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do segredo*
The Secret Service and the culture of secrecy
VARIA HISTORIA, Belo Horizonte, vol.28, no 48, p.537-554: jul/dez 2012 537
Suzeley Kalil Mathias / Fabiana de Oliveira Andrade
Introdução
1 BOBBIO, Norberto, MATEUCCI, Nicolas e PASQUINO, Giafranco. Dicionário de Política. Brasília: Editora
Universidade de Brasília, 1986, p. 103.
2 ARENDT, Hannah. A condição humana. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária, 2004, p. 15.
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10 Para um entendimento sobre as questões que permearam a extinção do SFICI ver: ANTUNES, Priscila Brandão.
SNI e ABIN: uma leitura da atuação dos serviços secretos brasileiros ao longo do século XX. Rio de Janeiro:
Fundação Getulio Vargas, 2002. p.46-54.
11 ANTUNES, Priscila Brandão. SNI e ABIN, p.49.
12 MARTINS FILHO, João Roberto. Movimento estudantil e a ditadura militar: 1964-1968. Campinas: Papirus,
1987, p.188-191.
13 FIGUEIREDO, Lucas. Ministério do silêncio: a história do serviço secreto de Washington Luis a Lula (1927-
2005). São Paulo: Record, 2005, p.85.
14 FIGUEIREDO, Lucas. Ministério do silêncio, p.85.
15 Para uma análise sobre as divergências em torno do processo de institucionalização do SFICI ver: ANTUNES,
Priscila Brandão. SNI e ABIN, p.46-54.
16 FIGUEIREDO, Lucas. Ministério do silêncio, considera entre as deficiências do SFICI a ausência de acesso direto
ao presidente da Republica, de autonomia financeira e de uma agencia regional em Brasília.
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17 Para maiores informações sobre objetivos nacionais permanentes e atuais, consulte-se ESG. Manual Básico da
ESG. S/l, s/ed., 1978.
18 COUTO E SILVA, Golbery. Planejamento estratégico. São Paulo: Americana, 1979, p.195.
19 Uma imagem expressa essa diferença. Conforme relatam Cruz e Martins, no momento do golpe, enquanto
Castelo Branco, representante do sorbonismo, se encontrava em um escritório em Brasília coordenando um
conjunto de pessoas que datilografavam freneticamente o que provavelmente seria o projeto do governo, Costa e
Silva (linha dura) conduzia a tropa na rua, fazendo proselitismo sobre a “Revolução”. CRUZ, Sebastião Velasco
e MARTINS, Carlos Estevam. De Castello a Figueiredo: uma incursão na pré-história da “abertura”. In: SORJ,
Bernardo e ALMEIDA, Maria Hermínia Tavares de. (orgs.). Sociedade e política no Brasil pós-64. 2. ed. São
Paulo: Brasiliense, 1984.
20 Jacob Gorender, Apud FICO, Carlos. Como eles agiam: os subterrâneos da ditadura militar, espionagem e policia
política. Rio de Janeiro: Record, 2001, p.13.
21 Chamamos tradição legalista a busca por parte dos militares brasileiros de legitimidade para suas ações por
intermédio de normas e regulamentos. Trabalhamos essa idéia particularmente em MATHIAS, Suzeley Kalil e
GUZZI, Fabiana de Oliveira. Autonomia na lei: as Forças Armadas nas constituições nacionais. Revista Brasileira
de Ciências Sociais, v. 25, p. 41-57, 2010.
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No mesmo ano de sua criação, o Serviço começou a negociar com a CIA (Agên-
cia Central de Inteligência), resultando no acordo “Relação de Ligação en-
tre o Serviço Nacional de Informações Brasileiro e o Serviço de Informações
Americano”.22
Diferentemente da CIA, entretanto, passaram a integrar o SNI membros
das Forças Armadas, alguns funcionários do Banco do Brasil, e da adminis-
tração fazendária, sempre com o predomínio de militares sobre os civis e,
entre os militares, o predomínio do Exército.23 Apesar disso, parecia que o
SNI estava longe de sua completa operacionalização, conforme as palavras do
jornalista Élio Gaspari:
22 GASPARI, Élio. A ditadura envergonhada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p.166.
23 GASPARI, Élio. A ditadura envergonhada, p.159.
24 GASPARI, Élio. A ditadura envergonhada, p.155.
25 GRONDONA, Mariano. Os pensadores da liberdade: de John Locke a Robert Nozick. Brasília: Instituto Tancredo
Neves, 2000.
26 COUTO E SILVA, Golbery. Planejamento estratégico, p.29.
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31 Sem fugir aos objetivos do texto, não temos como trabalhar o tema a contento, razão pela qual resumimos a
grande diversidade do movimento de oposição ao regime burocrático-autoritário à adoção ou não de meios
violentos de combate ao governo. Para o assunto, consulte-se FICO, Carlos: Versões e controvérsias sobre 1964 e
a ditadura militar. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.24, n.47, p.29-60, 2004.
32 FIGUEIREDO, Lucas. Ministério do silêncio, p.149.
33 FIGUEIREDO, Lucas. Ministério do silêncio, p.154.
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A Guerrilha do Araguaia.
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Segredo e perseguição39
Em fins de 1961, quando João Goulart estava no poder, ocorreu a mais im-
portante cisão do Partido Comunista do Brasil, até então conhecido pela sigla
PC. Desde então, o partido se dividiu em duas agremiações políticas, em razão
da forma diferente que os dois grupos encaravam a forma de relacionamento
com o governo: enquanto a cúpula do partido, representada pelo seu então
presidente Luis Carlos Prestes, insistia na via da legalização, buscando o regis-
tro do partido e até mesmo aderindo a outras siglas partidárias, a dissidência,
reunida em torno do antigo dirigente João Amazonas, defendia o trabalho de
base e a adoção de medidas mais violentas, como greves e boicotes. Assim,
criou-se o PCB, que ficou com a insígnia, mudando seu nome para Partido
Comunista Brasileiro, e o PCdoB, que manteve o título tradicional de Partido
Comunista do Brasil.
Após o golpe de 1964 o PCdoB adotou uma postura ainda mais radical,
pois entendia que a presença dos militares no poder não deixaria brechas para
a atuação política, qualquer que fosse. Com isso, o partido assumiu definitiva-
mente a luta armada como sua principal arma de combate ao regime.40
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Uma das regiões brasileiras onde ocorreu o maior e mais duradouro con-
flito envolvendo luta armada e sistema repressivo brasileiro está na confluên-
cia do sul do Pará, sul do Maranhão, norte de Goiás e nordeste do Tocantins,
na área atualmente pertencente a este último, e conhecida como “Bico do
Papagaio”. Nela, desde muito antes de 1964, já havia se instalado a luta pela
terra, com a presença de diferentes grupos étnicos e estratos,41 e ali, ainda
hoje, permanece a falta de solução destes tipos de conflito.42
Iniciada em 1966, a Guerrilha do Araguaia, como ficou conhecida, foi pro-
movida pelo Partido Comunista do Brasil e tinha como objetivo desencadear
uma guerra revolucionária, a fim de derrubar o governo militar e estabelecer
um governo socialista no Brasil, fomentando a revolução primeiramente na
área rural e posteriormente na área urbana.
Seguindo a doutrina do partido, os guerrilheiros instalaram-se na região
do rio Araguaia, de forma a se confundir com a própria população local. Com
isso iniciaram o chamado trabalho de base, cujo objetivo era a conscientiza-
ção sobre a exploração sofrida pelos trabalhadores, no caso específico rurais,
e a adoção da luta armada como mecanismo de combate ao regime.
Para iniciar a guerrilha, entendiam aqueles jovens comunistas que além
do treinamento e do apoio popular, seria por meio da instalação das guerri-
lhas, em lugares longínquos aos centros urbanos do país, que seria possível
garantir uma vitória mais rápida e promover a adoção de um regime socialista
duradouro.43 Por meio da proliferação de unidades guerrilheiras, preparadas
para enfrentar o inimigo em espaços inóspitos, chegar-se-ia, portanto, ao po-
der, ao mesmo tempo em que, em contrapartida, eliminar-se-ia o capitalismo
vigente. Essa tática de luta defendida pelo PCdoB é o que a literatura chama
de “foquismo” e estes militantes seriam inspirados, principalmente, pelo su-
cesso das revoluções chinesa e cubana.44
No entanto, passados seis anos de sua “internação” no campo, os guer-
rilheiros foram descobertos, dando início os combates entre militantes do
PCdoB e militares. O conjunto de combates estendeu-se até o final de 1974,
quando finalmente todos os militantes comunistas foram mortos. Estima-se
que haveria cerca de oitenta guerrilheiros, a grande maioria composta por
ex-estudantes universitários e jovens profissionais liberais, que viam na luta
armada a melhor forma de vencer o atraso do país.45 Por isso, com base na
41 ALVES, Gerson. Os posseiros e a luta pela terra no Bico do Papagaio 1964/1985: cultura e identidade. Disponível
em: http://www.uel.br/grupo-pesquisa/gepal/terceirosimposio/gersonalves.pdf, acesso em 08 out. 2012.
42 www.agenciabrasil.ebc.com.br, acesso em 01 jul. 2012.
43 www.grandecomunismo.hpg.ig.com.br, acesso em 01 ago. 2012.
44 Para uma discussão mais aprofundada sobre Foquismo veja DEBRAY, Régis. A guerrilha do Che. Lisboa:
Edições Populares, 1980.
45 STUDART, Hugo. A lei da selva, p.70.
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Conclusões
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