Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Inflação .......................................................................................................................................... 16
Análise de conjuntura
A economia brasileira tem apresentado sinais de recuperação gradual ao longo do segundo
semestre de 2017. O país iniciou um processo de retomada de crescimento do PIB e dos indicadores
de atividade, mas continua apresentando elevado nível de ociosidade dos fatores de produção, so-
bretudo na indústria, o que reflete em uma taxa de desemprego estimada em 12,7% para o mês de
agosto (Itaú BBA, 2017). O comportamento da inflação se mostrou favorável ao longo do ano,
possibilitando a redução da meta para a taxa Selic em consecutivas reuniões do Comitê de Política
Monetária (Copom), chegando em 7,50% ao ano na reunião realizada no final de outubro. Apesar
da instabilidade política e da incerteza decorrente do avanço das reformas, há o consenso que o
processo de estabilização da economia se consolidou. A recuperação do crescimento econômico e
do emprego contribui para o progressivo crescimento do consumo das famílias, impulsionando o
setor de serviços e abrindo espaço para novos investimentos em 2018.
1
distribua de forma homogênea entre os setores produtivos e componentes da demanda (IPEA,
2017). O aumento do consumo das famílias em 2017 foi sustentado pelo aumento dos rendimentos
reais, derivados da redução da inflação, concomitante a expansão do crédito ligada a redução da
taxa básica de juros e a liberação de saques das contas inativas do FTGS (Itaú BBA, 2017). A
recuperação do consumo deve estimular a retomada de investimentos, apesar dos altos níveis de
ociosidade registrados no setor industrial como um todo.
O setor agropecuário foi responsável pelo bom resultado do PIB brasileiro no primeiro se-
mestre de 2017, apresentando um crescimento de 11,5% no primeiro trimestre e produção estável
no segundo período, estima-se que a produção brasileira de grãos seja 31,1% superior a 2016
(IPEA, 2017). O resultado positivo do setor primário é explicado pelo bom desempenho de colhei-
tas que acontecem no primeiro semestre – como milho, soja e arroz – o que deve reduzir a contri-
buição do setor no segundo semestre. O setor industrial retrocedeu 0,5 no segundo trimestre de
2017, refletindo a queda da construção civil e a retração dos investimentos, parcialmente compen-
sados pelos setores de extração mineral e a indústria de transformação. O setor de serviços avançou
0,6% no segundo trimestre de 2017, interrompendo a sequência de queda de dois anos pelo segundo
período consecutivo. O setor terciário tem o maior peso no PIB brasileiro e deve contribuir para o
2
crescimento da economia no segundo semestre do ano, com destaque para os setores ligados ao
comércio e outros serviços (IPEA, 2017).
3
Gráfico 3: Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br)
136.0
135.5
135.0
134.5
134.0
133.5
133.0
132.5
132.0
131.5
131.0
*2002 = 100
Fonte: Elaboração própria com dados disponibilizados pelo BCB.
Economia internacional
As economias centrais apresentaram um crescimento acima das expectativas e a evolução
recente dos indicadores internacionais reforçam as perspectivas da expansão da atividade econô-
mica mundial em 2017. O crescimento da atividade nas principais economias avançadas registrou
aceleração no segundo trimestre. Os EUA apresentaram uma expansão sólida, sustentada princi-
palmente pelo crescimento da demanda doméstica; os elevados níveis de confiança do consumidor
e do mercado de trabalho devem dar suporte ao consumo, enquanto as exportações devem ser fa-
vorecidas pela depreciação do dólar. A Área do Euro registra três anos seguidos de crescimento do
PIB, resultado da ampliação da massa salarial e da política monetária expansionista sobre o con-
sumo doméstico. O Japão também apresentou crescimento impulsionado pela demanda doméstica
ao longo dos últimos anos, sobretudo gastos do consumidor e investimentos públicos, que refleti-
ram estímulos fiscais suplementares. A expansão moderada da renda japonesa deve limitar a am-
pliação do consumo em 2018, o que pode resultar na desaceleração da economia. A China repetiu
o desempenho consistente apresentado nos últimos trimestres, registrando um crescimento intera-
nual acentuado em 2017. O bom desempenho da economia chinesa se deve ao crescimento intenso
4
das exportações, que compensou a desaceleração da cadeia produtiva da construção civil e de ma-
teriais de construção (BCB, Relatório de inflação, 2017).
5
de julho, batendo a marca de US$60 por barril no final de outubro. Os preços da soja foram afetados
pela safra recorde registrada no Brasil, pressionando as cotações para baixo no primeiro semestre,
mas condições menos favoráveis afetaram as safras no hemisfério norte, compensando a queda de
preços ocorrida anteriormente.
As economias desenvolvidas apresentaram baixas taxas de inflação nos últimos anos, per-
manecendo em níveis considerados reduzidos pelos respectivos bancos centrais com exceção do
Reino Unido, que sofre efeitos decorrentes do Brexit. Os EUA e a Área do Euro foram beneficiados
pela redução dos preços de energia, enquanto o Reino Unido vive um momento de instabilidade,
relacionado com sua saída da União Europeia, que repercute negativamente sobre o nível de preços.
O baixo patamar das taxas de inflação alterou as perspectivas sobre a política monetária das eco-
nomias avançadas, sobretudo a possibilidade de elevação dos juros pelo Federal Open Market
Committee do Federal Reserve (Fed) em 2017, o que favoreceu a desvalorização do dólar. As
perspectivas são que o Fed dê continuidade às políticas monetárias atuais sob o comando de Jerome
Powell, apresentado por Donald Trump em novembro, que deve assumir o cargo de presidente do
banco central americano em fevereiro de 2018. O Euro apresentou uma substancial valorização no
período recente, colaborando para que o Banco Central Europeu adiasse o plano de redução do
programa de compra de títulos. O Japão sinalizou que pretende continuar com a política monetária
expansionista devido as expectativas reduzidas para a inflação, apesar do crescimento econômico
apresentado nos últimos meses.
6
Gráfico 6: Exportações de bens e serviços
50
40
30
20
10
0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Brasil China Área do Euro
Japão Reino Unido Estados Unidos
Mundo
300
250
200
150
100
50
0
jul-10
jul-08
jul-09
jul-11
jul-12
jul-13
jul-14
jul-15
jul-16
jan-16
jan-08
jan-09
jan-10
jan-11
jan-12
jan-13
jan-14
jan-15
jan-17
*2005 = 100
Fonte: Elaboração própria com dados do FMI.
7
A economia mundial apresentou um crescimento acima das expectativas sem pressionar as
condições financeiras. O cenário de crescimento da economia global e a perspectiva de uma nor-
malização da política monetária de forma gradual entre as principais economias nos próximos me-
ses ajudam a sustentar os mercados nos países desenvolvidos enquanto os emergentes são benefi-
ciados pelas baixas taxas de juros e aversão ao risco. Devido à situação robusta da balança de
pagamentos e ao ambiente com inflação baixa, expectativas ancoradas e perspectiva de recuperação
econômica, a economia brasileira parece ter capacidade de absorver impactos oriundos do cenário
internacional, embora persistam riscos associados ao processo de normalização da política mone-
tária em economias centrais e o ritmo de crescimento da economia chinesa.
3.0%
2.5%
2.0%
1.5%
1.0%
0.5%
0.0%
jul-11
ago-08
mar-09
ago-15
dez-10
fev-12
abr-13
out-09
nov-13
jun-14
mai-10
mar-16
out-16
mai-17
set-12
jan-08
jan-15
Perspectivas de crescimento
O PIB brasileiro apresentou um desempenho positivo, subindo 0,2% no segundo trimestre
de 2017 e avançando pelo segundo período consecutivo. Diferentemente do primeiro trimestre,
cuja alta derivou do resultado expressivo da agropecuária, o crescimento verificado no segundo
trimestre contou com a contribuição da demanda doméstica. O setor de serviços foi beneficiado
pelo aumento dos rendimentos reais, registrando crescimento de 0,6% frente ao período anterior.
O setor industrial recuou 0,5%, refletindo o baixo desempenho da indústria de transformação, en-
quanto a produção de máquinas e equipamentos não foi capaz de evitar uma nova queda nos inves-
8
timentos. A absorção doméstica, composta pelo consumo total – famílias e governo – e pela for-
mação bruta de capital fixo (FBCF) acrescida pelos estoques, recuou 0,1% no segundo trimestre
de 2017 (IPEA, 2017).
9
Gráfico 11: Taxa de juros média das ope- Gráfico 12: Endividamento das famílias (SFN)
rações de crédito e meta Selic (% ao ano) (% da renda acumulada em 12 meses)
Os dados de crédito divulgados pelo Banco Central do Brasil (BCB) mostram que o crédito
está mais acessível às pessoas físicas, ao mesmo tempo que o endividamento familiar apresenta
estabilidade e há redução da inadimplência. As taxas de juros médias das operações de crédito do
Sistema Financeiro Nacional (SFN) apresentaram um atraso para responder à queda da taxa Selic,
mas as taxas do cartão de crédito e das demais categorias de crédito livre reduziram-se expressiva-
mente em meados de 2017. A queda real do saldo de crédito total no SFN foi de -4,3% no final do
segundo trimestre, frente a -6,1% e -8,8% nos dois períodos anteriores. A taxa para pessoas físicas
foi de 0,4% no primeiro trimestre e 1,7% no segundo período, enquanto a taxa para pessoas jurídi-
cas passou de -14,9% no começo do ano para -10,1% no final do primeiro semestre. O endivida-
mento das famílias através do crédito habitacional elevou-se consideravelmente em virtude do pro-
grama Minha Casa Minha Vida, mas mantem-se estável em 18,5% desde meados de 2015. O en-
dividamento com crédito não-habitacional foi verificado apenas em 2017, após um período de re-
dução chegando a 23,5% no final de 2016 e manteve-se nesse patamar desde então (IPEA, 2017).
O processo desinflacionário proporcionou a preservação dos rendimentos médios reais dos ocupa-
dos, sobretudo no segmento formal. O rendimento médio real aumentou 3,0% no final do segundo
trimestre em relação ao mesmo período no ano anterior. A inadimplência para pessoas físicas se-
guiu em queda, atingindo 5,7% em julho de 2017. O Índice de Confiança do Consumidor – senti-
mento do consumidor frente à conjuntura econômica e finanças pessoas – apresentou queda ao
longo do ano e recuou 2,6% no final do segundo trimestre.
10
Gráfico 13: Indicadores de confiança Gráfico 14: Indicadores de confiança
(séries dessazonalizadas) (variação acumulada desde dez/2016)
11
74,6% no final de maio. O Nuci apresentou queda na indústria de bens de capital, de bens de con-
sumo não-duráveis e de bens intermediários, mas expandiu-se 0,4 p.p. na indústria de bens de con-
sumo duráveis. A evolução da atividade industrial reflete nos níveis de confiança dos empresários,
compensando a queda verificada após as delações de maio de 2017. Dessa forma, o Índice de Con-
fiança da Indústria registrou alta de 1,5% em agosto, acumulando um ganho de 20,8% desde de-
zembro de 2015 (IPEA, 2017).
Gráfico 15: Produção de bens de capital Gráfico 16: Nuci (dez/07 – ago/17)
das principais categorias1 (índices dessazonalizados)
A situação fiscal do país ganhou destaque ao longo de 2017 em virtude da queda de arre-
cadação – fruto do recolhimento regressivo de impostos em um país em recessão econômica – e
frustração de receitas não recorrentes, enquanto o governo continua com despesas obrigatórias
crescentes. A revisão da execução orçamentária realizada em julho promoveu novos ajustes refe-
rentes à necessidade de ampliar o contingenciamento de gastos, de R$38,4 bilhões para R$45 bi-
lhões, como forma de cumprir a meta de superávit primário em 2017. O governo promoveu suces-
sivos aumentos na tributação sobre combustíveis através do PIS/COFINS e elevou a meta do déficit
para R$159 bilhões em 2017 e 2018, enquanto promove o desmonte do sistema de proteção social
e do aparato estatal. As receitas do governo foram parcialmente frustradas pela queda acelerada da
inflação, causada pela política monetária restritiva em conjunto com o ajuste fiscal, reduzindo o
valor nominal dos impostos e, consequentemente, aumentando o valor real das despesas. A altera-
ção das metas de resultado primário aumentou a preocupação acerca do cumprimento da Emenda
Constitucional nº 95, que estabelece a variação do IPCA como limite para o crescimento do gasto
12
público ao longo de 20 anos, evidenciando a inconsistência das medidas adotadas pelo governo ao
longo dos últimos anos. O crescimento das despesas obrigatórias tende a reduzir o espaço para
demais despesas, forçando sua redução ao ponto de inviabilizar o funcionamento do governo, o
que serve de premissa para o discurso referente ao desmonte do Estado e da assistência social,
sobretudo a reforma previdenciária, que assume hegemonia na discussão sobre o gasto público.
As transações externas evoluíram de maneira favorável nos últimos meses e estão projeta-
das para contribuir com 0,3% de crescimento do PIB em 2017. As transações correntes registraram
déficit de US$2,7 bilhões até julho, enquanto a balança comercial apresentou um superávit de
US$41 bilhões. As importações se expandiram 7,3% no período, puxadas pelas compras de bens
intermediários e combustíveis, concomitantemente a uma expansão de 19,0% nas exportações, com
destaque à soja, petróleo e minério de ferro. Houve uma pequena expansão nas exportações de bens
manufaturados, sobretudo a venda de veículos e utilitários para a Argentina (BCB, op. cit, 2017).
As captações líquidas superaram as concessões líquidas em US$0,7 bilhão na conta financeira du-
rante o primeiro semestre. Os ingressos líquidos de investimento direto somaram US$40,4 bilhões
e as saídas líquidas em passivos de investimento em carteiras totalizam US$402 milhões. O estoque
de dívida externa recua desde o terceiro trimestre de 2016, principalmente nas operações de curto
prazo. O estoque de reservas internacionais correspondeu a 19,7% do PIB em julho, o equivalente
a 31 meses de importações de bens.
13
Gráfico 19: Balança comercial do Brasil (em milhares de dólares)
20,000
18,000
16,000
14,000
12,000
10,000
8,000
6,000
4,000
2,000
0
fev-17
abr-17
jul-17
mar-17
ago-17
dez-16
out-16
jun-17
out-17
set-17
nov-16
mai-17
nov-17
jan-17
Emprego e renda
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) divulgou uma taxa de
ocupação de 12,8% no trimestre encerrado em julho, correspondendo a 13,3 milhões de pessoas
desocupadas, resultado 0,8 p.p. menor do que o período anterior e 1,2 p.p maior do que o mesmo
período em 2016. De acordo com a PNAD, houve um retorno ao mercado de trabalho de 31,7%
dos trabalhadores que estavam desocupados no trimestre anterior. Portanto, a retração corresponde
a uma recuperação da população ocupada, destacando-se o setor informal, através de empregados
sem carteira e trabalhadores por conta própria. O mercado de trabalho formal apresentou aumento
no número de admissões e estabilidade nos desligamentos, apresentado uma evolução positiva no
saldo líquido de contratações. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
(Caged), houve a criação de 80 mil postos de formais de trabalho no segundo trimestre, ante ao
corte de 258,4 mil postos no mesmo período em 2016. As contratações líquidas na indústria e no
setor de serviços sugere o início de um processo de criação de vagas, enquanto a contração da
construção civil foi responsável pelo desligamento de 12,3 mil trabalhadores com carteira.
14
Gráfico 20: População ocupada Gráfico 21: Admissões e desligamentos
15
Gráfico 22: Rendimento médio real Gráfico 23: Massa salarial real
Valor absoluto e variação interanual Valor absoluto e variação interanual
Inflação
A inflação ao consumidor caiu para um patamar reduzido em março de 2016 e tem perma-
necido baixo desde então, mesmo com eventuais pressões de preços administrados. A inflação em
2017 foi caracterizada pela queda acentuada dos preços de alimentos decorrentes da safra recorde,
mas também pelo patamar reduzido das diversas medidas de inflação subjacente, incluindo com-
ponentes sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária. O Índice de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA) variou 0,20% no trimestre encerrado em agosto, enquanto o Índice de Preços ao
Produtor Amplo (IPA) regrediu 1,94%, ambos refletiram a queda de 5,99% nos preços de produtos
agropecuários. A retração dos produtos industriais atingiu 0,52%, sobretudo nos preços de alimen-
tos industrializados e derivados do petróleo, compensados por altas nos preços de celulose e miné-
rio de ferro. Os preços dos alimentos no domicílio completaram um ano com variações abaixo do
padrão sazonal, apresentando -3,54% de junho a agosto, refletindo a expansão da oferta ao longo
dos últimos trimestres. A inflação de alimentos em doze meses passou de 1,08% em maio para -
5,20% em agosto, ante a 9,36% em 2016. A redução dos preços de alimentos representa mais de
dois pontos percentuais de contribuição para a queda da variação do IPCA (BCB, op. cit,2017).
16
Gráfico 24: IPCA Total e IPCA Exclusive Gráfico 25: IPCA por Categorias
Alimentos (variação em 12 meses, em %) (variação em 12 meses, em %)
17
inflação de preços monitorados acelerou de 4,41% em maio para 6,26% em agosto, se excluídos
gasolina e tarifas de energia elétrica, o índice desacelerou de 7,13% para 6,92% na mesma base de
comparação.
18
Referências bibliográficas
BANCO CENTRAL DO BRASIL (BCB). Notas da 209ª Reunião do Comitê de Política Monetária
do Banco Central do Brasil. Banco Central do Brasil. Brasília, setembro de 2017.
19