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Antropologia Filosofica
Antropologia Filosofica
INTRODUÇÃO
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Mondin, Battista. O Homem Quem É Ele: Elementos de Antropologia Filosófica, Paulus, 11a ed. Brasil
2003, pag. 7.
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Alemão
A afirmação do termo antropologia deve o seu mérito a I. Kant que intitulou uma
das suas obras “Anthropologie in pragmatiscer Hinsicht (1778 1ª publicação, 1798), onde
define a antropologia como a doutrina do conhecimento do homem ordenada
sistematicamente.
Há a distinguir três acepções de Antropologia:
a) Antropologia Física que estuda o homem do ponto de vista físico-somático.
b) Antropologia Cultural que estuda o homem do ponto de vista da sua origem
histórica e das suas manifestações culturais.
c) Antropologia Filosófica que estuda o homem do ponto de vista dos seus
princípios últimos que o compõe.
Contudo, apesar de o termo ser recente, aquilo que ele faz referência (o homem) foi
objecto de estudo em todos os períodos da história. O homem foi estudado pela Filosofia
Grega, assim como na Idade Média e pela Filosofia Moderna e Contemporânea, porém as
suas abordagens não foram totalmente convergentes, os pontos de vista e os ângulos
foram diferentes.
1- Na Filosofia Clássica o estudo do homem era essencialmente cosmocêntrico.
2- Na Filosofia Cristã a Antropologia foi teocêntrica, o estudo do homem era feito
enquanto fosse orientado por Deus e as premissas que comandam este estudo põe
o homem enquanto criatura de Deus no qual ele aspira eternidade.
3- Na Filosofia Moderna e Contemporânea a Antropologia é essencialmente
antropocêntrica, centra o seu estudo no homem enquanto ser biológico, social e
político.
ESTADO DA QUESTÃO
A imagem do homem que a cultura grega arcaica nos apresenta é rica e complexa.
Os traços dessa imagem encerram-se nas seguintes características:
a) Linha teológico-religiosa onde encontramos a divisão entre o mundo dos deuses e o
mundo dos mortais. Os primeiros são imortais, bem-aventurados; ao passo que os
segundos são seres de um dia e infelizes.
Segundo a mitologia grega, este facto deveu-se a pretensão desmedida do homem
igualar-se aos deuses.
b) Linha cosmológica o homem é um ser que contempla o universo, ele admira-se pela
ordem e beleza que fazem do universo visível um todo bem adornado. Desta admiração
segundo Platão terá origem a Filosofia e com ela um estado de vida do homem grego: a
vida teorética.
Deve reinar uma correspondência entre a ordem do universo e a ordem da cidade
regida por leis justas, que originou a ideia de Ciência do agir humano (Ética).
3
Mondin Battista, op. Cit. Página 7-8
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Loc. Cit.
c) Linha antropológica reside na relação do homem com os deuses e na oposição entre
apolíneo e dionisíaco.
O apolíneo reflecte o lado luminoso da visão grega do homem, a presença
ordenadora do logos na vida humana, que a orienta para a claridade do pensar e do agir
razoáveis. O dionisiaco traduz o lado obscuro do terreno onde reinam as forças
desencadeadas do desejo e da paixão.
Reconciliar estes dois actos será tarefa da Filosofia a qual Platão fala no
Banquete. O tema da alma desde a alma concebida como sopro que vive uma vida no
Hades em Homero, até a representação religioso-metafisica da alma no Orfismo como
entidade separada do corpo e nele reencarnando-se em sucessivas existências.
“O Homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são enquanto são e das coisas que não são enquanto não são”(Protágoras).
“Conhecer-se a si próprio vale mais do que sabê-lo pelos outros” (provérbio Uolof – Senegal)
O pensamento antropológico que orienta até o homem dos nossos tempos remonta
a Sócrates, ele nada escreveu como é sabido, mas o tema constante da sua meditação que
as fontes contemporâneas nos transmitem gira em torno do que é propriamente humano
ou das coisas humanas. Na perspectiva socrática o humano só tem sentido e explicação se
referido a um princípio interior que está presente em cada homem e que ele chamou por
alma.
Para ele, a alma é a sede de uma virtude que permite medir o homem segundo a
dimensão interior na qual reside a verdadeira grandeza humana. É na alma onde tem
lugar a opção profunda que orienta a vida segundo o justo e o injusto. Todo o homem que
procura intelectualmente a verdade e a encontra não deixa de sentir o desejo de viver e
actuar em conformidade com ela. O homem que sabe o que é a virtude não pode deixar
de a praticar; o homem que sabe o que é a justiça não pode deixar de ser justo; é ela que
constitui a verdadeira essência do homem.
Ele introduz no campo antropológico o conceito de personalidade moral,
fundando assim a Filosofia Moral é de alguma maneira o fundador da Antropologia
Filosófica na Antiguidade.
A sua antropologia filosófica resume-se nos seguintes traços:
1. A teleológica do bem e do melhor como via de acesso para a compreensão do
mundo e do homem.
2. A valorização ética do indivíduo que encontrou sua expressão mais conhecida na
interpretação socrática do preceito délfico “conhece-te a ti mesmo”.
3. A primazia da faculdade intelectual no homem donde procede o chamado
intelectualismo socrático inspirando a doutrina da virtude (ciência); ao exaltar o
homem como o portador do logos e ao fazer da relação dialógica a relação
humana.
A antropologia medieval vai buscar seus temas e sua inspiração em três fontes; a
Sagrada Escritura, os Padres da Igreja e os filósofos e escritores gregos e latinos. A
concepção do homem evolui em estreita relação com o próprio desenvolvimento da
situação.
No campo filosófico-teológico, a influência de Santo Agostinho é predominante
até ao séc, XII.
S. Agostinho discípulo de Platão, e como tal reduz o homem a alma e daí que haja
uma autonomia completa do conhecimento intelectivo com respeito a qualquer
contribuição do corpo.
S. Agostinho vê o homem como um ser dependente da graça de Deus. O homem
está pré-determinado quanto a salvação ou a condenação. Contudo, o homem é
responsável pela sua própria vida, ele deve viver de modo a poder saber que pertence ao
número dos eleitos; não nega que o homem tenha livre arbítrio. Só que Deus já previu
como é que iremos viver. Assim para Deus não é segredo quem deve ser salvo e quem
deve ser condenado, logo nós somos dependentes da graça de Deus.
Para explicar a imortalidade da alma, S. Agostinho salienta que o homem é um ser
espiritual, possui um corpo material que pertence ao mundo físico e é corrompido pelos
agentes naturais mas também tem uma alma que pode conhecer Deus.
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A sistemática é a ciência dedicada a inventariar e descrever a biodiversidade e
compreender as relações filogenéticas entre os organismos. Inclui a taxonomia (ciência
da descoberta, descrição e classificação das espécies e grupo de espécies, com suas
normas e princípios) e também a filogenia (relações evolutivas entre os organismos). Em
geral, diz-se que compreende a classificação dos diversos organismos vivos. Em biologia,
os sistematas são os cientistas que classificam as espécies em outras taxonomias a fim de
definir o modo como eles se relacionam evolutivamente.
b) Civilização – este foi o termo chave do século, XVIII que provavelmente aparece
no ano de 1756. A Civilização é um facto e um valor designa um estágio
avançado da história de um grupo humano em relação aos estágios anteriores nos
principais campos do pensamento e da actividade prática e técnica e, ao mesmo
tempo um ideal de progresso e uma actividade de optimismo diante da história
futura. Ela é a verificação da hipótese da passagem do “estado de natureza” ao
“estado de cultura”. Em Rousseau este conceito, não uma coisa boa como toda
gente sempre pensou que fosse; e nem é algo de valor neutro, mas uma coisa
definitivamente.
A criança que nasce numa denominada sociedade civilizada é ensinada a refrear e
a frustrar os seus sentimentos, a impor as categorias artificiais do pensamento
conceptual sobre os seus sentimentos e a fingir que não pensa nem sente todas as
coisas que realmente pensa e sente, enquanto finge que pensa e sente as coisas
que não pensa e nem sente. O resultado disso é a alienação do seu verdadeiro eu.
A civilização é corruptora e destruidora dos verdadeiros valores. Entrando na
civilização nenhum homem volta a opção de regressar ao seu estado primitivo.
Assim, o que devemos fazer é como antes civilizar a civilização, temos que mudá-
la de forma a possibilitar aos nossos instintos naturais e aos nossos sentimentos
uma expressão mais completa e mais livre.
c) Tolerância – surgido no século. XV no contexto do diálogo das grandes religiões
proposto pelo cardeal Nicolau de Cusa veio a fortalecer-se no século, XVI com a
divisão religiosa e as guerras de religião. Os defensores deste conceito lutavam
pelos direitos naturais dos cidadãos. Há uma necessidade de se assegurar ao
indivíduo os seus direitos, de se exprimir livremente.
O princípio da “inviolabilidade do indivíduo” culminou com Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão adoptado em 1789 pela Assembleia Nacional
Francesa. Segundo o pensamento dos iluministas “os homens têm direitos pelo
facto de serem homens”. Em 1787 Condorcent, filósofo iluminista, publicou um
“Tratado Sobre os Direitos da Mulher”. Durante a Revolução Francesa as
mulheres participaram activamente na luta contra a aristocracia ao lado dos
homens ex, Olympye de Gouges.
d) Revolução – de origem astronómica (De Revolutionibus Orbium Coelestium)
obra de Copérnico, posteriormente, evolui para designar uma mudança e
transformação profundas na sociedade que anunciam o advento de um mundo
melhor. Há a destacar a Revolução Americana (1776) cujo objectivo não era
apenas mudar a forma de regime político mas a instauração de uma ordem do
mundo; a Revolução Francesa (1789) proclamando os conceitos de igualdade,
fraternidade e liberdade.
Neste quarteto, o homem passa a ocupar o centro do qual irradiam as linhas da
inteligibilidade, foi neste período que surge a Antropologia propriamente dita, como
Ciência do homem que engloba os vastos campos da investigação e sistematização que se
desenvolvem no século, XVIII.
a) Uma linha antropológica cuja origem deve ser buscada no Curso de Metafísica.
Ele propõe o estudo empírico do homem.
b) Uma linha crítica que segue o desenvolvimento da reflexão crítica a partir da
Dissertação de 1770.
A relação entre estas duas linhas postula a subordinação da Antropologia, cuja base é
empírica (a posteriori) a Metafísica dos Costumes que procede a priori e permite definir a
essência verdadeira do homem. Assim, a Antropologia kantiana postula-se sobre dois
planos:
a) O plano de uma Ciência da observação que utiliza o procedimento analítico para
unificar os dados da observação por meio de uma teoria das faculdades, cujo núcleo
conceptual é a representação do EU exprimindo-se em “consciência de si”.
b) O plano de uma Ciência a priori que se situa no campo da Ética ou da Metafísica dos
Costumes, a possibilidade de determinação da essência do homem.
“Antropologia do ponto de vista pragmático” (1798) representa o termo de uma evolução
ao longo da qual se define pouco a pouco a ideia kantiana de antropologia: Ciência cuja
finalidade é preparar o homem para o conhecimento do mundo (o mundo do homem).
Aqui o conhecimento do homem funda-se no senso comum e tem em vista as relações
que se estabelecem entre os homens. Logo a antropologia situa-se no âmbito da
“Filosofia Popular”, sua característica será pragmática diferente da especulativa. Aqui o
conceito de pragmático inicialmente designa um conhecimento capaz de tornar o homem
prudente nas questões da vida em sociedade, pragmático é o conhecimento do que o
homem “faz, pode ou deve fazer de si mesmo”, opondo-se ao conhecimento fisiológico
que tem por objectivo o que a natureza faz do homem.
O que diz respeito a concepção do homem, o pensamento crítico de Kant permanece na
linha da tradição dualista própria da Antropologia racionalista ( R. Descartes). O homem
divide-se em duas partes: corpo e razão.
Enquanto seres sensíveis pertencemos a ordem da natureza e estamos completamente
sujeitos as leis imutáveis da causalidade. Não decidimos o que sentimos, as sensações
surgem necessariamente e influenciam-nos quer queiramos quer não, aí não há livre-
arbítrio. Mas, o homem não é apenas um ser sensível, é também um ser racional e
enquanto ser racional participa no mundo “em si”.
Só quando seguimos a nossa “razão prática” que nos possibilita fazer uma escolha moral,
temos livre arbítrio. Se obedecemos a lei moral, somos nós que fazemos a lei moral pela
qual nos orientaríamos e então somos livres e autónomos porque não seguimos apenas os
nossos instintos. Para Kant a lei moral é tão absoluta e universalmente válida como a lei
da causalidade, ela não pode ser comprovada pela razão mas é incontornável.
As linhas de orientação do pensamento antropológico kantiano são:
a) Linha da estrutura sensitivo-racional: que acompanha o homem enquanto ser
cognoscente que lhe torna capaz de formular o ideal de razão pura e as ideias
transcendentais: mundo, alma e Deus
b) Linha da estrutura físico-pragmático: que acompanha o homem como ser mundano,
físico, designando o que a natureza opera no homem e pragmático o que o homem faz de
si mesmo e da estrutura prática que acompanha o homem como ser livre e capaz de
responder, fundando-se no “facto da razão” ou seja, na “lei moral dentro de mim” a
interrogação em torno do agir moral.
c) Linha da estrutura histórica ou do destino do homem que o acompanha em duas
direcções: religiosa que aponta o fim último do homem; e a pedagógico-política – a
educação do homem, o regime político e a liberdade civil.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA
5. IMBAMBA, José Manuel. Uma nova cultura para mulheres e homens novos: um
projecto filosófico para Angola do 3º milénio à luz da filosofia de Battista
Mondin.2ª ed.Luanda, 2010.