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Cap. 1:
Bem, era pra ser hoje, o encontro marcado era para ser às seis. Eu
estava vestido a caráter blusa preta comprida, uma calça justa, sapatos
marrons, e o cabelo virado de lado. Eu estava parado, num lugar que dava
para ver as janelas, perto da casa onde ele morava. Assoviava com um
troço na boca, algo que eu tinha pego no carro. Já imaginava ele
gritando comigo: você e suas manias, tira essa coisa da boca. Talvez, ele
estivesse pintando, ou escrevendo. Quem sabe estava ouvindo algum
disco antigo, uma música clássica, se arrumando é que nunca estaria, ele é
do tipo estranho. Sou sujeito lógico, meio bitolado com as coisas, com
manias de compreender, nem um pouco sorridente, humor de policial,
diplomático, mas nem um pouco calmo. No momento eu batia o pé no
chão, olhava para a casa, depois olhava para os pés. Sorria, estava ainda
rindo da conversa anterior. Ele havia ficado interessado no assassinato
de um mendigo, falei que meu amigo o conhecia. Meu amigo, ao me
contar que era conhecido do sujeito, olhou para os lados, falou baixo,
curvou um pouco a coluna e se aproximou de mim, já que eu era mais
baixo. Ele disse, quase sussurrando em meus ouvidos: É o Charles
Bentham, né? Fiquei por algum motivo com aquele nome em minha
mente. Perguntei: Bentham? Mas não é nome estranho para essa
região? É um nome britânico. Sim. Ele veio para cá num navio. Me disse.
--- Tive.
–-- Ótimo. --- Levantou um sorriso aberto. Beijou-me na bochecha. ----
O que descobriu?
--- Eu percebi, você nunca erra. Tem tato pras coisas da mente. Por
sinal, belo artigo que saiu na Imago ontem.
--- Bem, eu tive que olhar os registros desse senhor Bentham aqui no
cartório. E não se engane com o nome, ele tem parentes aqui.
--- Parentes?
--- Sim!. E sabe o pior, fui no batistério, fui no cartório, nos registros
médicos, e sempre que eu encontro um senhor Richard Bentham, a data
de nascimento está rasurada.
--- Como?
--- É isso que me intriga. A gente procura algum registro, e eles estão
incompletos.
--- Bem, a conversa está interessante. Mas temos que chegar logo,
estamos atrasados.
--- Não estamos. Vamos ficar em casa hoje.
--- Ótimo.
--- Uma vez eu me lembro dele ter sido hostil por eu ter perguntado por
que ele tinha saído da Inglaterra.
--- Mas não me impressiono que não esteja na polícia, você é muito
delicado para isso. Embora, nem um pouco inocente…
--- Não faço ideia. Mas algo me chama atenção. A invasão do cartório,
do hospital e da igreja foram no mesmo dia. Parece obra de mais de uma
pessoa.
--- Você sabe, não quero que ocorra o mesmo que ocorreu com Paulo…
--- Você, para mim, é como se estivesse sob meus cuidados… não posso
te deixar se meter em coisas ruins.
--- Não tem como algo ter ocorrido sem que ele visse. Por sinal,
ultimamente ele anda apreensivo.
--- Tadinho…
--- Você sempre sabe… – Ele pôs as mãos em meus ombros…--- Díon deve
estar em choque…
--- Claro… – Sorri. --- Eu já percebo que vamos trabalhar nisso por um
bom tempo….
--- Um bom nome não faz mal a ninguém… Por você e pela memória de
Paulo…
--- Amém…
Cap 2:
--- O que?
--- Sabe o pior, ninguém achou sangue onde ele morreu… Nem pegadas,
nada, só um manual de farmacologia…
--- Você acha mesmo que ele se matou...--- Ele pôs uma de suas pernas
entre as minhas.
--- Acho!
--- Tenho….
--- E você…
--- Ah! Eu gosto de ser a sombra de um viúvo. Eu sou seu segredo mal
guardado, já que todos sabem…
--- Sim, tem coisa que em público só pode ser dita pelo olhar…
--- Ou pelo sorriso. O problema dos casais é que não sabem guardar
segredo…
--- Ele parece ter roubado alguma coisa, um crime pequeno, acabou
fugindo de navio…
--- Ele não quer que falem com ela. Roubou algo dela, isso é certo…
--- E Diógenes? Você foi falar com ele?--- Martim reclinou a cabeça
sobre meu ombro…
--- Parece menos apreensivo. Mas está mais cheio de segredo que o
senhorzinho ai suicida….
--- Não, Diógenes não cometeu nenhum crime. Mas como eu já tinha dito,
foi ameaçado…
--- Também acho… não acha bom levá-lo num lugar seguro, garantir-lhe
sigilo…
--- Ah! Eu tava um dia passando na rua, ele tava gritando com uns
garotos na calçada, eu fui ver o que era. Eu era noivinho ainda. Tava na
faculdade de filosofia…
--- E?
--- A gente falou uma meia hora sobre o xará grego dele…
--- Sim, ele desistiu de ser professor de filosofia na faculdade, ele foi
professor em Fortaleza… Ele desistiu de lutar pra conseguir mudar
umas coisas lá
– Devia falar com ele sobre isso. Não sei se ele vai gostar…
--- Talvez goste… Eu faço algumas adaptações… Troco uns nomes, uns
lugares, mas faço algo por ele… Me parece uma grande personalidade…
--- Ah, bom…. Só cuidado para não ler muito em latim e ficar
eloquente demais…
--- Como aquela coisa feia que você chama de professor.--- Martim riu.
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