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O Decreto Federal de Nº 23 569 de 11 de dezembro de 1933 regula o

exercício das profissões de engenheiro, arquiteto e de agrimensor. Contudo, no


artigo 5º é mencionado que o valor jurídico de estudos, plantas e outros trabalhos
relacionados a engenharia de acordo com esse decreto. Mas, nos casos de
projetos acadêmicos que são realizados em parcerias com empresas, é comum
professores e/ou técnicos serem autores. Entretanto, os mesmos não são
obrigados a inscrever-se no conselho. Então, como os mesmos podem ser
responsáveis pela condução de tais projetos? Vale ressaltar que na Resolução
de n º 218 de 29 de junho de 1973 no artigo 1º na atividade 08 que designa a
esses profissionais a atividade de “Ensino, pesquisa, análise, experimentação,
ensaio, divulgação técnica e extensão”.
Essa mesma resolução atribui as seguintes competências ao Engenheiro
químico no artigo 17.
“I - desempenho das atividades 01 a 18 do artigo 1º desta Resolução,
referentes à indústria química e petroquímica e de alimentos; produtos químicos;
tratamento de água e instalações de tratamento de água industrial e de rejeitos
industriais; seus serviços afins e correlatos.”
Do artigo 1º as atividades são:
“Atividade 01 - Supervisão, coordenação e orientação técnica;
Atividade 02 - Estudo, planejamento, projeto e especificação;
Atividade 03 - Estudo de viabilidade técnico-econômica;
Atividade 04 - Assistência, assessoria e consultoria;
Atividade 05 - Direção de obra e serviço técnico;
Atividade 06 - Vistoria, perícia, avaliação, arbitramento, laudo e parecer técnico;
Atividade 07 - Desempenho de cargo e função técnica;
Atividade 08 - Ensino, pesquisa, análise, experimentação, ensaio e divulgação
técnica; extensão;
Atividade 09 - Elaboração de orçamento;
Atividade 10 - Padronização, mensuração e controle de qualidade;
Atividade 11 - Execução de obra e serviço técnico;
Atividade 12 - Fiscalização de obra e serviço técnico;
Atividade 13 - Produção técnica e especializada;
Atividade 14 - Condução de trabalho técnico;
Atividade 15 - Condução de equipe de instalação, montagem, operação, reparo
ou manutenção;
Atividade 16 - Execução de instalação, montagem e reparo;
Atividade 17 - Operação e manutenção de equipamento e instalação;
Atividade 18 - Execução de desenho técnico. ”
Em relação ao registro dos engenheiros químicos no CRQ ou CREA, a
lei de nº 2800 de 1956 nos artigos:
“ Art 22. Os engenheiros químicos registrados no Conselho Regional de Engenharia e
Arquitetura, nos têrmos do decreto-lei n.º 8.620, de 10 de janeiro de 1946, deverão ser
registrados no Conselho Regional de Química, quando suas funções, como químico, assim o
exigirem.
Art 23. Independente de seu registro no Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura, os
engenheiros industriais, modalidade química, deverão registrar-se no Conselho Regional de
Química, para o exercício de suas atividades como químico.”
Dispõe da necessidade de quando esses profissionais devem registrar-se
no CRQ.
Visto que segundo o artigo 334 da seção XIII da Lei de nº 5452 de 1949
o profissional de química exerce as seguintes atividades:
“Art. 334. O exercício da profissão de químico compreende:

a) a fabricação de produtos e subprodutos químicos em seus diversos


graus de pureza;

b) a análise química, a elaboração de pareceres, atestados e projetos da


especialidade e sua execução, perícia civil ou judiciária sobre essa matéria, a
direção e a responsabilidade de laboratórios ou departamentos químicos, de
indústrias e empresas comerciais;

c) o magistério nas cadeiras de química dos cursos superiores


especializados em química;

d) a engenharia química.

§ 1º Aos químicos, químicos industriais e químicos industriais agrícolas


que estejam nas condições estabelecidas no art. 325, alíneas "a" e "b", compete
o exercício das atividades definidas nos itens a, b e c deste artigo, sendo
privativa dos engenheiros químicos a do item d.

§ 2º Aos que estiverem nas condições do art. 325, alíneas "a" e "b",
compete, como aos diplomados em medicina ou farmácia, as atividades
definidas no art. 2º, alíneas "d", "e" e "f" do Decreto nº 20.377, de 8 de setembro
de 1931, cabendo aos agrônomos e engenheiros agrônomos as que se acham
especificadas no art. 6º, alínea "h", do Decreto nº 23.196, de 12 de outubro de
1933.”
Entretanto, a priori são profissionais da engenharia regulamentados
segundo as Leis de nº 8620 de 1946 e nº 5194 de 1966.
De acordo com a decisão apresentada no processo que é apresentado a
seguir:
Na sentença o juiz da 15 ª Vara Civil de Brasília, Dr. Carlos Alberto Simões
de Tomaz, no Processo número 84.0017809-2 - CFQ contra CONFEA -
Assunto "registro do engenheiro químico e técnico de nível médio de
química", após uma longa e detalhada explanação, com 19 pontos de
fundamentação, decidiu que os engenheiros químicos devem ser registrados
nos CREAs sempre que suas atividades profissionais ficarem caracterizadas
como de engenharia.

Dentre os quesitos de sua análise destacam-se os pontos 9, 11, 12, 15, 16, 17,
18 e 19 onde declarou:

...

9. De minha parte, estou convencido que não se operou a propagada revogação


dos arts. 22 e 23 da Lei 2.800/56, pela Lei 5.194/66. A esta conclusão cheguei
porque, de fato, a Lei n. 5.194/66, não revogou expressamente os dispositivos
da Lei 2.800/56, e entre ambas não há incompatibilidade, como de
reste inexistia em relação ao regramento anterior (Decreto-lei 8.620/46). De
fato, ao dispor sobre o exercício das profissões de engenheiro, o alcance do
novo estatuto em relação aos engenheiros químicos permaneceu nos moldes
travados durante a vigência do Decreto-lei n. 8.620/46, em face da Lei
2.800/56. (grifo nosso)

11. Vê-se, indubitavelmente, que o critério em que se louvou a lei 2.800/56, para
determinar o registro dos engenheiros químicos nos Conselhos Regionais de
Química, foi o da especificidade de funções. Assim, é o exercício efetivo das
atividades de químico que leva ao registro no CRQ, mesmo do engenheiro
químico. Esse critério, vicejante desde aquela lei, guarda conformidade com a
Lei 5.194.66. (grifo nosso)

12. Verdadeiramente, as atividades dos profissionais da química diferem


daquela dos engenheiros, até mesmo dos engenheiros químicos, onde, sem
dúvida, os lindes da atividade se tornam de precisão difícil, mas não impossível.
Essa dificuldade, envolvendo a atuação das duas autarquias ora integrantes
desta relação processual, desaguou no judiciário, como se pode ver dos
acórdãos coligidos à contestação. A jurisprudência tem se perfilado em verificar
a atividade quanto a sua especificidade de modo a determinar a vinculação a
esta ou aquela autarquia fiscalizadora.

15. Nesta conformidade, pode-se, em escorço, assentar que enquanto a


engenharia química se ocupa com o estudo, o planejamento e a execução dos
projetos para instalação e desenvolvimento dos processos e operação de
equipamentos pertinentes à indústria química, a atuação dessa ciência dirige-se
à análise físico-química, biológica e toxicológica, destina à padronização e ao
controle da qualidade na fabricação de produtos e derivados químicos, em suma
de produtos industriais obtidos por meio de reações químicas. A partir destas
funções, uma série de outras atividades são desenvolvidas, algumas delas
arroladas pelo Decreto n. 85.877/81. (grifo nosso)

16. Neste contexto, apenas o exame de cada caso em concreto é que levará à
conclusão de que a atividade desenvolvida é de engenharia ou química. Não é
o fato do profissional ser graduado em engenharia química que gera a presunção
de que o mesmo desenvolva as atividades peculiares à engenharia química.
Não. Pode muito bem não praticar tais atividades e exercer a química e nessa
hipótese justifica-se o registo perante o CRQ, nos termos do art. 23, da lei
2.800/56, porque o exercício de suas atividades como químico, assim o exige.
Pode, ainda, exercer simultaneamente as duas atividades e a inscrição perante
o CREA e o CRQ se avultará obrigatoriamente, tudo, no entanto, a depender de
cada caso, per se. (grifo nosso)

17. Vê-se, neste passo, que o alcance do provimento pretendido pela autora não
pode prosperar, pois, assim como nela, no CONFEA poderão também ser
registrados engenheiros químicos. A matéria, vista sob esse ângulo, restou a
muito tempo assentada ainda no extinto TFR em acórdão assim ementado:

"ADMINISTRATIVO – CONSELHO DE CLASSE – ENGENHEIRO QUÍMICO –


INSCRIÇÃO CREA – CRQ

- A obrigatoriedade imposta aos Engenheiros Químicos de se registrarem no


CREA e/ou CRQ depende da comprovação da real natureza das atividades
efetivamente exercidas pelos mesmo e a via mandamental não se presta para
deslinde de matéria que necessite de exame de provas.

Apelo desprovido.

Sentença mantida. "

(AMS n° . 102.846 – MG, rel. Min. Flaquer Sacartezzini – DJ de 04.10.84) (grifo


nosso)

18. Enfim, quanto ao pedido de nulidade das Resoluções CONFEA 262/79 e


277/82, no que dispuseram sobre os profissionais técnicos de 2° grau em
atividades relacionadas à química , há de se ter presente que inexiste a
preconizada nulidade por vício de incompetência. Efetivamente, ambos os
Conselhos Federais são competentes para fiscalizar as atividades desenvolvidas
pelos técnicos de nível médio e relacionadas com a respectiva profissão que
fiscalizam......(grifo nosso)

19. Estes são os fundamentos, com base nos quais, este Juízo julga
improcedentes os pedidos. Sem custas (art. 9° , I, da Lei n° 6.032/74). Honorários
advocatícios em valor correspondente a 04 (quatro salários mínimos ( § 4° do
art. 20 do CPC), pela autora.

Brasília, 24 de fevereiro de 1995.


Carlos Alberto Simões de Tomaz
Juiz Federal Substituto

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