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Sites dão dicas de história

 História da República do Brasil


Aqui você encontra todos os presidentes - eleitos, impostos ou depostos -, do marechal
Deodoro da Fonseca a Luiz Inácio Lula da Silva, com dados fundamentais para a
compreensão do processo sucessório. Em português.

 A Concrete Curtain
O muro de Berlim, erguido em 1963, tinha 149 quilômetros de extensão e várias
pessoas morreram ao tentar atravessá-lo. Este site traz vários outros fatos sobre um dos
maiores marcos da Guerra Fria. Em inglês.

 African History
Site mais que completo sobre a história do continente africano, com imagens, programa
de busca e textos interessantíssimos. Ideal para aqueles que querem ir além da África
escravizada do século 16. Em inglês.

 Amnesty International
Neste mundo sem fronteiras, milhares de pessoas estão abandonando seus lares por puro
medo. Entenda as causas e engaje-se na solução do problema dos refugiados no site
oficial da Anistia Internacional. Em inglês.

 City of Bits
A revolução dos computadores afetou bem mais que as próprias máquinas. Conheça um
pouco desse processo no livro "City of Bits", uma das obras de referência sobre o
assunto. Em inglês.

 Historical Map Web Sites


Localize o fato histórico no espaço geográfico. Este site oferece centenas de mapas
divididos pelos cinco continentes e o espaço sideral. Use e abuse! Com índice em
inglês.

 Information on the History of Bosnia-Herzegovina


Entenda melhor o conflito da Bósnia-Herzegovina com o auxílio deste mais que
completo site. Você vai acabar concordando com a romancista portuguesa Agustina
Bessa-Luís, que afirma: "cada gesto leva mais de cem anos para ser formado". Em
inglês.

 NetHistória
Este site reuniu artigos sobre história do Brasil e história geral, além de um banco de
biografias e arquivos de sons - há trechos de discursos famosos e até mesmo jingles de
campanhas políticas. Ele também possui transcrições de documentos de valor histórico,
como a carta de Pero Vaz de Caminha e a Lei Áurea. Em português.

 Person fo the Century Poll


A revista "Time" organizou uma pesquisa para eleger as personalidades que marcaram
este século. Algumas das categorias são "Líderes e Revolucionários" e "Cientistas e
Pensadores". Não deixe de votar. Em inglês.

 QTVR Submarine Tour


Subir periscópio, lançar torpedos! Conheça o interior de um submarino U2540, usado
na Segunda Guerra pela Alemanha. O único porém é que alguns textos estão em
alemão, mas isso não tira a graça do passeio. Para ver as imagens em três dimensões é
preciso ter o plug-in QuickTime instalado.

 The War Times Journal


Interessado nas guerras que ajudaram a moldar nosso mundo? Este site é uma
verdadeira radiografia dos conflitos fundamentais. Você pode inclusive participar de
jogos que recriam os ambientes dos combates. Em inglês.

 This day in history


O History Channel colocou neste site boa parte do conteúdo veiculado nos programas
de TV. Aqui é possível saber quais os acontecimentos históricos do dia e que fatos
marcaram a data no mercado financeiro, na indústria automotiva e na Guerra Civil
Norte-Americana. De quebra, o internauta pode procurar por eventos importantes
escolhendo datas. Experimente saber o que marcou a história no dia do seu aniversário.
Em inglês.

 Vietnam Portfolio
Coletânea contundente sobre a pedra no sapato norte-americano: a Guerra do Vietnã.
Fotos, depoimentos, história e interpretação. Em inglês.

 Women In American History


Tirada dos arquivos da "Encyclopaedia Brittanica", a linha do tempo deste site mostra
todas as mulheres que ajudaram a construir a história norte-americana. Referência
básica para aquelas que acreditam que há vida além do fogão. Em inglês

Regime militar (1964-1985)


Da Página 3 Pedagogia & Comunicação
Entre 31 de março e 1º de abril de 1964, o presidente João Goulart - que havia assumido
a presidência após a renúncia de Jânio Quadros, em 1961 - foi destituído do poder pelos
militares, apoiados não só pelas classes conservadoras ou pela elite, mas também por
amplos setores das classes médias, descontentes com a crescente influência política de
lideranças sindicais esquerdistas no governo federal.

A sublevação militar partiu de vários pontos do país. No dia 1º de abril, Goulart


abandonou o poder, ordenou a cessação de toda e qualquer resistência e seguiu para o
exílio no Uruguai.

Depois de quinze dias em que a presidência foi ocupada pelo presidente Câmara dos
Deputados, Pascoal Ranieri Mazzilli (sob a tutela do alto comando revolucionário),
assumiu o poder o chefe do Estado Maior do Exército, general Humberto de Alencar
Castelo Branco.

1) Governo Humberto de Alencar Castelo Branco

 abril de 1964 a julho de 1967;


 suspensão dos direitos políticos dos cidadãos;
 cassação de mandatos parlamentares;
 eleições para governadores passam a ser indiretas;
 dissolução dos partidos políticos e criação da Aliança Renovadora Nacional (Arena),
que reuniu os governistas, e do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que reuniu
as oposições.
 nova Constituição entrou em vigor (janeiro de 1967);
 proibição de greves.

2) Governo Arthur da Costa e Silva

 março de 1967 a agosto de 1969;


 enfrentamento da reorganização política dos setores oposicionistas;
 radicalização das medidas repressivas (promulgação do Ato Institucional nº 5);
 Costa e Silva foi afastado por motivos de saúde e substituído, durante dois meses, por
uma junta militar.

3) Governo Emílio Garrastazu Médici

 novembro de 1969 a março de 1974;


 o mais repressivo do período ditatorial;
 organizações clandestinas de esquerda foram dizimadas;
 "milagre econômico": fase áurea de desenvolvimento do país, com recursos
investidos em infra-estrutura;
 crescimento da dívida externa.

4) Governo Ernesto Geisel

 março de 1974 a março de 1979;


 crise mundial do petróleo, recessão mundial, escassez de investimentos estrangeiros
no país;
 MDB consegue expressiva vitória nas eleições gerais de 1974;
 início da distensão lenta e gradual;
 militares extremistas ofereceram resistência à política de liberalização;
 revogação do AI-5 e restauração do habeas corpus.

5) Governo João Baptista de Oliveira Figueiredo

 março de 1979 a março de 1985;


 aceleração do processo de liberalização política (aprovação da Lei de Anistia);
 restabelecimento do pluripartidarismo;
 resistência de militares extremistas;
 aumento dos índices de inflação;
 recessão;
 movimento Diretas Já;
 Colégio Eleitoral (formado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal)
escolheu o deputado Tancredo Neves como sucessor, que veio a falecer. Em seu lugar
assumiu o vice-presidente, José Sarney.

Breve história do regime militar


Renato Cancian*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
As intervenções militares foram recorrentes na história da república brasileira. Antes de
1964, porém, nenhuma dessas interferências resultou num governo presidido por
militares. Em março de 1964, contudo, os militares assumiram o poder por meio de um
golpe e governaram o país nos 21 anos seguintes, instalando um regime ditatorial.

A ditadura restringiu o exercício da cidadania e reprimiu com violência todos os


movimentos de oposição. No que se refere à economia, o governo colocou em prática
um projeto desenvolvimentista que produziu resultados bastante contraditórios, tendo
em vista que o país ingressou numa fase de industrialização e crescimento econômico
acelerados, sem beneficiar, porém, a maioria da população, em particular a classe
trabalhadora.

Antecedentes do golpe

Os militares golpistas destituíram do poder o presidente João Goulart, que havia


assumido a presidência após a inesperada renúncia de Jânio Quadros, em 1961. Sua
posse foi bastante conturbada e só foi aceita pelos militares e pelas elites conservadoras
depois da imposição do regime parlamentarista. Essa fórmula política tinha como
propósito limitar as prerrogativas presidenciais, subordinando o Poder Executivo ao
Legislativo. Goulart, contudo, manobrou politicamente e conseguiu aprovar um
plebiscito, cujo resultado restituiu o regime presidencialista.

O presidente, entretanto, continuou a não dispor de uma base de apoio parlamentar que
fosse suficiente para aprovar seus projetos de reforma política e econômica. A saída
encontrada por Goulart foi a de pressionar o Congresso Nacional por meio de constantes
mobilizações populares, que geraram inúmeras manifestações públicas em todo o país.

Ao mesmo tempo, a situação da economia se deteriorou, provocando o acirramento dos


conflitos de natureza classista. Todos esses fatores levaram, de forma conjunta, a uma
enorme instabilidade institucional, que acabou por dificultar a governabilidade.

Nessa conjuntura, o governo tentou mobilizar setores das Forças Armadas, como forma
de obter apoio político, mas isso colocou em risco a hierarquia entre os comandos
militares e serviu como estímulo para o avanço dos militares golpistas.

Em 1964, a sociedade brasileira se polarizou. As classes médias, as elites agrárias e os


industriais se voltaram contra o governo e abriram caminho para o movimento dos
golpistas.

Os governos militares

 Governo Castello Branco (abril de 1964 a julho de 1967):

O marechal Humberto de Alencar Castello Branco esteve à frente do primeiro governo


militar e deu início à promulgação dos Atos Institucionais. Entre as medidas mais
importantes, destacam-se: suspensão dos direitos políticos dos cidadãos; cassação de
mandatos parlamentares; eleições indiretas para governadores; dissolução de todos os
partidos políticos e criação de duas novas agremiações políticas: a Aliança Renovadora
Nacional (Arena), que reuniu os governistas, e o Movimento Democrático Brasileiro
(MDB), que reuniu as oposições consentidas.

Em fins de 1966, o Congresso Nacional foi fechado, sendo imposta uma nova
Constituição, que entrou em vigor em janeiro de 1967. Na economia, o governo
revogou a Lei de Remessa de Lucros e a Lei de Estabilidade no Emprego, proibiu as
greves e impôs severo controle dos salários. Castelo Branco planejava a transferir o
governo aos civis no final de seu mandato, mas setores radicais do Exército impuseram
a candidatura do marechal Costa e Silva.

 Governo Costa e Silva (março de 1967 a agosto de 1969):

O marechal Arthur da Costa e Silva enfrentou a reorganização política dos setores


oposicionistas, greves e a eclosão de movimentos sociais de protesto, entre eles o
movimento estudantil universitário. Também neste período os grupos e organizações
políticas de esquerda organizaram guerrilhas urbanas e passaram a enfrentar a ditadura,
empunhando armas, realizando sequestros e atos terroristas. O governo, então,
radicalizou as medidas repressivas, com a justificativa de enfrentar os movimentos de
oposição.

A promulgação do Ato Institucional nº 5 (AI-5), em dezembro de 1968, representou o


fechamento completo do sistema político e a implantação da ditadura. O AI-5 restringiu
drasticamente a cidadania, pois dotou o governo de prerrogativas legais que permitiram
a ampliação da repressão policial-militar.

Suprimidos os direitos políticos, na área econômica o novo presidente flexibilizou a


maioria das medidas impopulares adotadas por seu antecessor. Costa e Silva não
conseguiu terminar seu mandato devido a problemas de saúde. Afastado da presidência,
os militares das três armas formaram uma junta governativa de emergência, composta
pelos três ministros militares: almirante Augusto Rademaker, da Marinha; general Lira
Tavares, do Exército; e brigadeiro Sousa e Melo, da Aeronáutica.

Ao término do governo emergencial, que durou de agosto a outubro de 1969, o general


Médici foi escolhido pela Junta Militar para assumir a presidência da República.

 Governo Médici (novembro de 1969 a março de 1974):

O general Emílio Garrastazu Médici dispôs de um amplo aparato de repressão policial-


militar e de inúmeras leis de exceção, sendo que a mais rigorosa era o AI-5. Por esse
motivo, seu mandato presidencial ficou marcado como o mais repressivo do período da
ditadura. Exílios, prisões, torturas e desaparecimentos de cidadãos fizeram parte do
cotidiano de violência repressiva imposta à sociedade.

Siglas como Dops (Departamento de Ordem Política e Social) e Doi-Codi


(Destacamento de Operações e Informações-Centro de Operações de Defesa Interna)
ficaram conhecidas pela brutal repressão policial-militar. Com a censura, todas as
formas de manifestações artísticas e culturais sofreram restrições. No final do governo
Médici, as organizações de luta armada foram dizimadas.

Na área econômica, o governo colheu os frutos do chamado "milagre econômico", que


representou a fase áurea de desenvolvimento do país, obtido por meio da captação de
enormes recursos e de financiamentos externos. Todos esses recursos foram investidos
em infra-estrutura: estradas, portos, hidrelétricas, rodovias e ferrovias expandiram-se e
serviram como base de sustentação do vigoroso crescimento econômico. O PIB
(Produto Interno Bruto) chegou a crescer 12% ao ano e milhões de empregos foram
gerados.

A curto e médio prazo, esse modelo de desenvolvimento beneficiou a economia, mas a


longo prazo o país acumulou uma dívida externa cujo pagamento (somente dos juros)
bloqueou a capacidade de investimento do Estado. A estabilidade política e econômica
obtida no governo Médici permitiu que o próprio presidente escolhesse seu sucessor: o
general Ernesto Geisel foi designado para ocupar a Presidência da República.

 Governo Geisel (março de 1974 a março de 1979):

O governo do general Ernesto Geisel coincidiu com o fim do milagre econômico. O


aumento vertiginoso dos preços do petróleo, principal fonte energética do país, a
recessão da economia mundial e a escassez de investimentos estrangeiros interferiram
negativamente na economia interna.

Na área política, Geisel previu dificuldades crescentes e custos políticos altíssimos para
a corporação militar e para o país, caso os militares permanecessem no poder
indefinidamente. Ademais, o MDB conseguiu expressiva vitória nas eleições gerais de
novembro de 1974, conquistando 59% dos votos para o Senado, 48% da Câmara dos
Deputados e as prefeituras da maioria das grandes cidades. Por essa razão, o presidente
iniciou o processo de distensão lenta e gradual em direção à abertura e à
redemocratização.

Não obstante, militares radicais (denominados pelos historiadores como a "linha dura"),
que controlavam o sistema repressivo, ofereceram resistência à política de liberalização.
A ação desses militares gerou graves crises institucionais e tentativas de deposição do
presidente.

Os casos mais notórios de tentativas de desestabilizar o governo ocorreram em São


Paulo, quando morreram, sob tortura, o jornalista Vladimir Herzog e o operário Manoel
Fiel Filho.

O conflito interno nas Forças Armadas, decorrente de divergências com relação à


condução do Estado brasileiro, esteve presente desde a tomada do poder pelos militares
até o fim da ditadura.

No entanto, Geisel conseguiu superar todas as tentativas de desestabilização do seu


governo. O golpe final contra os militares radicais foi dado com a exoneração do
ministro do Exército, general Sílvio Frota.

Ao término do mandato de Geisel, a sociedade brasileira tinha sofrido muitas


transformações. A repressão havia diminuído significativamente; as oposições políticas,
o movimento estudantil e os movimentos sociais começaram a se reorganizar. Em 1978,
o presidente revogou o AI-5 e restaurou o habeas corpus. Geisel conseguiu impor a
candidatura do general João Batista Figueiredo para a sucessão presidencial.
 Governo Figueiredo (março de 1979 a março de 1985):

João Baptista de Oliveira Figueiredo foi o último general presidente, encerrando o


período da ditadura militar, que durou mais de duas décadas.

Figueiredo acelerou o processo de liberalização política e o grande marco foi a


aprovação da Lei de Anistia, que permitiu o retorno ao país de milhares de exilados
políticos e concedeu perdão para aqueles que cometeram crimes políticos. A anistia foi
mútua, ou seja, a lei também livrou da justiça os militares envolvidos em ações
repressivas que provocaram torturas, mortes e o desaparecimento de cidadãos. O
pluripartidarismo foi restabelecido. A Arena muda a sua denominação e passa a ser
PDS; o MDB passa a ser PMDB. Surgem outros partidos, como o Partido dos
Trabalhadores (PT) e o Partido Democrático Trabalhista (PDT).

O governo também enfrentou a resistência de militares radicais, que não aceitavam o


fim da ditadura. Essa resistência tomou a forma de atos terroristas. Cartas-bombas eram
deixadas em bancas de jornal, editoras e entidades da sociedade civil (Igreja Católica,
Ordem dos Advogados do Brasil, Associação Brasileira de Imprensa, entre outras). O
caso mais grave e de maior repercussão ocorreu em abril de 1981, quando uma bomba
explodiu durante um show no centro de convenções do Rio Centro. O governo, porém,
não investigou devidamente o episódio.

Na área econômica, a atuação do governo foi medíocre, os índices de inflação e a


recessão aumentaram drasticamente.

No último ano do governo Figueiredo surgiu o movimento das Diretas Já, que
mobilizou toda a população em defesa de eleições diretas para a escolha do próximo
presidente da República. O governo, porém, resistiu e conseguiu barrar a Lei Dante de
Oliveira. Desse modo, o sucessor de Figueiredo foi escolhido indiretamente pelo
Colégio Eleitoral, formado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. Em 15
de janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral escolheu o deputado Tancredo Neves como
novo presidente da República. Tancredo derrotou o deputado Paulo Maluf. Tancredo
Neves, no entanto, adoeceu e morreu. Em seu lugar, assumiu o vice-presidente, José
Sarney.

Quadro apresenta principais fatos entre 1964 e 1985


Da Página 3 Pedagogia & Comunicação
Em 31 de março um golpe político-militar depõe João
Goulart da Presidência da República. O Ato Instiucional nº 1
1964
suspende os direitos políticos de centenas de pessoas. O
general Castelo Branco toma posse como presidente.
Extinguem-se os partidos políticos existentes e institui-se o
bipartidarismo, com a Aliança Renovadora Nacional (Arena),
1965
de apoio ao governo, e o MDB (Movimento Democrático
Brasileiro), de oposição.
Suspensas as eleições diretas para cargos executivos.
1966 Vários deputados federais são cassados. O Congresso, ao
protestar, é posto em recesso por um mês.
O marechal Costa e Silva toma posse na Presidência da
1967 República. Líderes da oposição organizam uma frente ampla
contra o governo militar.
Oposição é reprimida com violência. O Ato Institucional nº 5
1968 marca o endurecimento do regime, agora abertamente
ditatorial.
Costa e Silva é afastado por motivo de saúde. Uma junta dos
ministros militares assume provisoriamente o governo. A alta
1969
oficialidade das Forças Armadas escolhe o general
Garrastazu Médici para presidente.
A oposição ao regime se torna mais intensa, com guerrilhas
na cidade e no campo. Os militares reagem com violência.
1970
Nos "porões" da ditadura, passam a ocorrer mortes,
desparecimentos e torturas.
A repressão vence a guerrilha. O país experimenta um
momento de desenvolvimento econômico que ficou
1971- conhecido como "o milagre brasileiro". A economia cresceu,
1973 mas em detrimento da preservação ambiental e com o
aumento da dependência do petróleo importado e do capital
externo.
O general Ernesto Geisel assume a presidência, enquanto o
1974 MDB conquista uma vitória expressiva nas eleições
legislativas.
Geisel representa a ala moderada dos militares e tenta
promover uma abertura, enfrentando seus próprios pares. O
1975-
crescimento econômico se mantém mas já há sinais de
1976
crise, proveniente sobretudo do aumento do preço petróleo e
da dívida externa.
A sociedade civil passa a reivindicar efetivamente a
1977
recuperação dos direitos democráticos.
1978 Fim do AI-5. A abertura política progride lentamente.
O general João Batista Figueiredo assume a presidência.
1979 Aprovada a lei da anistia. Centenas de exilados retornam ao
país. O pluripartidarismo é restabelecido.
Agrava-se a crise econômica. Aumentam as greves e as
1980 manifestações de protesto. O PDS substitui a Arena e o
PMDB o MDB. Fundam-se o PDT e o PTB.
Continuam os conflitos internos entre a ala radical e a ala
moderada das forças armadas. Figueiredo tem um infarto e o
1981
poder fica nas mãos de um civil, Aureliano Chaves, durante
três meses.
Eleições diretas para governadores e prefeitos, com vitória
da oposição em Estados como São Paulo, Minas Gerais e
1982-
Rio de Janeiro. O PT obtem seu registro na Justiça Eleitoral.
1983
Sem condições de pagar aos credores externos, o Brasil vai
ao FMI.
Uma campanha por eleições diretas para presidente da
República agita o país. Emenda à Constituição é votada com
1984
esse objetivo, mas não consegue ser aprovada no
Congresso. O fim do regime militar é iminente.
Indiretamente, o civil e oposionista Tancredo Neves é eleito
1985 presidente da República. No entanto, com sua morte anterior
à posse, assume seu vice, José Sarney.
Democracia de mentira
Renato Cancian*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

O marechal Castello Branco, primeiro presidente depois do movimento militar


O golpe militar de 1964 pôs fim a primeira experiência de regime democrático no
Brasil. Ao contrário das outras intervenções militares na política ocorridas em
momentos de crises institucionais vivenciadas pelo país - nas quais os militares
depuseram presidentes e logo em seguida entregaram o poder aos civis, ou agiram como
árbitro na defesa das regras constitucionais ou ainda visando seus interesses (como em
1930, 1937, 1945, 1954, 1955, 1961) -, desta vez os militares assumiram diretamente o
governo. Por 21 anos os generais se sucederam na presidência da República.

O regime pós 64 se transformou numa ditadura altamente repressiva, que usou da


prática de tortura e assassinatos de cidadãos para neutralizar e eliminar os opositores
políticos e os grupos subversivos. A ditadura remodelou as instituições políticas e a
economia do país.

Na política, o período foi marcado pela centralização do poder a partir do fortalecimento


do poder Executivo Federal que exerceu amplo controle sobre os poderes Legislativo e
Judiciário.

Foram também estabelecidas rígidas regras para o exercício da oposição política, e


eleições indiretas para os cargos de governador e presidente da República. Na área
econômica, o governo incentivou os investimentos estrangeiros no país, estímulou as
exportações e a ampliação do crédito ao consumidor.

Os Atos Institucionais

Nos primeiros anos após o golpe, que coincide com o mandato presidencial do marechal
Humberto Castello Branco (1964-1967), nem as oposições democráticas e nem mesmo
os grupos políticos e segmentos sociais que integravam a aliança golpista que depôs
Jango (inclusive os próprios militares), tinham absoluta clareza dos rumos a serem
imprimidos à política nacional.

A expectativa geral era de que a intervenção militar na política fosse breve e que, em
pouco tempo, o regime democrático seria restabelecido. Mas isso não ocorreu. Os
militares se sucederam no governo e consolidaram sua posição no poder através de atos
institucionais, que foram leis discricionárias promulgadas para sustentar todas as
mudanças e medidas políticas colocadas em prática durante o período.

Em comparação com outras ditaduras militares que se estabeleceram em toda a América


Latina, nas décadas de 1960 e 1970, a ditadura militar brasileira procurou legitimar-se
politicamente por meio de atitudes pseudodemocráticas. O fato de o Congresso
Nacional manter-se aberto e em funcionamento fez parte da estratégia dos militares de
permanecerem no poder e mascarar a feição autoritária do regime.

Depois de terem expurgado do Legislativo todos os políticos vinculados ao governo de


Jango, os militares fizeram algumas articulações políticas que possibilitaram que o
Congresso Nacional referendasse o nome do marechal Humberto Castello Branco como
presidente da República, em 11 de abril de 1964.

Operação limpeza

Indicado como presidente da República pela junta militar golpista, o marechal


Humberto Castello Branco era considerado um militar de tendência moderada. Em seu
governo, porém, Castello Branco foi pressionado por militares direitistas radicais para
realizar uma série de Inquéritos Policiais Militares (IPMs).

Os IPMs tiveram por objetivo punir todos os cidadãos que tivessem vínculos políticos
com o governo deposto de Jango ou que passaram a fazer parte dos movimentos de
oposição ao novo regime. As greves foram proibidas e houve intervenção
governamental em praticamente todos os sindicatos trabalhistas.

Importantes organizações, como a União Nacional dos Estudantes (UNE) e inúmeras


outras entidades da sociedade civil, também sofreram intervenção ou foram
completamente desarticuladas. Milhares de funcionários públicos, ligados à burocracia
militar e civil foram aposentados. Na área política, houve centenas de cassações de
mandatos de parlamentares e suspensão dos direitos políticos.

Medidas repressivas

É recorrente nos estudos sobre o período inicial da ditadura militar, a interpretação das
ações governamentais no campo da política institucional como reações diante da
reorganização das oposições políticas. Assim, a vitória de políticos da oposição nas
eleições para governador (nos estados de Minas Gerais e Guanabara), em 1965, é
apontada como o principal motivo da adoção de novas medidas repressivas por parte do
governo.

Em outubro de 1965, Castello Branco assinou o Ato Institucional nº 2 (AI-2), que


ampliou significativamente o poder do Executivo Federal e estabeleceu eleições
indiretas para presidente da República. Em seguida foi promulgado o AI-3, que
extinguiu todos os partidos políticos e estabeleceu eleições indiretas para os governos
dos estados. Com essas medidas, tem início o estabelecimento do bipartidarismo, com a
criação de duas agremiações políticas: ARENA e MDB.

O bipartidarismo
A Aliança Nacional Renovadora (ARENA) foi o partido da situação, ou seja, integrou
políticos que apoiavam o governo e o regime ditatorial. O Movimento Democrático
Brasileiro (MDB) foi o partido que atuou como oposição consentida. A adoção do
bipartidarismo foi mais um artifício da ditadura militar brasileira a fim de dotar de
feições democráticas o regime autoritário vigente.

Desse modo, existiu oposição, mas ela atuou dentro dos estritos limites impostos pelo
governo dos generais. Ou seja, o tipo de oposição que era praticado pelo MDB não
ameaçou o poder dos militares e nem mesmo a manutenção da ditadura.

Castello Branco também promulgou o AI-4, obrigando o Congresso a discutir e aprovar


uma nova Constituição com características autoritárias. No último ano de seu mandato,
em 1967, o presidente também promulgou uma nova Lei de Segurança Nacional (LSN).
Com o pretexto de defesa da segurança nacional, essa Lei se transformou num poderoso
instrumento de controle e vigilância política sobre todos os setores da sociedade civil.
Severas punições foram estabelecidas aos transgressores da LSN.

Diretrizes econômicas

No governo Castello Branco, o ministro do Planejamento, Roberto Campos, adotou uma


política econômica antiinflacionária que causou desemprego e provocou arrocho salarial
(diminuição dos salários). De 1964 a 1967, centenas de pequenas empresas decretaram
falência. A longo prazo, a política econômica da ditadura militar, colocada parcialmente
em prática no início do governo Castello Branco, atendeu aos interesses das classes e
grupos sociais que integravam a aliança golpista (burguesia industrial, elites rurais).

O governo incentivou os investimentos estrangeiros no país, as exportações e a


produção interna de bens duráveis (imóveis, automóveis, eletrodomésticos). O mercado
consumidor se ampliou, mas só quem se beneficiou do consumo da produção industrial
de bens duráveis foram as classes médias e os mais ricos. A concentração de renda
impediu que as classes populares se beneficiassem do desenvolvimento e crescimento
econômico.

A sucessão presidencial

Para suceder Castello Branco, a junta de generais que integravam o Comando Supremo
da Revolução, indicou o nome do marechal Costa e Silva para presidente da República.
Dentro do Exército, o marechal Costa e Silva era um militar de tendências radicais.
Durante o governo de Castello Branco, Costa e Silva pressionou o presidente para que
tomasse medidas repressivas mais rígidas contra a oposição e setores sociais que
começaram a se reorganizar.

Castello Branco foi categoricamente contra a indicação de Costa e Silva para sucedê-lo
na presidência da República, mas não teve condições de conter os setores radicais
dentro das forças armadas. No Congresso Nacional, ocorreu mais uma vez a encenação
do referendo, elegendo indiretamente Costa e Silva para o cargo de presidente.

AI-5 institucionaliza a ditadura


Renato Cancian*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Um derrame cerebral impediu o marechal Costa e Silva de completar seu mandato


O governo Costa e Silva se caracterizou pelo avanço do processo de institucionalização
da ditadura. O que era um regime militar difuso transformou-se numa ditadura feroz que
eliminou o restava das liberdades públicas e democráticas.

Costa e Silva assumiu a presidência da República e imediatamente foi intensificando a


repressão policial-militar contra todos os movimentos, grupos e focos de oposição
política.

Ao longo de seu mandato presidencial, Costa e Silva acenou com a possibilidade de


retorno a normalidade institucional, ou seja, a volta da democracia. Mas o presidente
justificou a permanência dos militares no poder e a gradual radicalização do regime
como uma resposta diante do avanço das oposições.

Os movimentos e grupos de oposição, por outro lado, responsabilizaram o próprio


governo pela situação de instabilidade política vivenciada pelo país. Havia três
principais focos de oposição que incomodaram o governo Costa e Silva.

A Frente Ampla

O primeiro foco de oposição era composto por políticos influentes. O presidente


deposto, João Goulart, que se encontrava exilado no Uruguai, e o ex-presidente
Juscelino Kubitschek articularam o movimento de oposição chamado de Frente Ampla.
A Frente Ampla ganhou adeptos até mesmo entre os políticos que haviam apoiado o
golpe militar de 1964, mas que entraram em discordância com o governo diante dos
rumos da política nacional.

Entre esses políticos, estavam Magalhães Pinto, Adhemar de Barros e Carlos Lacerda.
A Frente Ampla pressionou o governo reivindicando anistia, uma assembléia
constituinte e eleições diretas para governador de estado e presidente da República. As
lideranças políticas da Frente Ampla procuraram também obter o apoio popular
articulando-se aos mais importantes sindicatos trabalhistas.

Os grupos e organizações de esquerda


O segundo foco de oposição ao regime militar era composto por vários grupos e
organizações políticas de esquerda. Após o golpe militar de 1964, o Partido Comunista
Brasileiro (PCB) sofreu uma série de dissensões dando origem a inúmeros outros
grupos e organizações de esquerda. Esses grupos e organizações defendiam um projeto
revolucionário socialista para o país em substituição ao sistema capitalista vigente.

Enquanto o PCB defendia o caminho pacífico para a implantação do socialismo no país


(por meio de reformas estruturais), os grupos e organizações de esquerda dissidentes
defendiam o emprego da guerra revolucionária, ou seja, a chamada "luta armada", para
derrubar a ditadura militar e em seguida implantar o socialismo.

As esquerdas armadas constituiram núcleos guerrilheiros urbanos e passaram a atuar por


meio de atos terroristas: seqüestros, atentados, assaltos a bancos. Justificaram a prática
do terrorismo como resposta conseqüente diante da repressão policial-militar
desencadeada pelo estado militarizado.

O movimento estudantil

O terceiro foco de oposição atuante no período do governo Costa e Silva provinha do


meio universitário. Na década de 1960, a progressiva expansão do sistema de ensino
superior público ocasionou o aumento das vagas nas universidades e consequente
crescimento do número de estudantes universitários.

Organizados, os estudantes universitários brasileiros constituíram um importante


movimento estudantil que influenciou o cenário da política nacional. As lideranças
estudantis eram adeptos das ideologias de esquerda. Por conta disso, depois do golpe
militar de 1964 o governo desarticulou e colocou na ilegalidade a mais importante
entidade estudantil, a União Nacional dos Estudantes (UNE).

A UNE atuou na coordenação e direção do movimento estudantil em âmbito nacional.


Mesmo na ilegalidade, as lideranças estudantis mantiveram a UNE em funcionamento e
tentaram reorganizar o movimento estudantil. As maiores passeatas e protestos de rua
contra o governo de Costa e Silva foram promovidos pelo movimento estudantil.

A radicalização: o AI-5

A atuação dos movimentos oposicionistas chegou ao auge no ano de 1968. A Frente


Ampla promovia comícios, passeatas e reuniões e havia ampliado suas bases de apoio
conseguindo adesão até mesmo de setores das Forças Armadas. Por outro lado, o
movimento estudantil começou a se reorganizar.

Além da exigência de retorno a democracia, os estudantes passaram a se opor à política


educacional do governo, que havia realizado um acordo de cooperação com o governo
norte-americano, conhecido como o acordo MEC-USAID (siglas que representam o
Ministério da Educação e Cultura brasileiro em associação com o Programa Norte-
Americano de Assistência aos países pobres).

Os estudantes promoveram inúmeros atos e protestos públicos contra o que chamavam


de interferência dos Estados Unidos no sistema educacional brasileiro. Em 26 de junho,
a UNE promove a passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro, movimento que
representou o auge da atuação do movimento estudantil.

Com relação às esquerdas armadas, a proliferação e atuação dos grupos e organizações


guerrilheiras nos grandes centros urbanos atraíram a atenção dos militares radicais que
pressionaram o governo para tomar medidas repressivas mais ostensivas.

Ditadura escancarada

O presidente Costa e Silva reagiu a todas essas pressões oposicionistas fechando o


Congresso Nacional e editando o Ato Institucional nº 5 (AI-5). Com a edição do AI-5, a
ditadura militar se institucionalizou. O AI-5 foi o instrumento jurídico que suspendeu
todas as liberdades democráticas e direitos constitucionais, permitindo que a polícia
efetuasse investigações, perseguições e prisões de cidadãos sem necessidade de
mandato judicial.

A suspensão de todas as garantias constitucionais e individuais aos cidadãos brasileiros


acarretou graves abusos e violações dos direitos humanos por parte dos órgãos oficiais
encarregados da segurança e repressão política.

O mandato de Costa e Silva como presidente da República foi interrompido por uma
grave doença: um derrame cerebral. Impossibilitado de governar, os militares decidiram
que o vice-presidente, o civil Pedro Aleixo, não deveria assumir a presidência. O Alto
Comando das Forças Armadas organizou uma Junta Militar governativa, formada pelos
três ministros militares (Exército, Aeronáutica e Marinha) que assumiu provisoriamente
o governo.

Mas a solução definitiva para a crise institucional aberta com o afastamento do


presidente Costa e Silva foi encontrada com a escolha de um general para um novo
mandato governamental. O escolhido foi o general Emílio Garrastazu Médici.

Governo Médici (1969-1974)

"Milagre econômico" e a tortura oficial


Renato Cancian*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

O retrato oficial do general presidente


Os oficiais generais que lideraram o golpe de 1964 e permaneceram 21 anos no poder,
justificaram o regime militar como medida adequada para solucionar as crises de instabilidade
governamental do período democrático-populista.

Os militares golpistas concebiam a democracia representativa e multipartidária brasileira, em


vigor no período populista, como a principal causa dos conflitos políticos que desestabilizaram
os respectivos governos eleitos.

Descrentes do sistema democrático num país em desenvolvimento, os militares acreditavam


que um regime de força, cerceador das liberdades políticas e constitucionais, fosse mais
adequado às condições de um país como o Brasil.

Não obstante, a ditadura militar revelou-se um regime extremamente "anárquico". A anarquia


provinha da caserna, isto é, da própria instituição militar representada pelos oficiais da ativa.
Nos mandatos presidenciais de Castello Branco, Costa e Silva e da Junta militar, a desordem e
as conspirações militares desestabilizaram os governos.

Estabilidade política

O próprio Costa e Silva liderou conspirações contra o governo de seu antecessor, Castello
Branco. A cada escolha de um general para ocupar a presidência, abria-se uma grave crise
institucional.

O breve período de cinco anos que corresponde ao mandato do presidente Médici foi o único
momento em que o regime conquistou estabilidade política. Médici conseguiu apaziguar os
quartéis ao permitir que as aspirações e interesses dos militares direitistas radicais, que
defendiam o emprego sistemático da repressão policial-militar contra todos os opositores da
ditadura, se expressassem em seu governo.

Por esse motivo o governo Médici correspondeu ao período da maior onda de repressão
política da história do país.

O "milagre econômico"

O desenvolvimento e crescimento econômico advindos da estabilização da econômia também


contribuiram para estabilidade governamental. O governo Médici entrou para a história como
o período onde se registraram os maiores índices de desenvolvimento e crescimento
econômico do país.

Entre 1969 e 1973, a economia brasileira registrou taxas de crescimento que variavam entre 7
e 13 por cento ao ano. O setor industrial se expandia e as exportações agrícolas aumentaram
significativamente gerando milhões de novos postos de trabalho. A oferta de emprego
aumentou de tal modo que os setores industriais mais dinâmicos concorriam na contratação
de trabalhadores assalariados.
A fim de sustentar e ampliar o desenvolvimento e crescimento da economia, o governo
investiu grandes somas de recursos financeiros em infraestrutura (construção de grandes
estradas, pontes, hidrelétricas, etc.). A maior parte desses recursos financeiros eram
provenientes de empréstimos estrangeiros.

Euforia e ufanismo
Por outro lado, recursos enérgicos como o petróleo, comprado a preços baixos dos países
exportadores, impulsionava ainda mais a economia nacional. Regiões pouco conhecidas e
habitadas do país, como a Amazônia e a Região Centro-Oeste, receberam estimulo
governamental para serem exploradas economicamente.

Esse período de prosperidade da economia brasileira ficou conhecido como o "milagre


econômico". O "milagre" gerou um clima de euforia e ufanismo geral na sociedade. A
propaganda oficial do governo elaborou slogans que expressavam nitidamente o contexto da
época: são exemplos frases como "Ninguém mais segura este país", ou ainda, "Brasil, ame-o ou
deixe-o".

Fim da prosperidade
O governo Médici vangloriava-se do "milagre econômico" apontando-o como uma conquista
do regime militar. Porém, a fase de prosperidade da economia brasileira tinha muito mais
causas externas (internacionais) do que internas. Por isso, quando a situação da economia
mundial se tornou adversa, o "milagre" brasileiro chegou ao fim.

O "milagre econômico" teve um custo social e econômico altíssimo para o país. A brutal
concentração da renda impediu que as camadas populares melhorassem sua condição de vida.
As desigualdades sociais e a pobreza aumentaram neste período.

Por outro lado, o controle governamental dos sindicatos impediu a livre organização dos
trabalhadores e, consequentemente, a conquista de direitos e compensações salariais. Os
empréstimos estrangeiros geraram uma dívida externa tão elevada e custosa que bloqueou
por décadas o crescimento e desenvolvimento sustentável do país.

O sistema repressivo

Quando o presidente Médici assumiu o governo, todos os órgãos que compunham o sistema
repressivo da ditadura militar se encontravam em pleno funcionamento. De 1964 até 1968, o
trabalho de repressão política ficou sob exclusiva jurisdição civil, destacando-se neste período
as atuações do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) em cada estado, Secretarias
Estaduais de Segurança Pública (SESPs) e Departamento de Política Federal (DPF).

A partir de 1969, entraram em funcionamento os Centros de Informações de cada ramo das


Forças Armadas: CIE no Exército, SISA na Aeronáutica e CENIMAR na Marinha. Também foram
criados o Destacamento de Operações e Informações - Centro de Operações de Defesa Interna
(DOI-CODI) e de órgãos paramilitares clandestinos como a Organização Bandeirantes (OBAN).
Aliança Libertadora Nacional, Movimento Revolucionário 8 de outubro
(MR-8), Partido Comunista do Brasil, Vanguarda Armada
Revolucionária (VAR-Palmares)

Com o Ato Institucional nº 5, em vigor desde 1968, o sistema repressivo desencadeou ações
violentas contra todos os opositores do regime. O principal alvo da repressão policial-militar
foi direcionada contra as organizações guerrilheiras. Existiam muitas organizações armadas,
mas os principais grupos que atuaram neste período foram a Aliança Libertadora Nacional
(ALN), Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR-8), Partido Comunista do Brasil (PC do B),
Vanguarda Armada Revolucionária (VAR-Palmares).

Entre o fim da década de 1960 e início da década de 1970, as organizações guerrilheiras


realizaram ações espetaculares como assaltos a bancos para conseguir recursos financeiros,
seqüestros de embaixadores para serem trocados por presos políticos, atentados contra
autoridades e empresários. Tinham como objetivo derrubar a ditadura e instaurar um governo
revolucionário para o estabelecimento do socialismo no Brasil.

Porém, todas as organizações guerrilheiras urbanas foram destruídas ou completamente


desarticuladas. A maioria dos militantes dessas organizações morreu em combate com os
agentes dos órgãos de repressão. Aqueles que sobreviveram ficaram presos ou foram banidos
do país. O golpe final da ditadura contra as organizações armadas foi dado com a destruição da
Guerrilha do Araguaia, que havia sido promovida pelo PC do B.

A tortura

O aspecto mais desumano e cruel da repressão policial-militar foi, sem dúvida nenhuma, o
emprego da tortura como método para eliminar e neutralizar qualquer forma de oposição e
subversão ao governo dos generais. Diversos instrumentos e técnicas de castigos corporais e
psicológicos faziam parte dos métodos de ação dos agentes dos órgãos de repressão (choques
elétricos, pau-de-arara, afogamento, pancadas, queimaduras, etc).

Os governos militares negavam categoricamente a prática da tortura, mas ela era


sistematicamente utilizada como método para extrair confissões dos acusados ou suspeitos de
subversão.

A tortura foi institucionalizada no Brasil pela ditadura militar. Era uma prática revestida de
grande sofisticação. Existiam instalações e equipamentos apropriados para esse fim, além de
pessoal rigorosamente treinado que aplicava a tortura. Foi justamente durante o governo
Médici que foram registrados os maiores índices de emprego da tortura.

A sucessão presidencial

Médici foi escolhido presidente por indicação do Alto Comando das Forças Armadas. Porém, a
estabilidade política alcançada em seu governo determinou em grande medida que o próprio
presidente tivesse condições para indicar seu sucessor. Médici escolheu para sucedê-lo na
presidência da República, o general Ernesto Geise

Governo Geisel (1974-1979)

"Distensão", oposições e crise econômica


Renato Cancian*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

A posse do general Geisel


A estabilidade política alcançada no mandato de Médici possibilitou ao presidente indicar o
nome do seu sucessor. As eleições indiretas para presidente da República, realizadas no
Congresso Nacional não passavam de mera fachada com objetivo de encobrir o processo
eleitoral de natureza antidemocrática.

O governo dispunha de folgada maioria no Congresso Nacional. O partido governista, a Aliança


Renovadora Nacional (ARENA), controlava as duas casas legislativas: Senado e Camâra Federal.

Mesmo assim, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) que fazia o papel da oposição
"consentida" no período da ditadura, lançou uma candidatura de protesto com Ulisses
Guimarães, candidato a presidência; e Barbosa Lima Sobrinho, como vice-presidente.
Conforme o esperado, o Congresso Nacional referendou o nome de Ernesto Geisel como
presidente da República.

Distensão lenta, gradual e segura

Geisel assumiu o governo prometendo retorno à democracia por meio de um processo gradual
e seguro. Também denominado de "distensão", o projeto de redemocratização concebido por
Geisel previa a adoção de um conjunto de medidas políticas liberalizantes, cuidadosamente
controladas pelo Executivo Federal.
Isso incluía a suspensão parcial da censura prévia aos meios de comunicação e a revogação
gradativa de alguns dos mecanismos mais explícitos de coerção legal presentes no conjunto
das leis em vigor, que cerceavam as liberdades públicas e democráticas e os direitos
individuais e constitucionais.

É preciso salientar, porém, que o projeto de distensão não refletia a crença na democracia,
tanto por parte de Geisel como dos militares que participavam de seu governo. Na verdade, a
distensão era um projeto preconizado como uma "saída" para que as Forças Armadas se
retirassem do poder. Depois de 10 anos de ditadura militar, período em que três generais
governaram o país, as Forças Armadas se desgastaram.

Situação insustentável das Forças Armadas

A violência repressiva e o controle policial imposto sobre todos os setores da sociedade, além
da ausência de liberdades civis e públicas, haviam conduzido o país a uma situação
insustentável do ponto de vista da manutenção do regime de força que caracterizava a
ditadura militar.

Por outro lado, o fato de os militares terem assumido diretamente o governo, ocasionou uma
politização negativa dentro das Forças Armadas desvirtuando os propósitos constitucionais da
instituição militar. A "anarquia" e a "desordem", promovida por setores militares radicais,
permearam todos os governos da ditadura, e tinham sua origem justamente na politização no
interior da instituição militar.

Com base nessas considerações, é mais apropriado interpretar a distensão como um sinal da
impossibilidade dos militares de se manterem indefinidamente no poder. Porém, a distensão
foi concebida de modo que a saída dos militares do governo não deveria ameaçar a ordem
vigente e os interesses das classes dominantes.

De qualquer modo, no transcurso do mandato de Geisel, houve tentativas de golpe contra o


governo, promovidas por setores militares radicais que se posicionaram contrariamente ao
projeto de distensão. A maior ameaça ao projeto de redemocratização veio dos oficiais que
controlavam o aparato de repressão policial-militar.

Violência e violação dos direitos humanos

Quando Geisel assumiu a presidência da República, em março de 1974, a ditadura militar já


havia derrotado todas as organizações guerrilheiras armadas. Já não existia ameaça subversiva
ao regime proveniente das esquerdas armadas, mas mesmo assim o aparato repressivo
continuou funcionando.

O sucesso do projeto de liberalização política dependia em grande medida da contenção das


atividades dos órgãos de repressão policial-militar. Não obstante, as tentativas do governo de
conter a repressão esbarraram em reações articuladas de setores militares ligados aos órgãos
repressivos.
Interessados na manutenção de suas prerrogativas, os órgãos de repressão continuaram a
praticar ações violentas que geraram graves crises políticas chegando a ameaçar o mandato
presidencial de Geisel.

Para evitar crises políticas, Geisel fez concessões ao aparato repressivo ao impedir pressões
provenientes das oposições (em particular, do MDB, da Igreja Católica e também de setores da
imprensa) no sentido de cobrar do governo esclarecimentos sobre cidadãos mortos,
desaparecidos e torturas contra presos políticos.

Não obstante, em alguns episódios públicos de violações dos direitos humanos praticados
pelos agentes dos órgãos de repressão, Geisel tomou medidas enérgicas contra militares
radicais.

Vladimir Herzog e Manoel Fiel Filho

O episódio mais grave ocorrido no mandato de Geisel foi a morte sob tortura do jornalista
Vladimir Herzog, em outubro de 1975; no DOI-CODI do 2º. Exército em São Paulo. A morte de
Herzog gerou uma grande comoção social de segmentos da classe média. Políticos da
oposição, setores progressistas da Igreja católica, estudantes universitários e parte da
imprensa se aliaram e realizaram um culto ecumênico na Catedral da Sé, em São Paulo, com a
participação de milhares de pessoas.

Geisel nada fez neste caso para enquadrar e punir os responsáveis. Em janeiro de 1976, uma
outra morte, a do operário Manoel Fiel Filho; em condições idênticas a de Herzog, fez com que
Geisel destituísse do comando do 2º. Exército, general Ednardo D´Avilla Melo. A demissão
representou a primeira ofensiva governamental contra os militares radicais.

Mas o episódio que garantiu a supremacia do presidente da República sobre os setores


radicais que eram contrários ao projeto de liberalização ocorreu em outubro de 1977, com a
demissão do ministro do Exército, general Silvio Frota, que pretendia se impor como próximo
presidente da República.

Crise da economia

Em 1974, o ciclo de prosperidade da economia brasileira chegou ao fim. O grande salto


desenvolvimentista e o crescimento industrial e produtivo (o chamado "milagre econômico")
duraram enquanto as condições internacionais eram favoráveis.

Este ciclo se encerrou quando os empréstimos estrangeiros se tornaram mais escassos e


quando o preço do petróleo aumentou significativamente. A crise agravou-se. Setores da
burguesia industrial começaram a discordar dos rumos da política econômica. Em 1974,
industriais paulistas lideraram a campanha pela desestatização da economia a fim de que os
recursos que o governo destinava as empresas estatais fossem transferidos para o setor
privado.
Também na área sindical, o aumento do custo de vida e a contenção dos salarios aumentaram
o descontentamento dos trabalhadores. As greves estavam proibidas, o governo controlava os
sindicatos e determinava os reajustes salariais. O aumento dos salários nunca acompanhava a
inflação.

Neste contexto, o descontentamento dos trabalhadores foi se acumulando até que em 1978,
os operários metalúrgicos da região do ABCD paulista, desencadearam o maior ciclo grevista
da história do país. Não havia mais possibilidade de o governo conter as reivindicações dos
trabalhadores e as exigências dos industriais.

Reorganização das oposições

No transcurso do governo Geisel, diversos setores da sociedade brasileira começaram a se


reorganizar e se opor frontalmente à ditadura. O primeiro sinal de descontentamento popular
ocorreu com a vitória expressiva do MDB nas eleições legislativas de novembro de 1974.

Com 72% dos votos válidos, o MDB conseguiu eleger 16 senadores, e aumentar sua bancada
na Câmara Federal de 87 para 160 deputados. A vitória política do MDB, mesmo em condições
de ausência de regras democráticas, deixou claro que - se o processo eleitoral fosse livre - a
oposição conquistaria o poder.

Para evitar que o MDB avançasse nesta direção, em abril de 1977 o governo editou o Pacote
de Abril que alterava, entre outras coisas, as regras eleitorais em benefício do governo.

Movimento estudantil

Outro importante setor oposicionista se originou do movimento estudantil. A partir de 1975,


os estudantes universitários começaram a reconstruir as entidades e organizações estudantis
representativas. Até 1976, as atividades e manifestações estudantis se mantiveram restrita ao
interior das universidades. A partir de 1977, porém, os estudantes sairam as ruas promovendo
inúmeras passeatas, atos públicos e manifestações exigindo "liberdades democráticas".

Também devemos destacar a importante atuação da Igreja católica. Os setores progressistas


do clero católico sempre incomodaram os governos dos generais. Em pleno governo Médici,
influentes membros da hierarquia católica, como o cardeal-arcebispo de São Paulo, Dom Paulo
Evaristo Arns; e o bispo de Olinda e Recife, Dom Helder Câmara, entre outros, denunciaram
publicamente casos de tortura, desaparecimento de cidadãos e prisões políticas.

No governo Geisel, a oposição de setores da hierarquia católica contra a ditadura militar


cresceu significativamente. Já não era possível ao governo reprimir com desmesurada
violência os movimentos oposicionistas que afloravam.

A sucessão presidencial
Quando Geisel demitiu o ministro do Exército, general Sylvio Frota, em outubro de 1977, o
presidente reafirmou seu predomínio sobre os setores radicais das Forças Armadas que não
desejavam a redemocratização do país.

Para sucedê-lo na presidência da República, Geisel escolheu o general João Batista Figueiredo,
chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), comprometido com o projeto de liberalização
política. Figueiredo prosseguiu com a abertura política e redemocratização do país.

Governo Figueiredo (1979-1985)

Transição, Diretas já, Riocentro


Renato Cancian*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Comício da campanha Diretas Já levou 400 mil à Praça da Sé em São Paulo (SP)
Com a escolha do general João Baptista de Oliveira Figueiredo para governar o país, ficou
assegurada a continuidade do processo de abertura política. O mandato presidencial de
Figueiredo durou seis anos e encerrou 21 anos de ditadura militar no Brasil.

Ao longo do governo Figueiredo, a ditadura militar perdeu legitimidade social e sofreu


desgaste politico. Mas ainda assim houve ameaças de retrocesso devido à radicalização de
setores das Forças Armadas que tentaram barrar o processo de redemocratização.

Militares radicais ligados ao aparato de repressão política promoveram atos terroristas com
objetivo de desestabilizar o governo e amedrontar a sociedade. O presidente Figueiredo,
porém, teve condições de conter o radicalismo militar e encaminhar a transição da ditadura
para o regime democrático.

Anistia

A anistia era um passo imprescíndivel ao processo de redemocratização. Com ela, os presos


políticos ganhariam liberdade e os exilados puderam retornar ao país. Em fevereiro de 1978 foi
criado, no Rio de Janeiro, o primeiro Comitê Brasileiro pela Anistia (CBA).

O CBA foi o resultado da agregação de várias correntes políticas de oposição (liberais e de


esquerdas democráticas), de familiares de presos, mortos, desaparecidos e exilados políticos, e
também de setores progressistas da Igreja Católica.

Em diversos estados brasileiros surgiram novos comitês e por todo o país a campanha pela
anistia obteve expressivo apoio popular. A fim de desarticular o movimento pró-anistia, o
então presidente Geisel promulgou, em 1978, vários decretos-leis revogando a maior parte das
leis de exceção, inclusive o Ato Institucional nº 5 (AI-5).

Lei de Anistia de 1979

Desse modo, gradualmente os presos políticos foram sendo libertados e os exilados pouco a
pouco puderam retornar ao país. A Lei de Anistia de 1979 serviu para dar continuidade a este
processo, mas ela desagradou os movimentos de oposição que reivindicavam uma anistia
"ampla, geral e irrestrita".

A Lei de Anistia deixava de solucionar a questão mais polêmica do período da ditadura, isto é,
os atos terroristas de autoria das organizações guerrilheiras de esquerda armada e as violações
dos direitos humanos praticadas pelos agentes dos órgãos de repressão policial-militar que
cometeram assassinatos e tortura.

A Lei excluía de seus benefícios os guerrilheiros condenados por atos terroristas envolvendo
"crimes de sangue" (ou seja, crimes contra a vida humana), mas concedia perdão aos agentes
da repressão envolvidos em assassinatos e prática de tortura. Por esse motivo, a Lei de Anistia
de 1979 representou um claro sinal de que os militares não admitiriam qualquer tentativa de
punição legal às Forças Armadas.

A reforma partidária

Com o crescimento dos movimentos de oposição à ditadura, o governo Figueiredo avaliou,


corretamente, que a manutenção do bipartidarismo ocasionaria um desgaste ainda maior das
bases de sustentação política do regime.

Na conjuntura da redemocratização, era esperada uma polarização política cada vez mais
acentuada em favor do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido da oposição legal;
contra o partido governista, a Aliança Nacional Renovadora (ARENA). A fim de provocar uma
divisão no bloco oposicionista, o governo Figueiredo forçou uma reforma partidária.

A ARENA e MDB foram extintos. Os políticos governistas criaram o Partido Democrático Social
(PDS), enquanto que o MDB se transformou no PMDB. Surgiu também o Partido Democrático
Trabalhista (PDT), liderado por Leonel Brizola; o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), composto
por uma ala de políticos arenistas menos influentes.
Partido dos Trabalhadores (PT)

Os partidos comunistas continuaram na ilegalidade. A maior novidade no cenário político-


partidário foi o surgimento do Partido dos Trabalhadores (PT). Defendendo uma proposta
socialista, o PT se originou do novo e combatente movimento sindical do ABC paulista,
liderado por Luiz Inácio Lula da Silva.

Em novembro de 1982, foram realizadas eleições diretas para governador (o que não ocorria
desde 1967), para deputados estaduais e federais, prefeitos e vereadores. O governo
promulgou uma lei proibindo alianças partidárias com objetivo de evitar que as oposições se
unissem.

O PDS conseguiu eleger 12 governadores, enquanto as oposições conseguiram eleger dez.


Foram vitoriosas, no entanto, nos Estados mais populosos e desenvolvidos do país, como no
Rio de Janeiro (elegendo Leonel Brizola do PDT) e em São Paulo (elegendo Franco Montoro do
PMDB).

A crise econômica e o novo movimento sindical

O governo Figueiredo herdou uma grave crise econômica. Neste contexto, a insatisfação dos
trabalhadores cresceu. As primeiras greves foram deflagradas pelo operariado do setor
metalúrgico do ABC paulista, região de maior concentração fabril do país.

Inicialmente, as reivindicações dos operários se concentraram em reajustes salariais. Contudo,


à medida que o movimento grevista adquiriu força, os trabalhadores ampliaram suas
reivindicações exigindo mudanças políticas, entre elas a abolição do controle governamental
sobre os sindicatos, restabelecimento do direito de greve e a livre negociação com os
empregadores.

Outras categorias de trabalhadores do setor industrial e do funcionalismo público também


deflagraram greves. O governo reprimiu com violência os movimentos grevistas,
principalmente dos operários do ABC paulista. Mas já não era possível ao governo manter sob
rígido controle estatal e policial os sindicatos e impedir a reorganização da classe trabalhadora.

Os trabalhadores foram um dos mais importantes segmentos da sociedade brasileira a


contribuir, com suas greves e reivindicações, para o avanço do processo de redemocratização.

O terrorismo de Estado e o atentado do Riocentro

O processo de abertura política levada adiante pelo governo Figueiredo não esteve a salvo de
tentativas de retrocesso. Militares radicais ligados aos órgãos de repressão espalharam o
pânico através de atos terroristas. Igrejas, editoras, órgãos de imprensa, bancas de jornal,
sedes de partidos políticos e de entidades democráticas, foram alvos de atentados a bomba.

O terrorismo proveniente de setores radicais das Forças Armadas tinha por objetivo
amedrontar a população e as oposições, e desestabilizar o governo, a fim de provocar um
endurecimento do regime. A sociedade, porém, reagiu. Foram organizados inúmeros atos e
manifestações públicas em que se exigia do governo medidas contra a violência.

O ato terrorista mais grave ocorreu em abril de 1981, no Rio de Janeiro. Antecipando uma
comemoração do Dia do Trabalho, trabalhadores estavam realizando um show no Centro de
Convenções do Riocentro. Um sargento e um capitão do Exército planejaram detonar uma
bomba no local, mas um acidente provocou a explosão da bomba quando eles ainda estavam
de posse do artefato.

O atentado do Riocentro provocou uma grave crise militar devido às pressões das oposições
para o governo investigar o caso. Figueiredo, porém, cedeu aos interesses dos militares ao
impedir que o inquérito policial aberto chegasse a apontar os responsáveis. Não houve
punições e nem mesmo investigações.

Porém, o atentado do Riocentro foi o último ato terrorista praticado por militares radicais. O
episódio ocasionou um maior desgaste e perda de legitimidade política e social do governo e
do regime.

Diretas Já!

A Constituição previa que o sucessor do presidente Figueiredo seria eleito indiretamente pelo
Congresso Nacional. Em março de 1983, porém, o deputado federal do PMDB, Dante de
Oliveira, apresentou uma emenda constitucional que estabelecia eleições diretas para
presidência da República.

A partir daí, as oposições mobilizaram a população com objetivo de pressionar os


parlamentares a aprovarem a emenda constitucional. Por todo o país, grandes comícios, atos e
manifestações públicas foram realizadas. O lema da campanha era "Diretas Já".

Estudantes, líderes sindicais e políticos, setores da Igreja católica, artistas e personalidades da


sociedade civil e milhares de populares compunham as forças que reivindicavam eleições
diretas. Mas o governo ainda tinha força parlamentar suficiente para barrar a aprovação da
emenda constitucional que estabelecia eleições diretas. Foi o que aconteceu, em abril de 1984:
o Congresso Nacional rejeitou a emenda Dante de Oliveira.

Maluf e Tancredo

Na corrida pela sucessão presidencial, o partido governista, PDS, lançou o nome do paulista
Paulo Maluf. Discordando dessa indicação, líderes políticos nordestinos, como Antonio Carlos
Magalhães e Marco Maciel não a aceitaram e abandonaram o PDS, fundando o Partido da
Frente Liberal (PFL).

A oposição lançou o nome de Tancredo Neves, do PMDB. Tancredo era um político


oposicionista de tendência moderada, e por conta disso conseguiu o apoio do PFL.
Em 15 de janeiro de 1985, foi eleito pelo colégio eleitoral presidente da República. Do ponto
de vista institucional, contudo, o país completaria a transição para democracia somente
quando o povo pôde votar livremente para presidente, em 1989.

Fim da ditadura

Os militares se exauriram no controle governamental, mas se retiraram da política de modo a


garantir suas prerrogativas. A transição democrática no Brasil foi pacífica e se pautou por um
processo de negociação entre as elites, envolvendo acordos para que não houvesse qualquer
tipo de punição legal às Forças Armadas diante de todas as violações dos direitos humanos a
que foram vítimas os opositores da ditadura.

A eleição de Tancredo Neves não representou ameaça aos interesses dos militares e nem
mesmo a ordem social estabelecida por eles desde 1964. Mas a tentativa de esquecer o
passado, ou seja, de impedir que viessem a público os crimes cometidos pelos agentes da
repressão, fracassou.

Dom Paulo Evaristo Arns e "Brasil: Nunca Mais"

A Igreja Católica de São Paulo, sob a liderança do cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, realizou
uma pesquisa secreta baseada no exame dos processos judiciais militares. A pesquisa deu
origem à monumental obra "Brasil: Nunca Mais", coleção composta por vários volumes que
descreve e analisa minuciosamente a repressão policial militar ao longo da ditadura.

Com a publicação do "Brasil: Nunca Mais", tornaram-se públicas as atrocidades da ditadura


militar e a identificação de todos os torturadores. Foi um importante e ousado passo no
sentido de elucidação do passado histórico do país.

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