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LAUTIER, Bruno. O Governo Moral Dos Pobres e A Despolitização Das Políticas Públicas Na América Latina (2014) PDF
LAUTIER, Bruno. O Governo Moral Dos Pobres e A Despolitização Das Políticas Públicas Na América Latina (2014) PDF
DOSSIÊ
DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NA AMÉRICA LATINA1
Bruno Lautier*
O texto tem como ponto de partida a ideia de que a América Latina viveria nas últimas duas décadas
uma tensão entre dois discursos, visões de mundo e formas de fazer sociedade: por um lado a consta-
tação de disfunções a serem corrigidas e, por outro lado, as reivindicações e exigências em nome da
cidadania, dos direitos, de sua universalização. A hipótese é a de que essa tensão – amenizada mas não
extinta – e seu desenrolar, guardam fortes relações com a concepção, instituição, gestão, operaciona-
lização de políticas sociais em um percurso que vai do enfoque desenvolvimentista aos processos de
focalização, dos direitos ao governo moral da pobreza e seus desdobramentos.
PALAVRAS-CHAVE: Políticas sociais. Direitos. Cidadania. América Latina. Moral.
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gânica da Assistência Social (LOAS) de 1993); e sociedade. Essas políticas seriam propria-
há, ainda, a “Lei 100”, que instaura um acesso mente “públicas”, não só porque dizem respei-
universal à saúde na Colômbia em 1993, e os to aos meios de ação do Estado sobre o espaço
diversos Conditional Cash Transfer Programs público, mas porque “publicizariam” seu ob-
(CCTP),2 no México, na Argentina, no Chile, jeto, já que, ao retirá-lo da esfera privada, po-
no Brasil e na Colômbia, cujo próprio título in- deriam projetá-lo na esfera pública, fazendo-os
dica que foram promovidos para se contrapor objetos legítimos de intervenção do Estado e
a uma reivindicação pautada pelos termos dos tornando-os, assim, objetos “públicos”.
direitos incondicionais do cidadão a participar As políticas públicas “desenvolvimen-
da riqueza da nação. Essas válvulas e suas con- tistas” se apresentavam explicitamente como
cessões parecem estar na contramão da opera- políticas de conformação do corpo social, por
cionalização e da prática, que acabam por se acréscimos sucessivos (na forma de trans-
contrapor a esses mesmos direitos sociais. plantes) a esse corpo nacional, de órgãos que
Até o momento presente, essas válvulas tinham sido simultaneamente engendrados;
estão em funcionamento, e a tensão não foi dis- assim, tais políticas não se originavam por um
sipada. Mas sua contenção só pôde ser feita pa- compromisso entre “atores” constituídos (Lau-
gando o preço de variações consideráveis nas tier, 1993). O corporativismo de Estado não era,
táticas de governo, as quais este texto se propõe então, uma “disfunção” ou uma patologia, mas
a rastrear. Para fazê-lo, passarei por uma breve um elemento essencial das políticas públicas.
recuperação histórica do período “desenvolvi- O que ficava à margem desse corpo social per-
mentista”, até os anos oitenta (ponto 1), para, manentemente em gênese, o que transbordava,
em seguida, fazer algumas observações sobre a o que não se encaixava nessa conformação, de-
passagem da “ultrafocalização” à “focalização via ser eliminado, eventualmente com extrema
ampla” no final dos anos noventa (ponto 2) e violência.
terminar com observações sobre o consenso Essa “conformação” do corpo social é,
que caracterizaria as políticas sociais atuais e concomitantemente, o objetivo primeiro das
que parece conter um mal entendido (ponto 3). políticas particulares (as policies, no sentido
anglo saxão) e da articulação central da polí-
tica (sempre no sentido anglo saxão – politics
AS “TÁTICAS DE GOVERNO” NO – de conflitos, compromissos, coalizões para a
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alianças com os caciques locais; uma política Se nos referimos à noção de Foucault,
de câmbio seria analisada como a base de um segundo a qual são as táticas de governo que
rearranjo de compromissos políticos com o pa- permitem, a cada instante, definir o que deve e
tronato de tal ou tal setor; as políticas de sub- o que não deve ganhar relevância para o Esta-
venção aos produtos de base foram analisadas do, definir o que é público e o que é privado,5
como instrumentos de um clientelismo de Es- parece que, durante quatro décadas, o coração
tado, por oposição às políticas de distribuição dessas táticas voltadas para as políticas frente
em natura, que davam lugar principalmente aos pobres foi o de “privatizar o público”.
para um clientelismo local, etc. O paradoxo que se coloca, então, advém
No que concerne especificamente às po- do fato de que o Estado foi apresentado, nes-
líticas que se destinavam aos pobres no perío- se período, como fortemente intervencionista
do “desenvolvimentista”, a intervenção do Es- do ponto de vista social. Entretanto, exceto
tado acentua uma tática empírica de regulação para algumas políticas particulares realmen-
(Lautier, 1995). A pobreza é útil (ela permite a te “públicas” e manifestadamente destinadas
submissão da multidão ao favor, como modo aos pobres (como as políticas de subvenção a
de dominação privilegiado dos pobres), ain- produtos de primeira necessidade), esse inter-
da que, demais, ela seja portadora de perigos vencionismo estatal foi apenas e tão somen-
(perigos reais, como revoltas e criminalidade, te falsamente “público”, já que pressupunha
assim como simbólicos, como a degradação da mediações privadas (caciques, personagens
imagem do poder público). A “regulação” de- clientelistas, etc.), ou seja, praticamente se en-
veria ser compreendida, em seu sentido ime- tregam, nas mãos de personagens e políticos
diato, como política que tangencia a tentativa clientelistas, os meios públicos de regulação
e o erro, como um “nem muito nem pouco” da pobreza.
que repousaria sobre uma combinatória das
três matrizes simbólicas e práticas (os modelos
assistencial-repressivo, modernista-tecnocráti- O GOVERNO FOCALIZADO DOS
co e filantrópico). Era, antes de tudo, a massa POBRES: da ultrafocalização à foca-
dos pobres que estaria sendo controlada e re- lização ampla
gulada, e não o corpo individual dos pobres;
as técnicas de repressão seriam as técnicas de Desde o final dos anos oitenta, uma mu-
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a priori, constituem um objeto privilegiado pobres para tentar aliviá-la em seguida), uma
para o pesquisador, particularmente se ele tem moral da caridade, na qual se constata uma
uma inspiração neofoucaultiana, ou se houver ausência da noção de equidade, e uma moral
alguma proximidade entre essas políticas e o da justiça produtiva: a situação de equidade
“governo da miséria” na França da primeira é aquela em que cada um recebe o que lhe é
metade do século XIX: devido. Entretanto, é necessário que haja uma
§ Aí se encontram todas as características parte que se receba como devida no espaço da
(métodos, objetivos, efeitos) da distinção justiça produtiva, isto é, uma produção cuja
entre os “bons pobres” (ou “pobres envergo-
contrapartida seja a remuneração do pobre.
nhados”) e “maus pobres” (Procacci, 1993,
p. 209). O “bom pobre” aceita a inquirição A boa política é, então, aquela que – via “em-
(sobre sua renda real, já que o mau pobre powerment dos pobres” e pelo desenvolvimen-
é um dissimulador, sobre o modo de vida, to de suas capabilities – criará essa parte devi-
já que o mau pobre é cheio de vícios, etc.) da. A questão a considerar seria, então, a que
e, ao mesmo tempo, admite facilmente que se segue: seria admissível que um pobre, na
deve ser reeducado. É franco (deve ser ma-
condição de produtor, pudesse reclamar legiti-
nifestadamente pobre e “inspirar piedade”)
e deve ser, simultaneamente, humilde. O mamente aquilo que equivale à sua produção,
mau pobre considera a ajuda assistencial teria como reclamar aquilo que é a condição de
como uma obrigação e recusa a existência sua produção, isto é, os meios de produção? O
de contrapartidas a essa ajuda (inclusive e sucesso (midiático, institucional e político) do
sobretudo do tipo workfare). microcrédito é a resposta adequada a essa inde-
§ Aí se encontra, funcionando plenamente,
terminação: é apresentado como “um beneficio
a dualidade moralização e tecnicização. As
políticas focalizadas devem ser suposta- para os pobres”, ainda que nada lhes seja dado
mente motivadas pela aflição e pela indig- (e as taxas de juros sejam até mesmo superiores
nação.6 Tais políticas não foram suscitadas às aplicadas em empréstimos a grandes empre-
pela pobreza, mas pelo espetáculo dos po- sas); mas se inscreve em um registro moral: é
bres: a moral não parece poder atuar senão uma medida paliativa de uma injustiça, de uma
na contramão dos indivíduos concretos e
“exclusão” (bancária). Aparece, então, uma de-
dignos de compaixão (crianças mal alimen-
tadas em idade escolar ou cortadores manu- fasagem entre as políticas destinadas aos po-
ais de cana, catadores de resíduos sólidos, bres “potencialmente produtivos” e as políticas
moradores de bairros sem asfalto, velhos destinadas aos “inúteis”. Para os primeiros, faz-
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saúde), que esses pobres serão legitimamente longo dos anos noventa, que visavam a uma
(no registro moral) ajudados, para, então, se- categoria precisa: crianças de escolas de certo
rem moralizados pelo trabalho sobre si mes- tipo de zona geográfica; mulheres grávidas de-
mos (como produtores de seus corpos e de sempregadas; pequenos camponeses situados
suas competências, certamente, mas também a certo número de quilômetros dos lugares de
como bons pais, bons vizinhos, membros de comercialização, etc. As políticas foram objeto
“boas” comunidades). Mas essa saída não fun- de críticas cada vez mais numerosas, inclusive
ciona para os “definitivamente inúteis” (os no seio de organizações internacionais. Essas
velhos ou deficientes, por exemplo); a moral críticas destacaram duas esferas distintas:
da compaixão parece ser a única possibilidade § A primeira era de âmbito técnico: o dinhei-
de oferecer uma base para esse tipo de ajuda ro, de fato, ajuda os que são realmente po-
bres e, assim, seria possível uma relação
aos pobres, com o perigo constante de sofrer
comprovada entre a quantidade de recursos
uma deriva em direção ao registro do Direito monetários investidos e o número de pes-
e dos direitos.8 Para conter essa possibilidade soas “que saíram da pobreza”? Por detrás
de deriva, é preciso, algumas vezes, “entrar na desse nível “técnico”, a determinação de
dança” e reconhecer efetivamente alguns di- “alvos” prioritários de auxílio coloca múlti-
reitos,9 desde que eles não se definam como plos problemas políticos e ideológicos. Por
um lado, os alvos designados como priori-
universais. Os governantes preferem sempre
tariamente mais “visíveis” são aqueles que
os direitos atribuídos (top down) e inscritos no têm mais peso político e aqueles que cor-
registro dos direitos humanos àqueles direitos respondem aos (pressupostos) a priori dos
conquistados (bottom up), assim como os di- que estão encarregados de operar essas po-
reitos particularizados em relação aos direitos líticas. Seus efeitos constituem dimensões
universais. Chega-se, assim, a esse paradoxo de moda, que impulsionam a priorização,
em certos momentos, de algumas categorias
que marca as táticas atuais de governo: reco-
de população (as mulheres, as crianças, os
nhecem-se direitos no âmbito do particular “indígenas”) e, frequentemente, o esqueci-
e do categorial em nome dos “direitos huma- mento de outras categorias (trabalhadores
nos”, supostamente universais, para dar lugar idosos do meio urbano, certas categorias de
a reivindicações universais desenvolvidas por working poor, em particular mulheres che-
categorias particulares. fes de família). De outro lado, a vontade –
para minorar o problema – de confiar aos
A primeira onda de políticas focaliza-
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crescimento econômico. Essa disjunção dos geralmente na constatação em meio tom (do
dois registros (a moral do lado da assistên- tipo: “chegamos a sucessos parciais, mas ainda
cia, a técnica do lado do crescimento) será resta muito a fazer; portanto vamos reiniciar as
posta em questão pela lenta, mas inexorá-
atividades”).
vel, tomada de consciência da necessidade
de levar em conta a relação entre pobreza As críticas das políticas “ultrafocaliza-
e desigualdades (que levará à “invenção” das” conduziram a uma mudança de “tática de
da noção de “pro-poorgrowth”); entretanto, governo dos pobres” em vários países latino-a-
a despolitização do debate sobre a pobreza mericanos, no final dos anos noventa e início
tem o pressuposto de não relegar a moral ao dos anos dois mil. Essas críticas, todavia, não
domínio da assistência. É preciso também,
levaram a um questionamento da estratégia
de outro lado, passar por uma reformulação
de sua dimensão macroeconômica e lhe dar fundada sobre o tríptico moralização, tecnici-
um fundamento moral compatível com o zação e despolitização da questão da pobreza,
discurso do mainstream. Descobre-se, en- mas conduziram a uma mudança profunda
tão, a existência de desigualdades “dema- dos encaminhamentos práticos das políticas
siadamente importantes” – o que é, de uma públicas dessa luta, assim como a um ponto
só vez, moralmente condenável e prejudi-
de inflexão: a substituição da “luta contra a
cial ao crescimento e, portanto, à redução
da pobreza. O problema é que a moral nada pobreza” pela “luta contra a vulnerabilidade”.
tem a dizer dessa importância demasiada; Para além da definição técnica ou estatística,
a economia se torna, assim, a ciência das a vulnerabilidade indica uma mudança de re-
“boas” desigualdades. gistro: passa-se da compaixão vitimizadora (o
O debate sobre a focalização ganhou as pobre que recebe ajuda) à atenção paternal (o
instituições internacionais a partir do fim dos vulnerável que é ajudado a se ajudar e que é
anos noventa e, para acompanhá-lo, era neces- protegido enquanto continua frágil). Como já
sário multiplicar as avaliações (bem como as se notou muitas vezes, a retórica da vulnerabi-
publicações dos “manuais operacionais” para lidade está, mais do que a retórica da pobreza,
guiar os avaliadores em sua tarefa), curiosa- em sintonia com o discurso de Amartya Sen
mente negligenciadas até então.10 Elas acabam e seu vocabulário (capabilities, empowerment,
resultando no questionamento de certos pres- etc.). Entretanto, tanto uma como outra são
supostos, como aquele segundo o qual quanto herdeiras de dois “ramos” da moral cristã. Por
mais precisa fosse a “focalização”, menor seria um lado, o pobre ao qual se destina a compai-
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o risco de malversação de recursos. Foi con- xão do rico é o meio de sua salvação por meio
testada particularmente a ideia segundo a qual da doação de esmolas.11 Por outro lado, a asser-
a descentralização seria uma garantia de boa ção “ajude a si mesmo e o céu o ajudará” – ver-
“focalização”. A colaboração entre poderes pú- são antiga da palavra de ordem da luta contra a
blicos e organizações não governamentais não vulnerabilidade – é uma constante do discurso
garantiria mais as malversações por corrupção; religioso, mas também leigo, desde o final da
ela apenas muda seus beneficiários, acentuan- Idade Média.12 A passagem à retórica da vul-
do as dificuldades de controle. Sem chegar a nerabilidade não diz respeito a nenhum sinal
uma autocrítica radical, as avaliações chegam de não moralização (e ainda menos de uma re-
10
De forma confessa, o próprio Banco Mundial só tomou 11
Bronislaw Geremek cita essa “fórmula clássica” da Vida
consciência desse processo em 1998, como testemunha de Santo Elói (redigida por Santo Ouen no século VII):
esse extrato do Relatório Anual do meso ano (1999, p. 70- “Deus poderia tornar todos os homens ricos, mas quis que
71): “As estratégias operacionais e as intervenções não fo- houvesse pobres nesse mundo para que o ricos pudessem
ram sempre guiadas pelas avaliações da pobreza (...) [des- redimir seus pecados.” (1987, p. 29).
de 1998] ao invés de contabilizar os projetos focalizados
12
sobre a pobreza ele (O Banco Mundial) avalia o impacto Essa “moral” pode ser encontrada na fábula “Le chartier em-
dessas operações sobre os pobres e focaliza suas avalia- bourbé” de La Fontaine; mas ela remonta a Esopo, fabulista
ções da pobreza nos resultados obtidos mais do que nos da antiguidade grega. O ditado deu origem ao nome de uma
recursos postos em operação (como o montante de em- “sociedade jacobina” fundada em 1827, presidida por Guizot,
préstimos ou o número de projetos)”. que agrupava todos os liberais “progressistas” da época.
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ticas de assistência focalizadas; os constran- segundo a maior parte das avaliações, que
gimentos e as pressões políticas são também não são assistidos.19 Mas isso não parece ser
muito diversos (períodos eleitorais, explosão muito grave; talvez o montante de pobres
não auxiliados possa ser explicado pelas
social – como no caso Argentino, conflitos en-
seguintes razões: poderiam estar entre os
tre os diferentes níveis de governo), e os go- falsos pobres, ou ainda ser beneficiários
vernos em curso parecem procurar, nas suas de solidariedades incomuns – familiares e
“caixas de ferramentas” assistenciais, aquilo religiosas –, ou ainda, estupidamente, recu-
que parece novo, pouco dispendioso e eleito- sar a indagação dos controles ou a estigma-
ralmente produtivo. tização que existe apenas na sua fantasia.
Também é possível que haja problemas téc-
O consenso em favor dos CCTP (Condi-
nicos, mas eles vão se resolver: a informa-
tional Cash Transfer Programs) é amplo e poli- ção se difunde e a malha administrativa se
morfo; reúne diferentes partidos em cada uma intensifica.
das cenas políticas nacionais, dos governos de § Os CCTP não custam caro (de 0,1 a 0,9%
cada país e das instituições internacionais, os do PIB, de acordo com os países, ou seja,
governantes e a “sociedade civil” (se é que ela muito menos do que, por exemplo, os défi-
cits da previdência pública) e têm um peso
pode ser figurada pelas associações e ONGs,
grande em termos políticos: há um víncu-
igrejas e sindicatos). Por outro lado, são raras lo muito positivo entre a extensão desses
as notas discordantes. Certos analistas acen- programas e os votos favoráveis ao governo
tuam o caráter módico das despesas públicas que os institui (o que é particularmente cla-
ligadas aos CCTP e sugerem que seria possível ro no Brasil, no final de 2006, mas igual-
reconhecer, nesses programas, uma operação mente presente no Chile e na Argentina),
além do impacto em termos de “imagem”
de propaganda mais do que uma política so-
no plano internacional.
cial: os CCTP não implicam reforma da distri- § Os CCTP não foram vítimas da “síndrome
buição primária de renda, nem transformam os de Speenhamland”.20 Um desestímulo ao
sistemas tributários. Outros insistem no fato trabalho é limitado, essencialmente porque
de que os aspectos “produtivos” desses progra- esses programas não tinham por objetivo a
mas (“produção de capital humano”) são pu- reinserção pelo trabalho. As únicas condi-
ções realmente controladas foram as con-
ramente retóricos (na medida em que a oferta
de serviços públicos não os acompanha) e, de 19 Lindert, Linder, Hobbs e de la Brière (2007) consagraram
muita páginas à questão do “targeting” para concluir que “o
todo modo, só seriam observáveis, no mínimo, Programa Bolsa Família é extremamente focalizado”, obser-
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ao longo de uma geração. Mas, de modo global, vando, em particular, que o quartil de menor renda recebia
80% dos auxílios e que 85% dos 20% pagos indevidamente
essas críticas são discretas. Domina o consen- (the leakages) eram destinados ao quartil seguinte (p. 46).
Pode-se notar que outro aspecto da má “focalização”, isto
so, o que conduz à ideia de uma forte legitimi- é, a proporção das famílias pobres que não recebem o auxí-
lio do Bolsa Família foi abordado em apenas quatro linhas
dade desses programas. desse documento (p. 47). A caça aos “falsos pobres” pare-
As razões da formação desse consenso, ce dominar as preocupações, apesar de se mencionar que
“nem todos os pagamentos indevidos (leakages) provêm de
apesar da ausência de resultados decisivos e fraude” (nota 78); as fraudes intencionais foram estimadas
em 7% do total de beneficiários (p. 74).
mensuráveis relativos à diminuição da pobre- 20
Comentando os efeitos do Speenhamland Act de 1975
za, podem ser sintetizadas como se segue: que instaurava uma renda mínima complementar, Karl Po-
§ Paradoxalmente, eles parecem melhor “fo- lanyi (1984) escreveu (p.116): “Nunca uma medida foi tão
universalmente popular [...]: os humanistas aplaudiram a
calizados” do que as políticas “ultrafocali- medida como um ato de misericórdia ou mesmo de justiça
zadas”, ainda que com uma definição um [...]; e, todavia, ‘a longo prazo o resultado foi horrível’ gra-
ças à baixa de produtividade que resultou do desestímulo
pouco limitada dessa “focalização”: há pou- ao trabalho, da baixa dos salários que se seguiu e da alta
cos “não pobres” que recebem os auxílios. dos impostos destinados a financiar o socorro. Em francês:
“Jamais mesure ne fut plus universellement populaire [...];
Por outro lado, parece que há um número les humanitaristes applaudissaient la mesure comme un
significativo de “pobres” (de acordo com acte de miséricorde, sinon de justice [...]”; et pourtant “à la
longue, le résultat fut affreux”, en raison de la baisse de la
uma definição a partir dos critérios de atri- productivité due à la désincitation du travail, de la baisse
buição dos auxílios), cerca de um quarto, des salaires qui s’en est suivie et de la hausse des impôts
destinés à financer les secours.
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dições de assistência escolar às crianças e nutrição e de anemia.22 Mas, uma vez que
alguns exames médicos (em particular, os se atinge esse patamar mínimo alimentar,
exames da fase pré-natal). Além disso, o não se sabe muito o que os pobres fazem
Banco Mundial, na falta de poder demons- com o dinheiro que lhes é dado. Supõe-se,
trar os efeitos desses programas no que se portanto, que sejam racionais.
refere à luta contra a pobreza, congratula- § Os CCTP produzem bastante legitimidade.
se, antes de tudo, com seus resultados em O governo “faz qualquer coisa pelos po-
termos de escolarização. Os CCTP são bem bres”, massivamente, e não a conta-gotas;23
sucedidos, portanto, porque atingem ob- o governo resiste às pressões do financia-
jetivos diversos daqueles que tinham sido mento internacional e desenvolve políticas
proclamados. sociais (como no caso da Argentina); o go-
§ Os CCTP liberam os pobres. Todos os verno encara o braço de ferro da questão do
programas anteriores de luta contra a po- apartheid mascarado do qual são vítimas os
breza foram atacados em função da ques- indígenas e os reinsere na sociedade (como
tão de enclausuramento na dependência no México). Sem que a categoria “povo” de-
dos pobres e de sua estigmatização. Esses sempenhe um papel mais significativo, ela
programas lhes dão toda liberdade de uso acaba por se apresentar não apenas no sen-
dos recursos monetários obtidos. Haveria, tido do populismo original dos anos 1940,
assim, evidentemente, algumas restrições, mas no sentido da “coesão social”, de um
em particular no caso mexicano, já que o corpo coletivo que garante, sob a lideran-
pagamento do dinheiro às mães permite ça benevolente do Estado, a reincorporação
destacar explicitamente uma desconfian- dos que foram deixados, por sua própria
ça em relação ao uso que os pais poderiam conta, como cidadãos sem cidadania.
fazer desses recursos. Entretanto, de um
modo global, trata-se de uma estratégia de
empowerment dos pobres: permitindo-lhes
CONSENSO E MALENTENDIDO
acessar um nível de recursos que ultrapassa
a estrita necessidade alimentar e possibili-
tando que façam escolhas econômicas. E Essa paixão generalizada pelos progra-
mais: deposita-se confiança para que façam mas de transferência condicionada de renda
seus cálculos racionais; a razão e a moral se cala em torno de um consenso no seio das
podem, enfim, ser conciliadas, já que os organizações internacionais; e esse consenso é
pobres podem, finalmente, mostrar que po-
periodicamente celebrado nas “International
dem, eles também, constituir-se como ho-
mines economici.21 Entretanto, é impossível Conferences on Conditional Cash Transfers”.24
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tia de uma diminuição da vulnerabilidade). moral que possa oferecer fundamento para a le-
§ Esses “novos” programas de ajuda aos po- gitimação de uma moral face à outra. Só um sis-
bres são muito diversificados. Há uma una- tema de normas exterior à moral, o direito, pode
nimidade a seu favor, mas ninguém sabe
desempenhar esse papel que possibilite essa
se o que se está falando tem exatamente o
mesmo significado. Essa maleabilidade é o justaposição federada (entre uma moral e sua
signo de sua capacidade de adaptação aos legitimação). Seria, portanto, necessário, para
imaginários coletivos locais25 e se consti- fundar a legitimidade universal dos auxílios
tui, em alguma medida, na condição de seu aos pobres, inscrevê-los no registro dos direitos.
sucesso. Ao mesmo tempo, essa maleabili- Entretanto, depois de dois séculos, a assistên-
dade torna difícil o estabelecimento de um
cia aos pobres opera sobre um constrangimento
catálogo mundial de “boas práticas”.
§ O discurso das instituições internacionais absoluto: escapar do registro do direito positi-
passa sem mediações do consenso em favor vo.27 Os CCTP, assim como as “políticas focali-
dos programas de transferência condiciona- zadas”, não escapam a esse imperativo. Assim,
da de renda à sua legitimidade. Ora, se acom- duas etapas precisam ser percorridas: primeira,
panharmos Jacques Rancière, o consenso postular a universalidade da moral, em nome
acaba por se referir a si mesmo, tornando-
da qual os pobres utilizam a mesma retórica
se autorreferente:26 o consenso não produz
frações. Ele pesa sobre o todo e cada uma que aqueles que os auxiliam para se inscrever
de suas partes. O consenso não é apenas um nos mecanismos da ajuda. E, em segundo lugar,
“senso comum”, mas um compartilhar do fazer admitir que é a moral que funda os direi-
sentido do todo; funda sua autoproclamação tos “humanos”, os “direitos da liberdade”, que
de legitimidade decretando ilegítimas todas podem substituir a “reivindicação de direitos”,
as opiniões que não encontram lugar no in-
obrigações positivas do Estado em relação aos
terior desse campo consensual.
cidadãos que constituem os pobres.28
O problema é que tal autoproclamação
O fato, entretanto, de os pobres utiliza-
repousa sobre um argumento moral. Ora, des-
rem a mesma retórica moral que os benfeitores
de Max Weber, é possível saber que a moral é
permite postular que existe um consenso so-
insuficiente para fundar, por si mesma, a le-
bre os valores que fundam essa moral, já que
gitimidade; com efeito, os sistemas de valores
o que se afirma é a racionalidade econômica
são particulares e diversos, e não há uma regra
dos pobres e, assim, sua provável aptidão para
25
Por exemplo, a instância do Programa argentino (PJJHD)
de reinserção pelo trabalho assalariado (mesmo que isso aproveitar as “ofertas”. Surgiu, então, a hipóte-
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tam retificar essa condição. Assim, não é a falta luta contra a pobreza”.
de meios que torna alguém pobre. Sociologi- A “virada” dos anos 1990 reside essen-
camente falando, a pessoa pobre é o indivíduo cialmente no que se segue: a criação de uma
que recebe assistência por causa dessa falta de categoria, os pobres, que são tanto mais legi-
meios” (Simmel, 1998, p. 101-102). timamente os objetos de auxílio que se lhes
Mas, de outro lado, os pobres não são so- atribui quanto mais se tem em conta que é esse
mente os “beneficiários” dos programas de luta auxílio que os cria. Polarizando todas as políti-
contra a pobreza. São, também, objeto de múl- cas sociais na questão da ajuda aos pobres (não
tiplas políticas, tanto na América Latina como se generaliza a educação primária; promove-se
em outros contextos: políticas de educação, a escolarização de crianças pobres; não se cria
políticas de saúde, políticas de infraestrutura e um sistema generalizado de saúde de base;
equipamentos urbanos, políticas de emprego, promove-se o acesso dos pobres à saúde; não
políticas culturais, etc. O fato de que o bene- se providencia a construção de equipamento
fício de algumas políticas públicas seja condi- de esgotamento sanitário nos bairros periféri-
cionado a um nível de renda (means tested) em cos: promove-se o saneamento dos bairros po-
nada impede que seja como cidadão em idade bres, etc.), elimina-se uma noção forte (os di-
escolar que “o pobre” se beneficiará das políti- reitos sociais) em benefício de uma noção mais
cas educativas, e que seja como cidadão doen- do que fraca: trata-se de uma noção vazia. Essa
te que ele será cuidado, etc. Assim, as políticas operação é, em si mesma, uma operação de
de distribuição condicionada de rendimentos despolitização. E, voltando para uma definição
por um patamar de renda não são, em si mes- rancieriana do consenso, uma noção que “nada
mas, políticas estigmatizantes de luta contra a nos pede além de consentir”; trata-se, então, da
pobreza, na medida em que não são politica- instauração de uma hegemonia consensual. O
mente construídas como tal. paradoxal é que esse consenso repouse sobre o
Elas não parecem ter sido estigmatizan- mal entendido constitutivo revelado por Sim-
tes até o final dos anos 1980. Assim, as polí- mel: a pobreza só tem substância própria para
ticas espacializadas em relação às periferias aquele que não é pobre.
urbanas (provimento de água e esgoto, eletri- Esses elementos colocam a questão da
ficação, habitação) eram manifestadamente definição de uma eventual despolitização da
destinadas principalmente aos “pobres”, assim questão social; ela repousa, em primeiro lugar,
CADERNO CRH, Salvador, v. 27, n. 72, p.463-477, Set./Dez. 2014
como as políticas de ajuda à agricultura fami- na capacidade de fazer tudo para evitar a jun-
liar, sem que, por isso, fossem políticas de luta ção entre o problema dos pobres, que se cria
contra a pobreza. Seu fundamento não era o pelo tratamento que recebe, e a questão dos
tratamento de uma forma de “governo” espe- direitos e da cidadania, de deixar a “tensão”
cífico a uma categoria criada ao mesmo tem- subsistir apenas por sua contenção. O exemplo
po em que se instaura essa prática, mas uma brasileiro é particularmente interessante desse
problemática de integração em uma dinâmica ponto de vista: hoje, o benefício de prestação
social global e, portanto, de produção de cida- continuada (BPC) tem existência legal, mas,
dania. O fim dos anos 1980 marca, desse ponto nas representações comuns, considerado como
de vista, uma profunda mutação; não há mais um direito do cidadão, ele é irreversível e sem
pessoas que são pobres e que vão se beneficiar contrapartida específica. A Bolsa Família, por
eventualmente de políticas (urbanas, de pre- sua vez, não se constitui juridicamente em
ços da alimentação) específicas, mas uma ca- “direito do cidadão”, e o governo poderia su-
tegoria de “pobres” que foi criada, de acordo primi-la ou reajustá-la, pelo menos a qualquer
com o esquema simmeliano, pelo fato mesmo momento. Mas isso coloca a questão da defini-
de designar essas políticas como “políticas de ção de uma eventual despolitização da questão
474
Bruno Lautier
social; ela se recoloca. Vê-se bem a impossi- ta: querendo caracterizar a democracia como
bilidade política de tal supressão, assim como uma “pérola rara” e chegando a duvidar que
a impossibilidade de escapar da sombra da fi- ela possa ocorrer a não ser em momentos im-
lantropia liberal: que os pobres considerem o previstos e a partir de um surgimento breve e
auxílio como algo devido, como um direito ad- pouco efetivo. De modo geral, a política é obs-
quirido (un dû) e recusem legitimamente toda taculizada e reina a despolitização: “despoli-
contrapartida. A “tática de governo” repousa, tizar, esse é o velho trabalho da arte política,
então, sobre o fato da constatação, da conces- aquele que se conclui do começo ao fim, cuja
são, polarizando o debate sobre essa questão perfeição se encontra na borda de seu esvazia-
para esvaziar o que lhe é essencial: a questão mento.” (Rancière, 1998, p. 47). Essa leitura,
da repartição primária de renda, a dimensão no entanto, passa ao largo do essencial: a po-
fiscal e a oferta de serviços públicos. lítica não está no âmbito dos acontecimentos,
“Constatar” não significa, entretanto, mas da tensão. A política está sempre lá, em
que os direitos assim reconhecidos sejam pro- tensão com a “polícia”,30 e as políticas públicas
clamados ou reivindicados “contra” ou “face não são apenas “polícia”.
a” qualquer sujeito político. As mudanças na As políticas públicas de luta contra a po-
“arte de governar os pobres”, depois de uns breza, na América Latina, são ambivalentes e
dez anos, tendem, de modo paradoxalmente ambíguas, mas não são um eterno recomeçar.
aparente, a lhes apresentar como direitos abso- Elas não podem existir senão por essa tensão
lutos, como direitos “humanos”, sem oposição constitutiva que as fez nascer e se transformar,
possível, porque não haveria ninguém – so- permanentemente, em um percurso sinuoso
bretudo o Estado – que lhe faria oposição. A muitas vezes regressivo (em particular nas fa-
passagem para uma focalização ampla e para ses de ditadura ou por ocasião da ofensiva neo-
a distribuição de alocações por rendimento, liberal no começo dos anos 1990), cuja direção
abordadas em nome dos “direitos humanos”, geral, entretanto, é a afirmação de uma consci-
delimita dois espaços bem distintos: o das téc- ência comum dos direitos da cidadania. Mes-
nicas e dos técnicos (em educação, em saúde, mo se esse percurso não corresponde ao que
em vias de tráfico, etc.), em que a política não Rancière chamou de democracia,31 “a socieda-
tem lugar, e o espaço dos “direitos humanos à de igual (que) é o conjunto das relações iguali-
renda mínima”, em que a política tem o maior tárias que se desenham aqui e agora através de
475
O GOVERNO MORAL DOS POBRES ...
p. 106), talvez se possa dizer que ele pode estar Program: inplementing conditional cash transfers. In: A
decentralized context, social protection discussion paper.
em germe nesses direitos sociais que as políti- n. 0709, mai, Washington D. C.: The World Bank, 2007.
cas públicas criam inadvertidamente. A uma LOMELÍ, Enrique Valecia. Conditional cash transfers as
social policy in Latin America: An Assessment of their
interpretação pessimista de Jacques Rancière Contributions and Limitations. In: Annual Review of
seria possível opor uma visão mais otimista: a Sociology, v. 34, p. 475-499, 2008.
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Bruno Lautier
THE MORAL GOVERNMENT OF THE POOR AND LE GOUVERNEMENT MORAL DES PAUVRES
THE DEPOLITICIZATION OF PUBLIC POLITICS ET LA DÉPOLITISATION DES POLITIQUES
IN LATIN AMERICA PUBLIQUES EM AMÉRIQUE LATINE
As a starting point, the text bring the idea that Latin Le point de départ de ce texte est basé sur l’idée
America has been living, over the last two decades, que l’Amérique Latine allait vivre au cours des
a tension between two discourses, two world views deux dernières décennies une tension entre
and ways of building a society: on the one hand, deux discours, perceptions du monde et manière
the verification of dysfunctions which should be d’élaborer la société: d’une part la constatation de
corrected, and on the other hand the claims and disfonctions qui doivent être corrigées et d’autre part
demands in the name of citizenship, of rights, and les revendications et les exigences faites au nom de
of their universalization. The hypothesis is that la citoyenneté, de droits, de leur universalisation.
this tension – lessened, but not extinct – and its L’hypothèse est que cette tension – aménisée mais
unfolding have strong relations with the conception, non pas éliminée – et ce qui en découle sont en lien
institution, management, and operationalization of direct avec la conception, l’institution, la gestion,
social policies, in a trajectory that goes from the la mise en oeuvre de politiques sociales tout au
developmental point of view to the processes of lon d’un parcours qui va de l’accent mis sur le
focalization, and the rights to the moral government développement aux processus de mise en évidence
of poverty and its unfolding. des droits au gouvenement moral de la pauvreté et
leurs conséquences.
KEYWORDS: Social policies. Rights. Citizenship. Latin MOTS-CLÉS: Politiques sociales. Droits. Citoyenneté.
America. Moral. Amérique Latine. Morale.
Bruno Lautier – Nasceu em 1949, foi professor de sociologia da Universidade Panthéon Sorbonne,
tendo defendido seu doutoramento em 1974 na Universidade de Amiens em Ciências Econômicas e
em Sociologia Foi diretor do IEDES-Paris I (Institut d’Etude du Développement Economique et social),
de 2001 a 2006. Dirigiu ainda o mestrado em Desenvolvimento Social: Trabalho, Formação e Saúde
(Développement social: travail, formation, santé) desde 2005 até sua morte. Publicou livros e artigos,
tendo organizado vários números de publicações científicas relevantes. Entre suas publicações mais
significativas pode-se mencionar: Amérique Latine: deux décennies de politiques sociales. In: Amérique
latine: deux décennies de réformes économiques, Revue Internationale de Politique Comparée, Mars
2010; Penser le politique en Amérique latine - La recréation des espaces et des formes du politique. Paris:
ed. Karthala, dec. 2009, 403 p.; Les politiques sociales au Brésil durant le gouvernement Lula: aumône
d’Etat ou droits sociaux? Problèmes d’Amérique latine, n. 63, mars 2007; Mondialisation, travail et genre:
une dialectique qui s’épuise, Cahiers du genre, n. 40, 21p. 2006.
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