Você está na página 1de 10

Oscilações

(* Preparado por C.A. Bertulani para o projeto de Ensino de Física a Distância)

Suponha que um objeto é preso a uma mola que é esticada e comprimida. A mola exerce
uma força sobre o objeto. Esta força é proporcional ao deslocamento da mola a partir de
sua posição de equilíbrio e é no sentido oposto ao deslocamento

F=-kx [9.1]

Esta forma para a força ''e chamada Lei de Hooke. As molas reais obedecem esta lei
para pequenos deslocamentos.

Suponha que a mola seja estendida por uma distância d, e seja liberada. O objeto preso à
mola acelera com

a = - (k/m) x [9.2]

Ele ganha velocidade à medida que se move para a posição de equilíbrio, já que a
aceleração é na direção de sua velocidade. Quando a mola está na posição de equilíbrio a
aceleração é zero, mas o objeto possui energia cinética. Ele passa da posição de
equilíbrio e começa a desacelerar, já que a aceleração é no sentido oposto ao sentido da
velocidade. Desprezando o atrito, ele parará quando a mola estiver comprimida por uma
distância d e então se acelerará de volta para a posição de equilíbrio. Ela novamente
passa pela posição de equilíbrio e pára na posição inicial quando a mola está esticada de
uma distância d. O movimento se repete. O objeto oscila de um lado para outro. Ele
executa um movimento harmônico simples.
Vamos considerar apenas movimentos em uma dimensão. A equação [9.2] deve ser
resolvida para a posição em função do tempo, x(t). Notamos que a aceleração é a
derivada temporal da velocidade, de modo que podemos escrever a = dv/dt, e como v =
dx/dt, temos que a aceleração é a derivada segunda da posição: a = d2x/dt2. Logo,
podemos escrever a equação [9.2] como

d2x/dt2 = - (k/m) x [9.3]

Como x é função do tempo, temos que encontrar uma função cuja derivada da derivada
seja proporcional à própria função. Conhecemos duas funções que satisfazem esse
critério: a função seno e a função cosseno. Uma conbinação dessas duas funções também
serve, e deve ser a forma mais geral da solução procurada. Por exemplo, x(t) = a cos(αt)
+ b sen (αt) se for derivada duas vezes dá d2x/dt2 = - α2x (tente fazer esse cálculo). No
nosso caso, a constante α = (k/m)1/2. Logo,

x(t) = a cos[(k/m)1/2t] + b sen [(k/m)1/2t] [9.4]

é uma solução da equação [9.3]. Note que as constantes a e b devem depender das
condições iniciais do problema. No caso do problema da mola explicada acima, no tempo
incial, quando t = 0, x(t =0) = d e v(t = 0) = 0. Da segunda condição, temos que b = 0,
já que v(t) = α [- a sin(αt) + b cos (αt)] . A primeira condição implica que a = d . Logo,
a solução do problema do objeto preso à mola é dado por

[9.5]

onde definimos α = 2π/T, de modo que

[9.6]

A equação [9.5] nos diz que as condições de movimento se repetirão para valores de t =
T, 2T, 3T ... Logo, T é conhecido como período do movimento. A amplitude da
oscilação é dada por d. Este é o valor máximo do deslocamento a partir da posição de
equilíbrio.
O período é independente da amplitude. Não importa quanto a mola seja esticada
inicialmente, o movimento possuirá o mesmo período. A frequência f = 1/T do
movimento dá o número completo de oscilações por unidade de tempo. Ela é medida em
unidades de Hertz, (1Hz = 1/s). A frequência

[9.7]

é a frequência natural de ressonância do sistema. Também podemos definir a


frequência angular ω que engloba o fator 2π da relação acima: ω = 2πf .

A velocidade do objeto em função do tempo é dada por

v = vmax sen(2πt/T ) = vmax sen(ωt ) [9.8]

onde vmax = 2πd/T = 2πdf = ωd.


Na figura abaixo a posição e velocidade são mostradas em função do tempo para um
movimento oscilatório com período de 5s. A amplitude e a velocidade máxima possuem
unidades arbitrárias. A posição e a velocidade estão fora de fase. Como sen(x+ π/2) =
cos(x), podemos escrever v = vmax cos(2πt/T + φ ) = vmax cos(ωt + φ ) , onde φ = π/2 é
a fase da velocidade. Logo, dizer que a velocidade e a posição estão fora de fase é o
mesmo que dizer que a diferença de fase entre elas é de π/2 . A velocidade é máxima
quando o deslocamento é zero, e o deslocamento é máximo quando a velocidade é zero.

A energia do sistema é dada pela soma da energia cinética e a energia potencial do


sistema. A energia cinética é

Ec = mv2/2 [9.9]

A energia potencial é, por definição, o negativo do trabalho realizado pela mola, ou seja,
a variação da energia potencial é dada por
dU = - F dx, ou F = - dU/dx [9.10]

Como F = - kx, temos que a solução da equação [9.10] é

U(x) = kx2/2 [9.11]

A definição da energia potencial é tal que a energia total do sistema seja constante, isto é,

Et = Ec + U = (m/2) d2x/dt2 + kx2/2 = constante [9.12]

Note que a derivada temporal da equação [9.12] é igual à equação [9.3] (faça a conta e
constate). Logo, a equação [9.12] é uma consequência da equação [9.3]: ela pode ser
obtida por uma integração da equação [9.3]. Como a energia total é constante, podemos
calculá-la no ponto x de maior conveniência. Por exemplo, quando a mola está a uma
distância d do suporte, ela está parada. Logo, a energia cinética é zero.
Consequentemente, a energia total é proporcional ao quadrado da amplitude d:

Et = (1/2) k d2. [9.13]

A equação [9.12] mostra que existe uma mudança contínua entre energia cinética e
potencial. Um objeto numa mola é um exemplo de um oscilador harmônico.

A maioria dos sistemas que possuem uma posição de equilíbrio, executam um


movimento harmônico simples em torno desta posição quando eles são deslocados do
equilíbrio, desde que os deslocamentos sejam pequenos. As forças de restituição
obedecem à lei de Hooke. No entanto, para grandes acelerações os sistemas se tornam
osciladores não-harmônicos, ou seja, as forças de retorno não mais são proporcionais
aos deslocamentos. Neste caso, o período depende da amplitude. Um exemplo familiar é
pêndulo simples.

Para pequenos deslocamentos, a força restauradora é aproximadamente dada por F = -


(mg/L) x. Esta é a lei de Hooke com k = mg/L ou k/m = g/L.
O período de um pêndulo simples é portanto dado por

. [9.14]
Ela é independente da massa m do peso. Depende apenas da aceleração gravitacional g e
do comprimento do fio. Medindo-se o comprimento e o perídodo de um pêndulo simples
podemos determinar g.

Movimento harmônico simples versus movimento circular

Um outro tipo de movimento harmônico simples que nos permite uma melhor idéia dos
parâmetros envolvidos é dado pelo movimento circular de uma bola comparado ao
movimento harmônico linear de outra (recarrege o "browser" para ver a animação da
figura abaixo).

Parte de cima: movimento circular uniforme (raio A, velocidade angular ω).


Parte de baixo: movimento harmônico simples (amplitude A, frequência angularω).

Vemos que o movimento harmônico simples é uma projeção do movimento circular


uniforme em torno de um eixo.

O ângulo de fase, ωt, no movimento harmônico simples corresponde ao ângulo ωt


através do qual a bola se movimentou no movimento circular. Na figura acima o objeto
começou na esquerda com tempo t = 0 s. A fase inicial é zero.

Movimento circular e oscilatório com uma fase inicial

Na figura acima, o movimento começou com a fase inicial φ. No tempo t, a bola está no
ângulo

θ = ωt + φ [9.15]
Esta é também a fase total da bola oscilatória. Sua posição é descrita por

x(t) = A cos (θ = ωt + φ) [9.16]

Com uma fase inicial de φ, o movimento não é diferente - a bola ainda oscila de um lado
para outro. Com φ = 0, a bola começa em x = +A.

Com a fase inicial de φ, a bola começa em

x(0) = A cos (φ) [9.17]

Depois que conhecemos a posição do oscilador para todos os tempos, podemos calcular a
velocidade e a aceleração:

x(t) = A cos (θ = ωt + φ) [9.18a]


v(t) = -A ω sin (θ = ωt + φ) [9.18b]
a(t) = -A ω2 cos (θ = ωt + φ) [9.18c]

Note que:

1. A velocidade oscila entre -Aω and +Aω.


2 2
2. A aceleração oscila entre -Aω e +Aω .
3. A aceleração é proporcional à posição, mas oposta em direção:
2
a(t) = - ω x(t) [9.19]

Oscilador amortecido

O que acontece quando o oscilador é amortecido, ou seja quando há atrito entre o corpo
preso à mola e o plano, ou quando se considera a força de atrito com o pêndulo e o ar ?
Forças de atrito são geralmente proporcionais à velocidade. Logo, em vez da equação
[9.3] teremos

d2x/dt2 = - ω2x - γ dx/dt [9.20]

onde b = mγ é a constante de atrito (daqui em diante simplesmente chamaremos γ de


constante de atrito) .

Se não houvesse a força de restauração da mola, a equação acima ficaria,

d2x/dt2 = - γ dx/dt [9.21]

cuja solução é da forma x(t) = C e-γt , onde C é uma constante que depende da posição e
velocidade inicial. Ou seja, a massa pára com uma taxa de desaceleração exponencial.
Sem a força de atrito o movimento é oscilatório, com frequência ω, como vimos
anteiromente. É fácil ver que no caso do movimento oscilatório amortecido, ele deve ter
uma solução intermediária, onde a velocidade angular deve ser um pouco modificada
pela oscilação.

A melhor maneira de resolver a euqção diferencial [9.3] é utilizando o conceito de


números complexos, em particular da exponencial complexa. A fórmula abaixo para a
exponencial complexa é conhecida como uma pérola da matemática.

eiθ = cosθ + i senθ [9.22]

onde i é o número imaginário. É fácil ver esta relação a partir de um gráfico no plano
complexo. Neste plano a componente real do número complexo Z, com comprimento |Z|
unitário, é dada pela projeção de Z na abcissa, cosθ. A parte imaginária de Z é dada pela
projeção na ordenada, senθ . O módulo de Z é dado por cos2θ + sen2θ = 1 .

Para resolver a equação [9.20] supomos que a solução seja na forma

x(t) = A ei(λt+φ) [9.23]

A razão para isso é que a derivada de uma exponencial é proporcional à própria


exponencial, o que faz com que equações do tipo [9.20] fiquem muito simples de
resolver, como veremos. Mas, note que a solução tem que ser real, já que as distâncias
medidas são reais. O truque está exatamente nesta questão. Usamos [9.23] para achar os
valores de λ que satisfazem a equação [9.22], substituimos as soluções possíveis de λ em
[9.23] e no final, tomamos a parte real de [9.23], que é o que nos interessa. Esse truque
funciona, e é muito poderoso no cálculo diferencial. Vamos constatar isso agora.

A derivada de [9.23] é dx/dt = iλA ei(λt+φ). A segunda derivada é d2x/dt2 = -λ2A ei(λt+φ)
(já que i2 = -1). Substituindo estes resultados em [9.22] obtemos que

(- λ2 + iλγ + ω2) A ei(λt+φ) = 0 [9.24]

Como esta relação é válida para todo t, temos que o valor em parênteses tem que se
anular identicamente:
- λ2 + iλγ + ω2 = 0 [9.25]

Cujas soluções são

λ = iγ/2 +- (ω2 - γ2/4)1/2 [9.26]

Substituindo esse resultado na solução, e tomando a sua parte real, temos que a solução
final da equação [9.22] é (não importa qual das soluções tomemos: a de sinal +, ou a de
sinal - )

x(t) = A e-γt/2 cos (ω't + φ) [9.27]

onde ω' = (ω2 - γ2/4)1/2.

Dependendo se γ 2/4 for menor, igual, ou maior do que ω2, podemos distinguir 3 casos:
O caso subamortecido: γ 2/4 < ω2 . Neste caso, a oscilação se repete durante vários
ciclos e a amplitude das oscilações diminui com o tempo. A amplitude decrescente da
oscilação é chamada de envelope.
O caso de amortecimento crítico: γ2/4 = ω2. Neste caso, não há oscilação completa,
antes de a oscilação se completar a massa pára. Vemos isto na figura acima, onde a
massa começa da posição de equilíbrio, alcança uma distância máxima, e volta, parando
na posição de equilíbrio depois de um certo tempo.
O caso de amortecimento subcrítico ou sobreamortecido: γ2/4 > ω2. Neste caso, a
massa nem alcança a posição de equilíbrio em um tempo finito. A distância diminui
exponencialmente no tempo.

Oscilador forçado e ressonâncias

Um oscilador pode também ser forçado a oscilar. Por exemplo, aplicamos uma força
periódica a uma criança em um balanço quando queremos que as oscilações continuem.
A força mais fácil de se tratar matematicamente é uma força periódica na forma F = F0
cos(ωt). Somando todas as forças do oscilador, incluindo a força de atrito e a força
aplicada, a equação torna-se

d2x/dt2 + ω2x + γ dx/dt = (F0 / m) cos(ω't) [9.28]

Como as oscilações devem ter a mesma frequência que a da força aplicada, tentaremos
uma solução na forma

x(t) = A sen(ω't) + B cos(ω't) [9.29]

Também poderíamos utilizar o método das exponenciais complexas, que introduzimos na


seção anterior. Neste caso, usamos cos(ω't) = (eiω't + e-iω't)/2, e a equação [9.23] para x
(t). No final, os coeficientes da parte real e da parte imaginária da equação são igualados
a zero, como fizemos com a equação [9.24]. Porém, utilizando [9.29], obteremos o
mesmo resultado. Calculando dx/dt e d2xdt2, obtemos que

[(-ω'2 + ω2)A - γωB] sen(ω't) + [(-ω'2 + ω2)B + γωΑ − (F0 / m) ] cos(ω't) =


0 [9.30]

Como este resultado é válido para qualquer tempo, os coeficientes da função seno e os da
função cosseno devem se anular separadamente, ou seja,

(-ω'2 + ω2)A - γωB = 0 [9.31a]


(-ω'2 + ω2)B + γωΑ − (F0 / m) = 0 [9.31b]

Resolvendo para A e B, encontramos que

A = γω(F0 / m) / [( ω2 - ω'2 )2 + γ2ω2 ] [9.32a]


B = ( ω2 - ω'2 )(F0 / m)/ [(ω2 - ω'2 )2 + γ2ω2 ] [9.32b]

Inserindo este resultado em [9.29] e usando a lei dos cossenos, encontramos finalmente
que

x(t) = xmcos(ω't + φ) [9.33]

onde
xm = (F0 / m) /[( ω2 - ω'2 )2 + γ2ω2 ]1/2 [9.34a]
φ = arctg [γω/(ω2 - ω'2 )] [9.34b]

Vemos portanto, que as amplitudes da oscilação, xm , chegam a um valor máximo quando


ω2 - ω'2 = 0 , ou seja quando ω'2= ω2 . Esta é conhecida como frequência de
ressonância.

Quando a frequência da força aplicada é igual à frequência natural do oscilador, a


amplitude da oscilação é máxima. Isto é um fenômeno bem conhecido. Por exemplo, no
caso da criança no balanço sabemos que a oscilação será máxima se aplicarmos uma
força em ressonância com a freqência de oscilação natural do balanço. Ressonâncias são
também responsáveis por vibrações indesejáveis em sistemas mecânicos, ruptura de
estruturas como prédios e pontes sob a ação de ventos ou terremotos, etc. Toda vez que
um oscilador sofre uma força periódica com a mesma freqência que sua frequência
natural, o fenômeno de ressonância aparecerá. Dizemos que a força está em fase com a
oscilação.

Projeto: Ensino de Física a distância


Desenvolvido por: Carlos Bertulani

Você também pode gostar