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RESUMO
Iniciamos este estudo explanando sobre a importância da didática da cultura indígena em sala de
aula, utilizando a música como instrumento de ensino. Mostrando a importância da música na vida
indígena, em seguida nos concentramos em definir os instrumentos musicais indígenas, de forma a
organizar por famílias começando pelos percutidos do tipo chocalhos e suas variações. Seguindo
das flautas e suas variações mais comuns. Assim como para os outros instrumentos, também
expomos a forma como as flautas são construídas. A última família de instrumentos exposta é dos
tambores com duas variações deste instrumento.
1 INTRODUÇÃO
Pretendemos também neste estudo conhecer alguns instrumentos que compõe o amplo
conjunto de instrumentos musicais dos índios do Brasil, não nos aprofundaremos demasiadamente
em questões relacionadas aos instrumentos, como por exemplo, todos os rituais nos quais são
usados.
Nas ações de ensino em Arte, as tecnologias vão ganhando espaço expressivo e prestígio
quando possibilitam a interação de saberes e sua multiplicação, gerando novas perspectivas
nas relações diretas dos sujeitos entre si, com o mundo, com e na escola, constituindo e
compartilhando sentidos no percurso de aprendizagem. (SANTA CATARINA, 2014, p.
129)
O fazer musical evidencia-se nas relações entre os sujeitos mediados pela música e, nesse
sentido, o som é elemento fundamental, pois por meio dele é possível elaborar e manifestar-
se no encontro com o outro. [...] Há, na escolha material e formal da Arte, uma
intencionalidade funcional, o que significa dizer que forma e função estão articuladas com a
intenção comunicativa e expressiva do autor. (SANTA CATARINA, 2014, p. 130)
A união de saberes musicais, com a cultura indígena é um dos assuntos abordados em sala
de aula, fazendo uma reflexão entre a diversidade étnica e a pluralidade da sociedade
contemporânea. Visando um aprofundamento da sensibilidade humana, que irá criar uma
mentalidade conscientizando o futuro cidadão desta sociedade de que as consequências de seus atos
serão impactantes no meio em que vive.
O uso das contribuições culturais dos povos indígenas, exigido por lei nos PCN’s (?),
merecem uma explanação plena de suas lutas e tradições. Evitando as informações falhas que vem
de gerações de pedagogos alienados a respeito do índio brasileiro.
Sendo assim, objetivamos uma explanação coerente a respeito de toda carga ideológica e
sapiência vindo de povos nativos brasileiros, onde seus costumes podem ensinar muito a respeito da
vida e seus apreços pela mãe natureza, que por sinal é o mesmo meio ambiente em que o aluno está
inserido e só ele não percebe. Utilizando recursos musicais para ampliar seus instintos mais
profundos e sua sensibilidade.
3 INSTRUMENTOS MUSICAIS
Munduruku (2000) coloca que para grande maioria dos povos indígenas, os instrumentos
musicais são formas de colocá-los em contato com o mundo espiritual. Os instrumentos
compartilham da importância da música, utilizados como complemento da voz e do corpo. A
maneira de confeccionar os instrumentos corresponde ao objetivo que se quer alcançar com eles e
com as pessoas que irão manuseá-lo depois de prontos.
3.1 CHOCALHOS
Segundo Munduruku (2000, p. 58), “alguns grupos que utilizam chocalhos nessas diversas
formas são: Mundurukú, Karajá, Paresí, Tembé, Krixaná, Ipurukotó, Teréna, entre outros. Há
também chocalho globular, em fieira, de vara e tubular.”
O uso da maraca pelo Xamã ou Pajé para rituais religiosos, parece comum em outras tribos.
Munduruku (2000, p. 92) também relata sobre a atuação do Pajé Mundurukú, “em seguida, tomou o
chocalho em suas mãos e com batidas rítmicas pôs-se a cantar [...] na tentativa de resgatar o espírito
que já havia deixado aquele corpo.”
Por sua vez, Gaspar (2015) expõe que estes chocalhos de fieira normalmente são feitos de
nozes, caracol, asa de besouro, garras e cascos de animais. São usados como braçadeiras, pulseiras,
joelheiras, colares, tangas, tornozeleiras ou movimentados diretamente na mão.
Ainda Piedade (2015) cita que os índios Tukano, utilizam para cantos somente para homens,
que na dança batem os pés direitos no chão marcando os tempos da música.
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FONTE: JOANNY, Lydie. Museu Paraense Emilio Goeldi, Belém do Pará, 2015
Segundo Pinheiro (2015), o chocalho tubular também conhecido como pau de chuva,
contém no seu interior elementos sonoros como sementes, dentes, entre outros. O chocalho tubular
também pode ser duplo, com uma haste de madeira unindo os dois tubos para a percussão.
3.2 FLAUTAS
Citando Piedade (2015) a flauta é feita com tubos de taquara em pé, de tamanho pequeno,
fechados na ponta inferior por septos naturais e abertos acima, onde se sopra, sendo amarrados por
fibras e fios. É considerado da família dos aerofones. Os índios Tukano chamam esta de Flauta de
Pã, e a execução se dá em grupos de mais de cinco pessoas.
“A flauta de Pã, encontrada em diversas tribos brasileiras, pode ter até 25 tubos e é
normalmente feita com bambu.” (GASPAR, 2015, p. 1).
Conforme cita Mello (2015) esta flauta é muito utilizada pelos índios Wauja do alto Xingu,
em rituais como a Festa do Pequi, nesta tribo a flauta é chamada de Iapojatekana. O autor confirma
se tratar do mesmo instrumento quando coloque que, é um aerofone tipo flauta de pã, composto de
quatro tubinhos de watanato, “bambuzinho”, sem orifícios.
Para os Wauja, o pequi parece ser bom para comer, para produzir óleo, para fazer
instrumentos musicais [...]. Sim, porque há entre os Wauja e outros grupos xinguanos uma
poderosa elaboração mítica e ritual em torno do pequi, movimentando toda a aldeia no
início das chuvas, através de disputas e provocações entre homens e mulheres. O ritual do
pequi, akãinaakai, se constitui em torno da questão da diferença entre os gêneros masculino
e feminino, sendo uma janela privilegiada para a observação da socialidade.
(MELLO, 2015, p. 55)
Segundo Freitas et al (2015) recebe este nome na língua Kamaiurá, a flauta fina é dupla, tem
mais de dois metros, não possui furos para mudança de nota musical, mas apenas um refletor bucal,
que serve tanto para afinar o instrumento como para variar o som através de mudança de
embocadura. A flauta deve ser feita com bambo (?) chamado Taakuát, pois apenas este tem as
características que permitem confeccioná-la. Esta tradição esta ameaçada pela falta de matéria
prima.
Ainda conforme Freitas et al (2015) a flauta Uruá é um dos instrumentos sagrados pelos
povos indígenas, ficou mais conhecida por ser utilizada na festa do Kwarup feita pelos índios do
Parque do Xingu, que de forma muito simplificada é a última homenagem ao morto, quando dois
índios, acompanhados por duas virgens, passam pelas ocas tocando essas flautas gigantes, e também
durante a furação de orelha, que é um rito de passagem dos jovens.
Piedade (2015) cita a flauta Japurutú que é semelhante a Uruá, mas possui apenas um corpo
cilíndrico, porém deve ser tocada em para (?), o autor se refere a este instrumento como um par de
flautas longas feitas de madeira de palmeira.
As duas flautas japurutú são iguais, variando apenas o tamanho, a afinação e a simbologia:
a flauta maior, com cerca de 1,5 metros, é aproximadamente 15 cm maior e soa um tom
abaixo da outra, sendo a flauta ‘chefe’ ou ‘homem’ a que comanda a sequência de notas,
enquanto a menor (‘mulher’) é a que responde, devendo dar a nota correta a partir do que o
chefe tocou. (PIEDADE, 2015, p. 52)
3.2.3 Trompete
Conforme as pesquisas de Piedade (2015) existem os trompetes e flautas Jurupari que são da
família de instrumentos sagrados vedados às mulheres (se elas os virem, podem morrer). Os
trompetes na tribo Tukano, são aerofones cujo corpo principal é um pedaço de tronco de palmeira
de tamanho variando em torno de 50 cm de comprimento, com 4 a 6 cm de diâmetro, que funciona
como tubo livre para o sopro e a vibração labial que produz o som. Esta parte do instrumento é
conservada enterrada debaixo da água, escondida no igarapé. Os instrumentos Jurupari têm nomes
de animais e elementos da floresta e são tocados em pares.
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3.3 TAMBORES
Conforme Munduruku (2000) são instrumentos de percussão que podem ser tocados com as
mãos, pés ou baquetas. Podme ser uma tábua estendida sobre uma cavidade do solo; uma carapaça
de tartaruga, como fazem os Tukúna; pode ser de cerâmica, como os Pakaanóva; de madeira oca,
como o dos Bakairí, Kamayurá, Aweti, Tukúna e Mayoruna; ou de pele, como dos Tembé, Urubú-
Kaapór.
Citando Piedade (2015) o tambor também é da família dos membrafones e na tribo Tukano
é pequeno e feito de um cilindro de madeira fechado por cima com pele de macaco, esticada com
tramas de cordas vegetais, envolvendo o corpo do instrumento. Para os Tukano, o tambor não é
utilizado nas músicas e danças e sim é um instrumento de comunicação, usado para anunciar a hora
do caxiri.
Segundo Peret (2015) o tambor da figura acima, recebe o nome Paka-i pelos índios Pakaa-
nova é modelado com cerâmica e recoberto de látex em tiras.
3.3.1 Trocano
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Segundo Piedade (2015) é um tambor de fenda, de tronco de madeira oca, que é pendurando
por cordas em quatro estacas, percutido com baqueta de madeira e ponta de borracha. Não é mais
utilizado pelos Tukanos e servia para comunicação. Somente os chefes da tribo podiam percuti-lo.
Ainda citando Munduruku (2000) muitas vezes a música vem em sonhos, como no caso dos
Mundurukú e dos Xavantes. Depois que a música é sonhada, o sonhador a apresenta à comunidade,
para aprovação. Caso aprove, a música passa a ser cantada por toda a comunidade. Depois de algum
tempo, ninguém mais lembra quem foi seu autor.
Com o som produzido pela batida dos pés no chão e com o som da voz recria-se o mundo
ou imita-se a batida original da criação do mundo. Por isso esses povos nativos estão
sempre dançando e cantando, pois acreditam que, assim, irão equilibrar o mundo e ele
nunca irá acabar. (MUNDURUKU, 2000, p. 78)
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Arte-educador está diretamente ligado ao auxilio do aluno que irá obter discernimento
entre o que é a cultura indígena realmente e o que a mídia nos proporciona. Portanto, o uso da
música direcionando para a cultura indígena nos possibilita o estudo de suas tradições e
musicalidades.
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Percebemos durante os estudos dos instrumentos musicais que alguns deles não são mais
usados com frequência pelas tribos, é o caso do Trocano da família dos tambores, isso acontece,
pois a função deste instrumento era de comunicação entre as tribos. Refletindo sobre este caso fica
claro que na atualidade os meios de comunicação evoluíram e muito, e esta evolução não deixou de
chegar a muitas tribos indígenas, assim como os “brancos” deixaram de utilizar cavalos e homens
de recado para mandar suas cartas e passaram a utilizar as redes sociais para informar e se
comunicar, o índio também se apossou desses meios de comunicação.
Outro instrumento que revela a mudança dos costumes indígenas é o tambor Paka-i utilizado
pelos índios Pakaa-nova, este era usado antigamente em rituais fúnebres com fins antropofágicos,
atualmente ele não é mais utilizado desta forma, pois os costumes antropofágicos são abominados
pela sociedade atual. Este discernimento do que é “bom ou ruim” mudou os conceitos dos índios a
respeito de seus próprios rituais, depois do contato com o homem branco.
Neste sentido, pode-se perceber um exemplo da transformação do modo de vida dos povos
indígenas, inseridos em um meio em que se impõe um novo sistema, transformador da cultura
através da inserção de elementos da cultura não indígena. O envolvimento, por um sistema que tem
força desestruturaste (?), transforma os sistemas simbólicos dos povos indígenas, mudando seus
instrumentos de comunicação e significados.
REFERÊNCIAS
FREITAS, Fábio de Oliveira et al. O Bambu do Uruá. 2003. 6 f. Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia. Brasilia, DF. Disponível em: <
https://www.embrapa.br/documents/1355163/2020115/cot097.pdf/d5f0ccca-06f5-4e7d-9f9f-
de11e8d23a4d >. Acesso em: 31 out. 2015.
MELLO, Maria Ignez Cruz. Iamurikuma: música, mito e ritual entre os Wauja do alto Xingu.
2005. 335 f. Tese de Pós Graduação em Antropologia Social. Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis. Disponível em: <http://www.antropologia.com.br/divu/divu30_tese.htm>
Acesso em 30 out. 2015.
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PIEDADE, Acácio Tadeu. Música ye’pâ-masa: por uma antropologia da música no alto rio
negro. 1997. 218 f. Dissertação de Pós-Graduação em Antropoligia Social. Universidade Federal de
Santa Catarina. Florianópolis. Disponível em: <http://www.antropologia.com.br/divu/colab/d32-
apiedade.pdf >. Acesso em 31 out. 2015.