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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação


Departamento de Sistemas e Energia

Fontes Chaveadas

José Antenor Pomilio

Publicação FEEC 13/95

Revisada em Julho de 2016


Apresentação

Este texto foi elaborado em função da disciplina "Fontes Chaveadas", ministrada nos cursos
de pós-graduação em Engenharia Elétrica na Faculdade de Engenharia Elétrica e de
Computação da Universidade Estadual de Campinas. Este é um material que deve sofrer
constantes atualizações, em função da evolução tecnológica na área da Eletrônica de Potência.
Além disso, o próprio texto pode conter erros, para o que pedimos a colaboração dos
estudantes e profissionais que eventualmente fizerem uso do mesmo, no sentido de enviarem
ao autor uma comunicação sobre as falhas detectadas. Os resultados experimentais incluídos
no texto referem-se a trabalhos executados pelo autor, juntamente com estudantes e outros
pesquisadores, gerando publicações em congressos e revistas, conforme indicado nas
respectivas referências bibliográficas.

Campinas, 3 de janeiro de 2014

José Antenor Pomilio

José Antenor Pomilio é engenheiro eletricista, mestre e doutor em Eng. Elétrica pela
Universidade Estadual de Campinas. De 1988 a 1991 foi chefe do grupo de eletrônica de
potência do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron. Realizou estágios de pós-
doutoramento junto à Universidade de Pádua (1993/1994 e 2015) e à Terceira Universidade
de Roma (2003), ambas na Itália. Foi presidente e membro da diretoria em diversas gestões
da Associação Brasileira de Eletrônica de Potência – SOBRAEP, foi membro do comitê
administrativo da IEEE Power Electronics Society durante quatro anos e é atualmente
membro eleito do Conselho Superior da Sociedade Brasileira de Automática. É editor
associado da Transactions on Power Electroncs (IEEE) e do International Journal of Power
Electronics, tendo sido editor da revista Eletrônica de Potência (SOBRAEP) e editor
associado de Controle e Automação (SBA). É professor da Faculdade de Engenharia
Elétrica e de Computação da Unicamp desde 1984, sendo atualmente o coordenador do
curso de Engenharia Elétrica. Orientou 12 dissertações de mestrado e nove teses de
doutorado, publicou mais de 40 artigos em periódicos nacionais e internacionais e cerca de
200 artigos em congressos internacionais e nacionais. Participou como executor ou
colaborador em diversos projetos conjuntos com empresas e coordenou 15 projetos com
financiamento público (FAPESP, CNPq, CAPES, FINEP). É assessor ad-hoc de diversos
órgãos de financiamento públicos e revisor em mais de uma dezena de publicações
científicas internacionais.

ii
Conteúdo

1. Topologias básicas de conversores não isolados


Princípios de operação de conversores comutados. Conversores buck, boost, buck-boost, Cuk,
SEPIC e zeta.

2. Topologias básicas de conversores com isolação


Caracterização de elementos magnéticos. Conversor Fly-back, Conversor forward,
conversores Cuk, SEPIC e zeta; Conversores push-pull e ponte.

3. Técnicas de modulação para fontes chaveadas


Modulação por largura de pulso, modulação em frequência, modulação por histerese,
controles “one-cycle”, “charge control” e delta.

4. Conversores ressonantes
Princípios de comutação suave. Conversores série e paralelo ressonantes. Regiões de
comutação suave.

5. Conversores com outras técnicas de comutação suave


Conversores quase-ressonantes. Conversores com circuitos auxiliares à comutação.

6. Componentes passivos
Características não ideais de capacitores e de elementos magnéticos, especialmente em termos
de comportamento com a frequência.

7. Modelagem de fontes chaveadas: método de inspeção


Análise de estabilidade através de diagramas de Bode. Obtenção de função de transferência de
circuitos comutados. Análise das características dinâmicas dos conversores básicos.

8. Modelagem de fontes chaveadas: método de variáveis de estado


Método analítico para obtenção de função de transferência de conversores estáticos utilizando
modelagem no espaço de estado.

9. Modelagem da chave PWM


Modelagem de conversores utilizando o método da chave PWM, adequado para uso em
simuladores de circuitos elétricos.

10. Projeto de sistema de controle linear para fontes chaveadas


Uso do método do fator k para proejto de controladores lineares para conversores comutados.

11. Circuitos integrados dedicados


Uma visão de circuitos integrados dedicados ao controle de fontes chaveadas, explorando
diferentes tipos de aplicações.

12. Caracterização de fontes chaveadas


Uma visão geral de testes e características que devem apresentar estes circuitos,
especialmente em relação a normas de IEM.

13. Componentes semicondutores rápidos de potência


Diodos de junção e Schottky, MOSFET e IGBT.

iii
Prefácio

A tecnologia de fontes chaveadas não é recente. Fontes de alta tensão baseadas no


conversor fly-back, por exemplo, estão presentes em aparelhos de TV há muitas décadas. As
grandes alterações tecnológicas ocorridas nos últimos 20 ou 30 anos, no entanto, estão
relacionadas com o surgimento de componentes semicondutores de potência capazes de
comutar em alta frequência (entendido como acima de 20 kHz, de modo a não ser audível
pelo ser humano), com baixas perdas.
Principalmente devido à criação do transistor MOSFET, ao qual se seguiu o IGBT,
ambos com desempenho muito superior ao transistor bipolar em aplicações de chaveamento
rápido, toda uma nova área de desenvolvimento tecnológico pode se estabelecer.
A crescente demanda por fontes de alimentação compactas, de alto rendimento (baixas
perdas) e rápida resposta dinâmica a transitórios de carga, decorrente da ampliação de cargas
eletro-eletrônicas a serem alimentadas em tensão CC, exigiu soluções que transcendiam as
fontes convencionais baseadas em retificadores (controlados ou não), seguidos por filtros
passivos e reguladores série.
Em potências mais elevadas (o que pode significar alguns watts), a perda de potência
em um regulador série pode ser proibitiva. O uso de transistores como chave permite
minimizar as perdas de potência, desde que as transições dos estados ligado e desligado sejam
muito rápidas (minimizando o intervalo no qual o componente atravessa sua região ativa).
Com isso minimiza-se a necessidade de dispositivos de dissipação do calor gerado no
semicondutor.
Mas ao operar como interruptor, estes circuitos exigem filtros passa-baixas que sejam
capazes de recuperar uma tensão CC adequada aos circuitos de carga. Tais filtros utilizam
indutores e capacitores. A minimização destes elementos requer que a frequência de
comutação seja a mais elevada possível, de modo que valores aceitáveis de ripple sejam
obtidos com baixas indutâncias e capacitâncias.
A elevação da frequência, no entanto, fica restrita pelas perdas devidas às comutações.
dos componentes semicondutores.
Além disso, os elevados valores de di/dt e dv/dt (taxas de variação de corrente e de
tensão, respectivamente) são importantes fontes de interferência eletromagnética (IEM), as
quais devem ser devidamente minimizadas para evitar mau-funcionamento do circuito e
interferência em outros dispositivos alimentados pela mesma fonte (interferência conduzida)
ou que esteja nas proximidades (interferência irradiada).
Apesar das muitas soluções tecnológicas já obtidas, continuam a surgir novos desafios,
como a alimentação em tensões cada vez mais baixas dos circuitos digitais, com implicações
sobre os valores mínimos de queda de tensão direta dos componentes, ou ainda os circuitos de
eletrônica embarcada em automóveis, e tantas outras aplicações em aparelhos de tecnologia
da informação e de uso médico.
O texto que se segue procura dar a seus leitores informações necessárias para o
entendimento do funcionamento das principais topologias de fontes chaveadas, de seu
controle e do comportamento dos componentes ativos e passivos nestas utilizados. Trata-se de
um texto em constante aprimoramento, para o que sempre solicitamos a colaboração dos
leitores.

iv
Fontes Chaveadas – Cap. 1 Topologias básicas de conversores CC-CC não-isolados J. A. Pomilio

1 Topologias Básicas de Conversores CC-CC não-isolados

1.1 Princípios básicos

As análises que se seguem consideram que os conversores não apresentam perdas de


potência (rendimento 100%). Os interruptores (transistores e diodos) são ideais, o que significa
que, quando em condução, apresentam queda de tensão nula e quando abertos, a corrente por eles
é zero. Além disso, a transição de um estado a outro é instantânea.
Serão apresentadas estruturas circuitais básicas que realizam a função de, a partir de uma
fonte de tensão fixa na entrada, fornecer uma tensão de valor variável na saída. Neste caso existe
um filtro capacitivo na saída, de modo a manter, sobre ele, uma tensão estabilizada e de
ondulação desprezível.
Quando uma variação topológica (surgida em função da condução dos interruptores)
provocar a conexão entre a fonte de entrada e um capacitor (ou entre dois capacitores), tal
caminho sempre deverá conter um elemento que limite a corrente. Este elemento, por razões de
rendimento, será um indutor.
Os circuitos serão estudados considerando que os interruptores comutam a uma dada
frequência (cujo período será designado por τ), com um tempo de condução do transistor igual a
tT. A relação δ=tT/τ é chamada de largura de pulso, ciclo de trabalho, razão cíclica (duty-cycle).
A obtenção das características estáticas (relação entre a tensão de saída e a tensão de entrada,
por exemplo) é feita a partir da imposição de condições de regime permanente. Em geral esta
análise será feita impondo-se a condição de que, em cada período de comutação, a tensão média
em um indutor é nula, ou ainda de que a corrente média em um capacitor é nula.

1.2 Conversor abaixador de tensão (step-down ou buck): Vo<E

A tensão de entrada (E) é recortada pela chave T. Considere-se Vo praticamente


constante, por uma ação de filtragem suficientemente eficaz do capacitor de saída. Assim, a
corrente pela carga (Ro) tem ondulação desprezível, possuindo apenas um nível contínuo. A
figura 1.1 mostra a topologia.
Com o transistor conduzindo (diodo cortado), transfere-se energia da fonte para o indutor
(cresce io) e para o capacitor (quando io >Vo/R).
Quando T desliga, o diodo conduz, dando continuidade à corrente do indutor. A energia
armazenada em L é entregue ao capacitor e à carga. Enquanto o valor instantâneo da corrente
pelo indutor for maior do que a corrente da carga, a diferença carrega o capacitor. Quando a
corrente for menor, o capacitor se descarrega, suprindo a diferença a fim de manter constante a
corrente da carga (já que estamos supondo constante a tensão Vo). A tensão a ser suportada, tanto
pelo transistor quanto pelo diodo é igual à tensão de entrada, E.

iT io

L +
iD Ro
T
E D Vo

Io

Figura 1.1 Conversor abaixador de tensão

http://www.dsce.fee.unicamp.br/~antenor 1-1
Fontes Chaveadas – Cap. 1 Topologias básicas de conversores CC-CC não-isolados J. A. Pomilio

Se a corrente pelo indutor não vai a zero durante a condução do diodo, diz-se que o
circuito opera no modo contínuo. Caso contrário tem-se o modo descontínuo. Via de regra
prefere-se operar no modo contínuo devido a haver, neste caso, uma relação bem determinada
entre a largura de pulso e a tensão média de saída. A figura 1.2 mostra as formas de onda típicas
de ambos os modos de operação.

Condução contínua Condução descontínua

tT tT t2 tx
Δ I Io i
o Io

i
D

i
T
E E
Vo v
D Vo
0 τ
0 τ
Figura 1.2 Formas de onda típicas nos modos de condução contínua e descontínua

1.2.1 Modo de condução contínua (MCC)


A obtenção da relação entrada/saída pode ser feita a partir do comportamento do elemento
que transfere energia da entrada para a saída. Sabe-se que a tensão média sobre uma indutância
ideal, em regime, é nula, como mostrado na figura 1.3.

A1 = A 2
(1.1)
V1 ⋅ t 1 = V2 ⋅(τ − t 1)

vL
V1
A1
t1 τ
A2

V2

Figura 1.3 Tensão sobre uma indutância em regime.

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Fontes Chaveadas – Cap. 1 Topologias básicas de conversores CC-CC não-isolados J. A. Pomilio

No caso do conversor abaixador, quanto T conduz, vL=E-Vo, e quando D conduz, vL=-Vo

(E − Vo)⋅ t T = Vo ⋅(τ − t T )
Vo t T (1.2)
= ≡δ
E τ

1.2.2 Modo de condução descontínua (MCD)


A corrente do indutor será descontínua quando seu valor médio for inferior à metade de
seu valor de pico (Io<ΔIo/2). A condição limite é dada por:

Δi o (E − Vo)⋅ t T (E − Vo)⋅δ ⋅ τ
Io = = = (1.3)
2 2⋅L 2⋅L

Com a corrente sendo nula durante o intervalo tx, tem-se:

(E − Vo)⋅ t T = Vo ⋅(τ − t T − t x ) (1.4)

Vo δ
= (1.5)
E t
1− x τ

Escrevendo em termos de variáveis conhecidas, tem-se:

i o max ⋅ δ
Ii = (corrente média de entrada) (1.6)
2

(E − Vo)⋅ t T
i o max = (1.7)
L

Supondo a potência de entrada igual à potência de saída, chega-se a:

Vo Ii i o max ⋅ δ ( E − Vo) ⋅ δ 2 ⋅ τ
= = = (1.8)
E Io 2 ⋅ Io 2 ⋅ Io ⋅ L

Vo 2 ⋅ L ⋅ Ii
= 1− (1.9)
E E ⋅ τ ⋅ δ2

E Vo E ⋅ τ ⋅ δ2
Vo = ==> = (1.10)
2 ⋅ L ⋅ Io E 2 ⋅ L ⋅ Io + E ⋅ τ ⋅ δ 2
1+
E ⋅ τ ⋅ δ2

Definindo o parâmetro K, que se relaciona com a descontinuidade, como sendo:

L ⋅ Io
K= (1.11)
E⋅τ

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A relação saída/entrada pode ser reescrita como:

Vo δ2
= 2 (1.12)
E δ +2⋅K

O ciclo de trabalho crítico, no qual há a passagem do modo de condução contínuo para o


descontínuo é dado por:

1± 1− 8 ⋅ K
δ crit = (1.13)
2

A figura 1.4 mostra a característica estática do conversor para diferentes valores de K. Na


figura 1.5 tem-se a variação da tensão de saída com a corrente de carga. Note-se que a condução
descontínua tende a ocorrer para pequenos valores de Io, levando à exigência da garantia de um
consumo mínimo. Existe um limite para Io acima do qual a condução é sempre contínua e a
tensão de saída não é alterada pela corrente, ou seja, tem-se uma boa regulação, mesmo em malha
aberta. Este equacionamento e as respectivas curvas consideram que a carga tem um
funcionamento de consumo de corrente constante. Caso a carga tenha um comportamento diverso
(impedância constante ou potência constante), deve-se refazer este equacionamento.
1
Cond. descontínua

0.75
K=.1
Vo/E K=.01 K=.05
0.5

0.25

Cond. contínua
0
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1
δ
Figura 1.4 Característica de controle do conversor abaixador de tensão nos modos contínuo e
descontínuo.
1
Cond. contínua
δ=0,8
0.8

δ=0,6
0.6
Vo/E δ=0,4
Cond. descontínua
0.4

δ=0,2
0.2

0
0
E.τ
Io 8L
Figura 1.5 Característica de saída do conversor abaixador de tensão nos modos contínuo e
descontínuo.

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1.2.3 Dimensionamento de L e de C
Da condição limite entre o modo contínuo e o descontínuo (ΔI=2.Iomin) , tem-se:

( E − Vo) ⋅ τ ⋅ δ
I o min = (1.14)
2⋅L

Se se deseja operar sempre no modo contínuo deve-se ter:

E ⋅ (1 − δ ) ⋅ δ ⋅ τ
L min = (1.15)
2 ⋅ Io min

Quanto ao capacitor de saída, este pode ser definido a partir da variação da tensão (ripple)
admitida. Enquanto a corrente pelo indutor for maior que Io (corrente na carga, suposta
constante) o capacitor se carrega e, quando for menor, o capacitor se descarrega, levando a uma
variação de tensão ΔVo.

1 ⎡ t T τ − t T ⎤ ΔI τ ⋅ ΔI Δ I Io i
ΔQ = ⋅ + ⋅ = (1.16) o
2 ⎢⎣ 2 2 ⎥⎦ 2 8
tT τ
A variação da corrente é:

(E − Vo)⋅ t T E ⋅ δ ⋅ τ ⋅(1 − δ)
ΔIo = = (1.17)
L L

Observe que ΔVo não depende da corrente. Substituindo (1.17) em (1.16) tem-se:

ΔQ τ 2 ⋅ E ⋅ δ ⋅(1 − δ)
ΔVo = = (1.18)
Co 8 ⋅ L ⋅ Co

Logo,

Vo ⋅(1 − δ)⋅ τ 2
Co = (1.19)
8 ⋅ L ⋅ ΔVo

1.3 Conversor elevador de tensão (step-up ou boost): Vo>E

Quando T é ligado, a tensão E é aplicada ao indutor. O diodo fica reversamente polarizado


(pois Vo>E). Acumula-se energia em L, a qual será enviada ao capacitor e à carga quando T
desligar. A figura 1.6 mostra esta topologia. A corrente de saída, Io, é sempre descontínua,
enquanto Ii (corrente de entrada) pode ser contínua ou descontínua. Tanto o diodo quanto o
transistor devem suportar uma tensão igual à tensão de saída, Vo.
Também neste caso tem-se a operação no modo contínuo ou no descontínuo,
considerando a corrente pelo indutor. As formas de onda são mostradas na figura 1.7.

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L io D
ii iT +
Ro
E T vT Co Vo

Figura 1.6 Conversor elevador de tensão

1.3.1 Modo de condução contínua


Quando T conduz: vL=E (durante tT)
Quando D conduz: vL=-(Vo-E) (durante τ-tT)

E ⋅ t T (Vo − E)⋅(τ − t T )
ΔIi = = (1.20)
L L

E
Vo = (1.21)
1− δ

Teoricamente, quando o ciclo de trabalho tende à unidade a tensão de saída tenda para
infinito. Na prática, os elementos parasitas e não ideais do circuito (como as resistências do
indutor e da fonte) impedem o crescimento da tensão acima de certo limite, no qual as perdas
nestes elementos resistivos se tornam maiores do que a energia transferida pelo indutor para a
saída.

Condução contínua Condução descontínua


tT tT t2 tx
ΔI Ii
ii
Ii

Io i D Io

iT

Vo Vo
v E
E T

0 τ τ
0
Figura 1.7 Formas de onda típicas de conversor boost com entrada CC

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1.3.2 Modo de condução descontínua


Quando T conduz: vL = E, (durante tT)
Quando D conduz: vL = -(Vo-E), durante (τ-tT-tx)

1 − tx τ
Vo = E ⋅ (1.22)
1 − δ − tx τ

Escrevendo em termos de variáveis conhecidas, tem-se:

E2 ⋅ τ ⋅ δ2
Vo = E + (1.23)
2 ⋅ L ⋅ Io

A relação saída/entrada pode ser reescrita como:

Vo δ2
= 1+ (1.24)
E 2⋅K

O ciclo de trabalho crítico, no qual há a passagem do modo de condução contínuo para o


descontínuo é dado por:

1± 1− 8 ⋅ K
δ crit = (1.25)
2

A figura 1.8 mostra a característica estática do conversor para diferentes valores de K. Na


figura 1.9 tem-se a variação da tensão de saída com a corrente de carga. Note-se que a condução
descontínua tende a ocorrer para pequenos valores de Io, levando à exigência da garantia de um
consumo mínimo. Existe um limite para Io acima do qual a condução é sempre contínua e a
tensão de saída não é alterada pela corrente. Este equacionamento e as respectivas curvas
consideram que a carga tem um funcionamento de consumo de corrente constante. Caso a carga
tenha um comportamento diverso (impedância constante ou potência constante), deve-se refazer
este equacionamento.
50

K=.01
40

30
Vo/E
cond. descontínua K=.02
20

10 K=.05

0
0 0.2 0.4 0.6 0.8

δ
Figura 1.8 Característica estática do conversor elevador de tensão nos modos de condução
contínua e descontínua, para diferentes valores de K.

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10

cond. contínua
6
δ=.8
Vo/E cond.
4 descontínua
δ=.6
2 δ=.4
δ=.2
0
0 0.04 0.08 0.12 0.16 0.2

Io E.τ
8.L
Figura 1.9 Característica de saída do conversor elevador de tensão,
normalizada em relação a (Eτ/L)

1.3.3 Dimensionamento de L e de C
O limiar para a condução descontínua é dado por:

ΔIi E ⋅ t T Vo ⋅(1 − δ)⋅δ ⋅ τ


Ii = = = (1.26)
2 2⋅L 2⋅L

ΔIi ⋅(τ − t T ) E ⋅ δ ⋅(1 − δ)⋅ τ


Io = = (1.27)
2⋅τ 2⋅L

E ⋅ δ ⋅(1 − δ)⋅ τ
L min = (1.28)
2 ⋅ Io(min)

Para o cálculo do capacitor deve-se considerar a forma de onda da corrente de saída.


Admitindo-se a hipótese que o valor mínimo instantâneo atingido por esta corrente é maior que a
corrente média de saída, Io, o capacitor se carrega durante a condução do diodo e fornece toda a
corrente de saída durante a condução do transistor.

Io(max)⋅δ ⋅ τ
Co = (1.29)
ΔVo

1.4 Conversor abaixador-elevador de tensão (buck-boost)

Neste conversor, a tensão de saída tem polaridade oposta à da tensão de entrada. A figura
1.10 mostra o circuito.
Quando T é ligado, transfere-se energia da fonte para o indutor. O diodo não conduz e o
capacitor alimenta a carga. Quando T desliga, a continuidade da corrente do indutor se faz pela
condução do diodo. A energia armazenada em L é entregue ao capacitor e à carga.
Tanto a corrente de entrada quanto a de saída são descontínuas. A tensão a ser suportada
pelo diodo e pelo transistor é a soma das tensões de entrada e de saída, Vo+E. A figura 1.11
mostra as formas de onda nos modos de condução contínua e descontínua (no indutor).

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vT
D
iT iD
T
E L Co Ro Vo

iL +

Figura 1.10 Conversor abaixador-elevador de tensão

1.4.1 Modo de condução contínua


Quando T conduz: vL=E, (durante tT)
Quando D conduz: vL=-Vo, (durante τ-tT)

E ⋅ t T Vo ⋅ (τ − t T )
= (1.30)
L L

E ⋅δ
Vo = (1.31)
1− δ

Condução contínua Condução descontínua

tT tT t2 tx
ΔI iL

Io i D Io

iT

E+Vo E+Vo
vT
E E

0 τ
0 τ
(a) (b)
Figura 1.11 Formas de onda do conversor abaixador-elevador de tensão operando em condução
contínua (a) e descontínua (b).

1.4.2 Modo de condução descontínua


Quando T conduz: vL = E, (durante tT)
Quando D conduz: vL = -Vo, durante (τ-tT-tx)

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E ⋅δ
Vo = (1.32)
1 − δ − tx τ

Escrevendo em termos de variáveis conhecidas, e sabendo que a corrente máxima de


entrada ocorre ao final do intervalo de condução do transistor:

E ⋅ tT
Ii max = (1.33)
L

Seu valor médio é:

Ii max ⋅ t T
Ii = (1.34)
2⋅τ

Do balanço de potência tem-se:

Io ⋅ Vo
Ii = (1.35)
E

O que permite escrever:

E2 ⋅ τ ⋅ δ2
Vo = (1.36)
2 ⋅ L ⋅ Io

Uma interessante característica do conversor abaixador-elevador quando operando no


modo descontínuo é que ele funciona como uma fonte de potência constante.

E2 ⋅ τ ⋅ δ2
Po = (1.37)
2⋅L

A relação saída/entrada pode ser reescrita como:

Vo δ2
= (1.38)
E 2⋅K

O ciclo de trabalho crítico, no qual há a passagem do modo de condução contínuo para o


descontínuo é dado por:

1± 1− 8 ⋅ K
δ crit = (1.39)
2

A figura 1.12 mostra a característica estática do conversor para diferentes valores de K.

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50

40 K=.01
cond. descontínua
30

Vo/E
20 K=.02

10 K=.05

0
0 0.2 0.4 0.6 0.8
δ
Figura 1.12 Característica estática do conversor abaixador-elevador de tensão nos modos de
condução contínua e descontínua, para diferentes valores de K.

Na figura 1.13 tem-se a variação da tensão de saída com a corrente de carga. Note-se que
a condução descontínua tende a ocorrer para pequenos valores de Io, levando à exigência da
garantia de um consumo mínimo. Existe um limite para Io acima do qual a condução é sempre
contínua e a tensão de saída não é alterada pela corrente. Este equacionamento e as respectivas
curvas consideram que a carga tem um funcionamento de consumo de corrente constante. Caso a
carga tenha um comportamento diverso (impedância constante ou potência constante), deve-se
refazer este equacionamento.
10

Vo/E cond. contínua


4 δ=.8

cond.
2
descontínua δ=.6
δ=.4
0 δ=.2
0 0.04 0.08 0.12 0.16 0.2

Io E. τ
8.L
Figura 1.13 Característica de saída do conversor abaixador-elevador de tensão, normalizada em
relação a (E.τ/L).

1.4.3 Cálculo de L e de C
O limiar entre as situações de condução contínua e descontínua é dado por:

ΔI L ⋅ (τ − t T ) Vo ⋅ (τ − t T ) ⋅ (1 − δ) Vo ⋅ τ ⋅ (1 − δ) 2
Io = = = (1.40)
2⋅τ 2⋅L 2⋅L

E ⋅ τ ⋅ δ ⋅(1 − δ)
L min = (1.41)
2 ⋅ Io(min)

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Fontes Chaveadas – Cap. 1 Topologias básicas de conversores CC-CC não-isolados J. A. Pomilio

Quanto ao capacitor, como a forma de onda da corrente de saída é a mesma do conversor


elevador de tensão, o cálculo também segue a expressão:

Io(max)⋅ τ ⋅ δ
Co = (1.42)
ΔVo

1.5 Conversor Ćuk

Diferentemente dos conversores anteriores, no conversor Ćuk, cuja topologia é mostrada


na figura 1.14, a transferência de energia da fonte para a carga é feita por meio de um capacitor,
o que torna necessário o uso de um componente que suporte correntes relativamente elevadas.
Como vantagem, existe o fato de que tanto a corrente de entrada quanto a de saída podem
ser contínuas, devido à presença dos indutores. Além disso, ambos indutores estão sujeitos ao
mesmo valor instantâneo de tensão, de modo que é possível construí-los num mesmo núcleo. Este
eventual acoplamento magnético permite, com projeto adequado, eliminar a ondulação de
corrente em um dos enrolamentos. Os interruptores devem suportar a soma das tensões de entrada
e saída.
A tensão de saída apresenta-se com polaridade invertida em relação à tensão de entrada.
I L1 V I L2
+ C1 -

L1 C1 L2 Ro

E Co Vo
S D

Figura 1.14 Conversor Ćuk

Em regime, como as tensões médias sobre os indutores são nulas, tem-se: VC1=E+Vo.
Esta é a tensão a ser suportada pelo diodo e pelo transistor.
Com o transistor desligado, iL1 e iL2 fluem pelo diodo. C1 se carrega, recebendo energia de
L1. A energia armazenada em L2 alimenta a carga.
Quando o transistor é ligado, D desliga e iL1 e iL2 fluem por T. Como VC1>Vo, C1 se
descarrega, transferindo energia para L2 e para a saída. L1 acumula energia retirada da fonte.
A figura 1.15 mostra as formas de onda de corrente nos modos de condução contínua e
descontínua. Note-se que no modo descontínuo a corrente pelos indutores não se anula, mas sim
ocorre uma inversão em uma das correntes, que irá se igualar à outra. Na verdade, a
descontinuidade é caracterizada pelo anulamento da corrente pelo diodo, fato que ocorre também
nas outras topologias já estudadas.

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Fontes Chaveadas – Cap. 1 Topologias básicas de conversores CC-CC não-isolados J. A. Pomilio

i Condução contínua Condução descontínua


L1 i L1
I1
Ix

i L2 i L2
I2

vC1 -Ix
tT t2 tx
V1
τ

tT
τ

Figura 1.15. Formas de onda do conversor Ćuk em condução contínua e descontínua

Assumindo que iL1 e iL2 são constantes, e como a corrente média por um capacitor é nula
(em regime), tem-se:

I L2 ⋅ t T = I L1 ⋅(τ − t T ) (1.43)

I L1 ⋅ E = I L2 ⋅ Vo

E ⋅δ
Vo = (1.44)
1− δ

Uma vez que a característica estática do conversor Ćuk é idêntica à do conversor


abaixador-elevador de tensão, as mesmas curvas características apresentadas anteriormente são
válidas também para esta topologia. A única alteração é que a indutância presente na expressão
do parâmetro de descontinuidade K é dada pela associação em paralelo dos indutores L1 e L2.
A relação saída/entrada pode ser reescrita como:

Vo δ2
= (1.45)
E 2 ⋅ Ke

Definindo o parâmetro K, que se relaciona com a descontinuidade, como sendo:

Le ⋅ Io L1 ⋅ L 2
Ke = e Le =
E⋅τ L1 + L 2

O ciclo de trabalho crítico, no qual há a passagem do modo de condução contínuo para o


descontínuo é dado por:

1 ± 1 − 8 ⋅ Ke
δcrit =
2

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1.5.1 Dimensionamento de C1
C1 deve ser tal que não se descarregue totalmente durante a condução de T. Considerando
iL1 e iL2 constantes, a variação da tensão é linear. A figura 1.16 mostra a tensão no capacitor numa
situação crítica (ripple de 100%). Caso se deseje uma ondulação de tensão de 10%, basta utilizar
um capacitor 10 vezes maior do que o dado pela equação 1.48.

v
C1

2V
C1

V
C1

tT τ t
Figura 1.16. Tensão no capacitor intermediário numa situação crítica.

VC1 = E + Vo (1.46)

Na condição limite:

2 ⋅(E + Vo)
Io = I L2 = C1 ⋅ (1.47)
tT

Io(max)⋅δ ⋅(1 − δ)⋅ τ


C1 min = (1.48)
2⋅E

1.5.2 Dimensionamento de L1
Considerando C1 grande o suficiente para que sua variação de tensão seja desprezível, L1
deve ser tal que não permita que iL1 se anule. A figura 1.17 mostra a corrente por L1 numa
situação crítica.

L 1 ⋅ I L1 max
E= (1.49)
tT

I L1 max
Ii = I L1 = (1.50)
2

E+Vo
+ i
L1
L1
I
E L1max

t τ
T
Figura 1.17 Corrente por L1 em situação crítica.

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Quando T conduz:

E ⋅ tT
L1 = (1.51)
2 ⋅ Ii

E⋅τ⋅δ
L 1 min = (1.52)
2 ⋅ Io(min)

1.5.3 Cálculo de L2
Analogamente à análise anterior, obtém-se para L2:

E⋅δ⋅τ
L 2 min = (1.53)
2 ⋅ Io(min)

1.5.4 Cálculo de C (capacitor de saída)


Para uma corrente de saída contínua, o dimensionamento de C é idêntico ao realizado para
o conversor abaixador de tensão

E ⋅ δ ⋅ τ2
Co = (1.54)
8 ⋅ L 2 ⋅ ΔVo

1.6 Conversor SEPIC

O conversor SEPIC (Single Ended Primary Inductance Converter) é mostrado na figura


1.18. Possui uma característica de transferência do tipo abaixadora-elevadora de tensão.
Diferentemente do conversor Ćuk, a corrente de saída é pulsada. Os interruptores ficam sujeitos a
uma tensão que é a soma das tensões de entrada e de saída e a transferência de energia da entrada
para a saída se faz via capacitor.
O funcionamento no modo descontínuo também é igual ao do conversor Ćuk, ou seja, a
corrente pelo diodo de saída se anula, de modo que as correntes pelas indutâncias se tornam
iguais. A tensão a ser suportada pelo transistor e pelo diodo é igual a Vo+E.

+ E -
+
L1 C1 D
i L1 i L2
Vo
E L2 Co
T
Ro

Figura 1.18 Topologia do conversor SEPIC.

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1.7 Conversor Zeta

O conversor Zeta, cuja topologia está mostrada na figura 1.19, também possui uma
característica abaixadora-elevadora de tensão. Na verdade, a diferença entre este conversor, o
Ćuk e o SEPIC é apenas a posição relativa dos componentes.
Aqui a corrente de entrada é descontínua e a de saída é continua. A transferência de
energia se faz via capacitor. A operação no modo descontínuo também se caracteriza pela
inversão do sentido da corrente por uma das indutâncias. A posição do interruptor permite uma
natural proteção contra sobre-correntes. A tensão a ser suportada pelo transistor e pelo diodo é
igual a Vo+E.

- Vo + i L2

T C1 L2
+
L1 D Co Vo
E

i L1 Ro

Figura 1.19 Topologia do conversor Zeta.

1.8 Consideração sobre a máxima tensão de saída no conversor elevador de tensão

Pelas funções indicadas anteriormente, tanto para o conversor elevador de tensão quanto
para o abaixador-elevador (e para o Ćuk, SEPIC e Zeta), quando o ciclo de trabalho tende à
unidade, a tensão de saída tende a infinito. Nos circuitos reais, no entanto, isto não ocorre, uma
vez que as componentes resistivas presentes nos componentes, especialmente nas chaves, na
fonte de entrada e nos indutores, produzem perdas. Tais perdas, à medida que aumenta a tensão
de saída e, consequentemente, a corrente, tornam-se mais elevadas, reduzindo a eficiência do
conversor. As curvas de Vo x δ se alteram e passam a apresentar um ponto de máximo, o qual
depende das perdas do circuito.
A figura 1.20 mostra a curva da tensão de saída normalizada em função da largura do
pulso para o conversor elevador de tensão.
Se considerarmos as perdas relativas ao indutor e à fonte de entrada, podemos redesenhar
o circuito como mostrado na figura 1.21.
Para tal circuito, a tensão disponível para alimentação do conversor se torna (E-Vr),
podendo-se prosseguir a análise a partir desta nova tensão de entrada. A hipótese é que a
ondulação da corrente pelo indutor é desprezível, de modo a se poder supor Vr constante.
O objetivo é obter uma nova expressão para Vo, em função apenas do ciclo de trabalho e
das resistências de carga e de entrada. O resultado está mostrado na figura 1.22.

E − Vr
Vo = (1.55)
1− δ

Vr = R L ⋅ Ii
(1.56)
Vo = Ro ⋅ Io

Io = Ii ⋅(1 − δ) (1.57)

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R L ⋅ Io R L ⋅ Vo
Vr = = (1.58)
1− δ (1 − δ)⋅ Ro

R L ⋅ Vo
E−
(1 − δ)⋅ Ro E R L ⋅ Vo
Vo = = − (1.59)
1− δ 1 − δ Ro ⋅(1 − δ) 2

Vo 1− δ
= (1.60)
E 2 R
(1 − δ) + L
Ro

40

Vo( d )
20

0 0.2 0.4 0.6 0.8


d
Figura 1.20 Característica estática de conversor elevador de tensão no modo contínuo.

Vr
Ii

RL L Io

E E-Vr Co +
Ro Vo

Figura 1.21 Conversor elevador de tensão considerando a resistência do indutor.

Vo( d )
2

0
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1
d

Figura 1.22. Característica estática de conversor elevador de tensão, no modo contínuo,


considerando as perdas devido ao indutor.

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1.9 Exercícios

1. Para o conversor abaixador-elevador de tensão, em condução contínua, obtenha uma


expressão para a relação Vo/E considerando as perdas devido à resistência do indutor.

2. Para um conversor Ćuk, considere os seguintes valores: E=48V, Vo=36V, Ro=9Ω,


fchav=64kHz, L1=10mH, L2=1mH, Co=100uF; rendimento de 100%.
a) Determine se o conversor está operando no MCC ou no MCD.
b) Calcule o ciclo de trabalho no ponto de operação.
c) Determine o valor do capacitor intermediário (C1), de modo que a ondulação de tensão sobre
ele seja de 0,5V (pico a pico).
d) Determine o valor da corrente média de entrada e a sua ondulação (pico-a-pico).

3. Considere o circuito mostrado ao lado, supondo que


C1
a tensão de entrada (E) está aplicada entre os pontos A B
A (positivo) e B. A tensão de saída, Vo, está entre os L1 L2
pontos C (positivo) e B. Considere os seguintes I1 I2
dados: E=300V, δ=0,5, Ro=100Ω.

a) Determine a característica estática entre a tensão de


saída e a tensão de entrada, supondo funcionamento
Io
no MCC, em função do ciclo de trabalho. Indique as C
suposições necessárias.

b) Determine as seguintes grandezas: Tensão de saída; potência de entrada; correntes médias nos
indutores L1 e L2. Suponha o capacitor de saída grande o suficiente para que Vo seja
praticamente constante.

4. Para o conversor cc-cc mostrado no circuito ao lado,


a) Identifique, por inspeção, a polaridade da tensão de saída e a Ro
Vo
tensão média que há sobre o capacitor C1.
b) Determine a característica estática entre a tensão de saída e a
tensão de entrada, supondo funcionamento no MCC, em
função do ciclo de trabalho. Indique as suposições necessárias. L1
Comente sobre as eventuais restrições sobre o ciclo de D
trabalho para que seja possível o funcionamento desta
topologia.
E
c) Considere os seguintes dados: E=10V, δ=0,75, Ro=10Ω. C1
Determine as seguintes grandezas: Tensão de saída; potência S L2
de entrada; correntes médias de entrada (na fonte), de saída (no
diodo), em L1 e em L2. Suponha o capacitor de saída grande o
suficiente para que Vo seja praticamente constante.

5. Para um conversor elevador de tensão (boost), considere os seguintes valores: E=100V,


Ro=200Ω, fchav=10 kHz, L=1 mH, Co=47 uF; δ=0,5; eficiência de 100%.
e) Determine se o conversor está operando no MCC ou no MCD.
f) Calcule a tensão média de saída;
g) Determine o valor da ondulação da corrente pelo indutor (pico-a-pico);
h) Determine o intervalo em que não há corrente no circuito (tx).

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Fontes Chaveadas – Cap. 1 Topologias básicas de conversores CC-CC não-isolados J. A. Pomilio

6. O circuito abaixo representa uma fonte chaveada do tipo abaixadora de tensão. O transistor é
comandado por um pulso quadrado com largura 50%, em 25 kHz. Deseja-se obter 10 V na saída,
com um ripple de tensão de 1%. A corrente nominal de saída é de 5 A. Os pulsos de comando do
transistor devem variar entre -15 e +15V, com tempos de subida e de descida de 100ns.
a) Calcule e use na simulação a indutância para operar no MCC com uma corrente de saída de
1 A.
b) Calcule o capacitor de filtro para o ripple de tensão indicado.
c) Simule o circuito, pelo menos por 10 ms, partindo de condições iniciais nulas tanto no
indutor quanto no capacitor, e verifique se os valores teóricos correspondem aos simulados.
Explique eventuais discrepâncias. Inicialmente a carga deve corresponder a uma corrente
de 5 A e, em seguida, alterar para 1 A (valores médios).
d) Calcule o valor da tensão de saída, caso se opere no MCD com corrente média de saída de
0,5 A.
e) Simule o circuito, agora no MCD, partindo de condições iniciais nulas tanto no indutor
quanto no capacitor, e verifique se os valores teóricos correspondem aos simulados.
Determine o valor de R1 considerando o valor esperado para a nova tensão de saída e a
corrente média desejada. Explique eventuais discrepâncias.

7. Demonstre que o valor da capacitância de saída de um conversor buck-boost, operando no


2
Io ⋅ τ ⎛ K ⎞
MCD, é dado por: C o = ⋅ ⎜1 − ⎟ .
ΔVo ⎝ δ⎠

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Fontes Chaveadas – Cap. 2 Topologias básicas de conversores CC-CC com isolação J. A. Pomilio

2 Topologias básicas de conversores CC-CC com isolação

Em muitas aplicações é necessário que a saída esteja eletricamente isolada da entrada,


fazendo-se uso de transformadores. Em outros casos, o uso de transformadores é conveniente
para evitar, dados os valores de tensões de entrada e de saída, o emprego de ciclos de trabalho
muito estreitos ou muito largos.
Em alguns casos o uso desta isolação implica na alteração do circuito para permitir um
adequado funcionamento do transformador, ou seja, para evitar a saturação do núcleo magnético.
Relembre-se que não é possível interromper o fluxo magnético produzido pela força magneto-
motriz aplicada aos enrolamentos.

2.1 Diferenças entre um transformador e indutores acoplados

Em um elemento magnético a grandeza que não admite descontinuidade é o fluxo


magnético. De acordo com a lei de Faraday, a variação do fluxo magnético produz uma força

eletromotriz proporcional à taxa de variação deste fluxo: e = − . Deste modo, uma
dt
descontinuidade no fluxo produziria uma tensão infinita, o que não é possível. Na prática, a
tentativa de interrupção de um fluxo magnético produzido pela circulação de uma corrente, leva
ao surgimento uma tensão grande o suficiente para que a corrente (e o fluxo) não se interrompa.
Em outras palavras, a energia acumulada no campo magnético não pode desaparecer
instantaneamente. No caso ilustrado na figura 2.1, o aumento da tensão produzido pela tentativa
de abertura do interruptor leva ao surgimento de um arco que dá continuidade à corrente (e ao
⎛ L⋅I2 ⎞
fluxo) e dissipa a energia anteriormente acumulada no campo magnético ⎜⎜ ⎟⎟ .
⎝ 2 ⎠

i arco
i e’
e’ I
E L E L
R R
t
Figura 2.1 Processo de interrupção de corrente (fluxo magnético).

Quando se analisa um circuito elétrico, resulta da lei de Faraday a equação do indutor:


di
vL = L ⋅ . No entanto, a grandeza física que não admite descontinuidade é o fluxo magnético e
dt
não a corrente. Em um indutor simples, fluxo e corrente são associados pela indutância
( Φ = L ⋅ i ).
Alguns dispositivos magnéticos, no entanto, podem dispor de mais de um enrolamento
pelo qual é possível circular corrente e, desta forma, contribuir para a continuidade do fluxo
magnético.

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Fontes Chaveadas – Cap. 2 Topologias básicas de conversores CC-CC com isolação J. A. Pomilio

2.1.1 Funcionamento de um transformador


Considere-se a figura 2.2 que mostra um elemento magnético que possui dois
enrolamentos com espiras N1 e N2, colocados em um mesmo núcleo ferromagnético.
Suponhamos que o acoplamento dos fluxos magnéticos produzidos por estes enrolamentos seja
perfeito (dispersão nula).
A polaridade dos enrolamentos está indicada pelos “pontinhos”. Esta representação
significa que uma tensão positiva e1 produz uma tensão também positiva e2. Outra interpretação
útil, relativa à circulação de correntes, é que correntes que entram pelos terminais marcados
produzem fluxos no mesmo sentido.
Xi ii

Vi e1 e2 Vs

N1 N2
Figura 2.2 Princípio de funcionamento de transformador: secundário em aberto.

Com o secundário aberto, pelo primário circulará apenas uma pequena corrente, chamada
de corrente de magnetização. Todas as tensões e correntes são supostas senoidais. O valor eficaz
da tensão aplicada no primário, e1, é menor do que a tensão de entrada Vi. A corrente de
magnetização produz um fluxo de magnetização no núcleo, Φm.

Vi − e1
ii = (2.1)
Xi

N2
e2 = e1 ⋅ (2.2)
N1

Quando se conecta uma carga no secundário, inicia-se uma circulação de corrente por tal
enrolamento. A corrente do secundário produz um fluxo magnético que se opõe ao fluxo criado
pela corrente de magnetização. Isto leva a uma redução do fluxo no núcleo. Pela lei de Faraday,
ocorre uma redução na tensão e1. Conseqüentemente, de acordo com (2.1), há um aumento na
corrente de entrada, ii, de modo que se re-equilibre o fluxo de magnetização. Este comportamento
está ilustrado na figura 2.3.
Xi ii is

Vi e1 e2 Rs

N1 N2
Figura 2.3 Princípio de funcionamento de transformador: secundário com carga.

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Fontes Chaveadas – Cap. 2 Topologias básicas de conversores CC-CC com isolação J. A. Pomilio

Verifica-se assim o processo que leva à reflexão da corrente da carga para o lado do
primário, o qual se deve à manutenção do fluxo de magnetização do núcleo do transformador.
Um dispositivo magnético comporta-se como um transformador quando existirem, ao
mesmo tempo, correntes em mais de um enrolamento, de maneira que o fluxo de magnetização
seja essencialmente constante.

2.1.2 Funcionamento de indutores acoplados


Outro arranjo possível para enrolamentos acoplados magneticamente é aquele em que a
continuidade do fluxo é feita pela passagem de corrente ora por um enrolamento, ora por outro,
garantindo-se um sentido de correntes que mantenha a continuidade do fluxo. Este é o que ocorre
em um conversor fly-back, como será visto a seguir.
Para um mesmo valor de potência a ser transferido de um enrolamento para outro, o
volume de um transformador será inferior ao de indutores acoplado, essencialmente devido ao
melhor aproveitamento da excursão do fluxo magnético em ambos sentidos da curva Φ x i (ou B
x H).
Com indutores acoplados a variação do fluxo é normalmente em um único quadrante do
plano B x H.

2.2 Conversor fly-back (derivado do abaixador-elevador)


O elemento magnético comporta-se como um indutor bifilar e não como um
transformador. Quando T conduz, armazena-se energia na indutância do "primário" (em seu
campo magnético) e o diodo fica reversamente polarizado. Quando T desliga há uma perturbação
no fluxo, o que gera uma tensão que se elevará até que surja um caminho que dê surgimento à
passagem de uma corrente que leve a manter a continuidade do fluxo.
Podem existir diversos caminhos que permitam a circulação de tal corrente. Aquele que
efetivamente se efetivará é o que surge com a menor tensão.
No caso do circuito estudado, tal caminho se dará através do diodo que entra em condução
assim que o transistor desliga. Para tanto a tensão no “secundário”, e2 deverá de elevar até o nível
de Vo.
A energia acumulada no campo magnético é enviada à saída. A figura 2.4 mostra o
circuito.
Note-se que as correntes médias nos enrolamentos não são nulas, levando à necessidade
de colocação de entreferro no "transformador".
D
T

E e2 Co Vo
L1

N1 N2
Figura 2.4 Conversor fly-back

A tensão de saída, no modo de condução contínua, é dada por:

N2 E ⋅ δ
Vo = ⋅ (2.3)
N1 (1 − δ)

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2.3 Conversor Cuk


Neste circuito a isolação se faz pela introdução de um transformador no circuito.
Utilizam-se 2 capacitores para a transferência da energia da entrada para a saída. A figura 2.5
mostra o circuito. A tensão sobre o capacitor C1 é a própria tensão de entrada, enquanto sobre C2
tem-se a tensão de saída.

N1 N2
L1 L2
C1 C2
E T Co
V1 V2 D Vo

Figura 2.5 Conversor Cuk com isolação

A tensão de saída, no modo contínuo de condução, é dada por:

N2 E ⋅ δ
Vo = ⋅ (2.4)
N1 (1 − δ)

O balanço de carga deve se verificar para C1 e C2. Com N1=N2, C1=C2, tendo o dobro
do valor obtido pelo método de cálculo indicado anteriormente no circuito sem isolação. Para
outras relações de transformação deve-se obedecer a N1.C1=N2.C2, ou V1.C1=V2.C2.
Note que quando T conduz a tensão em N1 é VC1=E (em N2 tem-se VC1.N2/N1). Quando
D conduz, a tensão em N2 é VC2=Vo (em N1 tem-se VC2.N1/N2). A corrente pelos enrolamentos
não possui nível contínuo e o dispositivo comporta-se, efetivamente, como um transformador.

2.4 Conversor forward (derivado do abaixador de tensão)


O comportamento abaixador de tensão está associado ao estágio de saída, incluindo o diodo
D3, indutor L e capacitor Co. Do funcionamento desta parte do circuito determina-se se o
conversor deve ser analisado em condução contínua ou condução descontínua.
Quando T conduz, aplica-se E em N1. D1 fica diretamente polarizado e cresce a corrente
por L. Quando T desliga, a corrente do indutor de saída tem continuidade via D3.
O elemento magnético possui três enrolamentos. De N1 para N3 se dá a transferência de
energia da fonte para a carga. Já o enrolamento N2 tem como função desmagnetizar o núcleo a
cada ciclo, no intervalo em que o transistor permanece desligado Durante este intervalo tem-se a
condução de D2 e se aplica uma tensão negativa em N2, ocorrendo um retorno de toda energia
associada à corrente de magnetização para a fonte. A figura 2.6 mostra o circuito.

D2 D1 L

T
. . +
E D3 Co Vo

.
N1 N2 N3
Figura 2.6 Conversor forward

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Fontes Chaveadas – Cap. 2 Topologias básicas de conversores CC-CC com isolação J. A. Pomilio

Existe um máximo ciclo de trabalho que garante a desmagnetização do transformador


(tensão média nula), o qual depende da relação de espiras existente. A figura 2.7 mostra o circuito
equivalente no intervalo de desmagnetização.
As tensões no enrolamento N1, respectivamente quando o transistor e o diodo D2
conduzem, são:

E ⋅ N1
VN1 = E 0 ≤ t ≤ tT e VN1 = t T ≤ t ≤ t2 (2.5)
N2

E
T . VN1
N1 E
A1
. tT
t2
τ t
N2 A2
D2
E.N1/N2 A1=A2

Figura 2.7 Forma de onda no enrolamento de N1.

Outra possibilidade, que prescinde do enrolamento de desmagnetização, é a introdução de


um diodo zener no secundário, pelo qual circula a corrente no momento do desligamento de T.
Esta solução, mostrada na figura 2.8, no entanto, provoca uma perda de energia sobre o zener,
além de limitar o ciclo de trabalho em função da tensão.

..
E

Figura 2.8 Conversor forward com desmagnetização por diodo zener.

2.5 Conversor push-pull


O conversor push-pull é, na verdade, um arranjo de 2 conversores forward, trabalhando
em contra-fase, conforme mostrado na figura 2.9.
Quando T1 conduz (considerando as polaridades dos enrolamentos), nos secundários
aparecem tensões como as indicadas na figura 2.10. D2 conduz simultaneamente, mantendo nulo
o fluxo no transformador (desconsiderando a magnetização).
Note que no intervalo entre as conduções dos transistores, os diodos D1 e D2 conduzem
simultaneamente (no instante em que T1 é desligado, o fluxo nulo é garantido pela condução de
ambos os diodos, cada um conduzindo metade da corrente), atuando como diodos de livre-
circulação e curto-circuitando o secundário do transformador.
A tensão de saída é dada por:

2 ⋅ E ⋅ δ1
Vo = e δ1 = δ 2 (2.6)
n

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Fontes Chaveadas – Cap. 2 Topologias básicas de conversores CC-CC com isolação J. A. Pomilio

Vce1
i c1 i D1

T1 ..
D1
. L io
. +

V1=E E/n Co Ro

. .. .. .
E E/n

T2 i c2 iD2 D2
Figura 2.9 Conversor push-pull.

O ciclo de trabalho deve ser menor que 0,5 de modo a evitar a condução simultânea dos
transistores. n é a relação de espiras do transformador.
Os transistores devem suportar uma tensão com o dobro do valor da tensão de entrada.
Outro problema deste circuito refere-se à possibilidade de saturação do transformador caso a
condução dos transistores não seja idêntica (o que garante uma tensão média nula aplicada ao
primário). A figura 2.10 mostra algumas formas de onda do conversor.
V1
+E
δ1
δ2
Ic1 -E

T1/D2 D1/D2 T2/D1 D1/D2


i D1

Vce1 2E
E

io
Io

τ
Figura 2.10 Formas de onda do conversor push-pull.

2.6 Conversor em meia-ponte


Uma alteração no circuito que permite contornar ambos inconvenientes do conversor
push-pull leva ao conversor com topologia em meia ponte, mostrado na figura 2.11. Neste caso é
preciso ter um ponto médio na alimentação, o que faz com que os transistores tenham que
suportar 50% da tensão do caso anterior, embora a corrente seja o dobro.
O uso de um capacitor de desacoplamento garante uma tensão média nula no primário do
transformador. Este capacitor deve ser escolhido de modo a evitar ressonância com o indutor de
saída e, ainda, para que sobre ele não recaia uma tensão maior que alguns porcento da tensão de
alimentação (durante a condução de cada transistor).

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Fontes Chaveadas – Cap. 2 Topologias básicas de conversores CC-CC com isolação J. A. Pomilio

.
E/2 . . L
.
T1 .. +

. . . Co
Vo

E/2 .. .
T2 .
Figura 2.11 Conversor em meia-ponte

2.7 Conversor em ponte completa


Pode-se obter o mesmo desempenho do conversor em meia ponte, sem o problema da
maior corrente pelo transistor, com o conversor em ponte completa. O preço é o uso de 4
transistores, como mostrado na figura 2.12.

.
. .
. . L
.
T1 . T2
..
+

. Co
Vo

E .. .
.
. .
T3 . T4 .
.
Figura 2.28 Conversor em ponte completa.

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Fontes Chaveadas – Cap. 2 Topologias básicas de conversores CC-CC com isolação J. A. Pomilio

2.8 Exercícios

1. Para o conversor forward, com 3 enrolamentos, N1=100, N3=40 (enrolamento de


desmagnetização), Tensão de entrada E=20V. N2 (número de espiras do enrolamento de saída)
não é conhecido. Suponha condução contínua no indutor de saída
a) Desenhe a forma de onda em N3, para a situação de máximo ciclo de trabalho, indicando
valores na escala vertical.
b) Determine o máximo ciclo de trabalho.
c) Determine a mínima tensão de bloqueio que o transistor deve suportar.
d) Qual o número de espiras do enrolamento N2 caso se deseje uma tensão de saída de 12V para
um ciclo de trabalho de 50%?

2. Simule o circuito abaixo com uma freqüência de chaveamento de 25kHz, largura de pulso de
50%. A relação de espiras do elemento magnético é de 1:10. Analise os valores das
grandezas listadas abaixo e verifique se o resultado da simulação é consistente com as
expectativas teóricas. Em caso de discrepância, procure justificar as diferenças.
a) Tensão de saída.
b) Ondulação da tensão de saída.
c) Tensão sobre o indutor L1.
d) Ondulação da corrente em L1 e em L2 (considere apenas os intervalos em que há corrente
no transistor e no diodo, respectivamente).
e) Tensão Vce do transistor.
f) Altere o acoplamento dos indutores para 0.95 e repita a simulação e as análises anteriores,
justificando as eventuais alterações de resultados.

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Fontes Chaveadas – Cap. 2 Topologias básicas de conversores CC-CC com isolação J. A. Pomilio

3. Calcule os seguintes parâmetros: L5, L1, L2, C1, δ, para o conversor forward abaixo.
Simule o circuito e verifique se os resultados são consistentes com a expectativa. Justifique
eventuais discrepâncias.
• O circuito opera no modo de condução contínua.
• Tensão de saída de 12V
• Ripple da corrente de saída (em L5) igual a 4 A (pico a pico)
• Ripple da tensão de saída de 1%.
• Relação de espiras entre L1 e L3 é N1=10.N3.
• L2 deve ser tal que garanta a desmagnetização total do núcleo durante a condução de D3.
• A freqüência de chaveamento é de 20 kHz.

4. Utilizando o circuito do exercício anterior, aumente a largura de pulso para 60% e refaça a
simulação. Discuta as alterações nos resultados.

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Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

3. CONVERSORES CA-CC - RETIFICADORES

Este capítulo se inicia com uma revisão de alguns conceitos básicos dos retificadores.
Este assunto já deve ter sido objeto de estudo em cursos de graduação, razão pela qual não se faz
uma análise aprofundada dos mesmos. O foco deste tópico é estudar novas estruturas de
retificadores e suas aplicações.
O fornecimento de energia elétrica é feito, essencialmente, a partir de uma rede de
distribuição em corrente alternada, devido, principalmente, à facilidade de adaptação do nível de
tensão por meio de transformadores.
Em muitas aplicações, no entanto, a carga alimentada exige uma tensão contínua. A
conversão CA-CC é realizada por conversores chamados retificadores.
Os retificadores podem ser classificados segundo a sua capacidade de ajustar o valor da
tensão de saída (controlados x não controlados); de acordo com o número de fases da tensão
alternada de entrada (monofásico, trifásico, hexafásico, etc.); em função do tipo de conexão dos
elementos retificadores (meia ponte x ponte completa).
Os retificadores não-controlados são aqueles que utilizam diodos como elementos de
retificação, enquanto os controlados utilizam tiristores ou transistores.
Usualmente topologias em meia ponte não são aplicadas. A principal razão é que, nesta
conexão, a corrente média da entrada apresenta um nível médio diferente de zero. Tal nível
contínuo pode levar elementos magnéticos presentes no sistema (indutores e transformadores) à
saturação, o que é prejudicial ao sistema. Topologias em ponte completa absorvem uma corrente
média nula da rede, não afetando, assim, tais elementos magnéticos.
A figura 3.1 mostra o circuito e as formas de onda com carga resistiva para um retificador
monofásico com topologia de meia-ponte, também chamado de meia-onda.

Corrente média de entrada


Vo
Vi=Vp.sen(wt) +

Vo
Tensão de entrada
0V

Figura 3.1 Topologia e formas de onda (com carga resistiva) de retificador monofásico não-
controlado, meia-onda.

3.1 Retificadores não controlados


A figura 3.2 mostra topologias de retificadores a diodo (não-controlados). Neste caso não
há possibilidade de controlar a tensão de saída devido à ausência de interruptores controláveis.
Têm-se os três tipos básicos de carga: resistiva, capacitiva e indutiva.
Com carga resistiva (fig. 3.2.a) as formas de onda da tensão e da corrente na saída do
retificador e na carga são as mesmas, como mostrado na figura 3.3. A corrente de entrada
apresenta-se com a mesma forma e fase da tensão.
Um retificador com carga capacitiva (fig. 3.2.B) faz com que a tensão de saída apresente-
se alisada, elevando o seu valor médio em relação à carga resistiva. O capacitor carrega-se com a
tensão de pico da entrada (desprezando a queda nos diodos). Quando a tensão de entrada se torna
menor do que a tensão no capacitor os diodos ficam bloqueados e a corrente de saída é fornecida
exclusivamente pelo capacitor, o qual vai se descarregando, até que, novamente, a tensão de

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Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

entrada fique maior, recarregando o capacitor. A forma de onda da corrente de entrada é muito
diferente de uma senóide, apresentando pulsos de corrente nos momentos em que o capacitor é
recarregado, como mostrado na figura 3.4.
Para o retificador com carga indutiva (fig. 3.2.C), a carga se comporta como uma fonte de
corrente. Dependendo do valor da indutância, a corrente de entrada pode apresentar-se quase
como uma corrente quadrada, como mostrado na figura 3.5. Para valores reduzidos de
indutância, a corrente tende a uma forma que depende do tipo de componente à sua jusante. Se
for apenas uma resistência, tende a uma senóide. Se for um capacitor, tende à forma de pulso,
mas apresentando uma taxa de variação (di/dt) reduzida.

+ + + +

Vr
Vp.sin(ωt) Vo=Vr Vp.sin(ωt) Vo Vp.sin(ωt) Vo

(a) (b) (c)

Figura 3.2 Retificadores monofásicos não-controlados, de onda-completa.


200V
Tensão na saída

100V

0V

200V
Tensão na entrada

0V

-200V
0s 5ms 10ms 15ms 20ms 25ms 30ms 35ms 40ms

Figura 3.3. Formas de onda para retificador com carga resistiva.

Corrente de entrada

Tensão de saída (Vo)

Tensão de entrada

Figura 3.4 Formas de onda para retificador monofásico não-controlado, onda completa, com
carga capacitiva.

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Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

Tensão de entrada

Corrente de entrada
resistivo dominante

capacitivo dominante indutivo dominante

Figura 3.5. Formas de onda no lado CA para retificador monofásico, onda-completa, não-
controlado, alimentando carga indutiva.

3.1.1 Retificadores não-controlados com entrada trifásica


Quando a potência da carga alimentada se eleva, via de regra são utilizados retificadores
trifásicos, como mostra a figura 3.6, a fim de, distribuindo a corrente entre as 3 fases, evitar
desequilíbrios que poderiam ocorrer caso a corrente fosse consumida de apenas 1 ou 2 fases.
Neste caso a corrente é fornecida, a cada intervalo de 60 graus, por apenas 2 das 3 fases.
Poderão conduzir aquelas fases que tiverem, em módulo, as 2 maiores tensões. Ou seja, a fase
que for mais positiva, poderá levar o diodo a ela conectado, na semi-ponte superior, à condução.
Na semi-ponte inferior poderá conduzir o diodo conectado às fase com tensão mais negativa.
Pela fase com tensão intermediária não haverá corrente.
A figura 3.7 mostra formas de onda típicas considerando que o lado CC é composto,
dominantemente, por uma carga resistiva, indutiva ou capacitiva. No primeiro caso a corrente
segue a mesma forma da tensão sobre a carga, ou seja, uma retificação de 6 pulsos. Quando um
filtro indutivo é utilizado, tem-se um alisamento da corrente, de modo que a onda apresenta-se
praticamente retangular. Já com um filtro capacitivo (mantendo ainda uma pequena indutância
série), tem-se os picos de corrente. Com o aumento da indutância tem-se uma redução dos picos
e, eventualmente, a corrente não chega a se anular.

Lo
+ +

Vr
Co Vo

Figura 3.6 Retificador trifásico, onda completa, não controlado.

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Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

Tensão

carga dominante resistiva

carga dominante indutiva

carga dominante capacitiva

Figura 3.7 Formas de onda no lado CA para retificador trifásico, onda-completa, não-controlado,
alimentando diferentes tipos de carga.

3.4 Fator de Potência


A atual regulamentação brasileira do fator de potência estabelece que o mínimo fator de
potência (FP) das unidades consumidoras é de 0,92, com o cálculo feito por média horária. O
consumo de reativos além do permitido (0,425 varh por cada Wh) é cobrado do consumidor. No
intervalo entre 6 e 24 horas isto ocorre se a energia reativa absorvida for indutiva e das 0 às 6
horas, se for capacitiva.

3.4.1 Definição de Fator de Potência


Fator de potência é definido como a relação entre a potência ativa (P) e a potência
aparente (S) consumidas por um dispositivo ou equipamento, independentemente das formas que
as ondas de tensão e corrente apresentem, desde que sejam periódicas (período T).

1
P T∫ i
v ( t ) ⋅ ii ( t ) ⋅ dt
FP = = (3.1)
S VRMS ⋅ I RMS

Em um sistema com formas de onda senoidais, a equação anterior torna-se igual ao


cosseno da defasagem entre as ondas de tensão e de corrente:

FPsen o = cos φ (3.2)

Quando apenas a tensão de entrada for senoidal, o FP é expresso por:

I1
FPV = ⋅ cos φ1 (3.3)
sen o
I RMS
onde I1 é o valor eficaz da componente fundamental e φ1 é a defasagem entre esta componente da
corrente e a onda de tensão.
Neste caso, a potência ativa de entrada é dada pela média do produto da tensão (senoidal)
por todas as componentes harmônicas da corrente (não-senoidal). Esta média é nula para todas as
harmônicas exceto para a fundamental, devendo-se ponderar tal produto pelo cosseno da
defasagem entre a tensão e a primeira harmônica da corrente. Desta forma, o fator de potência é
expresso como a relação entre o valor eficaz da componente fundamental da corrente e a corrente
eficaz de entrada, multiplicada pelo cosseno da defasagem entre a tensão e a primeira harmônica
da corrente.

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Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

A relação entre as correntes é chamada de fator de forma e o termo em cosseno é


chamado de fator de deslocamento.
Por sua vez, o valor eficaz da corrente de entrada também pode ser expresso em função
das componentes harmônicas:


I RMS = I12 + ∑ I 2n (3.4)
n=2

Define-se a Taxa de Distorção Harmônica – TDH (em inglês, THD - Total Harmonic
Distortion) como sendo a relação entre o valor eficaz das componentes harmônicas da corrente e
o da fundamental:

∑I 2
n
n= 2
TDH = (3.5)
I1

Assim, o FP pode ser rescrito como:

cosφ1
FP = (3.6)
1 + TDH 2

É evidente a relação entre o FP e a distorção da corrente absorvida da linha. Neste


sentido, existem normas internacionais que regulamentam os valores máximos das harmônicas
de corrente que um dispositivo ou equipamento pode injetar na linha de alimentação.

3.4.2 Desvantagens do baixo fator de potência (FP) e da alta distorção da corrente


Consideremos aqui aspectos relacionados com o estágio de entrada de fontes de
alimentação. As tomadas da rede elétrica doméstica ou industrial possuem uma corrente eficaz
máxima que pode ser absorvida (tipicamente 15A nas tomadas domésticas).
A figura 3.8 mostra uma forma de onda típica de um circuito retificador alimentando um
filtro capacitivo. Notem-se os picos de corrente e a distorção provocada na tensão de entrada,
devido à impedância da linha de alimentação. O espectro da corrente (figura 3.9) mostra o
elevado conteúdo harmônico.
Nota-se que o baixo fator de potência da solução convencional (filtro capacitivo) é o
grande responsável pela reduzida potência ativa disponível para a carga alimentada.
Consideremos os dados comparativos da tabela 3.I.
Suponhamos uma tensão de alimentação de 120 V, sendo possível consumir 15 A de uma
dada tomada. A potência aparente máxima disponível é de 1800 VA.

Tabela 3.I: COMPARAÇÃO DA POTÊNCIA ATIVA DE SAÍDA


Convencional Com correção de FP
Potência disponível 1800 VA 1800 VA
Fator de potência 0,6 1
Eficiência do corretor de fator de potência 100% 95%
Eficiência da fonte 85% 85%
Potência disponível 918 W (51%) 1453 W (81%)

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Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

Podem ser citadas como desvantagens de um baixo FP e elevada distorção os seguintes


fatos:
• A máxima potência ativa absorvível da rede é fortemente limitada pelo FP;
• As harmônicas de corrente exigem um sobre-dimensionamento da instalação elétrica e dos
transformadores, além de aumentar as perdas (efeito pelicular);
• A componente de 3a harmônica da corrente, em sistema trifásico com neutro, pode ser muito
maior do que o normal;
• Deformação da onda de tensão, devido ao pico da corrente, além da distorção da forma de
onda, pode causar mau-funcionamento de outros equipamentos conectados à mesma rede;
• As componentes harmônicas podem excitar ressonâncias no sistema de potência, levando a
picos de tensão e de corrente, podendo danificar dispositivos conectados à linha.
10A

1.0A

100mA
0

10mA
-

1.0mA
0Hz 0.2KHz 0.4KHz 0.6KHz 0.8KHz 1.0KHz 1.2KHz 1.4KHz1.6KHz
-
0

Figura 3.8 Corrente de entrada e tensão de alimentação de retificador alimentando filtro


capacitivo e respectivo

3.5 Normas IEC 61000-3-2: Distúrbios causados por equipamento conectado à rede pública
de baixa tensão
Esta norma (cuja versão anterior era designada de IEC555-2) refere-se às limitações das
harmônicas de corrente injetadas na rede pública de alimentação. Aplica-se a equipamentos
elétricos e eletrônicos que tenham uma corrente de entrada de até 16 A por fase, conectado a
uma rede pública de baixa tensão alternada, de 50 ou 60 Hz, com tensão fase-neutro entre 220 e
240 V. Para tensões inferiores, os limites não foram ainda estabelecidos (1990). A Emenda 14,
de janeiro de 2001 inseriu algumas alterações nas definições das classes e nos métodos de
medidas, devendo vigorar a partir de 2004. Em 2006 tem-se uma nova edição e, em 2009, novas
emendas foram adicionadas. As emendas normalmente se referem à inclusão de procedimentos
classificatórios de equipamentos ou à definição de novos procedimentos de testes.
Em todas essas versões os equipamentos são classificados em quatro classes:

Classe A: Equipamentos com alimentação trifásica equilibrada e todos os demais não incluídos
nas classes seguintes.

Classe B: Ferramentas portáteis e equipamentos de soldagem não profissionais.

Classe C: Dispositivos de iluminação com potência acima de 25 W.


• Para potência igual ou inferior a 25W e exclusivamente para lâmpadas de descarga,
aplicam-se os limites da classe A ou ainda: a terceira harmônica da corrente, expressa
como uma porcentagem da corrente fundamental, não pode exceder 86% e a quinta
harmônica não deve exceder a 61%. Além disso, a forma de onda da corrente de entrada

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Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

deve estar em conformidade com a figura 3.9. Isto é, deve superar os 5% de limiar de
corrente antes ou em 60º, ter seu pico, antes ou em 65º e não cair abaixo do limiar de 5%
de corrente antes de 90º, com referência a qualquer cruzamento por zero da fundamental
da tensão de alimentação.
• Reguladores de intensidade para lâmpadas incandescentes (dimmer), aplicam os limites
da classe A.

Figura 3.9 Forma de onda referência de corrente para dispositivo de iluminação com lâmpada de
descarga e potência menor ou igual a 25W.

Classe D: Equipamentos de TV, computadores pessoais e monitores de vídeo. A potência ativa


de entrada deve ser igual ou inferior a 600W, medida esta feita obedecendo às condições de
ensaio estabelecidas na norma (que variam de acordo com o tipo de equipamento).

A Tabela 3.II indica os valores máximos para as harmônicas de corrente

Tabela 3.II: Limites para as Harmônicas de Corrente


Ordem da Classe A Classe B Classe C Classe D Classe D
Harmônica (n) Máxima corrente Máxima (>25W) % da (< 600 W) máximo
[A] corrente[A] fundamental [mA/W]
Harmônicas
Ímpares
3 2,30 3,45 30.FP 3,4 2,30
5 1,14 1,71 10 1,9 1,14
7 0,77 1,155 7 1,0 0,77
9 0,40 0,60 5 0,5 0,40
11 0,33 0,495 3 0,35 0,33
13 0,21 0,315 3 0,296 0,21
15<n<39 2,25/n 3,375/n 3 3,85/n 2,25/n
Harmônicas
Pares
2 1,08 1,62 2
4 0,43 0,645
6 0,3 0,45
8<n<40 1,83/n 2,76/n
FP: fator de potência

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Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

3.6 Norma IEEE Std. 519

Essa Norma estadunidense é bastante abrangente, tratando basicamente dos seguintes


assuntos:
• Definições e notação simbólica;
• Normas relacionadas e referências bibliográficas;
• Geração de harmônicas;
• Características de resposta do sistema;
• Efeitos das harmônicas;
• Compensação reativa e controle de harmônicas;
• Métodos de análise; medições
• Práticas recomendadas para consumidores individuais e para concessionárias;
• Metodologias recomendadas para avaliação de novas fontes harmônicas;
• Exemplos de aplicação.

Devido à extensão desses assuntos, destacam-se apenas alguns pontos principais, como
limites de correntes harmônicas para o consumidor e limites de tensões harmônicas globais para
o sistema (concessionárias), limites para notching e interferência telefônica.

a) Distorção Harmônica
Para consumidores, a Norma 519 estabelece limites de correntes harmônicas em função
do tamanho da carga em relação ao nível de curto-circuito local.

Tabela 3.III - Limites de distorção da corrente para consumidores

Icc/Icarga h<11 11<h<17 17<h<23 23<h<35 35<h DDT


<20 4 2 1.5 0.6 0.3 5
20-50 7 3.5 2.5 1 0.5 8
50-100 10 4.5 4 1.5 0.7 12
100-1000 12 5.5 5 2 1 15
>1000 15 7 6 2.5 1.4 20

Para essa tabela valem as seguintes definições:

Valores em % da corrente nominal. h = ordem da harmônica.


Icc = corrente de curto-circuito. DDT = distorção de demanda total= DHT/Imax.

DHT (Distorção Harmônica Total) é definida como sendo a relação de valores eficazes
(de tensões ou correntes) :

2
50
 Vh 
DHT = ∑
h=2
 
 V1 
(3.7)

onde Vh = valor eficaz da tensão de ordem harmônica h;


V1 = tensão eficaz da fundamental.

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Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

A Norma 519 recomenda para as concessionárias os seguintes limites harmônicos por


níveis de tensão:

Tabela 3.IV Limites de distorção de tensão para o sistema

Nível de tensão Máximo individual Máxima DHT


< 69kV 3% 5%
69kV - 138kV 1.5% 2.5%
> 138kV 1% 1.5%

b) Recortes (Notching)
A norma dá especial atenção às descontinuidades causadas pela comutação de chaves
eletrônicas ("notching"), que é uma distorção muito frequente provocada pelos conversores
eletrônicos usados para o acionamento de motores.

w
p rof= d /v.1 0 0 %
a rea = w .d

d v

Figura 3.10. Notching de comutação.

Tabela 3.V Limites para recortes de tensão

Notch Aplic. especiais Sistemas gerais Sistemas dedicados


Profundidade (d/v) 10% 20% 50%
Área (wxd) * 16400 V.us 22800 V.us 36500 V.us
DHT 3% 5% 10%
* em condições nominais de tensão e corrente

3.7 Retificadores com alto fator de potência


São apresentadas a seguir algumas possibilidades de melhoria no fator de potência de
retificadores não-controlados. Tais circuitos, no entanto, não serão objetos de estudos mais
aprofundados, sendo indicados a título de informação. Este item é estudado detalhadamente no
curso de Fontes Chaveadas.

3.7.1 Soluções passivas


Soluções passivas para a correção do FP oferecem características como robustez, alta
confiabilidade, insensibilidade a surtos, operação silenciosa. No entanto, existem diversas
desvantagens, tais como:
• São pesados e volumosos (em comparação com soluções ativas);
• Afetam as formas de onda na frequência fundamental;
• Alguns circuitos não podem operar numa larga faixa da tensão de entrada (90 a 240V);
• Não possibilitam regulação da tensão de saída;

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Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

• A resposta dinâmica é pobre.


A principal vantagem, óbvia, é a não-presença de elementos ativos.
A colocação de um filtro indutivo na saída do retificador (sem capacitor) produz uma
melhoria significativa do FP uma vez que, idealmente, é absorvida uma corrente quadrada da
rede, o que leva a um FP de 0,90. Como grandes indutâncias são indesejáveis, um filtro LC pode
permitir ainda o mesmo FP, mas com elementos significativamente menores. Obviamente a
presença do indutor em série com o retificador reduz o valor de pico com que se carrega o
capacitor (cerca de 72% num projeto otimizado). A figura 3.11 mostra a estrutura do filtro.

vac Carga

Figura 3.10 Filtro LC de saída

A figura 3.12 mostra as formas de onda relativas às correntes de entrada com filtro
capacitivo e com filtro LC. Pelos espectros de tais correntes nota-se a redução significativa no
conteúdo harmônico da "onda quadrada" em relação à "onda impulsiva". Note ainda a maior
amplitude da componente fundamental obtida no circuito com filtro capacitivo, devido à sua
defasagem em relação à tensão da rede.
50
tensão

C
LC

-50
0s 20ms 40ms 60ms 80ms 100ms

Time
20A

LC

0A
0Hz 0.2KHz 0.4KHz 0.6KHz 0.8KHz 1.0KHz 1.2KHz

Frequency

Fig. 3.12 Formas de onda e espectro da corrente de retificador monofásico com filtros capacitivo
e LC.

Uma alternativa, e que não reduz significativamente a tensão disponível para o


retificador, é o uso de filtros LC paralelo, sintonizados (na 3a harmônica, por exemplo) na
entrada do retificador. Com tal circuito, mostrado na figura 3.13, não se permite que as
componentes selecionadas circulem pela rede. Obviamente é necessário oferecer um caminho
para elas, o que é feito com a adição de um capacitor.
Com este método, supondo ainda uma corrente quadrada na entrada do retificador, chega-
se a FP elevado (0,95). As harmônicas não bloqueadas pelo filtro sintonizado poderão ainda
circular pela rede, mas encontrarão um caminho alternativo pelo capacitor. A figura 3.14 mostra
as formas de onda na entrada do retificador e na rede, bem como seus respectivos espectros.

DSE – FEEC – UNICAMP 2014 3-10


Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

Io
vac

Figura 3.13 Filtro LC sintonizado de entrada.


20A

-20A
0s 20ms 40ms 60ms 80ms 100ms
Time
12A

0A
0Hz 0.2KHz 0.4KHz 0.6KHz 0.8KHz 1.0KHz
Frequency

Figura 3.14 Correntes na rede e na entrada do retificador e respectivos espectros.

3.7.2 Soluções ativas para retificadores com alto FP


Os pré-reguladores de FP ativos empregam interruptores controlados associados a
elementos passivos.
Algumas topologias operam o interruptor na frequência da rede (retificada), o que implica
no uso de indutores e capacitores dimensionados para baixa frequência. Outras, por trabalharem
em alta frequência, podem permitir redução nos valores dos elementos de filtragem.

3.7.2.1 Conversor Suga


A figura 3.15 mostra as formas de onda referentes a um conversor que comuta o
transistor na frequência da rede. O interruptor é acionado de modo a iniciar a corrente de linha
antecipadamente (em relação a quando aconteceria a carga do capacitor de saída).
O fator de potência resultante se eleva de cerca de 0,6 para algo próximo a 0,9. A TDH,
no entanto, ainda é elevada e os limites da norma IEC61000-3-2, podem não ser atendidos,
dependendo do valor da indutância, da potência de saída e do tempo de condução do transistor.
Adicionalmente tem-se um pequeno efeito “boost” que pode elevar um pouco a tensão de saída
em relação ao valor que haveria caso se tivesse apenas o filtro LC.

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Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

0 Vac

120Hz

0s 10ms 20ms 30ms 40ms 50ms 60ms 70ms 80ms 90ms 100ms
.
Figura 3.15 Formas de onda e circuito com interruptor controlado na frequência da rede

3.7.2.2 Conversor elevador de tensão (boost) como PFP (Pré-regulador de Fator de Potência)
A figura 3.16 mostra o diagrama geral do circuito e do controle de um conversor elevador
de tensão operando como retificador de alto fator de potência, com controle da corrente média
instantânea.
Este tipo de conversor tem sido o mais utilizado como PFP em função de suas vantagens
estruturais como:
• a presença do indutor na entrada bloqueia a propagação de variações bruscas na tensão de
rede (“spikes”), além de facilitar a obtenção da forma desejada da corrente (senoidal);
• energia é armazenada mais eficientemente no capacitor de saída, o qual opera em alta tensão
(Vo>E), permitindo valores relativamente menores de capacitância;
• controle da forma de onda é mantido para todo valor instantâneo da tensão de entrada,
inclusive o zero;
• como a corrente de entrada não é interrompida (no modo de condução contínua), as
exigências de filtros de IEM são minimizadas.
A figura 3.17 mostra, esquematicamente, a ação de um controle MLP de modo a obter
uma corrente média (desprezando as componentes na frequência de comutação) com a mesma
forma da tensão de entrada.
Comportamentos semelhantes podem ser obtidos com os conversores 'Cuk e SEPIC. O
conversor abaixador-elevador de tensão e o conversor Zeta também permitem implementar
retificadores com alto fator de potência, mas quando operando no modo de condução
descontínua.

Vac Vo

Compensador de corrente

Iref
K A
A.B - Vref
Regulador erro
FPB C C2 B de Tensão - PI
+

Figura 3.16 Circuito de controle de conversor elevador de tensão operando como retificador de
alto fator de potência, com controle da corrente média instantânea.

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Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

Corrente no interruptor
Corrente de entrada (no indutor)

Figura 3.17 Formas de onda típicas da corrente pelo indutor e no interruptor e resultado
experimental em conversor elevador de tensão

3.5 Comutação

Para qualquer tipo de retificador, nos instantes em que ocorre a transferência de corrente
de um diodo para outro de uma mesma semiponte (lado superior ou inferior do retificador) caso
exista alguma indutância na conexão de entrada, esta transição não pode ser instantânea.
Quando a alimentação é feita por meio de transformadores, devido à indutância de
dispersão dos mesmos, este fenômeno se acentua, embora ocorra sempre, uma vez que as linhas
de alimentação sempre apresentam alguma característica indutiva. Em tais situações, durante
alguns instantes estão em condução simultânea o diodo que está entrando em condução e aquele
que está sendo desligado. Isto significa, do ponto de vista da rede, um curto-circuito aplicado
após as indutâncias de entrada, Li. A tensão efetiva na entrada do retificador será a média das
tensões presentes nas fases. Tal distorção é mostrada na figura 3.18, num circuito trifásico
alimentando carga indutiva. A soma das correntes pelas fases em comutação é igual à corrente
drenada pela carga. Quando termina o intervalo de comutação, a tensão retorna à sua forma
normal (neste caso em que o di/dt em regime é nulo).

Corrente de fase

Vi
Lf
Li + +
Vp.sin(ωt)
Vr Vo Tensão de fase

intervalo de comutação

Figura 3.18 Topologia de retificador trifásico, não-controlado, com carga indutiva. Formas de
onda típicas, indicando o fenômeno da comutação.

Quando a carga é capacitiva, as indutâncias de entrada atuam no sentido de reduzir a


derivada inicial da corrente, como mostrado na figura 3.19. Neste caso, como a corrente
apresenta-se variando, as mesmas indutâncias apresentarão uma queda de tensão, de modo que a
tensão Vi mostra-se significativamente distorcida. Note que a tensão Vi de linha é igual à tensão
presente no capacitor, fazendo com que tal tensão apresente um topo achatado. Qualquer outro

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Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

equipamento conectado nestes pontos será, assim, alimentado por uma tensão distorcida. NO
exemplo ilustrado a distorção, no entanto, não é devida ao fenômeno de comutação, pois quando
há mudança nos componentes que conduzem, a corrente inicial é nula.

tensão de saída

Vi corrente
0

+
Li

Cf Vo tensão de fase
tensão de linha

Figura 3.19 Topologia de retificador trifásico, não-controlado, com carga capacitiva e formas de
onda típicas, indicando distorção da tensão (não devida à comutação).

3.6 Retificadores Controlados


Os circuitos retificadores controlados constituem a principal aplicação dos tiristores em
conversores estáticos. Possuem vasta aplicação industrial, no acionamento de motores de corrente
contínua, em estações retificadoras para alimentação de redes de transmissão CC, no acionamento
de locomotivas, etc.
Analisaremos brevemente pontes retificadoras monofásicas, embora o estudo das pontes
trifásicas não seja substancialmente diferente. Para potência superior a alguns kVA geralmente se
usam pontes trifásicas (ou mesmo hexafásicas). A Figura 3.20 mostra 3 estruturas de pontes
retificadores monofásicas.

+ + +
T1 D1 T1 T2 T1 T2
+ + +
vi(t) vo(t) vi(t) D3 vo(t) vi(t) vo(t)

T2 D2 D1 D2 T3 T4
- - -

(a) vi(t)=Vp.sin(wt) (b) (c)

Figura 3.20 - Pontes retificadoras monofásicas:


a) Semicontrolada assimétrica; b) Semicontrolada simétrica; c) Totalmente controlada.

A principal vantagem das pontes semicontroladas é o uso de apenas 2 tiristores, sendo


indicadas quando o fluxo de energia será apenas da fonte para a carga. Neste circuito a tensão de
saída, vo(t), pode assumir apenas valores (instantâneos e médios) positivos. Sempre que a tensão de
saída tender a se inverter haverá um caminho interno que manterá esta tensão em zero,
desconectando a carga da rede.
Quando a carga for resistiva, a forma de onda da corrente de linha será a mesma da
tensão sobre a carga (obviamente sem a retificação). Com carga indutiva, a corrente irá se

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Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

alisando à medida que aumenta a constante de tempo elétrica da carga, tendo, no limite, uma
forma plana. Vista da entrada, a corrente assume uma forma retangular, como mostram as figuras
a seguir.

a)Ponte semicontrolada assimétrica


Na ponte assimétrica, cujas formas de onda estão mostradas na figura 3.21, existe um
caminho de livre-circulação formado pelos diodos D1 e D3. Supondo a polaridade da tensão da
entrada como indicada em 3.20, o disparo de T1 conecta a entrada à carga (suposta indutiva) através
do tiristor e D2. Quando a tensão de entrada se inverter, D1 entrará em condução e T1 cortará.
Enquanto, devido ao tempo de desligamento do tiristor, T1, D1 e D2 conduzirem, a fonte estará
curto-circuitada, com sua corrente sendo limitada pela impedância da fonte. Quando T2 for
disparado, D1 cortará.
O intervalo de condução de cada SCR é de (π−α). Cada diodo conduz por (π+α). A figura
3.14 mostra formas de onda para este conversor.

vg1(t)
vg2(t)

vo(t)

iD1(t)

iD2(t)

iT1(t)

iT2(t)

Corrente de entrada
0
α π

Figura 3.21 - Formas de onda de ponte retificadora semicontrolada assimétrica, com carga
altamente indutiva.

A tensão média de saída, calculada a cada semiciclo é dada por:

π
Vp
⋅ (1 + cos α )
1
Vo =
πα∫ V p ⋅ sinθ ⋅ dθ =
π
(3.8)

A tensão eficaz de saída é:

π
Vef =
1
∫ (V p ⋅ sinθ)2 ⋅ dθ = V p 1 − α + sin(2α) (3.9)
πα 2 2π 4π

Para uma corrente de carga constante, de valor Io, a corrente eficaz na entrada é:

π
1 α
I ef = ∫ I o ⋅ dθ = I o 1 −
2
(3.10)
πα π

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Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

Com tais valores, é possível explicitar o fator de potência desta carga visto pela rede:

P 2 (1 + cos α )
FP = = (3.11)
S π 2 − απ

Por inspeção da forma de onda, o fator de deslocamento da componente fundamental da


corrente é:

α
FD1 = cos  (3.12)
2

b) Ponte semicontrolada simétrica


Neste circuito não existe um caminho natural de livre-circulação, a qual deve ocorrer sempre
através de um SCR e um diodo. As mesmas equações da ponte assimétrica são válidas para este
conversor.

vg1(t)
vg2(t)

vo(t)

iT1(t)

iD2(t)

iT2(t)

iD1(t)

Corrente de entrada
0

α π

Corrente da carga RL

0
200V Tensão na carga

Pulsos de disparo
-200V
0s 20ms 40ms 60ms 80ms 100ms

Figura 3.22 Formas de onda de ponte retificadora semi-controlada simétrica, com carga
altamente indutiva. Funcionamento normal (superior) e efeito da supressão dos pulsos de
comando (inferior).

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Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

Supondo vi(t) com a polaridade indicada, quando T1 for disparado, a corrente circulará por
T1 e D2. Quando a tensão da fonte inverter a polaridade, D1 entrará em condução e D2 bloqueará.
A tensão na carga será nula pois T1 e D1 conduzirão, supondo que a corrente não se interrompa
(carga indutiva). Quando T2 for disparado, T1 bloqueará. Diodos e tiristores conduzem, cada um
por 180o.
Note que se T2 não for disparado, e supondo que T1 continue a conduzir, em função da
elevada constante de tempo elétrica da carga, no próximo semiciclo positivo a fonte será novamente
acoplada à carga fornecendo-lhe mais corrente. Ou seja, a simples retirada dos pulsos de disparo
não garante o desacoplamento entre carga e fonte. Para que isso ocorra é necessário diminuir o
ângulo de disparo para que a corrente se torne descontínua e assim T1 corte. Obviamente o mesmo
comportamento pode ocorrer com respeito ao outro par de componentes. Este comportamento é
ilustrado na figura 3.22.
Isto pode ser evitado pela inclusão do diodo de livre-circulação D3, o qual entrará em
condução quando a tensão se inverter, desligando T1 e D1. A vantagem da montagem assimétrica é
que os catodos estão num mesmo potencial, de modo que os sinais de acionamento podem estar
num mesmo potencial.

c) Ponte totalmente controlada


Seu principal uso é no acionamento de motor de corrente contínua quando é necessária uma
operação em dois quadrantes do plano tensão x corrente. Nestes circuitos não pode haver inversão
de polaridade na corrente, de modo que, mantida a polaridade da tensão Eg, não é possível a
frenagem da máquina. A tensão sobre a carga pode se tornar negativa, desde que exista um
elemento indutivo que mantenha a circulação de corrente pelos tiristores, mesmo quando
reversamente polarizados. A energia retornada à fonte nesta situação é aquela acumulada na
indutância de armadura. Formas de onda típicas estão mostradas na figura 3.23.
Os pares de componentes T1 e T4, T2 e T3 devem ser disparados simultaneamente, a fim de
garantir um caminho para a corrente através da fonte.
No caso de corrente descontínua (corrente da carga vai a zero dentro de cada semiciclo da
rede), os tiristores desligarão quando a corrente cair abaixo da corrente de manutenção. No caso de
condução contínua, o par de tiristores desligará quando a polaridade da fonte se inverter e for
disparado outro par de tiristores.
Assim, se houver inversão na polaridade da tensão de entrada, mas não for acionado o outro
par de SCRs, a tensão nos terminais do retificador será negativa.
+ Io
i i(t)
0A
-Io

Io
iT 2 (t)= iT 3(t)
0A

Io iT 1 (t)= iT 4(t)

0A
2 00V vi(t)

0 vo(t)

-2 00V
0s 5m s 10m s 1 5m s 20m s 25 m s 30 m s 3 5m s 40 m s
α

Figura 3.23 Formas de onda para ponte totalmente controlada, monofásica, alimentando carga
indutiva.

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Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

A tensão média de saída, calculada a cada semiciclo é dada por:

π +α
1 2V p
Vo =
π ∫α V p ⋅ sin θ ⋅ dθ =
π
⋅ cos α (3.13)

A tensão eficaz de saída é igual ao valor eficaz da tensão de entrada (supondo condução
contínua do conversor, ou seja, a ponte retificadora sempre está em funcionamento). A corrente
eficaz na entrada vale Io.
Com tais valores, é possível explicitar o fator de potência desta carga visto pela rede:

P 2 2 cos α
FP = = (3.14)
S π

A corrente de entrada apresenta-se como uma onda quadrada, com sua componente
fundamental defasada de um ângulo α em relação à tensão. Durante os intervalos em que a
corrente e tensão na entrada apresentam sinais opostos, há um fluxo de energia da carga para a
fonte. Em regime permanente e com carga passiva, no entanto, o fluxo de potência é sempre da
fonte para a carga, ou seja, o ângulo de disparo deve ser inferior a 90º.
Quando se faz o acionamento de um motor CC, a carga comporta-se como um circuito
RL ao qual se adiciona uma fonte de tensão CC, que representa a força contra-eletro-motriz de
armadura, como mostrado na figura 3.24. Em situações em que a constante de tempo é pequena,
ou então a tensão Eg é elevada, é possível que a corrente se anule, fazendo com que os tiristores
comutem dentro de um semiciclo da rede. Em tal situação, como não há corrente, a tensão vista
nos terminais da máquina, vo(t), será a própria tensão de armadura. A tensão vo(t) será igual à
tensão de entrada (retificada) apenas enquanto os tiristores conduzirem.
Numa situação de condução descontínua, para que seja possível acionar os tiristores, é
necessário que no ângulo de disparo a tensão de entrada seja superior à tensão Eg, de modo que
os SCRs estejam diretamente polarizados. Isto significa que, à medida que a máquina se acelera,
elevando o valor da tensão de armadura, existe um mínimo ângulo de disparo possível. Tal
comportamento está ilustrado na figura 3.25. No caso (a), com tensão Eg nula, o acionamento
pode ser feito com um pequeno ângulo de disparo. A corrente é elevada e não se anula dentro de
cada semiperíodo. No caso (b), com tensão mais elevada, a condução se torna descontínua,
desligando os tiristores dentro de cada semiciclo. Quanto a tensão de armadura se torna maior do
que a de entrada, no instante de disparo, “perde-se o pulso”, e os tiristores não são ligados.

+
T2
ia(t) La
T1

+
vi(t) vo(t) Ra
D1 D2 Eg
-

Figura 3.24 Retificador monofásico semicontrolado, acionando motor CC.

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Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

(a) (b)

(c)
Figura 3.25. Formas de onda de retificador semicontrolado, acionando motor CC, em diferentes
valores de Eg (velocidade). De cima para baixo: vT1, iD1, ia, vo e vi.

3.7.1 Retificadores trifásicos


A figura 3.26 mostra circuitos de retificadores trifásicos. No caso a) tem-se um retificador
semicontrolado, enquanto em b) tem-se um retificador totalmente controlado. Diferentemente do
caso monofásico, no circuito trifásico não há o circuito simétrico.

Vp.sin(wt) Lf
Li + +
van(t)
vo(t) Vo

D1
a)

Vp.sin(wt) T1 Lf
+ +
Li
van(t)
vo(t)
Vo

b)
Figura 3.26 Retificador trifásico semicontrolado (a) e controlado (b).

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Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

Também para estes retificadores, a versão semicontrolada não permite a inversão da


tensão instantânea no barramento CC. É possível a colocação de um diodo de roda livre que
entra em operação quando tal tensão se anula. Na ausência do diodo, a condução se dá pelo
último tiristor acionado e pelo diodo do mesmo ramo.
A figura 3.27 mostra formas de onda para diferentes ângulos de disparo, sendo
desprezada a indutância de entrada. Este ângulo é definido a partir do ponto em que a tensão da
respectiva fase se torna a maior em valor absoluto ou, o que é equivalente, quando a tensão de
linha se torna positiva. Nestas simulações a carga é uma fonte de corrente constante, razão pela
qual não há alteração na corrente com o ângulo de disparo. Para um ângulo nulo, as formas de
onda são idênticas às do retificador a diodo. A faixa de controle vai de 0 a 60 graus. Note-se que
a condução do diodo independe do ângulo de disparo (na ausência do diodo de livre-circulação).
A forma de onda da corrente na rede é assimétrica, dando origem a componentes espectrais de
ordem par, o que não é desejável.
A figura 3.28 mostra resultados análogos, também sem indutâncias de entrada, para um
retificador totalmente controlado. A carga é um circuito RL (4 Ω, 16 mH), de modo que a
corrente se altera à medida que muda o ângulo de disparo e, conseqüentemente, a tensão média
aplicada à carga. Para um ângulo de 0 grau a forma de onda é idêntica a do retificador a diodos.
Na ausência de um diodo de roda-livre a tensão instantânea aplicada no barramento CC pode ser
negativa, o que ocorre para um ângulo de disparo superior a 60 graus. Como não há
possibilidade de inversão no sentido da corrente, uma tensão negativa leva à diminuição da
corrente até sua extinção (em uma carga passiva).
A corrente da rede é simétrica, apresentando apenas componentes espectrais de ordem
ímpar, exceto os múltiplos da terceira, que não existem.
A tensão média no barramento CC é dada por:

3 2
Vo = ⋅ Vlinha ⋅ cos α (3.15)
π RMS

Uma corrente no lado CC de baixa ondulação reflete para o lado CA uma onda quase
quadrada, com condução de 120° a cada 180°, deslocada de um ângulo α em relação à tensão.
Neste caso pode-se determinar o espectro da corrente em relação à corrente da carga, Io. A
corrente eficaz no lado CA é 81,6% da corrente no lado CC.
A componente fundamental é Ii1 = 0,78 ⋅ I o , enquanto as harmônicas são dadas por:
I
Iih = i1 , onde n=6k+1, para k=1,2... (3.16)
n

Isto permite determinar que a distorção harmônica total da corrente é de 31,08%.


O fator de deslocamento (ângulo entre a tensão e a componente fundamental da corrente)
é igual a (cos α). O fator de potência é:

3
FP = cos α (3.17)
π

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Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

400

200

200

-200

a) Ângulo de disparo: 0 graus


400

200

200

-2 0 0

b) Ângulo de disparo: 30 graus


400

200

-2 0 0

200

-2 0 0

c) Ângulo de disparo: 60 graus


Figura 3.27 Formas de onda de retificador trifásico semi-controlado.
De cima para baixo: tensão instantânea no barramento CC (vo(t)); Corrente no diodo D1; Tensão da
fase A (van(t)); Corrente na fase A.

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Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

400

200

200

-200
16.7ms 20.0ms 25.0ms 30.0ms 35.0ms 40.0ms 45.0ms 50.0ms

a) Ângulo de disparo: 30 graus


400

200

-200

200

-200
16.7ms 20.0ms 25.0ms 30.0ms 35.0ms 40.0ms 45.0ms 50.0ms

b) Ângulo de disparo: 60 graus


400

200

-200

200

-200
16.7ms 20.0ms 25.0ms 30.0ms 35.0ms 40.0ms 45.0ms 50.0ms

c) Ângulo de disparo: 75 graus


Figura 3.28 Formas de onda de retificador trifásico controlado.
De cima para baixo: tensão instantânea no barramento CC (vo(t)); Corrente no tiristor T1; Tensão da
fase A (van(t)); Corrente na fase A.

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Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

3.6 Associação de Retificadores


Em determinadas situações pode ser conveniente fazer-se uma associação de circuitos
retificadores. Isto se aplica a retificadores controlados ou não. A análise que se segue, embora
tome como exemplo retificadores a diodo, pode ser estendida também para circuitos com
tiristores e mistos.
São essencialmente 3 as situações em que são feitas associações de retificadores:
• Uma associação série, como mostra a figura 3.29, é normalmente empregada em situações
em que se deseja uma tensão CC de saída elevada, que não poderia ser obtida com um
retificador único;
• Uma associação em paralelo, como mostra a figura 3.30, é feita quando a carga exige uma
corrente que não poderia ser fornecida por um único retificador;
• Em ambos os casos, quando se deseja reduzir o conteúdo harmônico da corrente drenada da
rede.

Lo
+
Io
Vr

+
-
Vo
+

Vr

-
Figura 3.29 Associação em série de retificadores não controlados. Circuito de “12 pulsos”.

Notem-se em ambos os circuitos mostrados que as tensões de entrada de cada um dos


retificadores não são as mesmas. Isto é feito com o objetivo de melhorar a forma de onda da
corrente de entrada, como mostra a figura 3.30.
No exemplo, no qual se têm um retificador de 12 pulsos, cada um dos retificadores é
alimentado por tensões de mesmo valor eficaz, mas com defasagem de 30o entre os sistemas
trifásicos. Isto faz com que a corrente da rede se apresente de uma forma “multinível”. Neste
caso, têm-se 6 níveis e o respectivo espectro (mostrado na figura 3.31) mostra que só existem
harmônicos em frequências de ordem 12k+1, ou seja, após a fundamental, teremos as
componentes de ordem 11a, 13a, 23a, 25a, e assim por diante. Obviamente, dada a ordem elevada
e a amplitude reduzida, um eventual processo de filtragem exigiria elementos LC de valor
reduzido, comparado com retificadores de 6 pulsos.
No circuito série, a tensão CC total apresenta uma ondulação em 720 Hz (daí o nome 12
pulsos) e uma variação pico a pico de apenas 3% do valor CC. Aqui também, uma eventual
filtragem seria facilitada pela frequência elevada e pela pequena amplitude das variações.

DSE – FEEC – UNICAMP 2014 3-23


Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

Transformador de interfase

+
Io
Vr

+
-
Vo
+

Vr

-
Figura 3.30 Associação em paralelo de retificadores não controlados. Circuito de “12 pulsos”.

Numa associação em paralelo, é importante que as tensões médias de ambas as pontes


retificadoras sejam as mesmas. Mesmo nesta situação, faz-se uso de um indutor (ou
transformador) chamado de “interfase”, sobre o qual se tem a diferença instantânea das tensões
de cada um dos retificadores. A tensão média aplicada à carga será a média das duas tensões
retificadas e a corrente será dividida na razão inversa das reatâncias. Caso elas sejam iguais, cada
ponte fornecerá metade da corrente total.

600

Tensão total

400
Tensão em cada retificador

200
Tensão de fase

0
Corrente de fase

-200
0s 10ms 20ms 30ms 40ms 50ms

11a 13a 23a 25a

0A
0Hz 0.5KHz 1.0KHz 1.5KHz 2.0KHz 2.5KHz 3.0KHz
Figura 3.31 Formas de onda e espectro da corrente na rede para retificador de 12 pulsos.

DSE – FEEC – UNICAMP 2014 3-24


Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

Um caso típico de aplicação da associação em série de retificadores é na transmissão de


energia em corrente contínua, em alta tensão (HVDC), como é o caso da linha CC que conecta
Itaipu a São Roque (SP), trazendo a energia comprada do Paraguai (originalmente em 50 Hz). O
sistema opera, via dois cabos, que estão alimentados em +/- 600 kV, transmitindo uma potência
de 6000 MW. Neste caso têm-se retificadores controlados, permitindo um controle do sistema,
incluindo a absorção/fornecimento de reativos.

Figura 3.32 Esquema de sistema de transmissão HVDC


http://www.emrwebsite.org/uploads/images/EMR06/images/img-lec-belanger-1.gif

O uso de conexões HVDC tem crescido em aplicações que necessitam de transposições


marítimas. Nas condições submarinhas, uso de CA, em função de efeitos capacitivos dos cabos
trifásicos, limita a capacidade de transmissão de energia. Para conexões com mais de 100 km o
uso de HVDC tem se mostrado economicamente vantajoso, mesmo com o acréscimo do custo
dos conversores. A figura 3.34 ilustra as conexões CC na Europa. Em tais aplicações a tensão
CC é menor do que a empregada em longas conexões, sendo da ordem de 200 a 300 kV.
Também a interconexão de parques eólicos off-shore tem se utilizado, crescentemente, de
conexões CC.
Os sistemas off-shore têm sido denominados de “HVDC-light” devido à menor tensão de
operação e menor potência transmitida. Por conta de tal redução, torna-se possível o emprego de
IGBTs ao invés de tiristores, nos circuitos retificadores/inversores.

Figura 3.33 Válvula de tiristores em sistema HVDC


http://cigre.org.au/events/Web/images/HVDC_Pole_2_Valve_Hall.jpg

DSE – FEEC – UNICAMP 2014 3-25


Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

Figura 3.34 Linhas HVDC na Europa: existentes (vermelho), em construção (verde), planejadas
(azul). http://en.wikipedia.org/wiki/High-voltage_direct_current

3.7 Retificador MLP


Quando a ponte retificadora é formada por interruptores controlados na entrada em
condução e no desligamento, como transistores ou GTOs (Gate Turn-off thyristors), é possível se
fazer um comando adequado de tais componentes de modo a absorver da rede uma corrente
senoidal, enquanto se controla a tensão de saída (caso esta seja a variável de interesse).
O lado CC pode se comportar como uma fonte de tensão, quando apresenta um filtro
capacitivo. Neste caso a conexão com a rede deve ser feita por meio de indutores no lado CA. Se
o barramento CC se comportar como uma fonte de corrente (tendo um indutor na saída do
retificador), a interface com o lado CA deve utilizar capacitores, que permitam acomodar valores
instantaneamente diferentes entre a corrente CC e a corrente no lado CA. Tais circuitos estão
mostrados na figura 3.35.
A ideia básica é comandar adequadamente os interruptores de modo que a corrente média
instantânea no lado CA tenha a mesma forma da tensão da respectiva fase e esteja em fase com
ela.

DSE – FEEC – UNICAMP 2014 3-26


Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

Icc

Vo
Vcc

Cf

(a) (b)
Figura 3.35 Topologias de conversores CA-CC trifásicos, operando em MLP, com saída em
tensão (a) e em corrente (b).

A obtenção de uma saída que recupere a onda de referência é facilitada pela forma do
espectro, como visto no capítulo anterior. Um filtro passa baixas com frequência de corte acima e
50/60 Hz é perfeitamente capaz de produzir uma atenuação bastante efetiva em componentes na
faixa dos kHz.

3.8.1 Retificador tipo fonte de tensão

A figura 3.36 mostra formas de onde para um retificador monofásico, PWM, tipo fonte de
tensão. O objetivo é manter regulada a tensão CC e, ao mesmo tempo, absorver uma corrente
senoidal e em fase com a tensão (resultando fator de potência unitário). Essa é a mesma
estratégia usada nos retificadores a diodo com correção de fator de potência, apresentados no
início do presente capítulo.
10

SEL>>
-10
V(L1:2)/20 I(L1)
400V

0V

-400V
0s 10ms 20ms 30ms 40ms 50ms 60ms 70ms 80ms
V(D5:1) V(SUM1:IN2)*200 V(L1:2)
Time

Figura 3.36 Formas de onda de retificador PWM monofásico tipo fonte de tensão. Acima:
Tensão e corrente na fonte. Abaixo: referência (vermelho), fonte (azul) e PWM (verde).

A figura 3.37 mostra uma possível implementação para o controle de um retificador tipo
fonte de tensão, ou seja, com um capacitor no lado CC e indutores no lado CA.

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Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

Essa é uma possível estratégia de controle, denominada, síntese de carga resistiva, na


qual a forma de onda da corrente copia a forma de onda da tensão, tendo sua amplitude ajustada
pelo regulador de tensão da saída.

- Ref. de
Tensão de + tensão CC
saída VCC
Filtro
indutivo de Sensor de Compensador de
rede corrente tensão PI
Retificador Tensão
Fonte de Tensão ICA CA

Carga -
+
Comando para Referência ICA*
conversor Erro de
corrente

MLP ou MLC Compensador

Indutância de acoplamento: 40 mH
Vcc = 200 V VL VINV
V rede = 180 V (pico)
V ref. = 188 V (pico)
IS VS
δ = + 15º

Figura 3.37 Possível estrutura de controle de retificador PWM e diagrama fasorial para resultar
IS em fase com VS, conhecida a reatância de acoplamento, a corrente necessária e a tensão da
rede.
400V

300V

200V

SEL>>
100V
V(GAIN8:IN)
20

-20
0s 50ms 100ms 150ms 200ms 250ms 300ms 350ms 400ms 450ms 500ms
I(V6) V(GAIN9:OUT)*10
Time

Figura 3.38 Resposta dinâmica do controlador à variação de carga. Tensão CC inicial: 180V.
Ref. de tensão: 300V. Aumento de carga (100%) em 300 ms.
Regulador PI de tensão e controle por histerese.

DSE – FEEC – UNICAMP 2014 3-28


Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

3.8.2 Retificador tipo fonte de corrente

A figura 3.39 mostra um retificador PWM trifásico no qual a saída apresenta uma
corrente CC, a qual deve ser regulada, de modo a manter a tensão Vo no valor desejado.

Io

Lo

i sa va ia
S1 S2 S3

i sb vb ib Co Ro
v
o Vo

isc vc ic

S4 S5 S6

Figura 3.39 Topologia do conversor CA-CC trifásico, operando em MLP, com saída de corrente.

A idéia básica é comandar adequadamente os interruptores de modo que a corrente média


instantânea no lado CA tenha a mesma forma da tensão da respectiva fase e esteja em fase com
ela.
Na entrada do retificador, supondo desprezível a ondulação da corrente pelo indutor, as
correntes instantâneas pelas fases têm forma retangular, com amplitude dada pela corrente CC e
largura determinada pela lei de modulação dos interruptores, como ilustra a figura 3.40.
Simultaneamente haverá corrente apenas por 2 das 3 fases, uma vez que se 2 interruptores de
uma mesma semiponte conduzirem se colocaria em curto 2 das fases, como se pode concluir da
figura 3.39 No entanto, após uma adequada filtragem das componentes de alta frequência, a
corrente de saída, apresentará apenas o valor médio que terá uma forma senoidal, se esta tiver
sido a forma do sinal de referência usado para produzir os sinais de comando dos interruptores.

+Io

-Io

Figura 3.40 Forma de onda instantânea das correntes no lado CA.

A figura 3.41 mostra as tensões de entrada e referências de corrente a serem seguidas.


Consideremos, sem perda de validade para uma análise geral, que as referências de corrente
estão em fase com as tensões da rede. Em cada período da rede existem 6 intervalos, que se
iniciam nos cruzamentos das referências de corrente. Cada intervalo corresponde a um modo de
funcionamento distinto.
Consideremos o intervalo (t1 - t2). A referência ira é a maior positiva e irb é a maior
negativa. Considerando que a corrente de saída Io é perfeitamente contínua, o interruptor S1

DSE – FEEC – UNICAMP 2014 3-29


Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

pode ser acionado de acordo com uma lei de modulação senoidal, m1, de modo que a corrente ia
siga a referência ira em termos dos componentes de baixa frequência do espectro.
Da mesma forma, uma lei de modulação m5 pode ser adotada para S5, fazendo com que
ib siga a referência irb.

va vb vc

ira irb irc

t1'
t1 t2 t3 t4 t5 t6 t7

Figura 3.41 Tensões de entrada e referência de corrente.

Quando a chave S1 é aberta, uma outra chave da semi-ponte superior deve ser fechada
para permitir a continuidade da corrente. Quando S5 é aberta, outro interruptor da semi-ponte
negativa deve entrar em condução. Para estas funções, S3 e S6 são usadas, uma vez que elas não
alteram as correntes pelas fases a e b. A forma senoidal desejada para a fase c é resultado do fato
que a soma das correntes nas 3 fases é nula. Quando S3 e S6 conduzirem simultaneamente, cria-
se um caminho de livre-circulação para a corrente CC. A figura 3.42 mostra os sinais de
comando para os interruptores e a forma de onda da tensão instantânea sobre o indutor CC, a
qual apresenta um comportamento de 3 níveis. Uma vez que a frequência de chaveamento deve
ser muito maior do que a frequência da rede, pode-se considerar que, dentro de cada ciclo de
chaveamento as tensões da rede são constantes.
As formas de onda mostradas correspondem ao intervalo t1’<t<t2, no qual va>vb, em
módulo e, conseqüentemente, δa>δb.

S1

S5

S6

S3

δ5
δ1
Τ
va-vb
va-vc
vo

Figura 3.42 Sinais de comando para os interruptores e tensão instantânea no lado CC.

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Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

3.8.2.1 Equações básicas


Seja x(t) uma função lógica que descreve o estado de uma chave genérica S.
Correspondentemente, a lei de modulação m(t) pode ser definida como uma função contínua
dada pelo conteúdo de baixa frequência de x(t). Como x(t) assume apenas valores 0 e 1, m(t) é
limitada entre 0 e 1.
O fato de apenas um interruptor estar fechado em cada semi-ponte ao mesmo tempo, faz
com que apenas um x(t), relacionado a cada semi-ponte, a cada instante, possa ser 1:

i a = ( x1 − x 4 ) ⋅ Io
i b = ( x 2 − x5 ) ⋅ Io (3.18)
i c = ( x 3 − x 6 ) ⋅ Io

A tensão instantânea no lado CC é:

v o = (x1 − x 4 ) ⋅ v a + ( x 2 − x 5 ) ⋅ v b + ( x 3 − x 6 ) ⋅ v c (3.19)

Desprezando as componentes de alta frequência no espectro de x(t), as equações (3.18) e


(3.19) podem ser rescritas como:

i a = ( m1 − m 4 ) ⋅ Io
i b = ( m 2 − m5 ) ⋅ Io (3.20)
i c = ( m 3 − m 6 ) ⋅ Io

v o = ( m1 − m 4 ) ⋅ v a + ( m 2 − m 5 ) ⋅ v b + ( m 3 − m 6 ) ⋅ v c (3.21)

No intervalo t1 - t2, dadas as amplitudes das tensões da rede, as seguintes condições


devem ser satisfeitas:

x4 = 0
x2 = 0
(3.22)
x 3 = x1
x 6 = x5

Para obter as correntes senoidais de entrada tem-se (note que estamos supondo corrente
em fase com a tensão, mas esta análise vale para qualquer tipo de corrente):

m1 = M ⋅ sin(ωt )
m 3 = 1 − m1 = 1 − M ⋅ sin(ωt )
m5 = − M ⋅ sin(ωt − 120 o ) (3.23)
m 6 = 1 − m5 = 1 + M ⋅ sin(ωt − 120 ) o

m4 = m2 = 0

onde M é o índice de modulação que determina a amplitude das correntes.

De (3.20) e (3.23) tem-se:

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Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

i a = Io ⋅ M ⋅ sin(ωt )
i b = Io ⋅ M ⋅ sin(ωt − 120 o ) (3.24)
i c = Io ⋅ M ⋅ sin(ωt + 120 ) o

Assim, desde que a corrente do lado CC seja perfeitamente contínua, as correntes


desejadas serão obtidas no lado CA.
Procedendo analogamente para a expressão da tensão média do lado CC, e considerando
as tensões senoidais, simétricas e em fase com as referências de corrente, a tensão média do lado
CC apresenta-se constante, sendo dada por:
3 ⋅ Vp ⋅ M
v o = M ⋅ [ v a ⋅ sin(ωt ) + v b ⋅ sin(ωt − 120 o ) + v c ⋅ sin(ωt + 120 o )] = (3.25)
2

onde Vp é a valor de pico das tensões CA (fase - neutro).


Ou seja, a tensão CC não é afetada por componentes de baixa frequência.
O índice de modulação, M, determina tanto a amplitude da tensão média do lado CC
quanto a amplitude das correntes alternadas do lado ca.
Observe-se ainda que a síntese da corrente desejada pode ser feita em malha aberta, ou
seja,não é preciso realimentar a corrente, é preciso apenas que se disponha da referência
adequada.

3.8.2.2 Absorção de reativos


Esta técnica de controle pode ser estendida variando-se a fase entre a tensão ca e as
respectivas correntes, permitindo assim a circulação de uma quantidade controlável de potência
reativa.
Para este objetivo, as referências de corrente, ir, devem estar defasadas das tensões de
uma fase adequada, φ. As equações das correntes não sofrem alterações, enquanto a tensão CC
passa a ser expressa por:

3 ⋅ Vp ⋅ M
vo = ⋅ cosφ (3.26)
2

Note que se o inversor fornece apenas energia reativa a tensão média no lado CC é nula,
como é de se esperar, já que se trata de um elemento puramente indutivo.
Generalizando um pouco mais, qualquer forma de corrente pode ser sintetizada, desde
que uma referência adequada seja utilizada, o que torna esta topologia bastante própria para a
implementação de filtros ativos de potência.
A figura 3.43 mostra um resultado experimental de um conversor operando baseado neste
princípio. A corrente alternada sintetizada apresenta uma ondulação superposta, relativa à
ressonância do filtro de alta frequência.

3.8.2.3 Controle da corrente CC


Numa situação de regime, para que não haja mudança na corrente CC, a tensão média
sobre o indutor deve ser nula. Como o indutor possui perdas, ou ainda, porque transitoriamente
houve uma absorção (ou entrega) de potência ativa, é possível que ocorra uma variação no nível
da corrente CC. O controle do conversor deve prever um modo de manter, em regime, a corrente
no valor Io desejado. Isto pode ser feito alterando a fase das referências de corrente. Se a
defasagem entre tensão e corrente for 90o, o inversor só trabalha com energia reativa. Se a fase
for menor do que 90o, isto significa que o inversor está entregando ao resto do sistema um pouco
de potência ativa, o que faz com que a corrente Io tenda a diminuir (aparece uma tensão média

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Eletrônica de Potência – Cap. 3 J. A. Pomilio

positiva no lado CC). Fazendo com que a defasagem seja maior do que 90o o inversor absorve
potência ativa do sistema, levando ao crescimento da corrente Io. Uma vez atingido o valor Io
desejado, o controle deve retornar referência de regime. O mesmo efeito pode ser obtido
controlando-se a amplitude do sinal de referência em função do erro da corrente CC.

v a

ia

Figura 3.43 Tensão (40V/div) e corrente (10A/div) de entrada. Horiz.: 4ms/div.

3.8 Referências bibliográficas


Crestani, M. “Com uma terceira portaria, o novo fator de potência já vale em abril”. Eletricidade
Moderna, ano 22, no 239, fevereiro de 1994.

International Electrotechnical Comission: IEC 61000-3-2: “Electromagnetic Compatibility


(EMC) – Part 3: Limits – Section 2: Limits for Harmonic Current Emissions (Equipment input
current < 16 A per phase)”. 1999.

EN 61000-3-2:2006+A2:2009. It is identical to IEC 61000-3-2:2005, incorporating amendments


1:2008 and 2:2009. It supersedes, BS EN 61000-3-2:2006 which was withdrawn on 1 July 2012.

IEEE Std. 519 "IEEE Recommended Practices and Requirements for Harmonic Control in
Electric Power Systems". Edition Oct. 1991.

S. B. Dewan: “Optimum Input and Output Filters for a Single-Phase Rectifier Power Supply”.
IEEE Trans. On Industry Applications, vol. IA-17, no. 3, May/June 1981

A. R. Prasad, P. D. Ziogas and S. Manlas: “A Novel Passive Waveshaping Method for Single-
Phase Diode Rectifier”. Proc. Of IECON ‘90, pp. 1041-1050

R. Gohr Jr. and A. J. Perin: “Three-Phase Rectifier Filters Analysis”. Proc. Of Brazilian Power
Electronics Conference, COBEP ‘91,Florianópolis - SC, pp. 281-283.

I. Suga, M. Kimata, Y. Ohnishi and R. Uchida: “New Switching Method for Single-phase AC to
DC converter”. IEEE PCC ‘93, Yokohama, Japan, 1993.

C. de Sá e Silva, “Power factor correction with the UC3854,” Unitrode Application Note U-125,
Unitrode Corporation, USA, 1986.

Mohan, Undeland & Robbins, “Power Electronics”, IEEE Press, 2nd Edition, 1995.

DSE – FEEC – UNICAMP 2014 3-33


Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio

3. CONVERSORES CA-CC - RETIFICADORES

Este capítulo faz uma revisão de alguns conceitos básicos dos retificadores. Um
tratamento mais detalhado é feito na disciplina Eletrônica de Potência I (IT302).
A conversão CA-CC é realizada por conversores chamados retificadores.
No foco da disciplina de Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição
de Energia Elétrica, tais conversores possuem aplicações nos três contextos.
Na geração, sua importância é permitir a integração de geradores CA assíncronos à rede,
por meio de uma conversão de CA (em qualquer frequência) para CC. Ao processo de retificação
segue uma conversão CC-CA e, então, uma conexão síncrona com a rede.
Na transmissão, a aplicação de retificadores acontece nos sistemas de transmissão em
corrente contínua, normalmente de alta tensão (HVDC).
Há ainda a aplicação de retificadores na interligação de sistemas assíncronos como, por
exemplo na subestação de Uruguaiana (RS) que interliga os sistemas brasileiro e argentino (50
Hz).
Os retificadores podem ser classificados segundo a sua capacidade de ajustar, ou não, o
valor da tensão/corrente de saída (controlados x não controlados); de acordo com o número de
fases da tensão alternada de entrada (monofásico, trifásico, hexafásico, etc.), ou ainda em função
do tipo de conexão dos elementos retificadores (meia ponte x ponte completa).
Os retificadores não-controlados são aqueles que utilizam diodos como elementos de
retificação, enquanto os controlados utilizam tiristores ou transistores.
Usualmente topologias em meia onda não são aplicadas. A principal razão é que, nesta
conexão, a corrente média da entrada apresenta um nível médio diferente de zero. Tal nível
contínuo pode levar elementos magnéticos presentes no sistema (indutores e transformadores) à
saturação, o que é prejudicial ao sistema, ou ainda a uma subutilização do material
ferromagnético do núcleo. Topologias em ponte completa absorvem uma corrente média nula da
rede, não afetando, assim, tais elementos magnéticos.
A figura 3.1 mostra o circuito e as formas de onda com carga resistiva para um retificador
monofásico com topologia de meia-ponte, também chamado de meia-onda.

Corrente média de entrada


Vo
Vi=Vp.sen(wt) +

Vo
Tensão de entrada
0V

Figura 3.1 Topologia e formas de onda (com carga resistiva) de retificador monofásico não-
controlado, meia-onda.

3.1 Retificadores não controlados


A figura 3.2 mostra topologias de retificadores a diodo (não-controlados). Neste caso não
há possibilidade de controlar a tensão de saída devido à ausência de interruptores controláveis.
Têm-se os três tipos básicos de carga: resistiva, capacitiva e indutiva.
Um retificador com filtro capacitivo de saída (fig. 3.2.a) faz com que a tensão do lado CC
se apresente alisada, com valor médio próximo ao valor de pico da tensão de entrada. O
capacitor se carrega com a tensão de pico da entrada (desprezando a queda nos diodos). Quando

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Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio

a tensão de entrada se torna menor do que a tensão no capacitor os diodos ficam bloqueados e a
corrente de saída é fornecida exclusivamente pelo capacitor, o qual vai se descarregando, até
que, novamente, a tensão de entrada fique maior, recarregando o capacitor. A forma de onda da
corrente de entrada é muito diferente de uma senóide, apresentando pulsos de corrente nos
momentos em que o capacitor é recarregado, como mostrado na figura 3.3. Esta é a configuração
mais comum dos retificadores usados em cargas eletrônicas, devido à boa qualidade da tensão
CC obtida e ao custo reduzido do filtro capacitivo.
Para o retificador com filtro indutivo (fig. 3.2.b), a carga tende se comportar como uma
fonte de corrente. Dependendo do valor da indutância, a corrente de entrada pode se apresentar
quase como uma corrente quadrada, como mostrado na figura 3.4. Para valores reduzidos de
indutância, a corrente tende a uma forma que depende do tipo de componente à sua jusante. Se
for apenas uma resistência, tende a uma senóide. Se for um capacitor, tende à forma de pulso,
mas apresentando uma taxa de variação (di/dt) reduzida.

+ + +

Vo Vr Vo
Vp.sin(ωt) Vp.sin(ωt)

(a) (b)

Figura 3.2 Retificadores monofásicos não-controlados, de onda-completa.

Corrente de entrada

Tensão de saída (Vo)

Tensão de entrada

Figura 3.3 Formas de onda para retificador monofásico não-controlado, onda completa, com
carga capacitiva.
Tensão de entrada

Corrente de entrada
resistivo dominante

capacitivo dominante indutivo dominante

Figura 3.4. Formas de onda no lado CA para retificador monofásico, onda-completa, não-
controlado, alimentando carga indutiva.

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3.1.1 Retificadores não-controlados com entrada trifásica


Quando a potência da carga alimentada se eleva, via de regra são utilizados retificadores
trifásicos, como mostra a figura 3.5, a fim de, distribuindo a corrente entre as três fases, evitar
desequilíbrios que poderiam ocorrer caso a corrente fosse consumida de apenas uma ou duas
fases.
Neste caso a corrente é fornecida, a cada intervalo de 60 graus, por apenas duas das três
fases. Poderão conduzir aquelas fases que tiverem, em módulo, as duas maiores tensões. Ou seja,
a fase que for mais positiva, poderá levar o diodo a ela conectado, na semi-ponte superior, à
condução. Na semi-ponte inferior poderá conduzir o diodo conectado às fase com tensão mais
negativa. Pela fase com tensão intermediária não haverá corrente.
A figura 3.6 mostra formas de onda típicas considerando que o lado CC é composto,
dominantemente, por uma carga resistiva, indutiva ou capacitiva. No primeiro caso a corrente
segue a mesma forma da tensão sobre a carga, ou seja, uma retificação de 6 pulsos. Quando um
filtro indutivo é utilizado, tem-se um alisamento da corrente, de modo que a onda apresenta-se
praticamente retangular. Já com um filtro capacitivo (mantendo ainda uma pequena indutância
série), tem-se os picos de corrente. Com o aumento da indutância tem-se uma redução dos picos
e, eventualmente, a corrente não chega a se anular.

Lo
+ +

Vr
Co Vo

Figura 3.5 Retificador trifásico, onda completa, não controlado.

Tensão

carga dominante resistiva

carga dominante indutiva

carga dominante capacitiva

Figura 3.6 Formas de onda no lado CA para retificador trifásico, onda-completa, não-controlado,
alimentando diferentes tipos de carga.

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3.4 Fator de Potência


A atual regulamentação brasileira do fator de potência estabelece que o mínimo fator de
potência (FP) das unidades consumidoras é de 0,92, com o cálculo feito por média horária. O
consumo de reativos além do permitido (0,425 varh por cada Wh) é cobrado do consumidor. No
intervalo entre 6 e 24 horas isto ocorre se a energia reativa absorvida for indutiva e das 0 às 6
horas, se for capacitiva 1.
Uma discussão mais aprofundada desse tema será feita na seqüência dessa disciplina,
quando forem apresentadas as teorias de potência.

3.4.1 Definição de Fator de Potência


Fator de potência é definido como a relação entre a potência ativa (P) e a potência
aparente (S) consumidas por um dispositivo ou equipamento, independentemente das formas que
as ondas de tensão e corrente apresentem, desde que sejam periódicas (período T).
1
P T∫ i
v ( t ) ⋅ ii ( t ) ⋅ dt
FP = = (3.1)
S VRMS ⋅ I RMS

Em um sistema monofásico com formas de onda senoidais, a equação anterior torna-se


igual ao cosseno da defasagem entre as ondas de tensão e de corrente:

FPsen o = cos φ (3.2)

Quando apenas a tensão de entrada for senoidal, o FP é expresso por:


I
FPV = 1 ⋅ cos φ1 (3.3)
sen o
I RMS
onde I1 é o valor eficaz da componente fundamental e φ1 é a defasagem entre esta componente da
corrente e a onda de tensão.
Neste caso, a potência ativa de entrada é dada pela média do produto da tensão (senoidal)
por todas as componentes harmônicas da corrente (não-senoidal). Esta média é nula para todas as
harmônicas exceto para a fundamental, devendo-se ponderar tal produto pelo cosseno da
defasagem entre a tensão e a primeira harmônica da corrente. Desta forma, o fator de potência é
expresso como a relação entre o valor eficaz da componente fundamental da corrente e a corrente
eficaz de entrada, multiplicada pelo cosseno da defasagem entre a tensão e a primeira harmônica
da corrente.
A relação entre as correntes é chamada de fator de forma e o termo em cosseno é
chamado de fator de deslocamento.
Por sua vez, o valor eficaz da corrente de entrada também pode ser expresso em função
das componentes harmônicas:

I RMS = I12 + ∑ I 2n (3.4)
n=2

Define-se a Distorção Harmônica Total – DHT (em inglês, THD - Total Harmonic
Distortion) como sendo a relação entre o valor eficaz das componentes harmônicas da corrente e
o da fundamental:

1
Crestani, M. “Com uma terceira portaria, o novo fator de potência já vale em abril”. Eletricidade Moderna, ano 22,
no 239, fevereiro de 1994.

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∑I
n=2
2
n

DHT = (3.5)
I1

Assim, o FP pode ser rescrito como:


cos φ1
FP = (3.6)
1 + DHT 2

É evidente a relação entre o FP e a distorção da corrente absorvida da linha. Neste


sentido, existem normas internacionais que regulamentam os valores máximos das harmônicas
de corrente que um dispositivo ou equipamento pode injetar na linha de alimentação.
10A

1.0A

100mA
0

10mA
-

1.0mA
0Hz 0.2KHz 0.4KHz 0.6KHz 0.8KHz 1.0KHz 1.2KHz 1.4KHz1.6KH
-
0

Figura 3.7 Corrente de entrada, tensão de alimentação e espectro da corrente.de


retificador alimentando filtro capacitivo.

3.5 Retificadores com alto fator de potência


São apresentadas a seguir algumas possibilidades de melhoria no fator de potência de
retificadores não-controlados. Tais circuitos, no entanto, não serão objetos de estudos mais
aprofundados, sendo indicados a título de informação. Este item é estudado detalhadamente no
curso de Fontes Chaveadas, IT505.

3.5.1 Soluções passivas


Soluções passivas 2 para a correção do FP oferecem características como robustez, alta
confiabilidade, insensibilidade a surtos, operação silenciosa. No entanto, existem diversas
desvantagens, tais como:
• São pesados e volumosos (em comparação com soluções ativas);
• Afetam as formas de onda na freqüência fundamental;
• Alguns circuitos não podem operar numa larga faixa da tensão de entrada (90 a 240V);
• Não possibilitam regulação da tensão de saída;
• A resposta dinâmica é pobre.
A principal vantagem, óbvia, é a não-presença de elementos ativos.

2
A. R. Prasad, P. D. Ziogas and S. Manlas: “A Novel Passive Waveshaping Method for Single-Phase Diode
Rectifier”. Proc. Of IECON ‘90, pp. 1041-1050

R. Gohr Jr. and A. J. Perin: “Three-Phase Rectifier Filters Analysis”. Proc. Of Brazilian Power Electronics
Conference, COBEP ‘91,Florianópolis - SC, pp. 281-283.

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A colocação de um filtro indutivo na saída do retificador (sem capacitor) produz uma


melhoria significativa do FP uma vez que, idealmente, é absorvida uma corrente quadrada da
rede, o que leva a um FP de 0,90. Como grandes indutâncias são indesejáveis, um filtro LC pode
permitir ainda o mesmo FP, mas com elementos significativamente menores. Obviamente a
presença do indutor em série com o retificador reduz o valor de pico com que se carrega o
capacitor (cerca de 72% num projeto otimizado). A figura 3.8 mostra a estrutura do filtro.

vac Carga

Figura 3.8 Filtro LC de saída

A figura 3.9 mostra as formas de onda relativas às correntes de entrada com filtro
capacitivo e com filtro LC. Pelos espectros de tais correntes nota-se a redução significativa no
conteúdo harmônico da "onda quadrada" em relação à "onda impulsiva". Note ainda a maior
amplitude da componente fundamental obtida no circuito com filtro capacitivo, devido à sua
defasagem em relação à tensão da rede.
50
te n s ã o

C
LC

-5 0
0s 20m s 40m s 60m s 80m s 100m s

T im e
20A

LC

0A
0Hz 0 .2 K H z 0 .4 K H z 0 .6 K H z 0 .8 K H z 1 .0 K H z 1 .2 K H z

F req u en cy

Fig. 3.9 Formas de onda e espectro da corrente de retificador monofásico com filtros capacitivo e
LC.

3.5.2 Soluções ativas para retificadores com alto FP


Os pré-reguladores de FP ativos empregam interruptores controlados associados a
elementos passivos 3.

3.5.2.1 Conversor elevador de tensão (boost) como PFP (Pré-regulador de Fator de Potência)
A figura 3.10 mostra o diagrama geral do circuito e do controle de um conversor elevador
de tensão operando como retificador de alto fator de potência, com controle da corrente média
instantânea.
Este tipo de conversor tem sido o mais utilizado como PFP em função de suas vantagens
estruturais como:

3
C. de Sá e Silva, “Power factor correction with the UC3854,” Unitrode Application Note U-125, Unitrode
Corporation, USA, 1986.

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• a presença do indutor na entrada bloqueia a propagação de variações bruscas na tensão de


rede (“spikes”), além de facilitar a obtenção da forma desejada da corrente (senoidal);
• energia é armazenada mais eficientemente no capacitor de saída, o qual opera em alta tensão
(Vo>E), permitindo valores relativamente menores de capacitância;
• controle da forma de onda é mantido para todo valor instantâneo da tensão de entrada,
inclusive o zero;
• como a corrente de entrada não é interrompida (no modo de condução contínua), as
exigências de filtros de IEM são minimizadas.
A figura 3.11 mostra, esquematicamente, a ação de um controle MLP de modo a obter
uma corrente média (desprezando as componentes na freqüência de comutação) com a mesma
forma da tensão de entrada.
Comportamentos semelhantes podem ser obtidos com os conversores 'Cuk e SEPIC. O
conversor abaixador-elevador de tensão e o conversor Zeta também permitem implementar
retificadores com alto fator de potência, mas quando operando no modo de condução
descontínua.

Vac Vo

Compensador de corrente

Iref
K A
A.B - Vref
Regulador erro
FPB C C2 B de Tensão - PI
+

Figura 3.10 Circuito de controle de conversor elevador de tensão operando como retificador de
alto fator de potência, com controle da corrente média instantânea.

Corrente no interruptor
Corrente de entrada (no indutor)

Figura 3.11 Formas de onda típicas da corrente pelo indutor e no interruptor e resultado
experimental em conversor elevador de tensão

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3.6 Retificadores Controlados


Os circuitos retificadores controlados constituem a principal aplicação dos tiristores em
conversores estáticos. Possuem vasta aplicação industrial, no acionamento de motores de corrente
contínua, em estações retificadoras para alimentação de redes de transmissão CC, no acionamento
de locomotivas, etc.
Analisaremos brevemente pontes retificadoras monofásicas, embora o estudo das pontes
trifásicas não seja substancialmente diferente. Para potência superior a alguns kVA geralmente se
usam pontes trifásicas (ou mesmo hexafásicas). A Figura 3.12 mostra 3 estruturas de pontes
retificadores monofásicas.

+ + +
T1 D1 T1 T2 T1 T2
+ + +
vi(t) vo(t) vi(t) D3 vo(t) vi(t) vo(t)

T2 D2 D1 D2 T3 T4
- - -

(a) vi(t)=Vp.sin(wt) (b) (c)


Figura 3.12 Pontes retificadoras monofásicas:
a) Semicontrolada assimétrica; b) Semicontrolada simétrica; c) Totalmente controlada.

A principal vantagem das pontes semicontroladas é o uso de apenas 2 tiristores, sendo


indicadas quando o fluxo de energia será apenas da fonte para a carga. Neste circuito a tensão de
saída, vo(t), pode assumir apenas valores (instantâneos e médios) positivos. Sempre que a tensão de
saída tender a se inverter haverá um caminho interno que manterá esta tensão em zero,
desconectando a carga da rede.
Quando a carga for resistiva, a forma de onda da corrente de linha será a mesma da
tensão sobre a carga (obviamente sem a retificação). Com carga indutiva, a corrente irá se
alisando à medida que aumenta a constante de tempo elétrica da carga, tendo, no limite, uma
forma plana. Vista da entrada, a corrente assume uma forma retangular, como mostram as figuras
a seguir.

a)Ponte semicontrolada assimétrica


Na ponte assimétrica, cujas formas de onda estão mostradas na figura 3.13, existe um
caminho de livre-circulação formado pelos diodos D1 e D3. Supondo a polaridade da tensão da
entrada como indicada em 3.12, o disparo de T1 conecta a entrada à carga (suposta indutiva) através
do tiristor e D2. Quando a tensão de entrada se inverter, D1 entrará em condução e T1 cortará.
Enquanto, devido ao tempo de desligamento do tiristor, T1, D1 e D2 conduzirem, a fonte estará
curto-circuitada, com sua corrente sendo limitada pela impedância da fonte. Quando T2 for
disparado, D1 cortará.
O intervalo de condução de cada SCR é de (π−α). Cada diodo conduz por (π+α). A figura
3.13 mostra formas de onda para este conversor.
A tensão média de saída, calculada a cada semiciclo é dada por:

π
Vp
⋅ (1 + cos α )
1
Vo =
πα∫ V p ⋅ sinθ ⋅ dθ =
π
(3.7)

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vg1(t)
vg2(t)

vo(t)

iD1(t)

iD2(t)

iT1(t)

iT2(t)

Corrente de entrada
0
α π
Figura 3.13 Formas de onda de ponte retificadora semicontrolada assimétrica, com carga
altamente indutiva.

A tensão eficaz de saída é:

π
Vef =
1
∫ (V p ⋅ sinθ)2 ⋅ dθ = V p 1 − α + sin(2α) (3.8)
πα 2 2π 4π

Para uma corrente de carga constante, de valor Io, a corrente eficaz na entrada é:

π
1 α
I ef = ∫ I o ⋅ dθ = I o 1 −
2
(3.9)
πα π

Com tais valores, é possível explicitar o fator de potência desta carga visto pela rede:
P 2 (1 + cos α )
FP = = (3.10)
S π 2 − απ

Por inspeção da forma de onda, o fator de deslocamento da componente fundamental da


corrente é:
⎛α⎞
FD1 = cos⎜ ⎟ (3.11)
⎝2⎠

b) Ponte semicontrolada simétrica


Neste circuito não existe um caminho natural de livre-circulação, a qual deve ocorrer sempre
através de um SCR e um diodo. As mesmas equações da ponte assimétrica são válidas para este
conversor. A figura 3.14 mostra as formas de onda.
Supondo vi(t) com a polaridade indicada, quando T1 for disparado, a corrente circulará por
T1 e D2. Quando a tensão da fonte inverter a polaridade, D1 entrará em condução e D2 bloqueará.
A tensão na carga será nula pois T1 e D1 conduzirão, supondo que a corrente não se interrompa
(carga indutiva). Quando T2 for disparado, T1 bloqueará. Diodos e tiristores conduzem, cada um
por 180o.

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vg1(t)
vg2(t)

vo(t)

iT1(t)

iD2(t)

iT2(t)

iD1(t)

Corrente de entrada
0

α π

Figura 3.14 Formas de onda de ponte retificadora semi-controlada simétrica, com carga
altamente indutiva.

c) Ponte totalmente controlada


Seu principal uso é no acionamento de motor de corrente contínua quando é necessária uma
operação em dois quadrantes do plano tensão x corrente. Nestes circuitos não pode haver inversão
de polaridade na corrente, de modo que, mantida a polaridade da tensão Eg, não é possível a
frenagem da máquina. A tensão sobre a carga pode se tornar negativa, desde que exista um
elemento indutivo que mantenha a circulação de corrente pelos tiristores, mesmo quando
reversamente polarizados. A energia retornada à fonte nesta situação é aquela acumulada na
indutância de armadura. Formas de onda típicas estão mostradas na figura 3.15.
Os pares de componentes T1 e T4, T2 e T3 devem ser disparados simultaneamente, a fim de
garantir um caminho para a corrente através da fonte.
No caso de corrente descontínua (corrente da carga vai a zero dentro de cada semiciclo da
rede), os tiristores desligarão quando a corrente cair abaixo da corrente de manutenção. No caso de
condução contínua, o par de tiristores desligará quando a polaridade da fonte se inverter e for
disparado outro par de tiristores.
Assim, se houver inversão na polaridade da tensão de entrada, mas não for acionado o outro
par de SCRs, a tensão nos terminais do retificador será negativa.
+ Io
i i (t)
0A
-Io

Io
iT 2 (t)= iT 3 (t)
0A

Io iT 1 (t)= iT 4 (t)

0A
20 0 V vi(t)

0 vo (t)

-2 0 0 V
0s 5ms 10ms 15ms 20ms 25 m s 30ms 35ms 40 m s
α

Figura 3.15 Formas de onda para ponte totalmente controlada, monofásica, alimentando carga
indutiva.

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A tensão média de saída, calculada a cada semiciclo é dada por:


π +α
1 2V p
Vo =
π ∫
α
V p ⋅ sin θ ⋅ dθ =
π
⋅ cos α (3.12)

A tensão eficaz de saída é igual ao valor eficaz da tensão de entrada (supondo condução
contínua do conversor, ou seja, a ponte retificadora sempre está em funcionamento). A corrente
eficaz na entrada vale Io.
Com tais valores, é possível explicitar o fator de potência desta carga visto pela rede:
P 2 2 cos α
FP = = (3.13)
S π

A corrente de entrada apresenta-se como uma onda quadrada, com sua componente
fundamental defasada de um ângulo α em relação à tensão. Durante os intervalos em que a
corrente e tensão na entrada apresentam sinais opostos, há um fluxo de energia da carga para a
fonte. Em regime permanente e com carga passiva, no entanto, o fluxo de potência é sempre da
fonte para a carga, ou seja, o ângulo de disparo deve ser inferior a 90º.

3.5.1 Retificadores trifásicos


A figura 3.16 mostra um retificador trifásico controlado. Não se faz uso da configuração
semi-controlada por que produz uma assimetria de forma de onda com produção de harmônicas
pares.

Vp.sin(wt) T1 Lf
+ +
Li
van(t)
vo(t)
Vo

Figura 3.16 Retificador trifásico controlado

A figura 3.17 mostra resultados, sem indutâncias de entrada, para um retificador


totalmente controlado. A carga é um circuito RL (4 Ω, 16 mH), de modo que a corrente se altera
à medida que muda o ângulo de disparo e, conseqüentemente, a tensão média aplicada à carga.
Para um ângulo de 0 grau a forma de onda é idêntica a do retificador a diodos. Esse ângulo de
disparo é medido a partir do cruzamento por zero da tensão de linha. A tensão instantânea
aplicada no barramento CC pode ser negativa, o que ocorre para um ângulo de disparo superior a
60 graus. Como não há possibilidade de inversão no sentido da corrente, uma tensão negativa
leva à diminuição da corrente até sua extinção (em uma carga passiva).
A corrente da rede é simétrica, apresentando apenas componentes espectrais de ordem
ímpar, exceto os múltiplos da terceira, que não existem.
A tensão média no barramento CC é dada por:
3 2
Vo = ⋅ Vlinha ⋅ cos α (3.14)
π RMS

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Uma corrente no lado CC de baixa ondulação reflete para o lado CA uma onda quase
quadrada, com condução de 120° a cada 180°, deslocada de um ângulo α em relação à tensão.
Neste caso pode-se determinar o espectro da corrente em relação à corrente da carga, Io. A
corrente eficaz no lado CA é 81,6% da corrente no lado CC.
A componente fundamental é Ii1 = 0,78 ⋅ Io , enquanto as harmônicas são dadas por:
I
Iih = i1 , onde n=6k+1, para k=1,2... (3.15)
n

Isto permite determinar que a distorção harmônica total da corrente é de 31,08%.


O fator de deslocamento (ângulo entre a tensão e a componente fundamental da corrente)
é igual a (cos α). O fator de potência é:
3
FP = cos α (3.16)
π
400

200

200

-200

a) Ângulo de disparo: 0 graus (medido na tensão de linha)

400

200

200

-2 0 0
1 6 .7 m s 2 0 .0 m s 2 5 .0 m s 3 0 .0 m s 3 5 .0 m s 4 0 .0 m s 4 5 .0 m s 5 0 .0 m s

b) Ângulo de disparo: 30 graus (medido na tensão de linha)

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400

200

-200

200

-200
16.7m s 20.0m s 25.0m s 30.0m s 35.0m s 40.0m s 45.0m s 50.0m s

c) Ângulo de disparo: 60 graus (medido na tensão de linha)


400

200

-2 0 0

200

-2 0 0
1 6 .7 m s 2 0 .0 m s 2 5 .0 m s 3 0 .0 m s 3 5 .0 m s 4 0 .0 m s 4 5 .0 m s 5 0 .0 m s

d) Ângulo de disparo: 75 graus (medido na tensão de linha)


Figura 3.17 Formas de onda de retificador trifásico controlado.
De cima para baixo: tensão instantânea no barramento CC (vo(t)); Corrente no tiristor T1; Tensão da
fase A (van(t)); Corrente na fase A.

3.5 Associação de Retificadores


Em determinadas situações pode ser conveniente fazer-se uma associação de circuitos
retificadores. Isto se aplica a retificadores controlados ou não. A análise que se segue, embora
tome como exemplos retificadores a diodo, pode ser estendida também para circuitos com
tiristores e mistos.
São essencialmente 3 as situações em que são feitas associações de retificadores:
• Uma associação série, como mostra a figura 3.18, é normalmente empregada em situações
em que se deseja uma tensão CC de saída elevada, que não poderia ser obtida com um
retificador único;
• Uma associação em paralelo, também na figura 3.18, é feita quando a carga exige uma
corrente que não poderia ser fornecida por um único retificador;
• Em ambos os casos, quando se deseja reduzir o conteúdo harmônico da corrente drenada da
rede.

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Notem-se em ambos os circuitos mostrados que as tensões de entrada de cada um dos


retificadores não são as mesmas. Isto é feito com o objetivo de melhorar a forma de onda da
corrente de entrada, como mostra a figura 3.19.
No exemplo, no qual se têm um retificador de 12 pulsos, cada um dos retificadores é
alimentado por tensões de mesmo valor eficaz, mas com defasagem de 30o entre os sistemas
trifásicos. Isto faz com que a corrente da rede se apresente de uma forma “multinível”. Neste
caso, têm-se 6 níveis e o respectivo espectro (mostrado na figura 3.20) mostra que só existem
harmônicos em freqüências de ordem 12k+1, ou seja, após a fundamental, teremos as
componentes de ordem 11a, 13a, 23a, 25a, e assim por diante. Obviamente, dada a ordem elevada
e a amplitude reduzida, um eventual processo de filtragem exigiria elementos LC de valor
reduzido, comparado com retificadores de 6 pulsos.
No circuito série, a tensão CC total apresenta uma ondulação em 720 Hz (daí o nome 12
pulsos) e uma variação pico a pico de apenas 3% do valor CC. Aqui também, uma eventual
filtragem seria facilitada pela frequência elevada e pela pequena amplitude das variações.
Numa associação em paralelo de retificadores, é importante que as tensões médias de
ambas as pontes retificadoras sejam as mesmas. Mesmo nesta situação, faz-se uso de um indutor
(ou transformador) chamado de “interfase”, sobre o qual se tem a diferença instantânea das
tensões de cada um dos retificadores. A tensão média aplicada à carga será a média das duas
tensões retificadas e a corrente será dividida na razão inversa das reatâncias. Caso elas sejam
iguais, cada ponte fornecerá metade da corrente total.
Transformador de interfase
Lo
+ +
Io Io
Vr Vr

+ +
- -
Vo Vo
+ +

Vr Vr

- -

Figura 3.18 Associações em série e em paralelo de retificadores, circuito de “12 pulsos”.

600

Tensão total

400
Tensão em cada retificador

200
Tensão de fase

0
Corrente de fase

-200
0s 10ms 20ms 30ms 40ms 50ms
Figura 3.19 Formas de onda de associação em série de retificadores.

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Um caso típico de aplicação da associação em série de retificadores é na transmissão de


energia em corrente contínua, em alta tensão (HVDC), como é o caso da linha CC que conecta
Foz do Iguaçu (PR) a Ibiúna (SP), trazendo a energia do lado paraguaio da CH de Itaipu
(originalmente em 50 Hz). O sistema opera, via dois cabos, que estão alimentados em +/- 600
kV, transmitindo uma potência de 6000 MW. Neste caso têm-se retificadores controlados,
permitindo um controle do sistema, incluindo a absorção/fornecimento de reativos.

11a 13a 23a 25a

0A
0Hz 0.5KHz 1.0KHz 1.5KHz 2.0KHz 2.5KHz 3.0KHz
Figura 3.20 Espectro da corrente na rede para retificador de 12 pulsos

A figura 3.21 ilustra um sistema HVDC, incluindo retificadores de 12 pulsos, filtros nos
lados CA e reatores (indutores) de alisamento da corrente no lado CC. É também usual o
emprego de filtros no lado CC. A figura 3.22 mostra uma válvula (associação série) de tiristores
para suportar as elevadas tensões do sistema HVDC.
Na figura 3.21 o retorno da corrente se dá pelo terra. São possíveis circuitos com retorno
por condutor, como é o caso do sistema de Itaipu, em que há um condutor opera em +600 kV e
outro em -600 kV. No entanto, os sistemas são autônomos e podem, em caso de emergência,
atuar com um único condutor e retorno pelo terra.

Figura 3.21 Esquema de sistema de transmissão HVDC


http://www.emrwebsite.org/uploads/images/EMR06/images/img-lec-belanger-1.gif

O uso de conexões HVDC tem crescido em aplicações que necessitam de transposições


marítimas. Nas condições submarinhas, uso de CA, em função de efeitos capacitivos dos cabos
trifásicos, limita a capacidade de transmissão de energia. Para conexões com mais de 100 km o
uso de HVDC tem se mostrado economicamente vantajoso, mesmo com o acréscimo do custo
dos conversores. A figura 3.23 ilustra as conexões CC na Europa. Em tais aplicações a tensão

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CC é menor do que a empregada em longas conexões, sendo da ordem de 200 a 300 kV.
Também a interconexão de parques eólicos off-shore tem se utilizado, crescentemente, de
conexões CC.
Os sistemas off-shore têm sido denominados de “HVDC-light” devido à menor tensão de
operação e menor potência transmitida. Por conta de tal redução, torna-se possível o emprego de
IGBTs ao invés de tiristores, nos circuitos retificadores/inversores.

Figura 3.22 Válvula de tiristores em sistema HVDC


http://cigre.org.au/events/Web/images/HVDC_Pole_2_Valve_Hall.jpg

Figura 3.23 Linhas HVDC na Europa: existentes (vermelho), em construção (verde), planejadas
(azul). http://en.wikipedia.org/wiki/High-voltage_direct_current

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3.7 Retificador MLP


Quando a ponte retificadora é formada por interruptores controlados na entrada em
condução e no desligamento, como transistores ou GTOs (Gate Turn-Off thyristors), é possível
se fazer um comando adequado de tais componentes de modo a absorver da rede uma corrente
senoidal, enquanto se controla a tensão de saída (caso esta seja a variável de interesse).
O lado CC pode se comportar como uma fonte de tensão, quando apresenta um filtro
capacitivo. Neste caso a conexão com a rede deve ser feita por meio de indutores no lado CA. Se
o barramento CC se comportar como uma fonte de corrente (tendo um indutor na saída do
retificador), a interface com o lado CA deve utilizar capacitores, que permitam acomodar valores
instantaneamente diferentes entre a corrente CC e a corrente no lado CA. Tais circuitos estão
mostrados na figura 3.24.
A idéia básica é comandar adequadamente os interruptores de modo que a corrente média
instantânea no lado CA tenha a mesma forma da tensão da respectiva fase e esteja em fase com
ela. É possível obter este tipo de comando ao comparar um sinal de referência (que seja imagem da
corrente de entrada buscada), com um sinal triangular simétrico cuja freqüência determine a
freqüência de chaveamento. A frequência da onda triangular (chamada portadora) deve ser, no
mínimo 20 vezes superior à máxima freqüência da onda de referência, para que se obtenha uma
reprodução aceitável da forma de onda, depois de efetuada a filtragem da alta frequência. A largura
do pulso de saída do modulador varia de acordo com a amplitude relativa da referência em
comparação com a portadora (triangular). Tem-se, assim, uma Modulação por Largura de Pulso,
como mostra a figura 3.25.

Icc

Vo
Vcc

Cf

(a) (b)
Figura 3.24 Topologias de conversores CA-CC trifásicos, operando em MLP, com saída em
tensão (a) e em corrente (b).

Referencia senoidal Portadora

Sinal MLP

Figura 3.25. Sinal MLP de 2 níveis.

Para um conversor trifásico, existem três referências, devidamente defasadas. Cada um dos
sinais MLP produzidos (e seu sinal complementar) é usado para comandar cada ramo do inversor.

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Tal procedimento resulta, no sinal de linha (entre fases), um sinal de três níveis, como mostra a
figura 3.26 para um retificador com saída em tensão, com o respectivo espectro e a obtenção do
sinal filtrado.
A obtenção de uma saída que recupere a onda de referência é facilitada pela forma do
espectro. Note-se que, após a componente espectral relativa à referência, aparecem componentes
nas vizinhanças da freqüência de chaveamento. Ou seja, um filtro passa baixas com freqüência de
corte acima e 50/60 Hz é perfeitamente capaz de produzir uma atenuação bastante efetiva em
componentes na faixa dos kHz.
400V
200V

-400V 0V
10ms 15ms 20ms 25ms 30ms 35ms 40ms 0Hz 5KHz 10KHz 15KHz 20KHz

Figura 3.26. Formas de onda de tensão de linha em conversor trifásico tipo fonte de tensão, com
respectivos sinal filtrado e espectro.

No caso de um retificador com saída em corrente, na entrada do retificador, supondo


desprezível a ondulação da corrente pelo indutor CC, as correntes instantâneas pelas fases têm
forma retangular, com amplitude dada pela corrente CC e largura determinada pela lei de
modulação dos interruptores, como ilustra a figura 3.27. Simultaneamente haverá corrente
apenas por 2 das 3 fases, estando a outra com seus interruptores desligados. No entanto, após
uma adequada filtragem das componentes de alta freqüência, a corrente de saída, apresentará
apenas o valor médio que terá uma forma senoidal, se esta tiver sido a forma do sinal de
referência usado para produzir os sinais de comando dos interruptores.

+Io

-Io
Figura 3.27 Forma de onda instantânea das correntes no lado CA.

3.8 Referências bibliográficas


Crestani, M. “Com uma terceira portaria, o novo fator de potência já vale em abril”. Eletricidade
Moderna, ano 22, no 239, fevereiro de 1994.

A. R. Prasad, P. D. Ziogas and S. Manlas: “A Novel Passive Waveshaping Method for Single-
Phase Diode Rectifier”. Proc. Of IECON ‘90, pp. 1041-1050

R. Gohr Jr. and A. J. Perin: “Three-Phase Rectifier Filters Analysis”. Proc. Of Brazilian Power
Electronics Conference, COBEP ‘91,Florianópolis - SC, pp. 281-283.

C. de Sá e Silva, “Power factor correction with the UC3854,” Unitrode Application Note U-125,
Unitrode Corporation, USA, 1986.

Mohan, Undeland & Robbins, “Power Electronics”, IEEE Press, 2nd Edition, 1995.

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Fontes Chaveadas - Cap. 3 Técnicas de Modulação em Fontes Chaveadas J. A. Pomilio

3. TÉCNICAS DE MODULAÇÃO EM FONTES CHAVEADAS

O objetivo deste capítulo é descrever os principais métodos de comando dos conversores


CC-CC, bem como identificar suas vantagens e limitações.
Via de regra, as fontes chaveadas operam a partir de uma fonte de tensão CC de valor
fixo, enquanto na saída tem-se também uma tensão CC, mas de valor distinto (fixo ou não).
As chaves semicondutoras estão ou no estado bloqueado ou em plena condução. A tensão
média de saída depende da relação entre o intervalo em que a chave permanece fechada e o
período de chaveamento. Define-se ciclo de trabalho (largura de pulso ou razão cíclica) como a
relação entre o intervalo de condução da chave e o período de chaveamento. Tomemos como
exemplo a figura 3.1 na qual se mostra uma estrutura chamada abaixadora de tensão (ou “buck”).
Para este circuito, o papel do indutor e do capacitor é o de extrair o valor médio da tensão
no diodo (vo) e disponibilizar esta tensão com baixa ondulação na saída (Vo).

T L
E D vo C R Vo

vo

Vo

τ t
t
T
Figura 3.1 Conversor abaixador de tensão e forma de onda da tensão aplicada ao filtro de saída.

3.1 Modulação por Largura de Pulso - MLP (PWM – Pulse Width Modulation)

Em MLP opera-se com freqüência constante, variando-se o tempo em que a chave


permanece ligada.
O sinal de comando é obtido, de modo analógico, pela comparação de um sinal de
controle (modulante) com uma onda periódica (portadora), por exemplo, uma onda "dente-de-
serra". A figura 3.2 ilustra estas formas de onda.

vp

vc vp
τ - vs(t)
vo
tT
vs(t)
vo
vc
+
Vs Vo t T vc
=
τ vp

Figura 3.2 Modulação por Largura de Pulso.

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Fontes Chaveadas - Cap. 3 Técnicas de Modulação em Fontes Chaveadas J. A. Pomilio

A freqüência da portadora deve ser pelo menos 10 vezes maior do que a modulante, de
modo que seja relativamente fácil filtrar o valor médio do sinal modulado (MLP), recuperando
uma tensão média que seja proporcional ao sinal de controle. Para tanto é também necessário que
a onda portadora tenha uma variação linear com o tempo (onda triangular).
Do ponto de vista do comportamento dinâmico do sistema (que será detalhadamente
analisado em capítulos posteriores), a MLP comporta-se como um elemento linear quando se
analisa a resposta do sistema tomando por base os valores médios da corrente e da tensão.

3.1.1 Espectro Harmônico de Sinal MLP


A figura 3.3 mostra formas de onda relativas à modulação MLP de um sinal de referência
que apresenta um nível contínuo. A saída do comparador é uma tensão com 2 níveis, na freqüência
da onda triangular. Na figura 3.4 tem-se o espectro desta onda MLP, onde se observa a presença de
uma componente contínua que reproduz o sinal modulante. As demais componentes aparecem nos
múltiplos da freqüência da portadora sendo, em princípio, relativamente fáceis de filtrar dada sua
alta freqüência.
10V

0V
10V

0V
0s 0.2ms 0.4ms 0.6ms 0.8ms 1.0ms

Figura 3.3 Modulação MLP de nível CC.


8.0V

6.0V

4.0V

2.0V

0V
0Hz 50KHz 100KHz 150KHz 200KHz

Figura 3.4 Espectro de sinal MLP.

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3.2 Modulação por limites de corrente - MLC (Histerese)

Neste caso, são estabelecidos os limites máximo e/ou mínimo da corrente, fazendo-se o
chaveamento em função de serem atingidos tais valores extremos. O valor instantâneo da
corrente, em regime, é mantido sempre dentro dos limites estabelecidos e o conversor comporta-
se como uma fonte de corrente.
Tanto a freqüência como o ciclo de trabalho são variáveis, dependendo dos parâmetros do
circuito e dos limites impostos. A figura 3.5 mostra as formas de onda para este tipo de
controlador.
MLC só é possível em malha fechada, pois é necessário medir instantaneamente a
variável de saída. Por esta razão, a relação entre o sinal de controle e a tensão média de saída é
direta. Este tipo de modulação é usado, principalmente, em fontes com controle de corrente e que
tenha um elemento de filtro indutivo na saída.
É um controle não-linear e que garante a resposta mais rápida a um transitório de carga,
de referência ou de entrada. Conforme ilustra a figura 3.5, caso ocorra uma diminuição na tensão
de entrada, automaticamente se dá um ajuste no tempo de condução do transistor de modo que
não há qualquer alteração na corrente média de saída e, portanto, na tensão de saída.
Mudança
mudança na tensão de entrada
na carga
io Imax
Io
Imin

t
vo
E

0
t
Figura 3.5 Formas de onda de corrente e da tensão instantânea na entrada do filtro de saída (ver
figura 3.6).

A obtenção de um sinal MLC pode ser conseguida com o uso de um comparador com
histerese, atuando a partir da realimentação do valor instantâneo da corrente. Caso a variável que
se deseja controlar seja a tensão de saída, a referência de corrente é dada pelo erro desta tensão
(através de um controlador tipo integral). A figura 3.6 ilustra este sistema de controle.
A freqüência de comutação é variável e depende dos parâmetros do circuito. Existem
algumas técnicas de estabilização da freqüência, mas envolvem uma perda de precisão na
corrente ou exigem um processamento digital.
A necessidade de realimentação do valor instantâneo da corrente torna o sistema sensível
à presença dos ruídos de comutação presentes na corrente ou mesmo associados à interferência
eletromagnética. Normalmente é preciso utilizar filtros na realimentação de corrente de modo a
evitar comutações indesejadas.
Dado que a freqüência de comutação é variável, o dimensionamento do filtro de saída
deve ser feito para as condições de pior caso, ou seja, para o conjunto de parâmetros que leve à
menor freqüência de operação. Quando a freqüência for superior a este valor a ondulação da
tensão de saída se reduzirá.

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+
vo Vo

sensor
io
corrente Realimentação da
tensão de saída

i* referência de
I v* tensão
comparador
com histerese integrador

Figura 3.6 Controlador com histerese.

Em princípio o controle por histerese poderia ser aplicado diretamente à tensão de saída.
No entanto isto poderia causar sobre-correntes excessivas em situações transitórias. Por exemplo,
partindo de condições iniciais nulas, o transistor somente seria desligado quando o capacitor de
saída atingisse a tensão desejada. Isto demandaria um longo intervalo de tempo, ocasionando um
crescimento excessivo da corrente pelo transistor.

3.3 Outras técnicas não-lineares de modulação


Outras formas de controle têm sido pesquisadas com o intuito de melhorar a resposta
dinâmica do sistema, aumentar a margem de estabilidade, rejeitar mais eficientemente
perturbações, etc. Estas novas técnicas utilizam, via de regra, métodos não-lineares e procuram
aproveitar ao máximo as características também não-lineares dos conversores.

3.3.1 Controle “One-cycle”


O controle “one-cycle” (Smedley, 1991 e Santi, 1993) permite o controle ciclo a ciclo da
tensão de um conversor com saída CC, de modo que o sistema se torna praticamente imune a
variações na alimentação e na carga. Opera com freqüência constante e modulação da largura de
pulso, mas o instante de comutação é determinado por uma integração da tensão que é aplicada
ao estágio de saída do conversor.
A figura 3.7 mostra a estrutura básica para um conversor abaixador de tensão.
Uma vez que, em regime permanente, a tensão média numa indutância é nula, a tensão de
saída, Vo, é igual à tensão média sobre o diodo. A tensão sobre o diodo, no entanto, variará entre
praticamente zero (quando o componente conduz) e a tensão de alimentação. Seu valor médio, a
cada ciclo de chaveamento, deve ser igual a Vo. Tal valor médio a cada ciclo é que é obtido pela
integração de tal tensão.
O sinal integrado é comparado com a referência. Enquanto não atingi-la, a chave
permanece ligada (tensão E aplicada sobre o diodo). Quando a tensão de referência é igualada, o
capacitor do integrador é descarregado e o comparador muda de estado, desligando o transistor,
até o início do ciclo seguinte, o qual é determinado pelo clock.
Observe que qualquer variação na referência, na tensão de entrada ou na carga afeta o
intervalo de tempo que o transistor permanece conduzindo, mas sempre de maneira a manter a
tensão média sobre o diodo igual ao valor determinado pela referência.
As limitações do método referem-se a não idealidades do circuito. Por exemplo, a queda
de tensão devido à resistência do indutor aparecerá como um erro na tensão de saída, pois não

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pode ser compensada medindo-se a tensão instantânea no diodo. Para que a tensão de condução
do diodo seja devidamente considerada, o reset do integrador deve ser muito rápido e o
integrador deve atuar mesmo durante o intervalo em que o transistor está desligado.
clock

+
vo
E
Vo
vo
E

integrador
vi v*
Q Q
comparador Ci
S R vi Rf
+
fc +
v*
clock referência
Figura 3.7 Controle “one-cycle” aplicado a conversor abaixador de tensão.

3.3.2 Controle de carga


O controle de carga (Tang, 1992) é muito semelhante ao controle “one-cycle”, sendo que
o sinal integrado é a corrente de entrada do conversor (corrente no transistor, neste caso).
As formas de onda e o circuito são mostrados na figura 3.8.
Por realizar uma medida da carga injetada no circuito num certo intervalo de tempo, este
tipo de controle equivale a um controlador de corrente, apresentando alguma vantagens
adicionais, tais como: uma grande imunidade a ruído (uma vez que o sinal de corrente é
integrado, e não tomado em seu valor instantâneo); não necessita de uma rampa externa para
realizar a comparação (que é feita diretamente com a referência); comportamento antecipativo em
relação a variações na tensão de entrada e na carga. A freqüência é mantida constante pelo
“clock”.
clock

+
E vo Vo
vo
E
ii

integrador
vi i*
Q Q
comparador Ci
S R vi Rf
+ +
fc i* Realimentação da
clock tensão de saída
Referência
de corrente referência de
I v* tensão de saída
integrador
Figura 3.8 Controle de carga aplicado a conversor abaixador de tensão.

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3.3.3 Modulação Delta


O sinal de referência é comparado diretamente com a saída modulada (e não a filtrada). O
sinal de erro é integrado e a saída do integrador é comparada com zero. A saída do comparador é
amostrada a uma dada freqüência, fc, e o sinal de saída do amostrador/segurador comanda a
chave. A figura 3.9 mostra o sistema.
O estado da chave em cada intervalo entre 2 amostragens é determinado pelo sinal da
integral do erro de tensão (no instante da amostragem). Deste modo os mínimos tempos de
abertura e de fechamento são iguais ao período de amostragem. A robustez do controlador é seu
ponto forte. O problema é que esta técnica de controle é intrinsecamente assíncrona, dificultando
o projeto dos filtros.

clock

+
vo
E
Vo
vo
E
v*

clock
integrador
fc comparador vo
+ I v*
+
S&H referência

Figura 3.9. Controlador Delta.

3.4 Modulação em freqüência - MF

Neste caso opera-se a partir de um pulso de largura fixa, cuja taxa de repetição é variável.
A relação entre o sinal de controle e a tensão de saída é, em geral, não-linear. Este tipo de
modulação é utilizado, principalmente em conversores ressonantes. A figura 3.10 mostra um
pulso de largura fixa modulado em freqüência.
Um pulso modulado em freqüência pode ser obtido, por exemplo, pelo uso de um
monoestável acionado por meio de um VCO, cuja freqüência seja determinada pelo sinal de
controle.

σ
vo
E Vo

0
t1 t2 t3

Figura 3.10 Pulso de largura σ modulado em freqüência.

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3.5 Modulação MLP com freqüência de portadora variável

Uma alternativa que apresenta como vantagem o espalhamento do espectro é o uso de


uma freqüência de chaveamento não fixa, mas que varie, dentro de limites aceitáveis, de uma
forma, idealmente, aleatória. Isto faz com que as componentes de alta freqüência do espectro não
estejam concentradas, mas apareçam em torno da freqüência base, como se observa na figura
3.11. Note-se que o nível contínuo não sofre alteração, uma vez que ele independe da freqüência
de chaveamento.
8.0V

6.0V

4.0V

2.0V

0V
0Hz 50KHz 100KHz 150KHz 200KHz

Figura 3.11. Espectro de sinal MLP com portadora de freqüência variável.

3.6 Referências

K. M. Smedley and S. Cuk: “One-Cycle Control of Switching Converters”. Proc. of PESC ‘91,
pp. 888-896.

E. Santi and S. Cuk: “Modeling of One-Cycle Controlled Switching Converters”. Proc. of


INTELEC ‘92, Washington, D.C., USA, Oct. 1993.

W. Tang and F. C. Lee: “Charge Control: Modeling, Analysis and Design”. Proc. of VPEC
Seminar, 1992, Blacksbourg, USA.

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3.7 Exercícios

1. Simule o circuito abaixo que se refere à aplicação de um sinal MLP a um filtro LC e carga
resistiva. Observe o comportamento da corrente no indutor e da tensão de saída no transitório
de partida (condições iniciais nulas) e quando ocorre a alteração na carga. A tensão de
alimentação do operacional é de +/- 15V. A onda portadora é de 1 kHz, variando entre 0 e 5V.

2. Faça a simulação do circuito abaixo que realiza modulação por limites de corrente (histerese).
Verifique o comportamento da corrente no indutor e da tensão de saída no transitório inicial
(condições iniciais nulas) e quando ocorre a alteração na carga. Compare e comente as
diferenças com os resultados MLP.

3. Analise comparativamente os espectros da tensão na saída do bloco limitador e da corrente no


indutor.

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4. CONVERSORES RESSONANTES

Nas topologias em que as chaves semicondutoras comutam a corrente total da carga a cada
ciclo, elas ficam sujeitas a picos de potência que colaboram para o "stress" do componente,
reduzindo sua vida útil. Além disso, elevados valores de di/dt e dv/dt são potenciais causadores de
interferência eletromagnética (IEM).
Quando se aumenta a freqüência de chaveamento, buscando reduzir o tamanho dos
elementos de filtragem e dos transformadores, as perdas de comutação se tornam mais
significativas sendo, em última análise, as responsáveis pela freqüência máxima de operação dos
conversores.
Por outro lado, caso a mudança de estado das chaves ocorra quando tensão e/ou corrente por
elas for nula, o chaveamento se faz sem dissipação de potência.
Analisaremos a seguir algumas topologias básicas que possibilitam tal comutação não-
dissipativa. A carga “vista” pelo conversor é formada por um circuito ressonante e uma fonte (de
tensão ou de corrente). O dimensionamento adequado do par L/C faz com que a corrente e/ou a
tensão se invertam, permitindo o chaveamento dos interruptores em situação de corrente e/ou
tensão nulas, eliminando as perdas de comutação.

4.1 Conversor ressonante com carga em série (SLR)

A topologia básica deste conversor é mostrada na figura 4.1.


Io
i
L
S1 D1
E/2 + vc - +
B'
A Vo
B Lr Cr
B Co
S2 D2
E/2 Ro

Figura 4.1. Conversor ressonante com carga em série

Lr e Cr formam o circuito ressonante. A corrente iL é retificada e alimenta a carga, a qual


conecta-se em série com o circuito ressonante.
Co é usualmente grande o suficiente para se poder considerar Vo sem ondulação. As perdas
resistivas no circuito podem ser desprezadas, simplificando a análise.
Vo se reflete na entrada do retificador entre B e B', de modo que:

vB’B = Vo se iL>0
vB’B = -Vo se iL<0 (4.1)

Quando iL>0, conduz S1 ou D2. Quando S1 conduz, tem-se:

vAB = E/2
vAB' = (E/2-Vo) (4.2)

Se D2 conduzir:

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vAB = -E/2
vAB' = -(E/2+Vo) (4.3)

Quando iL<0, conduz S2 ou D1. Quando S2 conduz tem-se:

vAB = -E/2
vAB' = -(E/2-Vo) (4.4)

Se D1 conduz:

vAB = E/2
vAB' = E/2+Vo (4.5)

Usualmente o controle de S1 e S2 é simétrico, e a condução dos diodos D1 e D2 também o


é. A análise de meio ciclo permite analisar todo o comportamento do circuito. O controle da tensão
de saída é feito por modulação em freqüência.
O uso de um transformador entre B e B' permite alterar a tensão na carga, sem afetar o
funcionamento da topologia.
Este conversor tem como característica uma proteção intrínseca contra sobrecarga, uma vez
que opera como uma fonte de corrente, no entanto, exige uma carga mínima para funcionar.
A freqüência de ressonância é dada por:

1
ωo = (4.6)
Lr ⋅ Cr

O circuito ressonante mostrado na figura 4.2. tem as seguintes equações:


i
L
+ vc -
A B'
Lr Cr
+ + + Vo
+ E/2
- -

Figura 4.2. Circuito ressonante equivalente

V − VCo
i L ( t ) = I Lo ⋅ cos[ωo ⋅ ( t − to)] + ⋅ sin[ωo ⋅ ( t − to)] (4.7)
Zo

v C ( t ) = V − (V − VCo ) ⋅ cos[ω o ⋅ ( t − to)] + Zo ⋅ I Lo ⋅ sin[ω o ⋅ ( t − to)] (4.8)

ILo e VCo são as condições iniciais de corrente no indutor e tensão no capacitor, respectivamente. A
tensão V é a tensão CC resultante na malha, ou seja, a soma (ou subtração) da tensão de entrada
com a de saída (V=VAB').

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Lr
Zo = (4.9)
Cr

4.1.1 Modo de operação descontínuo, ωs<ωο/2


A figura 4.3. mostra as formas de onda referentes a este modo de funcionamento. A figura
4.4. mostra os circuitos equivalentes em cada intervalo de funcionamento.
Em ωo.to, S1 é ligado e iL começa a crescer. A tensão sobre o capacitor cresce desde seu
valor inicial (-2Vo). Em ωo.t1, ou seja, 180° após ωoto, iL se inverte e deve fluir por D1 (pois S2
não foi acionado). A retirada do sinal de base/gate de S1 deve ocorrer durante a condução de D1,
ou seja, S1 desliga com corrente e tensão nulas. Após mais 180°, a corrente se anula e assim
permanece, pois não há outra chave conduzindo. A tensão sobre Cr permanece +2Vo, até o início
do próximo semi-ciclo, quanto S2 entra em condução em ωot3. Por causa desta descontinuidade da
corrente, meio-ciclo da freqüência de chaveamento excede 360° da freqüência de ressonância.
Durante o intervalo t2 a t3, não existe corrente pelo circuito, de modo que a tensão sobre o
capacitor não se altera. Variando-se a duração deste intervalo ajusta-se a tensão de saída.

E
v
C
2Vo
S2 i
L
0

D2 t5 T
-2Vo S1 D1
t4
to t1 t2 t3

1/ωο
1/ωs

Comando de S1

Figura 4.3. Formas de onda do conversor no modo de operação descontínuo.

A B' A B' A B' A B'


Lr Cr Lr Cr Lr Cr Lr Cr

iL Vo iL Vo iL Vo iL Vo
E/2 E/2 E/2 E/2

B B B B
to a t1 t1 a t2 t3 a t4 t4 a t5

Figura 4.4. Circuitos equivalentes a cada intervalo do modo de operação.

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Note que a entrada e a saída de condução dos transistores e diodos ocorre quando a corrente
é nula. Assim, não existe perda de chaveamento nos semicondutores. Por outro lado, o pico de
corrente pelos dispositivos implica num aumento das perdas de condução.

4.1.2 Modos de operação contínuo para ωo/2<ωs<ωo


Atuando-se com freqüência de chaveamento na faixa ωo/2<ωs<ωo teremos uma situação em
que não ocorre descontinuidade da corrente, de modo que uma das comutações é dissipativa. A
figura 4.5. mostra as formas de onda de corrente pelo indutor e tensão no capacitor neste modo de
operação. Na figura 4.6. têm-se os circuitos equivalentes em cada intervalo.

vC

iL

S1 D1 S2 D2

to t1 t2 t3 t4

Figura 4.5. Formas de onda quando ωo/2<ωs<ωo

A B' A B' A B' A B'


Lr Cr Lr Cr Lr Cr Lr Cr

iL Vo iL Vo iL Vo iL Vo
E/2 E/2 E/2 E/2

B B B B
to a t1 t1 a t2 t2 a t3 t3 a t4

Figura 4.6. Circuitos equivalentes a cada intervalo do modo de operação

S1 entra em condução em ωoto, sob tensão e corrente diferentes de zero (dissipando


potência). Em ωot1 (menos que 180°) a corrente se inverte, passando por D1 (S1 desliga com
corrente nula). Em ωot2 S2 entra em condução, desligando D1 e iniciando o semiciclo seguinte.
Neste caso não existe o intervalo de corrente nula pelo circuito.

4.1.3 Modo de operação contínuo para ωs>ωo


S1 começa a conduzir em ωoto com corrente nula (o sinal de condução deve ter sido
aplicado durante a condução de D1). Em ωot1 S1 é desligado e a corrente tem continuidade via D2.
O desligamento de S1 é dissipativo. Durante a condução de D2 envia-se o sinal de condução para
S2, o qual entrará em condução assim que a corrente se inverter (D2 desligar).
A figura 4.7. mostra as formas de onda e os circuitos equivalentes neste modo de operação.

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iL
vC

D1 S1 D2 S2 D1

to t1 t2 t3 t4

A B' A B' A B' A B'


Lr Cr Lr Cr Lr Cr Lr Cr

iL Vo iL Vo iL Vo iL Vo
E/2 E/2 E/2 E/2

B B B B
to a t1 t1 a t2 t2 a t3 t3 a t4
Figura 4.7. Formas de onda para ωs>ωo e circuitos equivalentes em cada intervalo do modo de
operação.

Neste modo de operação é possível, adicionando-se capacitores entre os terminais principais


das chaves, obter-se comutação sob tensão nula, como mostra a figura 4.8.
Durante a condução do interruptor (por exemplo, S1), o capacitor colocado em paralelo a
ele está, obviamente, descarregado. Quando a chave é aberta, o capacitor se carrega com a corrente
da carga, até levar o diodo do ramo complementar (p.ex. D2) à condução. No semiciclo seguinte, ao
ser desligado o interruptor (S2), o diodo (D1) deve entrar em condução, o que acontecerá após a
carga do capacitor conectado ao interruptor que estava em condução. Como a tensão de entrada é
constante, a carga de um capacitor implica na descarga do outro. Assim, a energia armazenada nos
capacitores não é dissipada, mas fica fluindo (idealmente) de um para outro.
A figura 4.9. mostra a característica estática do conversor. Os valores são normalizados em
relação aos seguintes valores base:

E
Vbase =
2
E
I base = (4.10)
2 ⋅ Zo
ω base = ωo

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Io
i
L
S1 D1 C1
E/2 + vc - +
B'
A Vo
B Lr Cr
B Co
S2 D2 C2
E/2 Ro

i
S1

i
D2

v
S1 E

v
S2
E

Figura 4.8. Inclusão de capacitores para obter comutações sob tensão nula.

Io 10

Vo=0.4 Vo=0.4

Vo=0.9
0 ωs
0 0.5 1 1.5 ωo

Figura 4.9. Característica estática de conversor ressonante com carga em série

São mostradas curvas para 2 valores de tensão de saída. Note-se que no modo descontínuo
(ωs<0,5) o conversor se comporta como uma fonte de corrente, cujo valor é ajustado pela variação
da freqüência. A variação da carga (portanto de Vo) não altera o valor da corrente. Isto justifica a
afirmação anterior quanto à característica do conversor possuir uma inerente proteção contra sobre-
corrente.

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4.2 Conversor ressonante com carga em paralelo (PLR)

A topologia deste conversor está mostrada na figura 4.10.


io
Io
i
L
S1 D1 Lo
E/2 +
B'
A Vo
B Lr Cr
B Co
S2 D2
E/2 Ro

Figura 4.10. Conversor ressonante com carga conectada em paralelo com o capacitor

Nesta topologia a carga é conectada em paralelo com o capacitor do circuito ressonante. A


tensão sobre o capacitor é retificada, filtrada e fornecida à carga. É possível usar transformador para
isolar e escalonar a tensão de saída.
Para obter um modelo para o circuito, pode-se considerar que a corrente de saída seja sem
ondulação, o que é razoável, considerando a elevada freqüência de chaveamento. A tensão sobre o
circuito ressonante, vAB será igual a +E/2 caso conduzam S1 ou D1. Quando conduzirem S2 e D2,
a tensão será -E/2.
Este conversor opera como uma fonte de tensão, podendo operar sem carga e suportando
uma larga variação na corrente de saída, mas não possui proteção contra curto-circuito.
O circuito ressonante equivalente está mostrado na figura 4.11. e tem as seguintes equações
(válidas no intervalo entre t1 e t3):

E
− VCo
2
i L ( t ) = Io + (I Lo − Io) ⋅ cos[ωo ⋅ ( t − t1)] + ⋅ sin[ωo ⋅ ( t − t1)] (4.11)
Zo

E E 
v C (t) = −  − VCo  ⋅ cos[ωo ⋅ ( t − t1)] + Zo ⋅ (I Lo − Io) ⋅ sin[ωo ⋅ ( t − t1)] (4.12)
2 2 

Onde ILo e VCo são as condições iniciais de corrente no indutor e tensão no capacitor.
iL
A B'
Lr
+
+ + Io
+ E/2 vC
- Cr
-
B
Figura 4.11. Circuito ressonante equivalente para conversor com carga em paralelo ao capacitor.

Nos intervalos (to a t1) e (t3 a t4) as formas de onda têm uma evolução linear.

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4.2.1 Modo de operação descontínuo, ωs<ωo/2


Neste modo de operação [4.1], tanto iL quanto vC permanecem nulos por algum tempo. Em
ωoto, S1 entra em condução. Enquanto |iL|<Io, a corrente de saída circula pelos diodos da ponte
retificadora, mantendo vC=0. Em ωot1, |iL|>Io e a diferença (iL-Io) circula pelo capacitor Cr,
aumentando vC. Dada a ressonância entre Lr e Cr, a corrente tende a oscilar. As formas de onda da
corrente no indutor e da tensão no capacitor estão mostradas na figura 4.12. Na figura 4.13. têm-se
os circuitos relativos a cada intervalo de funcionamento.
Quando |iL| se torna novamente menor que Io, o capacitor passa a se descarregar, fornecendo
o complemento da corrente de saída. Em ωot2, a corrente se inverte e circula por D1. S1 deve ser
desligado antes de ωot3, comutando sob tensão e corrente nulas. Em ωot3 D1 deixa de conduzir e a
corrente se anula. O capacitor passa a fornecer sozinho a corrente de saída, decaindo linearmente
sua tensão.
Quando vC se anula, os diodos da ponte retificadora conduzem, num intervalo de livre-
circulação. Em ωot5, S2 entra em condução, iniciando o semi-ciclo negativo.
Tanto os transistores, quanto os diodos não produzem perdas nas mudanças de estado.
Para que seja possível comutação suave é necessário que a corrente, no limite toque o zero
em seu segundo semiciclo. Isto significa que existe uma máxima corrente de carga que pode ser
comutada, a qual é dada por:

E
Io < (4.13)
2Zo
E
vC

E/2
iL
Linear
Linear Io
0

S1 D1
to t1 t2 t3 t4 t5

Comando de S1

Figura 4.12. Formas de onda de corrente e tensão nos elementos ressonantes no modo de operação
descontínuo.
iL iL

A B' A B' B' B'

Io Io Io Io
+ + + +

E/2 v E/2 v E/2 v E/2 v


C C C C

B B B B

to a t1 t1 a t3 t3 a t4 t4 a t5
Figura 4.13. Circuitos equivalentes a cada intervalo de funcionamento

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4.2.2 Modo de operação contínuo para ωo/2<ωs<ωo


Atuando-se com freqüência de chaveamento [4.2] na faixa ωo/2<ωs<ωo teremos uma
situação em que não ocorre descontinuidade da corrente, de modo que uma das comutações é
dissipativa. A figura 4.14. mostra as formas de onda do circuito ressonante e a figura 4.15. mostra
os circuitos equivalentes de cada intervalo de funcionamento.
S1 entra em condução quando a corrente é positiva, dissipando potência. A corrente oscila e
quando se inverte passa por D1, até que S2 seja disparado. S1 tem seu sinal de acionamento
retirado durante a condução de D1, logo, sob corrente e tensão nulas. Após a entrada em condução
de S2 inicia-se o semiciclo seguinte.

vC

iL

D2 S1 D1 S2 D2
to t1 t2 t3 t4 t5

Figura 4.14. Formas de onda de corrente pelo indutor e tensão no capacitor para ωo/2<ωs<ωo
iL iL iL iL

A B' A B' B' B'

Io Io Io Io
+ + + +

E/2 v E/2 v E/2 v E/2 v


C C C C

B B B B

to a t1 t1 a t2 t2 a t3 t3 a t4

Figura 4.15. Circuitos equivalentes para cada intervalo de funcionamento

4.2.3 Modos de operação contínuo para ωs>ωο


S1 começa a conduzir com corrente nula (o sinal de condução deve ter sido aplicado durante
a condução de D1). Quando S1 é desligado, a corrente tem continuidade via D2. O desligamento de
S1 é dissipativo. Durante a condução de D2 envia-se o sinal de condução para S2, o qual entrará em
condução assim que a corrente se inverter (D2 desligar). Neste modo de operação é possível,
adicionando-se capacitores entre os terminais principais das chaves, obter-se comutação sob tensão
nula, como já foi descrito anteriormente.
A figura 4.16. mostra as formas de onda de tensão e de corrente e a figura 4.17. mostra os
circuitos equivalentes em cada intervalo de funcionamento.

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iL vC

D1 S1 D2 S2
to t1 t2 t3 t4

Figura 4.16. Formas de onda de tensão no capacitor e corrente no indutor para ωs>ωο

iL iL iL iL

A B' A B' B' B'

Io Io Io Io
+ + + +

E/2 v E/2 v E/2 v E/2 v


C C C C

B B B B

to a t1 t1 a t2 t2 a t3 t3 a t4

Figura 4.17. Circuitos equivalentes a cada intervalo de funcionamento

A figura 4.18. mostra a característica de transferência estática deste conversor, para


diferentes valores da corrente de saída. A normalização utilizada é a mesma do conversor com
carga em série.
Nota-se que no modo descontínuo, o conversor apresenta uma boa característica de fonte de
tensão, uma vez que Vo independe de Io. O ajuste da tensão é linear com a freqüência de
chaveamento. Isto é especialmente útil para o projeto de conversores com múltiplas saídas.
Para ωs>ωo, uma variação menor que 50% na freqüência de chaveamento permite uma
excursão bastante ampla na tensão de saída.
O conversor pode operar como abaixador ou elevador de tensão.

4.3 Conversor ressonante com carga em paralelo, com saída capacitiva

No item 4.2. foi visto um conversor cuja carga, conectada em paralelo ao capacitor de
ressonância, era alimentada através de um filtro LC, ou seja, do ponto de vista do conversor, a
carga se comporta como uma fonte de corrente. Outra possibilidade é ter-se uma carga que se reflita
sobre o capacitor ressonante como uma fonte de tensão [4.3], ou seja, que o estágio de saída não
possua a indutância de filtragem, como se vê na figura 4.19.

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Vo

Io=0.4
4
Io=0.4

Io=0.8
0 ωs
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 ωo 1.2 1.4

Figura 4.18. Característica estática do conversor com carga conectada em paralelo com o capacitor
ressonante.

Io
iL
S1 D1
E/2 +
B'
A Vo
B Lr Cr
B Co
S2 D2
E/2 Ro

Figura 4.19. Conversor ressonante com carga em paralelo, do tipo capacitiva

A ressonância se comporta de modo semelhante ao conversor com saída de corrente, mas a


corrente de saída existe apenas quando a tensão sobre Cr atinge o valor Vo.
Consideremos as formas de onda da figura 4.20. Entre to e t1, a corrente é negativa,
circulando por D1. Durante este intervalo é dado o comando para condução de S1, o qual entra
efetivamente em condução em t1, sob corrente nula. Entre to e t2 a tensão sobre Cr cresce de modo
ressonante, até atingir o valor da tensão de saída. Neste instante, supondo Co>>Cr, a tensão entre
B’ e B se mantém constante, num valor igual a Vo. A corrente pelo indutor Lr passa a ter uma
variação linear. Se a tensão de saída for menor do que a de entrada, a corrente aumenta, e vice-
versa. Em regime, no entanto, Vo>E/2.
Quando se desliga S1, em t3, a corrente passa a circular por D2 e S2 recebe sinal para ligar,
conduzindo efetivamente quando a corrente se inverter . A tensão sobre Cr varia de modo
ressonante, invertendo-se, até ser atingida novamente a tensão de saída (agora negativa), repetindo-
se o funcionamento descrito. Dependendo dos parâmetros do circuito e da freqüência de operação, a
variação linear da corrente pode levá-la a zero, de modo que não ocorrem as conduções dos diodos.
Com a adição de capacitores em paralelo com os interruptores é possível obter um
desligamento sob tensão nula, da mesma forma como já foi explanado anteriormente. Assim, todas
as comutações dos transistores e diodos são suaves.
Como vantagem deste conversor tem-se a não necessidade do indutor de saída o qual,
especialmente em aplicações de alta tensão, são elementos problemáticos. Por outro lado, como a
condução dos diodos do retificador se dá apenas durante parte do período de chaveamento, para
uma mesma potência de saída, eles devem conduzir uma corrente de pico de maior valor. Além
disso, suas comutações serão mais dissipativas, dado que as correntes comutadas são de maior

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intensidade. Isto se torna mais crítico à medida que crescem a potência e a freqüência de
chaveamento.

ressonante linear
Vo

vC i
L

linear

-Vo
to t1 t2 t3
D1 S1 S1 D2 S2

Figura 4.20. Formas de onda do conversor com carga em paralelo do tipo capacitiva

4.4 Alterações nas topologias dos conversores ressonantes

O controle da tensão de saída, conforme foi visto, se faz pela variação da freqüência de
chaveamento. Isto significa que, para os casos em que se deseja uma larga faixa de variação da
tensão, o espectro de freqüência pode ser grande. A dificuldade oriunda deste fato é que o
dimensionamento dos elementos de filtragem deve ser feito para a menor freqüência possível,
levando, assim, a um superdimensionamento para as freqüências mais altas. Além disso, a relação
entre o sinal de controle e a tensão de saída é, em geral, não-linear, levando a uma maior
dificuldade no projeto da malha de controle.
Outro fator significativo nestes conversores é o de que a corrente e a tensão RMS pelas
chaves semicondutoras é maior do que a necessária para a transferência de potência para a saída.
Isto ocorre por conta da energia envolvida no processo de ressonância próprio do circuito,
implicando no aumento dos reativos do circuito, sem relação com a potência ativa da saída.
Visando basicamente, contornar estes inconvenientes, quais sejam, os maiores valores RMS
e o controle por variação da freqüência, têm sido feitas inúmeras propostas de alterações nestas
topologias, das quais, a título de exemplo, indicaremos o caso do conversor SLR.

4.4.1 Limitação da sobre-tensão


A figura 4.21. mostra um circuito que limita a tensão sobre o capacitor do circuito
ressonante à tensão de alimentação [4.5]. A colocação dos diodos evita a presença de valores de
tensão mais elevados sobre os componentes. A não existência de um retorno de energia para a
fonte faz com que a energia retirada da alimentação vá toda para a carga (desconsiderando-se as
perdas). Neste circuito, o controle da tensão de saída continua sendo feito pela variação da
freqüência de chaveamento [4.6].
Em t1 o interruptor entra em condução, partindo de uma corrente inicial nula. A tensão
sobre o capacitor, que estava limitada em -E/2, cresce, variando de modo ressonante, até que em t2,
atinge +E/2 e fica limitada. A corrente passa a variar linearmente, decaindo até zero em t3. Em t4
S2 é ligado e inicia-se o ciclo negativo.
O aumento da freqüência pode fazer com que a corrente não caia a zero durante a condução
dos interruptores. Caso isto aconteça, quando os interruptores são desligados, a continuidade da

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corrente se dá pela condução dos diodos D1 ou D2. A inclusão de capacitores junto aos
interruptores permite, assim, um desligamento suave.
A figura 4.22. mostra as formas de onda obtidas.

Da1
S1 D1
E/2
+
+ vc -
Vo
Lr Co Cr
S2 D2
Ro E/2

Da2

Figura 4.21. Circuito ressonante com carga em série, com limitação de tensão

inclinação depende de Vo

iL
vC
E/2

-E/2
S1 S1 Da1
to t1 t2 t3 t4

Figura 4.22. Formas de onda com limitação da tensão sobre o capacitor ressonante

4.4.2 Controle por MLP


Torna-se possível realizar um controle por Modulação de Largura de Pulso [4.7] por meio
da interrupção do processo ressonante que envolve o capacitor no momento em que sua tensão
passa pelo zero. Isto é feito pelo uso de chaves colocadas em paralelo com o capacitor, as quais são
fechadas no momento adequado, abrindo-se quando se deseja concluir o processo ressonante. O
circuito é mostrado na figura 4.23.
A chave colocada junto ao capacitor deve ser bidirecional em tensão e corrente. Seu
acionamento ocorre quando a tensão atinge o zero, de modo que o circuito de controle precisa
monitorar esta tensão para saber o momento de ligar a chave auxiliar.
Na verdade, o controle não é MLP puro, uma vez que a tensão de saída depende também da
duração do período de ressonância. Fazendo-se com que este período seja muito menor do que o
período no qual se faz o controle MLP, obtém-se uma relação razoavelmente linear entre o sinal de
controle e a tensão de saída. A figura 4.24. mostra as formas de onda do circuito.

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Da1
S aux
S1 D1
+ E/2

Vo
Lr Co Cr
S2 D2
Ro E/2

Da2

Figura 4.23. Conversor com controle MLP

S aux

S2

S1

E/2
v i
C L
0

-E/2

t2'
to t1 t2 t3 t4 t5
S1 S1 S1 e Da1
Saux

Figura 4.24. Sinais de comando dos interruptores (traços superiores); corrente no indutor e tensão
no capacitor ressonante.

Em to o interruptor S1 é ligado. Inicia-se a ressonância entre Lr e Cr. O capacitor, que


estava carregado com uma tensão negativa -E/2, vai invertendo sua tensão. Quando esta chega a
zero, em t1, o interruptor auxiliar, Saux, entra em condução, mantendo a tensão sobre Cr em zero. A
corrente por Lr cresce linearmente até que em t2 a chave auxiliar é aberta. A ressonância entre Lr e
Cr é retomada, e a tensão cresce até o valor E/2, no qual é limitada. Quando o diodo de limitação da
tensão entra em condução encerra-se a ressonância e a corrente pelo indutor começa a cair
linearmente, atingindo zero em t3. S1 é desligado sob corrente zero em t4. O semiciclo negativo se
inicia com a entra em condução de S2, em t5.

4.5 Referências Bibliográficas

[4.1] H. L. Hey; P. D. Garcia and I. Barbi: “Analysis of Parallel Resonant Converter (PRC)
Operating at Switching Frequency Less than Resonant Frequency”. Proc. of 1st. Power
Electronics Seminar, Florianópolis - SC, Dec. 1989.
[4.2] Y. Kang and A. K. Upadhyay: “Analysis and Design of a Half-Bridge Parallel Resonant
Converter”. Proc. Of IEEE PESC Record, 1987, pp. 231-243.

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[4.3] R. Steigerwald: “Analysis of a Resonant Transistor DC-DC Converter with Capacitive


Output Filter”. IEEE Trans. on Industrial Electronics, vol. IE-32, no. 4, Nov. 1985, pp. 439-
444.
[4.4] S. D. Johnson, A. F. Witulski and R. W. Erickson: “Comparison of Resonant Topologies in
High-Voltage Applications”. IEEE Trans. On Aerospace and Electronic Systems, vol. 24,
no. 3, May 1988, pp. 263-273.
[4.5] F. Tsai and F. C. Lee: “A Complete DC Characterization of a Constant-Frequency,
Clamped-Mode, SDeries-Resonant Converter”. Proc. Of IEEE PESC Record, April 1988,
pp. 987-996.
[4.6] J.L.F.Vieira;F.E.V.Melo;I.Barbi:”Conversor Série Ressonante com Grampeamento de
Tensão no Capacitor”.Revista Controle e Automação, SBA, vol. 3, nº 3, Ago/Set 1992
[4.7] J.L.F.Vieira; I.Barbi:“Constant Frequency PWM Capacitor Voltage Damped Series
Resonant Power Supply”.IEEE - APEC '92, Dallas, USA, 1991

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4.6 Exercício

Considere o circuito abaixo que representa um inversor em meia-ponte alimentando um circuito


ressonante com carga capacitiva em paralelo. Este modelo de carga representa o comportamento de
um ozonizador (a tensão dos diodos zener equivale à tensão de ionização do ar).

Parâmetros do transformador: Relação de transformação: 1:50; Indutância do primário: 100mH,


acoplamento unitário.
A tensão de ruptura dos diodos zener (parâmetro BV do modelo) deve ser alterada para 2 kV.
As fontes CC de entrada são de 100V.
Os sinais de comando das chaves são alternados entre si, com período de 2ms e pulso de 700us.

Simule o circuito (~20ms) e analise as formas de onda de tensão e de corrente indicadas na figura.
Verifique com cuidado a ocorrência (ou não) de comutação suave.

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5. CONVERSORES COM OUTRAS TÉCNICAS DE COMUTAÇÃO SUAVE

5.1 Características desejáveis de topologias com comutação suave

Os processos de comutação não-dissipativa, também chamada de comutação suave, podem,


em princípio, ser classificados em dois grupos, de acordo com o modo em que ocorram as mudanças
de estado das chaves: anulação da corrente (ZCS: zero current switching), ou anulação da tensão
(ZVS: zero voltage switching).
Em geral, ZVS é preferível ao ZCS para altas freqüências. A razão relaciona-se com as
capacitâncias intrínsecas do interruptor. Quando a chave é ligada sob corrente nula, mas com uma
tensão em seus terminais, a carga armazenada nas capacitâncias internas é dissipada sobre o
componente. Este fenômeno se torna mais significativo em freqüências muito elevadas. Por outro
lado, nenhuma perda ocorre em ZVS.
Tipicamente, conversores ZCS são operados até freqüências de 1 a 2 MHz, enquanto os ZVS
podem atingir 10 MHz, em baixas potências.
Existe uma infinidade de topologias propostas na literatura que permitem obter comutações
suaves dos interruptores. Uma questão que se coloca, assim, é como compará-las.
São indicados a seguir alguns critérios que podem ser levados em consideração.
• Comutações ZVS são, em princípio, preferíveis para os componentes com maior capacitâncias
(MOSFET);
• Comutação ZCS é preferível para componentes com "rabo de corrente" (IGBT);
• A quantidade de novos elementos ativos (principalmente transistores) deve ser mínima;
• A quantidade de elementos indutivos adicionais deve ser mínima;
• A quantidade total de novos elementos deve ser mínima;
• Caso existam transistores adicionais, eles devem, preferivelmente, estar no mesmo potencial de
acionamento de um dos transistores da topologia original;
• O sinal de comando do(s) transistor(es) adicional(is) deve, de preferência, ser síncrono com o
sinal de um dos transistores originais. Se puder ser o mesmo sinal, melhor;
• A topologia modificada deve permitir comutação suave para todos os componentes ativos,
inclusive os adicionais;
• O circuito modificado deve, preferivelmente, continuar operando com o mesmo tipo de
modulação do circuito original;
• O circuito adicional não deve promover aumento nas exigências de tensão e de corrente dos
componentes do circuito original;

5.2 Conversores quase-ressonantes


Os conversores quase-ressonantes procuram associar as técnicas de comutação suave
presentes nos conversores ressonantes às topologias usualmente empregadas em fontes (buck, boost,
Cuk, etc.) [5.1].
Os conversores quase-ressonantes associam às chaves semicondutoras um circuito
ressonante (composto por um indutor e um capacitor) de modo que as mudanças de estado das
chaves ocorram sempre sem dissipação de potência, seja pela anulação da corrente (ZCS), seja pela
anulação da tensão (ZVS) [5.2].
A figura 5.1. mostra as estruturas das chaves ressonantes, as quais, substituindo os
interruptores nas topologias básicas, permitem operá-los sempre com comutação suave.

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S Lr S Lr
Cr
Cr
a)

S Lr S Lr
Cr Cr
b)

Figura 5.1. a) Interruptores ressonantes a corrente zero (ZCS)


b) Interruptores ressonantes a tensão zero (ZVS)

Se o interruptor ZCS é implementado de modo a que seja possível a passagem de corrente


apenas num sentido, ele é dito de meia-onda. Se a corrente puder circular com ambas polaridades,
tem-se o interruptor de onda completa, como se vê na figura 5.2.

Lr Lr
Cr
Cr
a)

Lr Lr Cr
Cr
b)

Figura 5.2. Interruptores ZCS com:


a) Configuração de meia-onda e b) configuração de onda completa

Da mesma forma que para os interruptores ZCS, os ZVS tem as configurações de meia-onda
(nas quais a tensão sobre o interruptor só pode assumir uma polaridade) e de onda completa (quando
ambas polaridades são possíveis de serem suportadas pelo interruptor), como se vê na figura 5.3.

Lr Lr
Cr
Cr
a)

Lr Lr
Cr Cr
b)

Figura 5.3. Interruptores ZVS com:


a) Configuração em meia-onda e b) em onda completa

A figura 5.4. mostra algumas das topologias básicas quando convertidas para operar com
ZCS e ZVS. Note-se que a única alteração é a substituição do interruptor simples pelos interruptores
descritos anteriormente.

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Lr Lr
Cr Cr

Buck Buck - ZCS Buck - ZVS

Cr Lr Lr

Boost Cr
Boost - ZCS Boost - ZVS

Figura 5.4. Conversores buck e boost nas configurações básica, ZCS e ZVS

5.3 Conversores operando com ZCS

Neste tipo de conversor, a corrente produzida em uma malha ressonante flui através da
chave, fazendo-a entrar e sair de condução sob corrente nula.
Considerando um conversor abaixador de tensão (figura 5.5), a chave simples é substituída
por uma outra que é associada ao capacitor Cr e ao indutor Lr. O indutor de filtro é suficientemente
grande para considerar-se Io constante.

Io
Lr Lf +
E iL Cf Vo
vC Cr

Figura 5.5. Conversor buck - ZCS

5.3.1 Conversor de meia-onda


A figura 5.6. mostra as formas de onda para o conversor operando com um interruptor de
meia-onda.
Com a chave aberta, Io flui pelo diodo e vC e iL são nulas. Em t0 a chave é ligada e iT cresce
linearmente. Enquanto iT<Io o diodo continua a conduzir. Em t1, iT=Io, o diodo desliga e se inicia a
ressonância entre Lr e Cr.
O excesso de iT em relação a Io circula por Cr, carregando-o. Em t1' tem-se o pico de iT e
vC=E. Em t1'' iT se torna menor que Io e vC=2E. A corrente iT continua a cair e a diferença para Io é
suprida pela descarga de Cr. Em t2 iT vai a zero e a chave desliga naturalmente, já que não há
caminho para a inversão da corrente. A partir deste momento deve ser removido o sinal de
acionamento do transístor.

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iT
2E
vC
E/Zo

E
Io

to t1 t1' t1" t2 t3 T

Figura 5.6. Formas de onda para conversor buck, ZCS, meia onda

Entre t2 e t3 Cr se descarrega a corrente constante. Quando sua tensão se anula o diodo torna
a entrar em condução.
As equações pertinentes ao circuito são:

1
ωo = (5.1)
Lr ⋅ Cr

Lr
Zo = (5.2)
Cr

O intervalo no qual o indutor se carrega linearmente é:

Lr ⋅ Io
t1 = (5.3)
E

A evolução da corrente durante o intervalo ressonante é:

E
i L = Io + ⋅ sin[ωo ⋅ ( t − t1)], para t1 < t < t2 (5.4)
Zo

A corrente pelo interruptor se anula em:

 − Zo ⋅ Io 
a sin
 E 
t2 = + t1 (5.5)
ωo

A tensão presente no capacitor ressonante neste instante é:

v C ( t 2) = E{1 − cos[ωo ⋅ ( t 2 − t1)]} (5.6)

A descarga linear do capacitor obedece à seguinte equação:

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Io
v C = v C ( t 2) − ⋅ ( t − t 2) , para t2 < t < t3 (5.7)
Cr

A tensão se anula em:

v C ( t 2) ⋅ Cr
t3 = t2 + (5.8)
Io

Note que Vo é a tensão média sobre o capacitor Cr (pois a tensão média sobre Lf é nula).
Como a forma de vC depende a corrente Io, a regulação deste circuito (em malha aberta) não é boa.
Registre-se ainda que o capacitor fica sujeito a uma tensão com o dobro da tensão de entrada,
enquanto a corrente de pico pela chave é maior do que o dobro da corrente de saída.
A tensão de saída é dada por:

1   
t2 t3
 Io
Vo =  ∫ E ⋅ {1 − cos[ωo ⋅ ( t − t1)]} ⋅ dt + ∫  v C ( t 2) − ( t − t 2)  ⋅ dt  (5.9)
T   Cr  
t1 t2

Nota-se a dependência da tensão de saída com a corrente de carga (que é a que descarrega o
capacitor Cr entre t2 e t3). A figura 5.7. mostra a variação de Vo (normalizada em relação à tensão
de entrada) com a corrente (normalizada em relação à corrente de pico do circuito ressonante).
Assim, é necessária a presença de uma carga mínima de modo que se proceda à descarga de Cr
dentro do período de chaveamento.

Tensão de saída normalizada (Vo/E)


0.8

0.6

0.4

0.2
2fs
fs
0
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1
Z
Corrente de carga normalizada Io.
E
Figura 5.7. Variação da tensão de saída com a corrente da carga.

O funcionamento da topologia se dá com um tempo fixo de condução de transístor (entre t0


e t2). A variação da tensão de saída é feita variando-se a taxa de repetição da condução do transístor,
ou seja, por modulação em freqüência.
A figura 5.8. mostra a variação da tensão de saída (normalizada) com a variação da
freqüência de chaveamento (normalizada em relação à freqüência de ressonância), para diferentes
valores de corrente de carga (normalizada em relação a E/Zo).

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Tensão de saída normalizada (Vo/E)


1

0.5
0.8

0.7
0.6

0.9
0.4

0.2

0
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1
fs
f
Figura 5.8. Variação da tensão de saída com a freqüência de chaveamento, para diferentes correntes
de carga.

Para que seja possível a ocorrência de comutação não-dissipativa, é necessário que o valor
de pico da senóide de corrente, E/Zo, (que se inicia em t1) seja maior que Io, uma vez que isto
garante que a evolução de iT se fará de modo a inverter sua polaridade (veja eq. 5.4).
Uma outra possibilidade de se obter um circuito ZCS é mostrada na figura 5.9., alterando-se
a posição do capacitor. Neste caso a máxima tensão sobre o capacitor fica limitada a +/-E. A figura
5.10. mostra as formas de onda pertinentes.

Cr
Lr Lf
E Cf

Figura 5.9. Conversor buck-ZCS

5.3.2 Conversor de onda completa


Uma alteração neste circuito e que melhora sua regulação, tornando a tensão de saída menos
dependente da corrente Io, consiste na inclusão de um diodo em anti-paralelo com o transístor, de
modo que seja possível a inversão da corrente iT, prosseguindo o comportamento ressonante por
quase todo o ciclo. A descarga linear de Cr só ocorrerá quando se anular iT, o que ocorrerá para um
valor muito menor de vC, em relação ao caso anterior.

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v i
C L
+E

Io
0

-E
to t1 t1" t2 t3

Figura 5.10. Formas de onda do conversor buck-ZCS modificado.

As equações são as mesmas descritas anteriormente, apenas o instante t2 é obtido para um


ângulo maior que 270o (no caso de meia-onda o ângulo é menor do que 270o).
A figura 5.11. mostra as formas de onda. Nota-se a redução expressiva do intervalo linear de
decaimento da tensão no capacitor, o que contribui decisivamente para a redução da influência da
corrente de saída sobre a tensão.

iL
2E vC

E
Io

to t1 t1' t1" t2 t3

Figura 5.11. Formas de onda da corrente e da tensão nos componentes do circuito ressonante

A figura 5.12. mostra a variação da tensão de saída (normalizada em relação à tensão de


alimentação) com a corrente de carga (normalizada em relação à corrente de pico do circuito
ressonante), para dois valores de freqüência de chaveamento. Obviamente o comportamento é muito
mais independente da corrente do que o caso do conversor de meia-onda.

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Tensão de saída normalizada (Vo/E)


0.4
2fs
0.3

0.2 fs

0.1
0 0.2 0.4 0.6 Io Z 0.8 1
Corrente de saída normalizada
.
E
Figura 5.12 Variação da tensão de saída com a corrente de carga.

5.4 Conversor operando com ZVS

Nestes conversores o capacitor ressonante produz uma tensão nula sobre a chave, devendo
ocorrer o chaveamento sob esta situação.
O circuito mostrado é de uma topologia abaixadora de tensão. O funcionamento é de meia-
onda, uma vez que o diodo não permite a inversão da tensão no capacitor. A corrente de saída pode
ser considerada constante (Lf grande o suficiente) durante o intervalo em que ocorre a ressonância
entre Lr e Cr.
Io
Lr iL Lf
Dr +
E Cf Vo
Cr
+ vC

Figura 5.13. Conversor buck-ZVS

A figura 5.14. mostra as formas de onda do circuito ressonante.


Inicialmente, pela chave circula Io, mantendo vC=0. Em to a chave é aberta sob tensão nula.
A tensão vC cresce linearmente (com o capacitor sendo carregado por Io) até atingir a tensão
de alimentação E (t=t1). Neste instante o diodo de circulação, D, fica diretamente polarizado e passa
a conduzir. Cr e Lr então iniciam sua ressonância.
A corrente iL diminui, enquanto a corrente que circula por D vai crescendo
complementarmente, a fim de perfazer Io. Em t1', iL=0 e vC atinge seu pico, vC=E+Zo.Io.
Em t1'' vC=E e iL=-Io. Em t2, vC=0 e não se inverte por causa do diodo Dr, que entra em
condução, permanecendo assim enquanto a corrente iL for negativa (até t2'). Entre t2 e t2', iL varia
linearmente.
O sinal de comando para a entrada em condução do transístor deve ser aplicado durante a
condução do diodo, de modo que, apenas a corrente pelo indutor ressonante se inverta, em t2, o
transistor entre em condução. A corrente continua crescendo de forma linear, até atingir Io, em t3,
desligando o diodo de livre-circulação.

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vC iL
Io
Zo.Io

E
0

to t1 t1' t1" t2 t2' t3 T

Figura 5.14. Formas de onda do conversor buck-ZVS

O instante t1 é dado por:

E ⋅ Cr
t1 = (5.10)
Io

A ressonância ocorre entre os instantes t1 e t2. A tensão no capacitor obedece à seguinte


equação:

v C = E + Zo ⋅ Io ⋅ sin[ωo ⋅ ( t − t1)] (5.11)

O instante t2, no qual a tensão sobre o capacitor Cr se anula é:

1  −E 
t 2 = t1 + ⋅ a sin  (5.12)
ωo  Zo ⋅ Io 

No intervalo ressonante a corrente por Lr segue a seguinte equação:

i L = Io ⋅ cos[ ωo ⋅ ( t − t1)] , para t1 ≤ t ≤ t2 (5.13)

Após t2 e até t3 a corrente varia linearmente:

E
i L = i L ( t 2) + ⋅ ( t − t 2) , para t2 ≤ t ≤ t3 (5.14)
Lr

O instante t3 é dado por:

Lr ⋅ [Io − i L ( t 2)]
t3 = t2 + (5.15)
E

Como as tensões médias sobre as indutâncias são nulas, a tensão de saída é a diferença entre
a tensão de entrada e a tensão média sobre o capacitor ressonante.

Vo = E − v C (5.16)

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1  Io ⋅ t 
t1 t2

Vo = E − ⋅ ∫ ⋅ dt + ∫ [ E + Zo ⋅ Io ⋅ sin[ωo ( t − t1)] ⋅ dt  (5.17)


T  0 Cr t1 

A grandeza Zo.Io deve ser maior que E, caso contrário vC não irá se anular, e Dr não
conduzirá, fazendo com que a entrada em condução do transístor se dê sob tensão não nula.
Neste circuito, o tempo desligado da chave é constante, podendo-se variar a tensão de saída
pelo ajuste da freqüência.
Novamente aqui o capacitor e a chave semicondutora devem suportar uma tensão de pico
com valor maior do que o dobro da tensão de entrada e que aumenta com o aumento da corrente de
saída.
A figura 5.15. mostra a variação da tensão de saída (normalizada em relação à tensão de
alimentação) com a freqüência de chaveamento (normalizada em relação à freqüência de
ressonância), para diferentes correntes de carga (normalizadas em relação a E/Zo).
Nota-se que quanto maior a corrente, menor a tensão de saída. Isto se explica facilmente,
uma vez que para correntes maiores o pico da tensão sobre Cr aumenta e, portanto, a tensão média
sobre este capacitor, reduzindo assim a tensão de saída.
Existe um limite tanto para a máxima corrente, quanto para a máxima freqüência, acima do
qual a tensão média sobre o capacitor se iguala à tensão de entrada. O aumento da freqüência de
chaveamento ou da corrente levaria, em princípio, a tensões negativas de saída, o que não é possível
devido à existência do diodo de livre-circulação.
1

0.8

0.6

Vo/E
0.4
Io=1
0.2
Io=2.5

0 Io=5

0.2
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25
fs/fo
Figura 5.15. Variação da tensão de saída com a freqüência de chaveamento, para diferentes
correntes de carga.

5.4.1 Conversor ZVS com limitação da sobre-tensão


É possível um circuito operar em ZVS sem sobre-tensão, às custas de uma maior
complexidade. Neste caso, a tensão sobre a chave não ultrapassa a tensão de alimentação. Quando a
tensão sobre algum dos capacitores tende a ultrapassar E, o diodo do ramo complementar entra em
condução, grampeando a tensão.
A figura 5.16. mostra o circuito, enquanto na figura 5.17. têm-se as formas de onda nos
componentes do circuito ressonante.

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iL Io
S1 D1 C1
E
Lf +
Vo
Cf
S2 D2 C2

Figura 5.16. Conversor buck-ZVS com limitação da sobre-tensão.

v C2
E
iL

Io=i L

S1 D2 S1
S2 C1 D1
C1 C2 C2
to t1 t2 t3 t4 t5 T
Figura 5.17. Formas de onda do conversor buck-ZVS com limitação da sobre-tensão

O circuito opera como um abaixador de tensão. Quando S1 ou D1 estão conduzindo, a


corrente pela indutância cresce, uma vez que E>Vo.
A tensão de saída é igual à tensão média sobre o capacitor C2. Consideremos, para efeito de
análise do funcionamento do circuito, que vC2 seja igual à tensão de entrada, E, e que S1 esteja
conduzindo. A tensão sobre o capacitor C1 é, obviamente, zero. No instante to S1 é desligado e a
sua tensão terminal cresce de acordo com o processo de carga de C1. A continuidade da corrente de
indutância se dá através dos capacitores: C2 vai se descarregando e C1 vai se carregando, de modo
que a soma de suas tensões seja sempre igual à tensão de alimentação. Como a corrente da
indutância varia pouco, a forma observada da tensão sobre os capacitores é praticamente linear.
Quando vC2 se anula (em t1) o diodo D2 entra em condução. Sobre a indutância é aplicada a
tensão de saída e a corrente decai linearmente. Durante a condução de D2 é enviado sinal de
acionamento para S2, o qual entra em condução apenas a corrente iL se torne negativa (em t2).
No instante t3, S2 é desligado e sua tensão terminal cresce a partir do zero, com uma
inclinação que depende do valor da corrente (negativo e aproximadamente constante) pela
indutância. A tensão vC2 cresce, enquanto vC1 diminui. Quando a tensão sobre C2 atinge o valor da
tensão de entrada (em t4), D1 entra em condução, e a corrente de saída cresce linearmente, com uma
inclinação que depende da diferença entre as tensões de entrada e de saída. Durante a condução de
D1 é enviado sinal de acionamento para S1, o qual entra em condução quando a corrente se torna
positiva (em t5), completando o ciclo.
Este tipo de arranjo pode ser utilizado nos conversores ressonantes apresentados no capítulo
anterior, quando operando em freqüência acima da freqüência de ressonância, possibilitando obter
ambas comutações não-dissipativas.

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5.5 Introdução de controle por MLP


De forma similar ao apontado para os conversores ressonantes, os conversores quase-
ressonantes podem operar de modo semelhante ao MLP pela interrupção do ciclo ressonante. Para
tanto é necessária a inclusão de um interruptor adicional, o qual é comandado de maneira
independente do interruptor principal [5.3, 5.4].

5.5.1 Conversor ZCS-MLP


Considerando o caso ZCS, a introdução de uma chave em série com o capacitor possibilita
interromper o processo de descarga, mantendo a tensão do capacitor no valor de pico. A figura 5.18.
mostra um conversor buck-ZCS, com um interruptor auxiliar que interrompe o ciclo ressonante.
O início da ressonância não é afetado, uma vez que a corrente circula pelo diodo desta chave
auxiliar (Da). Quando a tensão atinge o pico e a corrente tende a se inverter, não existe caminho,
uma vez que o transistor (Sa) não se encontra acionado.
A figura 5.19. mostra as formas de onda da corrente por Lr, da tensão sobre Cr e da tensão
sobre o diodo de saída.
Recorde-se que a tensão de saída é igual à tensão média sobre o diodo, vd. Quando é
interrompido o processo ressonante, a corrente da carga (praticamente contínua) continua a ser
suprida pelo interruptor principal, Sp, de modo que a tensão aplicada ao diodo de saída é
praticamente a tensão de alimentação. Assim, interrompendo o intervalo ressonante por um tempo
cuja duração é variável, com o controle operando a freqüência fixa, tem-se o ajuste da tensão de
saída por MLP.

Dp iL Io
Lr Lf +
Sp
Da Sa
E Df Cf Vo
vd
vc Cr

Figura 5.18. Conversor buck-ZCS-MLP

2E
δ* vd
E

2E vC
iL

Figura 5.19. Formas de onda no diodo de saída e no circuito ressonante

Persiste ainda a influência do intervalo de ressonância sobre a tensão de saída, que se


caracteriza por um acréscimo nesta tensão em relação ao que seria a saída MLP normal, considerada

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um ciclo de trabalho de valor δ*. No entanto, utilizando valores elevados da freqüência de


ressonância (em relação à freqüência de chaveamento), o efeito global é praticamente o de um
circuito controlado em MLP, como se vê na figura 5.20. Note-se que a tensão média dentro dos
intervalos ressonantes é igual à tensão de entrada, E, de modo que, do ponto de vista da tensão de
saída, é como se o ciclo de trabalho fosse aumentado de uma porção equivalente a 1 ciclo
ressonante. A equação 5.18. dá a expressão para o valor da tensão de saída em função de intervalo
de bloqueio da ressonância (δ*) e da relação entre a freqüência de chaveamento, fs, e a freqüência
de ressonância, fo.

 fs 
Vo = E ⋅ δ * +  (5.18)
 fo 
1

Vo/E 0.5

0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1

*
fs/fo = 0.1 δ fs/fo = 0.001
Figura 5.20. Variação da tensão de saída com o intervalo de interrupção do ciclo ressonante, para
diferentes freqüências de chaveamento

5.5.2 Conversor ZVS-MLP


De forma análoga ao que foi apresentado para o conversor ZCS, é possível também alterar o
conversor ZVS de modo a ter um comportamento tipicamente MLP, ou seja, que tenha a tensão de
saída ajustável não pela variação da freqüência, mas pelo controle do intervalo de condução dos
interruptores.
A figura 5.21. mostra uma topologia de conversor abaixador de tensão para operação em
MLP. A condução da chave auxiliar produz um intervalo em que se inibe a realização da
ressonância entre Lr e Cr, como se pode analisar pelas formas de onda da figura 5.22.
Consideremos que a chave Sp esteja conduzindo e que por ela passe a corrente de carga, Io,
suposta constante. A tensão aplicada ao filtro de saída é a própria tensão de entrada (uma vez que
não há queda sobre Lr).
vcr
Sa
Cr Io
Sp Lr Lf
iL +
+
Dp
E v Cf Ro Vo
D Df

Figura 5.21. Conversor ZVS operando em MLP

A chave auxiliar, Sa, entra em condução ainda durante a condução de Sp, mas não ocorre
nenhuma alteração nas formas de onda do circuito. No instante to a chave principal é aberta sob

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tensão nula (o capacitor Cr está descarregado). Este capacitor se carrega linearmente com a corrente
de saída, fazendo com que a tensão vD se reduza da mesma forma, até que, em t1, o diodo de livre-
circulação entra em condução e a corrente da saída circula por ele. Como a chave auxiliar continua
conduzindo, o indutor Lr também entra num intervalo de livre-circulação até que em t2 o interruptor
Saux é aberto (sob tensão nula).

Sp

Sa

E V
Cr
0
Io IL
0
V
E D

0 V
Lr
to t1 t2 t3 t4 t5 T

Figura 5.22. Formas de onda do conversor ZVS-MLP

Inicia-se então a ressonância entre Lr e Cr. A tensão sobre o capacitor cresce ainda mais, por
causa da energia presente em Lr, produzindo importante sobre-tensão sobre o interruptor principal.
A tensão prossegue o comportamento oscilante até que, em t3, se anula, levando à condução o diodo
em antiparalelo com a chave principal, por onde passa a circular a corrente presente em Lr. Esta
corrente assume uma variação linear. Durante a condução do diodo envia-se o sinal de comando
para o interruptor, o qual entra em condução apenas a corrente se torne positiva (em t4). A corrente
de entrada cresce até atingir o nível da corrente de saída, quando o diodo de livre-circulação desliga,
completando o ciclo (em t5).
Nota-se que a tensão sobre o diodo obedece à tensão de comando de S, a menos de atrasos
que dependem do circuito ressonante e dos parâmetros do circuito (como a tensão de entrada, a
corrente de carga, etc.).

5.6 Outras topologias com comutação não-dissipativa

5.6.1 Inversor pseudo-ressonante

Um inversor pseudo-ressonante [5.5] é composto por um conversor em ponte, possuindo,


adicionalmente, um indutor e um capacitor em paralelo com a carga, com objetivo de proporcionar
comutação sob tensão nula. A carga é tipicamente do tipo fonte de corrente, ou seja, apresenta uma
elevada impedância dinâmica, absorvendo uma corrente constante.
T1 e T3 são mantidos em condução até que a corrente iL (que circula por Lr) seja positiva e
com valor igual a Ip. Durante este intervalo, a tensão sobre o capacitor é +E. Desligando ambos
transistores, a corrente do indutor passará a circular por Cr de uma maneira ressonante, invertendo a
tensão no capacitor para -E. Quando a tensão atinge este valor os diodos D2 e D4 entram em
condução, o que causará a redução de iL de uma forma linear. T2 e T4 devem receber um comando

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para ligarem durante a condução dos diodos, entrando em condução quando a corrente se inverter,
sem dissipar potência, e iniciando o semi-ciclo negativo.

T1 D1 D2 T2
Lr
iL
A Cr B
E + -
Ia
T4 CARGA T3
D4 D3

Figura 5.23. Inversor pseudo-ressonante

Como se vê na figura 5.24., a tensão sobre a carga é praticamente quadrada e a freqüência de


ressonância é muitas vezes maior que a freqüência de chaveamento. Com um acionamento
adequado das chaves este conversor pode operar em MLP, produzindo saídas em baixa freqüência,
se desejado. O uso de um retificador como carga leva à implementação de um conversor CC-CC. A
substituição da fonte de tensão por uma de corrente permite sintetizar um conversor com operação
ZCS.

V AB
E
+Ip
iL
T2 D1
T4 D3
0

T1 D2
T3 D4

-Ip
-E

Ressonante (Cr)
Figura 5.24. Formas de onda do inversor pseudo-ressonante

A obtenção de comutação suave exige um valor mínimo para a corrente de pico dado por:

Cr
Ip ≥ Ia + 2 ⋅ E ⋅ (5.19)
Lr

5.6.2 Conversor ressonante “single-ended”

Diferentemente do que foi visto para os conversores ressonantes, estudados anteriormente,


estes inversores “single-ended” apresentam apenas um interruptor comandado e a inversão da tensão
sobre a carga se dá pela ocorrência da própria ressonância [5.6].
Estes circuitos são comumente utilizados em conversores para aquecimento indutivo em alta
freqüência, de forma que a carga equivalente é uma resistência, associada à potência consumida no
aquecimento

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A figura 5.25. mostra uma topologia (alimentada em tensão) destes conversores, chamada de
regenerativa (por permitir a inversão no sentido da corrente).
Lr
carga IL

Cr
+ Vc
E

Figura 5.25. Conversor ressonante “single-ended”

A figura 5.26. mostra as formas de onda da corrente pelo indutor e da tensão aplicada à
carga.

i
L
vC
E

D T

t1 t2 t3 t4 T

Figura 5.26. Formas de onda do conversor ressonante “single-ended”

Quando conduz o transistor a tensão de entrada é aplicada à carga (e também ao circuito


ressonante). O capacitor se encontra carregado e vC = E. A corrente pelo indutor cresce linearmente.
Quando o transistor é desligado, em t1, o faz sob tensão nula. A corrente da indutância circula pela
carga e pelo capacitor, de modo ressonante. A tensão vC se torna negativa, atingindo um pico, em t2,
cujo valor é muito superior à tensão de entrada (em função das condições iniciais da corrente do
indutor e da tensão do capacitor). A ressonância prossegue e a tensão volta a ser positiva. Quando
atinge um valor igual ao da tensão de entrada (em t3) o diodo entra em condução, mantendo vC
constante. Durante a condução do diodo é enviado o comando para ligar o transistor, o que ocorre
apenas quando a corrente se torna positiva (em t4), reiniciando o ciclo.

5.6.3 Conversor semi-ressonante

Considerando o conversor elevador de tensão convencional, a corrente de entrada Ii é


composta por uma fonte de tensão, E, associada em série com um indutor Lr. Sendo Lr
suficientemente pequeno para permitir operação no modo descontínuo, no momento da entrada em
condução da chave não ocorre dissipação de potência, o que ocorrerá no desligamento.

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Lr
+ +

Ii Co Vo E Co Vo

Figura 5.27. Conversor boost

Considere-se um capacitor Cr cujo valor forme um circuito ressonante juntamente com Lr,
cuja freqüência seja maior do que a freqüência de operação do conversor. Existem 3 possibilidades
de colocação de Cr no circuito de modo a obter comutação ZVS. A chave S deve ser bidirecional
em corrente ou em tensão [5.7].

Cr

Lr Lr Lr
+ + Cr +
S
E S Co Vo E Cr Co Vo E S Vo
Co

(a) (b) (c)


Figura 5.28. Possibilidades de conversor boost semi-ressonante

Os conversores semi-ressonantes necessitam de uma quantidade menor de componentes


passivos do que os quase-ressonantes equivalentes, e são particularmente adequados às aplicações
de baixa potência, podendo operar em freqüências elevadas (na faixa de MHz).
Nas diferentes topologias geradas, um dos elementos ressonantes opera também como
elemento de armazenamento de energia e filtro. O processamento de energia entre duas fontes de
corrente leva a um circuito similar, mas operando em ZCS.
Consideremos o circuito da figura 5.28.b. Se o interruptor for um transistor MOSFET, a
exigência de uma bidirecionalidade de corrente é atendida. Além disso, a capacitância do
dispositivo é absorvida pelo capacitor ressonante, de modo que os elementos parasitas do
componente afetam positivamente o desempenho do conversor.
A figura 5.29. mostra formas de onda no circuito.
Consideremos que o transistor está conduzindo e que no instante t1 ele é desligado. Como o
capacitor Cr está descarregado, esta comutação é do tipo ZVS. O capacitor se carrega de modo
ressonante até que sua tensão atinja a tensão da carga (em t2), quando o diodo de saída entra em
condução e energia é transferida para a saída. A tensão sobre Lr se torna constante e a corrente de
entrada decai linearmente. No instante t3 esta corrente se inverte, desligando o diodo de saída. Volta
a ocorrer ressonância, reduzindo a tensão sobre Cr. Em t4 esta tensão se anula e o diodo em anti-
paralelo com o transistor conduz. A corrente passa a crescer linearmente. Durante a condução deste
diodo é enviado o sinal de comando para o MOSFET, o qual entra em condução apenas a corrente
se torne positiva, em t5, reiniciando o ciclo. A entrada em condução do transistor é ZCS.

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A inversão da polaridade da corrente de entrada obviamente exige uma fonte receptiva à


regeneração de potência. A operação no modo descontínuo faz com que ocorra um “stress” de
corrente pelos componentes. No entanto, em aplicações de baixa potência e alta freqüência, é uma
topologia interessante.

Vo
vc

iL

S Do S
Ds
Cr
t1 t2 t3 t4 t5 T
Cr

Figura 5.29. Formas de onda de conversor boost semi-ressonante.

5.6.4 Conversores MLP com transição sob tensão nula (ZVT-MLP)

A figura 5.30. mostra um conversor elevador de tensão que difere de uma topologia MLP
convencional pela adição de uma rede ressonante auxiliar [5.8], composta, além do Lr e Cr, do
interruptor S2 e dos diodos D2 e D3.
Diferentemente do que ocorre nos conversores que empregam chaves ressonantes (ZVS),
aqui se faz a introdução de um circuito auxiliar que se comporta como uma espécie de “snubber”
ativo, que reduz a potência a ser dissipada sobre o interruptor e envia essa energia para a carga ou
para a fonte.
Embora o exemplo utilizado seja de um conversor elevador de tensão, pode-se aplicar este
princípio a qualquer das topologias.

VD

Li Is Do
Ii Lr
+
Cr I Lr
E
Vs Vo
Co Ro
S 2 D3
S1 D1

D2

Figura 5.30. Conversor boost ZVT-MLP

A figura 5.31. mostra algumas formas de onda referentes a este conversor.


A figura 5.32. mostra os diferentes circuitos referentes a cada intervalo de funcionamento do
circuito.

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S1
hard
S2

I Lr
Ii Is
0

Vo VD

0 VS
S2 S2 S2 D1 S1 S1 Do
Do Lr D1 D3 D3 Cr
Lr Cr

to t1 t2 t3 t4 t5 t6 T

Figura 5.31. Formas de onda de conversor boost ZVT-PWM

Consideremos que inicialmente ambos interruptores estejam desligados e que a corrente


circula pelo diodo de saída. A indutância de entrada é suposta suficientemente grande para se poder
desconsiderar a ondulação de sua corrente. No instante to o interruptor auxiliar, S2, entra em
condução. A corrente por Lr cresce linearmente até atingir o nível da corrente que circulava pelo
diodo, Ii, desligando-o. Este intervalo é dado por:

Ii ⋅ Lr
t1− to = (5.20)
Vo

Ii Ii Cr Ii
Vo Lr Lr
Lr
to a t1 t1 a t2 t2 a t3

Lr
Ii Ii Ii Cr Ii
Vo
Vo

t3 a t4 t4 a t5 t5 a t6 t6 a T

Figura 5.32. Circuitos equivalentes a cada intervalo de funcionamento.

A corrente ILr continua a crescer, agora com um comportamento ressonante. Cr, que estava
carregado, se descarrega até zerar sua tensão (em t2), quando o diodo D1 entra em condução.

π
t 2 − t1 = ⋅ Lr ⋅ Cr (5.21)
2

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Para obter uma entrada em condução não dissipativa, o sinal de comando de S1 deve ser
aplicado durante a condução de D1 (ou seja, após t2). Entre t2 e t3 conduzem S2 e D1, de modo que
a tensão sobre Lr é nula e a corrente por ele se mantém constante.
Em t3, S2 é desligado, o que força a corrente iLr a circular por D3, fazendo-a decair
linearmente. Isto provoca um desligamento dissipativo de S2, uma vez que a tensão sobre este
interruptor cresce para o valor da tensão de saída. Entre t3 e t4 a corrente Is se torna positiva,
passando a circular por S1.
Quando a corrente ILr se anula, D3 desliga, em t4. Como S1 está conduzindo, energia está
sendo armazenada na indutância de entrada, até que, em t5, S1 é desligado. Como Cr está
descarregado, este desligamento é sob tensão nula. Em t6 a tensão Vs atinge o valor da tensão de
saída e o diodo Do entra em condução, completando o ciclo.

Como vantagens deste tipo de comutação pode-se citar:


• Comutação suave (ZVS) tanto para o interruptor principal quanto para o diodo de saída.
Isto é especialmente interessante em aplicações com tensão elevada, uma vez que a
capacitância do diodo produz muitos problemas no desligamento.
• Mínimo “stress” de tensão e de corrente.
Não ocorre aumento nos valores máximos de tensão e de corrente a serem suportados pelos
componentes além dos limites de um conversor MLP convencional.
• Comutação suave para uma ampla variação de tensão de entrada e de corrente de saída
Como é claro das formas de onda, a tensão média de saída (igual à tensão de entrada somada
à tensão média sobre o diodo Do) depende da duração dos intervalos (t3-t2) e (t6-t5). O
primeiro tem duração constante e o segundo depende da intensidade da corrente de saída. No
entanto, a ocorrência de comutação suave não depende da corrente de carga ou da tensão de
entrada, fato que ocorre em outros tipos de conversores.
• Interruptores referenciados a um mesmo potencial, facilitando o acionamento.

Como desvantagens pode-se citar:


• Sinais de comando são distintos.
• Desligamento dissipativo do interruptor auxiliar

5.7 Circuitos amaciadores


Mesmo quando não se utiliza um circuito que apresente comutação suave, pode ser
necessário reduzir a potência dissipada sobre o transistor e o diodo. Neste caso pode-se recorrer ao
uso dos circuitos amaciadores (snubber).
A atuação do snubber se dá, em geral, pelo desvio da corrente e pela limitação da tensão nos
componentes nos momentos de comutação. A energia desviada poderá ser dissipada ou, em algumas
topologias específicas, reaproveitada no próprio circuito (retornando para a fonte ou sendo
absorvida pela carga).

5.8 Outros circuitos com comutação suave

5.8.1 Fonte de Tensão com comutação suave utilizando conversor com capacitor flutuante
A figura 5.33 mostra conversores Cuk e SEPIC modificados, ditos com capacitor flutuante
[5.9], operando como fonte de tensão regulada. O circuito possui 2 interruptores os quais controlam,
respectivamente, os estágios de entrada e de saída, de maneira independente.

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A topologia permite uma isolação em alta freqüência e o circuito, com o comando adequado,
possibilita comutações suaves sem aumento nos esforços dos componentes e sem a necessidade de
circuitos adicionais [5.10].

+ Vb - io
Li Lo
ii Cb
To
Vi Ti Di Do Vo

(a)

+ Vb -
Li
Cb Do
ii To
Vi Ti Di Lo Vo

io

(b)
Figura 5.33 - Conversores Cuk (a) e SEPIC (b) com capacitor flutuante.

Em CCM, a característica estática do conversor Cuk tradicional (sem To e Do), para um ciclo
de trabalho δi aplicado ao interruptor Ti, é:

δi
Vo = Vi ⋅ (5.22)
1 − δi

A presença de To e Do introduz um novo intervalo controlável no qual o capacitor Cb


permanece desconectado do circuito. O estágio de entrada realiza uma função elevadora de tensão,
tendo a tensão sobre Cb como saída.:

Vi
Vb = (5.23)
1− δi

O estágio de saída tem uma característica abaixadora de tensão em relação a Vb:

Vo = Vb ⋅ δ o (5.24)

onde δo é o ciclo de trabalho de To.


A relação entre a entrada e a saída mantém uma característica elevadora-abaixadora de
tensão, mas com dois comandos separados:

Vo δo
= (5.25)
Vi 1 − δ i

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Os sinais de acionamento são síncronos. Para a correta operação do conversor é necessário


que:

δi ≥ δo (5.26)

Esta topologia permite obter diversas comutações suaves para os transistores e diodos sem a
necessidade de circuitos adicionais. Uma capacitância Cs colocada entre os terminais de dreno e
fonte de To, adiciona-se à capacitância própria do transistor e propicia um desligamento do tipo
ZVS, o que equivale a uma entrada em condução para Do também ZVS. Este diodo passa a conduzir
apenas quando Cs , carregado pela corrente de saída, atingir uma tensão igual a Vb (considerando o
valor refletido ao primário, caso o circuito tenha transformador).
Uma vez que Ti desliga após To, tem-se também sobre este transistor um desligamento ZVS.
A corrente de entrada descarrega Cs, levando Di a uma entrada em condução ZVS.
Para permitir a To ligar sob tensão nula, seu sinal de comando deve ser enviado com um
pequeno avanço em relação ao sinal que ligará Ti. A entrada em condução do transistor de entrada é
dissipativa, assim como o desligamento de Do.
De qualquer modo, sem circuitos adicionais 6 das 8 comutações presentes no conversor são
suaves, o que é um mérito adicional desta topologia. A figura 5.34 mostra os estágios de operação e
na figura 5.35 têm-se resultados de simulação, indicando claramente as comutações ZVS.

+ Vb - Di io
Li Lo
i i Cb
To
v i Ti Do Vo

+ Vb - Di io
Li Lo
i i Cb
To
v i Ti Do Vo

+ Vb - Di io
Li Lo
i i Cb
To
v i Ti Do Vo

+ Vb - Di io
Li Lo
i i Cb
To
v i Ti Do Vo

+ Vb - Di io
Li Lo
i i Cb
To
v i Ti Do Vo

Figura 5.34 - Estágios de operação do conversor com comutação suave.

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Neste caso deve-se operar no modo de condução descontínua, a fim de garantir a


desmagnetização do núcleo. Este modo de funcionamento também permite manter reduzida a
ondulação em alta freqüência na corrente de entrada. No entanto, a corrente do indutor de saída deve
inverter de polaridade, levando à comutação do diodo Do sob corrente nula. A entrada em condução
de Ti será, neste caso, também sob corrente nula. Ou seja, todas as comutações se tornam suaves. A
operação no modo descontínuo implica em elevados picos de corrente no lado do secundário,
aumentando as perdas por condução. Assim, não necessariamente a eficiência global será maior
neste caso.

Vds
Ti
0

0 i Ti
Vg Ti
(a)

Vds To
0

0 i To
Vg To
(b)
Figura 5.35 - Tensão, corrente e sinal de comando nos transistores Ti e To.

Múltiplas saídas podem ser obtidas, cada uma delas com um pós-regulador próprio.
A indutância de dispersão do transformador produz uma sobretensão no momento em que
Ti é desligado, provocando uma inversão no sentido da corrente pelo transformador. Um circuito
“snubber” ou um limitador de tensão deve ser usado com o objetivo de limitar o pico de tensão que
se observa sobre os transistores.
Um protótipo não-isolado foi construído com as seguintes características:
• Tensão de saída: 50V
• Potência de saída: 500W
• Freqüência de chaveamento:100 kHz
O rendimento do circuito é mostrado na figura 5.36 para diversos níveis de potência de
entrada. Mesmo operando a 100 kHz obtém-se, para uma larga faixa de potência, uma eficiência
superior a 90%.
Figura 5.37 mostra as formas de onda de tensão e de corrente sobre To. As comutações ZVS
são claras. Quando Ti liga o diodo Do desliga e a corrente por To muda de sentido. A oscilação
observada na tensão é devida a ressonância entre Cs e indutâncias parasitas presentes na malha
intermediária do conversor. O pico de corrente é devido à corrente de recombinação reversa de Do.

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Rendimento (%)
96
94
92
90
88
200 300 400 500
Potência [W]

Figura 5.36 - Rendimento medido do conversor.

V DS

ID

Figura 5.37 - Tensão (100V/div.) e corrente (5A/div.) em To . Horiz.: 500 ns/div.

5.8.2 Fonte de corrente com alto fator de potência, baseado em conversor Cuk
A topologia estudada é essencialmente um conversor Cuk com transformador, tendo na
entrada um retificador trifásico. As indutâncias de entrada são colocadas em série com cada fase da
alimentação, conforme mostrado na figura 5.38. A saída opera como fonte de corrente [5.11].

Ir + Ua - + Ub -

Li Ca Cb
L
va - L
S +
vb D UD
Us Ls
vc -
- + RL
UL
N:1 IL
+

Figura 5.38 - Conversor Cuk, isolado, com entrada trifásica e carga indutiva

Esta topologia apresenta vários aspectos interessantes: alto fator de potência (desde que se
opere em condução descontínua nos indutores de entrada), uma única chave comandada, controle
com freqüência fixa, isolação em alta freqüência. Como pontos negativos tem-se a comutação
dissipativa e o "stress" de tensão e de corrente a que fica sujeito o interruptor.

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Considera-se uma carga indutiva. Nestes casos, o valor da corrente de saída pode ser fixo ou
sujeito a ajustes.
O fato de o transistor estar submetido a uma tensão elevada praticamente impõe o uso de um
IGBT, uma vez que um MOSFET para tal tensão, tipicamente apresenta uma elevada resistência de
condução. O processo de desligamento de um IGBT, por sua vez, apresenta um fenômeno de "tail"
de corrente, que pode tornar as perdas de desligamento bastante significativas.
Por esta razão, a busca de uma alternativa para se obter comutação suave, especialmente no
desligamento, se torna importante [5.12]. No que se refere à entrada em condução, uma
possibilidade de que seja suave, é que se realize a corrente nula [5.13, 5.14], o que pode ocorrer se
se permitir um comportamento de condução descontínua na saída.
O uso de comutação suave permite ainda uma relativa redução nos níveis de interferência
eletromagnética [5.15]. A necessidade de filtros na entrada do circuito (trifásico), a fim de obter
uma corrente praticamente senoidal na rede também auxilia a redução da IEM conduzida.
A figura 5.39 mostra as principais formas de onda do circuito, enquanto o diagrama do
conversor está na figura 5.40, indicando o circuito não-dissipativo empregado para a limitação dos
picos de tensão que ocorrem no desligamento da chave S, devido, principalmente, à indutância de
dispersão do transformador.
É possível, mantendo a capacidade de limitação do pico de tensão, fazer este circuito
funcionar de modo a garantir um desligamento da chave S sob tensão nula. Observe-se que o
desligamento é a comutação mais crítica, uma vez que ocorre quando a corrente pela chave é
máxima, quando ocorrem sobre-tensões e quando existe o fenômeno de rabo da corrente do IGBT.
Suponhamos inicialmente que a indutância de dispersão seja nula. Consideremos que ao
final do intervalo em que o transistor está desligado a corrente de saída do retificador seja nula, que
a tensão Uc seja igual à tensão de saída refletida ao primário e que o diodo de saída esteja em
condução.
Quando S entra em condução, o capacitor Cc ressoa com Lc. Pelo interruptor circula a soma
da corrente do retificador com a componente ressonante e com a corrente de saída refletida (D é
bloqueado). No instante T1 a tensão Uc atinge o valor -Ua e o diodo D1 entra em condução.
Supondo Ca>>Cc, a tensão sobre Lc se torna praticamente constante (igual a Ua) e sua corrente
decai linearmente. Ao final do tempo de condução (T2), o transistor se abre sob tensão nula. O
capacitor Cc se carrega com uma corrente praticamente constante. Em T3 a tensão no primário
atinge o valor da tensão de saída (refletida), levando o diodo de saída à condução. No intervalo entre
T3 e T6 a corrente do retificador vai a zero.
Na verdade, a presença da indutância de dispersão faz com que, no instante T3, ao ocorrer a
inversão do sentido da corrente pelos enrolamentos do transformador, surja um pico de tensão, o
qual é limitado pela presença do capacitor Cc, e eleva sua tensão acima do valor N.UL.
A condição para que se obtenha sempre desligamento a tensão nula é:

Uc > Ua

Sem considerar a sobre-tensão, esta condição equivale a δ > 0,5.


Esta restrição não é muito severa pois, via de regra, para um melhor aproveitamento do
material magnético do transformador, a operação em regime se faz em torno deste ponto. Já para
situações transitórias, em que o ciclo de trabalho é menor do que 50%, o que ocorre é que a tensão
com a qual Cc se carrega é inferior àquela necessária para realizar a comutação sem perdas,
constituindo-se num fator de redução das perdas de desligamento, mas não sua eliminação.

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Figura 5.39 - Principais formas de onda do conversor com circuito auxiliar.


Caso ideal (sem sobre-tensão)

ir + Ua - + Ub -

va Ca Cb
ia Li N:1
D2 D1 LL
+
vb Lc i l
Us D -
S - + ic RL UL
vc Uc
Cc IL +
-

Figura 5.40 - Conversor com circuito para desligamento a tensão nula

Considerando a presença da sobre-tensão, o máximo ciclo de trabalho que ainda garante uma
comutação sob tensão nula será inferior a 50% A amplitude da tensão sobre o capacitor Cc depende
do valor de sua capacitância. Com uma dada indutância de dispersão a tensão pode ser expressa em
função da impedância do circuito formado por Cc e a referida indutância, chamada aqui de Ld.

Ld  I L 
Uc = U L ⋅ N + ⋅  + Îr  (5.27)
Cc  N 

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Como se nota na figura 5.39, a presença do capacitor Cc retarda ligeiramente a entrada em


condução do diodo de saída, o que significa, do ponto de vista da carga, um maior ciclo de trabalho
em relação àquele do transistor.
Os resultados experimentais apresentados a seguir foram colhidos em um conversor
operando com as seguintes características:
Tensão de entrada: 220V (valor RMS de linha)
Freqüência de chaveamento: 50kHz
Corrente nominal de saída: 10A
Carga: 4Ω, 4mH (400 W)
Ca: 1µF; Cb: 56µF; Cc:20nF
Li: 330µH; Ls:50µH ; Lc: 160µH
N: 7,4

A figura 5.41 mostra corrente e tensão sobre o IGBT, vendo-se claramente o desligamento
sob tensão nula e o rabo de corrente. Note-se que a corrente inicial não é nula, apresentando um
valor igual à corrente de saída refletida ao primário do transformador. A sobre-tensão é de
aproximadamente 150V.
A eficiência medida do conversor, à potência nominal foi de 90%. O fator de potência
medido, à potência nominal foi de 0,98.

i
s

Us

Figura 5.41 - Corrente (2A/div) e tensão (200V/div) no interruptor. Horiz.: 4µs/div.

5.9 Referências Bibliográficas

[5.1] F. C. Lee: “High-Frequency Quasi-Resonant Converter Technologies”. Proceedings of IEEE,


vol. 76, no. 4, April 1988, pp. 377-390
[5.2] D. Maksimovic and S. Cuk: “A General Approach to Synthesis and Analysis of Quasi-
Resonant Converters”. IEEE Trans. on Power Electronics, vol.6, no. 1, Jan. 1991, pp. 127-
140.
[5.3] I. Barbi, J. C. Bolacell, D. C. Martins, F. B. Libano: “Buck Quasi-Resonant Converter
Operating at Constant Frequency: Analysis, Design, and Experimentation”. IEEE PESC’89,
pp. 873-880.
[5.4] D. Maksimovic and S. Cuk: “Constant-Frequency Control of Quasi-Resonant Converter”.
IEEE Trans. on Power Electronics, vol 5. No. 1, Jan. 1991, pp. 141-150.

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[5.5] O.D. Patterson and D. M. Divan: “Pseudo-Resonant Converter Technologies”. Proceedings


of IEEE, vol. 76, no. 4, April 1988.
[5.6] I. Barbi: “Progress in the Development of High-Frequency Non-Dissipative Commutation
Power converter Technologies”. Proc. of I Power Electronics Seminar, LAMEP,
Florianópolis, 1988, pp. 01-15.
[5.7] S. Suzuki, and I. Barbi: “Boost Zero-Voltage Switching Semi-Resonant Converter Analysis
(ZVS-SRC)”. Proc. of I Power Electronics Seminar, LAMEP, Florianópolis, 1988, pp. 43-
49.
[5.8] G. Hua, C.S. Leu and F. C. Lee: “Novel Zero-Voltage-Transition PWM Converters”. Proc.
of PESC ‘92, Toledo, Spain, 1992, pp. 55-61.
[5.9] L. Stefanovic AND S. Cuk: "Capacitive Idling Converters with Decoupled Input Voltage
and Output Load Regulation Loops". PESC '93 Conference Record, Seattle, USA, 1993.
[5.10] E. A. Vendrusculo and J. A. Pomilio: "Low-Loss, High-Power Factor Voltage Supply Using
a Capacitive Idling Converter". Proc. of IEEE International Symposium on Industrial
Electronics, Warsaw, Poland, June 17-20, pp. 767-772.
[5.11] J. A. Pomilio and G. Spiazzi: "High-Precision Current Source Using Low-Loss, Single-
Switch, Three-Phase AC/DC Converter". IEEE Trans. on Power Electronics, July 1996, vol.
11, no. 4, pp. 561-566.
[5.12] L. Malesani, L. Rossetto, G. Spiazzi, P. Tenti, I. Toigo, and F. Dal Lago: "Single-Switch
Three-Phase AC/DC Converter with High Power Factor and Wide Regulation Capability".
Proc. of INTELEC '92, Oct. 1992, Washington, USA, pp. 279-285.
[5.13] K. Heumann, Ch. Keller and R. Sommer: "Behavior of IGBT Modules in Zero-Voltage-
Switch Applications". Proc. of PESC '92, Jun. 1992, Toledo, Spain, pp. 19-25.
[5.14] J.A.Pomilio and G.Spiazzi: "Soft-Commutated Cuk and SEPIC Converters as Power Factor
Preregulators". Proc. of IECON '94, Bologna, Italy, Sept. 1994
[5.15] P. Caldeira, R. Liu, D. Dalal and W.J. Gu: "Comparison of EMI Performance of MLP and
Resonant Power Converters". Proc. of PESC '93, Seatle, USA, Jun. 1993, pp. 134-140.

5.10 Exercícios

1. Considere um conversor Buck quase-ressonante, ZCS, onda completa, com as seguintes


características:
E=100V Vo=50V IoMAX=10A
fs=200kHz (freq. de chaveamento à máxima carga)
Determine os valores de Cr e Lr que permitam a operação do circuito nas condições dadas e
que produza o mínimo pico de corrente pelo interruptor.
Desenhe (ou simule) as formas de onda da tensão sobre Cr e da corrente por Lr para esta
situação.

2. Para os mesmos parâmetros do exercíco anterior, e usando Cr=40nF e Lr=4µH, determine o


valor da tensão de saída quando a corrente da carga for de 5A.

3. Considere o circuito mostrado abaixo. Trata-se de um conversor elevador de tensão com um


circuito auxiliar para desligamento sob tensão nula. O conversor opera no modo de condução
descontínuo.

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a) Descreva qualitativamente o seu funcionamento, descrevendo cada intervalo de


funcionamento. Suponha que os comandos dos transistores sejam iguais e que os componentes são
ideais.
b) Simule o circuito e forneça as formas de onda da tensão e da corrente nos interruptores.

D1
Li S2 D3

Vi Lr Vo
D2

S1 Cr

Vi = 300V Vo = 600V
Li = 100uH (corrente inicial zero) Lr = 25uH (corrente inicial zero)
Cr = 100nF (tensão inicial = 600V)

Na simulação em Pspice, use:


Diodos com parâmetro IS = 1E-18
RELTOL = .0001 (ou menor)
Freqüência de chaveamento de 40kHz com ciclo de trabalho de 40%
Simule poucos ciclos (4 ou 5)

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6. COMPONENTES PASSIVOS UTILIZADOS EM FONTES


CHAVEADAS

6.1 Capacitores

Pode-se considerar o modelo para um capacitor mostrado na figura 6.1.a, na qual:


C: capacitância
Rse: resistência série equivalente
Lse: indutância série equivalente
Deste circuito, pode-se afirmar que em baixas frequências o capacitor tem seu
comportamento determinado pela capacitância. À medida que aumenta a frequência, no
entanto, o elemento indutivo se torna mais significativo, sendo dominante em altas
frequências. Tal elemento é decorrente, principalmente, das conexões do dispositivo. A
resistência se deve, basicamente, ao eletrólito (em capacitor eletrolítico) e às conexões,
variando significativamente com a temperatura. A figura 6.1 mostra o circuito equivalente e
curvas típicas para capacitores eletrolíticos.

C Rse Lse
a) Circuito equivalente de capacitor

C = 100 uF L = 100 nH

10

R = 1 ohm (T = -40 C)

R=.1 ohm (T=0 C)


100m

R = .01 ohm (T = 85 C)

1.0m
10Hz 100Hz 1.0KHz 10KHz 100KHz 1.0MHz 10MHz 100MHz

Figura 6.1 b) Comportamento típico da impedância de capacitores

A resistência tem um efeito significativo em termos da ondulação da tensão observada


nos terminais do componente, além de ser responsável pelas perdas (aquecimento) do
dispositivo.
Para uma variação de corrente ∆I, a resistência série produz uma variação de tensão
∆V=Rse.∆I, a qual pode ser muito maior que a variação determinada pela carga ou descarga da
capacitância. Muitas vezes é em função da resistência Rse que se determina o capacitor a ser
usado como filtro de saída de uma fonte, de modo a se obter a desejada variação de tensão.

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A figura 6.2 mostra a tensão de saída de um conversor abaixador de tensão, indicando


claramente a predominância da variação de tensão causada pela queda resistiva em Rse. Os
valores utilizados foram obtidos do catálogo do fabricante (Icotron/Siemens/Epcos).

L
L=1mH
C=220uF
+ Rse=.45 ohm
Rse Ro=.5 ohm
E Ro Vo E=20V
Vo=10V
C

10.04V

10.02V

10.00V

9.98V

9.96V
0s 0.2ms 0.4ms 0.6ms 0.8ms 1.0ms
Ondulação relativa à capacitância Ondulação nos terminais do capacitor

Figura 6.2 Ondulação da tensão de saída e sobre a capacitância C.

Usa-se definir o "fator de perdas" do capacitor (tg δ), o qual se relaciona com Rse pela
seguinte expressão:

tgδ
R se = (6.1)
2πfC

6.1.1 Capacitores eletrolíticos


O capacitor eletrolítico tem seu funcionamento baseado em fenômenos eletroquímicos.
A principal característica reside no fato que um dos eletrodos, o catodo, é constituído pelo
próprio fluído condutor (eletrólito), e não por uma placa metálica. O outro eletrodo, o anodo, é
constituído de uma folha de alumínio em cuja superfície é formada (por um processo
eletroquímico) uma camada de óxido de alumínio, a qual serve de dielétrico [6.1].
A principal vantagem destes capacitores é a alta capacitância específica (F/m3). Isto se
deve, principalmente à espessura da camada de óxido, tipicamente de 0,7 µm (outros materiais
dielétricos dificilmente tem espessura inferior a 6 µm), mesmo para componentes para baixas
tensões. A intensidade de campo permitida é de aproximadamente 800 V/ µm.
O método de bobinagem é o mais empregado na fabricação dos componentes. A bobina
contém, além da folha do anodo, uma segunda folha de alumínio (chamada de folha do catodo)
que tem, no mínimo, a mesma dimensão da folha do anodo.Esta segunda folha não é oxidada e
sua função é servir como uma grande área supridora de corrente para o eletrólito.

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Ambas as folhas são separadas por camadas de papel, cujas funções são: armazenador
de eletrólito (nos poros do papel absorvente) e separador das folhas metálicas (para evitar
curto-circuito).
Capacitores construídos como descrito só funcionam convenientemente quando se liga
o potencial positivo ao anodo. A ligação inversa produz um processo eletrolítico de deposição
de óxido sobre a folha do catodo. Neste processo ocorre geração interna de calor e gás, que
pode destruir o componente. Por outro lado, a capacitância diminui, uma vez que é aumentada
a espessura do dielétrico.
Assim, a aplicação típica é em tensões contínuas. Tensões alternadas, sobrepostas à
contínua, desde que não alterem a polaridade, podem ser utilizadas. Na verdade as
polarizações invertidas podem ocorrer até cerca de 2 V, que é o potencial no qual se inicia o
processo de deposição de óxido.
Existem capacitores eletrolíticos bipolares que, por construção, já tem ambas folhas de
alumínio oxidadas. Obviamente, a capacitância específica é menor.
Como aplicações típicas em fontes chaveadas pode-se citar:
• Filtros de entrada: usa-se capacitor eletrolítico de alumínio, com alto produto capacitância x
tensão (CV) e baixas perdas.
• Filtros de saída: capacitor eletrolítico de alumínio, com baixo Rse e Lse, especiais para
operação em altas frequências.
Outra característica importante dos capacitores refere-se à sua confiabilidade. Os
fabricantes especificam seus componentes em função de sua expectativa de vida, sendo os de
alta confiabilidade aqueles que apresentam a maior durabilidade. Esta variável é determinada,
para os capacitores eletrolíticos de alumínio, pela qualidade dos materiais utilizados na
fabricação.
Em geral, a um aumento de temperatura corresponde uma redução na vida do capacitor
eletrolítico, de acordo com a expressão:

 T − To 
− 
 θ 
BT = Bo ⋅ 2 (6.2)

BT é o tempo de vida esperado. Bo é o tempo de vida de referência, T é a temperatura do


capacitor, To é a temperatura de referência (To=40°C). θ é o intervalo de temperatura de meia-
vida ( ≅ 10 K) [6.2].
O fator de perdas diminui com o aumento da temperatura e aumenta com a elevação da
frequência de operação. Os valores são indicados, geralmente para 120 Hz e 85°C. Para os
capacitores eletrolíticos especiais para operação em alta frequência (série HFC da Siemens, por
exemplo), os valores especificados são para 100 kHz e 85°C. Quanto à Rse, ela também varia
com estes parâmetros, mas, usualmente, diminui com a elevação da frequência, devido ao
aumento da viscosidade do eletrólito, o que aumenta a mobilidade iônica [6.3].

D
R se = R s (Tc ) + (6.3)
2πfC

Rs são as perdas ôhmicas do eletrólito, folhas e contatos. O segundo termo da equação


representa as perdas no dielétrico. D é o fator de dissipação (D ≅ 0,013, f é a frequência (Hz) e
C é a capacitância (F). Rs normalmente tem um coeficiente negativo com a temperatura (1 a
2% por °C em torna da temperatura ambiente)

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Como as perdas no capacitor estão diretamente relacionadas com a corrente RMS por
ele, a uma variação de Rse corresponde uma mudança na máxima corrente admissível. Assim,
se a frequência de operação de um capacitor eletrolítico comum for acima de 2 kHz, admite-se
uma corrente 40% maior do que a especificada para 120 Hz (devido à redução de Rse). Para
uma temperatura ambiente de 40°C, admite-se uma corrente 220% maior do que a especificada
para 85°C, o que se justifica pela maior facilidade de troca de calor com o ambiente.
Por todos estes fenômenos, o valor equivalente do capacitor sofre profundas alterações,
podendo, em última análise, ser obtido para cada frequência e temperatura, das curvas de
impedância mostradas anteriormente. Em geral, capacitores para uso em CC sofrem menores
variações do que aqueles para uso em CA.

6.1.2 Capacitores de filme plástico metalizado


Seu dielétrico é um filme plástico (poliéster ou polipropileno) em cuja superfície é
depositada, por vaporização, uma camada fina de alumínio com espessura de 0,02 a 0,05 µm.
Na fabricação do capacitor pode-se bobinar ou dispor o conjunto armaduras/dielétrico em
camadas. Através da realização de contato das superfícies laterais dos capacitores com metal
vaporizado obtém-se bom contato entre as armaduras e os terminais. Este método também
assegura baixa indutância e baixas perdas.
Estes capacitores têm como característica a propriedade de auto-regeneração. No caso
de uma sobre-tensão que perfure o dielétrico, a camada de alumínio existente ao redor do furo
é submetida a elevada temperatura, transformando-se em óxido de alumínio (isolante),
desfazendo o curto-circuito. O tempo necessário para ocorrer a regeneração é menor que 10µs.
A constante dielétrica dos filmes plásticos é dependente da frequência e a capacitância
apresenta um decréscimo com o aumento da frequência (tipicamente de 3% a 1 MHz, do valor
a 1 kHz). A variação com a temperatura é reversível, a capacitância se altera, tipicamente,
poucos porcento numa faixa de 100oC.
Com tensões alternadas (senoidais ou não) de alta frequência, certos cuidados precisam
ser tomados, uma vez que o componente pode estar submetido a elevados picos de corrente,
causando problemas para os contatos e aumentado sua temperatura. Os manuais fornecem
ábacos que permitem determinar, para uma dada aplicação (componente, frequência, forma da
tensão alternada: pulso, senóide, trapézio, dente-de-serra), a amplitude da tensão que o
componente suporta. Fornece ainda a taxa de subida da tensão (V/µs) e o valor característico
do pulso (Ko [V2/ µs]). O valor Ko da aplicação, bem como o dv/dt, devem ser inferiores ao
especificado.
O fator de perdas depende principalmente das perdas no dielétrico (que variam com a
temperatura e frequência). As resistências dos contatos e armaduras são de valores
relativamente menores e praticamente constantes.
A indutância própria depende da bobina e das indutâncias dos terminais. A frequência
de ressonância está, tipicamente, entre 1 e 10 MHz.
Em circuitos pulsados, quando o capacitor fica sujeito a valores elevados de dv/dt
(como nos circuitos amaciadores) deve-se usar componentes com dielétrico de polipropileno,
especiais para regime de pulsos.
Os capacitores de polipropileno são também utilizados nos filtros de interferência
eletromagnética (IEM), fazendo a conexão da entrada do conversor com a fonte de
alimentação. Os de tipo X são usados para conexão entre os terminais de alimentação, e os de
tipo Y são usados para ligar cada condutor de alimentação ao terra. Para proteção do usuário,
estes componentes são de altíssima confiabilidade.

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6.2 Componentes magnéticos

As características ideais de um componente magnético são: resistência nula,


capacitância parasita nula, densidade de fluxo magnético (B) não-saturável (eventualmente
pode-se desejar corrente de magnetização e indutância de dispersão nulas).
O desejo de não-saturação conduz a um elemento com núcleo de ar, o que implica num
número elevado de espiras, com fio fino e, assim, elevada resistência e capacitância parasita. O
uso de fios com maior secção transversal leva a enrolamentos muito grandes e pesados. É
necessário, assim, o uso de algum núcleo magnético permitindo, com número razoável de
espiras e volume aceitável, obter-se a indutância desejada, com reduzido fluxo disperso.
O correto dimensionamento de um elemento magnético, seja ele um indutor ou um
transformador não é um trabalho simples e seu sucesso depende em grande parte da quantidade
e qualidade das informações disponíveis a respeito do núcleo a ser utilizado. Diferentes
autores e diferentes fabricantes indicam diferentes formas de dimensionamento destes
elementos. No entanto, a própria forma construtiva pode alterar significativamente o
desempenho do dispositivo, especialmente em termos das indutâncias de dispersão e
capacitâncias parasitas.
A principal característica de um material ferromagnético a ser usado na construção de
um elemento magnético utilizado em uma fonte chaveada é a capacidade de trabalhar em
frequência elevada sem apresentar elevadas perdas, o que significa possuir um laço de
histerese com pequena área. Desejáveis são o maior valor possível de densidade de fluxo
magnético, Bmax, bem como uma elevada permeabilidade. Além disso, a resistividade do
núcleo deve ser elevada a fim de reduzir as perdas relativas às correntes induzidas no próprio
núcleo.

6.2.1 Materiais
Os materiais mais utilizados são ferrites, as quais possuem valores relativamente
reduzidos de Bmax (entre 0,3 T e 0,5 T), apresentando, porém, baixas perdas em alta frequência
e facilidades de manuseio e escolha, em função dos diversos tipos de núcleos disponíveis. As
ferrites são constituídas por uma mistura de óxido de ferro (Fe2O3) com algum óxido de um
metal bivalente (NiO, MnO, ZnO, MgO, CuO, BaO, CoO). Possuem resistividade muito maior
do que os materiais metálicos (da ordem de 100kΩ.cm) o que implica em perdas por correntes
de Foucault desprezíveis quando operando com um campo magnético alternado.
Algumas aplicações em que não se pode admitir distorção no campo magnético deve-se
utilizar núcleo de ar, com o inevitável valor elevado do fluxo disperso.
Núcleos de ferro laminado são utilizados apenas em baixa frequência por apresentarem
laço de histerese muito largo, embora possuam um Bmax de cerca de 1,5 T.
Um terceiro tipo de material são os aglomerados de ferro (iron powder) [6.4] que são
constituídos por minúsculas partículas de compostos de ferro, aglomerados entre si, mas que
apresentam um entreferro distribuído ao longo de todo comprimento magnético. É um material
adequando para aplicações em que devem coexistir campos de baixa frequência (60 Hz) e de
alta frequência, garantindo, ao mesmo tempo, que o núcleo não sature e não apresente elevadas
perdas.

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6.2.2 Formatos de núcleos


Os núcleos de tipo "pot core" (e seus derivados tipos RM, PM, EP, cube core, etc.) são
geralmente usados na construção de indutores e transformadores para pequenas e médias
potências, com baixa dispersão, devido à sua forma fechada.

Figura 6.3 Núcleos de ferrite da Thornton Inpec [6.5]

Os núcleos EE e EI apresentam valores mais elevados de Bmax, sendo mais usados em


aplicações de potência mais elevada. Apresentam valores maiores de fluxo disperso.
Já os núcleos tipo U e UI são utilizados em transformadores de alta tensão, devido à
possibilidade de alocar-se cada enrolamento numa das pernas, facilitando a isolação, à custa de
um maior fluxo disperso. Tanto os núcleos E como os núcleos tipo U podem ser associados,
criando maiores secções transversais, possibilitando a obtenção de transformadores para
potência na faixa dos quilowatts.
Finalmente, os núcleos toroidais são usados em aplicações nas quais o fluxo disperso
deve ser mínimo, permitindo obter-se indutores muito compactos. São usados especialmente
em transformadores de pulso e filtros de IEM [6.6].

6.2.3 Histerese, saturação e fluxo residual


A figura 6.4 mostra a relação entre B (densidade de fluxo magnético [G] ou
[T=Wb/m2]) e H (campo magnético [A.esp/m]) quando uma tensão alternada é aplicada ao
enrolamento que magnetiza o núcleo.
B é proporcional ao fluxo magnético [Wb] e H é proporcional à corrente que circula
pelo enrolamento.
Nota-se que o caminho seguido quando o fluxo (ou B) cresce não é o mesmo seguido
quando o fluxo diminui. Este comportamento é chamado histerese.
Quando H=0, a densidade de fluxo não é zero, tendo um valor + Br, chamada
magnetização remanente, ou densidade de fluxo residual. Quando B=0, o campo magnético
não é nulo, mas vale + Hc, parâmetro chamado força coerciva do material.
A inclinação ∆B/∆H é a permeabilidade incremental do material, µi, a qual tende a µ0
(permeabilidade do vácuo) quando B tende para seu valor máximo, Bmax, que caracteriza a
saturação do núcleo.
Na maior parte das aplicações, a operação na região de saturação é evitada. A razão
para isso é que, na saturação, ocorre uma drástica redução na indutância com a consequente

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grande elevação de corrente (associada a H) para pequenas variações de tensão (associada a B).
Para um transformador, a saturação significa ainda uma redução no fator de acoplamento entre
os enrolamentos, uma vez que o núcleo perde sua característica de menor relutância em relação
ao ar.
B(G)
5.0K
Bmax
A

Br

-Hc
-3.0 -2.0 -1.0 0.0 Hc 1.0 2.0 3.0

-Br H (A.esp/m)

1 T = 10000 G

-Bmax

-5.0K

Figura 6.4 Curva de histerese típica.

O dimensionamento de um elemento magnético é feito, via de regra, em situações de


regime permanente, ou seja, considerando-se que a tensão média nos terminais do dispositivo é
nula e a densidade de campo magnético excursiona entre os valores simétricos de B.
O problema da saturação é agravado nas situações transitórias, especialmente no início
de operação do dispositivo (start-up). Partindo-se de uma situação em que B=0, no primeiro
semi-ciclo de funcionamento tem-se a possibilidade de variar o fluxo em apenas metade da
excursão necessária. A solução, óbvia, de projetar o elemento para suportar o dobro de
variação de fluxo, não é muito razoável por aumentar demasiadamente (4 vezes) o volume do
componente. A melhor solução é controlar eletronicamente a partida do conversor (soft-start).
O problema de “start-up” é agravado quando Br tem valor elevado. Suponhamos que o
circuito foi desenergizado quando se estava no ponto A da curva B x H (figura 6.4). A corrente
irá a zero e tem-se B=Br. O reinício de operação a partir deste ponto leva a resultados ainda
piores do que uma partida com B=0.
A figura 6.5 mostra a trajetória na curva B x H e as formas de onda de tensão e corrente
em um transformador a partir de sua energização. Note que, com fase inicial nula na tensão, a
corrente apresenta um deslocamento CC devido à resposta do circuito RL, o que leva a um
aprofundamento na região de saturação. Com o passar do tempo este nível CC se anula e as
variáveis passam a ter uma excursão simétrica em relação ao zero. No entanto, os instantes
iniciais podem ser danosos para o dispositivo pois a saturação profunda, ao reduzir a
indutância, pode aumentar em demasia a corrente, além dos limites dos componentes.
Este deslocamento CC não ocorre se a tensão aplicada partir de um ângulo de 90º. No
entanto, isto nem sempre é fácil de ser ajustado.
A solução normalmente empregada em fontes chaveadas está indicada na figura 6.6.
Trata-se de uma partida suave, em que a tensão aplicada ao transformador é aumentada
gradualmente. Note que a excursão no plano B x H se torna simétrica, assim como a corrente.

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Figura 6.5 Transitório de energização de transformador.

Figura 6.6 Transitório de energização de transformação com partida suave.

A magnetização remanente pode ser atenuada pela inclusão de um entreferro no núcleo.


Para uma dada força magneto motriz (Fmm=N.i) tem-se:

Hg ⋅ g + Hm ⋅ l c = N ⋅ i (6.4)

B = µ0 ⋅ Hg = µc ⋅ H m (6.5)

Hm e Hg são as intensidades do campo magnético no núcleo e no entreferro, respectivamente.


l c é o comprimento do circuito magnético (no núcleo) e g é o comprimento do entreferro. µo é
a permeabilidade do ar e µc é a permeabilidade do núcleo.
A densidade do campo magnético (B) mantém-se constante ao longo de todo caminho
magnético (desconsiderando a dispersão). O valor de campo magnético para o qual se atinge o
limite de saturação estabelecido em projeto é:

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N ⋅ i Bm ⋅ g
Hm = − (6.6)
lc µ0 ⋅ l c

Nota-se na figura 6.7 que a introdução do entreferro faz com que Hm seja atingido para
valores maiores de corrente. O efeito sobre a curva B x Ni é mostrado na figura 6.7.b. A
indutância incremental se reduz, mas é linearizada. O valor de Br também se reduz. Bmax não
se altera por ser uma característica do material.
O fluxo magnético é proporcional a B, enquanto a corrente é proporcional a H. Assim,
a curva de magnetização que relaciona Φ com i, cuja inclinação é a indutância do elemento
magnético, tem o mesmo comportamento da curva B x H.
Em síntese, a presença do entreferro leva a uma diminuição da indutância, à
manutenção de um valor constante, independente da corrente, e aumenta o valor da corrente na
qual ocorre a saturação.

Figura 6.7. a) Curva de histerese típica de ferrite.


b) Curva de histerese em indutor com entreferro de 0,1mm

6.2.4 Perdas nos elementos magnéticos

6.2.4.1 Perdas no núcleo


Estas perdas são devidas às correntes induzidas no núcleo (correntes de Foucault) e à
histerese do material magnético.
As perdas por histerese são o resultado da energia consumida para girar a orientação
dos domínios magnéticos dentro do material. Esta energia corresponde à área interna do laço
de histerese. Seu valor por ciclo e por unidade de volume do material é:
r r
E = ∫ H ⋅ dB (6.7)

Os materiais atualmente disponíveis não conduzem simultaneamente a boas soluções


para ambas perdas. Quando se obtém uma curva B-H estreita (como em materiais com
manganês e zinco), a resistividade é baixa. Em ferrites à base de níquel tem-se elevada
resistividade, mas um laço de histerese consideravelmente maior.

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Em materiais de baixa resistividade faz-se a laminação do núcleo a fim de elevar a


resistência. As lâminas devem ser isoladas entre si, o que ocorre, via de regra, pela própria
oxidação do material ou pelo uso de verniz. Núcleos laminados podem ser utilizados em
frequências até 20 kHz. Acima deste valor deve-se utilizar cerâmicas (ferrites) ou núcleos de
pó de ferro.
As perdas no núcleo podem ser expressas por:

R fe = µ ⋅ L ⋅ (a ⋅ B ⋅ f + c ⋅ f + e ⋅ f 2 ) (6.8)

Rfe: resistência equivalente para as perdas totais no núcleo


µ: permeabilidade
L: indutância
a: coeficiente de perdas por histerese (dado de catálogo)
c: coeficiente de perdas residuais (dado de catálogo)
e: coeficiente de perdas por correntes de Foucault (dado de catálogo)
B: fluxo máximo de trabalho (especificação do projeto)
f: frequência

Como as perdas por histerese dependem de B, usualmente utiliza-se um valor


relativamente baixo para este parâmetro (50% de Bmax para os circuitos MLP e 15% para os
ressonantes). As perdas devido às correntes induzidas crescem com o quadrado da frequência,
o que leva à necessidade do uso de materiais com elevada resistividade volumétrica, como as
ferrites.

6.2.4.2 Perdas nos enrolamentos


As perdas nos enrolamentos não são devidas unicamente à resistência dos fios de cobre
utilizados, mas, principalmente, ao efeito pelicular ("skin effect").
O efeito pelicular é devido à presença de componentes de corrente em alta frequência,
que produzem um elevado campo elétrico no interior do condutor, o qual é normal à superfície
do fio. Isto "empurra" a corrente do centro para a periferia do condutor, reduzindo a área por
onde, efetivamente, passa a corrente, elevando a resistência do caminho e as perdas.
A expressão para o efeito pelicular, para um condutor de cobre, pode ser aproximada
por:

4,35 ⋅10 −3
γ= (6.9)
f

γ: dimensão dentro da qual, para uma dada frequência, não ocorre redução significativa na
superfície condutora (em metros)
Por exemplo, para 20 kHz, γ = 0,47 mm, ou seja, um fio com diâmetro de 0,94 mm
pode ser usado para conduzir uma corrente a 20 kHz sem ter sua área condutora
significativamente reduzida pelo efeito pelicular.
Relembre-se aqui que as correntes não são, via de regra, senoidais, de modo que deve
ser considerado um certo fator de folga para acomodar as perdas devidas às componentes
harmônicas.
A figura 6.8 mostra, para cada frequência, qual condutor (de cobre) pode ser usado de
maneira evitar o aumento das perdas pelo efeito pelicular.

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A maneira usual de se contornar este problema é o uso de "fio Litz", o qual é um cabo
composto por diversos fios (isolados entre si) de diâmetro adequado à frequência de operação,
cuja secção transversal total permita uma densidade de corrente suficientemente baixa para não
causar perdas elevadas (em geral inferior a 3 A/mm2). Outra possibilidade é o uso de fitas de
cobre com espessura inferior a 2γ. Como, geralmente, estas fitas não são isoladas, deve-se
tomar cuidados adicionais com este aspecto.
Um outro aspecto que deve ser lembrado refere-se à indução de corrente nos
condutores próximos às regiões do núcleo nas quais ocorre um estrangulamento do fluxo
magnético com uma consequente dispersão local pelo ar. É óbvio que este problema é mais
grave se for utilizado um enrolamento com fita metálica, a qual apresenta uma resistência
menor do que um cabo Litz de área equivalente (em virtude da isolação entre cada fio).

Diâmetro do fio em mm
10

0.1 4 5 6
1000 1 10 1 10 1 10
f(Hz)
Figura 6.8 Diâmetro de fio que deve ser usado em função da frequência.

Em um transformador, caso se faça uso de condutores sólidos, de cabos Litz e fitas, a


colocação de cada um no núcleo deve seguir a seguinte ordem: cabo Litz mais próximo ao
núcleo (e, assim, mais susceptível ao fluxo disperso), metade do enrolamento do primário, os
secundários com fita, e a segunda metade do primário. Note-se que a posição do secundário
enrolado com fio Litz não contido pelo primário, leva a um aumento do fluxo de dispersão,
com os inconvenientes já citados. A figura 6.9 mostra o arranjo recomendado [6.7].

Fitas de isolação
Núcleo

Fio Litz Secundários

1/2 primário

Figura 6.9 Arranjo de enrolamentos em transformador de alta frequência

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6.2.5 Modelo para um transformador


Um modelo de parâmetros concentrados pode ser usado para análise de um
transformador, incluindo seus elementos parasitas e não-idealidades, associados a um
transformador ideal. A figura 6.10.a mostra um circuito de parâmetros concentrados para
modelagem de transformadores.
Rp e Rs são as resistências dos enrolamentos de primário e secundário,
respectivamente. Lp e Ls representam as indutâncias de dispersão. Lm é a indutância de
magnetização do primário, enquanto Rfe representa as perdas no núcleo por causa da histerese
e das corrente de Foucault. Cp e Cs são as capacitâncias existentes entre espiras de cada
enrolamento, enquanto Cps indica a capacitância entre os enrolamentos. Na verdade estas
capacitâncias são elementos distribuídos e o modelo é válido apenas dentro de certos limites
de frequência, acima do qual deixa de representar adequadamente o dispositivo. Este modelo
não inclui os efeitos da saturação (o que daria uma característica não-linear às indutâncias),
uma vez que o projeto do transformador deve evitar a operação nos limites da saturação.
Para os transformadores de alta tensão, nos quais o número de espiras do secundário é
elevado, a capacitância Cs pode assumir valores muito significativos, especialmente quando
refletida ao primário. Já a capacitância entre enrolamentos produz um caminho de baixa
impedância entre primário e secundário, em altas frequências, fazendo um acoplamento muito
danoso, especialmente em termos de interferência eletro-magnética.
A resposta em frequência de um transformador, obtida por simulação do modelo
estudado (com os parâmetros estimados a partir de resultados experimentais de um
transformador de alta frequência e alta tensão) é mostrada na figura 6.10.b.
Cps
Rp Lp Rs Ls

Lm
Cp Cs
Rfe

1:N
a) IDEAL
90d Fase
Rp=.01
Lp=1uH
Rfe=10k
Cp=10pF
Lm=100uH
Cps=10pF
-90d
N=40
10k Módulo Cs=100pF
Ls=10uH
Rs=1

10m
1.0kHz 10kHz 100kHz 1.0MHz 10MHz 100MHz
b)
Figura 6.10 .a) Modelo de parâmetros concentrados para transformador
b) Impedância, vista pelo primário, de transformador.

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Em baixas frequências e efeito dominante é o da indutância de magnetização. À


medida que se eleva a frequência, a reatância das capacitâncias dos enrolamentos vai se
tornando mais importante, chegando-se a uma ressonância paralela entre estas capacitâncias e
Lm, com o fator de qualidade dado principalmente por Rfe. Em frequências ainda mais altas
surge o efeito da indutância de dispersão, que produzirá uma ressonância série com as
capacitâncias dos enrolamentos e se tornará dominante após tal frequência.

6.2.6 A posição dos enrolamentos


A forma construtiva dos enrolamentos é muito significativa para a determinação dos
valores da indutância de dispersão e das capacitâncias. Para obter uma pequena dispersão de
fluxo deve-se colocar os enrolamentos numa disposição que permita ao fluxo produzido por
um deles enlaçar de maneira mais efetiva as espiras do outro. Por exemplo, a disposição
mostrada na figura 6.11, com todo o secundário colocado sobre o primário, apresenta um
maior fluxo disperso do que um arranjo no qual o primário é enrolado entre 2 segmentos do
secundário. Outra possibilidade é fazer um enrolamento bifilar, mas isto só é possível quando
ambos condutores tiverem diâmetros semelhantes, e quando não for necessária uma maior
isolação entre os enrolamentos.
Se, por um lado este arranjo reduz a dispersão, por outro aumenta a capacitância entre
os enrolamentos.
A redução da capacitância entre enrolamentos pode ser obtida pela colocação de um
filme ou fita entre cada enrolamento. Uma fita metálica pode ser usada ainda como uma
blindagem eletrostática, o que pode ser útil para efeito de redução de interferência eletro-
magnética. Obviamente a fita não pode se constituir numa espira em curto, devendo ser
adequadamente isolada.

Primário Primário

NÚCLEO NÚCLEO

Isolamento Secundário
Secundário
Figura 6.11 Posições de enrolamentos em transformador.

6.2.6.1 Regulação Cruzada


Em transformadores com mais de um secundário, normalmente a realimentação para
efeitos de controle é feita a partir do secundário que fornece a maior potência. É esta saída que
determinará se o ciclo de trabalho deve aumentar ou diminuir, a fim de manter estável a tensão
de saída. As demais saídas sofrerão alteração de sua tensão em virtude da mudança na largura
do pulso.
Por exemplo, consideremos uma fonte que forneça +5 V, +12 V e -12 V, com a saída
de +5 V sendo utilizada para efeito de realimentação. A figura 6.12 mostra as características de
regulação (normalizadas). Um aumento na carga desta saída provoca uma queda maior nas
resistências dos enrolamentos (primário e secundário +5 V), produzindo uma redução na

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tensão de 5 V, o que leva o circuito de controle a aumentar a largura do pulso a fim de


recuperar a tensão esperada (caso A). Supondo que não tenha havido variação significativa nas
cargas conectadas às saídas de +12 V e -12 V, suas tensões serão aumentadas indevidamente
(caso B).
De maneira oposta, se ocorrer um aumento na carga de uma das saídas não
realimentadas, o circuito de controle não se dará conta da alteração, não alterando o ciclo de
trabalho e, assim, não corrigindo a tensão (caso C). Tais variações podem, facilmente
ultrapassar 20%, podendo colocar em risco as cargas alimentadas pela fonte.
As medidas relativas aos enrolamentos e que podem minimizar estes fenômenos
referem-se também a buscar o máximo acoplamento possível entre todos os enrolamentos. A
melhor maneira de se obter este acoplamentos é se fazer um cabo com todos os fios dos
enrolamentos de saída, enrolando-os juntos no núcleo (desde que a isolação propiciada pelo
verniz dos fios seja suficiente para a aplicação específica). Isto permite que a variação de carga
em uma das saídas afete a tensão nas demais, de modo a que o circuito de controle perceba a
perturbação. A figura 6.13 mostra diferentes arranjos, e a tabela 6.I dá os resultados
experimentais [6.8].

Tensão de saída (normalizada)

B
A Saída realimentada

100 120
Potência de saída (%)

Figura 6.12 Tensões de saída normalizadas para fonte com múltiplas saídas.

Caso este tipo de enrolamento não seja possível, deve-se buscar a melhor disposição
relativa dos enrolamentos, como mostrado nas figuras abaixo.

T1 T2 T3 T4
Primário Secundário 1 Secundário 2
Figura 6.13 Diferentes arranjos de enrolamentos em transformador com múltiplas saídas.

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TABELA 6.I
Resultados de variação da tensão da saída não realimentada (secundário 2, 12 V) com a
variação da carga na saída realimentada (Vo1 = 5 V e Ro2 = 7,8 Ω)
T1 (V) T2 (V) T3 (V) T4 (V) R01(Ω)
18,20 17,20 16,40 16,30 0,44
17,97 16,97 16,26 16,15 0,50
17,78 16,75 16,15 16,00 0,56
17,59 16,45 15,96 15,85 0,65
17,41 16,19 15,76 15,70 0,77
17,20 15,97 15,61 15,55 0,96
17,13 15,74 15,51 15,45 1,27
16,85 15,55 15,36 15,30 1,83
13,36 12,14 12,27 12,26 3,5

6.3 Supercapacitores

Um capacitor tradicional acumula energia no campo elétrico criado pela separação das
cargas elétricas. Este campo existe no dielétrico que se torna polarizado. A capacitância é
proporcional à permissividade do material e à área das placas, sendo inversamente
proporcional à distâncias entre as placas.
Já em um supercapacitor não há um dielétrico, mas um eletrólito. A principal diferença
é a grande área propiciada por materiais porosos, aliada à pequena distância entre as cargas,
que é da ordem de nanômetros. Com um eletrólito aquoso, a tensão por capacitor é de cerca de
1 V, enquanto para um eletrólito orgânico este valor cresce para 2,5 V. A obtenção de tensão
elevada é feita pela associação em série de capacitores [6.9].
Hermann Helmholtzi, em 1853, descreveu que quando uma tensão é aplicada entre dois
eletrodos de carbono, imersos em um fluido condutor, não há circulação de corrente até que
uma certa tensão limiar seja atingida. Ao se iniciar a condução há também a formação de gás
devido à reação química na superfície dos eletrodos. Abaixo desta tensão limiar o dispositivo
se comporta como um capacitor [6.10 e 6.11].
Diferentemente de uma bateria, não há acúmulo de energia química. Em torno de um
eletrodo poroso de carbono situa-se o eletrólito, carregado de cargas. Na realidade, conforme
mostra a figura 6.14, há dois eletrodos e, nas adjacências de cada um, ocorre o acúmulo de
íons positivos e negativos O separador isola os eletrodos, mas permite a livre passagem dos
íons. Por esta razão estes dispositivos são também denominados capacitores de dupla camada.
Do ponto de vista de uma aplicação, a principal diferença entre um supercapacitor e
uma bateria é o fato da bateria ter um melhor desempenho como fonte de energia, enquanto o
capacitor tem um comportamento superior em termos de fonte de potência. Ou seja, para uma
dada tensão, um supercapacitor é capaz de responder a uma demanda de corrente de maneira
muito mais rápida do que uma bateria, o que se deve a uma resistência interna muito menor.
No entanto, mesmo podendo atingir capacitâncias muito elevadas (da ordem de
milhares de Farads), a energia acumulada, mercê da baixa tensão, é muito inferior à que se
consegue numa bateria com volume/peso equivalente. A figura 6.15 mostra um mapeamento
i
Interessantes transcrições de conferências de Helmholtz estão disponíveis em :
http://www.fordham.edu/halsall/mod/1862helmholtz-conservation.html (em 04/04/2003), On The Conservation
Of Force, 1863.
http://dbhs.wvusd.k12.ca.us/Chem-History/Helmholtz-1881.html (em 04/04/2003), THE MODERN
DEVELOPMENT OF FARADAY'S CONCEPTION OF ELECTRICITY, 1881.
Uma biografia de Helmholtz pode ser obtida em: http://www.geocities.com/bioelectrochemistry/helmholtz.htm
(em 04/04/2003).

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de diferentes dispositivos de acúmulo de energia em função de densidade de potência e de


energia, chamado diagrama de Ragone.
Nota-se que os SC (na figura designados como capacitores eletroquímicos), podem
apresentar densidade de potência similar a um capacitor eletrolítico, o que significa que o
produto tensão x corrente é similar. No entanto, a densidade de energia é de uma a duas ordens
de grandeza superior, o que significa que um SC é capaz de acumular muito mais energia. Em
relação às baterias e células a combustível, apresentam densidade de energia muito menor, mas
com densidade de potência muito mais elevada.
No entanto um supercapacitor não se comporta exatamente como o modelo de dupla
camada de Helmholtz, pois as cargas do eletrólito não se acumulam na superfície
imediatamente vizinha ao eletrodo, mas se distribuem de uma maneira mais complexa, que
pode ser modelada de várias formas, como ilustra a figura 6.16 [6.12]. No modelo de
Helmholtz, a separação entre as cargas seria igual ao diâmetro molecular do eletrólito. Para um
eletrólito aquoso, isto levaria a uma capacitância típica de 340 µF/cm2 de superfície do
eletrodo, o que é mais de uma ordem de grandeza superior ao que se obtém na prática.

Fig. 6.15 - Mapa comparativo de características


de densidade de potência e de energia de
Fig. 6.14 – Estrutura básica de
diferentes dispositivos de acúmulo
supercapacitor e varição idealizada do
(Figura obtida em [6.12]).
potencial elétrico no interior do mesmo
(Figura obtida de [6.12]).

O modelo de Stern, leva em conta que parte da carga se apresenta difusa no eletrólito,
podendo-se considerar que há duas capacitâncias em série, uma devido à camada compacta e
outra à camada difusa. A capacitância total será menor do que esta última. Um modelo elétrico
que represente todos estes comportamentos físicos e químicos não é simples. A complexidade
do modelo adotado, no entanto, depende da aplicação específica e do erro admissível em cada
análise.
Um melhor modelo elétrico deve considerar que processos de carga e descarga não são
simultâneos em toda superfície do material poroso, levando a um circuito com capacitâncias
distribuídas, acopladas por resistências, como mostra a figura 6.16. Tais capacitâncias são
ainda dependentes da tensão aplicada.

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Fontes Chaveadas - Cap. 6 Componentes Passivos Utilizados em Fontes Chaveadas J. A. Pomilio

a) b)
Figura 6.16 Modelo de distribuição de cargas de Helmholtz (a) e de Stern (b)
(Figura obtida em [6.13]).

Figura 6.17 Circuito equivalente para cada “poro” do eletrodo (Figura obtida de [6.12]).

Conforme citado em [6.12], a primeira patente deste tipo de dispositivo é de 1957


[6.14], com os primeiros componentes aparecendo no mercado em 1970 [6.15], com o
chamado SOHIO. Mas apenas nos anos 90 os supercapacitores começaram a ter um uso mais
intenso.
Há várias companhias fabricantes, como a Maxwell Technologies [6.16], a Siemens
Matsushita (através da EPCOS) [6.17], NEC-Tokin [6.18], Panasonic [6.19], ELNA [6.20],
AVX [6.21] (estes quatro últimos com componentes para aplicações eletrônicas, ou seja, de
baixa tensão), Evans [6.22], etc.
Como características gerais de um supercapacitor, pode-se indicar:
• Densidade de energia 100 vezes maior do que um capacitor convencional;
• Densidade de potência dez vezes maior do que baterias convencionais;
• Densidade de energia na faixa até 10 Wh/kg;
• Densidade de potência: 18 kW/l
• Capacitâncias até 5000 F por célula;
• Tensão nominal entre 2,3 e 100 V (módulos com associação em série);
• Corrente nominal entre 3 e 1000 A;
• Faixa de potência até 100 kW;
• Baixa Rse, o que aumenta a capacidade de suportar elevadas correntes
• Temperatura de operação entre –20o C e +55o C;
• Modular e “empilhável”;
• Menor custo por Farad em relação aos capacitores eletrolíticos;
• Não necessita de manutenção;
• Não provoca danos ambientais.

Em relação ao custo destes dispositivos, seu valor ainda é relativamente elevado. No


entanto, este custo é fortemente determinado pelo fator de escala de produção, sendo esperada

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uma redução à medida que se ampliem as aplicações. Do ponto de vista técnico, não há
dúvidas quanto ao papel ímpar que estes componentes ocupam.

6.4 Referências Bibliográficas

[6.1] “Capacitores Eletrolíticos de Alumínio”. Catálogo Icotron.

[6.2] “Capacitores Eletrolíticos de Alumínio”, Boletim Técnico Informativo Icotron, Ano V,


nº 29, Abril/Maio 1980.

[6.3] S. G. Parler Jr., “Deriving Life Multipliers for Electrolytic Capacitors”. IEEE Power
Electronics Society Newsletter, First Quarter, 2004, pp. 11-12.
[6.4] http://www.micrometals.com (em 23/11/2004)
[6.5] http://www.thornton.com.br/Port/p_linha_de_produtos.htm (em 08/12/2004)
[6.6] http://www.mag-inc.com/pdf/2004_Design_Information.pdf (em 08/03/2005)

[6.7] G. Chryssis: “High-frequency switching power supplies”, McGraw-Hill Book Co. New
York, 1986.
[6.8] W.B.M. Nascimento e J. C. Fagundes, ”Static Cross Regulation Analysis Using a
Multiple Output Forward Converter” 1º Congresso Brasileiro de Eletrônica de
Potência. Florianópolis, Dezembro de 1991.
[6.9] P. Barrade, S. Pittet, A. Rufer: “Energy storage system using a series connection of
supercapacitors, with an active device for equalizing the voltages”, IPEC 2000:
International Power Electronics Conference, 3-7 April, Tokyo, Japan

[6.10] H. L. F. von Helmholtz, “Uber einige Gesetze der Vertheilung elektrischer Strome in
korperlichenLeitern mit Anwendung auf die thierisch-elektrischen Versuche” [Some
laws concerning the distribution of electrical currents in conductors with applications to
experiments on animal electricity]. Annalen der Physik und Chemie, 89(6):211–233,
1853.

[6.11] H. Michel, C. Raible: “Bursting with Power”, PCIM Europe Magazine, 3/1999, pp. 36-
37.
[6.12] R. Kotz, M. Carlen: “Principles and Applications of Electrochemical Capacitors”,
Electrochimica Acta, vol. 45, 2000, pp. 2483-2498.
[6.13] F. Belhachemi, S. Rael, B. Davat, “A physical based model of power electric double-
layer supercapacitors”, Proc. of the IEEE IAS Annual Meeting, Rome, Italy, Oct. 2000.

[6.14] H. E. Becker, U.S. patent 2 800 616 (to General Electric), 1957.

[6.15] D. I. Boos, U. S. Patent 2 536 963 (to Standard Oil, SOHIO), 1970.

[6.16] http://www.maxwell.com/ultracapacitors/ (em 01/04/2003)

[6.17] http://www.epcos.com/web/home/html/home_e.html (em 01/04/2003)

http://www.dsce.fee.unicamp.br/~antenor 6-18
Fontes Chaveadas - Cap. 6 Componentes Passivos Utilizados em Fontes Chaveadas J. A. Pomilio

[6.18] http://www.nec-tokin.net/now/english/product/pdf_dl/SuperCapacitors.pdf (em


01/04/2003)

[6.19] http://www.panasonic.com/industrial/components/pdf/double_appguide_dne.pdf (em


01/04/2003)

[6.20] http://www.elna-america.com/dlc.htm (em 01/04/2003)

[6.21] http://www.avxcorp.com/docs/techinfo/bcapdim.pdf (em 01/04/2003)

[6.22] http://www.evanscap.com/MegaCap.pdf (em 01/04/2003). Refere-se ao artigo de R. S.


Blakeney, “Performance of a New Line of Large Carbon Double Layer Capacitors”,
38th Power Sources Conference, June 8 - 11, 1998 in Cherry Hill, NJ USA.

6.5 Exercícios
1. Com base no modelo apresentado abaixo, determine os parâmetros para o transformador que
apresenta a seguinte resposta em frequência:
Rp Lp

Lm
Cs
Rfe

1 : 100
IDEAL

Gráfico superior: módulo da impedância vista pela entrada.


Gráfico inferior: fase da impedância vista pela entrada.

2. Com os valores calculados, simule o circuito e verifique se o seu modelo calculado é


consistentes a resposta em frequência dada acima.

3. Adicione uma carga de 500 kΩ na saída do transformador e , usando o seu modelo (caso
esteja correto) refaça a análise anterior (impedância vista da entrada). Trace também a curva
referente ao ganho de tensão entre a saída e a entrada. Analise e comente.

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Fontes Chaveadas - Cap. 6 Componentes Passivos Utilizados em Fontes Chaveadas J. A. Pomilio

6. Simule no tempo o circuito anterior para três situações:


• Tensão de entrada de 100 V (valor de pico) e 10 kHz.
• Tensão de entrada de 100 V (valor de pico) e 100 kHz.
• Tensão de entrada de 100 V (valor de pico) e 300 kHz.
À luz da resposta em frequência do item anterior, analise e comente os resultados referentes
à tensão de saída e à corrente de entrada.
Para esta simulação, imponha fase 90º na tensão de entrada e corrente inicial nula no
indutor de dispersão. Simule pelo menos 10 ciclos para que o efeito do transitório de partida se
extinga.
5. Simule em Pspice um conversor abaixador de tensão, com tensão de entrada de 20 V,
largura de pulso de 50%, L=100 uH, carga de 20 ohms, frequência de comutação de 50
kHz. Estude e comente o comportamento da ondulação da tensão de saída para os casos de
capacitor ideal (100 uF), com Rse=0,1 ohm, e com Rse (0,1 ohm) e Lse de 100 nH.

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7. MODELAGEM DE FONTES CHAVEADAS: MÉTODO DE INSPEÇÃO

A implementação de uma (ou mais) malhas de controle tem por objetivo garantir a
precisão no ajuste da variável de saída, bem como a rápida correção de eventuais desvios
provenientes de transitórios na alimentação ou mudanças na carga.
Embora o sistema a ser controlado seja obviamente não-linear, o fato de a frequência de
chaveamento ser muito maior que a frequência de corte dos filtros passa-baixas do sistema, torna
razoável fazer o modelo do sistema considerando os valores médios das variáveis sujeitas ao
chaveamento.
A ferramenta básica de projeto é, em geral, o diagrama de Bode (figura 7.1), usando-se
os critérios de margem de fase e margem de ganho para estabelecer o compensador adequado.
50dB

0 Margem de ganho: -10 dB

-50dB

Margem de fase: 66 graus


-180°

-400°
100Hz 1.0kHz 10kHz 100kHz 1.0MHz 10MHz

Figura 7.1 Diagrama de Bode indicando as margens de ganho e de fase.

O uso de realimentação negativa já produz uma defasagem de 180°. Assim, o sistema não
deve acrescentar defasagem de mais 180° nas frequências em que o ganho for maior que 1 (0
dB).
A maneira usual de se desenvolver a análise é buscar uma expressão para a relação entre
a tensão de saída e a tensão de controle. Em termos do compensador a ser utilizado, existe uma
infinidade de alternativas, das quais apresentaremos algumas a título de ilustração.
A tensão de controle é aquela que determina o ciclo de trabalho da fonte, sendo fornecida
pelo compensador, a partir do erro existente entre a referência e a tensão de saída.
O compensador deve ter como característica, além de assegurar a estabilidade do sistema,
um ganho que se reduza com o aumento da frequência, de modo que o chaveamento do circuito
de potência não seja sentido na malha de controle. Outra implementação interessante é de um
ganho infinito para frequência zero, o que garante um erro de regime nulo, ou seja, a tensão de
saída é igual à referência. Adicionalmente, o aumento da banda passante é interessante uma vez
que melhora a resposta dinâmica do sistema, permitindo compensar com maior rapidez os
transitórios.
É preciso, a priori, saber para qual modo de operação o modelo será desenvolvido (Modo
de Condução Contínua - MCC ou Modo de Condução Descontínua - MCD), pois cada modelo é
válido apenas para um dos modos.
No MCC a corrente nos indutores e a tensão nos capacitores devem ser consideradas
variáveis de estado (seu valor independe da topologia). No entanto, no MCD a corrente do
indutor, por sofrer limitações da topologia (impossibilidade de inversão de sentido) não se
comporta como uma variável de estado. A modelagem, neste caso, normalmente é feita tomando

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o indutor como uma fonte de corrente e a tensão no capacitor será a única variável de estado a
ser considerada.
A figura 7.2 mostra um resultado de um conversor abaixador de tensão que opera,
inicialmente, no MCC. Note que o sistema responde (em malha aberta) com comportamento
oscilatório, típico de um sistema de segunda ordem. Em 6ms há uma redução na tensão de
entrada, mas o circuito continua no MCC. Em 10ms se dá uma redução na corrente de saída
(aumento na resistência de carga), o que leva o circuito ao MCD. Observe que o sistema passa a
ter um comportamento de primeira ordem.

Figura 7.2 Comportamento típico de tensão no capacitor (traço superior) e corrente no indutor
(traço inferior) em conversor abaixador de tensão nos modos MCC e MCD. (fchav=25kHz, L=200
uH, C=100 uF, Vi=30 V, ou 35 V, δ=50%.)

No caso dos conversores Cuk, SEPIC e zeta, é preciso considerar a questão da


descontinuidade com mais cuidado, pois a corrente dos indutores não se anula. Além disso, por
haver 2 indutores e 2 capacitores, o sistema pode se comportar como de quarta ordem.
Embora pouco comum, é possível também que se dê uma descontinuidade da tensão, o
que pode ocorrer se a capacitância de saída tiver valor muito reduzido e se descarregar
plenamente.

7.1 Conversor tipo "buck-boost " no modo tensão (condução descontínua)


Procura-se a relação vo(s)/vc(s) para, conhecendo-a, determinar o compensador que
garanta a estabilidade do sistema. O circuito opera no modo descontínuo. A figura 7.3 mostra a
topologia com o sistema de controle. Na figura 7.4 tem-se a forma de onda da corrente de
entrada.

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- vo

Ii C
Vi L
Ro
Rse

io
Vs
Compensador
vc
+
ev

+
Vref

Figura 7.3 Conversor “buck-boost” controlado no modo tensão.

Ip Ip

Ii Ii
0 0
tT tT
τ τ

Figura 7.4 Forma de onda da corrente de entrada e no indutor.

Vi ⋅ t T
Ip = (7.1)
L

Vi ⋅ t 2T
Ii = (7.2)
2⋅ L⋅τ

Vi 2 ⋅ t T2
Pi = Vi ⋅ Ii = (7.3)
2⋅ L⋅τ

Considerando um rendimento de 100%:

2
Po = Ro ⋅ i o = Pi (7.4)

O ciclo de trabalho é determinado pela relação entre a tensão de controle e a amplitude


da onda dente de serra.

tT v
=δ= c (7.5)
τ Vs

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2 Vi 2 ⋅ t T2 Vi vc
io = ⇒ io = ⋅ (7.6)
2 ⋅ L ⋅ Ro ⋅ τ 2 ⋅ L ⋅ Ro ⋅ f Vs

Seja:

Vi
A= (7.7)
2 ⋅ L ⋅ Ro ⋅ f

Desprezando a resistência série equivalente do capacitor de saída, o circuito de saída


pode ser representado como na figura 7.5:

+
io C Ro vo

Figura 7.5 Circuito equivalente da saída, desprezando Rse.

dvo vo
io = C ⋅ + (7.8)
dt Ro

dv o vo A v
+ = ⋅ c (7.9)
dt C ⋅ Ro C Vs

Aplicando a transformada de Laplace:

V o (s) A
s ⋅ V o (s) + = ⋅ Vc (s) (7.10)
R o ⋅ C C ⋅ Vs

A função de transferência é:

V o (s) Vi 1 1
G (s) = = ⋅ ⋅ (7.11)
Vc (s) 2⋅L Vs (1 + s ⋅ R o ⋅ C)
Ro ⋅τ

Da função de transferência tem-se que:


- é um sistema de primeira ordem;
- ganho estático (ou seja, quando s tende a zero) depende da carga.
Considerando Rse, introduz-se um zero em G(s).

Vi 1 (1 + s ⋅ R se ⋅ C)
G (s) = ⋅ ⋅ (7.12)
2⋅L Vs (1 + s ⋅ R o ⋅ C)
Ro ⋅τ

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Nota-se claramente que a presença da resistência série do capacitor impede que o ganho
se reduza com o aumento da frequência, o que implica na presença, no sinal realimentado, de
uma componente de tensão na frequência do chaveamento.
Os diagramas mostrados na figura 7.6 indicam a resposta do circuito. Sem a presença da
resistência série do capacitor a amplitude é sempre decrescente com o aumento da frequência,
enquanto a fase se mantém em -90 graus. Considerando-se a presença de Rse e, portanto, de um
zero na função de transferência, o ganho deixa de decrescer com o aumento da frequência e a
defasagem vai a -90 graus mas retorna para zero.
Dada a dependência da carga, os diagramas devem ser analisados para as condições
extremas de Ro, fazendo-se o projeto em função do pior caso.

20

0
Ganho (dB)
Fase (graus) Rse=0

-100

20

0
Ganho (dB)

Fase (graus) Rse>0

-100
100mHz 1.0Hz 10Hz 100Hz 1.0KHz 10KHz 100KHz 1.0MHz

Figura 7.6 Diagramas de Bode do conversor “buck-boost”, no modo descontínuo, para Rse=0 e
Rse>0.

7.1.1 O compensador
Considerando os diagramas de Bode apresentados anteriormente, fazendo uso de
realimentação negativa e de algum elemento integrador, dependendo da frequência dos pólos e
zeros da função de transferência, a máxima defasagem poderá se aproximar de 360°, produzindo
uma margem de fase muito pequena, que resulta em uma resposta oscilatória, com pouco
amortecimento. Quanto ao ganho, deve-se buscar elevar o ganho CC a fim de reduzir o erro
estático, além disso, para frequências elevadas, deve-se garantir um ganho decrescente para
minimizar a realimentação da ondulação da tensão de saída.
A frequência de cruzamento (ganho 0 dB), em malha fechada, deve ser ajustada até no
máximo, cerca de 1/5 da frequência de chaveamento.
Um possível compensador é mostrado na figura 7.7, o qual tem uma característica de
filtro passa-baixas, tendo o ganho CC ajustado pelas resistências. Sua frequência de corte é dada
por: ωpa=1/RfCi.
Para evitar que a margem de fase se estreite muito (o que levaria a uma resposta sub-
amortecida), a frequência de corte do compensador deve ser colocada próxima à frequência
determinada pelo zero da função de transferência.
Mostram-se a seguir os diagramas relativos a dois compensadores diferentes. Na figura
7.8 tem-se a frequência de corte do filtro alocada em um valor bem abaixo (2 décadas) da
frequência determinada por Rse e pela capacitância. Note-se a estreita margem de fase (30°). No
segundo caso (figura 7.9) a frequência do filtro foi alocada para a frequência relativa ao zero da
função de transferência. Observa-se claramente a melhoria na margem de fase (90°), a expansão
da faixa de passagem para 58 0Hz (contra 175 Hz do caso anterior), mantendo-se o ganho CC
(41 dB) e a atenuação para frequências crescentes.

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Os valores usados na simulação são: Vi=100 V; Vs=10 V; Rse=0,1 Ω; Ci=30 uF ou 300


nF; Ri=20 Ω; Rf=100 Ω; Ro=100 Ω; τ=50 us; L=500 uH.
A figura 7.10 mostra as respostas no tempo a um degrau na referência, sendo claro o
efeito subamortecido do primeiro ajuste, e a resposta rápida e não-oscilatória do segundo caso. O
pequeno erro CC é devido ao fato do compensador ter um ganho limitado em baixas frequências.
Rf

Ganho CC = Rf/Ri

Ri Ci
Ve - Vc
Tensão de erro Ve=Vr-Vo
+

Figura 7.7 Compensador para “buck-boost” no modo descontínuo.

Ganho (dB)

Fase (graus)

Figura 7.8 Resposta de “buck-boost”, em malha aberta, realimentado com frequência de corte do
compensador muito baixa.

Ganho (dB)

Fase (graus)

Figura 7.9 Resposta de “buck-boost”, em malha aberta, com frequência de corte do compensador
igual à frequência do zero (Rse.C).

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Figura 7.10 Resposta no tempo de “buck-boost”, em malha fechada, para ambos ajustes do
compensador.

7.2 Conversor “buck-boost” no modo de condução contínua

A operação de um conversor tipo abaixador-elevador, operando no modo de condução


contínua, apresenta uma importante dificuldade do ponto de vista do controle em malha fechada,
em virtude da existência de um zero da função de transferência no semiplano direito (RHP). Os
diagramas de Bode da função de transferência (7.13) são mostrados na figura 7.11.
A função de transferência para pequenas perturbações em torno do ponto de operação é:

 D s⋅L
1 − ⋅ 
Vo (s) Vi  (1 − D ) Ro 
2

= ⋅   (7.13)
d (s) (1 − D )2 s⋅L  1 
2
2  1 
2

1+ ⋅  + s ⋅ L ⋅C⋅ 
Ro  1 − D  1− D 

Figura 7.11 Diagramas de Bode do conversor abaixador-elevador de tensão no modo de


condução contínua.
Parâmetros: Vi=10 V, L=100 uH, C=100 uF, Ro=10 ohms, D=0,8.

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Um zero no RHP provoca, sobre o ganho, uma variação de +20 dB/dec (como um pólo
no semiplano esquerdo). No entanto, produz uma defasagem de -90°, como se vê na figura 7.12.
0

Ganho Fase

50

100
freq freq
Figura 7.12 Resposta em frequência de um zero no semiplano direito.

Isto o torna muito difícil de compensar, uma vez que se tentamos compensar o ganho
crescente (pelo uso de um filtro passa baixas, por exemplo), a defasagem tende a 360°,
reduzindo drasticamente a margem de fase. Ao se tentar compensar a fase, o ganho se torna
crescente à medida que se eleva a frequência, impedindo a atenuação do sinal determinado pelo
chaveamento do conversor. A única alternativa simples é reduzir o ganho, o que traz a
frequência de cruzamento (cross-over, 0 dB) para valores muito baixos, tornando extremamente
pobre a resposta do sistema às perturbações.
Além das dificuldades de compensação já comentadas, outro problema é que a frequência
do zero no RHP varia com o ponto de operação (Ro ou Vo), tornando ainda mais difícil a
determinação de um compensador. Esta frequência é dada pela expressão a seguir:

2
Ro ⋅ (1 − D)
ω z ( RHP) = (7.14)
L⋅ D

A manifestação desta característica do conversor fly-back no modo contínuo pode ser


visualizada considerando o comportamento do sistema (supondo malha fechada), como
mostrado na figura 7.13.

iL

Io
T D
T D

Figura 7.13 Efeito de variação de carga sobre o ciclo de trabalho em malha fechada.

Na ocorrência de um aumento em degrau na carga (o que provoca uma redução na tensão


de saída, devido às perdas do circuito e à regulação do transformador), o amplificador de erro
produz um aumento no ciclo de trabalho do conversor, buscando elevar a tensão de saída. No
entanto, um maior ciclo de trabalho implica num menor intervalo de tempo no qual ocorre a
condução do diodo de saída, intervalo este no qual ocorre a transferência de energia para a saída.
Ora, se o crescimento da corrente média pelo indutor demora alguns ciclos para se
estabilizar, a redução do intervalo de condução do diodo é instantânea a partir da a mudança no

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ciclo de trabalho. Assim, o primeiro efeito que se observa sobre a carga é, na verdade, o de uma
redução ainda maior na tensão, causada pela diminuição na corrente de saída. Isto continua até
que a corrente pelo indutor cresça para o novo e adequado valor.

7.3 Conversor tipo abaixador de tensão (forward)

Estes conversores são aqueles que possuem um filtro de segunda ordem na saída, como o
abaixador de tensão ou o push-pull. A figura 7.14 mostra uma topologia típica com controle de
tensão.
O filtro LC produz a mais baixa frequência de corte do sistema e significa um pólo duplo
(-40 dB/dec e defasagem de -180°). O capacitor e sua resistência série representam um zero (+20
dB/dec e defasagem de +90°).

1 1
f LC = ωo = (7.15)
2⋅π⋅ L⋅C L⋅C

1
fz = (7.16)
2 ⋅ π ⋅ C ⋅ Rse

Vi
.. V2
L
C
+Vo

N3
. N1 N2
Rse Ro

Vs
-
+
Compensador

Vc -
Vr
+

Figura 7.14. Conversor “forward” com controle de tensão.

A tensão no secundário, no MCC, é dada por:

N2 Vi ⋅ N 2 ⋅ Vc
V2 = Vi ⋅ ⋅δ = (7.17)
N1 N 1 ⋅ Vs

V2 Vi ⋅ N 2
= (7.18)
Vc Vs ⋅ N 1

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A relação entre a tensão no secundário e a tensão de saída é dada pela resposta do filtro
de segunda ordem da saída. Desconsiderando o efeito da resistência da carga e de Rse tem-se um
fator de qualidade infinito.

Vo 1
= 2
(7.19)
V2 1 + s ⋅ L ⋅ C

A função de transferência é:

Vo(s) Vi ⋅ N 2
G (s) = = (7.20)
Vc(s) Vs ⋅ N1 ⋅ (1 + s2 / ω o 2 )

Quando se considera Rse, adiciona-se um zero à função:

Vo(s) Vi ⋅ N 2 ⋅ (1 + s / ω z )
G (s) = = (7.21)
Vc(s) Vs ⋅ N1 ⋅ (1 + s2 / ω o2 )

1
ωz = (7.22)
Rse ⋅ C

Os diagramas mostrados na figura 7.15 ilustram a resposta do filtro de segunda ordem


para diferentes resistências de carga. À medida que aumenta a resistência, o ganho na frequência
de ressonância se eleva e a mudança de fase se torna mais abrupta.
Nos diagramas da figura 7.16 tem-se o efeito da presença de Rse associado ao capacitor,
introduzindo o zero na função, o que faz com que a atenuação passe a ser de 20 dB/dec, e a
defasagem se reduz para 90 graus em altas frequências.
Note-se em ambos os casos que a defasagem produzida apenas pelo filtro de saída já é de
180°. Adicionando-se a defasagem proveniente da realimentação negativa, chega-se aos 360°, o
que significa que se deve ter muito cuidado na escolha do compensador, o qual deve garantir
uma melhora na margem de fase.
50

Ganho (dB)

-200

0d

Fase (graus)

-200d
1.0Hz 10Hz 100Hz 1.0KHz 10KHz 100KHz 1.0MHz

Figura 7.15 Resposta de filtro de segunda ordem, para diferentes resistências de carga.

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50

Ganho (dB)

-200

0d

Fase (graus)

-200d
1.0Hz 10Hz 100Hz 1.0KHz 10KHz 100KHz 1.0MHz

Figura 7.16 Resposta de filtro de segunda ordem, considerando Rse, para diferentes resistências
de carga.

7.3.1 O compensador
O compensador mostrado na figura 7.17 tem como principal característica oferecer uma
defasagem positiva, o que permite uma melhoria na margem de fase.
Sua função de transferência é dada por:

v c (s) (1 + R iz ⋅ C i ⋅ s) ⋅ (1 + C f ⋅ R fz ⋅ s)
= (7.23)
v e (s)  R ip ⋅ R iz 
s ⋅ C f ⋅ (R ip + R iz ) ⋅ 1 + s ⋅ C i ⋅ 
 R iz + R ip 
 

Ci
Rfz
Cf
ve
- vc
Rip Riz
+

Figura 7.17 Compensador com dois pólos e dois zeros.

Pela função de transferência do circuito indicado, observa-se a presença de dois pólos e


dois zeros, nas seguintes frequências:

ω p1 = 0
R ip + R iz
ω p2 =
C i ⋅ R ip ⋅ R iz
1 (7.24)
ω z1 =
C i ⋅ R iz
1
ω z2 =
C f ⋅ R fz

Usualmente ωz1=ωz2=ωo e ωp2=5ωo<ωz.

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Fontes Chaveadas - Cap. 7 Modelagem de fontes chaveadas: método de inspeção J. A. Pomilio

O ganho CC é, teoricamente, infinito, levando a um erro de regime nulo. O desvio


positivo na fase provoca uma melhoria na margem de fase. Para frequências elevadas o
compensador apresenta um ganho determinado, mas, a redução é garantida, em malha fechada,
pelo filtro de saída.
O diagrama de Bode deste compensador é mostrado na figura 7.18. Note que o ganho não
se reduz com o aumento da frequência, sendo dado pela relação das resistências. Mas o efeito
mais importante é o de ter-se uma defasagem positiva, o que permitirá a melhoria da margem de
fase do sistema.
100

Ganho (dB)
50

-50

Fase (graus)

-100
100mHz 1.0Hz 10Hz 100Hz 1.0KHz 10KHz 100KHz 1.0MHz

Figura 7.18 Resposta em frequência do compensador.

Isto pode ser observado nos diagramas da figura 7.19, quando se obtém uma margem de
fase de 31º, numa frequência de cross-over de 97 Hz. O ganho decrescente para altas frequências
é atingido pelo efeito do próprio filtro de saída.
100

Ganho (dB)

Fase (graus)
-100

-200
100mHz 1.0Hz 10Hz 100Hz 1.0KHz 10KHz 100KHz 1.0MHz

Figura 7.19 Resposta em frequência do circuito completo.

7.4 Conversor boost

Embora com função de transferência distinta, o conversor boost apresenta


comportamento semelhante ao do conversor “fly-back”, ou seja, no modo contínuo possui um
zero no semiplano direito. A figura 7.20 mostra os diagramas de Bode.
A função de transferência entre a tensão de saída e a tensão de controle, no modo
contínuo, é dada por:

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 1 s⋅L
1 − 
Vo (s) Vi  (1 − D )2 ⋅ Ro 
= ⋅   (7.25)
d (s) (1 − D )2 s⋅L  1 
2
2  1 
2

1+ ⋅  + s ⋅ L ⋅C⋅ 
Ro  1 − D  1− D 

No modo descontínuo não existe o zero no RHP e a função de transferência é:

v ο (s) Vi 2 ⋅ Ro ⋅ τ  Vi  1
G (s) = = ⋅ ⋅ 1 − ⋅ (7.26)
v c (s) Vs L  Vo   2 − Vi  + 1 − Vi  ⋅ s ⋅ C ⋅ Ro
   
 Vo   Vo 

Os diagramas de Bode, para o modo descontínuo, estão mostrados na figura 7.21.

Figura 7.20 Diagramas de Bode do conversor elevador de tensão no modo de condução


contínua.
Parâmetros: Vi=10 V, L=100 uH, C=100 uF, Ro=10 ohms, D=0,8.
40 0
Ganho (dB) Fase (graus)
20

0 50

20

40 4 100 4
10 100 1000 1 10 10 100 1000 1 10
f(Hz) f(Hz)
Figura 7.21 Resposta em frequência de conversor boost no modo descontínuo, em malha aberta.

7.5 Controle feed-forward

Como se pode apreender das expressões das funções de transferência apresentadas, se


ocorre uma mudança na tensão de entrada, produz-se um erro na saída, o qual, eventualmente, é
corrigido pela realimentação. Isto significa um desempenho dinâmico lento, especialmente por
causa da elevada constante de tempo dos filtros de saída.
Se o ciclo de trabalho puder ser ajustado diretamente para acomodar a alteração na tensão
de entrada, então a saída poderá nem sentir que ocorreu alguma mudança.

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Isto pode ser obtido fornecendo um sinal da tensão de entrada para o circuito que produz
o sinal MLP, mais especificamente, ao gerador de rampa, o qual deve ter sua amplitude variável
em função da tensão de entrada, como mostrado na figura 7.22.
Nota-se que a um aumento da tensão de entrada eleva-se o valor de pico da onda dente de
serra, provocando, para uma mesma referência, uma redução no ciclo de trabalho, levando a uma
estabilização da tensão de saída, desde que o ganho que realiza o aumento da amplitude da
rampa esteja corretamente dimensionado.

Vi maior Vs2

Vs1
Vc

δ1

δ2

Figura 7.22 Variação na amplitude da onda dente de serra e no ciclo de trabalho com controle
feed-forward.

O uso desta técnica em fontes tipo abaixador de tensão e fly-back (modo descontínuo)
tem excelente resultado. Já sua aplicação em conversores tipo push-pull, meia-ponte e ponte
completa, necessita de atenção para evitar a saturação do transformador, o que poderia ocorrer
caso a forma de onda deixasse de ser simétrica.

7.6 Controle no modo corrente

O controle MLP da tensão de saída está mostrado na figura 7.23. Neste caso, a tensão de
controle, obtida a partir do erro de tensão e do compensador, determina a largura do pulso pela
comparação com uma onda dente de serra de frequência fixa.
Este controle da chave de potência ajusta por quanto tempo se aplica tensão sobre o
indutor e, assim, sua corrente.
Em termos de modelagem dinâmica, ao se fazer o controle da corrente, tem-se uma
redução na ordem do sistema (a exemplo do que ocorre no MCD). No entanto, para os
conversores boost e buck-boost mantém-se o comportamento de fase não-mínima.
No controle no modo corrente, uma malha adicional de corrente é usada como mostra a
figura 7.24, para um conversor abaixador de tensão. Neste caso, a referência de corrente (Ir)
determina diretamente a corrente do indutor (seu valor médio) e, consequentemente, a tensão de
saída.
Existem diferentes tipos de controle no modo corrente:
a) corrente média;
b) histerese;
c) tempo ligado ou desligado constante;
d) frequência constante com acionamento sincronizado.

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.
Vi
+
Ro Vo

.
Compensador C
Vr
+ Comparador
Vc
+
- Acionador

Figura 7.23 Esquema básico de controle no modo tensão (exemplo de circuito “fly-back”).

Vi
Regulador de
tensão L +
Clock C Ro Vo
Vr
+ S
Ir FF Q
+ Acionador
- R
iL
- Comparador

Figura 7.24 Controle de corrente em conversor abaixador de tensão.

Em todas estas alternativas, ou a corrente do indutor, ou a corrente pela chave de


potência (a qual é proporcional à corrente do indutor) é medida e comparada com a tensão de
controle. A figura 7.25 mostra as diferentes técnicas.
No caso de controle pela corrente média, a medição desta variável deve ser feita de modo
a se obter um sinal proporcional ao valor médio da corrente, e é utilizada quando se faz um
controle MLP. Normalmente a corrente medida é a do indutor.
No controle por histerese (também chamado de Modulação por Limites de Corrente -
MLC), a tensão de controle determina o valor médio da corrente do indutor. A variação da
corrente ∆I em torno deste valor médio desejado é um parâmetro de projeto. A frequência de
chaveamento varia com diversos parâmetros do circuito, como o próprio ∆I, as tensões de
entrada e de saída, a indutância, a carga. Note-se que enquanto a corrente for menor do que o
limite superior a chave permanece fechada. Atingido tal limite, a chave se abre e assim
permanece até que seja atingido o limite inferior.
Este controle da corrente funciona bem apenas no modo contínuo. No modo descontínuo,
como a corrente atinge zero, os limites estabelecidos para ∆I exigiriam uma corrente negativa.
Se o circuito não puder atender a tal exigência, a chave não voltará a se fechar, uma vez que não
se atinge o limite inferior, fazendo com que a corrente decaia para zero.
No controle com tempo desligado constante, a tensão de controle determina o valor
máximo da corrente. Uma vez atingido este valor, a chave de potência é desligada por um
intervalo fixo. Também aqui a frequência de chaveamento é variável com os parâmetros do
circuito. A corrente monitorada é, normalmente, a corrente no transistor.

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Imax

Imédio=K.Vc
∆I
Imin

a) Histerese
Imax=K.Vc

toff=cte
b) Tempo desligado constante

Imax=K.Vc

τ = cte
c) Freqüência constante com acionamento sincronizado

Figura 7.25 Técnicas de controle no modo corrente.

No controle com frequência constante com acionamento sincronizado (o mais usado dos
métodos), a chave é fechada no início de cada período. A tensão de controle determina a
corrente máxima e o instante de desligamento. A chave permanece desligada até o início do
próximo ciclo. O uso de uma frequência fixa facilita o dimensionamento do filtro de saída. Este
método é bastante utilizado nos conversores push-pull, pois evita a saturação do núcleo do
transformador.
Se a resposta da malha de corrente for suficientemente mais rápida do que a da malha de
tensão, pode-se modelar todo o controlador de corrente como um ganho (Kc).
Isto ocorre quando se faz um controle ciclo-a-ciclo da corrente, como nos casos
mostrados na figura 7.26, ou quando de faz controle de corrente média e a frequência de corte da
malha de corrente está, por exemplo, uma década acima da frequência de corte da malha de
tensão.

∆I
Vr + ir io Ro Vo
Gr Kc
+ 1+sCRo

Hv
Figura 7.26 Diagrama de blocos de conversor abaixador de tensão com controle de corrente.

A função de transferência para o conversor buck com controle de corrente é:

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V o (s) Kc ⋅ R o
= (8.55)
i r (s) 1 + s ⋅ C ⋅ R o

A figura 7.27 mostra a resposta deste conversor a uma variação na referência, com a
corrente do indutor controlada por histerese. O regulador de tensão é um simples PI (bloco Gr na
figura 7.26). Observe o comportamento de primeira ordem (compare com a figura 8.4), mesmo
operando em malha fechada e no MCC.
Para um sistema semelhante ao usado no resultado anterior, a figura 7.28 mostra
resultados de simulação para o conversor boost. Note-se que se mantém o comportamento de
fase não mínima, apesar da resposta do sistema apresentar-se com ordem reduzida em relação ao
controle direto da tensão de saída.

Figura 7.27 Resposta de converso buck com controle de corrente do indutor (histerese), com
malha externa de tensão de saída.

A função de transferência para o conversor boost com controle de corrente, no MCC, é:


s ⋅ L ⋅ Vi2
1−
V o (s) Vi ⋅ R o R o ⋅ Vo2
= (8.56)
i r (s) Vo s⋅C⋅Ro
1+
2

Repare que esta relação, ao utilizar o valor de Vo, se modifica caso a tensão de saída se
altere, como é o caso da figura 7.28.
O controle no modo corrente apresenta diversas vantagens sobre o controle pela tensão
de saída:
a) Limite do pico de corrente pela chave de potência. Como se faz uma medida da corrente, seja
no indutor, seja na própria chave, é possível estabelecer um valor máximo para a tensão de
controle de modo a proteger a chave semicondutora contra sobre-corrente.
b) Redução da ordem do sistema. O fato de se controlar a corrente pelo elemento indutivo (o que
o torna uma "fonte de corrente") altera significativamente o comportamento dinâmico dos
sistemas.
c) Modularidade. Saídas de mais de uma fonte podem ser facilmente paraleladas, mantendo uma
distribuição equilibrada de corrente, quando se usa uma mesma tensão de controle para
todos os módulos.

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Variação da referência de
tensão de 20V para 40V

Corrente no indutor com


controle por histerese

Efeito do comportamento de
fase não-mínima

Diminuição da
resistência da carga

Figura 7.28 Resposta de converso boost com controle de corrente do indutor (histerese), com
malha externa de tensão de saída.

d) Simetria de fluxo. Em conversores push-pull ou em ponte, o controle de corrente elimina o


problema de desequilíbrio de fluxo, dado que se monitora os picos de corrente. Caso o
circuito tenda para a saturação, ocorre um aumento no valor instantâneo da corrente,
levando a uma redução da largura de pulso e, assim, da tensão aplicada, saindo-se da
saturação.
e) Comportamento antecipativo (feed-forward) em relação à tensão de entrada. Como a
derivada da corrente depende do valor da tensão de entrada, caso ocorra uma alteração em
tal tensão, a nova inclinação da corrente produz uma variação na largura de pulso que
automaticamente compensa a perturbação, de modo que ela não seja observada na saída,
conforme se vê na figura 7.29.

Imédia
∆ I

δ1

δ2

Figura 7.29 Efeito da variação da tensão sobre a taxa de crescimento da corrente.

É claro que existem problemas com esta estratégia de controle, dentre as quais os
principais são:
a) Necessidade de um sensor de corrente. Caso se use um sensor de baixo custo, como um
resistor, o sinal detectado deve ser de pequeno valor de modo que sua presença no

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circuito seja desprezível e não produza perdas consideráveis. O uso de um sensor


magnético tem a vantagem de poder produzir um sinal de maior valor, melhorando a
relação sinal/ruído. Dado o nível CC que a corrente apresenta é preciso atenção na
escolha do sensor, assim como em sua banda passante, adequada à frequência de
comutação.
b) Sensibilidade a ruído. Especialmente para correntes baixas, os ruídos presentes na
corrente, provenientes principalmente de ressonâncias entre capacitâncias parasitas
associadas ao indutor e indutâncias parasitas do circuito, podem levar, erroneamente, à
mudança de estado da chave. A redução destes ruídos pode ser obtida pelo uso de filtros
passa-baixas, os quais, no entanto, também afetarão a corrente real, levando a uma
deterioração da resposta dinâmica do sistema.
c) Tendência para oscilações sub-harmônicas. No modo de controle com tempo
ligado/desligado constante com acionamento sincronizado, caso haja uma perturbação no
sistema e o mesmo esteja com largura de pulso maior que 50%, é possível que, em ciclos
sucessivos, a largura de pulso varie, embora mantendo o nível médio correto da tensão, o
que leva a uma maior ondulação da tensão de saída, a qual não é sentida na
realimentação (em virtude da filtragem). A condição de estabilidade é que a rampa
ascendente da corrente tenha (em módulo) inclinação maior do que a rampa descendente.
A solução para esta instabilidade é a adição de um sinal em forma de rampa ao sinal de
realimentação da corrente. Esta rampa deve ter inclinação maior do que a que se tem no
sinal da corrente. A figura 7.30 ilustra a situação.
A figura 7.31 mostra um resultado experimental com oscilação sub-harmônica. Observe
que a corrente média, mesmo com uma significativa oscilação em baixa frequência,
segue a referência.

clock

Iref

distúrbio

δ antes do distúrbio

δ após o distúrbio
Figura 7.30 Oscilações sub-harmônicas em sistema com comando sincronizado e frequência
constante.

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Fontes Chaveadas - Cap. 7 Modelagem de fontes chaveadas: método de inspeção J. A. Pomilio

Figura 7.31 Resultado experimental de oscilação sub-harmônica em conversor boost com


comando PWM. Os sinais mostrados são: Corrente no indutor, referência de corrente e largura
de pulso.

7.7 Referências bibliográficas


S. Kislovski, R. Redl and N. O. Sokal: “Dynamic Analysis of Switching-Mode DC/DC
Converters”, Van Nostrand Reinhold Ed., New York, 1991.

G. Chryssis: “High-frequency Switching Power Supplies”, McGraw-Hill Book Company, New


York, 1984.

P. Tenti: “Appunti dale lezioni di Elettronica di Potenza – Parte I”, DIE, Università di Padova,
Italia, 1994/95.

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Fontes Chaveadas - Cap. 8 Modelagem de Fontes Chaveadas J. A. Pomilio

8. MODELAGEM DE FONTES CHAVEADAS: MÉTODO DAS


VARIÁVEIS DE ESTADO

Middlebrook e Cuk (1976, 1977) desenvolveram uma técnica para obter um modelo
de variáveis médias no espaço de estado, resultando em um modelo linear para o estágio de
potência, incluindo o filtro de saída, modelo este válido para pequenas perturbações, fazendo-
se a linearização em torno do ponto de operação.
Por variáveis médias entende-se o valor médio de cada variável considerada
(normalmente corrente no indutor e tensão no capacitor), valor médio calculado a cada
período de comutação. Ou seja, o modelo não é capaz de representar o ripple da corrente ou
da tensão, mas representa a evolução do valor médio destas variáveis. As realimentações
necessárias à operação em malha fechada não devem conter sinais de alta frequência, ou seja,
devem ser devidamente filtradas, de maneira que o modelo reproduza de maneira fiel o
comportamento do sistema.
Caso o ripple de alta frequência não seja suficientemente atenuado, sua presença no
circuito pode levar a funcionamentos não previstos pelo modelo e que, portanto, não podem
ser explicados por este.
A figura 8.1 mostra um diagrama de blocos do sistema (domínio do tempo), enquanto
em 8.2 tem-se uma representação em termos de funções de transferência (domínio da
frequência).
Cada bloco do sistema mostrado na figura 8.2 pode ser representado por uma função
de transferência. Os pequenos sinais causadores, ou resultados, da perturbação são indicados
por uma letra no formato v, d, i.

Zf
Vs
Vi
Zi

Vc Controlador δ Estágio de Vo
Potência e
Vr + PWM filtro
Compensador

Figura 8.1 Diagrama de blocos do conversor.


T1(s)=
Vo
Vc

Tm(s)=
d Tp(s)=
Vo
Tc(s) Vc d
Vr=0 + Ve Vc Controlador d Estágio de Vo
Compensador Potência e
- PWM filtro

b)
Figura 8.2 Funções de transferências do conversor.

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8.1 Linearização do estágio de potência usando valores médios das variáveis de estado
para obter vo(s)/d(s)

O objetivo deste estudo é obter uma função de transferência para pequenos sinais entre
a tensão de saída (vo) e o ciclo de trabalho (δ), em torno de seus pontos de operação, Vo e D,
respectivamente.
Quando for indicada a variável em tipo maiúsculo (Vo, por exemplo), refere-se ao
valor médio da variável. Quando for indicado vo, indica-se apenas o componente alternado,
relativo à perturbação, e quando se expressar a variável em tipo minúsculo (vo), refere-se à
soma de Vo com vo.
A análise que se segue refere-se à operação no modo contínuo.

a) Passo 1: Descrição no espaço de estado

Operando no modo contínuo, existem apenas duas configurações topológicas para o


circuito, uma quando a chave controlada está conduzindo e outra quando está bloqueada e o
diodo está conduzindo.
Durante cada subintervalo, o circuito (linear) é descrito através de seu vetor de estado,
x, o qual é composto pelas correntes dos indutores e pelas tensões sobre os capacitores. É
possível incluir no modelo as resistências de indutores e capacitores, assim como algumas não
idealidades dos interruptores. Normalmente, por sua importância no comportamento
dinâmico, o elemento parasita incluído é a resistência série equivalente do capacitor.
Seja Vi a tensão de entrada do conversor. A1 e A2 são matrizes de estado, quadradas,
com a mesma dimensão do número de variáveis de estado, e B1 e B2 são vetores.

x& = A 1 ⋅ x + B 1 ⋅ Vi durante δ ⋅ τ (8.1)

x& = A 2 ⋅ x + B 2 ⋅ Vi durante (1 - δ) ⋅ τ (8.2)

Para um conversor tipo buck, boost ou buck-boost tem-se apenas duas variáveis de
estado:
 iL 
x= 
v C 

Geralmente a variável de saída (tipicamente a tensão aplicada à carga) pode ser escrita
em termos apenas das variáveis de estado:

v o = C1 ⋅ x d ur a nt e δ ⋅ τ (8.3)

v o = C2 ⋅ x d ur a nte (1-δ)⋅τ (8.4)

onde C1 e C2 são vetores transpostos.

b) Passo 2: Mediar a descrição das variáveis de estado usando o ciclo de trabalho (δ)

Para produzir uma descrição média das variáveis em um período de chaveamento, as


equações correspondentes às duas variações topológicas são ponderadas em relação ao tempo,
resultando em:

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x& = [A 1 ⋅ δ + A 2 ⋅ (1 − δ)] ⋅ x + [B 1 ⋅ δ + B 2 ⋅ (1 − δ)] ⋅ Vi (8.5)

v o = C1 ⋅ δ + C 2 ⋅(1 − δ) ⋅ x (8.6)

Passo 3: Introdução de pequena perturbação e separação de componentes CC e CA


As variáveis serão decompostas em:

x = X+x
v o = Vo + v o (8.7)
δ = D+d

Em geral, vi=Vi+vi. Entretanto, como o objetivo aqui é obter uma função entre vo e δ,
consideraremos a tensão de entrada sem variação, de modo que vi=Vi.
Usando as equações precedentes e reconhecendo que X & =0, tem-se:

x& = A ⋅ X + B ⋅ Vi + A ⋅ x + [( A 1 − A 2 ) ⋅ X + (B 1 − B 2 ) ⋅ Vi ] ⋅ d (8.8)

Há ainda termos contendo produtos de x e d, os quais serão desprezados, visto serem o


produto de duas variações as quais, por definição, são pequenas.

A = A 1 ⋅ D + A 2 ⋅(1 − D) (8.9)

B = B 1 ⋅ D + B 2 ⋅(1 − D) (8.10)

O comportamento em regime permanente pode ser obtido da equação (8.8), fazendo-se


nulos os termos variáveis no tempo e as perturbações, resultando em:

A ⋅ X + B ⋅ Vi = 0
(8.11)
X = − A −1 ⋅ B ⋅ Vi

A expressão apenas para a componente alternada é:

x& = A ⋅ x + [( A 1 − A 2 ) ⋅ X + (B 1 − B 2 ) ⋅ Vi ] ⋅ d (8.12)

Analogamente,

Vo + v 0 = C ⋅ X + C ⋅ x + [(C1 − C 2 ) ⋅ X] ⋅ d (8.13)

C = C1 ⋅ D + C 2 ⋅(1 − D) (8.14)

Das equações precedentes, em regime permanente tem-se:

Vo = C ⋅ X (8.15)

v o = C ⋅ x + [(C1 − C 2 ) ⋅ X] ⋅ d (8.16)

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De 8.15 e 8.11 obtém-se a relação entrada/saída, em regime permanente, é dada por:

Vo
= − C ⋅ A −1 ⋅ B (8.17)
Vi

Passo 4: Transformação da equação CA para o domínio da frequência para obter a função de


transferência

Aplicando a transformada de Laplace à equação (8.12) tem-se:

s ⋅ x (s) = A ⋅ x (s) + [( A 1 − A 2 ) ⋅ X + (B 1 − B 2 ) ⋅ Vi ] ⋅ d (s) (8.18)

ou,

−1
x (s) = [s ⋅ I − A ] [( A 1 − A 2 ) ⋅ X + (B 1 − B 2 ) ⋅ Vi ] ⋅ d (s) (8.19)

onde I é uma matriz identidade.


A função de transferência buscada é expressa por:

v o (s) −1
Tp (s) = = C ⋅ [s ⋅ I − A ] ⋅ [( A 1 − A 2 ) ⋅ X + (B 1 − B 2 ) ⋅ Vi ] + (C 1 − C 2 ) ⋅ X (8.20)
d (s)

Observe que, além das matrizes A, B e C, é preciso conhecer o vetor X, o qual


corresponde aos valores médios de regime permanente para as variáveis de estado. Este vetor
deve ser escrito como função dos valores CC das entradas (por exemplo, a tensão Vi) e da
largura de pulso, D.

8.2 Função de transferência δ(S)/vc(S) de um modulador MLP a partir de onda dente de


serra

A tensão de controle, vc(t), que é a tensão de erro modificada pelo compensador, é


comparada com uma onda periódica, vs(t), a qual determina a frequência do sinal MLP. Esta
onda tem um valor máximo Vs, conforme ilustra a figura 8.3.
A tensão de controle, que varia entre 0 e Vs, é formada por um nível CC e uma
componente alternada (por hipótese, senoidal):

v c (t)= Vc + v c (t) (8.21)

v c (t)= a ⋅ sin(ωt + φ) (8.22)

A figura 8.3 mostra as ondas estudadas:


O sinal δ(t) pode ser expresso como:

δ( t ) = 1 se v c ( t ) ≥ v s ( t )
(8.23)
δ( t ) = 0 se vc ( t ) < v s ( t )
V a ⋅ sin(ωt + φ)
δ( t ) = c + + componentes de frequência maior (8.24)
Vs Vs

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Fontes Chaveadas - Cap. 8 Modelagem de Fontes Chaveadas J. A. Pomilio

v s (t) v c (t)
Vs

Vc

t
δ (t) Componente fundamental
1

D
0
t
Figura 8.3 Tensão de controle e sinal MLP.

Os termos em frequência elevada presentes em δ(t) não se refletem significativamente


na tensão saída em função do filtro passa baixas na saída do conversor, podendo ser
ignorados. Assim:

δ( t ) = D + d ( t ) (8.25)

Vc
D= (8.26)
Vs

a ⋅ sin (ωt + φ)
d (t ) = (8.27)
Vs

A relação buscada é bastante simples, e não possui qualquer elemento dinâmico, ou


seja, o modulador PWM pode ser substituído por um ganho:

d (s) 1
Tm (s) = = (8.28)
v c (s) Vs

8.3 Característica dinâmica do conversor buck no MCC


Para obter a função de transferência vo(s)/d(s) em um conversor abaixador de tensão,
operando no modo de condução contínua, as duas variantes da topologia estão indicadas na
figura 8.4.
L RL x2 L RL x2
C C
+ +
x1 x1
Ro Vo Ro Vo
Vi Rse Rse

(a) (b)
Figura 8.4 Alternativas topológicas (modo contínuo) de conversor abaixador de tensão:
condução do transistor (a) e condução do diodo (b).

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A resistência série do capacitor é indicada como Rse, enquanto a resistência do indutor


é RL. x1 é a corrente pelo indutor e x2 é a tensão sobre o capacitor.
Considerando a malha externa no circuito mostrado na figura 8.4.a tem-se:

− Vi + L ⋅ x& 1 + R L ⋅ x 1 + Ro ⋅ ( x 1 − C ⋅ x& 2 ) = 0 (8.29)

Escrevendo a equação de tensões para a malha de saída:

− x 2 − C ⋅ R se ⋅ x& 2 + Ro ⋅ ( x 1 − C ⋅ x& 2 ) = 0 (8.30)

Numa forma matricial, as equações anteriores, que são válidas durante o intervalo
normalizado δ, podem ser escritas como:

 Ro ⋅ ( R se + R L ) + R se ⋅ R L Ro 
 1  
 x& 1   L ⋅ ( Ro + R se )   x1    
− −
L ⋅ ( R se + Ro)
x&  =  Ro 1
   +  L  Vi (8.31)
 2    x2   0 
 C ⋅ ( Ro + R se )

C ⋅ ( Ro + R se )   

As equações de estado para o circuito na situação em que o transistor está desligado,


por inspeção, podem ser obtidas facilmente, apenas observando que a tensão Vi vale zero.
Assim A2 = A1 e B2 = 0.
A tensão de saída, em ambos os casos é dada por:

Ro ⋅ R se ⋅ x 1 + Ro ⋅ x 2
v o = Ro ⋅ ( x 1 − C ⋅ x& 2 ) = (8.32)
Ro + R se

Então:

 Ro ⋅ R se Ro 
C1 = C 2 =   (8.33)
 Ro + R se Ro + R se 

Assim, a matriz e os vetores mediados são:


A = A1
B = B 1 .D
C = C1

As seguintes simplificações podem ser feitas: usualmente, Ro >> Rse , e tanto RL


quanto Rse são pequenos, o que simplifica as matrizes e vetores para:

 R se + R L 1 
− − 
A = A1 = A2 =  L L (8.34)
1 1 
 − 
 C C ⋅ Ro 

C = C1 = C 2 ≈ R se 1 (8.35)

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1
B = B1 ⋅ D =  L  ⋅ D (8.36)
 0 

A inversa da matriz A é:

 1 1 
L ⋅ C ⋅ Ro  −
C ⋅ Ro L 
A −1 =  R se + R L  (8.37)
Ro + R se + R L  − 1 − 
 C L 

A característica estática do conversor é obtida aplicando 8.17:

Vo Ro + R se
= D⋅ ≅D (8.38)
Vi Ro + R se + R L

Para o conversor abaixador de tensão, os elementos do vetor X são dados por:

Vo D ⋅ Vi
IL = Io = = e (8.39)
Ro Ro
Vc = Vo = Vi ⋅ D

A função de transferência vo(s)/d(s), aplicando a equação 8.20, é:

v o (s) 1 + s ⋅ R se ⋅ C
Tp (s) = ≅ Vi ⋅ (8.40)
d (s)   1 R + RL  1 
L ⋅ C ⋅ s 2 + s ⋅  + se + 
  Ro ⋅ C L  L ⋅ C

Os diagramas de Bode são mostrados na figura 8.5. A figura 8.6 mostra a resposta do
conversor, operando no MCC, a uma mudança em Vi ou em δ (são equivalentes do ponto de
vista dinâmico). Note que a função de transferência é idêntica caso se obtenha a relação
vo(s)/vi(s), bastando trocar Vi por D no numerador. A concordância dos resultados é absoluta.

Figura 8.5 Diagramas de Bode do conversor abaixador de tensão.


Parâmetros: Vi=20 V, L=200 uH, C=100 uF, Ro=10 ohms, Rse=0,1 ohm, RL=0,1 ohm.

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Figura 8.6 Resposta a uma variação na tensão de entrada (equivalente a uma mudança de
largura de pulso) em conversor abaixador de tensão operando no MCC. Em cima: resposta do
modelo. Embaixo: resposta no circuito.

8.4 Características dinâmicas dos conversores boost e buck-boost no MCC

Procedimento análogo ao do exemplo anterior pode ser feito para obter as


características dinâmicas de qualquer outra topologia.
Para o conversor boost, a função de transferência da tensão de saída para a largura de
pulso (para o circuito sem perdas) é dada por:

 1 s⋅L
1 − ⋅ 
Vo (s) Vi  (1 − D )2 Ro 
= ⋅   (8.41)
d (s) (1 − D )2 s⋅L  1 
2
2  1 
2

1+ ⋅  + s ⋅ L ⋅C⋅ 
Ro  1 − D  1− D 

A figura 8.7 mostra o comportamento em frequência desta função de transferência.

Figura 8.7 Diagramas de Bode do conversor elevador de tensão.


Parâmetros: Vi=10 V, L=100 uH, C=100 uF, Ro=10 ohms, D=0,8.

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Para o conversor buck-boost, a função de transferência da tensão de saída para a


largura de pulso (para o circuito sem perdas) é dada por:

 D s⋅L
1 − 
Vo (s) Vi  (1 − D )2 ⋅ Ro 
= ⋅   (8.42)
d (s) (1 − D )2 s⋅L  1 
2
2  1 
2

1+ ⋅  + s ⋅ L ⋅C⋅ 
Ro  1 − D  1− D 

Figura 8.8 Diagramas de Bode do conversor abaixador-elevador de tensão.


Parâmetros: Vi=10 V, L=100 uH, C=100 uF, Ro=10 ohms, D=0,8.

Observe que se tratam de comportamentos de segunda ordem mas que apresentam um


zero no semi-plano direito (RHP) (raiz do numerador com parte real positiva).

8.5 Referências Bibliográficas

R. D.Middlebrook and S. Cuk: "A General Unified Approach to Modeling Switching


Converter Power Stage". 1976 IEEE Power Electronics Specialists Conference
Record, pp. 18-34.

S.Cuk and R. D.Middlebrook: "A General Unified Approach to Modeling Switching DC-to-
DC Converter in Discontinuous Conduction Mode". 1977 IEEE Power Electronics
Specialists Conference Record, pp 36-57

S. Kislovski, R. Redl and N. O. Sokal: “Dynamic Analysis of Switching-Mode DC/DC


Converters”, Van Nostrand Reinhold Ed., New York, 1991.

G. Chryssis: “High-frequency Switching Power Supplies”, McGraw-Hill Book Company,


New York, 1984.

P. Tenti: “Appunti dale lezioni di Elettronica di Potenza – Parte I”, DIE, Università di Padova,
Italia, 1994/95.

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Fontes Chaveadas - Cap. 8 Modelagem de Fontes Chaveadas J. A. Pomilio

8.6 Exercícios

1. Demonstre que a função de transferência vo(s)/d(s) para o conversor boost, no MCC é:


 1 s⋅L
1 − ⋅ 
Vo (s) Vi  (1 − D )2 Ro 
= ⋅   .
2 2 2
d (s) (1 − D ) s⋅L  1  2  1 
1+ ⋅  + s ⋅ L ⋅C⋅ 
Ro  1 − D  1− D 
Não inclua as resistências do capacitor ou do indutor no modelo.
• Trace os diagramas de Bode utilizando os seguintes valores: Vi=10 V, D=0,5, L=100
uH, C=100 uF, Ro=2 Ω, Vs=5 V, fchav=20 kHz. Comente os resultados.

2. Demonstre que a função de transferência vo(s)/d(s) para o conversor buck-boost, no


 D s⋅L
1 − ⋅ 
Vo (s) Vi  (1 − D) Ro 
2

MCC é: = ⋅  .
d (s) (1 − D )2 s⋅L  1 
2
2  1 
2

1+ ⋅  + s ⋅ L ⋅C⋅ 
Ro  1 − D  1− D 
Não inclua as resistências do capacitor ou do indutor no modelo.
• Trace os diagramas de Bode utilizando os seguintes valores: Vi=10 V, D=0,5, L=100
uH, C=100 uF, Ro=2 Ω, Vs=5 V, fchav=20k Hz. Comente os resultados.

3. Obtenha a função de transferência vo(s)/d(s) para o conversor buck, no MCC. Inclua


apenas a resistência do capacitor no modelo.
• Trace os diagramas de Bode utilizando os seguintes valores: Vi=20 V, D=0,5, L=200
uH, C=100 uF, Ro=10 Ω, Vs=10 V, fchav=2 0kHz, Rse=0,1 Ω. Comente os resultados.
• Simule no tempo o conversor e compare os resultados do modelo com os do circuito
quando ocorrer uma alteração na tensão de entrada de 20 para 22 V. Note que a função
de transferência é idêntica, caso se obtenha a relação vo(s)/vi(s), bastando trocar Vi por
D no numerador.

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9. MODELAGEM DE CONVERSORES: MODELO DA CHAVE PWM

As topologias básicas de conversores CC-CC possuem uma chave controlada e outra não-
controlada associadas a elementos lineares invariantes no tempo. Ao conjunto destas duas chaves
pode-se dar o nome de chave PWM [9.1].
O objetivo neste capítulo é desenvolver um modelo linear para estas chaves, válido em torno
do ponto de operação. O projeto adequado do compensador necessita um conhecimento do modelo
matemático do comportamento do conversor frente a pequenas perturbações.

9.1 Propriedades invariantes das chaves PWM

A figura 9.1 mostra os conversores básicos, indicando terminais chamados a, p e c,


denominados ativo, passivo e comum.

a ia
c L ic L ic
c p

Vi C Vi C
p a ia

L1 a p L2 a c p
ia C1 ia
Vi C Vi L C
c
ic ic

Figura 9.1 Conversores básicos indicando terminais ativo (a), passivo (p) e comum (c).

A chave pode ser modelada da seguinte forma:

a δ c
ia ic
δ*

Figura 9.2 Modelo da chave PWM.

onde δ é o ciclo de trabalho e δ*=(1-δ), o seu complemento.


No modo contínuo, ic será sempre diferente de zero. No intervalo (δ.τ) (chave controlada
fechada), independentemente da topologia, tem-se:

i a (t)= i c (t) (9.1)

v ap (t)= v cp (t) (9.2)

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No intervalo complementar:

i a (t)= 0 (9.3)

v cp (t)= 0 (9.4)

Novamente, também neste tipo de análise, interessam os valores médios das variáveis (uma
vez que se pretende utilizar ferramentas de análise linear de sistemas). No estudo do
comportamento dinâmico, as perturbações estudadas serão, por hipótese, em frequência muito
menor do que a frequência de chaveamento e de pequena amplitude.
As grandezas médias serão expressas por tipos maiúsculos, enquanto os termos relativos às
perturbações serão indicados com uma letra em estilo: d,v, etc.
Pode-se demonstrar que a seguinte relação é verdadeira:

Ia = δ⋅ Ic (9.5)

Considerando as formas de corrente ia(t) e ic(t) mostradas na figura 9.3, e ainda a presença
da resistência série do capacitor do filtro de saída, tem-se as ondas de vap(t) e vcp(t) indicadas na
figura 9.4, considerando e desprezando a ondulação na corrente.

ia (t)

Ia=Ic. δ

tT t
τ
ic (t)
Ic

Figura 9.3 Corrente nos terminais ativo e comum.

A forma retangular de vap(t) (exceto no conversor abaixador, quando vap(t) é sempre igual à
tensão de entrada), decorre, assim, da presença de resistência no caminho da corrente ic(t).
Desprezando a ondulação desta corrente, a ondulação na tensão vap(t) pode ser dada por:

Vr = I c ⋅ R e (9.6)

onde Re é função da resistência série equivalente do capacitor e da carga, Ro.

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vap (t) vap (t)

Vr
Vap
tT tT

vcp (t) τ t vcp (t) τ t

Vcp
t t
δ δ∗ δ δ∗

(a) (b)

Figura 9.4 Tensões nos terminais da chave PWM sem (a) e com (b) a ondulação na corrente
considerada.

Nos conversores elevador e abaixador-elevador, o capacitor de saída está em paralelo com a


carga, de modo que o valor de Re é a associação em paralelo de Rse e R. No conversor Cuk Re =
Rse.
Da figura anterior, pode-se obter:

Vcp = δ ⋅ ( Vap − I c ⋅ R e ⋅ δ*)

Caso a queda de tensão na junção do diodo, vd, deva ser considerada, a equação precedente
deve ser reescrita como:

Vcp = δ ⋅ ( Vap − I c ⋅ R e ⋅ δ*) − v d ⋅ δ * (9.7)

9.2 Modelo CC da chave PWM

Seja o ciclo de trabalho composto por uma componente de valor constante e uma
perturbação:

δ = D +d (9.8)

Para um ciclo de trabalho constante (δ=D), e supondo que as variáveis sofram alguma
perturbação devido a mudança na tensão de entrada ou na carga, tem-se:

(I a + i a ) = D ⋅ (I c + i c ) (9.9)

Ia = D ⋅ Ic (9.10)

Vcp = D ⋅ Vap − D* ⋅ D ⋅ R e ⋅ I c − v d ⋅ D * (9.11)

Das equações anteriores, obtém-se o circuito equivalente dado na figura 9.5, no qual o
"transformador" é um elemento fictício e que permite a transformação de tensões CA ou CC.
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D.D*.Re c
a
Ia . . Ic
vd.D*
Vap 1: D
Vcp

Figura 9.5 Circuito CC equivalente (fictício) para chave PWM com transformador CC.

9.3 Modelo CA da chave PWM

Para uma pequena perturbação no ciclo de trabalho, desprezando os termos em que as


perturbações aparecem multiplicadas entre si, tem-se:

ia = D ⋅ ic + Ic ⋅ d (9.12)

v cp = D ⋅ (v ap + I c ⋅ R e ⋅ d − i c ⋅ R e ⋅ D*) + d ⋅ (Vap − I c ⋅ R e ⋅ D * + v d ) (9.13)

v cp
v ap =
D
+ i c ⋅ R e ⋅ D * − Vap + I c ⋅ (D − D*) ⋅ R e + v d ⋅
[ ] dD (9.14)

VD = Vap + I c ⋅ R e ⋅ (D − D*) + v d (9.15)

Destas equações pode-se representar a chave como mostrado na figura 9.6:


Na verdade, este modelo é geral, podendo ser usado para a análise CC fazendo-se d=0 e ic =
Ic. O elemento relativo à queda na junção do diodo (vd) não tem efeito dinâmico significativo. Sua
influência é significativa na análise CC, pois afeta o valor da tensão média de saída Assim, supor
vd=0 nas análises dinâmicas é uma simplificação muito razoável.

D.D*.Re c
a
- +
ia
VD d
. . vd.D*
ic
D 1: D
d.Ic
vcp

p
Figura 9.6 Modelo CA da chave.

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9.4 Efeito das perdas em condução e do tempo de armazenamento sobre o modelo da chave
PWM

Especialmente para os transistores bipolares, a atraso decorrente do tempo de


armazenamento provoca uma alteração no ciclo de trabalho efetivo do conversor, de modo que a
perturbação no ciclo de trabalho pode ser representada por:

ic
δ ef = δ − (9.16)
I me

onde Ime é um parâmetro que depende do tipo de circuito de acionamento de base do transistor.
Substituindo (16) em (12) e (14) chega-se a:

 I 
i a = D − c  ⋅ i c + I c ⋅ d (9.17)
 I me 

v cp  r  V
v ap = + ic ⋅  R e ⋅ D * + m  − D ⋅d (9.18)
D  D D

VD
rm = (resistência modulada)
I me

Como geralmente D >> Ic/Ime, pode-se reescrever (9.17):

ia = D ⋅ ic + Ic ⋅ d (9.19)

Isto significa que, no modelo, a inclusão do tempo de armazenamento não afeta o


comportamento da corrente, mas apenas o da tensão, como se pode observar na figura 9.7, na qual
são incluídas as resistências de condução do diodo (rd) e do transistor (rt).

D.D*.Re rm
a c
ia rt ic
vd.D*

rd

Figura 9.7 Modelo da chave incluindo resistências do diodo, do transistor e “modulada”.

Vcp = D ⋅ ( Vap − I c ⋅ D * ⋅R e − I c ⋅ rt ) − D * ⋅I c ⋅ rd (9.20)

Admitindo uma perturbação no ciclo de trabalho, δ = D + d, de (9.20) chega-se a:

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v cp VD
v ap = + i c ⋅ rc − d ⋅ (9.21)
D D

rc = rm + D ⋅ rt + D * ⋅rd + D ⋅ D * ⋅R e (9.22)

VD = Vap + ( D − D*) ⋅ I c ⋅ R e + I c ⋅ ( rd − rt ) (9.23)

O que leva ao modelo mostrado na figura 9.8:

a
- +
ia . . D.D*.Re rm Drt + D*rd i c c
VD d vd.D*
D 1: D
d.Ic

Figura 9.8 Modelo completo da chave PWM.

9.5 Análise do conversor abaixador de tensão

As seguintes relações serão obtidas:

vo(s)/vi(s) : variação da saída frente a perturbação na entrada


M = Vo/Vi : taxa de conversão
Zin : impedância de entrada
Zout : impedância de saída
vo(s)/d(s) : variação da saída frente a perturbação no ciclo de trabalho

O circuito (figura 9.9) e o modelo (figura 9.10) estão indicados a seguir.

a c L
ia ic
Vi C
p

Figura 9.9 Conversor abaixador de tensão.

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VD d
D r m D r t+D*rd L RL
a a1 c1 D.D*'.Re io
- +
ia . . ic
vd.D*
c
+
Rse
d.Ic 1: D
vc1p Ro vo
vap vi va1p
vcp C
i1
p

Figura 9.10 Modelo para o conversor abaixador de tensão.

9.5.1 Análise CC
Analisando o modelo, e considerando que: o ciclo de trabalho é constante (d = 0); os
indutores são representados apenas por suas resistências; os capacitores estão abertos; a tensão de
entrada; Vi é constante; Re = 0, obtém-se:

Vap = Vi (9.24)

Vc1p = D ⋅ Vap (9.25)

Vc1p − Vo = (R L + rm + D ⋅ rt + D * ⋅rd ) ⋅ I c + v d ⋅ D * (9.26)

Vo
I c = Io = (9.27)
Ro

de cujas equações se obtém:

D ⋅ Ro ⋅ (Vi − D * ⋅v d )
Vo = (9.28)
Ro + R L + rm + rt ⋅ D + rd ⋅ D *

Desprezando a tensão vd (relativa à queda na junção do diodo):

Vo D ⋅ Ro
M= = (9.29)
Vi Ro + R L + rm + rt ⋅ D + rd ⋅ D *

Desprezando ainda rm, RL, rt e rd, tem-se então a relação do conversor sem perdas:

Vo
M= =D
Vi

9.5.2 Determinação de vo(s)/vi(s)


Admitindo ciclo de trabalho constante (d = 0), desprezando o efeito de vd e ainda
considerando que a tensão se entrada sofre pequenas perturbações (vi = Vi + vi), da inspeção do
modelo tem-se:

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di c
D ⋅ v i − v o = (rm + D ⋅ rt + D * ⋅rd + R L ) ⋅ i c + L ⋅ (9.30)
dt

v o = Ro ⋅ i o (9.31)

R 1 = rm + D ⋅ rt + D * ⋅rd + R L (9.32)

1
C∫
v o = R se ⋅ i 1 + i 1 ⋅ dt (9.33)

ic = i o + i1 (9.34)

Aplicando a transformada de Laplace às equações anteriores e resolvendo-se, chega-se ao


diagrama de blocos mostrado na figura 9.11:
Pelo diagrama, obtém-se:

D ⋅ Ro ⋅ (s ⋅ C ⋅ R se + 1)
v o (s) (Ro ⋅ C ⋅ L + R se ⋅ C ⋅ L)
= (9.35)
v i (s)  C ⋅ (Ro ⋅ R 1 + Ro ⋅ R se + R 1 ⋅ R se ) + L  Ro + R 1
s2 + s ⋅  +
 L ⋅ C ⋅ (Ro + R se )  L ⋅ C ⋅ (Ro + R se )

vi + 1 ic + i1 1 vo
δ Rse+
- sL+R 1 sC
-

io
1
Ro

Figura 9.11 Diagrama de blocos do sistema.

Desprezando os elementos parasitas do modelo, recai-se na expressão clássica para o


conversor:

1
v o (s) L⋅C
= D⋅ (9.36)
v i (s) 1 1
s2 + s ⋅ +
Ro ⋅ C L ⋅ C

A simulação da equação 9.35 resulta nos diagramas de Bode mostrados na figura 9.12.

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Ganho (dB)
Fase (°)
-100

-200

Hz
Figura 9.12 Diagramas de Bode da relação vo(s)/vi(s) para conversor abaixador de tensão no MCC.

Utilizando o modelo da figura 9.10, e lembrando que, para esta análise d=0, o circuito
resultante é mostrado na figura 9.13. A respectiva resposta em frequência é mostrada ao lado, a qual
é coincidente com a obtida pela função de transferência. Verifica-se, deste modo, a praticidade
desta modelagem, pois permite obter o comportamento dinâmico do sistema a partir do próprio
circuito.
Os parâmetros usados são: L=10 mH, C=100 uF, Rse=0,3 Ω, rt=0,1 Ω, rd=0,3 Ω, RL=0,
Ro=10 Ω, rm=0, D=0,5, vd=0,8 V.
A resposta no tempo a um degrau na tensão de entrada é mostrada na figura 9.14, tanto para
o circuito completo (com transistor e diodo) quanto para o modelo. Neste caso, a inclusão do
parâmetro vd no modelo é essencial para a exatidão da resposta.

Figura 9.13. Circuito utilizando modelo da chave PWM e respectiva resposta em frequência.

Figura 9.14 Resposta a um degrau na tensão de entrada: circuito com chaveamento e modelo.

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9.5.3 Cálculo de vo(s)/d(s)


Sabendo que Vap = Vi, e admitindo vi constante (vi = 0) e que o ciclo de trabalho sofra
pequena perturbação, da análise do modelo tem-se:

d
v ap = v a1p − VD ⋅ =0 (9.37)
D

v c1p = D ⋅ v a1p (9.38)

o que resulta em:

v c1p = VD ⋅ d (9.39)

Como não existe ondulação de tensão em vap (já que para este conversor Re = 0), pode-se
escrever, de (9.23):

VD = Vi + I c ⋅ ( rd − rt ) (9.40)

Definindo R2 = rd - rt +RL (9.41)

chega-se ao seguinte sistema de equações, o qual leva ao diagrama de blocos mostrado na figura
9.15:

di c
VD ⋅ d − v o = R 2 ⋅ i c + L ⋅ (9.42)
dt

v o = Ro ⋅ i o (9.43)

1
C∫
v o = R se ⋅ i 1 + i 1 ⋅ dt (9.44)

ic = i o + i1 (9.45)

d + 1
ic + i1 1 vo
VD Rse+
- sL+R 2 sC
-
io
1
Ro

Figura 9.15 Diagrama de blocos do sistema.

Do circuito equivalente (figura 9.10) obtém-se:

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v o (s)
= VD ⋅ F(s) (9.46)
d(s)

Ro ⋅ (1 + s ⋅ C ⋅ R se )
L ⋅ C ⋅ ( Ro + R se )
F(s) = (9.47)
2  C ⋅ ( Ro ⋅ R 2 + Ro ⋅ R se + R se ⋅ R 2 ) + L  Ro + R 2
s + s⋅  +
 L ⋅ C ⋅ ( Ro + R se )  L ⋅ C ⋅ ( Ro + R se )

VD = Vi + I c ⋅ ( rd − rt ) (9.48)

Nota-se que a resposta independe do valor médio do ciclo de trabalho, ou seja, do ponto de
operação.
A figura 9.16 mostra os diagramas de Bode da função de transferência entre a tensão de
saída e o ciclo de trabalho, considerando e desprezando as resistências “parasitas” do modelo.

50
Ganho (db)
0 Com Rse e R2
Sem Rse e R2
50
Valores usados:
-100 Vi=100 rm=0

0
Ro=10 δ=0,5
Rse=0,3
Fase
Po=250W
100
rt=0,1 rd=0,3
L=10mH
-200
3 4 5
C=100uF
10 100 1 .10 1 .10 1 .10

f (Hz)
Figura 9.16 Diagramas de Bode relativos à figura 9.15.

9.5.4 Cálculo de Zin (impedância dinâmica de entrada)


Por definição:

Zin = vin(s)/iin(s) (9.49)

Do modelo, vin(s) = vi(s) e iin(s) = ia(s). Admitindo um ciclo de trabalho constante (d = 0), tem-se:

ia = D ⋅ic (9.50)

Do diagrama de blocos tem-se:

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Fontes Chaveadas - Cap. 9 Modelagem de conversores: modelo da chave PWM J. A. Pomilio

s ⋅ C ⋅ Ro R 1 
⋅  se + + 1
i c (s) L ⋅ C ⋅ (Ro + R se )  Ro s ⋅ C ⋅ Ro 
= (9.51)
D ⋅ v i (s) 2  L + C ⋅ (Ro ⋅ (R 1 + R se ) + R 1 ⋅ R se )  R 1 + Ro
s +s⋅ +
 L ⋅ C ⋅ (Ro + R se )  L ⋅ C ⋅ (Ro + R se )

 L + C ⋅ ( Ro ⋅ ( R1 + R se ) + R1 ⋅ R se )  R1 + Ro
E = s2 + s ⋅  + (9.52)
 L ⋅ C ⋅ ( Ro + R se )  L ⋅ C ⋅ ( Ro + R se )

v i (s) 1 E ⋅ C ⋅ L ⋅ (Ro + R se )
Z in = = 2⋅ (9.53)
i a (s) D 1 + s ⋅ C ⋅ (Ro + R se )

Figura 9.17 Comportamento da impedância de entrada, obtido pela simulação do circuito


equivalente.

9.5.5 Cálculo de Zout (impedância dinâmica de saída)


Por definição, curto-circuitando as fontes de tensão, e abrindo as fontes de corrente, tem-se:

 v (s)   1 
Z out =  o  // Ro // R se + (9.54)
 i c (s)   s ⋅ C 

Do diagrama de blocos,

v o (s)
= s ⋅ L + R1 (9.55)
i c (s)

Trabalhando as equações precedentes, tem-se:

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Fontes Chaveadas - Cap. 9 Modelagem de conversores: modelo da chave PWM J. A. Pomilio

Ro ⋅ R 1  s ⋅L
⋅ 1 +  ⋅ [1 + s ⋅ C ⋅ R se ]
L ⋅ C ⋅ (Ro + R se )  R1 
Z out = (9.56)
E

Figura 9.18 Comportamento da impedância de saída.

9.6 Referências Bibliográficas

[9.1] Vorpérian, V.: “Simplify PWM Converter Analysis Using a PWM Switch Model”. PCIM,
March 1990, pp. 10-15.

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Fontes Chaveadas - Cap. 10 Projeto de Sistemas de ControleLinear para Fontes Chaveadas J. A. Pomilio

10. PROJETO DE SISTEMAS DE CONTROLE LINEAR PARA


FONTES CHAVEADAS

Este capítulo apresenta uma metodologia (Vanable, 1983) para determinação de


compensadores para o controle de variáveis de saída. O ponto de partida é a resposta em
frequência do conversor, modelado a partir do valor médio das variáveis.

10.1 Projeto de compensador usando o fator K

Os circuitos mostrados utilizam amplificadores operacionais para realizar as funções de


compensação. Um sinal proporcional ao erro entre a referência e o sinal realimentado é
processado, de modo a produzir a tensão de controle necessária.
Como a montagem realiza uma realimentação negativa da variável de saída, a análise
aqui feita considera que o critério de estabilidade se dá no limiar da defasagem em 180o, para
ganhos maiores que 0 dB.

10.1.1 Definição dos tipos de compensadores


Definem-se 3 tipos básicos de compensadores, em função do número de pólos e zeros
de sua respectiva função de transferência e, principalmente, em função de sua característica de
defasagem.

a) Tipo 1
10

Cf
Ri
ve - v v c( ω ) 1
c
Tensão de erro +

ve=-(Vr-vo) 0.1 4 5
1000 1 10 1 10
ω
Figura 10.1 Compensador Tipo 1 e respectivo diagrama de ganho

A tensão de saída do integrador é:

1 v e (t )
v c (t) = −
Cf ∫ R i dt (10.1)

Este circuito apresenta um pólo na origem, o que significa uma defasagem constante de
-90° e uma atenuação de 20 dB/dec. A função de transferência e a frequência de ganho unitário
são, respectivamente:

v c (s) 1
=− (10.2)
v e (s) R i ⋅ Cf ⋅ s

onde v e (s) = −(Vr − v o (s) )

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1
fc = (10.3)
2π ⋅ R i ⋅ C f

b) Tipo 2
R2 C1

C2
ve R1
- vc
Tensão de erro
ve=-(Vr-vo) +

Figura 10.2 Compensador Tipo 2.

Aqui se tem um zero e dois pólos, sendo um na origem (devido ao integrador). A


defasagem sofre um crescimento entre -90° e 0°. O circuito apresenta um ganho AV que
pode melhorar a faixa de resposta, tendo os seguintes valores característicos:

v c (s) 1 + s ⋅ C1 ⋅ R 2
= (10.4)
v e (s) s ⋅ R1 ⋅ (C1 + C 2 + s ⋅ R 2 ⋅ C1 ⋅ C 2 )

R2
O ganho AV é dado por: AV =
R1

0d

Fase (graus)

-100d

Ganho (dB)
-20 dB/dec

AV

1.0mHz 100mHz 10Hz 1.0KHz 100KHz 1.0MHz


Figura 10.3 Diagramas de Bode do compensador Tipo 2.

As frequências do zero e do segundo pólo são:

1
fz = (10.5)
2 π ⋅ R 2 ⋅ C1

C1 + C 2 1
fp2 = ≅ se C1 >> C 2 (10.6)
2 π ⋅ R 2 ⋅ C1 ⋅ C 2 2 π ⋅ R 2 ⋅ C 2

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c) Tipo 3
Este circuito, mostrado na figura 10.4, apresenta 2 zeros e 3 pólos (sendo um deles na
origem). Isto cria uma região em que o ganho aumenta (o que pode melhorar a resposta
dinâmica), havendo ainda um avanço de fase.

R2
AV1 = (10.7)
R1

R 2 ⋅(R 1 + R 3 ) R 2
AV2 = ≅ se R 1 >> R 3 (10.8)
R1 ⋅ R 3 R3

C3 R3 R2 C1

C2
ve R1
- vc
Tensão de erro
+
ve=-(Vr-vo)

Figura 10.4 Compensador Tipo 3.

1
f1 = (10.9)
2 π ⋅ R 2 ⋅ C1

1 1
f2 = ≅ (10.10)
2 π ⋅ C 3 ⋅(R 1 + R 3) 2 π ⋅ C 3 ⋅ R 1

1
f3 = (10.11)
2 π ⋅ C3 ⋅ R 3

C1 + C 2 1
f4 = ≅ se C1 >> C 2 (10.12)
2 π ⋅ C1 ⋅ C 2 ⋅ R 2 2 π ⋅ C 2 ⋅ R 2

Para um melhor desempenho deste controlador, em malha fechada, a frequência de


corte deve ocorrer entre f2 e f3.
100

Fase (graus)

-100

Ganho (dB)
AV2
-20 dB/dec +20 dB/dec
-20 dB/dec

AV1

1.0mHz 100mHz 10Hz 1.0kHz 100kHz 1.0MHz


f1 f2 f3 f4

Figura 10.5 Diagramas de Bode do compensador Tipo 3.

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d) O fator k
O fator k é uma ferramenta matemática para definir a forma e a característica da função
de transferência. Independente do tipo de controlador escolhido, o fator k é uma medida da
redução do ganho em baixas frequências e do aumento de ganho em altas frequências, o que se
faz controlando a alocação dos pólos e zeros do controlador, em relação à frequência de
cruzamento do sistema (fc).
Para um circuito do tipo 1, k vale sempre 1. Para o tipo 2, o zero é colocado um fator k
abaixo de fc, enquanto o pólo fica um fator k acima de fc. No tipo 3, um zero duplo está
alocado um fator k abaixo de fc, e o pólo (duplo), k acima de fc.
Sendo fc a média geométrica entre as alocações dos zeros e pólos, o pico do avanço de
fase ocorrerá na frequência de corte, o que melhora a margem de fase.
Seja α o avanço de fase desejado. Para um circuito do tipo 2, o fator k é dado por:

α π 
k = tg +  (10.13)
2 4

Para um circuito tipo 3, tem-se:


2
  α π 
k =  tg +  (10.14)
  4 4 

A figura 10.6 mostra o avanço de fase em função do fator k.


200

Avanço
de fase Tipo 3
(graus) 150

100
Tipo 2

50

0 4
1 10 100 1000 1 10
Fator k
Figura 10.6 Avanço de fase para diferentes compensadores.

10.1.2 Síntese de compensador


Passo 1: Diagrama de Bode do conversor: vo(s)/vc(s)

Passo 2: Escolha da frequência de corte (em malha fechada) desejada.


Quanto maior esta frequência, melhor a resposta dinâmica do sistema. No entanto, para
evitar os efeitos do chaveamento sobre o sinal de controle, tal frequência deve ser inferior a 1/5
da frequência de operação da fonte.

Passo 3: Escolha da margem de fase desejada.


Entre 30° e 90°. 60° é um bom compromisso

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Passo 4: Determinação do ganho do compensador.


Conhecida a frequência de corte e o ganho do sistema (em malha aberta), o ganho do
controlador deve ser tal que leve, nesta frequência, a um ganho unitário em malha fechada.

Passo 5: Cálculo do avanço de fase requerido.


α = M - P - 90°
M: margem de fase desejada, P: defasagem provocada pelo sistema

Passo 6: Escolha do tipo de compensador.

Passo 7: Cálculo do fator k.


O fator k pode ser obtido das equações já indicadas ou das curvas decorrentes. A
alocação dos zeros e pólos determinará os componentes, de acordo com as equações mostradas
a seguir.
O pólo na origem causa uma variação inicial no ganho de -20 dB/dec. A frequência na
qual esta linha cruza (ou deveria cruzar) o ganho unitário é definida como a "frequência de
ganho unitário" - UGF. G é o ganho necessário dar ao compensador para que se obtenha a
frequência de corte desejada. A frequência de ganho unitário corresponde, quando o sistema
operar em malha fechada, à frequência de corte.

Tipo 1:

1
UGF = (10.15)
2π ⋅ C f ⋅ R i ⋅ G

Tipo 2:

1
UGF = (10.16)
2 π ⋅ R 1 ⋅(C1 + C 2 )

1
C2 = (10.17)
2 π ⋅ f ⋅ G ⋅ k ⋅ R1

C1 = C 2 ⋅(k 2 − 1) (10.18)

k
R2 = (10.19)
2 π ⋅ f ⋅ C1

Tipo 3:

1
UGF = (10.20)
2 π ⋅ R 1 ⋅(C1 + C 2 )

1
C2 = (10.21)
2 π ⋅ f ⋅ G ⋅ R1

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C1 = C 2 ⋅(k − 1) (10.22)

k
R2 = (10.23)
2 π ⋅ f ⋅ C1

R1
R3 = (10.24)
k −1

1
C3 = (10.25)
2π ⋅ f ⋅ R3 ⋅ k

10.2 Exemplo 1
Considere um conversor em meia ponte, operando a 20 kHz, cuja função de
transferência apresenta os diagramas de Bode (vo(s)/vc(s)) mostrados na figura 10.7.
Determinar um compensador para que se tenha uma margem de fase de 60°.

Figura 10.7 Diagramas de Bode de conversor meia-ponte (tipo abaixador de tensão). Vi=20 V,
Rse=0,12 Ω, Ro=4 Ω, Vs=5 V, L=250 uH, C=100 uF.

Solução:
A frequência de corte em malha fechada será de 4 kHz.
Nesta frequência, o sistema apresenta uma atenuação de 12 dB. Assim, o compensador
deve ter um ganho de 12 dB (4 vezes).
Ainda em 4 kHz, a defasagem provocada pelo sistema é de 155°. O avanço de fase
necessário é:
Avanço = 60° - (-155°) - 90° = 125°
Isto significa que devemos usar um controlador do tipo 3.
Usando as curvas mostradas anteriormente, determinamos um fator k = 16.
Os componentes são agora calculados, arbitrando um valor para R1 de 10 kΩ.
C2 = 1 nF
C1 = 15 nF
R2 = 10,6 kΩ
R3 = 667 Ω
C3 = 15 nF
O zero duplo estará alocado em 1 kHz, enquanto o pólo duplo estará em 16 kHz.

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O diagrama de Bode do compensador está mostrado na figura 10.8.

50d 40

Ganho (dB)

30

0d

20

-50d

10

Fase (graus)

-100d 0
10Hz 100Hz 1.0KHz 10KHz 100KHz
Figura 10.8 Diagrama de Bode do compensador tipo 3.

A figura 10.9 mostra a resposta em frequência, em malha aberta, sendo possível


verificar que o sistema apresenta os resultados esperados, quais sejam, uma frequência de
ganho unitário de 4 kHz com uma margem de fase de 60º.
A figura 10.10 mostra a resposta no tempo a um degrau de referência utilizando o
modelo do conversor e uma simulação do circuito completo. Note-se a excelente concordância
entre ambos os resultados. O pequeno desvio é devido ao atraso relacionado a um ciclo de
chaveamento, sendo menor que 30 µs (frequência de chaveamento de 33 kHz).

Figura 10.9 Resposta do sistema com compensador, em malha aberta.

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Figura 10.10 Resposta no tempo a um degrau de referência: modelo linearizado e resposta do


circuito com chaveamento.

10.3 Exemplo 2
Consideremos um conversor elevador de tensão, operando no modo de condução
contínua. Como já foi visto no capítulo anterior, neste caso tem-se um sistema que apresenta
um zero no semi-plano direito, sendo de difícil controle.
A frequência de corte escolhida é de 400 Hz, quando a fase é de –219°. Para obter uma
margem de fase de 30°, o avanço de fase necessário é de 159°, devendo-se usar um
compensador tipo 3. O fator k vale 118, e os componentes do compensador estão mostrados na
figura 10.15. O indutor do conversor é de 10 mH, o capacitor é de 100 uF e a carga é de 100
ohms. A tensão de entrada é de 100 V e a de saída é de 200 V, com uma largura de pulso de
0,5. A onda triangular tem amplitude de 10 V.
A figura 10.11 mostra a resposta do sistema sem o compensador, assim como a resposta
em frequência do compensador, obtida a partir do circuito cujos parâmetros estão mostrados na
figura 10.12.
A figura 10.13 mostra a resposta do sistema completo, em malha aberta, sendo possível
verificar que são atendidas as especificações de projeto. No entanto, a resposta do sistema não
será ditada por este resultado, uma vez que há situações muito mais críticas na faixa de baixa
frequência, na qual o ganho resultante é inferior a 0 dB. Ou seja, o sistema só terá capacidade
de resposta numa faixa de frequência abaixo de 1 Hz.
Na figura 10.14 tem-se a resposta no tempo a uma mudança de 2,5% na referência,
podendo-se notar a variação da saída inicialmente no sentido oposto ao desejado (sistema de
fase não mínima) e o comportamento estável, mas subamortecido e o longo tempo de
estabilização, devido ao baixo ganho em baixas frequências.

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100 100

Fase (graus)
Ganho (dB)
0 50

Ganho (dB)

-100 0

Fase (graus)
-50
-200

-100
100mHz 10Hz 1.0KHz 100KHz
1.0Hz 100Hz 10kHz
100Hz 10kHz
100mHz 1.0Hz 10Hz 1.0KHz 100KHz

Figura 10.11 Resposta em frequência de conversor boost operando no modo contínuo, e do


compensador do Tipo 3 projetado.

Ou seja, o método de projeto realiza exatamente o que se propõe, isto é, ajustar a


frequência de corte e a margem de fase. Funciona muito bem com circuitos que não apresentam
problema de fase não mínima. Em sistemas com zero no RHP, embora a estabilidade esteja
assegurada, o resultado global pode não ser adequado.

1-s*100U*4

10
o

s*s*1u+s*100u+4

1511
R2 C1 2.86u
R3 C3
C2
855 43n 24.2n
e 0 c
-
Compensador
-
+
R1 100k
+
E1
tipo 3
V3
+-

Referência
0
Figura 10.12 Diagrama do conversor boost simulado, incluindo o compensador.

100

Ganho (dB)

-100
Fase (graus)

-200

-300

-400
100mHz 10Hz 1.0KHz 100KHz
1.0Hz 100Hz 10kHz

Figura 10.13 Resposta em frequência, em malha aberta, com o compensador.

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210.0V

200.0V

10.0ms 20.0ms 30.0ms 40.0ms 50.0ms 60.0ms


240V

220V

200V

0s 100ms 300ms 500ms

Figura 10.14 Resposta no tempo a uma variação em degrau na referência.

10.4 Referências Bibliográficas

H. D. Venable: "The k-factor: A New Mathematical Tool for Stability Analysis and Synthesis"
Proc. of Powercon 10, March 22-24, 1983, San Diego, USA.

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10.5 Exercícios

1) Considere um conversor abaixador de tensão com as seguintes características: Vi=300


V, Vo=100 V, Po=1 kW, L=500 uH, C=100 uF, Rse=1 Ω, Vs=10 V, frequência de
chaveamento de 20 kHz, rendimento 100%.
• Determine a resposta em frequência deste conversor.
• Determine um compensador para o controle da tensão de saída de modo a obter uma
frequência de corte de 2 kHz e uma margem de fase de 70°.
• Verifique a resposta no tempo a uma variação de 10% da referência, utilizando o
modelo dinâmico.
• Simule o circuito real e verifique sua resposta no tempo, comparando com a resposta do
modelo linearizado.

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11. CIRCUITOS INTEGRADOS DEDICADOS AO ACIONAMENTO E


CONTROLE DE FONTES CHAVEADAS

Nos últimos 20 anos, uma variedade de circuitos integrados dedicados ao controle de


fontes chaveadas foi desenvolvida. Os controladores que operam no modo tensão
(controlando o valor médio da tensão de saída) ainda dominam o mercado, embora diversos
permitam operação no modo corrente (controlando a corrente sobre o elemento indutivo do
circuito). O método de controle mais utilizado é o de Modulação por Largura de Pulso,
embora existam circuitos que operam com Modulação em Frequência.
Alguns CIs possuem apenas 1 saída, enquanto outros fornecem 2 saídas deslocadas de
180° elétricos entre si. Além disso, a maioria possui um amplificador de erro e uma referência
interna, permitindo a implementação da malha de controle.
A tabela 11.I indica algumas características de diferentes circuitos.

TABELA 11.I Classificação e exemplos de circuitos integrados para fontes chaveadas

Modo Tensão Modo Tensão com Modo Corrente


Latch

Osc. S
Técnica de controle Osc. Osc.
(esquemático) MLP S I
R
vc Q
vc R
MLP
Ref.

Saída única MC34060 MPC1600 UC1842


Saída dupla TL494/594 SG3525/26/27 UC1846
Característica Baixo custo Limite digital de Especial para Fly-
corrente. back.
Boa imunidade a Inerente
ruído compensação da
tensão de entrada

Formas de onda

As características específicas de cada CI variam em função da aplicação, do grau de


desempenho esperado, das proteções implementadas, etc. Em linhas gerais pode-se dizer que
os atuais CIs possuem as seguintes características:
• oscilador programável (frequência fixa até 500 kHz)
• sinal MLP linear, com ciclo de trabalho de 0 a 100%
• amplificador de erro integrado
• referência de tensão integrada
• tempo morto ajustável

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• inibição por subtensão


• elevada corrente de saída no acionador (100 a 200 mA)
• opção por saída simples ou dupla
• "soft start"
• limitação digital de corrente
• capacidade de sincronização com outros osciladores

11.1 Técnicas de isolação de sistemas com reguladores chaveados

A implementação de uma fonte de tensão desacoplada da rede deve prever a


capacidade de oferecer na saída uma tensão com boa regulação. Outra característica deve ser
a isolação entre entrada e saída, de modo a proteger o usuário de choques devido à fuga de
corrente e ao elevado potencial da entrada.
A figura 11.1 indica 2 possibilidades de implementação de fontes de alimentação
isoladas, podendo-se notar os diferentes "terras".

T1
Vi (ac)
Retificador e Vo
Retificador de Elementos de
Filtro de
entrada e filtros Chaveamento
Saída

T2

Amplif. de erro e
Controlador MLP

T1
Vi (ac)
Retificador e Vo
Retificador de Elementos de
Filtro de
entrada e filtros Chaveamento
Saída
Ampl.
Ref erro

Controlador Isolador ótico


MLP

Figura 11.1 Algumas alternativas para isolação do circuito de controle e acionamento

Na primeira figura, o circuito de controle está no mesmo potencial da saída, ficando a


isolação por conta dos transformadores T1 (de potência) e T2 (de acionamento). Já na figura
(b) o circuito de controle está no potencial da entrada e a isolação é feita pelo transformador
T1 (potência) e por um isolador ótico, o qual realimenta o sinal de erro da saída.

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11.2 TL494

A figura 11.2 mostra o diagrama interno do CI TL494.

Modo de controle da saída 13


Vcc
6

5
.
R
C
Oscilador
FF . Q1
.
. .
Comparador Q
com tempo morto CK

. 4
- Q
.
0,12V
0,7V
+
. Q2

.
-
0,7mA
+
MLP

+
-
1 . +
2-
GND
Referência
Vref
Vcc
12
Amplif. de erro

7 5V
1 2 3 15 16 14

Figura 11.2 Diagrama interno do CI TL494

O TL494 possui 2 saídas, com deslocamento de 180° elétricos, de modo a ser possível
o acionamento de uma topologia tipo push-pull. Caso ambas saídas sejam conectadas em
paralelo, tem-se um acionamento para um conversor de uma única chave.
A onda dente de serra utilizada para gerar o sinal MLP vem de um oscilador interno
cuja frequência é determinada por um par RC conectado externamente.
O sinal MLP é obtido pela comparação da tensão sobre o capacitor (dente de serra)
com o sinal proveniente de um dos sinais de controle. A cada subida do sinal MLP altera-se o
estado do flip-flop, de modo a selecionar uma das saídas a cada período do oscilador. Uma
operação lógica entre o sinal MLP e as saídas do FF, é enviada às saídas. Além disso, um
sinal de controle de modo de saída (pino 13) faz com que, quando em nível alto, as saídas
sejam adequadas a um conversor push-pull. Quando em nível baixo, ambas as saídas variam
simultaneamente, uma vez que os sinais do FF ficam inibidos.
O sinal MLP depende ainda de um comparador que determina o tempo morto, ou seja,
uma largura de pulso máxima em cada período, o que garante um intervalo de tempo em que
ambas as saídas estão desligadas. Em uma topologia push-pull ou em ponte isto impede a
condução simultânea de ambas as chaves, o que colocaria em curto-circuito a fonte. Uma
tensão interna de 120 mV associada à entrada de tempo morto garante um valor mínimo de
cerca de 4%, limitando assim o ciclo de trabalho máximo a 96%. Um potencial mais elevado
conectado a este pino (4), aumenta o tempo morto, numa faixa de variação de 0 a 3,3 V
(tempo morto de 100%).
A regulação da tensão de saída é usualmente feita por meio dos amplificadores de
erro, com o sinal de realimentação disponível no pino 3. Os 2 amplificadores de erro podem
ser usados para fazer a realimentação de tensão e limitar a corrente pelo circuito. As saídas
dos amplificadores estão conectadas de modo a que o sinal na entrada do comparador MLP
(pino 3) seja determinado pelo amplificador que apresentar a tensão mais elevada, o que leva

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à menor largura de pulso nas saídas. A tensão neste pino encontra-se entre 0,5 e 3,5 V. O CI
dispõe de uma fonte de referência interna de 5 V

11.3 UC1840

A família dos circuitos integrados UC1840 (Unitrode) foi desenvolvida especialmente


para uso no lado da entrada em conversores fly-back ou forward. A figura 11.3 mostra o
diagrama de blocos do circuito.

11: Vin (sensor)


Ger.
Rampa 10: Rampa
Clock
Rt/Ct : 9 Osc.

15: Vin (fonte)


Drive
Latch
Compensação: 1
R 14: Polarização
Ent. inv: 17 do driver
-
S 12: saída MLP
Amp +Comp. Latch
Ent. NI: 18 + + MLP MLP
+
Start/sub-tensão: 2
+
Comp.
200uA
Histerese 5V
16: Ref. de 5V
Fonte
3V (int.)
S Interna
Start 40V
latch
Reset: 5 S Reset 13: GND
Comp. R
3V(int.) Latch 8: Partida suave ou
+
limitador de largura
R

Parada ext.: 4
Comp. + 6: Limiar de
R
+ Comp. limite de corrente
S Erro
Latch

Comp. + 7: sensor de corrente


Comp.
sobre-tensão: 3 +
400mV
Figura 11.3 Diagrama de blocos interno do UC1840

O integrado oferece as seguintes características:


• operação em frequência fixa, ajustável por um par RC externo
• gerador de rampa com inclinação variável de modo a manter um produto (Volt x
segundo) constante, possibilitando regulação de tensão mesmo em malha aberta,
minimizando ou até eliminando a necessidade de controle por realimentação
• auto-inicialização de funcionamento
• referência de tensão interna, com proteção de sobre-tensão
• proteção contra sobre e subtensão, incluindo desligamento e religamento programável
• acionador de saída único, para alta corrente, otimizado para rápido desligamento da
chave de potência
Um circuito típico de aplicação é mostrado na figura 11.4.

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Entrada cc

Rr Rin N3

Entrada ca +Vin N1
Vref
R4 16 15
Cin N4
11
Rt Ger.
Vref
9 Rampa 10
Osc.
Ct Cr N5
N2
+Vin
R1
Rf Cf 1 Drive

17
Rb Cd
14
R5 Vref
18 Ampl.
PWM 12
Erro
2 Vref Rd

R6 R8
sub-tensão
R2
6
sobre-tensão 3 7

Limite
R3 corrente
R7
Rs
Stop 4 Rcs
Remoto Partida 8
Reset 5 Suave

13 Rdc
UC1804 Cs

Figura 11.4 UC1840 acionando conversor fly-back.

No início da operação, e antes que a tensão no pino 2 atinja 3 V, o comparador de


partida/subtensão (UV) puxa uma corrente de 200uA, causando uma queda de tensão
adicional em R1. Ao mesmo tempo o transistor de saída está inibido, fazendo com que a
única corrente por Rin seja devido ao "start-up". O transistor de partida lenta está conduzindo,
mantendo o capacitor Cs descarregado.
Enquanto a tensão de controle permanecer abaixo do limite de partida (determinado
pelos resistores R4 e R5), o latch de partida não monitora subtensão. Atingido o limite, o
comparador de partida/UV elimina os 200 uA, setando o FF de partida para monitorar a
subtensão. Além disso, ativa o transistor de saída para alimentar a chave de potência, desliga
o transistor de partida lenta, permitindo a carga de Cs (via Rs) e o aumento gradativo da
largura de pulso.
O pino 8 pode ser usado tanto para partida lenta quanto para limitar o máximo ciclo de
trabalho, bem como uma entrada de inibição do sinal MLP. A largura de pulso pode variar de
0 a 90%, podendo o valor máximo ser limitado por um divisor de tensão colocado no pino 8
(Rdc).
Quando se deseja uma rampa constante, Rr deve ser conectado à referência interna de
5 V. Quando se quiser uma operação com o produto (Volt x segundo) fixo, Rr deve ser ligado
à linha de alimentação CC.
A inclinação da rampa será dada por:

dv V ( linha )
= (11.1)
dt R R ⋅ C R

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Seu valor máximo é de 4,2 V e o mínimo de 0,7 V. A frequência é determinada por


RT (entre 1 kΩ e 100 kΩ) e CT (entre 300 pF e 100 nF).
A parte MLP do integrado é formada pelo oscilador, pelo gerador de rampa, pelo
amplificador de erro, pelo comparador MLP, pelo FF de latch e pelo transistor de saída.
O amplificador de erro é um operacional convencional, com uma tensão de modo
comum entre 1 e (Vin-2)V. Assim, qualquer das entradas pode ser conectada à referência de 5
V. A outra entrada deve monitorar a tensão de saída (ou a de entrada).
O comparador MLP possui entradas para o gerador de rampa, o amplificador de erro,
o circuito de partida lenta e o limitador de corrente. À saída deste comparador tem-se um
pulso que se inicia ao final do pulso de clock do oscilador e termina quando a rampa cruza o
menor dos três sinais de entrada citados. A duração do sinal do oscilador determina a máxima
duração possível para o pulso MLP. O FF assegura a existência de apenas 1 pulso por
período.
O transistor de saída é capaz de fornecer 200 mA, podendo acionar diretamente
transistores MOSFET ou bipolares.
Circuitos auxiliares para permitir detecção de sobre-tensão, parada e acionamento
comandados externamente também estão presentes.
Limitação de corrente e desligamento em caso de sobre-corrente são implementados
com comparadores de diferentes limiares. Na ocorrência de uma sobrecarga, estes
comparadores estreitam o sinal MLP, ao mesmo tempo em que ligam o transistor de partida
lenta, descarregando Cs, assegurando um reinício de operação adequado, quando cessar a
falha.

11.4 UC1524A

O circuito integrado UC1524A é uma versão melhorada dos primeiros controladores


MLP, o SG1524. O diagrama de blocos está mostrado na figura 11.5.
Um gerador de onda dente de serra tem sua frequência determinada por um par RC
conectado externamente. O limite usual é de 500kHz. A rampa gerada tem uma excursão de
aproximadamente 2,5 V. O comparador MLP tem uma entrada (positiva) proveniente deste
gerador de rampa e a outra pode ser fornecida pelo amplificador de erro da tensão de saída ou
pelo limitador de corrente da saída..
O integrado possui uma fonte interna de referência de 5 V, +1%. Desta forma, tal
tensão pode ser usada no amplificador de erro como referência direta para saídas de 5 V. Caso
a saída seja de maior valor, usa-se um divisor de tensão. O amplificador de erro é do tipo
transcondutância, ou seja, apresenta uma elevada impedância de saída, comportando-se como
uma fonte de corrente. O compensador pode ser utilizado tanto entre a saída (pino 9) e a
entrada inversora ou entre a saída e o terra. O amplificador limitador de corrente pode ser
usado no modo linear ou com limitação pulso a pulso. Sua tensão de limiar é de 200 mV.
Um sensor de subtensão inibe o funcionamento dos circuitos internos, exceto a
referência, até que a tensão de entrada (Vin, pino 15) seja superior a 8 V.
O sinal do oscilador aciona um flip-flop de modo a selecionar a qual das saídas será
enviado o sinal MLP. Este sinal passa por um latch, de modo a garantir um único pulso por
ciclo, podendo ainda ser inibido pela entrada de shutdown (pino 10), o qual atua em 200 ns. A
saída dupla permite o acionamento de uma topologia push-pull. Os transistores podem
fornecer 200 mA, suportando 60V, podendo ser paralelados.
A figura 11.6 mostra um conversor implementado com este CI.

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Vin
15
. + 5V
Referência 16
Vref

Sub- Para circuitos internos


tensão
Osc.
. 12
Ca

. .
3 Flip-

. . .
Rt Clock Flop Ea
11
6 Osc.
Ct
7
R
. 13
Cb

.
+ Eb
Compensação PWM 14
- S Latch
9 Ampl. Erro
Inv.

N. Inv.
1 -
+
. 8
GND

4
200mV
-
+
. 1k 10
Shutdown
5
Limite de corrente . 10k

Figura 11.5 Diagrama de blocos interno do UC1524A

Figura 11.6 Conversor forward usando UC1524A.

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Quando a alimentação é ligada, a partida é possibilitada pelo capacitor C2, o qual se


carrega via R1. O enrolamento N2 assume a alimentação quando se atinge a operação em
regime. A realimentação da tensão de saída é fornecida por um circuito composto pelo
transistor Q3 e transformador T2, o qual permite amostrar a saída de 5 V a uma frequência de
40 kHz.
A cada ciclo, a tensão de saída é transferida de N1 para N2 (em T2), onde o retificador
D1 carrega o capacitor de 20 nF, fornecendo um sinal médio proporcional à saída. O diodo
D2 (conectado à referência interna de 5 V) é usado para compensar em termos de temperatura
o efeito de D1. D3 realiza uma limitação do ciclo de trabalho.
Um sensor resistivo é usado para limitar, a cada ciclo, a corrente pelo enrolamento N1
de T1. O compensador utilizado, basicamente do tipo PI, é conectado ao pino 9.

11.5 UC1846

Este CI, mostrado na figura 11.7, é adequado ao controle no modo corrente [11.1].
Possui uma fonte interna de referência de 5,1 V +1%, usada também para alimentar
circuitos de baixo consumo. Um gerador de rampa, com frequência fixa, determinada por um
par RC conectado externamente (pinos 9 e 8), pode produzir um sinal de 1 MHz. Um sinal de
sincronismo é fornecido no pino 10. O sinal de saída do oscilador tem um tempo baixo
mínimo, o qual inibe ambas as saídas durante um intervalo, garantindo um tempo morto
mínimo. A duração deste intervalo depende também do resistor e do capacitor do oscilador,
sendo coincidente com o intervalo de diminuição da tensão da onda dente de serra.

Vin . + 5,1 V
Vref

.
15 Referência 2
Vc

. .
Sub-
tensão 13
Saída
Sinc. Q

.
10 T 11 A
FF
Rt Clock Q

..
9 Osc.
Ct
8
Comp.
. . Saída

.
B
3 - PWM 14
X3 +
+ R GND
S 12
4 - S Q
Sensor de corrente
0,5 mA
0,5V
. .
1 Limite de
Corrente

6
Ampl. Erro
-
. . +
-
16
Shutdown
+ 350mV 6k
5 Comp.

7 Compensação
Figura 11.7 Diagrama de blocos do UC1846

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O amplificador de erro admite tensões na entrada entre 0 e (Vin-2)V. Sua saída é


comparada com a corrente (característica de operação no modo corrente), definindo a largura
do pulso.
Diferentes métodos de se observar a corrente podem ser usados. O método resistivo é
o mais simples, embora em geral, para reduzir a dissipação de potência, tenha-se uma tensão
reduzida. Um filtro RC é recomendado para eliminar ruídos espúrios, os quais poderiam
alterar o comportamento da largura do pulso de maneira errada. Um acoplamento via
transformador permite isolação e aumento de eficiência, embora aumente a complexidade e o
custo do sistema. A figura 11.8 mostra algumas possibilidades de medida da corrente.

Rs Saída
+ 4
X3
+ Rs - 3
3
X3
-
(c)
4

(a)

+ 4 I
X3
+ - 3
Cf Rs
3
X3 Trafo de corrente
-
4
(d)
Spike

(b)

Figura 11.8 Métodos para medição da corrente pelo transistor

O CI permite ainda um limitador de corrente, através de uma limitação do máximo


valor do erro de tensão, cujo valor pode ser estabelecido pelo usuário, através do pino 1. Este
mesmo pino, pela colocação de um par RC pode ser usado para partida suave.
Uma função de inibição do funcionamento do CI (impedindo a saídas dos pulsos)
pode ser feita através do pino 16 (shutdown), por meio da aplicação de uma tensão superior a
350 mV.
Subtensão é detectada, através da medida da tensão Vin (pino 15), inibindo a saída dos
pulsos. Os transistores de saída podem fornecer 100 mA contínuos ou 400mA de pico.
A figura 11.9 mostra um conversor push-pull utilizando o UC1846. Note-se que não
existe nenhuma implementação visando impedir o desbalanceamento de corrente entre os
enrolamentos, o que levaria à saturação do núcleo. Tal função é naturalmente realizada pela
operação no modo corrente, pois, caso o núcleo entrasse em saturação, a corrente cresceria
muito rapidamente, o que implicaria numa redução na largura do pulso, diminuindo a tensão
aplicada numa das polaridades.

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Figura 11.9 Conversor push-pull usando o UC1846

11.6 GP605

O GP605 [11.2] utiliza modulação em frequência ao invés de MLP. O pulso é mantido


com largura constante enquanto a frequência varia dentro de uma faixa determinada por um
capacitor (frequência mínima) e por um resistor (frequência máxima). A figura 11.10 mostra
seu diagrama de blocos.
Vcc
2 7
OLRD GND
4
16 Sobrecarga Shutdown
OL
síncrono

1 Sobretensão 12
RSD Soft-start
Subtensão
Soft-start
Remoto

15
UV/OV
13
VCO
14 VCO Monoestável
R
11 3
C 5V Vref
9
Ton
8
Out A
10 FF
Seq.
6
Out B
5
GND

Figura 11.10 Diagrama de blocos do GP605

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A realimentação de tensão controla a frequência do sinal nas duas saídas


complementares, as quais tem capacidade de acionamento direto de MOSFETs. Estas saídas
podem ser conectadas de modo a atuarem conjuntamente, fornecendo uma saída com o dobro
da frequência. A frequência de operação vai até 2 MHz.
O CI inclui ainda funções auxiliares como partida suave, desligamento remoto, fonte
interna de 5 V, proteções contra subtensão, sobre-tensão e sobre-carga, . Em caso de
desligamento (comandado ou por sobre-carga) o sistema se reinicializa sozinho quando a
causa da parada deixa de existir.
O atraso na volta ao funcionamento é determinado por um par RC conectado ao pino
2, o qual passa a atuar quando a sobre-carga (monitorada pelo pino 16) deixa de existir.
A largura do pulso é também determinada por um par RC conectado em paralelo e
ligados ao pino 9. A duração do pulso deve ser tal que, na máxima frequência de operação,
seja possível haver um tempo desligado mínimo de cerca de 300ns, necessário para a correta
operação do CI.
O capacitor conectado ao pino 11 controla a mínima frequência do VCO. Já o resistor
ligado ao pino 14 determina a máxima frequência. Seu mínimo valor é 10 kΩ. A partida lenta
é feita através de um capacitor conectado ao pino 12.
A entrada do VCO é projetada para utilizar diretamente um opto-acoplador cujo diodo
esteja referenciado à saída. A faixa de operação linear é entre 1,1 e 6,5 V.
A proteção contra sub e sobre-tensão é feita por um comparador com janela. Na
ocorrência de falha inibe-se a saída de pulsos, até que a falha cesse.
Uma aplicação típica em conversor ressonante (meia ponte), com carga em paralelo, é
mostrada na figura 11.11.

Figura 11.11 Conversor ressonante (meia-ponte) usando GP605

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A partida é feita aproveitando-se a própria alimentação CC, a qual é substituída


através de um enrolamento auxiliar do transformador principal. R6 deve ser elevado o
suficiente para produzir baixas perdas. O acionamento de um dos transistores é feito
diretamente, enquanto para o outro é necessária isolação, o que é feito por T3.
A sobre-carga é detectada por um transformador de corrente, conectado em série com
o primário de T1. Do secundário vai a informação para o pino 16.
A referência é dada por uma fonte estabilizada e ajustável (U4), sendo que o
compensador é implementado no potencial da saída. A informação é transferida para o
potencial da entrada pelo opto-acoplador, diretamente para a entrada do VCO.

11.7 Referências bibliográficas

[11.1] Linear/Switchmode Voltage Regulator Handbook, Motorola Inc., 4ª Ed., 1989, USA

[11.2] Product Catalog, Gennum Corporation, Canada, 1989.

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Fontes Chaveadas - Cap. 12 Caracterização de Fontes Chaveadas J. A. Pomilio

12. CARACTERIZAÇÃO DE FONTES CHAVEADAS

Apresentaremos aqui alguns aspectos que servem à caracterização do desempenho das


fontes chaveadas, bem como outros temas relacionados com o enquadramento do equipamento
dentro de normas internacionais de comportamento.

12.1 Requisitos de qualidade na alimentação de equipamentos sensíveis

Especialmente para os equipamentos de computação, são estabelecidos limites em termos


da qualidade da energia a ele suprida. Não existem, ainda, padrões industriais reconhecidos, no
entanto, graças à ação de grandes usuários (especialmente militares), a CBEMA (Computer
Business Equipment Manufacturer’s Association) adotou as curvas mostradas na figura 12.1. Estas
curvas aparecem na norma IEEE 446 como “prática recomendada para sistemas de alimentação de
emergência, em aplicações industriais e comerciais”.
As curvas definem um envelope dentro do qual deve estar o valor eficaz da tensão suprida
ao equipamento. Ou seja, quando os limites forem violados, o sistema de alimentação ininterrupta
deve atuar, no sentido de manter a alimentação dentro de valores aceitáveis.
Em outras palavras, se a tensão de alimentação estiver dentro dos limites não deve ocorrer
mal-funcionamentos do equipamento alimentado. Violações dos limites podem, então, provocar
falhas, que devem ser evitadas.
Via de regra, quem suporta a alimentação do equipamento na ocorrência de falhas de curta
duração são as capacitâncias das fontes de alimentação internas, de modo que, eventualmente,
mesmo violações mais demoradas do que aquelas indicadas podem ser suportadas.
Nota-se na figura 12.1 que, em regime, a tensão deve estar limitada a uma sobre-tensão de
6% e uma subtensão de 13%. Quanto menor a perturbação, maior a alteração admitida, uma vez
que os elementos armazenadores de energia internos ao equipamento devem ser capazes de
absorvê-la. Assim, por exemplo, a tensão pode ir a zero por meio ciclo, ou ainda haver um surto de
tensão com 3 vezes o valor nominal (eficaz), desde que com duração inferior a 100 µs.

12.2 Tempo de sustentação da tensão de saída (Hold-up)

Este teste determina o intervalo de tempo no qual a saída é capaz de manter a corrente
nominal de saída quando ocorre uma interrupção na alimentação.
Esta interrupção na alimentação do equipamento pode ter origem em manobras de
equipamentos alimentados pela mesma rede, causando uma queda na tensão CA (ou CC) com
duração maior que 1/2 ciclo (8,33 ms).
O desempenho esperado determina a energia a ser acumulada nos capacitores a serem
utilizados na entrada e na saída do equipamento, o que pode levar a valores muito maiores do que
os necessários para a operação em regime, ou seja, apenas para reduzir a ondulação de tensão
advinda do chaveamento.
A figura 12.2 indica o procedimento de teste.

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Fontes Chaveadas - Cap. 12 Caracterização de Fontes Chaveadas J. A. Pomilio

Figura 12.1 Envelope de tolerância de tensão típico para sistema de tecnologia da informação
(curva CBEMA – superior e curva ITIC – inferior).

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Fontes Chaveadas - Cap. 12 Caracterização de Fontes Chaveadas J. A. Pomilio

+ +

Fonte
carga
Vi sob teste nominal

osciloscópio
- -

Tensão de entrada
100%

0
Tempo de sustentação

Vo Vomin

Figura 12.2 Teste para verificação do tempo de sustentação da tensão de saída.

12.3 Regulação de linha

O teste relativo à chamada regulação de linha mede a alteração na tensão de saída em


resposta a uma mudança na tensão de entrada.
O teste se faz com a fonte operando à carga nominal, ou seja, todas as saídas devem estar
fornecendo a corrente nominal. A tensão de saída é medida (0,1% de precisão mínima) em 3
situações de tensão de entrada: mínima, nominal e máxima. A figura 12.3 mostra o arranjo para
medição. A regulação de linha, dada em porcentagem é:

Vo max − Vomin
Regulaç ão de Linha = ⋅ 100 (12.1)
Voideal

onde Vomax e Vomin são medidas, respectivamente, à máxima e mínima tensão de entrada.

+ +

Fonte
Carga
Vi V sob teste nominal Vo
ajustável

- -

Figura 12.3 Teste de regulação de linha.

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Fontes Chaveadas - Cap. 12 Caracterização de Fontes Chaveadas J. A. Pomilio

12.4 Regulação de carga

Este teste mede a alteração na tensão de saída em resposta a uma mudança na corrente
média de cada saída da fonte.
O teste é feito com tensão nominal na entrada. Cada saída é medida com 50% e com 100%
da corrente nominal.

Vo max − Vomin
Regulaç ão de carga = ⋅ 100 (12.2)
Voideal

onde Vomax e Vomin são medidas, respectivamente, a 50% e 100% da carga nominal.

+ +

Fonte
1/2
Vi sob teste carga Vo
nominal 1/2
nominal carga
nominal
- -

Figura 12.4 Teste de regulação de carga.

12.5 Resposta dinâmica à variação de carga

Embora este parâmetro não seja usualmente publicado, ele é uma informação interessante,
especialmente para o projetista, uma vez que permite verificar o desempenho do sistema de
controle utilizado.
É basicamente um teste para medir o tempo necessário para que a realimentação corrija a
tensão de saída na ocorrência de uma variação em degrau na carga.
Este é um parâmetro que é pior nas fontes chaveadas do que nas lineares, dada a limitação
(ao inverso da frequência de chaveamento) no mínimo tempo de resposta.
Em geral são necessários alguns ciclos para que ocorra a correção desejada. Isto ocorre
principalmente por que o filtro de saída impede uma resposta rápida à mudança na carga, sendo
necessário algum tempo para que todo o sistema atinja o novo ponto de operação e possa corrigir a
saída.
Tempos muito longos podem indicar um ganho CC muito baixo e ainda uma frequência de
corte muito reduzida. Quanto mais os parâmetros do compensador são ajustados para uma situação
conservativa em termos de estabilidade, pior a resposta dinâmica.
A figura 12.5 mostra o arranjo para a realização do teste.

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+ +

Fonte
1/2
Vi sob teste carga
nominal 1/2
nominal carga
nominal
osciloscópio
- -

carga

100%

50%

tempo de resposta

Vo

Figura 12.5 Teste de resposta dinâmica à variação de carga.

12.6 Teste de isolação

Este teste verifica se a isolação entre a entrada, chassis e saída(s) excede um valor de
tensão mínima especificada. As tensões de teste são, tipicamente, CA (50 ou 60 Hz), podendo ser
substituídas por uma tensão CC com um valor equivalente ao pico da tensão CA.
O propósito do teste é assegurar que não exista possibilidade de que tensões
potencialmente letais advindas da rede ou do próprio equipamento atinjam o usuário final do
produto.
As áreas críticas para este teste são as isolações do transformador de potência, o
espaçamento entre as trilhas da placa de circuito impresso e a isolação para o chassi.
A falha é detectada caso ocorra uma corrente acima da especificada durante a aplicação da
tensão ao equipamento.
Alguns cuidados devem ser tomados durante a verificação da isolação, com o intuito de
não danificar os componentes do equipamento. Por exemplo, os fios de entrada devem ser curto-
circuitados, bem como os de saída. O uso de tensão CC é mais conveniente por não permitir a
ocorrência de fugas pelo transformador (acoplamento capacitivo), o que poderia danificar algum
componente. A figura 12.6 mostra o teste com tensão aplicada entre entrada e saída, enquanto na
figura 12.7 tem-se o teste entre entrada e chassis. Realiza-se também o teste entre chassis e saída.
Os componentes colocados entre os terminais de entrada ou de saída e o chassis devem
suportar uma tensão maior que a tensão de teste. Tais componentes são basicamente os capacitores
do filtro de IEM. Também aqui deve ser usada uma tensão CC.
A tensão de teste deve ser rampeada em um tempo sempre superior a 2 segundos, de modo
a evitar a indução de tensões elevadas no circuito.

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+ +
Fonte Todas as
Entrada e retorno sob teste saídas e
curtocircuitados retornos
curtocircuitados
conjuntamente
Alta - -
Tensão
CC

Figura 12.6 Teste de alta tensão entre entrada e saída.

+ +
Todas as
Fonte
Entrada e retorno saídas e
sob teste
Curto-circuitados retornos
curto-circuitados
conjuntamente
Alta - -
Tensão
Chassi/terra
CC

Figura 12.7 Teste de alta tensão entre entrada e carcaça.

12.7 Interferência Eletromagnética (IEM)

Dois tipos de interferência devem ser considerados: a conduzida pela rede de alimentação e
a irradiada.
Diferentes normas, nacionais (VDE - Alemanha, FCC - EUA) e internacionais (CISPR -
IEC), determinam os valores limites admissíveis para o ruído eletromagnético produzido pelo
equipamento. No Brasil, a adoção de normas específicas sobre este assunto está em discussão,
seguindo-se, em princípio, as normas IEC-CISPR [12-1] a [12-4].
Estas normas, além dos limites de sinal irradiado ou conduzido, determinam os métodos de
medida, os equipamentos de teste e classificam os produtos a serem testados em função de suas
características próprias e do local onde devem ser utilizados (CISPR 16). Via de regra, as fontes
chaveadas são elementos internos aos equipamentos, devendo-se utilizar os limites e
procedimentos explicitados para tal equipamento.
Os limites mais severos referem-se a produtos utilizados em ambientes "domésticos"
(classe B), o que significa que são alimentados por uma rede na qual existem usuários que não são
indústrias ou estabelecimentos comerciais. Ambientes industriais e comerciais têm seus
equipamentos incluídos na chamada classe A.
No que se refere à IEM conduzida, equipamentos de informática possuem suas normas
(CISPR 22), enquanto os aparelhos de uso industrial, científico e médico (ISM), são regulados
pela CISPR 11. Aparelhos eletrodomésticos são controlados pela CISPR14.
De modo simplificado, os testes de IEM irradiada devem ser feitos em ambientes
anecóicos, quer seja um campo aberto ou uma câmara especial. Já as medidas de IEM conduzida
fazem uso de uma impedância artificial de linha, sobre a qual se realiza a medida dos sinais de alta
frequência injetados pelo equipamento.

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12.7.1 IEM irradiada


As medidas de IEM irradiada são feitas, tipicamente, para frequências de 30 MHz a 1 GHz.
As normas VDE estabelecem também limites para a faixa entre 10 kHz e 30 MHz. Tal
procedimento, no entanto, não é adotado pelas normas CISPR nem pela maioria das normas
nacionais, que definem apenas a faixa de frequências mais elevadas.
Os equipamentos ISM são divididos em grupos. No grupo 1 têm-se aqueles nos quais
existe energia em rádio-frequência intencionalmente gerada e/ou condutivamente acoplada, a qual
é necessária para o funcionamento interno do equipamento. No grupo 2 têm-se aqueles nos quais
existe energia em rádio-frequência intencionalmente gerada e/ou usada em forma de radiação
eletromagnética para o tratamento de materiais ou eletro-erosão.
O perfil relativo aos limites da classe A é determinado pela divisão do espectro, em função
da sua ocupação pelo sistema de comunicação. Quando houver uma faixa de uso comercial, aí o
limite deve ser mais baixo. Por esta razão, este perfil pode ser diferente em cada país, adaptando-
se à utilização real do espectro.
A captação dos campos elétrico e magnético emitidos pelo equipamento é feita por meio de
antenas localizadas em posições normalizadas.
A figura 12.8 mostra os limites da norma CISPR 11 (equipamento ISM) para classe B. Os
limites entre 150 kHz e 30 MHz estão sob consideração.
A origem do ruído irradiado está na presença de componentes de alta frequência presentes
nas tensões e correntes da fonte (ou mesmo de outros subsistemas do equipamento). Tais
componentes, associados a elementos parasitas (indutâncias e capacitâncias), podem produzir
fenômenos de ressonância que potencializam os efeitos de tal ruído. Para frequências elevadas, os
condutores nos quais circulam as correntes, ou os terminais nos quais se tem tensão, atuam como
antenas, irradiando para o ambiente.
Do ponto de vista do projeto da fonte, não existe uma sistemática explícita para minimizar
tais problemas, pode-se, no entanto, tomar algumas precauções que visam evitar o agravamento da
situação.
Todos os caminhos nos quais circula corrente elevada devem ter o menor comprimento
possível, o que implica na proximidade física entre os componentes de potência. Os elevados dv/dt
e di/dt advindos do chaveamento devem ser minimizados por meio de supressores e amaciadores.
Normalmente as fontes são colocadas dentro de caixas metálicas, as quais confinam os
campos magnéticos produzidos (baseando-se na teoria da esfera Gaussiana). A blindagem deve
envolver todo o circuito que produz interferência, formando um "curto-circuito" em torno a ele.
Qualquer junção na blindagem deve ter uma resistência de contato muito baixa, sob o risco de se
perder sua eficácia.

Limite
dB(uV) Medidas à distância de 10 m
50

40 37dB

30

10 30 100 300 1000


Frequência (MHz)

Figura 12.8 Limites de IEM irradiada para equipamento ISM, grupo 1, classe B

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12.7.2 IEM conduzida pela rede


A principal motivação para que se exija um limitante para a IEM que um equipamento
injeta na rede é evitar que tal interferência afete o funcionamento de outros aparelhos que estejam
sendo alimentados pela mesma rede. Esta susceptibilidade dos aparelhos aos ruídos presentes na
alimentação não está sujeita a normalização, embora cada fabricante procure atingir níveis de
baixa susceptibilidade.
A medição deste tipo de interferência é feita através de uma impedância (LISN - Line
Impedance Stabilization Network) colocada entre a rede e o equipamento sob teste, cujo esquema
está mostrado na figura 12.9. A indutância em série evita que os ruídos produzidos pelo
equipamento fluam para a rede, sendo direcionados para a resistência de 1 kΩ, sobre a qual é feita
a medição (com um analisador de espectro com impedância de entrada de 50 Ω). Os eventuais
ruídos presentes na linha são desviados pelo capacitor de 1 µF, não afetando a medição.
Esta impedância de linha pode ser utilizada na faixa entre 150 kHz e 30 MHz, que é a
banda normatizada pela CISPR. A faixa entre 10 kHz e 150 kHz é definida apenas pela VDE,
estando em estudo por outras agências. Nesta faixa inferior, a LISN é implementada com outros
componentes, como mostrado na mesma figura 12.9.
Também são feitas as distinções quanto à aplicação e ao local de instalação do
equipamento. A figura 12.10 mostra estes limites para a norma CISPR 11 (equipamentos ISM). O
ambiente de medida é composto basicamente por um plano terra sobre o qual é colocada a LISN.
Acima deste plano, e isolado dele, coloca-se o equipamento a ser testado.
As elevadas taxas de variação de tensão presentes numa fonte chaveada e as correntes
pulsadas presentes em estágios de entrada (como nos conversores para correção de fator de
potência) são os principais responsáveis pela existência de IEM conduzida pela rede.
No caso das correntes pulsadas, esta razão é óbvia, uma vez que a corrente presente na
entrada do conversor está sendo chaveada em alta frequência, tendo suas harmônicas dentro da
faixa de verificação de IEM conduzida.

. L1
. L2
. 9 a 150 kHz
L1=250uH
150kHz a 30MHz
L1=0
C1 C2 C3 Fonte L2=50uH L2=50uH
C1=4uF C1=0
Rede Vo C2=8uF C2=1uF
CA R1 R2 R3 C3=250nF C3=100nF

.. . . R1=10
R2=5
R3=1k
R2=0
R3=1k

Analisador
de Espectro
(50 ohms)

Figura 12.9 Impedância de linha normatizada (LISN).

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dBuV
100

90

80

70

60 Classe A

50 Classe B

10k 100k 1M 10M 100M


f (Hz)

Figura 12.10 Limites de IEM conduzida pela norma CISPR 11 (equipamentos de uso Industrial,
Científico e Médico - ISM)

A redução dos níveis de IEM conduzida pode ser obtida com o uso de filtros de linha
[12.6]. Seu objetivo é criar um caminho de baixa impedância de modo que as componentes de
corrente em alta frequência circulem por tais caminhos, e não pela linha. Devem-se considerar 2
tipos de corrente: a simétrica e a assimétrica.
No caso de correntes simétricas (ou de modo diferencial), sua existência na linha de
alimentação se deve ao próprio chaveamento da fonte. A figura 12.11 mostra esta situação. A
redução da circulação pela linha pode ser obtida pelo uso de um filtro de segunda ordem, com a
capacitância oferecendo um caminho de baixa impedância para a componente de corrente que se
deseja atenuar. Os indutores criam uma oposição à fuga da corrente para a rede. Em 60 Hz a queda
sobre tais indutâncias deve ser mínima.
Já para as correntes assimétricas (ou de modo comum), como sua principal origem está no
acoplamento capacitivo do transistor com o terra, a redução se faz também com um filtro de
segunda ordem. No entanto, o elemento indutivo deve ser do tipo acoplado e com polaridade
adequada de enrolamentos, de modo que represente uma impedância elevada para correntes
assimétricas, mas não implique em nenhuma impedância para a corrente simétrica. Os capacitores
fornecem o caminho alternativo para a passagem de tal componente de corrente.

rede
.. fonte

aterramento
Filtro de linha

Figura 12.11 Circuito típico com filtro de linha.

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12.8 Referências Bibliográficas:

[12.1] “CISPR specification for radio interference measuring apparatus and measurement
methods”. International Electrotechnical Comission, International Special Committee on
Radio Interference, CISPR 16, second edition, 1987.

[12.2] “Limits ans methods of measurement of electromagnetic disturbance characteristics of


industrial, scientific and medical (ISM) radio-frequency equipment”. International
Electrotechnical Comission, International Special Committee on Radio Interference,
CISPR 11, second edition, 1990.

[12.3] “Limits and methods of measurement of radio disturbance characteristics of electrical


lighting and similar equipment”. International Electrotechnical Comission, International
Special Committee on Radio Interference, CISPR 15, fourth edition, 1992.

[12.4] “Limits and methods of measurement of radio disturbance characteristics of electrical


motor-operated and thermal appliances for household and similar purposes, electric tools
and electrical apparatus”. International Electrotechnical Comission, International Special
Committee on Radio Interference, CISPR 14, third edition, 1993.

[12.5] Barbi, Ivo: “Curso de fontes chaveadas”, Florianópolis, 1987.

[12.6] Nave, Mark J.: “Power Line Filter Design for Switched-Mode Power Supplies”. Van
Nostrand Reinhold, New York, 1991.

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13. COMPONENTES SEMICONDUTORES RÁPIDOS DE POTÊNCIA

Este capítulo apresenta, de forma resumida, as principais características dos dispositivos


semicontudores de maior uso na construção de fontes chaveadas: diodos de junção e Schottky,
transistores MOSFET e IGBTs. Não serão abordados os transistores bipolares de potência, pois
os mesmos já não têm aplicação em fontes chaveadas.

13.1 Diodos de Potência

Um diodo semicondutor é uma estrutura P-N que, dentro de seus limites de tensão e de
corrente, permite a passagem de corrente em um único sentido. Detalhes de funcionamento, em
geral desprezados para diodos de sinal, podem ser significativos para componentes de maior
potência, caracterizados por uma maior área (para permitir maiores correntes) e maior
comprimento (a fim de suportar tensões mais elevadas). A figura 13.1 mostra, simplificadamente,
a estrutura interna de um diodo.

Junção metalúrgica

P + + + + + + + _ _ + + _ _ _ _ _ _N _
++++++++ _ _ + + _ _ _ _ _ _ _
++++++++ _ _ + Anodo Catodo
+ _ _ _ _ _ _ _
++++++++ _ _ _ _ _ _ _ _ _
+ +
++++++++ _ _ + + _ _ _ _ _ _ _

+ Difusão
_

0 Potencial
1u

Figura 13.1. Estrutura básica de um diodo semicondutor

Aplicando-se uma tensão entre as regiões P e N, a diferença de potencial aparecerá na


região de transição, uma vez que a resistência desta parte do semicondutor é muito maior que a
do restante do componente (devido à concentração de portadores).
Quando se polariza reversamente um diodo, ou seja, aplica-se uma tensão negativa no
anodo - região P - e positiva no catodo - região N, mais portadores positivos (lacunas) migram
para o lado N, e vice-versa, de modo que a largura da região de transição aumenta, elevando a
barreira de potencial.
Por difusão ou efeito térmico, certa quantidade de portadores minoritários penetra na
região de transição. São, então, acelerados pelo campo elétrico, indo até a outra região neutra do
dispositivo. Esta corrente reversa independe da tensão reversa aplicada, variando, basicamente,
com a temperatura.
Se o campo elétrico na região de transição for muito intenso, os portadores em trânsito
obterão grande velocidade e, ao se chocarem com átomos da estrutura, produzirão novos

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portadores, os quais, também acelerados, produzirão um efeito de avalanche. Dado o aumento na


corrente, sem redução significativa na tensão na junção, produz-se um pico de potência que
destrói o componente.
Uma polarização direta leva ao estreitamento da região de transição e à redução da
barreira de potencial. Quando a tensão aplicada superar o valor natural da barreira, cerca de 0,7 V
para diodos de Si, os portadores negativos do lado N serão atraídos pelo potencial positivo do
anodo e vice-versa, levando o componente à condução.
Na verdade, a estrutura interna de um diodo de potência é um pouco diferente desta
apresentada. Existe uma região N intermediária, com baixa dopagem. O papel desta região é
permitir ao componente suportar tensões mais elevadas, pois tornará menor o campo elétrico na
região de transição (que será mais larga, para manter o equilíbrio de carga).
Esta região de pequena densidade de dopante dará ao diodo uma significativa
característica resistiva quando em condução, a qual se torna mais significativa quanto maior for a
tensão suportável pelo componente. As camadas que fazem os contatos externos são altamente
dopadas, a fim de fazer com que se obtenha um contato com característica ôhmica e não
semicondutor (como se verá adiante nos diodos Schottky).
O contorno arredondado entre as regiões de anodo e catodo tem como função criar
campos elétricos mais suaves (evitando o efeito de pontas).
No estado bloqueado, pode-se analisar a região de transição como um capacitor, cuja
carga é aquela presente na própria região de transição.
Na condução não existe tal carga, no entanto, devido à alta dopagem da camada P+, por
difusão, existe uma penetração de lacunas na região N-. Além disso, à medida que cresce a
corrente, mais lacunas são injetadas na região N-, fazendo com que elétrons venham da região N+
para manter a neutralidade de carga. Desta forma, cria-se uma carga espacial no catodo, a qual
terá que ser removida (ou se recombinar) para permitir a passagem para o estado bloqueado.
O comportamento dinâmico de um diodo de potência é, na verdade, muito diferente do de
uma chave ideal, como se pode observar na figura 13.2. Suponha-se que se aplica uma tensão vi
ao diodo, alimentando uma carga resistiva (cargas diferentes poderão alterar alguns aspectos da
forma de onda).
trr
t3
t1 dir/dt
dif/dt
Qrr
i=Vr/R
Anodo iD

P+ 10e19 cm-3 10 u
Vfp Von t4 t5
vD
_ Vrp
N 10e14 cm-3 Depende -Vr t2
da tensão
+Vr
vi
vD -Vr
250 u
N+ 10e19cm-3
substrato
iD
vi R
Catodo
Figura 13.2. Estrutura típica de diodo de potência e formas de onda típicas de comutação de
diodo de potência.

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Durante t1, remove-se a carga acumulada na região de transição. Como ainda não houve
significativa injeção de portadores, a resistência da região N- é elevada, produzindo um pico de
tensão. Indutâncias parasitas do componente e das conexões também colaboram com a sobre-
tensão. Durante t2 tem-se a chegada dos portadores e a redução da tensão para cerca de 1V. Estes
tempos são, tipicamente, da ordem de centenas de ns.
No desligamento, a carga espacial presente na região N- deve ser removida antes que se
possa reiniciar a formação da barreira de potencial na junção. Enquanto houver portadores
transitando, o diodo se mantém em condução. A redução em Von se deve à diminuição da queda
ôhmica. Quando a corrente atinge seu pico negativo é que foi retirado o excesso de portadores,
iniciando-se, então, o bloqueio do diodo. A taxa de variação da corrente, associada às indutâncias
do circuito, provoca uma sobre-tensão negativa.
Diodos rápidos possuem trr da ordem de, no máximo, poucos micro-segundos, enquanto
nos diodos normais é de dezenas ou centenas de micro-segundos.
O retorno da corrente a zero, após o bloqueio, devido à sua elevada derivada e ao fato de,
neste momento, o diodo já estar desligado, é uma fonte importante de sobre-tensões produzidas
por indutâncias parasitas associadas aos componentes por onde circula tal corrente. A fim de
minimizar este fenômeno foram desenvolvidos os diodos “soft-recovery”, nos quais esta variação
de corrente é suavizada, reduzindo os picos de tensão gerados.
A figura 13.3 mostra resultados experimentais de um diodo de potência “lento”
(retificador) em um circuito como o da figura 13.2, no qual a indutância é desprezível, como se
nota na figura (a), pela inversão quase imediata da polaridade da corrente. A corrente reversa é
limitada pela resistência presente no circuito. Já na entrada em condução, a tensão aplicada ao
circuito aparece instantaneamente sobre o próprio diodo, o que contribui para limitar o
crescimento da corrente. Quando esta tensão cai, a corrente vai assumindo seu valor de regime.

(a) (b)

c)
Figura 13.3 - Resultados experimentais das comutações de diodos: (a) desligamento de diodo
lento; (b) entrada em condução de diodo lento; (c) desligamento de diodo rápido.

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13.2 Diodos Schottky

Quando é feita uma junção entre um terminal metálico e um material semicondutor, o


contato tem, tipicamente, um comportamento ôhmico, ou seja, a resistência do contato governa o
fluxo da corrente. Quando este contato é feito entre um metal e uma região semicondutora com
densidade de dopante relativamente baixa, o efeito dominante deixa de ser o resistivo, passando a
haver também um efeito retificador.
Um diodo Schottky é formado colocando-se um filme metálico em contato direto com um
semicondutor, como indicado na figura 13.4. O metal é usualmente depositado sobre um material
tipo N, por causa da maior mobilidade dos portadores neste tipo de material. A parte metálica
será o anodo e o semicondutor, o catodo.
Numa deposição de Al (3 elétrons na última camada), os elétrons do semicondutor tipo N
migrarão para o metal, criando uma região de transição na junção.
Note-se que apenas elétrons (portadores majoritários em ambos os materiais) estão em
trânsito. O seu chaveamento é muito mais rápido do que o dos diodos bipolares, uma vez que não
existe carga espacial armazenada no material tipo N, sendo necessário apenas refazer a barreira
de potencial (tipicamente de 0,3 V). A região N tem uma dopagem relativamente alta, a fim de
reduzir as perdas de condução, com isso, a máxima tensão suportável por estes diodos é de cerca
de 100 V.
A aplicação deste tipo de diodos ocorre principalmente em fontes de baixa tensão, nas
quais as quedas sobre os retificadores são significativas.

contato Al Al contato
retificador ôhmico
SiO2
N+

Tipo N

Substrato tipo P

Figura 13.4 - Diodo Schottky construído através de técnica de CIs e formas de onda típicas no
desligamento.

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13.3 Transistor Bipolar de Potência (TBP)


Os transistores bipolares foram os primeiros dispositivos de estado sólido criados.
Inicialmente foram construídos em germânio, mas como tal elemento apresenta grande variação
de parâmetros com a temperatura, seu uso como componente de potência não era possível. Com a
tecnologia de silício foi possível desenvolver os transistores bipolares de potência (TBP), que, de
certa forma, permitira a emergência de toda tecnologia de fontes chaveadas.
Com o surgimento dos transistores MOSFET e, posteriormente, dos IGBTs, não houve
ulteriores desenvolvimentos nos TBPs, de modo que seu desempenho, atualmente, é inferior aos
dos outros transistores de potência. No entanto, continua-se a utilizar tal dispositivo,
principalmente em aplicações que não exijam maiores desempenhos em termos de perdas e
velocidade, o que se deve ao seu custo menor em relação ao outros dispositivos.

13.3.1 Princípio de funcionamento


A figura 13.5 mostra a estrutura básica de um transistor bipolar.

Rc saturação
quase-saturação
Vcc
J2 J1 Ic
C R
N+ N- P N+ Vcc/R
Ib
C - - E
B região ativa Vcc
- - Vce

Vb E

B
Rb corte

Vcc Vce

Figura 13.5 - Estrutura básica de transistor bipolar tipo NPN, seu símbolo e característica estática
com carga resistiva.

A operação normal de um transistor é feita com a junção J1 (B-E) diretamente polarizada,


e com J2 (B-C) reversamente polarizada.
No caso NPN, os elétrons são atraídos do emissor pelo potencial positivo da base. Esta
camada central é suficientemente fina para que a maior parte dos portadores tenha energia
cinética suficiente para atravessá-la, chegando à região de transição de J2, sendo, então, atraídos
pelo potencial positivo do coletor.
O controle de Vbe determina a corrente de base, Ib, que, por sua vez, se relaciona com Ic
pelo ganho de corrente do dispositivo.
Na realidade, a estrutura interna dos TBPs é diferente. Para suportar tensões elevadas,
existe uma camada intermediária do coletor, com baixa dopagem, a qual define a tensão de
bloqueio do componente.
A mínima queda de tensão vce ocorre quando o transistor está na chamada região de
saturação (caracterizada pelo fato de ambas junções ficarem diretamente polarizadas). Ás baixas
perdas de condução nesta situação contrapõe-se o fato de que, no momento do desligamento do
TBP haver um significativo atraso entre o comando de base e o efetivo aumento da tensão vce,
decorrente da necessidade do desaparecimento dos portadores minoritários da região do coletor
(lacunas injetadas pela base).
Para minimizar tal atraso normalmente impede-se que o TBP entre na região de saturação,
atuando na assim chamada região de quase-saturação, na qual a junção J2 não chega a ficar
diretamente polarizada, minimizando a quantidade de portadores minoritários no coletor.
O TBP não sustenta tensão no sentido oposto porque a alta dopagem do emissor provoca a
ruptura de J1 em baixas tensões (5 a 20 V).

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O uso preferencial de TBP tipo NPN se deve às menores perdas em relação aos PNP, o
que ocorre por causa da maior mobilidade dos elétrons em relação às lacunas, reduzindo,
principalmente, os tempos de comutação do componente.

13.3.2 Métodos de redução dos tempos de chaveamento


Um ponto básico é utilizar uma corrente de base adequada, como mostra a figura 13.6. As
transições devem ser rápidas, para reduzir os tempos de atraso. Um valor elevado Ib1 permite
uma redução de tri. Quando em condução, Ib2 deve ter tal valor que faça o TBP operar na região
de quase-saturação. No desligamento, deve-se prover uma corrente negativa, acelerando assim a
retirada dos portadores armazenados.
Para o acionamento de um transistor único, pode-se utilizar um arranjo de diodos para
evitar a saturação, como mostrado na figura 13.7.
Neste arranjo, a tensão mínima na junção B-C é zero. Excesso na corrente Ib é desviado
por D2. D3 permite a circulação de corrente negativa na base.
Ib1

Ib2
dib/dt
dib/dt

Ibr
Figura 13.6 Forma de onda de corrente de base recomendada para acionamento de TBP.

D1
D2

D3
Figura 13.7 Arranjo de diodos para evitar saturação.

13.3.3 Conexão Darlington


Como o ganho dos TBP é relativamente baixo, usualmente são utilizadas conexões
Darlington (figura 13.8), que apresentam como principais características:
- ganho de corrente β= β1(β2+1)+β2
- T2 não satura, pois sua junção B-C está sempre reversamente polarizada
- tanto o disparo quanto o desligamento são sequenciais. No disparo, T1 liga primeiro,
fornecendo corrente de base para T2. No desligamento, T1 deve comutar antes, interrompendo a
corrente de base de T2.

T1

T2

Figura 13.8 Conexão Darlington.

Os tempos totais de comutação dependem, assim, de ambos transistores, elevando, em


princípio, as perdas de chaveamento.

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13.4 MOSFET

13.4.1 Princípio de funcionamento (canal N)


O terminal de gate é isolado do semicondutor por SiO2. A junção PN- define um diodo
entre Source e Drain, o qual conduz quando Vds<0. A operação como transistor ocorre quando
Vds>0. A figura 13.9 mostra a estrutura básica do transistor.
Quando uma tensão Vgs>0 é aplicada, o potencial positivo no gate repele as lacunas na
região P, deixando uma carga negativa, mas sem portadores livres. Quando esta tensão atinge
certo limiar (Vth), elétrons livres (gerados principalmente por efeito térmico) presentes na região
P são atraídos e formam um canal N dentro da região P, pelo qual se torna possível a passagem de
corrente entre D e S. Elevando Vgs, mais portadores são atraídos, ampliando o canal, reduzindo
sua resistência (Rds), permitindo o aumento de Id. Este comportamento caracteriza a chamada
"região resistiva".
A passagem de Id pelo canal produz uma queda de tensão que leva ao seu afunilamento,
ou seja, o canal é mais largo na fronteira com a região N+ do que quando se liga à região N-. Um
aumento de Id leva a uma maior queda de tensão no canal e a um maior afunilamento, o que
conduziria ao seu colapso e à extinção da corrente! Obviamente o fenômeno tende a um ponto de
equilíbrio, no qual a corrente Id se mantém constante para qualquer Vds, caracterizando a região
ativa do MOSFET. A figura 13.10 mostra a característica estática do MOSFET,

Vdd
Vgs

G
S +++++++++++++++

- - - - - - - - - - - - - - - -- - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - -- - - - - -
N+ ----------------
- - - - - - - -- - - --
-Id -Id D

N- G

N+ S

Símbolo
D

SiO2
metal
Figura 13.9 Estrutura básica de transistor MOSFET.

Uma pequena corrente de gate é necessária apenas para carregar e descarregar as


capacitâncias de entrada do transistor. A resistência de entrada é da ordem de 1012 ohms.
Estes transistores, em geral, são de canal N por apresentarem menores perdas e maior
velocidade de comutação, devido à maior mobilidade dos elétrons em relação às lacunas.
A máxima tensão Vds é determinada pela ruptura do diodo reverso. Os MOSFETs não
apresentam segunda ruptura uma vez que a resistência do canal aumenta com o crescimento de Id.
Este fato facilita a associação em paralelo destes componentes.
A tensão Vgs é limitada a algumas dezenas de volts, por causa da capacidade de isolação
da camada de SiO2.

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Id
região
resistiva Vgs3

região ativa
Vgs2

Vgs1

Vdso
Vds
vgs3>Vgs2>Vgs1
Figura 13.10 Característica estática do MOSFET.

13.4.2 Área de Operação Segura


A figura 13.11 mostra a AOS dos MOSFET. Para este componente não existe o fenômeno
de segunda ruptura (típico dos componentes bipolares), pois a um aumento de temperatura tem-se
um aumento na resistência do caminho condutor de corrente, o que tende a distribuir igualmente a
corrente por toda área condutora do dispositivo.
Para baixas tensões tem-se a limitação da resistência de condução.
A: Máxima corrente de dreno contínua
B: Limite da região de resistência constante
C: Máxima potência (relacionada à máxima temperatura de junção)
D: Máxima tensão Vds

log Id
Id pico

Id cont
A
B
C

Vdso log Vds


Figura 13.11 AOS para MOSFET.

13.4.3 Característica de chaveamento - carga indutiva


a) Entrada em condução (figura 13.12)
Ao ser aplicada a tensão de acionamento (Vgg), a capacitância de entrada começa a se
carregar, com a corrente limitada por Rg. Quando se atinge a tensão limiar de condução (Vth),
após td, começa a crescer a corrente de dreno. Enquanto Id<Io, Df se mantém em condução e
Vds=Vdd. Quando Id=Io, Df desliga e Vds cai. Durante a redução de Vds ocorre um aparente
aumento da capacitância de entrada (Ciss) do transistor (efeito Miller), fazendo com que a
variação de Vgs se torne muito mais lenta (em virtude do "aumento" da capacitância). Isto se
mantém até que Vds caia, quando, então, a tensão Vgs volta a aumentar, até atingir Vgg.
Na verdade, o que ocorre é que, enquanto Vds se mantém elevado, a capacitância que
drena corrente do circuito de acionamento é apenas Cgs. Quando Vds diminui, a capacitância
dentre dreno e source se descarrega, o mesmo ocorrendo com a capacitância entre gate e dreno. A

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descarga desta última capacitância se dá desviando a corrente do circuito de acionamento,


reduzindo a velocidade do processo de carga de Cgs, o que ocorre até que Cgd esteja descarregado.
Os manuais fornecem informações sobre as capacitâncias operacionais do transistor (Ciss,
Coss e Crss), mostradas na figura 13.13, as quais se relacionam com as capacitâncias do
componente por:
Ciss = Cgs + Cgd , com Cds curto-circuitada
Crs = Cgd
Coss ~ Cds + Cgd

V gg
V+

Io

V gs Df
V+
V th
C gd
Id Id=I V dd

V ds Cds
Rg
V ds
V ds V gs
V gg
C gs Id
td

CA R G A IN D U TIV A

Figura 13.12 Formas de onda na entrada em condução de MOSFET com carga indutiva.

b) Desligamento
O processo de desligamento é semelhante ao apresentado, mas na ordem inversa. O uso de
uma tensão Vgg negativa apressa o desligamento, pois acelera a descarga da capacitância de
entrada.
Quando em condução, os MOSFETs não apresentam cargas minoritárias estocadas, ou
seja, não há acúmulo de elétrons na região P, nem de lacunas na região N. A condução é feita
toda com base na formação do canal, assim que o canal se desfaz, pela retirada da polarização do
gate, a condução cessa.

C [nF]
C [nF]

4
Ciss 4
Cgs
3
3
Cos Cds
2
2
1
Crss 1 Cgd
0
0
0 10 20 30 40 Vds 0 10 20 30 40 Vds
Figura 13.13 Capacitâncias de transistor MOSFET.

O principal problema dos MOSFET, especialmente os de alta tensão (centenas de Volts),


é o elevado valor da resistência RDS, quando em condução. Isto provoca uma queda de tensão
significativa, levando a importantes perdas de condução.

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Fontes Chaveadas – Cap. 13 Componentes Semicondutores Rápidos de Potência J. A. Pomilio

13.5 IGBT (Insulated Gate Bipolar Transistor)

O IGBT alia a facilidade de acionamento dos MOSFET com as pequenas perdas em


condução devido a uma mudança na estrutura do componente.

13.5.1 Princípio de funcionamento


A estrutura do IGBT é similar à do MOSFET, mas com a inclusão de uma camada P+ que
forma o coletor do IGBT, como se vê na figura 13.14.
Em termos simplificados pode-se analisar o IGBT como um MOSFET no qual a região N-
tem sua condutividade modulada pela injeção de portadores minoritários (lacunas), a partir da
região P+, uma vez que J1 está diretamente polarizada. Esta maior condutividade produz uma
menor queda de tensão em comparação a um MOSFET similar.
O controle de componente é análogo ao do MOSFET, ou seja, pela aplicação de uma
polarização entre gate e emissor. Também para o IGBT o acionamento é feito por tensão.
A máxima tensão suportável é determinada pela junção J2 (polarização direta) e por J1
(polarização reversa). Como J1 divide 2 regiões muito dopadas, conclui-se que um IGBT não
suporta tensões elevadas quando polarizado reversamente.
Os IGBTs apresentam um tiristor parasita. A construção do dispositivo deve ser tal que
evite o acionamento deste tiristor, especialmente devido às capacitâncias associadas à região P, a
qual se relaciona à região do gate do tiristor parasita. Os modernos componentes não apresentam
problemas relativos a este elemento indesejado.

G a te
E m is s o r

N+ J3 N+
C
P
J2 B

N-
E

N+
J1
P+

C o le to r
S iO 2
m e ta l
Figura 13.14 Estrutura básica de IGBT.

13.5.2 Características de chaveamento


A entrada em condução é similar ao MOSFET, sendo um pouco mais lenta a queda da
tensão Vce, uma vez que isto depende da chegada dos portadores vindos da região P+.
Para o desligamento, no entanto, tais portadores devem ser retirados. Nos TBPs isto se dá
pela drenagem dos portadores via base, o que não é possível nos IGBTs, devido ao acionamento
isolado. A solução encontrada foi a inclusão de uma camada N+, na qual a taxa de recombinação
é bastante mais elevada do que na região N-. Desta forma, as lacunas presentes em N+
recombinam-se com muita rapidez, fazendo com que, por difusão, as lacunas existentes na região
N- refluam, apressando a extinção da carga acumulada na região N-, possibilitando o
restabelecimento da barreira de potencial e o bloqueio do componente.

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13.6 Alguns Critérios de Seleção


Um primeiro critério é o dos limites de tensão e de corrente. Os MOSFETs possuem uma
faixa mais reduzida de valores, ficando, tipicamente entre: 100 V/200 A e 1000 V/20 A.
Já os TBP e IGBT atingem potências mais elevadas, indo até 1200 V/500 A. Tais limites,
especialmente para os IGBTs têm se ampliado rapidamente em função do intenso trabalho de
desenvolvimento que tem sido realizado.
Como o acionamento do IGBT é muito mais fácil do que o do TBP, seu uso tem sido
crescente, em detrimento dos TBP.
Outro importante critério para a seleção refere-se às perdas de potência no componente.
Assim, em aplicações em alta frequência (acima de 50 kHz) devem ser utilizados MOSFETs. Em
frequências mais baixas, qualquer dos 3 componentes pode responder satisfatoriamente.
No entanto, as perdas em condução dos TBPs e dos IGBTs são sensivelmente menores
que as dos MOSFET.
Como regras básicas: em alta frequência e baixa potência: MOSFET
em baixa tensão: MOSFET
em alta potência: IGBT
em baixa frequência: IGBT
custo mínimo, sem maiores exigências de desempenho: TBP

13.7 Circuitos amaciadores (ou de ajuda à comutação) - "snubber"


O papel dos circuitos amaciadores é garantir a operação do transsitor dentro da AOS,
especialmente durante o chaveamento de cargas indutivas, de forma a minimizar a potência
dissipada sobre o componente.

13.7.1 Desligamento
Objetivo: atrasar o crescimento de Vce (figura 13.15)
Quando Vce começa a crescer, o capacitor Cs começa a se carregar (via Ds), desviando
parcialmente a corrente, reduzindo Ic. Df só conduzirá quando Vce>Vcc.
Quando o transistor ligar o capacitor se descarregará por ele, com a corrente limitada por
Rs. A energia acumulada em Cs será, então, dissipada sobre Rs.
Sejam as formas de onda mostradas na figura 13.16. Considerando que Ic caia linearmente
e que IL é constante, a corrente por Cs cresce linearmente. Fazendo-se com que Cs complete sua
carga quando Ic=0, o pico de potência se reduzirá a menos de 1/4 do seu valor sem circuito
amaciador.

13.7.2 Dimensionamento simplificado de circuito amaciador de desligamento


Considerando que Io é constante, a tensão por Cs cresce linearmente, durante um tempo tr,
especificado pelo projetista para um valor próximo do tempo de crescimento da tensão sem o
amaciador.
O valor de Rs deve ser tal que permita toda a descarga de Cs durante o mínimo tempo
ligado do transistor e, por outro lado, limite o pico de corrente em um valor inferior à máxima
corrente de pico repetitiva do componente. Deve-se usar o maior Rs possível.
Os valores da capacitância e da resistência (e sua potência) são dados, respectivamente
por:
Io ⋅ t r
Cs = (13.1)
Vcc
Vcc δ min
≤ Rs ≤ (13.2)
Id pico 3 ⋅ fs ⋅ Cs

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Io
log
Lcarg Df sem
Io
Cs
R
carg
Vcc

Ic
Cs Vcs Vcc log
Vce
Ds Rs

Figura 13.15 Circuito amaciador de desligamento e trajetórias na AOS

Ic Vcc Ic Vcc
Io
Vce Vce
Io.Vcc
P P

tfi
Figura 13.16 Formas de onda no desligamento sem e com o circuito amaciador.

Cs ⋅ Vcc 2
PRs = ⋅ fs (13.2)
2
fs é a frequência de chaveamento,
Idpico é a máxima corrente de pico repetitiva suportável pelo transistor
δmin é o mínimo ciclo de trabalho especificado para o conversor (tipicamente alguns %, para
fontes de tensão ajustável).
As figuras a seguir mostram o efeito da inclusão de um snubber de desligamento em um
conversor buck..

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Figura 13.17 De cima para baixo:Tensão VDS, corrente ID (invertida) e potência instantânea no
transistor (invertida).

Figura 13.18 Detalhe do desligamento (esq.) e entrada em condução (dir), sem snubber.

Figura 13.19 Detalhe do desligamento (esq.) e entrada em condução (dir), com snubber.

13.7.3 Entrada em condução


Objetivo: reduzir Vce e atrasar o aumento de Ic (figura 13.20)
No circuito sem amaciador, após a entrada em condução do transistor, Ic cresce, mas Vce
só se reduz quando Df deixar de conduzir. A colocação de Ls provoca uma redução de Vce, além
de reduzir a taxa de crescimento de Ic.
Normalmente não se utiliza este tipo de circuito, considerando que os tempos associados à
entrada em condução são bem menores do que aqueles de desligamento. A própria indutância
parasita do circuito realiza, parcialmente, o papel de retardar o crescimento da corrente e diminuir
a tensão Vce. Inevitavelmente, tal indutância irá produzir alguma sobre-tensão no momento do
desligamento, além de ressoar com as capacitâncias do circuito.

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Df Ds Rs

Vcc
Ls
carga

Figura 13.20 Circuito amaciador para entrada em condução.

Esta mesma análise é válida para os TBP e MOSFET.

13.8 Referências Bibliográficas

N. Mohan, T. M. Undeland and W. P. Robbins: “Power Electronics - Converters, Applications


and Design”, John Wiley & Sons, Inc., Second Ed., 1995

Tsuneto Sekiya, S. Furuhata, H. Shigekane, S. Kobayashi e S. Kobayashi: “Advancing Power


Transistors and Their Applications to Electronic Power Converters”, Fuji Electric Co., Ltd.,
1981

Edwin S. Oxner: “MOSPOWER Semiconductor”, Power Conversion International,


Junho/Julho/Agosto/Setembro 1982, Artigo Técnico Siliconix TA82-2

B. Jayant Baliga: “Evolution of MOS-Bipolar Power Semiconductos Technology”, Proceedings


of the IEEE, vol 76, no. 4, Abril 1988, pp. 409-418

Bimal K. Bose “Power Electronics - A Technology Review”, Proceedings of the IEEE, vol 80,
no. 8, August 1992, pp. 1303-1334.

C. G. Steyn; J. D. van Wyk: Ultra Low-loss Non-linear Turn-off Snubbers for Power Electronics
Switches. I European Conference on Power Electronics and Applications, 1985.

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13.9 Exercícios

1) Considere o circuito mostrado abaixo, relativo ao acionamento de um IGBT.

Utilizando o PSpice, (versão Evaluation/Student ou Profissional) (análise Transient),


simule o circuito nas seguintes abaixo. A fonte V2 produz um pulso que varia de –10 V a +10 V,
com tempo de subida de 10 ns, tempo alto de 10 us e período de 20us, Rcarga=2 Ω. Simule 50 us.

a) Lg=0, Rg=100 Ω, sem o capacitor


b) Lg=0,Rg=10 Ω, sem o capacitor
c) Lg=0, Cg=20 nF,Rg=100 Ω
d) Lg=1 nH, Cg=20 nF, Rg=100 Ω

Verifique e analise as formas de onda da tensão de coletor do IGBT, da corrente da carga,


da tensão entre gate e emissor, e a tensão da fonte V2. Analise também a potência instantânea
sobre o transistor (Vce x Ic). Analise com se alteram os resultados em função dos diferentes
circuitos de acionamento.
A versão Evaluation do Pspice pode ser obtida em:
http://www.dsce.fee.unicamp.br/~antenor/ee831.html

2) Os circuitos abaixo utilizam o diodo reverso presente no MOSFET, de modo que se


comportam como o circuito equivalente indicado na sequência.
Simule em Pspice. Analise e comente o comportamento da corrente e da tensão sobre este
diodo em ambos os circuitos, especialmente no desligamento.
A tensão Vi é um pulso quadrado que varia de -10 V a +10 V, numa frequência de 25
kHz. Os tempos de subida e de descida devem ser de 1 ns.
A modelagem do dispositivo pode não representar perfeitamente o que acontece num
componente real, devido, principalmente, aos fenômenos não-lineares presentes num dispositivo
e que não são facilmente implementados no modelo. Um bom modelo deve, no entanto, ser capaz
de reproduzir as principais características do componente.

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2 ohms

Vi
L

3) Considere o circuito abaixo e a forma de onda da corrente pelo transistor. Esboce, indicando os
valores pertinentes, as formas de onda das tensões vd, vo e da corrente pelo diodo. Considere que
o diodo se comporta como uma chave que não apresenta queda de tensão quando conduz e que
muda de estado instantaneamente.

iT iT 50A

100nH
vd

20V vo 30A
0,1uH
0
1us t

200ns

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