fato ainda pretende
a maioria das pessoas com poder decisório no mundo.
Lisboa, Luiz Carlos. Olhos de ver, ouvidos de ouvir. Rio de Janeiro, Difel, 1977.
Note que o texto é iniciado por uma ideia geral (a natureza não existe
para servir o homem) que será desenvolvida em seguida. Há várias inserções
do autor, que provam sua opinião, em terceira pessoa:
Pode-se dizer com segurança...
pode-se crer em permuta e equilíbrio...
Isso não lhe confere autoridade...
...como de fato ainda pretende a maioria das pessoas com poder decisório no
mundo...
É claro que um texto não terá apenas uma tipologia textual. Muitas vezes
terá as três num só texto, mas vale o que predomina, aquele que transmite a
ideia central, o objetivo.
Questão 25: Antaq 2014 Técnico (banca CESPE)
Um dos principais desafios para o Brasil é conhecer a Amazônia. Sua
vocação eminentemente hídrica impõe, ao longo dos séculos, a necessidade
do deslocamento de seus habitantes através dos rios. Muito antes da chegada
dos colonizadores na Amazônia, os nativos já utilizavam canoas. Ainda hoje,
grande parte da população amazônica vive da pesca. Além disso, o
deslocamento do ribeirinho se faz através da infinidade de rios que retalham a
grandeza territorial.
Mas para conhecer a Amazônia de verdade é preciso entender sua
posição estratégica para o país. Os rios são a chave para esse conhecimento.
São as estradas que a natureza construiu e em cujas margens se
desenvolveram inúmeras povoações. Portanto, é impossível pensar em
Amazônia sem associar a importância que os rios têm para o desenvolvimento
econômico e social. Eles devem ser vistos como os grandes propulsores do
desenvolvimento sustentável da região.
Domingos Savio Almeida Nogueira. In: Internet:
<www.portosenavios.com.br/artigos> (com adaptações).
Predomina no texto a narração, já que nele se identificam um cenário e uma
ação.
Comentário: É fácil perceber que o texto não é narrativo. Ele é dissertativo.
Note que o autor lança uma tese “Um dos principais desafios para o Brasil é
conhecer a Amazônia.”. Em seguida, discorre sobre algumas considerações a
respeito da Amazônia.
Para confirmar que o texto é dissertativo, veja os tempos verbais: os
verbos estão predominantemente no presente (“é”, “impõe”, “vive”, “faz”,
“são”), o que confirma algumas considerações do autor a respeito do tema. Já
a narrativa se baseia em contar uma história. Assim, deve-se utilizar de
verbos no passado, o que pouco ocorreu neste texto. Com isso, notamos que
a afirmativa está errada.
Gabarito: E

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Questão 26: Antaq 2014 Técnico (banca CESPE)


Alexandria, no Egito, reinou quase absoluta como centro da cultura
mundial no período do século III a.C. ao século IV d.C. Sua famosa Biblioteca
continha praticamente todo o saber da Antiguidade em cerca de 700.000 rolos
de papiro e pergaminho e era frequentada pelos mais conspícuos
sábios, poetas e matemáticos.
A Biblioteca de Alexandria estava muito próxima do que se entende hoje
por Universidade. E faz-se apropriado o depoimento do insigne Carl B. Boyer,
em A História da Matemática: “A Universidade de Alexandria evidentemente
não diferia muito de instituições modernas de cultura superior. Parte dos
professores provavelmente se notabilizou na pesquisa, outros eram melhores
como administradores e outros ainda eram conhecidos pela sua capacidade de
ensinar.”
Em 47 a.C., envolvendo-se na disputa entre a voluptuosa Cleópatra e
seu irmão, o imperador Júlio César mandou incendiar a esquadra egípcia
ancorada no porto de Alexandria. O fogo se propagou até as dependências da
Biblioteca, queimando cerca de 500.000 rolos.
Em 640 d.C., o califa Omar ordenou que fossem queimados todos os
livros da Biblioteca, utilizando o seguinte o argumento: “ou os livros contêm o
que está no Alcorão e são desnecessários ou contêm o oposto e não devemos
lê-los.”
A destruição da Biblioteca de Alexandria talvez tenha representado o
maior crime contra o saber em toda a história da humanidade.
Se vivemos hoje a era do conhecimento é porque nos alçamos em
ombros de gigantes do passado. A Internet representa um poderoso agente
de transformação do nosso modus vivendi et operandi.
É um marco histórico, um dos maiores fenômenos de comunicação e
uma das mais democráticas formas de acesso ao saber e à pesquisa. Mas,
como toda inovação, a Internet tem potencial cuja dimensão não deve ser
superdimensionada. Seu conteúdo é fragmentado, desordenado e, além disso,
cerca de metade de seus bites é descartável.
Jacir J. Venturi. Internet: <www.geometriaanalitica.com.br> (com adaptações).
Nesse texto, que pode ser classificado como artigo de opinião, identificam-se
trechos narrativos e dissertativos.
Comentário: Esta questão abordou o gênero textual, conforme previa o edital
deste concurso. O artigo de opinião se baseia, como o próprio nome sugere,
na expressão da opinião livre de seu autor. Com base em alguns fundamentos
(legais, de especialistas, ou dados técnicos), o autor fica livre para dar sua
opinião, às vezes, recomendando ações, chamando a atenção do leitor a
determinada situação etc.
Bom, importa observar que a questão também se baseou na tipologia
textual, pois podemos verificar no texto um histórico, passagens como o
terceiro e quarto parágrafos, em que os verbos aparecem no passado,
marcando ações, movimentos. Além disso, fica fácil perceber os elementos da
narrativa, como tempo, cenário, personagens, falas, isto é, tudo que
percebemos numa história. Veja:

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Em 47 a.C., envolvendo-se na disputa entre a voluptuosa Cleópatra e


seu irmão, o imperador Júlio César mandou incendiar a esquadra egípcia
ancorada no porto de Alexandria. O fogo se propagou até as dependências da
Biblioteca, queimando cerca de 500.000 rolos.
Em 640 d.C., o califa Omar ordenou que fossem queimados todos os
livros da Biblioteca, utilizando o seguinte o argumento: “ou os livros contêm o
que está no Alcorão e são desnecessários ou contêm o oposto e não devemos
lê-los.”
Resta claro perceber os trechos dissertativos, como os dois parágrafos
seguintes à narrativa acima. Veja:
A destruição da Biblioteca de Alexandria talvez tenha representado o
maior crime contra o saber em toda a história da humanidade.
Se vivemos hoje a era do conhecimento é porque nos alçamos em
ombros de gigantes do passado. A Internet representa um poderoso agente
de transformação do nosso modus vivendi et operandi.
É um marco histórico, um dos maiores fenômenos de comunicação e
uma das mais democráticas formas de acesso ao saber e à pesquisa.
O quinto parágrafo já se inicia com uma consideração do autor, ao
afirmar que a destruição de tal biblioteca representaria, segundo ele, o maior
crime contra o saber em toda a história da humanidade. Isso é uma opinião.
Pode haver gente que concorde, pode haver gente que discorde. Perceba os
verbos no presente, o que reforça o discurso argumentativo.
Dessa forma, realmente, o texto possui passagens narrativas e
dissertativas.
Gabarito: C

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O monitor — também chamado, em algumas instituições, de inspetor e
bedel — é um dos profissionais mais atuantes na esfera educacional. Ele
transita por toda a escola, em geral conhece os alunos pelo nome e é um dos
primeiros a ser procurado quando há algum problema que precisa ser
solucionado rapidamente. Contudo, ele nem sempre é valorizado como
deveria. Infelizmente, muitos diretores entendem que quem atua nessa
função deve apenas controlar os espaços coletivos para impedir a ocorrência
de agressões, depredações e furtos, vigiar grupos de alunos, observar
comportamentos suspeitos e até mesmo revistar armários e mochilas.
Esse tipo de controle, além de perigoso — pois os conflitos abafados por
ações repressoras acabam se manifestando com mais violência —, contribui
para reforçar a desconfiança entre a instituição e os estudantes. E uma
relação fundada na insegurança fragiliza a construção de valores
democráticos, que deveria ser um dos objetivos de todas as escolas.
Como qualquer profissional do ambiente escolar, os monitores também
são educadores, e cabe à equipe gestora realizar ações formativas para que
eles saibam como interagir com as crianças e os jovens nos diversos espaços
(como o pátio, os corredores, as quadras, a cantina, o banheiro etc.). Com
uma boa formação, eles serão capazes de trazer informações importantes
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sobre a convivência entre os alunos e que poderão ser objeto de análise para
que o orientador educacional, juntamente com o diretor e a equipe docente,
planeje e execute intervenções.
O papel do monitor na formação dos alunos.
Internet: <http://gestaoescolar.org.br> (com adaptações).
Questão 27: A forma verbal “transita” (linha 3) foi empregada para
transmitir a ideia de que o monitor muda constantemente de função na
escola.
Comentário: A afirmação está errada, pois tal verbo transmite a ideia de que
o monitor interage bem nos diversos espaços da escola. Como ele é um dos
primeiros contatos do aluno no dia a dia, a sua presença pode ligar o discente
aos diversos setores necessários à resolução de problemas. Assim,
definitivamente, o verbo não significa que o monitor tem mudança constante
de função.
Gabarito: E

Questão 28: Infere-se que, para o autor do texto, muitos diretores de


escolas possuem uma visão restrita sobre a função do monitor.
Comentário: A afirmação está correta e se refere ao seguinte fragmento do
texto:
“Infelizmente, muitos diretores entendem que quem atua nessa função deve
apenas controlar os espaços coletivos para impedir a ocorrência de agressões,
depredações e furtos, vigiar grupos de alunos, observar comportamentos
suspeitos e até mesmo revistar armários e mochilas.”
Assim, realmente, para o autor do texto, muitos diretores de escolas
possuem uma visão restrita sobre a função do monitor.
Gabarito: C

Questão 29: O vocábulo “suspeitos” (linha 9) foi empregado, no texto, como


substantivo, no sentido de aqueles sobre os quais recaem suspeitas.
Comentário: O sentido do vocábulo está correto, conforme o contexto.
Porém, o vocábulo “suspeitos”, na linha 9, é um adjetivo que caracteriza o
substantivo “comportamentos”: “observar comportamentos suspeitos”. E não
um substantivo. Por isso a afirmação está errada.
Gabarito: E

Questão 30: De acordo com o terceiro parágrafo do texto, os monitores têm


formação profissional na área de educação.
Comentário: O terceiro parágrafo faz entender que os monitores são
educadores e que por isso mesmo devem receber formação na área da
educação. Isso fica patente nos seguintes trechos que dão a noção de futuro:
“... e cabe à equipe gestora realizar ações formativas para que eles saibam
como interagir com as crianças e os jovens nos diversos espaços (como o
pátio, os corredores, as quadras, a cantina, o banheiro etc.).
(...)

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“Com uma boa formação, eles serão capazes de trazer informações


importantes sobre a convivência entre os alunos e que poderão ser objeto de
análise para que o orientador educacional, juntamente com o diretor e a
equipe docente, planeje e execute intervenções.”
Dessa forma, não se pode afirmar que os monitores têm formação
profissional na área de educação. Portanto, a afirmação está errada.
Gabarito: E

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Rubião tinha vexame, por causa de Sofia; não sabia haver-se com
senhoras. Felizmente, lembrou-se da promessa que a si mesmo fizera de ser
forte e implacável. Foi jantar. Abençoada resolução! Onde acharia iguais
horas? Sofia era, em casa, muito melhor que no trem de ferro. Lá vestia a
capa, embora tivesse os olhos descobertos; cá trazia à vista os olhos e o
corpo, elegantemente apertado em um vestido de cambraia, mostrando as
mãos, que eram bonitas, e um princípio de braço. Demais, aqui era a dona da
casa, falava mais, desfazia-se em obséquios; Rubião desceu meio tonto.
Machado de Assis. Quincas Borba. Internet: <www.dominiopublico.gov.br> (com
adaptações).
Questão 31: As informações do fragmento de texto em questão são
insuficientes para se inferir de onde ou para onde Rubião teria descido —
“Rubião desceu meio tonto” (linha 8).
Comentário: Note que realmente o texto não se refere a lugar de onde ou
para onde supostamente Rubião teria descido. Assim, as informações
constantes do fragmento do texto são insuficientes, por isso a afirmação está
correta.
Gabarito: C

Questão 32: O trecho “Sofia (...) em obséquios” (linhas 4 a 8) é


predominantemente narrativo, o que se comprova pelas formas verbais
flexionadas no pretérito imperfeito, empregadas pelo narrador para apresentar
ações rotineiras de Sofia.
Comentário: A comprovação de ser um texto narrativo normalmente ocorre
com verbos no pretérito perfeito do indicativo, em que os personagens agem
dentro de um determinado tempo, num cenário, havendo, portanto, uma
sequência de ações.
Já no trecho abaixo ocorrem verbos no pretérito imperfeito do indicativo,
os quais demonstram a rotina, ambientam o leitor sobre como se apresentava
o personagem, o ambiente. Tal trecho é visto como uma ambientação ao
leitor, o que normalmente se dá para que em seguida haja a narrativa. Veja:
“Sofia era, em casa, muito melhor que no trem de ferro. Lá vestia a capa,
embora tivesse os olhos descobertos; cá trazia à vista os olhos e o corpo,
elegantemente apertado em um vestido de cambraia, mostrando as mãos,
que eram bonitas, e um princípio de braço. Demais, aqui era a dona da casa,
falava mais, desfazia-se em obséquios.”

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Como a questão especificou o trecho acima, observamos que ele é


descritivo, pois a intenção não é contar uma ocorrência, uma situação, mas
caracterizá-la, ambientá-la para o leitor.
Portanto, a afirmação está errada.
Gabarito: E

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É preciso considerar a relação entre universidade e cultura. Quais são as
condições de preservação, de apropriação da cultura, e de reflexão crítica
sobre ela? Mesmo um diagnóstico superficial da época em que vivemos é
suficiente para mostrar a precariedade dessas condições. O ritmo do tempo
histórico é marcado pelo círculo produção e consumo, até mesmo daquilo que
entraria na categoria dos “bens culturais”. Os fatores de desagregação cultural
incluem o imediatismo e o caráter efêmero e disperso dos interesses que os
indivíduos são encorajados a cultivar, a fragmentação e a distorção da
informação, a mercantilização extremada dos meios de comunicação.
Os acessos ao mundo da cultura são cada vez mais intensamente
submetidos a mecanismos industriais, sem que se assuma qualquer medida
no sentido de garantir acesso efetivamente democrático. A universidade
pública é uma instância em que se pode resistir, de alguma maneira e por
algum tempo, a esse processo, sendo a instituição em que a cultura pode ser
considerada sem as regras do mercado e sem os critérios de utilidade e
oportunidade socialmente introjetados a partir da mídia.
Para que a disseminação pública da cultura fuja a determinações
pragmáticas e economicistas, é necessário um espaço público de preservação,
de apropriação e de reflexão.
As atividades que aí se desenvolvam não se podem subordinar a
critérios da expectativa de retorno de investimento. Por isso, a universidade,
como instituição pública, pode assumir a função de garantir o efetivo caráter
público de que, em princípio, se revestem os bens de cultura historicamente
legados ao presente.
Faz parte da autonomia da universidade pública essa relação intrínseca
com a cultura, que permite que o acesso não seja filtrado por mecanismos de
outras instâncias da vida social. É essa publicidade desinteressada da cultura
— que só na instituição pública pode-se articular em algum grau — que
garante o conhecimento, a apropriação intelectual, a reflexão, a crítica e o
debate.
Franklin Leopoldo e Silva. Universidade pública e cultura. In: Estudos
Avançados, v. 15, n.º 42, São Paulo (com adaptações).
Questão 33: De acordo com as ideias do texto, o acesso ao mundo da cultura
realiza-se majoritariamente mediante a ação do Estado.
Comentário: A questão se refere ao seguinte trecho do texto:
Os acessos ao mundo da cultura são cada vez mais intensamente
submetidos a mecanismos industriais, sem que se assuma qualquer
medida no sentido de garantir acesso efetivamente democrático.

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Assim, com base na literalidade do fragmento acima, certamente você


percebeu que o acesso ao mundo da cultura não é realizado majoritariamente
pelo Estado. Dessa forma, a afirmação está errada.
Gabarito: E

Questão 34: De acordo com as ideias do texto, a produção de cultura no


ambiente universitário garante rentabilidade em relação aos investimentos
feitos.
Comentário: O texto se refere ao ambiente universitário das instituições
públicas. No segundo parágrafo do texto, observa-se que esse ambiente
universitário pode resistir aos mecanismos industriais, pois nessa instituição a
cultura pode ser considerada sem as regras do mercado e sem os critérios de
utilidade e oportunidade socialmente introjetados a partir da mídia. Em
seguida, é afirmado categoricamente no texto que “As atividades que aí se
desenvolvam não se podem subordinar a critérios da expectativa de retorno
de investimento.”
Assim, a afirmação está errada.
Gabarito: E

Questão 35: De acordo com as ideias do texto, a relação entre mercado e


cultura é benéfica para a sociedade.
Comentário: O texto nega veementemente a afirmação da questão, pois, no
quarto parágrafo, é afirmado que “As atividades que aí se desenvolvam não
se podem subordinar a critérios da expectativa de retorno de
investimento.”.
Assim, notamos que a relação entre mercado e cultura, na visão do
texto, não é benéfica para a sociedade.
Gabarito: E

Prefeitura São Luís - MA 2017 Professor (banca CESPE)


Vez por outra, Damião deixava-se ficar, madrugada adentro, na Casa-
Grande das Minas, vendo as danças, ouvindo as cantigas, atraído pelo bater
dos tambores. A sensação íntima de derrota pessoal, que sentia aprofundar-se
na sua consciência, levava-o a isolar-se num canto do terreiro, metido
consigo. Com a morte recente do Dr. Sotero dos Reis, tinha tido a esperança
de que viriam chamá-lo para ocupar-lhe o lugar no Liceu. Esperara em vão: já
outro professor fora nomeado. Agora, nem sequer com o apoio do velho
mestre, que ainda lhe tinha um pouco de amizade, podia mais contar. Por
outro lado, continuava a ver os negros maltratados, sem que nada pudesse
fazer em seu favor. Não fazia duas semanas tinha ouvido na rua um tilintar de
correntes, à altura do Largo do Quartel, e vira uma fila de pretos, uns
amarrados aos outros, submissos, descendo a Rua do Sol. Nas conversas do
Largo do Carmo, perto da coluna do Pelourinho, contavam-se novos casos de
mortes violentas de escravos, ali mesmo em São Luís. A Lei do Ventre Livre,
que a imprensa da Corte havia recebido com muita festa, não merecera o

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mais breve registro da imprensa de São Luís. No fundo, pensando bem, que
era essa lei senão uma burla? Os negros nasceriam e cresceriam nas senzalas,
debaixo do chicote dos senhores, e só aos vinte e um anos seriam livres. Ao
fim de tanto tempo de sujeição, que iriam fazer cá fora, sem saber em que se
ocupar? E Damião sentia renascer no seu espírito o impulso da revolta,
querendo denunciar a burla e protestar contra o novo engodo à liberdade dos
negros. Mas vinha-lhe o desânimo. De que adiantava o seu protesto, se não
dispunha de um jornal, se não tinha uma tribuna? Ao mesmo tempo arriava os
ombros, curvando a espinha, esmagado pela convicção de sua inutilidade e de
sua derrota. Se protestasse, como ia fazer depois para educar os filhos e
sustentar a família? Além do mais, embora desempregado havia muito tempo,
não perdera a esperança de colocar-se a qualquer momento, quer de novo no
Liceu, quer no Seminário de Santo Antônio.
Josué Montello. Os tambores de São Luís. 5.ª ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1985, p. 374-5 (com adaptações).
Questão 36: Depreende-se do texto CB1A1AAA que a “sensação íntima de
derrota pessoal” (linha 3) que levava Damião a “isolar-se num canto do
terreiro, metido consigo” (linha 4) se devia ao fato de

(A) a Lei do Ventre Livre ter sido promulgada.


(B) o Dr. Sotero dos Reis, seu mestre e amigo, ter morrido.
(C) ele não ser dono de jornal ou político.
(D) ele ter perdido a esperança de ser professor do Liceu ou do Seminário de
Santo Antônio.
(E) ele estar desempregado e não ter meios para lutar contra a escravidão.
Comentário: A causa do sentimento de derrota está no fato de ele não poder
denunciar a escravidão e estar desempregado. Veja isso nos trechos abaixo:

“Com a morte recente do Dr. Sotero dos Reis, tinha tido a esperança de que
viriam chamá-lo para ocupar-lhe o lugar no Liceu. Esperara em vão: já outro
professor fora nomeado.”

(...)
“E Damião sentia renascer no seu espírito o impulso da revolta, querendo
denunciar a burla e protestar contra o novo engodo à liberdade dos negros.
Mas vinha-lhe o desânimo. De que adiantava o seu protesto, se não
dispunha de um jornal, se não tinha uma tribuna?”
Assim, a alternativa correta é a (E).
Gabarito: E

Questão 37: Infere-se do texto que, para Damião, a aprovação da Lei do


Ventre Livre representou uma
(A) possibilidade de os negros ascenderem socialmente por meio do trabalho
remunerado.
(B) chance de ele voltar a ministrar aulas no Liceu ou no Seminário de Santo
Antônio.

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(C) vitória da Corte e da imprensa de São Luís na luta pela libertação dos
negros.
(D) falsa promessa de liberdade vindoura para os negros que nascessem a
partir de então.
(E) oportunidade de os negros finalmente se libertarem da escravidão.
Comentário: Conforme se apresenta no trecho abaixo, a lei do Ventre Livre
não passava de uma burla (enganar, ludibriar). Confirme:
“A Lei do Ventre Livre, que a imprensa da Corte havia recebido com muita
festa, não merecera o mais breve registro da imprensa de São Luís. No fundo,
pensando bem, que era essa lei senão uma burla?”
Assim, a alternativa (D) é a correta.
Gabarito: D

Questão 38: De acordo com o texto, Damião era um homem que


(A) havia se convencido do êxito das suas lutas contra a violação dos direitos
dos negros.
(B) sofria preconceito racial e, por essa razão, se revoltava contra as
injustiças decorrentes do regime escravocrata.
(C) se sentia impotente diante dos atos de violência e de injustiça praticados
contra os negros.
(D) desejava integrar um movimento político de luta pela abolição da
escravatura.
(E) negligenciava os assuntos relativos à escravidão.
Comentário: Na linha 3, mostra-se o personagem com a sensação íntima de
derrota pessoal. Em seguida, observa-se que a causa disso era o fato de nada
poder fazer para mudar o sistema: “De que adiantava o seu protesto, se não
dispunha de um jornal, se não tinha uma tribuna?”.
Assim, a alternativa (C) é a correta.
Gabarito: C

Questão 39: No texto, refere-se ao “Dr. Sotero dos Reis” (linha 5) a forma
pronominal empregada em
(A) “lhe tinha um pouco de amizade” (linha 8).
(B) “outro professor” (linha 7).
(C) “em seu favor” (linha 10).
(D) “viriam chamá-lo” (linha 6).
(E) “para ocupar-lhe” (linha 6).
Comentário: O “Dr. Sotero dos Reis” era o professor que morreu e que
Damião tinha esperança em substituí-lo. Assim, o pronome “lhe” se refere ao
“Dr. Sotero dos Reis” e a alternativa correta é a (E).
A alternativa (A) está errada, pois, na expressão “lhe tinha um pouco de
amizade”, o pronome “lhe” se refere a “Damião”.
A alternativa (B) está errada, pois “outro” não tem relação anafórica e
não retoma palavra anterior.

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A alternativa (C) está errada, pois, na expressão “em seu favor”, o


pronome “seu” se refere aos “negros maltratados”.
A alternativa (D) está errada, pois, na expressão “viriam chamá-lo”, o
pronome “-lo” se refere a “Damião”.
Confirme abaixo:
“Com a morte recente do Dr. Sotero dos Reis, tinha tido a esperança de que
viriam chamá-lo para ocupar-lhe o lugar no Liceu. Esperara em vão: já outro
professor fora nomeado. Agora, nem sequer com o apoio do velho mestre,
que ainda lhe tinha um pouco de amizade, podia mais contar. Por outro lado,
continuava a ver os negros maltratados, sem que nada pudesse fazer em seu
favor.”
Gabarito: E

Questão 40: No texto, a oração “Mas vinha-lhe o desânimo” (linha 22)


expressa uma ideia de
(A) consequência.
(B) finalidade.
(C) conclusão.
(D) adversidade.
(E) condição.
Comentário: A conjunção “Mas” é coordenada adversativa. Assim, a
alternativa correta é a (D).
Gabarito: D

Questão 41: No texto, a palavra “burla” (linha 17) foi empregada no sentido
de
(A) honra ou glória.
(B) transgressão ou ofensa.
(C) ilusão ou fraude.
(D) compaixão ou piedade.
(E) afronta ou agressão.
Comentário: A palavra “burla” tem o sentido de enganar, ludibriar. Assim, a
alternativa que mais se aproxima deste sentido é a (C).
Gabarito: C

Questão 42: TRE - ES/ 2011 / Superior (banca CESPE)


No Brasil, a tradição política no tocante à representação gira em torno
de três ideias fundamentais. A primeira é a do mandato livre e independente,
isto é, os representantes, ao serem eleitos, não têm nenhuma obrigação,
necessariamente, para com as reivindicações e os interesses de seus eleitores.
O representante deve exercer seu papel com base no exercício autônomo de
sua atividade, na medida em que é ele quem tem a capacidade de
discernimento para deliberar sobre os verdadeiros interesses dos seus
constituintes. A segunda ideia é a de que os representantes devem exprimir
interesses gerais, e não interesses locais ou regionais. Os interesses nacionais

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seriam os únicos e legítimos a serem representados. A terceira ideia refere-se


ao princípio de que o sistema democrático representativo deve basear-se no
governo da maioria. Praticamente todas as leis eleitorais que vigoraram no
Brasil buscaram a formação de maiorias compactas que pudessem governar.
Gilberto Bercovici. A origem do sistema eleitoral proporcional
no Brasil. In: Estudos Eleitorais, TSE, vol. 5, n.º 2, 2010, p. 53.
Internet: <www.tse.gov.br> (com adaptações ) .
Nesse fragmento de texto, o tópico frasal corresponde ao primeiro período.
Comentário: O tópico frasal é a frase ou expressão que abre os caminhos,
sugere ampliação e desenvolvimento do texto. Por isso, percebemos que o
primeiro período realmente é o tópico frasal, pois se declara algo que
necessita de ampliação, e essa necessidade se deveu à expressão “três ideias
fundamentais”, ideias as quais foram desenvolvidas nos outros períodos.
Gabarito: C

TRE - ES/ 2011 / Superior (banca CESPE)


Convocada por D. Pedro em junho de 1822, a constituinte só seria
instalada um ano mais tarde, no dia 3 de maio de 1823, mas acabaria
dissolvida seis meses depois, em 12 de novembro.
Os membros da constituinte eram escolhidos por meio dos mesmos
critérios estabelecidos para a eleição dos deputados às cortes de Lisboa. Os
eleitores eram apenas os homens livres, com mais de vinte anos e que
residissem por, pelo menos, um ano na localidade em que viviam, e
proprietários de terra. Cabia a eles escolher um colégio eleitoral, que, por sua
vez, indicava os deputados de cada região. Estes tinham de saber ler e
escrever, possuir bens e virtudes. Em uma época em que a taxa de
analfabetismo alcançava 99% da população, só um entre cem brasileiros era
elegível. Os nascidos em Portugal tinham de estar residindo por, pelo menos,
doze anos no Brasil. Do total de cem deputados eleitos, só 89 tomaram posse.
Era a elite intelectual e política do Brasil, composta de magistrados, membros
do clero, fazendeiros, senhores de engenho, altos funcionários, militares e
professores. Desse grupo, sairiam mais tarde 33 senadores, 28 ministros de
Estado, dezoito presidentes de província, sete membros do primeiro conselho
de Estado e quatro regentes do Império.
O local das reuniões era a antiga cadeia pública, que, em 1808, havia
sido remodelada pelo vice-rei conde dos Arcos para abrigar parte da corte
portuguesa de D. João. No dia da abertura dos trabalhos, D. Pedro chegou ao
prédio em uma carruagem puxada por oito mulas. Discursou de cabeça
descoberta, o que, por si só, sinalizava alguma concessão ao novo poder
constituído nas urnas. A coroa e o cetro, símbolos do seu poder, também
foram deixados sobre uma mesa.
Laurentino Gomes. 1822. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2010, p. 213-16 (com adaptações).
Questão 43: No primeiro parágrafo do texto, o autor resume a história da
assembleia constituinte de 1822.
Comentário: Releia o primeiro parágrafo:

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“Convocada por D. Pedro em junho de 1822, a constituinte só seria


instalada um ano mais tarde, no dia 3 de maio de 1823, mas acabaria
dissolvida seis meses depois, em 12 de novembro.”
Há uma história (narrativa), pois ocorre uma evolução temporal. Ela se
fez de forma concisa, abreviada, resumida; pois se referiu a trechos que
demarcaram os limites, como “convocação”, “instalação” e “dissolvição”.
Gabarito: C

Questão 44: Se os primeiros dois parágrafos fossem reunidos em um só, o


primeiro parágrafo original corresponderia a uma sentença tópico, e o
segundo parágrafo original, ao desenvolvimento desse novo parágrafo.
Comentário: A sentença tópico ou tópico frasal num texto tem a
funcionalidade de generalizar o tema, abrir questionamentos, sugerir novo
assunto. Perceba que foi realmente isso que podemos observar no primeiro
parágrafo, inclusive a banca nos induziu a entender isso a partir da questão
anterior, em que vimos que houve um resumo histórico da constituinte. No
segundo parágrafo, esse tema é desenvolvido, pois é informada a composição
da constituinte e suas características. Por isso, a questão está correta.
Gabarito: C

Questão 45: De acordo com o texto, portugueses recém-chegados ao Brasil


que possuíssem riquezas e virtudes poderiam, mediante concessão especial,
tornar-se membros da constituinte.
Comentário: Esta questão faz referência direta aos seguintes trechos que
dizem respeito à possibilidade de alguém se tornar elegível:
“Estes tinham de saber ler e escrever, possuir bens e virtudes.” e
“Os nascidos em Portugal tinham de estar residindo por, pelo menos,
doze anos no Brasil.”
Por isso, vemos que a questão está errada.
Gabarito: E

SESA - ES / 2011 / Superior (banca CESPE)


No Brasil, a coleta de materiais recicláveis, tais como latinhas, garrafas
pet, papelão, papel, isopor, nem sempre é vista com o respeito devido. Claro
que existem exceções, mas muita gente reclama das carroças que atrapalham
o trânsito, e, mesmo quando param para descansar ou recolher material, os
catadores são vistos com desconfiança ou desdém. O mais complicado é fazer
determinadas pessoas enxergarem nessa atividade um trabalho árduo e
extremamente útil. São homens e mulheres anônimos que contribuem para o
milagre da transformação do lixo, que entope bueiros, suja as ruas e vai parar
nos rios, em matéria útil que volta para a cadeia produtiva em forma de
insumo para novos produtos.
Mesmo com a atividade desses trabalhadores, que travam uma luta
diária pela sobrevivência, repousa, no fundo de muitos rios brasileiros, a
exemplo dos rios Tietê e Pinheiros, em São Paulo, uma colossal quantidade de

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lixo composta de todo o tipo de materiais, inclusive sofás e geladeiras, e


sujeiras de toda a espécie despejados pelas pessoas. Os especialistas
consideram que uma das principais razões da ocorrência de enchentes é
exatamente a ausência de vazão dos nossos principais rios, em cujos leitos há
enorme quantidade de sedimentos.
Reinaldo Canto. Fim de ponto de coleta é
retrocesso injustificável. Internet:
<www.cartacapital.com.br> (com adaptações).
Questão 46: Depreende-se do texto que, no Brasil, parte do problema das
enchentes deve-se ao descarte indevido do lixo, o que demonstra a
necessidade do trabalho desenvolvido pelos catadores de lixo, atividade ainda
menosprezada por muitas pessoas.
Comentário: A interpretação da questão está literal no texto: realmente
parte do problema das enchentes deve-se ao descarte indevido do lixo. Isso é
confirmado no final do texto, em que “Os especialistas consideram que uma
das principais razões da ocorrência de enchentes é exatamente a ausência de
vazão dos nossos principais rios, em cujos leitos há enorme quantidade de
sedimentos.”
Além disso, há realmente necessidade do trabalho dos catadores de lixo,
os quais possuem atividade ainda menosprezada pela população. Isso é
confirmado literalmente no texto em:
“No Brasil, a coleta de materiais recicláveis, tais como latinhas, garrafas pet,
papelão, papel, isopor, nem sempre é vista com o respeito devido.”
“São homens e mulheres anônimos que contribuem para o milagre da
transformação do lixo, que entope bueiros, suja as ruas e vai parar nos rios”.
Gabarito: C

Questão 47: Esse texto caracteriza-se como predominantemente


dissertativo-argumentativo.
Comentário: No texto, está claro que a tipologia predominante é a
dissertativa, pois ele desenvolve argumentação sobre um tema: a importância
da coleta do lixo. Note que, além da própria estrutura textual marcar a
argumentação, há expressões que evidenciam a opinião do autor, tais como
“Claro que existem exceções”, “O mais complicado é”. Isso reforça que o texto
realmente é dissertativo-argumentativo.
Gabarito: C

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A pesquisa biomédica passou do amadorismo e voluntarismo à seriedade
e ao profissionalismo necessários à projeção do Brasil no cenário mundial.
Nenhum país que pretenda ser potência mundial pode deixar de criar e
ampliar seu parque científico. As pesquisas, em geral, e a biomédica, em
particular, vêm-se beneficiando da estabilidade econômica alcançada nos
últimos quinze anos, além da criação dos fundos setoriais de ciência e
tecnologia e da consolidação do financiamento estadual pelas fundações de
apoio à pesquisa. Mas ainda falta muito a ser feito. Apesar da melhora, o

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Brasil ainda tem um longo caminho a seguir para ser competitivo. Nos últimos
oito anos, o volume de recursos do Ministério da Saúde, que vem aumentando
progressivamente, aproximou-se dos 200 milhões de reais ao ano,
incentivando setores da pesquisa específicos e complementares aos que
recebem o apoio tradicional das agências de fomento.
Riad Younes. Pesquisa em saúde. Internet:
<www.cartacapital.com.br> (com adaptações).
Questão 48: Infere-se do texto que, no Brasil, a pesquisa biomédica,
importante fator de desenvolvimento científico do país, embora receba cada
vez mais recursos do poder público, ainda não atingiu o patamar ideal de
competitividade em relação aos países desenvolvidos.
Comentário: Esta questão tem referentes literais no texto que a comprovam
como correta. A pesquisa biomédica realmente é importante fator de
desenvolvimento científico do país. Isso é comprovado nos dois primeiros
períodos do texto, em que se afirma “A pesquisa biomédica passou do
amadorismo e voluntarismo à seriedade e ao profissionalismo necessários à
projeção do Brasil no cenário mundial. Nenhum país que pretenda ser
potência mundial pode deixar de criar e ampliar seu parque científico”
O Brasil realmente recebe cada vez mais recursos do poder público. Isso
está comprovado no texto em: “Nos últimos oito anos, o volume de recursos
do Ministério da Saúde, que vem aumentando progressivamente, aproximou-
se dos 200 milhões de reais ao ano, incentivando setores da pesquisa...”
Mas o Brasil ainda não atingiu o patamar ideal de competitividade em
relação aos países desenvolvidos. Comprovamos isso, com a seguinte
passagem no texto: “Mas ainda falta muito a ser feito. Apesar da melhora, o
Brasil ainda tem um longo caminho a seguir para ser competitivo.”
Gabarito: C

Questão 49: Da afirmação contida no primeiro período do texto infere-se que


a criação e a implantação de instrumentos legais obrigaram o Estado a
exercer o seu papel regulador, o que tornou a pesquisa biomédica séria e
profissional.
Comentário: A questão é de interpretação localizada. Assim, devemos
transcrever o primeiro período do texto:
“A pesquisa biomédica passou do amadorismo e voluntarismo à seriedade e ao
profissionalismo necessários à projeção do Brasil no cenário mundial.”
Na questão, a expressão “o que tornou” traduz um valor de
consequência, fazendo-nos inferir que a causa da pesquisa biomédica tornar-
se séria e profissional seria a “criação e a implantação de instrumentos legais”
e a obrigação de o Estado exercer o seu papel regulador. A causa não é essa,
primeiro porque isso não está explícito, nem implícito no primeiro parágrafo;
segundo porque o próprio texto informa que a estabilidade do país e a criação
de fundos fomentaram esse campo científico.
Gabarito: E

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TRE - ES/ 2011 / Superior (banca CESPE)


Um dos problemas mais significativos da democracia representativa
brasileira, preexistente à Constituição de 1988, mas mantido por ela, é a
distorção da representação das unidades federadas na Câmara dos
Deputados. Trata-se de assunto cuja importância e mesmo centralidade não
podem ser desprezadas: princípio basilar da democracia representativa é o
voto de cada pessoa ter o mesmo peso eletivo. O atual sistema permite que o
voto de um cidadão seja dezenas de vezes mais significativo, nas eleições
para a Câmara, do que o voto de outro. Essa situação é incompatível com o
aperfeiçoamento democrático de nosso regime político.
A Constituição brasileira (art. 45, caput) determina que a representação
dos estados na Câmara dos Deputados seja proporcional à população.
Entretanto, a seguir, estabelece piso e teto dessa representação (oito e
setenta deputados, respectivamente), que implicam a negação dessa
proporcionalidade.
Octaciano Nogueira, em trabalho a respeito do tema, parte da premissa
de que essa distorção “não é obra do regime militar, que, na verdade, se
utilizou desse expediente, como de inúmeros outros, para reforçar a Arena,
durante o bipartidarismo; sua origem remonta à Constituinte de 1890,
quando, por sinal, o problema foi exaustivamente debatido; a partir daí,
incorporou-se à tradição de nosso direito constitucional legislado, em todas as
subsequentes constituições; e o princípio, portanto, estabelecido durante as
fases democráticas sob as quais viveu o País e mantido sempre que se
restaurou o livre debate, subsequente aos regimes de exceção, foi
invariavelmente preservado, como ocorreu em 1946 e 1988.”
Arlindo F. de Oliveira. Sobre a representação dos estados na Câmara dos
Deputados. In: Textos para Discussão, n.º 5, abr./2004 (com adaptações).
Questão 50: A distorção referida no primeiro período do texto reside na
possibilidade de um candidato ser eleito deputado estadual com votação
inexpressiva no lugar de outro que obtenha maior número de votos.
Comentário: Perceba que o primeiro parágrafo do texto é o tópico frasal,
pois fomenta um desenvolvimento a partir de um problema. Esse tópico é
desenvolvido e ampliado nos demais períodos do texto. Note que a expressão
“representação das unidades federadas na Câmara dos Deputados” denota a
referência a deputado federal, pois ele é o representante de sua unidade
federada na Câmara dos Deputados. O restante da informação da questão
amplia o que se diz em “distorção da representação”. Assim, a expressão
“deputado estadual” fez com que a questão estivesse errada.
Gabarito: E

Questão 51: Deduz-se da citação inserida no terceiro parágrafo que a


distorção mencionada no texto não faz parte do entulho autoritário gerado
pelo regime militar implantado no Brasil.
Comentário: A questão é de interpretação literal e faz referência direta ao
que foi citado em “não é obra do regime militar, que, na verdade, se
utilizou desse expediente (...) sua origem remonta à Constituinte de

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1890”.
Portanto, a questão está correta.
Gabarito: C

Questão 52: Depreende-se da leitura que houve oportunidades para se


corrigir a distorção mencionada no texto, mas isso não foi feito.
Comentário: A banca queria que o candidato notasse as expressões que se
encontram abaixo sublinhadas, as quais marcam os momentos em que se
poderia corrigir o problema, mas se manteve preservado. Veja:
“...o problema foi exaustivamente debatido; a partir daí, incorporou-se à
tradição de nosso direito constitucional legislado, em todas as subsequentes
constituições; e o princípio, portanto, estabelecido durante as fases
democráticas sob as quais viveu o País e mantido sempre que se restaurou o
livre debate, subsequente aos regimes de exceção, foi invariavelmente
preservado, como ocorreu em 1946 e 1988.”
Gabarito: C

Questão 53: O texto contém segmentos que permitem ao leitor depreender a


opinião do autor acerca do tema tratado.
Comentário: A banca quis que o candidato notasse que este texto é
dissertativo-argumentativo (= opinativo). Note que a questão não foi
categórica em afirmar que há expressões de opinião do autor, pois esta se
encontra mascarada. Assim, é pedido que depreendamos com base em alguns
segmentos essa opinião mascarada do autor.
Podemos notar isso logo no primeiro parágrafo: “Um dos problemas
mais significativos da democracia representativa brasileira, preexistente à
Constituição de 1988, mas mantido por ela, é a distorção da representação
das unidades federadas na Câmara dos Deputados.”
Além disso, há as expressões “não podem ser desprezadas”, “Essa
situação é incompatível”.
Tudo isso nos mostra o posicionamento do autor a respeito do tema, ele
não apenas relata o problema, ele argumenta, opina.
Gabarito: C

Questão 54: Para o autor, o tema da representação dos estados na Câmara


dos Deputados está vinculado ao aprimoramento da democracia
representativa brasileira.
Comentário: Esta questão é uma continuidade da anterior, pois, ao notarmos
que há a opinião do autor, percebemos que ela expressa uma crítica ao
problema veiculado no primeiro parágrafo. Neste parágrafo, percebemos
dados literais que respondem à questão, principalmente nos dois últimos
períodos deste parágrafo. Veja:
“O atual sistema permite que o voto de um cidadão seja dezenas de
vezes mais significativo, nas eleições para a Câmara, do que o voto de outro.
Essa situação é incompatível com o aperfeiçoamento democrático de
nosso regime político.”

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Perceba que a questão mudou o substantivo “aperfeiçoamento” para um


sinônimo: aprimoramento. Por isso, a questão está correta.
Gabarito: C

FUB / 2010 / Médio (banca CESPE)


Há gente no Brasil interessada em importar dos Estados Unidos da
América (EUA) o Teach for America, o mais bem-sucedido programa feito para
atrair os melhores estudantes de ensino médio para a carreira de professor.
No Brasil, os professores têm saído da parte menos qualificada da pirâmide —
justamente aquela habitada por 20% dos alunos com o mais baixo rendimento
escolar do país. Qualquer iniciativa para mudar isso será mais do que bem-
vinda.
O Teach for America consegue atrair os mais talentosos alunos para a
docência oferecendo-lhes algo bem concreto. Depois de dois anos no papel de
professor de escola pública — tempo mínimo de estada no programa —, esses
jovens ingressam quase que automaticamente em algumas das maiores
empresas americanas, com as quais o Teach for America estabeleceu uma
produtiva parceria. Para as empresas, recrutar gente que passou por lá
significa encurtar o complicado processo de busca por bons profissionais. Pela
estreita peneira do programa só passam os realmente capazes. Para se ter
uma ideia, apenas os alunos de ótimo boletim têm direito à inscrição e, ainda
assim, 85% deles ficam de fora. É essa rigorosa seleção que atrai os próprios
estudantes. Sobreviver a ela é um sinal claro de excelência, algo que faz todo
mundo querer ostentar um carimbo do Teach for America no currículo.
No final, uma parcela deles acaba optando pela carreira de professor,
coisa que jamais haviam pensado antes. A maioria, no entanto, acaba
deixando o programa depois dos dois anos previstos, mas não sem antes
causar um impacto gigantesco no nível do ensino. Os estudantes certamente
irão beneficiar-se desse empurrão ao longo de toda a vida escolar. Mais do
que isso: muitos dos que já passaram pelo Teach for America continuam
envolvidos com educação, em diferentes graus e áreas de atuação. Por tudo
isso, não faria mal ao Brasil trilhar caminho parecido.
Mônica Weinberg. Tomara que dê certo. Internet: <veja.abril.com.br> (com adaptações).
Questão 55: Passar pelo Teach for America implica sucesso profissional
garantido.
Comentário: Veja a expressão categórica. Ela naturalmente faz com que a
afirmativa da questão esteja errada, pois o texto informa sobre as
possibilidades de sucesso. Veja isso no trecho “...esses jovens ingressam
quase que automaticamente em algumas das maiores empresas
americanas”.
Assim, não há certeza absoluta.
Gabarito: E

Questão 56: Embora a permanência do estudante no programa Teach for


America seja curta, seus efeitos contribuem para a melhoria da qualidade da
educação pública nos EUA.

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Comentário: Entende-se no texto que os dois anos é um período curto, em


vista do tempo normal de permanência em uma profissão. A melhora na
qualidade do ensino está explícita no seguinte trecho do texto:
“A maioria, no entanto, acaba deixando o programa depois dos dois anos
previstos, mas não sem antes causar um impacto gigantesco no nível
do ensino.”
Portanto, a questão está correta.
Gabarito: C

Questão 57: De acordo com o texto, por ser mal remunerada e desvalorizada
perante a sociedade, a carreira de professor não tem sido uma opção para os
jovens estudantes brasileiros.
Comentário: Podemos tirar nossas conclusões a partir do texto, percebendo
que os professores no Brasil são mal remunerados, por isso a maioria dos
jovens não quer essa profissão. Porém, o texto não aborda isso
explicitamente. Ademais, perceba como a banca nos limita para evitar que
façamos inferências equivocadas. A questão começou com a seguinte
expressão: “De acordo com o texto”. Isso nos força a centrar nos argumentos
explícitos ou implícitos (os vestígios) do texto. Em nenhum momento isso foi
afirmado. Apenas foi relatado que atrair bons estudantes para a carreira,
mesmo que temporária, de professor ajuda muito a educação pública.
Portanto, a questão está errada.
Gabarito: E

Questão 58: Ainda que o objetivo do Teach for America seja atrair os
melhores alunos para a docência, poucos optam definitivamente pela carreira
de professor.
Comentário: Perceba que esta interpretação é literal. Realmente a intenção
do programa é atrair os melhores alunos, como se observa no trecho:
“O Teach for America consegue atrair os mais talentosos alunos para a
docência oferecendo-lhes algo bem concreto”.
Poucos optam definitivamente pela carreira de professor, como se
observa no seguinte trecho:
“No final, uma parcela deles acaba optando pela carreira de
professor, coisa que jamais haviam pensado antes. A maioria, no entanto,
acaba deixando o programa depois dos dois anos previstos”.
Gabarito: C

Questão 59: Infere-se do texto que a pouca qualificação dos professores


influencia a qualidade da educação.
Comentário: Perceba que o texto inicia relatando o programa nos EUA que
atrai os melhores estudantes para a carreira de professor. Em seguida, é
informado que, no Brasil, os professores têm saído da parte menos qualificada
da pirâmide. Assim, a opinião do autor (a qual caracteriza este texto como
dissertativo-argumentativo) é que “Qualquer iniciativa para mudar isso será
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mais do que bem-vinda.”.


Com isso, podemos realmente inferir que a pouca qualificação dos
professores influencia a qualidade da educação. Assim, perceba o vestígio.
Isso não foi informado explicitamente no texto, mas só pudemos inferir isso a
partir do último período do primeiro parágrafo.
Gabarito: C

Questão 60: O estímulo oferecido aos estudantes pelo Teach for America é a
possibilidade de ser contratado por uma grande empresa americana.
Comentário: Esta questão exige a interpretação de dado literal no texto.
Basta localizar o seguinte trecho do texto: “esses jovens ingressam quase
que automaticamente em algumas das maiores empresas americanas”.
Perceba a diferença desta questão para a anterior em que se afirmava
categoricamente que o sucesso seria garantido (“Passar pelo Teach for
America implica sucesso profissional garantido”). Confronte as duas questões
para perceber que esta afirmou que há possibilidade (por isso está certa).
Gabarito: C

Questão 61: Há, no texto, elementos que permitem classificá-lo como


dissertativo-argumentativo.
Comentário: Já havíamos afirmado que o texto é dissertativo-argumentativo,
mas devemos observar que apontamos apenas uma opinião no texto e nesta
questão foi informado que haveria elementos que permitem classificá-lo como
dissertativo-argumentativo. Assim, os elementos são as expressões:
“Qualquer iniciativa para mudar isso será mais do que bem-vinda” e “Por tudo
isso, não faria mal ao Brasil trilhar caminho parecido”.
Gabarito: C

FUB / 2010 / Superior (banca CESPE)


Se você está lendo estas linhas, saiba que seu cérebro provavelmente
difere do de quem não foi alfabetizado. Estudos de neurociência já
demonstraram que aprender a ler, especialmente na infância, altera a
anatomia do cérebro e engrossa uma estrutura chamada corpo caloso,
responsável pela conexão entre os dois hemisférios cerebrais. Se aprender a
ler pode ter um impacto tão profundo, vários cientistas e pensadores estão se
perguntando qual será o efeito da Internet na nossa mente e na maneira
como pensamos.
Recentemente, uma série de estudos, livros e debates tem tentado
deslindar essa questão. A indicação inicial é a de que, sim, a rede está
alterando a forma como pensamos e, possivelmente, até a estrutura do
cérebro humano. Por ser um fenômeno novo — ainda não temos uma geração
que tenha sido completamente formada na era da Internet —, existem
poucos trabalhos que confirmam o impacto no nível das sinapses. Um dos
mais famosos nessa área foi realizado pelo neurocientista Gary Small, da
Universidade da Califórnia. Small comparou a mente de adultos com pouca
experiência em tecnologia com a de assíduos usuários da Internet. Todos

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realizaram testes na própria rede. A análise mostrou maior atividade na área


de tomada de decisões e raciocínio complexo no cérebro das pessoas
acostumadas à tecnologia. Apontou também que os inexperientes, após algum
tempo, começavam a se igualar aos conectados.
Descobertas como essa vêm motivando outros cientistas e pensadores a
discutirem o assunto amplamente. Deve chegar, em breve, ao Brasil, por
exemplo, o livro The Shallows (algo como O Raso), do editor americano
Nicholas Carr, que expõe um ponto de vista mais negativo sobre o efeito da
Web. A tese central de Carr resume-se na ideia de que a natureza caótica e
descentralizada da Internet está diminuindo a nossa capacidade de
concentração e contemplação profundas.
Mao Barros e Victor Guy. A Internet e a mente. In:
Época Negócios, abr./2010, p. 82 (com adaptações).
Questão 62: Conclui-se da leitura do texto que a diferença entre o cérebro
de uma pessoa alfabetizada e o de um analfabeto é geneticamente
determinada.
Comentário: A interpretação da afirmação da questão já nos mostra a
incoerência com o texto.
Como a diferença será geneticamente determinada do alfabetizado e do
analfabeto se isso só pode ocorrer depois de alguns anos de vida?
Partindo-se, logicamente, de que aquilo que é geneticamente
determinado ocorre desde o nascimento.
Gabarito: E

Questão 63: Infere-se da leitura do texto que, no futuro, o modo de pensar


das pessoas será diferente do atual.
Comentário: Perceba que a questão aborda de maneira geral, mais ampla.
Veja que no texto há um trecho que confirma a alteração no futuro no nosso
modo de pensar. Veja: “A indicação inicial é a de que, sim, a rede está
alterando a forma como pensamos e, possivelmente, até a estrutura do
cérebro humano.”
Gabarito: C

Questão 64: Deduz-se das informações do texto que pessoas que fazem uso
frequente da rede mundial de computadores estão aptas a ocupar cargos de
direção de empresas, dado o alto grau de desenvolvimento de sua capacidade
de tomar decisões.
Comentário: Perceba que no texto foi informado que houve uma pesquisa
em que se registrou que houve “maior atividade na área de tomada de
decisões e raciocínio complexo no cérebro das pessoas acostumadas à
tecnologia”. Daí a inferir que essas pessoas estão aptas a ocupar altos cargos
em empresas é um passo muito largo e sem consequência coerente no texto.
Gabarito: E

Questão 65: Pesquisas científicas comprovam que o uso constante da


Internet e o aprendizado da leitura afetam, de forma análoga, o cérebro.

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Comentário: As pesquisas elencadas no texto não comprovaram que o uso


constante da Internet e o aprendizado da leitura afetam, de forma análoga, o
cérebro. Foi apenas informado que “Estudos de neurociência já demonstraram
que aprender a ler, especialmente na infância, altera a anatomia do cérebro e
engrossa uma estrutura chamada corpo caloso...”.
Portanto, a questão está errada.
Gabarito: E

Questão 66: Depreende-se da leitura do texto que o cérebro de uma pessoa


alfabetizada na fase adulta não sofre alterações advindas desse aprendizado.
Comentário: A banca queria que o candidato percebesse a expressão
“especialmente na infância”. Com base nela, podemos entender que isso não
ocorre categoricamente só na infância. Há uma brecha que nos faz interpretar
que pode ocorrer também na fase adulta.
Gabarito: E

MPE PI - 2012 – Superior (banca CESPE)


Na era das redes sociais, algumas formas de comunicação arcaicas
ainda dão resultado. O canadense Harold Hackett que o diga. Morador da Ilha
Príncipe Eduardo, uma das dez províncias do Canadá, ele enviou mais de
4.800 mensagens em uma garrafa e recebeu 3.100 respostas de pessoas de
várias partes do mundo. De acordo com a BBC, o canadense envia as
mensagens desde 1996.
O seu método é simples. Harold utiliza garrafas de suco de laranja e se
certifica de que as mensagens estão com data. Antes de enviá-las, checa o
sentido dos ventos — que devem rumar de preferência para oeste ou
sudoeste. Algumas cartas demoraram 13 anos para voltar para ele.
As respostas vieram de regiões como África, Rússia, Holanda, Reino
Unido, França, Irlanda e Estados Unidos da América. Ele acabou fazendo
amigos com as mensagens, criando “vínculos” — recebeu até presentes e
cartões de Natal.
O canadense diz que continua adorando se comunicar dessa maneira e
afirma que o método chega a ser, muitas vezes, mais “eficaz” do que a
comunicação por Facebook e Twitter.
Intencionalmente, nunca coloca o número de telefone nas mensagens,
para recebê-las de volta da mesma maneira.
Amanda Camasmie. Canadense prova que comunicação em alto mar é eficaz.
In: Época Negócios. Internet: <http://colunas.epoca
negocios.globo.com> (com adaptações).
Questão 67: Depreende-se do texto que enviar mensagens por meio de
garrafas pode ser mais eficaz do que as enviar pelas redes sociais, porque
remete a tempos antigos, trazendo à tona sentimentos mais primitivos de
pertencimento.
Comentário: Veja que a afirmação da questão de que “enviar mensagens por
meio de garrafas pode ser mais eficaz do que as enviar pelas redes sociais”
não é o pensamento veiculado no texto, não é a opinião do autor. Perceba que

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o autor deixa claro que esta opinião é a do canadense referenciado no texto.


Veja:
“O canadense (...) afirma que o método chega a ser, muitas vezes, mais
“eficaz” do que a comunicação por Facebook e Twitter.”
Além disso, a questão afirmou que a causa de este método ser mais
eficaz do que Facebook e Twitter é “porque remete a tempos antigos,
trazendo à tona sentimentos mais primitivos de pertencimento”. Esta causa
não está subentendida no texto, pois não há vestígios (elementos linguísticos)
que nos induzam a este pensamento.
Gabarito: E

Questão 68: O texto apresenta características narrativas e dissertativas.


Comentário: Um texto nem sempre terá somente uma tipologia.
Normalmente, há uma mescla com fragmentos de narração, descrição ou
dissertação. Neste texto, fica claro que há passagens narrativas. Isso é
percebido, quando observamos ações realizadas por um personagem, num
determinado momento e lugar. Assim, dizemos que deve haver uma evolução
temporal. Veja as passagens narrativas:

“...ele enviou mais de 4.800 mensagens em uma garrafa e recebeu 3.100


respostas de pessoas de várias partes do mundo.”,
“Harold utiliza garrafas de suco de laranja e se certifica de que as mensagens
estão com data. Antes de enviá-las, checa o sentido dos ventos — que devem
rumar de preferência para oeste ou sudoeste. Algumas cartas demoraram 13
anos para voltar para ele.”
“As respostas vieram de regiões como África, Rússia, Holanda, Reino Unido,
França, Irlanda e Estados Unidos da América. Ele acabou fazendo amigos com
as mensagens, criando “vínculos” — recebeu até presentes e cartões de
Natal.”
Já as passagens dissertativas transmitem informações ou considerações
sobre algo, dando-lhe conceitos, relações de causa e consequência, contrastes
etc. Veja:
“Na era das redes sociais, algumas formas de comunicação arcaicas ainda dão
resultado.” (Esta frase serviu para ambientar o leitor sobre o assunto)
“De acordo com a BBC, o canadense envia as mensagens desde 1996.” (Esta
frase serviu para ambientar o leitor no tempo)
“O seu método é simples.” (Esta frase retrata o posicionamento do autor)

“Intencionalmente, nunca coloca o número de telefone nas mensagens, para


recebê-las de volta da mesma maneira.” (Esta é uma argumentação com
motivo e finalidade)
Gabarito: C

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Questão 69: As aspas foram empregadas no vocábulo “vínculos” (3°


parágrafo) para indicar que esse vocábulo foi utilizado no texto de forma
irônica.
Comentário: As aspas chamam a atenção porque essa prática de
comunicação normalmente não traria vínculos entre as pessoas. Mas o autor
afirma que sim. Portanto, a fim de realçar este sentido inesperado, foram
usadas as aspas.
Isso não pode ser confundido com ironia. Para haver ironia, o autor faz
uma afirmação literal para negá-la implicitamente.
Por exemplo, se alguém é muito agressivo e sem educação e o autor
quer manifestar essas características por meio da ironia, ele não vai ser
direto, ele a fará implicitamente, da seguinte forma:
“Ele continua cortês em suas atitudes comedidas!”
Assim, confirmamos que nesta parte do texto não houve ironia.
Gabarito: E

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A lentidão e os congestionamentos são parte da realidade dos centros
urbanos. Fazer o trânsito fluir, porém, é um quebra-cabeça complexo. No
Brasil, o desafio envolve muitas variáveis, desde o número crescente da frota
de veículos e a precariedade dos transportes públicos até o comportamento
dos motoristas ao volante. Enquanto os especialistas analisam o assunto na
tentativa de apontar soluções para o problema, o Psicólogos do Trânsito, um
grupo de jovens paulistanos, decidiu levar bom humor à rua, mostrando que
um simples gesto pode melhorar o caos do trânsito.
Com a encenação de curtos espetáculos lúdicos, o grupo transforma
uma das esquinas mais movimentadas de São Paulo em palco de diversão e
alegria. Sobretudo nas noites de segunda e sexta-feira, quando invade a pista
e consegue o milagre de fazer o motorista rir mesmo encontrando-se preso
em mais um dos gigantescos engarrafamentos da cidade.
Vestidos de palhaço, eles aproveitam o tempo dos carros parados no
semáforo para cumprir essa missão. Com cartazes educativos, ocupam a faixa
de pedestres, fazem performances e brincam com os motoristas. Muita gente
fecha o vidro do carro. No fim da apresentação de apenas um minuto, os
jovens erguem uma faixa com a frase “Um dia sem sorrir é um dia
desperdiçado”, de Charlie Chaplin. Em geral, nessa hora, o comportamento
dos estressados muda: abrem o vidro, buzinam, acenam e seguem pelo
trajeto descontraídos.
Fabíola Musarra. Psicólogos da rua. In: Planeta,
nov./2011, p. 70-73 (com adaptações).
Questão 70: O texto mostra que pequenas atitudes praticadas por cidadãos
comuns podem colaborar para a melhoria do trânsito — hoje considerado um
problema difícil de ser solucionado.
Comentário: Veja que a afirmativa da questão não está explicitamente
escrita no texto, mas vários são os vestígios que nos levam à correta
interpretação. A afirmação de que “pequenas atitudes¹ praticadas por
cidadãos comuns² podem colaborar para a melhoria do trânsito³” é
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confirmada em várias passagens do texto, especialmente nesta: “o Psicólogos


do Trânsito, um grupo de jovens paulistanos², decidiu levar bom humor à rua,
mostrando que um simples gesto¹ pode melhorar o caos do trânsito³.”
A questão continua, afirmando que “hoje (o trânsito é) considerado um
problema difícil de ser solucionado”. Isso é provado no seguinte trecho do
texto: “Fazer o trânsito fluir, porém, é um quebra-cabeça complexo. No Brasil,
o desafio envolve muitas variáveis, desde o número crescente da frota de
veículos e a precariedade dos transportes públicos até o comportamento dos
motoristas ao volante.”
Gabarito: C

Questão 71: Infere-se do texto que motoristas estressados no trânsito


conseguem se descontrair com as brincadeiras dos palhaços do grupo
Psicólogos do Trânsito. Assim, a missão do grupo é atingida: distribuir bom
humor.
Comentário: Apesar de a questão informar que há apenas inferência, por
meio do verbo “Infere-se”, conseguimos perceber que os dados são literais no
texto. A questão afirmou que “motoristas estressados no trânsito conseguem
se descontrair com as brincadeiras dos palhaços do grupo Psicólogos do
Trânsito”. Esse dado consta literalmente na última frase do texto: “Em geral,
nessa hora, o comportamento dos estressados muda: abrem o vidro,
buzinam, acenam e seguem pelo trajeto descontraídos.”
Em seguida, a questão afirma que “Assim, a missão do grupo é
atingida¹: distribuir bom humor²”. Isso é confirmado com os seguintes
fragmentos do texto: “consegue o milagre de fazer o motorista rir² mesmo
encontrando-se preso em mais um dos gigantescos engarrafamentos da
cidade.” e “Vestidos de palhaço, eles aproveitam o tempo dos carros parados
no semáforo para cumprir essa missão¹.”
Gabarito: C

MPE PI - 2012 – Superior (banca CESPE)


As grandes atividades arquetípicas da sociedade humana são, desde o
início, inteiramente marcadas pelo jogo. Como, por exemplo, no caso da
linguagem, esse primeiro e supremo instrumento que o homem forjou a fim
de poder comunicar, ensinar e comandar. É a linguagem que lhe permite
distinguir as coisas, defini-las e constatá-las, em resumo, designá-las e com
essa designação elevá-las ao domínio do espírito. Na criação da fala e da
linguagem, brincando com essa maravilhosa faculdade de designar, é como se
o espírito estivesse constantemente saltando entre a matéria e as coisas
pensadas. Por detrás de toda expressão abstrata se oculta uma metáfora, e
toda metáfora é jogo de palavras. Assim, ao dar expressão à vida, o homem
cria outro mundo, um mundo poético, ao lado do da natureza. O puro e
simples jogo constitui, nesse contexto, uma das principais bases da
civilização.
Johan Huizinga. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura.
São Paulo: Perspectiva, 2001, p. 7-8 (com adaptações).

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Questão 72: Infere-se do penúltimo período do texto que o homem expressa


o significado da vida por meio da poesia.
Comentário: Verifiquemos o penúltimo período do texto:
“Assim, ao dar expressão à vida, o homem cria outro mundo, um mundo
poético, ao lado do da natureza.”
O segmento “ao dar expressão à vida” significa expressar sobre a vida
por meio da linguagem.
O segmento “o homem cria outro mundo, um mundo poético, ao lado do
da natureza” significa que a linguagem expressa sentimentos, emoções,
experiências, como se isso fizesse parte de outro mundo: um mundo poético,
diferente do mundo real, que é o da nossa própria natureza.
Dessa forma, percebemos que o texto defendeu que pode haver o
mundo da linguagem (da poesia, da imaginação, do sentimento, da emoção) e
o mundo real.
Assim, entendemos que o penúltimo parágrafo apenas quis dizer que,
quando expressamos os sentimentos, emoções, por meio da linguagem,
criamos o mundo da fantasia, do imaginário; diferente do mundo da realidade.
Seguramente, isso não é o mesmo que dizer que “o homem expressa o
significado da vida por meio da poesia”, consoante afirmou a questão.
Veja que há, nesta frase, a afirmação de que a poesia veicula o
“significado da vida”, isto é, a essência da vida. Não foi isso que o texto
abordou, concorda?!!!
Gabarito: E

Questão 73: O autor argumenta que o jogo é uma das principais bases da
civilização, contrariando a ideia corrente de que a sociedade é embasada na
linguagem.
Comentário: A primeira parte da afirmativa está correta, pois o argumento
de que “o jogo¹ é uma das principais bases da civilização²” encontra
fundamentado na tese do texto: “As grandes atividades arquetípicas da
sociedade humana² são, desde o início, inteiramente marcadas pelo jogo¹.”
O erro na afirmação se deu com o uso do vocábulo “contrariando”, pois
a linguagem não contraria esse “jogo”, ela o confirma. Isso é corroborado pela
seguinte passagem do texto: “Como, por exemplo, no caso da linguagem,
esse primeiro e supremo instrumento que o homem forjou a fim de poder
comunicar, ensinar e comandar.”
Gabarito: E

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O que devo tomar nota como mais importante?


 Entender as diferenças dos tipos de texto.
 Saber que, mesmo os dados não estando explícitos, haverá vestígios no
texto que confirmem a correta interpretação.
 Cuidado com as palavras categóricas

Até nosso próximo encontro!


Grande abraço.
Terror

MPU 2015 Técnico (banca CESPE)


Segundo a doutrina nacional, os crimes cibernéticos (também chamados
de eletrônicos ou virtuais) dividem-se em puros (ou próprios) ou impuros (ou
impróprios). Os primeiros são os praticados por meio de computadores e se
realizam ou se consumam também em meio eletrônico. Os impuros ou
impróprios são aqueles em que o agente se vale do computador como meio
para produzir resultado que ameaça ou lesa outros bens, diferentes daqueles
da informática.
É importante destacar que o art. 154-A do Código Penal (Lei n.º
12.737/2012) trouxe para o ordenamento jurídico o crime novo de “invasão
de dispositivo informático”, que consiste na conduta de invadir dispositivo
informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante
violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar
ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do
titular do dispositivo, ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita.
Quanto à culpabilidade, a conduta criminosa do delito cibernético caracteriza-
se somente pelo dolo, não havendo a previsão legal da conduta na forma
culposa.
Questão 1: Depreende-se das informações do texto que, nos crimes
cibernéticos chamados impuros ou impróprios, o resultado extrapola o
universo virtual e atinge bens materiais alheios à informática.

Questão 2: Infere-se dos fatos apresentados no texto que a consideração de


crime para os delitos cibernéticos foi determinada há várias décadas, desde o
surgimento da Internet.

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Questão 3: Anatel 2014 Analista (banca CESPE)

A mensagem veiculada nesse texto centra-se no descompasso existente entre


a alta tecnologia empregada nos aparelhos celulares e a baixa qualidade dos
serviços oferecidos pelas operadoras de telefonia celular.

Anatel 2014 Analista (banca CESPE)

ANATEL. Internet: <http://www.anatel.gov.br>.


Em 2013, a ANATEL divulgou resultados comparativos de pesquisas de
satisfação realizadas em 2002 e em 2012 e cujo objetivo era avaliar o índice
de satisfação do consumidor brasileiro em relação aos serviços de telefonia,
de Internet e de TV por assinatura. No gráfico acima, são apresentados os
índices de satisfação do consumidor brasileiro em relação à TV por assinatura.
Esses índices, em porcentagem, variam de 0 (consumidor insatisfeito com o
serviço) a 100 (consumidor muito satisfeito com o serviço).
Com base nas informações do texto e do gráfico acima, julgue os itens
subsecutivos.
Questão 4: Os resultados comparativos entre os anos de 2002 e 2012
demonstram que o índice de satisfação do consumidor brasileiro em relação à
TV por assinatura via satélite (DTH) registrou aumento.

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Questão 5: Em 2012, o consumidor brasileiro mostrou-se menos satisfeito


com os serviços de TV a cabo e com a TV por assinatura via micro-ondas
(MMDS).

Questão 6: A maior queda observada no que se refere ao índice de satisfação


comparativo nos anos de 2002 e 2012 diz respeito à satisfação do consumidor
brasileiro com o serviço de TV a cabo.

MPU 2015 Analista (banca CESPE)


Na organização do poder político no Estado moderno, à luz da tradição
iluminista, o direito tem por função a preservação da liberdade humana, de
maneira a coibir a desordem do estado de natureza, que, em virtude do risco
da dominação dos mais fracos pelos mais fortes, exige a existência de um
poder institucional. Mas a conquista da liberdade humana também reclama a
distribuição do poder em ramos diversos, com a disposição de meios que
assegurem o controle recíproco entre eles para o advento de um cenário de
equilíbrio e harmonia nas sociedades estatais. A concentração do poder em
um só órgão ou pessoa viria sempre em detrimento do exercício da liberdade.
É que, como observou Montesquieu, “todo homem que tem poder tende a
abusar dele; ele vai até onde encontra limites. Para que não se possa abusar
do poder, é preciso que, pela disposição das coisas, o poder limite o poder”.
Até Montesquieu, não eram identificadas com clareza as esferas de
abrangência dos poderes políticos: “só se concebia sua união nas mãos de um
só ou, então, sua separação; ninguém se arriscava a apresentar, sob a forma
de sistema coerente, as consequências de conceitos diversos”. Pensador
francês do século XVIII, Montesquieu situa-se entre o racionalismo cartesiano
e o empirismo de origem baconiana, não abandonando o rigor das certezas
matemáticas em suas certezas morais. Porém, refugindo às especulações
metafísicas que, no plano da idealidade, serviram aos filósofos do pacto social
para a explicação dos fundamentos do Estado ou da sociedade civil, ele
procurou ingressar no terreno dos fatos.
Fernanda Leão de Almeida. A garantia institucional do Ministério Público em
função da proteção dos direitos humanos. Tese de doutorado. São Paulo: USP,
2010, p. 18-9. Internet: <www.teses.usp.br> (com adaptações).
Questão 7: Montesquieu busca a explicação dos fundamentos do Estado ou
da sociedade civil de forma análoga à dos metafísicos.

Questão 8: No Estado moderno, cabe ao Ministério Público a função da


preservação da liberdade humana, de forma a proteger os mais fracos da
dominação dos mais fortes.

Questão 9: A conquista da liberdade humana pressupõe a distribuição do


poder em ramos diversos.

Questão 10: Segundo Montesquieu, aquele que não encontra limites para o
exercício do poder que detém tende a agir de forma abusiva.

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MPU 2015 Analista (banca CESPE)


A persecução penal se desenvolve em duas fases: uma fase
administrativa, de inquérito policial, e uma fase jurisdicional, de ação penal.
Assim, nada mais é o inquérito policial que um procedimento administrativo
destinado a reunir elementos necessários à apuração da prática de uma
infração penal e de sua autoria. Em outras palavras, o inquérito policial é um
procedimento policial que tem por finalidade construir um lastro probatório
mínimo, ensejando justa causa para que o titular da ação penal possa formar
seu convencimento, a opinio delicti, e, assim, instaurar a ação penal cabível.
Nessa linha, percebe-se que o destinatário imediato do inquérito policial é o
Ministério Público, nos casos de ação penal pública, e o ofendido, nos casos de
ação penal privada.
De acordo com o conceito ora apresentado, para que o titular da ação
penal possa, enfim, ajuizá-la, é necessário que haja justa causa. A justa
causa, identificada por parte da doutrina como uma condição da ação
autônoma, consiste na obrigatoriedade de que existam prova acerca da
materialidade delitiva e, ao menos, indícios de autoria, de modo a existir
fundada suspeita acerca da prática de um fato de natureza penal. Dessa
forma, é imprescindível que haja provas acerca da possível existência de um
fato criminoso e indicações razoáveis do sujeito que tenha sido o autor desse
fato.
Evidencia-se, portanto, que é justamente na fase do inquérito policial
que serão coletadas as informações e as provas que irão formar o
convencimento do titular da ação penal, isto é, a opinio delicti. É com base
nos elementos apurados no inquérito que o promotor de justiça, convencido
da existência de justa causa para a ação penal, oferece a denúncia,
encerrando a fase administrativa da persecução penal.
Hálinna Regina de Lira Rolim. A possibilidade de investigação do
Ministério Público na fase pré-processual penal. Artigo científico. Rio
de Janeiro: Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, 2010, p. 4.
Internet : <www.emerj.tjrj.jus.br>. (com adaptações) .
Questão 11: A fase do inquérito policial em que são coletadas as informações
e as provas que irão formar o convencimento do titular da ação penal é
denominada opinio delecti.

Questão 12: A fase jurisdicional da persecução penal tem início após o


oferecimento da denúncia pelo promotor de justiça.

Questão 13: A existência de prova da materialidade delitiva é suficiente para


que se considere a existência de indícios de autoria.

Questão 14: Anatel 2014 Técnico (banca CESPE)


No começo dos tempos, as pessoas precisavam aproveitar o período em
que o Sol estava radiante para praticar suas atividades diárias. Com o passar
dos anos, essa diferenciação entre dia para agir e noite para dormir foi ficando

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menos evidente. Isso porque o advento da iluminação e, mais precisamente,


da iluminação pública, permitiu que as pessoas desfrutassem mais da noite e
deixou as cidades mais seguras e bonitas. Dos lampiões a querosene aos leds,
a evolução da iluminação contribuiu para a transformação das cidades e dos
hábitos das pessoas.
Desde a Idade Média, os seres humanos vinham tentando resolver o
problema da escuridão com velas e outros artefatos. Nesse período, eram
usadas tochas com fibras torcidas e impregnadas com material inflamável. Foi,
sobretudo, no século XV que a iluminação pública se tornou uma preocupação
nas cidades. A história indica que, em 1415, na Inglaterra, a iluminação surgiu
como uma solução para amenizar a violência e, principalmente, os roubos a
comerciantes, que aconteciam com frequência na região.
Não é à toa que especialistas consideram a iluminação como uma
grande aliada das cidades na luta contra a violência urbana, já que é uma
grande inibidora de atos de vandalismo, roubo e agressões.
Internet: <http://www.osetoreletrico.com.br> (com adaptações).
O texto estabelece uma relação paradoxal entre iluminação
pública e aumento de segurança urbana.

Anatel 2014 Técnico (banca CESPE)


As cidades foram criadas para a segurança de seus habitantes. Foram
elas que propiciaram, segundo autores clássicos e contemporâneos, o
desenvolvimento da cidadania, da racionalidade econômica, de um sistema de
leis válidas para todos e de novas formas de associação entre indivíduos, fora
dos laços de parentesco e de servidão. Desde o clássico de Weber (1958) até
as obras mais recentes de Godbout (1997) e Jacobs (1993), a liberdade é
apresentada como uma conquista urbana. Essas novas formas de liberdade
foram saudadas porque dissolviam laços de domínio dos poderes familiares e
feudais que impediam o aparecimento de um poder público voltado para o
povo (Habermas, 1994). Mas, simultaneamente, por atraírem pessoas vindas
de diferentes lugares, com diferentes culturas, religiões, compromissos
políticos e identificações, que apenas se esbarrariam nos novos espaços, as
cidades teriam, então, comprometido o estabelecimento de relações
duradouras entre seus habitantes.
Alba Zaluar. A abordagem ecológica e os paradoxos da cidade. Revista de
Antropologia, São Paulo: USP, 2010, v. 53, n.º 2, p. 613 (com adaptações).
Questão 15: Infere-se da leitura do texto que as cidades propiciaram, além
do fortalecimento dos laços de parentesco entre os indivíduos,
desenvolvimento da cidadania, da racionalidade econômica, de um sistema de
leis válidas para todos e de novas formas de associação pessoal.

Questão 16: De acordo com o texto, as cidades, por congregarem pessoas


de diferentes classes sociais, não contribuem para a manutenção de relações
duradouras entre os habitantes.

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Questão 17: Anatel 2014 Técnico (banca CESPE)


A palavra comunicação significa normalmente o ato de tornar comum a
muitos. A partir do século XVII (até o século XIX), ganhou projeção a
expressão meio ou linhas de comunicação, designando as facilidades trazidas
pelo desenvolvimento das ferrovias, canais e rodovias no deslocamento de
pessoas e objetos. Do século XIX ao século XX, o sentido da palavra se
aproximou cada vez mais daquilo que hoje pode ser chamado de mídia (meios
pelos quais se passa informação e se mantém o contato mediado, indireto).
Foi a partir desse momento que a indústria da comunicação (transporte de
bens simbólicos) separou-se semanticamente da indústria de transportes
(transporte de bens físicos e pessoas).
É importante ressaltar que o termo comunicação carrega, no mundo
moderno, as marcas de sua ambiguidade original (tornar comum a muitos,
partilhar, trocar). Nesse sentido, quando se fala em comunicação face a face
ou interativa, pode-se dizer que se trata de troca e partilha, mas quando se
fala de comunicação mediada, como rádio e TV, destaca-se consideravelmente
a sua função de tornar comum a muitos.
Pierre Bordieu. Questões de sociologia e comunicação.
FAPESP, ANABLUME, 2007, p. 42-3 (com adaptações).
Infere-se do texto que o termo “comunicação” adquire, no mundo moderno,
interpretações distintas.

Anatel 2014 Técnico (banca CESPE)


As traduções são muito mais complexas do que se imagina. Não me
refiro a locuções, expressões idiomáticas, gírias, flexões verbais, declinações e
coisas assim. Isso pode ser resolvido de uma maneira ou de outra, se bem
que, muitas vezes, à custa de intenso sofrimento por parte do tradutor.
Refiro-me à impossibilidade de encontrar equivalências entre palavras
aparentemente sinônimas, unívocas e univalentes. Por exemplo, um alemão
que saiba português responderá sem hesitação que a palavra da língua
portuguesa “amanhã” quer dizer “morgen”. Mas coitado do alemão que vá
para o Brasil acreditando que, quando um brasileiro diz “amanhã”, está
realmente querendo dizer “morgen”. Raramente está. “Amanhã” é uma
palavra riquíssima e tenho certeza de que, se o Grande Duden fosse brasileiro,
pelo menos um volume teria de ser dedicado a ela e a outras que partilham da
mesma condição.
“Amanhã” significa, entre outras coisas, “nunca”, “talvez”, “vou pensar”,
“vou desaparecer”, “procure outro”, “não quero”, “no próximo ano”, “assim
que eu precisar”, “um dia destes”, “vamos mudar de assunto” etc. e, em
casos excepcionalíssimos, “amanhã” mesmo. Qualquer estrangeiro que tenha
vivido no Brasil sabe que são necessários vários anos de treinamento para
distinguir qual o sentido pretendido pelo interlocutor brasileiro, quando ele
responde, com a habitual cordialidade, que fará tal ou qual coisa amanhã. O
caso dos alemães é, seguramente, o mais grave. Não disponho de estatísticas
confiáveis, mas tenho certeza de que nove em cada dez alemães que

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procuram ajuda médica no Brasil o fazem por causa de “amanhãs” casuais


que os levam, no mínimo, a um colapso nervoso, para grande espanto de seus
amigos brasileiros.
João Ubaldo Ribeiro. A vida é um eterno amanhã.
In: Um brasileiro em Berlim. 1993 (com adaptações).
Questão 18: Infere-se da leitura do texto que os brasileiros, na maioria das
vezes, usam a palavra “amanhã” em sentido metafórico, e os alemães, em
sentido literal.

Questão 19: Depreende-se da leitura do texto que, apesar de não se basear


em estatísticas, o autor constrói sua argumentação com dados advindos do
sistema de saúde brasileiro.

Questão 20: Antaq 2014 Técnico (banca CESPE)


Hidrovia é uma rota predeterminada para o tráfego aquático. Há muito
tempo, o homem utiliza a água como estrada, e a Amazônia é o maior
exemplo disso. O transporte por hidrovias apresenta grande capacidade de
movimentação de cargas a grandes distâncias com baixo consumo de
combustível, além de propiciar uma oferta de produtos a preços competitivos.
A ampliação do uso da hidrovia é uma tendência mundial por uma questão
ambiental.
A viabilização de uma navegação segura no rio Madeira, por exemplo,
permite o escoamento da produção de grãos de Rondônia e Mato Grosso para
o Amazonas e daí para o Atlântico. Isso cria um corredor de desenvolvimento
integrado, com transporte de alta capacidade e baixo custo para grandes
distâncias, elimina um grave problema estrutural do setor primário, com a
redução significativa da dependência do modal rodoviário até os portos do
Sudeste, e representa mais uma opção de integração nacional, com a redução
de trânsito pesado nas rodovias da região Centro-Sul.
Idem (com adaptações).
Infere-se das informações do texto que o transporte por hidrovia ajuda a
preservar o meio ambiente, dado o baixo consumo de combustível, e reduz a
dependência do transporte rodoviário.

Questão 21: Antaq 2014 Técnico (banca CESPE)


As obras de dragagem objetivam remover os sedimentos que se
encontram no fundo do corpo d'água para permitir a passagem das
embarcações, garantindo o acesso ao porto. Na maioria das vezes, a
dragagem é necessária quando da implantação do porto, para o aumento da
profundidade natural no canal de navegação, no cais de atracação e na bacia
de evolução. Também é necessária sua realização periódica para o alcance das
profundidades que atendam o calado das embarcações.
Internet: <www.antaq.gov.br> (com adaptações).
Depreende-se das informações do texto que a dragagem realizada na
implantação do porto para garantir o acesso das embarcações é definitiva, não
havendo necessidade de ser refeita.

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Questão 22: Médico Perito INSS / 2009 / nível superior (banca CESPE)
A Revolta da Vacina
O Rio de Janeiro, na passagem do século XIX para o século XX, era ainda uma
cidade de ruas estreitas e sujas, saneamento precário e foco de doenças como febre
amarela, varíola, tuberculose e peste. Os navios estrangeiros faziam questão de
anunciar que não parariam no porto carioca e os imigrantes recém-chegados da
Europa morriam às dezenas de doenças infecciosas.
Ao assumir a presidência da República, Francisco de Paula Rodrigues Alves
instituiu como meta governamental o saneamento e reurbanização da capital da
República. Para assumir a frente das reformas, nomeou Francisco Pereira Passos para
o governo municipal. Este, por sua vez, chamou os engenheiros Francisco Bicalho
para a reforma do porto e Paulo de Frontin para as reformas no centro. Rodrigues
Alves nomeou ainda o médico Oswaldo Cruz para o saneamento.
O Rio de Janeiro passou a sofrer profundas mudanças, com a derrubada de
casarões e cortiços e o consequente despejo de seus moradores. A população
apelidou o movimento de o “bota-abaixo”. O objetivo era a abertura de grandes
bulevares, largas e modernas avenidas com prédios de cinco ou seis andares.
Ao mesmo tempo, iniciava-se o programa de saneamento de Oswaldo Cruz.
Para combater a peste, ele criou brigadas sanitárias que cruzavam a cidade
espalhando raticidas, mandando remover o lixo e comprando ratos. Em seguida o
alvo foram os mosquitos transmissores da febre amarela.
Finalmente, restava o combate à varíola. Autoritariamente, foi instituída a lei
de vacinação obrigatória. A população, humilhada pelo poder público autoritário e
violento, não acreditava na eficácia da vacina. Os pais de família rejeitavam a
exposição das partes do corpo a agentes sanitários do governo.
A vacinação obrigatória foi o estopim para que o povo, já profundamente
insatisfeito com o “bota-abaixo” e insuflado pela imprensa, se revoltasse. Durante
uma semana, enfrentou as forças da polícia e do exército até ser reprimido com
violência. O episódio transformou, no período de 10 a 16 de novembro de 1904, a
recém-reconstruída cidade do Rio de Janeiro em uma praça de guerra, onde foram
erguidas barricadas e ocorreram confrontos generalizados.
Internet: <www.ccs.saude.gov.br> (com adaptações).
O texto faz um histórico da Revolta da Vacina, ocorrida no Rio de Janeiro,
mostrando explicitamente o ponto de vista do autor acerca do tema.

Questão 23: Médico Perito INSS / 2009 / nível superior (banca CESPE)
O texto apresenta marcadores que evidenciam a progressão da narrativa, tais
como “Ao mesmo tempo” e “Finalmente”.

Questão 24: MPU 2015 Técnico (banca CESPE)


A partir de uma ação do Ministério Público Federal (MPF), o Tribunal
Regional Federal da 2ª Região (TRF2) determinou que a Google Brasil
retirasse, em até 72 horas, 15 vídeos do YouTube que disseminam o
preconceito, a intolerância e a discriminação a religiões de matriz africana, e
fixou multa diária de R$ 50.000,00 em caso de descumprimento da ordem
judicial. Na ação civil pública, a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão
(PRDC/RJ) alegou que a Constituição garante aos cidadãos não apenas a

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obrigação do Estado em respeitar as liberdades, mas também a obrigação de


zelar para que elas sejam respeitadas pelas pessoas em suas relações
recíprocas.
Predomina no texto em apreço o tipo textual narrativo.

Questão 25: Antaq 2014 Técnico (banca CESPE)


Um dos principais desafios para o Brasil é conhecer a Amazônia. Sua
vocação eminentemente hídrica impõe, ao longo dos séculos, a necessidade
do deslocamento de seus habitantes através dos rios. Muito antes da chegada
dos colonizadores na Amazônia, os nativos já utilizavam canoas. Ainda hoje,
grande parte da população amazônica vive da pesca. Além disso, o
deslocamento do ribeirinho se faz através da infinidade de rios que retalham a
grandeza territorial.
Mas para conhecer a Amazônia de verdade é preciso entender sua
posição estratégica para o país. Os rios são a chave para esse conhecimento.
São as estradas que a natureza construiu e em cujas margens se
desenvolveram inúmeras povoações. Portanto, é impossível pensar em
Amazônia sem associar a importância que os rios têm para o desenvolvimento
econômico e social. Eles devem ser vistos como os grandes propulsores do
desenvolvimento sustentável da região.
Domingos Savio Almeida Nogueira. In: Internet:
<www.portosenavios.com.br/artigos> (com adaptações).
Predomina no texto a narração, já que nele se identificam um cenário e uma
ação.

Questão 26: Antaq 2014 Técnico (banca CESPE)


Alexandria, no Egito, reinou quase absoluta como centro da cultura
mundial no período do século III a.C. ao século IV d.C. Sua famosa Biblioteca
continha praticamente todo o saber da Antiguidade em cerca de 700.000 rolos
de papiro e pergaminho e era frequentada pelos mais conspícuos
sábios, poetas e matemáticos.
A Biblioteca de Alexandria estava muito próxima do que se entende hoje
por Universidade. E faz-se apropriado o depoimento do insigne Carl B. Boyer,
em A História da Matemática: “A Universidade de Alexandria evidentemente
não diferia muito de instituições modernas de cultura superior. Parte dos
professores provavelmente se notabilizou na pesquisa, outros eram melhores
como administradores e outros ainda eram conhecidos pela sua capacidade de
ensinar.”
Em 47 a.C., envolvendo-se na disputa entre a voluptuosa Cleópatra e
seu irmão, o imperador Júlio César mandou incendiar a esquadra egípcia
ancorada no porto de Alexandria. O fogo se propagou até as dependências da
Biblioteca, queimando cerca de 500.000 rolos.
Em 640 d.C., o califa Omar ordenou que fossem queimados todos os
livros da Biblioteca, utilizando o seguinte o argumento: “ou os livros contêm o
que está no Alcorão e são desnecessários ou contêm o oposto e não devemos
lê-los.”
A destruição da Biblioteca de Alexandria talvez tenha representado o
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maior crime contra o saber em toda a história da humanidade.


Se vivemos hoje a era do conhecimento é porque nos alçamos em
ombros de gigantes do passado. A Internet representa um poderoso agente
de transformação do nosso modus vivendi et operandi.
É um marco histórico, um dos maiores fenômenos de comunicação e
uma das mais democráticas formas de acesso ao saber e à pesquisa. Mas,
como toda inovação, a Internet tem potencial cuja dimensão não deve ser
superdimensionada. Seu conteúdo é fragmentado, desordenado e, além disso,
cerca de metade de seus bites é descartável.
Jacir J. Venturi. Internet: <www.geometriaanalitica.com.br> (com adaptações).
Nesse texto, que pode ser classificado como artigo de opinião, identificam-se
trechos narrativos e dissertativos.

SEEDF 2017 Monitor (banca CESPE)


O monitor — também chamado, em algumas instituições, de inspetor e
bedel — é um dos profissionais mais atuantes na esfera educacional. Ele
transita por toda a escola, em geral conhece os alunos pelo nome e é um dos
primeiros a ser procurado quando há algum problema que precisa ser
solucionado rapidamente. Contudo, ele nem sempre é valorizado como
deveria. Infelizmente, muitos diretores entendem que quem atua nessa
função deve apenas controlar os espaços coletivos para impedir a ocorrência
de agressões, depredações e furtos, vigiar grupos de alunos, observar
comportamentos suspeitos e até mesmo revistar armários e mochilas.
Esse tipo de controle, além de perigoso — pois os conflitos abafados por
ações repressoras acabam se manifestando com mais violência —, contribui
para reforçar a desconfiança entre a instituição e os estudantes. E uma
relação fundada na insegurança fragiliza a construção de valores
democráticos, que deveria ser um dos objetivos de todas as escolas.
Como qualquer profissional do ambiente escolar, os monitores também
são educadores, e cabe à equipe gestora realizar ações formativas para que
eles saibam como interagir com as crianças e os jovens nos diversos espaços
(como o pátio, os corredores, as quadras, a cantina, o banheiro etc.). Com
uma boa formação, eles serão capazes de trazer informações importantes
sobre a convivência entre os alunos e que poderão ser objeto de análise para
que o orientador educacional, juntamente com o diretor e a equipe docente,
planeje e execute intervenções.
O papel do monitor na formação dos alunos.
Internet: <http://gestaoescolar.org.br> (com adaptações).
Questão 27: A forma verbal “transita” (linha 3) foi empregada para
transmitir a ideia de que o monitor muda constantemente de função na
escola.

Questão 28: Infere-se que, para o autor do texto, muitos diretores de


escolas possuem uma visão restrita sobre a função do monitor.

Questão 29: O vocábulo “suspeitos” (linha 9) foi empregado, no texto, como


substantivo, no sentido de aqueles sobre os quais recaem suspeitas.

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Questão 30: De acordo com o terceiro parágrafo do texto, os monitores têm


formação profissional na área de educação.

SEEDF 2017 Monitor (banca CESPE)


Rubião tinha vexame, por causa de Sofia; não sabia haver-se com
senhoras. Felizmente, lembrou-se da promessa que a si mesmo fizera de ser
forte e implacável. Foi jantar. Abençoada resolução! Onde acharia iguais
horas? Sofia era, em casa, muito melhor que no trem de ferro. Lá vestia a
capa, embora tivesse os olhos descobertos; cá trazia à vista os olhos e o
corpo, elegantemente apertado em um vestido de cambraia, mostrando as
mãos, que eram bonitas, e um princípio de braço. Demais, aqui era a dona da
casa, falava mais, desfazia-se em obséquios; Rubião desceu meio tonto.
Machado de Assis. Quincas Borba. Internet: <www.dominiopublico.gov.br> (com
adaptações).
Questão 31: As informações do fragmento de texto em questão são
insuficientes para se inferir de onde ou para onde Rubião teria descido —
“Rubião desceu meio tonto” (linha 8).

Questão 32: O trecho “Sofia (...) em obséquios” (linhas 4 a 8) é


predominantemente narrativo, o que se comprova pelas formas verbais
flexionadas no pretérito imperfeito, empregadas pelo narrador para apresentar
ações rotineiras de Sofia.

SEEDF 2017 Monitor (banca CESPE)


É preciso considerar a relação entre universidade e cultura. Quais são as
condições de preservação, de apropriação da cultura, e de reflexão crítica
sobre ela? Mesmo um diagnóstico superficial da época em que vivemos é
suficiente para mostrar a precariedade dessas condições. O ritmo do tempo
histórico é marcado pelo círculo produção e consumo, até mesmo daquilo que
entraria na categoria dos “bens culturais”. Os fatores de desagregação cultural
incluem o imediatismo e o caráter efêmero e disperso dos interesses que os
indivíduos são encorajados a cultivar, a fragmentação e a distorção da
informação, a mercantilização extremada dos meios de comunicação.
Os acessos ao mundo da cultura são cada vez mais intensamente
submetidos a mecanismos industriais, sem que se assuma qualquer medida
no sentido de garantir acesso efetivamente democrático. A universidade
pública é uma instância em que se pode resistir, de alguma maneira e por
algum tempo, a esse processo, sendo a instituição em que a cultura pode ser
considerada sem as regras do mercado e sem os critérios de utilidade e
oportunidade socialmente introjetados a partir da mídia.
Para que a disseminação pública da cultura fuja a determinações
pragmáticas e economicistas, é necessário um espaço público de preservação,
de apropriação e de reflexão.
As atividades que aí se desenvolvam não se podem subordinar a
critérios da expectativa de retorno de investimento. Por isso, a universidade,

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como instituição pública, pode assumir a função de garantir o efetivo caráter


público de que, em princípio, se revestem os bens de cultura historicamente
legados ao presente.
Faz parte da autonomia da universidade pública essa relação intrínseca
com a cultura, que permite que o acesso não seja filtrado por mecanismos de
outras instâncias da vida social. É essa publicidade desinteressada da cultura
— que só na instituição pública pode-se articular em algum grau — que
garante o conhecimento, a apropriação intelectual, a reflexão, a crítica e o
debate.
Franklin Leopoldo e Silva. Universidade pública e cultura. In: Estudos
Avançados, v. 15, n.º 42, São Paulo (com adaptações).
Questão 33: De acordo com as ideias do texto, o acesso ao mundo da cultura
realiza-se majoritariamente mediante a ação do Estado.

Questão 34: De acordo com as ideias do texto, a produção de cultura no


ambiente universitário garante rentabilidade em relação aos investimentos
feitos.

Questão 35: De acordo com as ideias do texto, a relação entre mercado e


cultura é benéfica para a sociedade.

Prefeitura São Luís - MA 2017 Professor (banca CESPE)


Vez por outra, Damião deixava-se ficar, madrugada adentro, na Casa-
Grande das Minas, vendo as danças, ouvindo as cantigas, atraído pelo bater
dos tambores. A sensação íntima de derrota pessoal, que sentia aprofundar-se
na sua consciência, levava-o a isolar-se num canto do terreiro, metido
consigo. Com a morte recente do Dr. Sotero dos Reis, tinha tido a esperança
de que viriam chamá-lo para ocupar-lhe o lugar no Liceu. Esperara em vão: já
outro professor fora nomeado. Agora, nem sequer com o apoio do velho
mestre, que ainda lhe tinha um pouco de amizade, podia mais contar. Por
outro lado, continuava a ver os negros maltratados, sem que nada pudesse
fazer em seu favor. Não fazia duas semanas tinha ouvido na rua um tilintar de
correntes, à altura do Largo do Quartel, e vira uma fila de pretos, uns
amarrados aos outros, submissos, descendo a Rua do Sol. Nas conversas do
Largo do Carmo, perto da coluna do Pelourinho, contavam-se novos casos de
mortes violentas de escravos, ali mesmo em São Luís. A Lei do Ventre Livre,
que a imprensa da Corte havia recebido com muita festa, não merecera o
mais breve registro da imprensa de São Luís. No fundo, pensando bem, que
era essa lei senão uma burla? Os negros nasceriam e cresceriam nas senzalas,
debaixo do chicote dos senhores, e só aos vinte e um anos seriam livres. Ao
fim de tanto tempo de sujeição, que iriam fazer cá fora, sem saber em que se
ocupar? E Damião sentia renascer no seu espírito o impulso da revolta,
querendo denunciar a burla e protestar contra o novo engodo à liberdade dos
negros. Mas vinha-lhe o desânimo. De que adiantava o seu protesto, se não
dispunha de um jornal, se não tinha uma tribuna? Ao mesmo tempo arriava os
ombros, curvando a espinha, esmagado pela convicção de sua inutilidade e de
sua derrota. Se protestasse, como ia fazer depois para educar os filhos e

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sustentar a família? Além do mais, embora desempregado havia muito tempo,


não perdera a esperança de colocar-se a qualquer momento, quer de novo no
Liceu, quer no Seminário de Santo Antônio.
Josué Montello. Os tambores de São Luís. 5.ª ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1985, p. 374-5 (com adaptações).
Questão 36: Depreende-se do texto CB1A1AAA que a “sensação íntima de
derrota pessoal” (linha 3) que levava Damião a “isolar-se num canto do
terreiro, metido consigo” (linha 4) se devia ao fato de
(A) a Lei do Ventre Livre ter sido promulgada.
(B) o Dr. Sotero dos Reis, seu mestre e amigo, ter morrido.
(C) ele não ser dono de jornal ou político.
(D) ele ter perdido a esperança de ser professor do Liceu ou do Seminário de
Santo Antônio.
(E) ele estar desempregado e não ter meios para lutar contra a escravidão.

Questão 37: Infere-se do texto que, para Damião, a aprovação da Lei do


Ventre Livre representou uma
(A) possibilidade de os negros ascenderem socialmente por meio do trabalho
remunerado.
(B) chance de ele voltar a ministrar aulas no Liceu ou no Seminário de Santo
Antônio.
(C) vitória da Corte e da imprensa de São Luís na luta pela libertação dos
negros.
(D) falsa promessa de liberdade vindoura para os negros que nascessem a
partir de então.
(E) oportunidade de os negros finalmente se libertarem da escravidão.

Questão 38: De acordo com o texto, Damião era um homem que


(A) havia se convencido do êxito das suas lutas contra a violação dos direitos
dos negros.
(B) sofria preconceito racial e, por essa razão, se revoltava contra as
injustiças decorrentes do regime escravocrata.
(C) se sentia impotente diante dos atos de violência e de injustiça praticados
contra os negros.
(D) desejava integrar um movimento político de luta pela abolição da
escravatura.
(E) negligenciava os assuntos relativos à escravidão.

Questão 39: No texto, refere-se ao “Dr. Sotero dos Reis” (linha 5) a forma
pronominal empregada em
(A) “lhe tinha um pouco de amizade” (linha 8).
(B) “outro professor” (linha 7).
(C) “em seu favor” (linha 10).
(D) “viriam chamá-lo” (linha 6).
(E) “para ocupar-lhe” (linha 6).

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Questão 40: No texto, a oração “Mas vinha-lhe o desânimo” (linha 22)


expressa uma ideia de
(A) consequência.
(B) finalidade.
(C) conclusão.
(D) adversidade.
(E) condição.

Questão 41: No texto, a palavra “burla” (linha 17) foi empregada no sentido
de
(A) honra ou glória.
(B) transgressão ou ofensa.
(C) ilusão ou fraude.
(D) compaixão ou piedade.
(E) afronta ou agressão.

Questão 42: TRE - ES/ 2011 / Superior (banca CESPE)


No Brasil, a tradição política no tocante à representação gira em torno
de três ideias fundamentais. A primeira é a do mandato livre e independente,
isto é, os representantes, ao serem eleitos, não têm nenhuma obrigação,
necessariamente, para com as reivindicações e os interesses de seus eleitores.
O representante deve exercer seu papel com base no exercício autônomo de
sua atividade, na medida em que é ele quem tem a capacidade de
discernimento para deliberar sobre os verdadeiros interesses dos seus
constituintes. A segunda ideia é a de que os representantes devem exprimir
interesses gerais, e não interesses locais ou regionais. Os interesses nacionais
seriam os únicos e legítimos a serem representados. A terceira ideia refere-se
ao princípio de que o sistema democrático representativo deve basear-se no
governo da maioria. Praticamente todas as leis eleitorais que vigoraram no
Brasil buscaram a formação de maiorias compactas que pudessem governar.
Gilberto Bercovici. A origem do sistema eleitoral proporcional
no Brasil. In: Estudos Eleitorais, TSE, vol. 5, n.º 2, 2010, p. 53.
Internet: <www.tse.gov.br> (com adaptações ) .
Nesse fragmento de texto, o tópico frasal corresponde ao primeiro período.

TRE - ES/ 2011 / Superior (banca CESPE)


Convocada por D. Pedro em junho de 1822, a constituinte só seria
instalada um ano mais tarde, no dia 3 de maio de 1823, mas acabaria
dissolvida seis meses depois, em 12 de novembro.
Os membros da constituinte eram escolhidos por meio dos mesmos
critérios estabelecidos para a eleição dos deputados às cortes de Lisboa. Os
eleitores eram apenas os homens livres, com mais de vinte anos e que
residissem por, pelo menos, um ano na localidade em que viviam, e
proprietários de terra. Cabia a eles escolher um colégio eleitoral, que, por sua
vez, indicava os deputados de cada região. Estes tinham de saber ler e

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escrever, possuir bens e virtudes. Em uma época em que a taxa de


analfabetismo alcançava 99% da população, só um entre cem brasileiros era
elegível. Os nascidos em Portugal tinham de estar residindo por, pelo menos,
doze anos no Brasil. Do total de cem deputados eleitos, só 89 tomaram posse.
Era a elite intelectual e política do Brasil, composta de magistrados, membros
do clero, fazendeiros, senhores de engenho, altos funcionários, militares e
professores. Desse grupo, sairiam mais tarde 33 senadores, 28 ministros de
Estado, dezoito presidentes de província, sete membros do primeiro conselho
de Estado e quatro regentes do Império.
O local das reuniões era a antiga cadeia pública, que, em 1808, havia
sido remodelada pelo vice-rei conde dos Arcos para abrigar parte da corte
portuguesa de D. João. No dia da abertura dos trabalhos, D. Pedro chegou ao
prédio em uma carruagem puxada por oito mulas. Discursou de cabeça
descoberta, o que, por si só, sinalizava alguma concessão ao novo poder
constituído nas urnas. A coroa e o cetro, símbolos do seu poder, também
foram deixados sobre uma mesa.

Laurentino Gomes. 1822. Rio de Janeiro: Nova


Fronteira, 2010, p. 213-16 (com adaptações).
Questão 43: No primeiro parágrafo do texto, o autor resume a história da
assembleia constituinte de 1822.

Questão 44: Se os primeiros dois parágrafos fossem reunidos em um só, o


primeiro parágrafo original corresponderia a uma sentença tópico, e o
segundo parágrafo original, ao desenvolvimento desse novo parágrafo.

Questão 45: De acordo com o texto, portugueses recém-chegados ao Brasil


que possuíssem riquezas e virtudes poderiam, mediante concessão especial,
tornar-se membros da constituinte.

SESA - ES / 2011 / Superior (banca CESPE)


No Brasil, a coleta de materiais recicláveis, tais como latinhas, garrafas
pet, papelão, papel, isopor, nem sempre é vista com o respeito devido. Claro
que existem exceções, mas muita gente reclama das carroças que atrapalham
o trânsito, e, mesmo quando param para descansar ou recolher material, os
catadores são vistos com desconfiança ou desdém. O mais complicado é fazer
determinadas pessoas enxergarem nessa atividade um trabalho árduo e
extremamente útil. São homens e mulheres anônimos que contribuem para o
milagre da transformação do lixo, que entope bueiros, suja as ruas e vai parar
nos rios, em matéria útil que volta para a cadeia produtiva em forma de
insumo para novos produtos.
Mesmo com a atividade desses trabalhadores, que travam uma luta
diária pela sobrevivência, repousa, no fundo de muitos rios brasileiros, a
exemplo dos rios Tietê e Pinheiros, em São Paulo, uma colossal quantidade de
lixo composta de todo o tipo de materiais, inclusive sofás e geladeiras, e
sujeiras de toda a espécie despejados pelas pessoas. Os especialistas

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consideram que uma das principais razões da ocorrência de enchentes é


exatamente a ausência de vazão dos nossos principais rios, em cujos leitos há
enorme quantidade de sedimentos.
Reinaldo Canto Fim de ponto de coleta é
retrocesso injustificável. Internet:
<www.cartacapital.com.br> (com adaptações).
Questão 46: Depreende-se do texto que, no Brasil, parte do problema das
enchentes deve-se ao descarte indevido do lixo, o que demonstra a
necessidade do trabalho desenvolvido pelos catadores de lixo, atividade ainda
menosprezada por muitas pessoas.

Questão 47: Esse texto caracteriza-se como predominantemente


dissertativo-argumentativo.

SESA - ES / 2011 / Superior (banca CESPE)


A pesquisa biomédica passou do amadorismo e voluntarismo à seriedade
e ao profissionalismo necessários à projeção do Brasil no cenário mundial.
Nenhum país que pretenda ser potência mundial pode deixar de criar e
ampliar seu parque científico. As pesquisas, em geral, e a biomédica, em
particular, vêm-se beneficiando da estabilidade econômica alcançada nos
últimos quinze anos, além da criação dos fundos setoriais de ciência e
tecnologia e da consolidação do financiamento estadual pelas fundações de
apoio à pesquisa. Mas ainda falta muito a ser feito. Apesar da melhora, o
Brasil ainda tem um longo caminho a seguir para ser competitivo. Nos últimos
oito anos, o volume de recursos do Ministério da Saúde, que vem aumentando
progressivamente, aproximou-se dos 200 milhões de reais ao ano,
incentivando setores da pesquisa específicos e complementares aos que
recebem o apoio tradicional das agências de fomento.
Riad Younes. Pesquisa em saúde. Internet:
<www.cartacapital.com.br> (com adaptações).
Questão 48: Infere-se do texto que, no Brasil, a pesquisa biomédica,
importante fator de desenvolvimento científico do país, embora receba cada
vez mais recursos do poder público, ainda não atingiu o patamar ideal de
competitividade em relação aos países desenvolvidos.

Questão 49: Da afirmação contida no primeiro período do texto infere-se que


a criação e a implantação de instrumentos legais obrigaram o Estado a
exercer o seu papel regulador, o que tornou a pesquisa biomédica séria e
profissional.

TRE - ES/ 2011 / Superior (banca CESPE)


Um dos problemas mais significativos da democracia representativa
brasileira, preexistente à Constituição de 1988, mas mantido por ela, é a
distorção da representação das unidades federadas na Câmara dos
Deputados. Trata-se de assunto cuja importância e mesmo centralidade não
podem ser desprezadas: princípio basilar da democracia representativa é o
voto de cada pessoa ter o mesmo peso eletivo. O atual sistema permite que o

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voto de um cidadão seja dezenas de vezes mais significativo, nas eleições


para a Câmara, do que o voto de outro. Essa situação é incompatível com o
aperfeiçoamento democrático de nosso regime político.
A Constituição brasileira (art. 45, caput) determina que a representação
dos estados na Câmara dos Deputados seja proporcional à população.
Entretanto, a seguir, estabelece piso e teto dessa representação (oito e
setenta deputados, respectivamente), que implicam a negação dessa
proporcionalidade.
Octaciano Nogueira, em trabalho a respeito do tema, parte da premissa
de que essa distorção “não é obra do regime militar, que, na verdade, se
utilizou desse expediente, como de inúmeros outros, para reforçar a Arena,
durante o bipartidarismo; sua origem remonta à Constituinte de 1890,
quando, por sinal, o problema foi exaustivamente debatido; a partir daí,
incorporou-se à tradição de nosso direito constitucional legislado, em todas as
subsequentes constituições; e o princípio, portanto, estabelecido durante as
fases democráticas sob as quais viveu o País e mantido sempre que se
restaurou o livre debate, subsequente aos regimes de exceção, foi
invariavelmente preservado, como ocorreu em 1946 e 1988.”
Arlindo F. de Oliveira. Sobre a representação dos estados na Câmara dos
Deputados. In: Textos para Discussão, n.º 5, abr./2004 (com adaptações).
Questão 50: A distorção referida no primeiro período do texto reside na
possibilidade de um candidato ser eleito deputado estadual com votação
inexpressiva no lugar de outro que obtenha maior número de votos.

Questão 51: Deduz-se da citação inserida no terceiro parágrafo que a


distorção mencionada no texto não faz parte do entulho autoritário gerado
pelo regime militar implantado no Brasil.

Questão 52: Depreende-se da leitura que houve oportunidades para se


corrigir a distorção mencionada no texto, mas isso não foi feito.

Questão 53: O texto contém segmentos que permitem ao leitor depreender a


opinião do autor acerca do tema tratado.

Questão 54: Para o autor, o tema da representação dos estados na Câmara


dos Deputados está vinculado ao aprimoramento da democracia
representativa brasileira.

FUB / 2010 / Médio (banca CESPE)


Há gente no Brasil interessada em importar dos Estados Unidos da
América (EUA) o Teach for America, o mais bem-sucedido programa feito para
atrair os melhores estudantes de ensino médio para a carreira de professor.
No Brasil, os professores têm saído da parte menos qualificada da pirâmide —
justamente aquela habitada por 20% dos alunos com o mais baixo rendimento
escolar do país. Qualquer iniciativa para mudar isso será mais do que bem-
vinda.

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Teoria e questões comentadas
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O Teach for America consegue atrair os mais talentosos alunos para a


docência oferecendo-lhes algo bem concreto. Depois de dois anos no papel de
professor de escola pública — tempo mínimo de estada no programa —, esses
jovens ingressam quase que automaticamente em algumas das maiores
empresas americanas, com as quais o Teach for America estabeleceu uma
produtiva parceria. Para as empresas, recrutar gente que passou por lá
significa encurtar o complicado processo de busca por bons profissionais. Pela
estreita peneira do programa só passam os realmente capazes. Para se ter
uma ideia, apenas os alunos de ótimo boletim têm direito à inscrição e, ainda
assim, 85% deles ficam de fora. É essa rigorosa seleção que atrai os próprios
estudantes. Sobreviver a ela é um sinal claro de excelência, algo que faz todo
mundo querer ostentar um carimbo do Teach for America no currículo.
No final, uma parcela deles acaba optando pela carreira de professor,
coisa que jamais haviam pensado antes. A maioria, no entanto, acaba
deixando o programa depois dos dois anos previstos, mas não sem antes
causar um impacto gigantesco no nível do ensino. Os estudantes certamente
irão beneficiar-se desse empurrão ao longo de toda a vida escolar. Mais do
que isso: muitos dos que já passaram pelo Teach for America continuam
envolvidos com educação, em diferentes graus e áreas de atuação. Por tudo
isso, não faria mal ao Brasil trilhar caminho parecido.
Mônica Weinberg. Tomara que dê certo. Internet: <veja.abril.com.br> (com adaptações).
Questão 55: Passar pelo Teach for America implica sucesso profissional
garantido.

Questão 56: Embora a permanência do estudante no programa Teach for


America seja curta, seus efeitos contribuem para a melhoria da qualidade da
educação pública nos EUA.

Questão 57: De acordo com o texto, por ser mal remunerada e desvalorizada
perante a sociedade, a carreira de professor não tem sido uma opção para os
jovens estudantes brasileiros.

Questão 58: Ainda que o objetivo do Teach for America seja atrair os
melhores alunos para a docência, poucos optam definitivamente pela carreira
de professor.

Questão 59: Infere-se do texto que a pouca qualificação dos professores


influencia a qualidade da educação.

Questão 60: O estímulo oferecido aos estudantes pelo Teach for America é a
possibilidade de ser contratado por uma grande empresa americana.

Questão 61: Há, no texto, elementos que permitem classificá-lo como


dissertativo-argumentativo.

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FUB / 2010 / Superior (banca CESPE)


Se você está lendo estas linhas, saiba que seu cérebro provavelmente
difere do de quem não foi alfabetizado. Estudos de neurociência já
demonstraram que aprender a ler, especialmente na infância, altera a
anatomia do cérebro e engrossa uma estrutura chamada corpo caloso,
responsável pela conexão entre os dois hemisférios cerebrais. Se aprender a
ler pode ter um impacto tão profundo, vários cientistas e pensadores estão se
perguntando qual será o efeito da Internet na nossa mente e na maneira
como pensamos.
Recentemente, uma série de estudos, livros e debates tem tentado
deslindar essa questão. A indicação inicial é a de que, sim, a rede está
alterando a forma como pensamos e, possivelmente, até a estrutura do
cérebro humano. Por ser um fenômeno novo — ainda não temos uma geração
que tenha sido completamente formada na era da Internet —, existem
poucos trabalhos que confirmam o impacto no nível das sinapses. Um dos
mais famosos nessa área foi realizado pelo neurocientista Gary Small, da
Universidade da Califórnia. Small comparou a mente de adultos com pouca
experiência em tecnologia com a de assíduos usuários da Internet. Todos
realizaram testes na própria rede. A análise mostrou maior atividade na área
de tomada de decisões e raciocínio complexo no cérebro das pessoas
acostumadas à tecnologia. Apontou também que os inexperientes, após algum
tempo, começavam a se igualar aos conectados.
Descobertas como essa vêm motivando outros cientistas e pensadores a
discutirem o assunto amplamente. Deve chegar, em breve, ao Brasil, por
exemplo, o livro The Shallows (algo como O Raso), do editor americano
Nicholas Carr, que expõe um ponto de vista mais negativo sobre o efeito da
Web. A tese central de Carr resume-se na ideia de que a natureza caótica e
descentralizada da Internet está diminuindo a nossa capacidade de
concentração e contemplação profundas.
Mao Barros e Victor Guy. A Internet e a mente. In:
Época Negócios, abr./2010, p. 82 (com adaptações).
Questão 62: Conclui-se da leitura do texto que a diferença entre o cérebro
de uma pessoa alfabetizada e o de um analfabeto é geneticamente
determinada.

Questão 63: Infere-se da leitura do texto que, no futuro, o modo de pensar


das pessoas será diferente do atual.

Questão 64: Deduz-se das informações do texto que pessoas que fazem uso
frequente da rede mundial de computadores estão aptas a ocupar cargos de
direção de empresas, dado o alto grau de desenvolvimento de sua capacidade
de tomar decisões.

Questão 65: Pesquisas científicas comprovam que o uso constante da


Internet e o aprendizado da leitura afetam, de forma análoga, o cérebro.

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Teoria e questões comentadas
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Questão 66: Depreende-se da leitura do texto que o cérebro de uma pessoa


alfabetizada na fase adulta não sofre alterações advindas desse aprendizado.

MPE PI - 2012 – Superior (banca CESPE)


Na era das redes sociais, algumas formas de comunicação arcaicas
ainda dão resultado. O canadense Harold Hackett que o diga. Morador da Ilha
Príncipe Eduardo, uma das dez províncias do Canadá, ele enviou mais de
4.800 mensagens em uma garrafa e recebeu 3.100 respostas de pessoas de
várias partes do mundo. De acordo com a BBC, o canadense envia as
mensagens desde 1996.
O seu método é simples. Harold utiliza garrafas de suco de laranja e se
certifica de que as mensagens estão com data. Antes de enviá-las, checa o
sentido dos ventos — que devem rumar de preferência para oeste ou
sudoeste. Algumas cartas demoraram 13 anos para voltar para ele.
As respostas vieram de regiões como África, Rússia, Holanda, Reino
Unido, França, Irlanda e Estados Unidos da América. Ele acabou fazendo
amigos com as mensagens, criando “vínculos” — recebeu até presentes e
cartões de Natal.
O canadense diz que continua adorando se comunicar dessa maneira e
afirma que o método chega a ser, muitas vezes, mais “eficaz” do que a
comunicação por Facebook e Twitter.
Intencionalmente, nunca coloca o número de telefone nas mensagens,
para recebê-las de volta da mesma maneira.
Amanda Camasmie. Canadense prova que comunicação em alto mar é eficaz.
In: Época Negócios. Internet: <http://colunas.epoca
negocios.globo.com> (com adaptações).
Questão 67: Depreende-se do texto que enviar mensagens por meio de
garrafas pode ser mais eficaz do que as enviar pelas redes sociais, porque
remete a tempos antigos, trazendo à tona sentimentos mais primitivos de
pertencimento.

Questão 68: O texto apresenta características narrativas e dissertativas.

Questão 69: As aspas foram empregadas no vocábulo “vínculos” (3°


parágrafo) para indicar que esse vocábulo foi utilizado no texto de forma
irônica.

MPE PI - 2012 – Superior (banca CESPE)


A lentidão e os congestionamentos são parte da realidade dos centros
urbanos. Fazer o trânsito fluir, porém, é um quebra-cabeça complexo. No
Brasil, o desafio envolve muitas variáveis, desde o número crescente da frota
de veículos e a precariedade dos transportes públicos até o comportamento
dos motoristas ao volante. Enquanto os especialistas analisam o assunto na
tentativa de apontar soluções para o problema, o Psicólogos do Trânsito, um
grupo de jovens paulistanos, decidiu levar bom humor à rua, mostrando que
um simples gesto pode melhorar o caos do trânsito.

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Com a encenação de curtos espetáculos lúdicos, o grupo transforma


uma das esquinas mais movimentadas de São Paulo em palco de diversão e
alegria. Sobretudo nas noites de segunda e sexta-feira, quando invade a pista
e consegue o milagre de fazer o motorista rir mesmo encontrando-se preso
em mais um dos gigantescos engarrafamentos da cidade.
Vestidos de palhaço, eles aproveitam o tempo dos carros parados no
semáforo para cumprir essa missão. Com cartazes educativos, ocupam a faixa
de pedestres, fazem performances e brincam com os motoristas. Muita gente
fecha o vidro do carro. No fim da apresentação de apenas um minuto, os
jovens erguem uma faixa com a frase “Um dia sem sorrir é um dia
desperdiçado”, de Charlie Chaplin. Em geral, nessa hora, o comportamento
dos estressados muda: abrem o vidro, buzinam, acenam e seguem pelo
trajeto descontraídos.
Fabíola Musarra. Psicólogos da rua. In: Planeta,
nov./2011, p. 70-73 (com adaptações).
Questão 70: O texto mostra que pequenas atitudes praticadas por cidadãos
comuns podem colaborar para a melhoria do trânsito — hoje considerado um
problema difícil de ser solucionado.

Questão 71: Infere-se do texto que motoristas estressados no trânsito


conseguem se descontrair com as brincadeiras dos palhaços do grupo
Psicólogos do Trânsito. Assim, a missão do grupo é atingida: distribuir bom
humor.

MPE PI - 2012 – Superior (banca CESPE)


As grandes atividades arquetípicas da sociedade humana são, desde o
início, inteiramente marcadas pelo jogo. Como, por exemplo, no caso da
linguagem, esse primeiro e supremo instrumento que o homem forjou a fim
de poder comunicar, ensinar e comandar. É a linguagem que lhe permite
distinguir as coisas, defini-las e constatá-las, em resumo, designá-las e com
essa designação elevá-las ao domínio do espírito. Na criação da fala e da
linguagem, brincando com essa maravilhosa faculdade de designar, é como se
o espírito estivesse constantemente saltando entre a matéria e as coisas
pensadas. Por detrás de toda expressão abstrata se oculta uma metáfora, e
toda metáfora é jogo de palavras. Assim, ao dar expressão à vida, o homem
cria outro mundo, um mundo poético, ao lado do da natureza. O puro e
simples jogo constitui, nesse contexto, uma das principais bases da
civilização.
Johan Huizinga. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura.
São Paulo: Perspectiva, 2001, p. 7-8 (com adaptações).
Questão 72: Infere-se do penúltimo período do texto que o homem expressa
o significado da vida por meio da poesia.

Questão 73: O autor argumenta que o jogo é uma das principais bases da
civilização, contrariando a ideia corrente de que a sociedade é embasada na
linguagem.

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Português para TCU
Teoria e questões comentadas
Prof. Décio Terror Aula 7

1. C 2. E 3. C 4. C 5. C 6. C 7. E 8. E 9. E 10. C
11. E 12. C 13. E 14. E 15. E 16. E 17. C 18. C 19. E 20. C
21. E 22. E 23. C 24. C 25. E 26. C 27. E 28. C 29. E 30. E
31. C 32. E 33. E 34. E 35. E 36. E 37. D 38. C 39. E 40. D
41. C 42. C 43. C 44. C 45. E 46. C 47. C 48. C 49. E 50. E
51. C 52. C 53. C 54. C 55. E 56. C 57. E 58. C 59. C 60. C
61. C 62. E 63. C 64. E 65. E 66. E 67. E 68. C 69. E 70. C
71. C 72. E 73. E

Controle de desempenho:
Quantidade de acertos (QA): + _____
Quantidade erros (QE): – _____
Total (To=QA-QE): _______
Porcentagem ( x 100): ______
73 (quantidade de questões da aula)

Só passe para a aula seguinte, se você tiver índice maior que 80%.

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