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anacosta

Escuta…

Ouves? São os silêncios da noite

São suspiros que ao longe se ouvem

São passos que ferem a calçada

Almas errantes que vagueiam perdidas

Sem rumo, ao acaso

Na espera por alguém

Que a mão lhe estenda

Neste vazio feito tão somente de silêncios…


Recordo a velha casa de paredes

Outrora branquinhas

E agora já sem cor

Casa que foi e já não é

Porque o tempo cansado da

Espera

Simplesmente a sua cor apagou

Apagou as memórias

Religiosamente guardadas

Na espera de alguém

Que um dia tristemente partiu

Mas ainda que a dor perdure

Prometeu que quando ela passar

Quando o coração parar de sangrar

Quando no céu o sol de novo brilhar

Aí ele sozinho vai voltar

E a velha casa

De paredes bem branquinhas

Volta de novo a brilhar


Que outra coisa existe

para além do nada que me enche o peito

Senão esta saudade só por mim sentida

Que vis tormentos ensombram minha

mente quando à noite sozinho no meu leito

Pesa em mim esse vazio

a que minha alma deu guarida

Que sonhos me perseguem

nas noites em que a insónia se instala

Abrindo as portas que há tanto tempo

fechei

Que sofrer é este que vem perturbar

meu sono

São silêncios que julgava para sempre

Guardados

Memórias para sempre esquecidas

São segredos nunca revelados

religiosamente fechados naquela caixa

a que tempo eu chamei mas

Que por descuido ou desleixo

Alguém mexeu, alguém abriu


Mostrando ao mundo sem medo

Aquilo que por ter medo

Durante tanto tempo eu guardei


Naquela mesa de bar

Onde sozinha passei minutos e horas

Esquecida

Olhando ao redor sem ver, eu vi chegar

Amantes de mãos ternamente entrelaçadas

Esposas enganadas mas ainda esperançadas

E que sozinhas choravam na espera do marido

Com a rival

Naquela mesa de bar onde

Por ti horas a fio eu esperei

Vi chegar e partir gente

Gente que me era indiferente

Gente que chegava ou partia simplesmente

Partilhando a mesma espera

Naquela mesa de bar

Vi homens sozinhos

Deprimidos, confiantes ou revoltados

Ou tão simplesmente aqueles

Que se sentavam à mesa, e como eu

Escondiam sua ânsia sua tristeza

Por detrás de um sorriso

Vi mulheres de boca esborratada

Escandalosos decotes e perna traçada

De olhos mortos prá vida

Na procura do engate
Naquela mesa de bar

Onde sozinha passei minutos e horas

esquecida
Ó vento agreste que docemente espalhas

meus cabelos

Em cada pedra minúscula deste deserto

Inexpressivo

Onde o poeta ao longe canta seus versos

A uma musa imaginária que fortemente o

Mantém cativo

Não fora esse amor quase viral

Brotando de um peito já cansado

Ousaria o poeta morrer por ela afinal

Tornando doce esse mel que agora é amargo

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