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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE- UFS

CENTRO DE CIENCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

SEBASTIÃO DE SOUZA

A PIRATARIA E SEUS REFLEXOS NA SOCIEDADE

“ A espécie humana e essencialmente egoísta, e, com frequência, precisa receber estímulos


individuais para agir em prol de uma causa que transcenda o próprio raio de interesses”. (Eric
Marskin, Prêmio Nobel de economia – 2007).

NOSSA SENHORA DO SOCORRO


2016
1. Introdução

A compreensão do termo pirataria vem-se ampliando ao longo dos anos


tornando-se cada vez mais comum em meio a sociedade. Antes o termo
limitava-se apenas ao ato de confiscar e comercializar produtos de propriedade
particular, porém com o surgimento da rede mundial de computadores, o
conceito se expandiu e passou a incorporar também produtos de cunho
intelectual e sua distribuição. No tocante, a este aspecto a pirataria é então
definida como o ato de copiar, vender ou distribuir produto ou obra, sem a
devida autorização ou remuneração pelo seu uso a os seus criadores (GUPTA;
GOULD; POLA, 2004).
Conforme Ryngelblum e Giglio (2006), a pirataria pressupõe a
replicação de certo produto, como um todo ou parcialmente suas
características, sem a devida liberação do produtor ou sem a remuneração pelo
seu uso ou reprodução. Seu comercio pode ser feito por meio de falsificação,
copia com a intenção de imitar o material original (Ryngelblum e Giglio, 2006).
No Brasil não é diferente, ao longo dos anos, observa-se que o consumo
desses produtos tem se intensificado (WEINBERG, 2007).
O trabalho a seguir, está dividido em seis partes, além desta introdução.
A segunda parte, traz uma abordagem sobre a pirataria na internet. O terceiro
tópico busca trazer informação sobre os impactos gerados na economia
brasileira, com o consumo de produtos piratas. O quarto tópico se tem os
fatores que influenciam o consumo de produtos pirateados. A quinta parte
busca mostrar as medidas de combate à pirataria adotadas pelo governo. A
sexta parte irá mostrar a relação da pirataria com o crime organizado. Vale
destacar, que na conclusão será apontado o resultado consolidado com as
análises objetivas expostas no presente trabalho. E por último, as referências
bibliográficas que se fez necessária a utilização para a elaboração deste
trabalho.

2. Pirataria na Internet
Devido uma maior facilidade dos jovens em navegar na internet, os
jovens são ampla maioria no cometimento desse crime seja pela facilidade no
acesso ao download ou por acreditar que nossa legislação e meramente fraca.

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Com o surgimento da Internet, criou-se a ideia de um universo
equivalente, no qual as pessoas podem ter uma identidade
virtual, ou até mesmo a obscuridade, e que para eles existe a
percepção de que níveis de detecção e penalidade não são
relevantes (FREESTONE; MITCHELL, 2004 pág.153-154).

Segundo Santos (2009), a rede mundial de computadores não alterou o


direito autoral no ponto de vista jurídico, ou seja, o autor permanece gozando
dos benefícios morais e patrimoniais sobre sua obra. No entanto, não se pode
negar que houve uma mudança sob a ótica do usuário da Internet, e isso se
deve à tecnologia, que permitiu a reprodução e a circulação como jamais
poderíamos imaginar. Em outras palavras, a conjugação da tecnologia digital
como à Internet mostra-se hoje o solo produtivo para a violação dos direitos
autorais (SANTOS, 2009).

3. Os Impactos da pirataria na economia brasileira

A pirataria é um negócio mundialmente lucrativo que afeta todas as


nações. Dentre as consequências com o consumo de produtos falsificados,
estão os impactos que ela gera na economia e principalmente nas receitas das
empresas, que muitas das vezes são incapazes de competir com os preços
dos produtos não originais. Casali e Costa (2012) defendem que o roubo de
propriedade intelectual é um desafio desencorajador para os gestores das
empresas, ou seja, para elas, administrar o problema da pirataria é apavorante.
As principais consequências nas empresas que padecem desse mal, são a
diminuição das receitas e lucros, incluindo casos em que a sobrevivência da
empresa é comprovada, bem como a redução de investimento em pesquisas e
desenvolvimento.
Essa pratica, provoca também, o desemprego em muitos setores
comerciais e industriais.
A Associação Comercial do Paraná, ACP (2006), tendo pesquisado
sobre o tema diz:

A pirataria é um problema de interesse de toda sociedade com


bom discernimento, ou seja, nenhum país, muito menos o
Brasil, que no momento está com uma grave crise econômica e
elevadas taxas de desemprego, pode prescindir de arrecadar

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bilhões de reais em impostos e criar 2 milhões de empregos ao
ano por causa da pratica ilícita da pirataria.

Conforme dados do jornal o globo do Rio de Janeiro- RJ,

“o Brasil deixa de criar 2 milhões de empregos formais por ano


e perde cerca de R$ 30 bilhões em arrecadação por ano por
causa da pirataria”.

4. Fatores que influenciam o consumo de produtos piratas

O problema da pirataria reúne aspectos sociais e comerciais amplos,


como atuações policiais, falta de emprego, leis de patentes, entre outros. Não
obstante disso, apesar da magnitude de sequelas procedentes do mercado da
pirataria, poucos são os estudos que buscam investigar quais são os fatores
que norteiam, influenciam e compõem os significados do consumo desses
produtos falsificados ou piratas. (COSTA, SANT’ANNA, 2008).
Nesse tópico iremos conhecer os três principais fatores que contribui
com o consumo de produtos falsificados, são eles:

4.1. Fatores econômicos

A alta carga tributária aqui no Brasil, impossibilita boa parte da


população de consumir produtos originais, ou seja, esses produtos muitas das
vezes chegam por aqui bastante caros. Outro fator é o nível de renda de
grande parte dos brasileiros, ou seja, seria até hipocrisia, achar que um
indivíduo mantenedor de uma família com renda mensal de apenas um salário
mínimo que hoje está em torno dos R$ 1000 reais possa comprar produtos
originais como DVDs, celulares ou até mesmo um par de tênis para seu filho ir
à escola, quando tem a responsabilidade de prover o sustento de toda a sua
família.
Nesse caso a sociedade vai em busca daquele famoso “jeitinho
brasileiro”, ou seja, vai em busca de alternativas que sejam capazes de
satisfazer suas necessidades. É aí que a pirataria surge como opção, sendo
muita das vezes a única saída para que as pessoas consigam adquirir produtos
que originalmente seriam impossíveis, considerando seu baixo poder de

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consumo. Pensando nisso, além de uma gigantesca oferta desses produtos na
internet, comerciantes informais vêm ofertando cada vez mais produtos
pirateados, por existir uma enorme procura (demanda). Entretanto trata-se de
uma pratica ilegal prevista no art.184, §1° e 2° do código penal brasileiro como
crime de direito autoral.

4.2. Fatores éticos

Hoje em dia a falta ética em nossa sociedade, infelizmente se banalizou,


ou seja, até pessoas com conduta ilibada, entretanto que ver a oportunidade de
levar a melhor às custas dos outros, não sente remorso em contribuir com
essas práticas delituosas, que gera enormes prejuízos a todos nós,
principalmente as empresas que perdem bilhões e consequentemente não
fazem investimentos maiores, deixando de gerar milhões de empregos como
mencionado acima.
Estando o consumidor influenciado pelo os padrões éticos da sociedade
em que convive um indivíduo consome produtos ilegais, mesmo sabendo que é
crime, por obter respaldo da sociedade onde reside (MOWEN; MINOR, 2006;
RAWWAS, 1996).

4.3. Fatores legais

Marcia Cunha (2011, p.169-170) realiza uma crítica, social afirmando


que o consumo de um produto falsificado, cujo preço se encaixa a sua
realidade financeira, deseja buscar ao sol em uma sociedade globalizada e
consumista, apresentando falta de consciência e de ética, além de pouco se
importar com toda a organização criminosa que está atrás da pirataria.
Segundo Cunha a preocupação maior do indivíduo não é a qualidade do
produto, mas sim com o status social que aquela marca o trás. Cunha ainda faz
uma importante observação que apesar de a propensão a consumir produtos
piratas, do indivíduo com renda mais baixa, seja maior pessoas com rendas
mais altas também consomem esse tipo de produto, o que indica que a
pirataria atingiu um patamar de aprovação social. O papel da sociedade nesse

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caso, é não contribuir com essa pratica, ou seja, se a população não procura
desestimula a oferta por criminosos.

5. Medidas adotadas pelo governo brasileiro contra a pirataria

Em vários estudos sobre o assunto chegou-se à conclusão que a


melhor forma de combater a pirataria é através de ações de conscientização
das pessoas. Porém o despertar de consciência não ocorre de um dia para o
outro, isso demanda muitos anos. Por isso órgãos competentes não podem
cruzar os braços e fechar os olhos, fingindo que o problema não existe e
apenas esperar que a pirataria acabe por si só.

Pensando nisso, Alfonso Presti (2010) afirma:

A educação é essencial ao combate à pirataria, enfatizando


que este tipo de criminalidade só será vencido se houver uma
visão diferenciada. Se não houver isso, nenhuma outra medida
terá efetivo sucesso, inclusive as repressivas. É necessário que
haja uma mudança cultural da sociedade, fazendo com que as
pessoas entendam os malefícios desse crime.

Contudo, Loureiro Gil (1999) cita que a principal medida contra a


pirataria é o investimento das empresas e governos, em métodos que
consigam barrar cada vez mais o consumo e a fabricação deste tipo de
produto. Assim, iria dificultar e muito, que os fabricantes de produtos piratas se
atualize rapidamente em relação as novas tendências de mercado.
Com objetivo de conscientizar as pessoas a respeito do uso de produtos
piratas, mas também de combater essa prática, o ministério da justiça criou o
Conselho Nacional de Combate à Pirataria, órgão superior da instituição estatal
nacional para o tratamento do tema, adota, no tratamento do tema, um
enquadramento estritamente jurídico, definindo a pirataria como atividade ilegal
desprovida de qualquer legitimidade possível, associando-a ainda a outras
formas de crimes:

A atividade de repressão tem passado por constante processo


de aperfeiçoamento, na busca da consolidação da nova
filosofia de combate aos crimes econômicos oriundos do
comércio internacional, principalmente o contrabando, o

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descaminho, a contrafação, a pirataria e o narcotráfico”
(BRASIL, 2006, p. 15).

Uma outra ação do governo brasileiro, foi criar um “mapa da pirataria”,


cujo o objetivo seria facilitar as ações de repressão da polícia federal, ações
essas, que vem possibilitando a PF fechar várias distribuidoras seja elas de
softwares, CDs, DVDs, roupas, medicamentos, etc.

5.1. Leis Antipirataria em vigor em nosso país

Em nossa constituição existem cerca de cinco leis que trata do assunto


pirataria, a exemplo das leis nº 9.609 de 19 de fevereiro de 1998 e lei nº 10.695
de junho de 2003.
A primeira mencionada acima trata da proteção da propriedade
intelectual de softwares, menciona a respeito da sua comercialização no país e
medidas cabíveis, nessa mesma lei existe o artigo 12 que fixa o crime de
reprodução, cópia e distribuição sem a autorização do autor.
A segunda, trata exclusivamente dos crimes contra os direitos autorais e
intelectual, ou seja, transforma em criminoso quem transgrida essa lei. Porém,
venho observando que praticamente ninguém fica na cadeia muito tempo, por
violar essas leis.

6. A pirataria como agente fiador do crime organizado


Sendo a pirataria um negócio que mundialmente vem trazendo lucros
exorbitantes, e de certa forma com aval da sociedade, diferentemente do tráfico
de drogas vem ganhado o interesse de grandes quadrilhas pelo mundo.
Segundo levantamento da Interpol, organização com sede na França
que combate criminosos cujas ações cruzam as fronteiras, divulgou um
relatório com evidências sobre o elo entre falsificadores de produtos e o crime
organizado:

A pirataria exige investimento inicial muito baixo, gera ganhos


altíssimos, sofre pouca ou nenhuma repressão policial e, por
isso, tem atraído as grandes quadrilhas internacionais.

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Após esse relatório, a sociedade tem o devido conhecimento que a
pirataria financia a atividade de sequestradores, assassinos e terroristas. A
falsificação deixou de ser um crime sem vítimas e fere toda sociedade.

7. Considerações finais

O presente trabalho teve como objetivo central verificar os reflexos


gerados pelo o aumento do consumo dos produtos piratas e verificou-se, que
dezenas de bilhões de reais deixam de ser recolhidos pelo tesouro nacional,
dinheiro esse que poderia ser investido em áreas que carecem de recursos
como: saúde, segurança, educação e maiores investimentos em áreas de
cunho social. Vem mostrar também que boa parte dos recursos do crime
organizado provém da venda dos produtos falsos, este artigo mostrou também
que medidas estão sendo adotadas pelas autoridades competentes. Porém
com legislações fracas fica difícil coibir essa pratica em nosso país. Por isso
terá que haver uma união nacional contra a pirataria através de investimentos
em campanhas de conscientizações que visa mostrar que esse consumo
diminuirá o investimento em nosso país, como consequência não aumenta os
postos de trabalho, impossibilitando o aumento da renda das pessoas. Por fim
só mim resta dizer diga não à pirataria.

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