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19.1 – Indutância
No capítulo 12 apresentamos a definição de indutância como sendo a relação entre fluxo magnético
concatenado e corrente, não nos preocupando com o fato de ser esta corrente contínua ou alternada
no domínio do tempo. Da maneira como fizemos, a indutância era tratada como uma grandeza
escalar, função apenas dos dados geométricos e características magnéticas do meio. Vamos agora
abordar novamente esse assunto, a partir do fenômeno da indução eletromagnética, visto no capítulo
anterior.
Vimos pela equação (12.16) e pela aplicação direta da lei circuital de Ampère, que a indutância de
um solenóide longo ou de um toróide enrolado por N espiras é dada por:
N2 A
L (H) (19.1)
onde:
= permeabilidade magnética do meio. (H/m).
N = número de espiras do enrolamento
A = área da seção transversal de cada espira no enrolamento (m2)
= comprimento disposto para o solenóide ou toróide (m).
Da definição de indutância, vimos que o fluxo magnético total = N m concatenado com a corrente i
em N espiras é expresso como:
N m L i (19.2)
Substituindo a corrente elétrica contínua I por outra i = i(t), variando no tempo, com a aplicação
imediata da lei de Faraday, podemos determinar a tensão e(t) produzida pela variação temporal do
fluxo magnético N m produzido em conseqüência da corrente alternada onde:
d m di dL
e( t ) N NL N i (19.3)
dt dt dt
A derivada do fluxo em relação ao tempo no caso mais geral produz dois termos; um devido á
variação alternada da corrente e outro pela variação da indutância em relação tempo. Se a
geometria permanece imutável no tempo, o segundo termo resulta nulo.
Pela lei da indução eletromagnética de Faraday, a tensão induzida e(t) que aparece entre os
terminais de um enrolamento solenoidal com N espiras de área A constante é determinada por:
d m dB
eN NA (V ) (19.4)
dt dt
Ni
Onde para o solenóide longo ou o toróide B . Assim:
N2 A di
e (V) (19.5)
dt
Podemos observar que o termo que multiplica a derivada temporal da corrente i (t) na equação
acima é a expressão para a indutância do solenóide, aqui considerada fixa. Então:
di
e L (V ) (19.6)
dt
Considere agora dois enrolamentos, montados sobre um mesmo núcleo que os acopla
magneticamente, como mostrado na figura 19.1 abaixo.
Como os enrolamentos são atravessados pelo mesmo fluxo magnético m, imagine então que esse
fluxo seja produzido por uma corrente i1 no enrolamento 1 (primário) e que o enrolamento 2
(secundário) esteja em circuito aberto. Segundo a lei de Faraday-Lenz, sobre ele aparecerá uma
tensão induzida dada por:
m
i1
N1 N2 e2
dm
e2 N2 (19.7)
dt
ou
N1A di1
e2 N2 (19.8)
dt
Agrupando o fator que multiplica a derivada, esta expressão pode ainda ser escrita como:
di1
e2 M21 (V ) (19.9)
dt
Reciprocamente, caso seja agora o enrolamento 2 percorrido por uma corrente i2 e o enrolamento 1
posto em circuito aberto, teremos:
d m
e1 N1 (19.10)
dt
Ou ainda
N2 A di 2
e1 N1 (V) (19.11)
dt
de modo que:
di 2
e1 M12 (V) (19.12)
dt
N1N2
M12 M21 M A (H) (19.13)
Considerando as equações (19.9) e (19.12), observamos que uma tensão e2(t) aparece no
enrolamento 2 (secundário) em virtude da variação temporal da corrente i1(t) no enrolamento 1
(primário) e vice-versa. Tal situação pode ser representada eletricamente pelo circuito dado na figura
19.2, onde a indutância mútua M pode ainda ser expressa como:
e1 e
M 2
di 2 di1 (19.14)
dt dt
e1 N1 N2 e2
Admitindo agora uma variação harmônica (senoidal) das correntes no tempo, pela fórmula de Euler,
podemos escrever que:
di1
j I1 e j t j i1
dt
(19.16)
di2
j I2 e j t j i 2
dt
e1 e
M 2 (19.17)
j i 2 j i1
ou ainda
e1 e
j M 2 ( ) (19.18)
i2 i1
Exemplo 19.1
Uma espira retangular de 4 m x1 m está no mesmo plano de um condutor retilíneo longo, com o lado
maior paralelo ao fio, a uma distância de 2 m, como mostra a figura 19.3. Se a corrente no condutor
é i = 10 sen (1000t) A, encontre:
a) - A indutância mútua entre a espira e o condutor.
b) - O valor rms da tensão induzida na espira.
Solução: 4 3
0i
m 2r drdz
0 2
z 2 0i 3 dr
m
2 r
B 2 0 i 3
i m ln (Wb )
4m 2
Aqui
r=2m
m M i
r=3m
4 .10 7 3
M2 ln 0.324 H
2
Figura 19.3 - Espira paralela a um condutor
retilíneo b) -
a) di
eM
da aplicação imediata da lei de Faraday dt
temos:
e 0,324.10 6 10 1000 cos 1000t 3,24sen1000t mV
d m
e
dt O valor rms de e fica então:
onde 3,24
E 2,29 mV
2
m B dS
s
Exemplo 19.2
Repetir o exemplo anterior, porém com o lado menor paralelo ao condutor.
Solução:
4.10 7
d m M ln 3 0,22 H
e 2
dt
e 0,22 10 6 1000 10 cos1000t 2,2 cos 1000t mV
1 6 0i
m drdz
0 2 2r
E 1,56 mV
0i
m ln 3 ( Wb)
2
Exemplo 19.3
Um condutor longo de raio a é percorrido por uma corrente i = Isen(t). Uma luva de ferro, de raio
interno b, raio externo c, comprimento e permeabilidade envolve o condutor. N espiras são
enroladas sobre a luva no sentido longitudinal (axial), conforme mostra a figura 19.4.
a) - Deduza uma expressão para a indutância mútua entre o condutor e o enrolamento.
b) - Idem para a tensão induzida no enrolamento.
Solução:
i = Isen(t)
d m d c d
e N eN N ln Isent
dt dt 2 b dt
O termo que está multiplicando a derivada da
s
m B dS
corrente em relação ao tempo é a indutância
mútua entre o enrolamento e o condutor, ou
I
B sent aˆ ; dS drdz aˆ seja:
2 r
c
MN ln (H)
c I 2 b
m 0 sent dr dz
b 2 r
Para a tensão induzida temos:
c
m ln I sent di N I c
2 b e M ln cos t (V )
dt 2 b
Sobre a estrutura ferromagnética da figura 19.5 são montados dois enrolamentos; o enrolamento
primário e o enrolamento secundário.
Se uma tensão v 1 for aplicada no enrolamento primário, sobre o secundário aparecerá uma tensão
induzida dada por:
d m
v 2 N 2 (19.19)
dt
m
i1(t) i2(t)
v1(t) 1 2 v2(t)
Considerando que este mesmo fluxo m enlaça a bobina 1, desprezando-se as perdas, a tensão na
bobina 1 será:
d m
v 1 N1 (19.20)
dt
v 2 N2
(19.21)
v1 N1
Vemos que a relação entre as tensões nos enrolamentos está na proporção direta da relação entre o
número de suas espiras. Razão pela qual esta relação entre os números de espiras é também
conhecida por relação de transformação.
Exemplo 19.4
Qual é a indutância, e a impedância mútuas de um transformador ideal se uma corrente de 2 A
(rms), em 60 Hz, induz uma tensão de 6 V (rms) no enrolamento secundário ?
Solução:
Da expressão
6 2 e j t 3
di v Então M j t
v 2 M 1 tem-se M 2 j 2 2 e j
dt di1
dt A indutância mútua, M é então igual a:
Mas v 2 6 2 e j t V 3
M 8 mH
2 60
i1 2 2 e jt A
E a impedância mútua é j M 3
di1
Daí j 2 2 e jt
dt
Comentários suplementares
Ao estudarmos este capítulo pudemos notar que um transformador modifica valores de tensões e
correntes baseado na relação entre o número de espiras em cada enrolamento. Assim temos um
transformador abaixador quando a sua tensão no secundário é menor do que no primário, ou seja o
terminal secundário de saída possui menos espiras do que o terminal primário de entrada. Pela
mesma razão um transformador elevador tem mais espiras no secundário do que no primário Em
ambos os casos a energia e a potência se conservam e relação entre as correntes se dá no modo
inverso. Concluindo, podemos dizer que a denominação de elevador ou abaixador depende do
terminal definido como secundário, ou de saída do transformador, se este tem a sua tensão maior ou
menor do que a do primário.
Outra questão que chamamos atenção é para o transformador que possui uma relação de
transformação 1:1, ou seja, o número de espiras no primário e no secundário é o mesmo. Neste
caso, o transformador é conhecido como de isolação ou de isolação galvânica onde não há variação
de tensão nem de corrente. Este tipo de transformador permite que os potenciais de referência no
lado do primário e no do secundário sejam desvinculados.
EXERCÍCIOS
1) A figura abaixo mostra dois solenóides de comprimento , e áreas S1 (solenóide 1) e S2
(solenóide 2) coaxiais. Mostre que a indutância mútua entre eles pode ser expressa por:
M K L1L 2 , onde L1 é a indutância própria do solenóide 1, e L2 a indutância própria do solenóide
S2
2, onde K é chamado de coeficiente de acoplamento, cujo valor máximo é unitário.
S1
S1
S2
2) Em um dia sujeito a tempestades, uma nuvem típica pode desenvolver uma carga negativa de
100 C, induzindo uma carga de igual magnitude, porém de sinal contrário, no solo. Se as cargas
são neutralizadas por uma descarga de 2 ms de duração, encontre a corrente média da descarga.
Tipicamente, descargas atmosféricas possuem um crescimento rápido, e um decaimento gradual.
Se o tempo de subida é 2 s, para uma corrente de 104 A em um condutor que recebe a
descarga, encontre a tensão desenvolvida no condutor. A indutância própria do condutor é 10-3 H,
e sua resistência 10-2 .