Você está na página 1de 6

Superior Tribunal de Justiça

AgRg no AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 1.071.538 - SP (2008/0143492-9)

RELATOR : MINISTRO MASSAMI UYEDA


AGRAVANTE : PONTUAL FACTORING SOCIEDADE DE FOMENTO COMERCIAL
LTDA
ADVOGADO : LUCIANA SIQUEIRA DANIEL GUEDES
AGRAVADO : FLEXA RETENTORES INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA
ADVOGADO : MARCOS ANTÔNIO DE OLIVEIRA PRADO
EMENTA
AGRAVO REGIMENTAL - AÇÃO DECLARATÓRIA - NULIDADE DE
NOTAS PROMISSÓRIAS - EMPRESA DE FACTORING - REALIZAÇÃO
DE EMPRÉSTIMOS E DE DESCONTO DE TÍTULOS COM GARANTIA
DE DIREITO DE REGRESSO - IMPOSSIBILIDADE - PRÁTICA
PRIVATIVA DE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS INTEGRANTES DO
SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL - PRECEDENTES DESTA CORTE -
INCIDÊNCIA DO ENUNCIADO N. 83 DA SÚMULA/STJ - ADEMAIS,
ENTENDIMENTO OBTIDO DA ANÁLISE DO CONJUNTO
FÁTICO-PROBATÓRIO - REEXAME DE PROVAS - ÓBICE DO
ENUNCIADO N. 7 DA SÚMULA/STJ - MANUTENÇÃO DA DECISÃO
AGRAVADA - AGRAVO IMPROVIDO.

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima
indicadas, acordam os Ministros da TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de
Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, a Turma, por
unanimidade, negar provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Sr.
Ministro Relator. Os Srs. Ministros Sidnei Beneti, Vasco Della Giustina
(Desembargador convocado do TJ/RS), Paulo Furtado (Desembargador convocado
do TJ/BA) e Nancy Andrighi votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília, 03 de fevereiro de 2009(data do julgamento)

MINISTRO MASSAMI UYEDA


Relator

Documento: 851577 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 18/02/2009 Página 1 de 6
Superior Tribunal de Justiça
AgRg no AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 1.071.538 - SP (2008/0143492-9)

RELATOR : MINISTRO MASSAMI UYEDA


AGRAVANTE : PONTUAL FACTORING SOCIEDADE DE FOMENTO
COMERCIAL LTDA
ADVOGADO : LUCIANA SIQUEIRA DANIEL GUEDES
AGRAVADO : FLEXA RETENTORES INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA
ADVOGADO : MARCOS ANTÔNIO DE OLIVEIRA PRADO

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO MASSAMI UYEDA (Relator):


Cuida-se de agravo regimental interposto por PONTUAL
FACTORING SOCIEDADE DE FOMENTO COMERCIAL LTDA em face da decisão
de fls. 279/281, da lavra desta Relatoria, assim ementada:
"AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DECLARATÓRIA -
NULIDADE DE NOTAS PROMISSÓRIAS - EMPRESA DE
FACTORING - REALIZAÇÃO DE EMPRÉSTIMOS E DE
DESCONTO DE TÍTULOS COM GARANTIA DE DIREITO DE
REGRESSO - IMPOSSIBILIDADE - PRÁTICA PRIVATIVA DE
INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS INTEGRANTES DO SISTEMA
FINANCEIRO NACIONAL - PRECEDENTES DESTA CORTE -
INCIDÊNCIA DO ENUNCIADO N. 83 DA SÚMULA/STJ - ADEMAIS,
ENTENDIMENTO OBTIDO DA ANÁLISE DO CONJUNTO
FÁTICO-PROBATÓRIO - REEXAME DE PROVAS - ÓBICE DO
ENUNCIADO N. 7 DA SÚMULA/STJ - AGRAVO IMPROVIDO" .
Busca a agravante a reforma do r. decisum , sustentando, em
síntese, que as notas promissórias que embasaram a ação declaratória de
inexigibilidade de título por ela ajuizada são líquidas, certas de exigíveis, porquanto
"a nota promissória é título de crédito que vale pelo que nele está expresso, não
ficando vinculada ao negócio jurídico simultâneo que, porventura, tenha motivado o
seu aparecimento". Aduz, outrossim, que o Tribunal de origem, ao entender que as
notas promissórias não possuíam os requisitos exigidos para a sua validade,
desconsiderou o contrato de fomento mercantil firmado entre as partes, cuja
cláusula 4ª estabelece que a autora-agravada se responsabilizaria civil e
criminalmente pela veracidade e legitimidade dos títulos negociados (fls. 292/299).
É o relatório.

Documento: 851577 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 18/02/2009 Página 2 de 6
Superior Tribunal de Justiça
AgRg no AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 1.071.538 - SP (2008/0143492-9)

EMENTA
AGRAVO REGIMENTAL - AÇÃO DECLARATÓRIA - NULIDADE DE
NOTAS PROMISSÓRIAS - EMPRESA DE FACTORING -
REALIZAÇÃO DE EMPRÉSTIMOS E DE DESCONTO DE TÍTULOS
COM GARANTIA DE DIREITO DE REGRESSO -
IMPOSSIBILIDADE - PRÁTICA PRIVATIVA DE INSTITUIÇÕES
FINANCEIRAS INTEGRANTES DO SISTEMA FINANCEIRO
NACIONAL - PRECEDENTES DESTA CORTE - INCIDÊNCIA DO
ENUNCIADO N. 83 DA SÚMULA/STJ - ADEMAIS,
ENTENDIMENTO OBTIDO DA ANÁLISE DO CONJUNTO
FÁTICO-PROBATÓRIO - REEXAME DE PROVAS - ÓBICE DO
ENUNCIADO N. 7 DA SÚMULA/STJ - MANUTENÇÃO DA
DECISÃO AGRAVADA - AGRAVO IMPROVIDO.
VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO MASSAMI UYEDA (Relator):


O inconformismo não merece prosperar.
Com efeito, não foi trazido qualquer subsídio pela parte agravante
com capacidade de possibilitar a alteração dos fundamentos da r. decisão
vergastada, e, nesses termos, continuam imaculados e impassíveis os argumentos
nos quais o entendimento foi firmado, subsistindo em si mesmas as razões
assentadas anteriormente, ora repisadas:
"Na realidade, o Tribunal de origem entendeu pela inexigibilidade
das cambiais que constituíram o objeto da ação declaratória tratada
nos autos, sob o fundamento da ilegalidade da realização, pela
empresa de factoring, de operação de descontos de títulos com
garantia de direito de regresso contra a cedente, conforme se extrai
de trecho do v. acórdão:
'Trata-se de notas promissórias emitidas em favor de uma empresa
de 'factoring'. Na inicial, deu a entender a autora que celebrava
contratos de 'factoring' com a exeqüente, cedendo-lhe duplicatas
sacadas contra terceiros, oriundos do faturamento de sua empresa,
sendo-lhe exigida nessas ocasiões a emissão de notas promissórias
assinadas em branco como garantia.
A embargada não negou evidentemente as operações de 'factoring',
que constituem a atividade precípua de sua empresa e, pelo
contrário, confessou que as notas promissórias eram efetivamente
uma garantia para recuperar regressivamente o valor das duplicatas
não quitadas pelos respectivos sacados (fls. 94). Houve, portanto,
uma cândida admissão de que a faturizadora estava realizando uma
operação de descontos de títulos, já garantindo o direito de
regresso contra a cedente, o que era não só inadmissível, como
ilegal.
Como é de entendimento pacífico na jurisprudência, é vedada às
Documento: 851577 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 18/02/2009 Página 3 de 6
Superior Tribunal de Justiça
empresas de 'factoring' a realização de simples operações de
crédito direto, como o mútuo em dinheiro. Essas operações de
crédito, como atividade empresarial, são restritas às instituições
financeiras regulares autorizadas pelo Banco Central.
É vedado também a elas realizar descontos de títulos, podendo
apenas adquiri-los com deságio, caracterizando-se sua atividade
como uma operação de risco, não permitindo exigir garantia de
pagamento de forma regressiva.
(...)
É notório, entretanto, que as empresas de 'factoring' costumam
assumir uma interpretação equivocada da natureza e limites de suas
atividades e habitualmente pretendem garantir-se, inserindo
estipulações contratuais de garantia da idoneidade dos títulos e
exigindo a emissão de cambiais semelhantes aos tratados nos
autos, para através deles cobrar seus prejuízos perante a faturizada,
num ilegítimo direito de regresso.
No caso dos autos, foi isso que ocorreu.
Como a ré não podia legalmente descontar títulos, sejam quais
forem os termos do contrato que celebrou com a autora, deve a
operação ser interpretada apenas como a aquisição por cessão do
faturamento representado pelas duplicatas. Não sendo essas
duplicatas pagas, embora protestadas, como foi demonstrado pelos
documentos que instruíram a contestação, o risco era exclusivo
dela, que só poderia voltar-se em ações próprias contra os sacados,
sem o direito de regresso representado pelas duplicatas.
Não se revestiam as notas promissórias, portanto, de liquidez,
certeza e muito menos de exigibilidade, não podendo ser
protestadas' (fls. 167).
Tal entendimento coaduna-se com a jurisprudência desta Corte, que
já se manifestou no sentido de que o factoring distancia-se de
instituição financeira, porquanto as empresas que operam nesse
ramo não se incluem no âmbito do Sistema Financeiro Nacional,
sendo que os seus negócios não se abrigam no direito de regresso
e nem na garantia representada pelo aval ou endosso. Dessa forma,
o empréstimo e o desconto de títulos, a teor de art. 17, da Lei
4.595/64, são operações típicas, privativas das instituições
financeiras, dependendo sua prática de autorização governamental
(ut REsp nº 119.705/RS, 3ª Turma, relator Ministro Waldemar
Zveiter, DJ de 29/6/98). No mesmo sentido: REsp 767.827/GO,
relator Ministro Hélio Quaglia Barbosa, DJ de 9.10.2006; REsp
773.202/RS, relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, DJ de
13.3.2007.
Ademais, bem de ver, na espécie, que o entendimento assim
esposado pelo Tribunal de origem baseou-se na análise do conjunto
probatório carreado aos autos. Rever o entendimento de que a
empresa agravante realizava operação de descontos de títulos com
garantia de direito de regresso contra a cedente, obviamente,
demandaria revolvimento dessas provas, o que é inviável em sede
Documento: 851577 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 18/02/2009 Página 4 de 6
Superior Tribunal de Justiça
de recurso especial, a teor do disposto no Enunciado n. 07 da
Súmula/STJ" .
Assim sendo, nega-se provimento ao agravo.
É o voto.

MINISTRO MASSAMI UYEDA


Relator

Documento: 851577 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 18/02/2009 Página 5 de 6
Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA

AgRg no
Número Registro: 2008/0143492-9 Ag 1071538 / SP

Números Origem: 22752004 7127043802


EM MESA JULGADO: 03/02/2009

Relator
Exmo. Sr. Ministro MASSAMI UYEDA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro SIDNEI BENETI
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MAURÍCIO DE PAULA CARDOSO
Secretário
Bel. VALMIR MENDES DOS SANTOS
AUTUAÇÃO
AGRAVANTE : PONTUAL FACTORING SOCIEDADE DE FOMENTO COMERCIAL LTDA
ADVOGADO : LUCIANA SIQUEIRA DANIEL GUEDES
AGRAVADO : FLEXA RETENTORES INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA
ADVOGADO : MARCOS ANTÔNIO DE OLIVEIRA PRADO
ASSUNTO: Ação Declaratória - Nulidade de Título

AGRAVO REGIMENTAL
AGRAVANTE : PONTUAL FACTORING SOCIEDADE DE FOMENTO COMERCIAL LTDA
ADVOGADO : LUCIANA SIQUEIRA DANIEL GUEDES
AGRAVADO : FLEXA RETENTORES INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA
ADVOGADO : MARCOS ANTÔNIO DE OLIVEIRA PRADO

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do voto
do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Sidnei Beneti, Vasco Della Giustina (Desembargador
convocado do Tj/rs), Paulo Furtado (Desembargador convocado do Tj/ba) e Nancy Andrighi
votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília, 03 de fevereiro de 2009

VALMIR MENDES DOS SANTOS


Secretário

Documento: 851577 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 18/02/2009 Página 6 de 6

Você também pode gostar