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Eletrônica Analógica

Análise e Simulação de um Gyrator


Transistorizado
Ana Beatriz de Oliveira Magalhães, Jakson da Rocha Almeida, Nicholas Zoffoli,
and Vinícius Franklin Pedroso Mansur de Azevedo
Universidade Federal de Juiz de Fora

13 de julho de 2023

1 Introdução
Este trabalho é uma continuação do trabalho anterior e tem como objetivo apresentar uma análise
teórica e simulação de um filtro ativo sintonizado que emprega um gyrator transistorizado, como
ilustrado na Figura.

Figura 1: a) esquemático do gyrator usando amplificador operacional; b) esquemático do gyrator


usando transístor.

No trabalho anterior, analisamos um filtro ativo sintonizado que emprega um gyrator imple-
mentado com um amplificador operacional. Neste trabalho, vamos explorar a implementação do
gyrator usando um transistor bipolar de junção (TBJ). Ambas as implementações têm a mesma
função de emular uma indutância equivalente (L eq) com uma resistência série equivalente (RL),
também conhecida como um "indutor virtual". No entanto, existem algumas diferenças entre as
duas implementações devido às características do amplificador implementado com o TBJ.
Assim como no trabalho anterior, o circuito em análise pode fornecer ganho ou atenuação em
uma determinada frequência central, comportando-se como um filtro sintonizado do tipo passa-
faixa (se há ganho) ou rejeita-faixa (se há atenuação), dependendo da posição do potenciômetro.
Este circuito é comumente utilizado na implementação de equalizadores gráficos de áudio, onde é
possível controlar individualmente o ganho em várias faixas estreitas de frequência.
Neste trabalho, realizaremos uma análise teórica do filtro ativo sintonizado empregando um
gyrator transistorizado, seguida de uma simulação do mesmo. A análise e a simulação permitirão
entender melhor o comportamento do filtro em diferentes condições e configurações, especialmente
em comparação com a implementação do gyrator com um amplificador operacional. A principal

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contribuição deste trabalho é a abordagem completa da análise do filtro, incluindo teoria e si-
mulação, o que pode ser útil para estudantes, engenheiros e profissionais envolvidos na área de
eletrônica.

2 Revisão bibliográfica
O gyrator é um dispositivo eletrônico que emula a característica de um indutor, sendo amplamente
utilizado em circuitos onde a utilização de indutores reais seria impraticável devido ao seu tamanho,
peso e custo. A principal aplicação do gyrator é reduzir o tamanho e o custo de um sistema,
eliminando a necessidade de indutores volumosos, pesados e caros. Por exemplo, as características
de um filtro passa-banda RLC podem ser realizadas com capacitores, resistores e amplificadores
operacionais sem a necessidade de usar indutores.

Figura 2: Esquemático do gyrator usando amplificador operacional. Fonte: [?]

Figura 3: Esquemático do gyrator. Fonte: [?]

Os gyrators são especialmente utilizados no desenvolvimento de filtros ativos e na redução do


tamanho e custo de circuitos que requerem indutores grandes, pesados e caros. Além disso, os
gyrators podem ser utilizados para converter uma capacitância de carga em uma indutância, sendo
úteis em filtros passa-alta e passa-banda.
A aplicação mais importante dos gyrators atualmente está no campo da síntese de redes RC.
Além disso, o circuito de gyrator-indutor é tornado variável pela ação de Ra, que é formado por
um componente de resistor variável, sendo útil em aplicações como a música.
Os dados experimentais mostram a excelente performance do circuito como um gyrator, inversor
de impedância e isolador em amplas faixas de carga [?]. Além disso, a implementação de filtros
quase perfeitos pode ser realizada substituindo indutores por gyrators.
Em resumo, os gyrators são dispositivos eletrônicos úteis que permitem a implementação de
circuitos que normalmente exigiriam indutores grandes, pesados e caros. Eles são amplamente
utilizados em uma variedade de aplicações, incluindo a síntese de redes RC, a implementação de
filtros ativos e a redução do tamanho e custo de circuitos eletrônicos.

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Figura 4: Filtros gyrator. Fonte: [?]

Figura 5: Circuito gyrator com feedback resistivo. Fonte: [?]

Figura 6: Circuito gyrator: simulando grandes bobinas eletronicamente. Fonte: [?]

3 Análise teórica
Para calcular a impedância equivalente Zg do gyrator transistorizado, devemos primeiramente
analisar o circuito isoladamente. Consideraremos o nó vg como o ponto de referência para nossa
análise.
Como mostrado na Figura 1, o circuito do gyrator é composto por um transistor bipolar de
junção (TBJ), duas resistências R1 e R2 , uma resistência de emissor RE , e uma capacitância C1 .
O comportamento do gyrator pode ser modelado como um indutor virtual, com uma indutância
equivalente Leq e uma resistência série equivalente RL .
Em nossa primeira análise, consideraremos o TBJ em seu ponto de operação, o que implica que
a corrente de coletor IC , a corrente de base IB , a corrente de emissor IE , e as tensões VC , VB e
VE são constantes. Com base nesses pressupostos, podemos aplicar as leis de Kirchhoff para obter
as equações que descrevem o comportamento do circuito.

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A partir dessas equações, podemos expressar Leq e RL em função dos componentes do gyrator
(R1 , R2 , RE , C1 ). Essas expressões nos permitem entender como a indutância e a resistência do
indutor virtual são influenciadas pelos componentes do circuito, e podem ser usadas para projetar
gyrators que emulam indutores com características específicas.

3.1 Desenvolvimento matemático

Para analisar o ponto de operação do amplificador transistorizado utilizado no gyrator, pre-


cisamos considerar as características do transistor bipolar de junção (TBJ) e as condições de
polarização do circuito. As equações de corrente e tensão para o TBJ são dadas por:

VCC − VBE
IB =
R2 + RE (β + 1)
VB = −R2 IB
IE = (1 + β)IB
VE = RE IE − VCC
IC = βIB
VC = VCC

Estas equações nos permitem calcular as correntes e tensões no transistor, que são essenciais
para entender o ponto de operação do amplificador. A simulação do circuito pode então ser
realizada para confirmar se os valores calculados estão corretos.

3.2 Cálculo de gm , rπ e re
Agora, vamos proceder com a análise de pequenos sinais do gyrator transistorizado. Para isso,
precisamos encontrar os parâmetros do modelo de pequenos sinais do TBJ, que são gm , rπ e re .
O parâmetro gm é a transcondutância, que é a taxa de variação da corrente de coletor em
relação à tensão de entrada, mantendo-se constante a tensão de coletor-emissor. O parâmetro rπ
é a resistência de entrada vista da base para o emissor, e re é a resistência de emissor.
Os valores numéricos para esses parâmetros podem ser calculados a partir das equações do
modelo de pequenos sinais e das condições de operação do transistor. Os valores calculados são:

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Figura 7: esboço do circuito equivalente de pequenos sinais

IC
gm = = 0.22915968068 A/V
VT
VT
rπ = = 1309.13076923 Ω
IB
α
re = = 4.34927165857 Ω
gm
Com esses valores, podemos esboçar o circuito equivalente de pequenos sinais para o gyrator
transistorizado. A simulação do circuito pode então ser realizada para confirmar se os valores
calculados estão corretos.

3.3 Análise de Ri , Ro e Av0 .


Para analisar o amplificador transistorizado, vamos começar calculando o ganho de tensão Av0 .
Sabemos que a corrente de base IB é dada por (Vi − V0 )/rπ , e a corrente de saída V0 /Re é igual a
IB (1 + β). Substituindo a expressão de IB na equação da corrente de saída, obtemos:

V0 (Vi − V0 )(1 + β)
=
Re rπ
Rearranjando os termos, encontramos a expressão para o ganho de tensão Av0 :

V0 (1 + β)
Av0 = =  
Vi rπ rπ + (1+β)R e
rπ ∗re

A próxima etapa é calcular as resistências de entrada Ri e de saída Ro . Para isso, precisamos


considerar as características específicas do amplificador transistorizado e as diferenças entre este
amplificador e o amplificador operacional usado anteriormente. Essas diferenças podem afetar a
análise e os parâmetros do gyrator.

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3.4 Cálculo de Zg
vg
Podemos encontrar Zg como Zg = ig . Onde:

ig (Ri + Ro ) ∗ (R2 + sC1 )


vg =
Ri + Ro + sC1
(R1 + Ro ) ∗ (R2 + sC1 )
zg =
R1 + Ro + sC1
Como R2 >> R1 encontramos

zg = R2 ∗ (R1 + Ro ) + sC1 (R1 + Ro )

Logo RL = R2 ∗ (R1 + Ro ) e L = sC1 (R1 + Ro )

3.5 Fator de qualidade


O fator de qualidade se dá pelo seguinte:

ωC1 (R1 + Ro ) ωC1


Q= =
R2 (R1 + Ro ) R2

No trabalho anterior obtemos o seguinte fator de qualidade:

Q = ωC1R2

3.6 frequência de ressonância

1 1
f0 = p
2π C1 (R1 + Ro )

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Figura 8: Equações de malha

3.7 Função de Transferência


O objetivo é de encontrarmos a relação entre vo /vi .
Começamos pelas equações de malha:

vi = Rg i1 + xRp i1 + Zf (i1 + i2 )

vo = Rg i2 + (1 − x)Rp i2 + Zf (i1 + i2 )

Resolvendo o sistema encontramos a relação entre vo /vi :

Zf x
vo (Zg + xRp + Zf ) + 1−x
= x
vi Zf + (Rg + (1 − x)Rp + Zf ) ∗ 1−x

3.8 Análise da Transferência Característica


A transferência característica de um circuito é uma descrição matemática da relação entre a entrada
e a saída do circuito. No caso dos circuitos gyrator, a transferência característica pode ser usada
para entender como a frequência do sinal de entrada afeta a amplitude e a fase do sinal de saída.
A figura abaixo mostram a transferência característica realizada por Matlab.

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Figura 9: Função de Transferência

4 Simulação
Para validar a análise teórica realizada, foi montado o circuito equivalente no software de simulação
LTSpice, agora utilizando um Transistor de Junção Bipolar (TBJ) no gyrator. Os valores dos
componentes utilizados nas simulações foram mantidos idênticos aos utilizados na análise teórica.

Figura 10: Simulação no LTSpice com Gyrator utilizando TBJ

Verificamos uma queda de 2dB em relação ao trabalho anterior.

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Figura 11: Resposta em frequência no LTSpice com Gyrator utilizando TBJ

Figura 12: Resposta em frequência no LTSpice com Gyrator utilizando amplificador operacional

Condições de ganho ou atenuação devido ao potenciômetro


No LTSpice verificamos que o x do ponciômetro nos valores 0 e 0.25 atenuam o sinal; para os
valores x = 0.75 e x = 1.0 há ganho; para x = 0.5 não há ganho e nem atenuação.
Ganho e Atenuação na Frequência Central
A análise do circuito gyrator nos permite determinar o ganho e a atenuação na frequência
central (fo ) em diferentes configurações.
Quando o circuito está na posição de máximo ganho, com a queda de 3dB, a análise revela um
ganho de 14.908dB.
Por outro lado, quando o circuito está na posição de máxima atenuação, com a queda de 3dB,
a análise mostra uma atenuação de −14.975dB.
A equação literal é dada por:
x x
vo 2R1 (1 + 1−x ) + sC1 R2 R1 + xRp + 2jw0 C1 R2 R1 1−x
= x x (1)
vi 2R1 (1 + 1−x ) + Rg + Rp − xRp + 2jw0 C1 R2 R1 1−x
Esses resultados são consistentes com o comportamento esperado de um filtro gyrator, que é
projetado para amplificar ou atenuar sinais em uma frequência específica.

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