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Roberto de Albuquerque Cezar

www.reflexoes.diarias.nom.br

"O Negócio é Ficar?"


Pr. Davi Merkh

Todo o mundo aplaudiu quando finalmente Lígia ficou com Roberto. Ele era um "gatão"-
-bonito, atlético, inteligente. Mesmo que ele ainda não fosse crente, Lígia já o convidara
para a reunião da mocidade. Todas as amigas ficaram com ciúmes. Todas, menos uma.

Kátia, sua melhor amiga, não acreditava que Lígia havia voltado atrás na sua decisão
de não entrar na onda de "ficar". "Lígia, o que aconteceu? " ela interrogou. "Você disse
que não queria nenhum envolvimento físico com um rapaz antes de assumir um
compromisso sério. Você não é a mesma pessoa como antes . . ."

"Cai fora, Kátia. Nestes dias não dá pra gente resisitir. Todo mundo faz. Você está com
ciúmes porque eu consegui o Roberto. Hoje, o negócio é ficar."

O que significa "ficar"? Uma reportagem da Veja (13 de junho, 1990) entitulada "O
Negócio é Ficar" o descreveu assim:
"Ficar . . . transformou-se na definição de um pré-namoro, em que apenas
abraços e beijinhos não têm fim--mas isso não significa que exista um
compromisso entre os que ficam."

Em outras palavras, quem "fica" entra num relacionamento que inclui (e normalmente
enfatiza) envolvimento físico sem nenhum compromisso de longo prazo.

A onda de "ficar" tem atingido uma grande porcentagem da nossa mocidade. Mas
poucos têm avaliado biblicamente o que gosto de chamar "ficação". Para o jovem
cristão, o negócio é ficar? Creio que a resposta é: não!! Além disso, creio que "ficação"
é mais uma tentativa de Satanás para minar a pureza moral da nossa juventude,
neutralizar seu testemunho, e, eventualmente, estragar seus futuros lares.

Existem pelos menos duas razões bíblicas porque o jovem cristão não deve seguir a
moda de ficar:

1. Amizade bíblica implica em compromisso. O livro de Provérbios esclarece a


natureza da verdadeira amizade: ela exige constância (Pv. 17:17, 18:24),
lealdade (17:10), e compro-misso (17:17). Não é influenciada pelo "exterior"
como bens materiais e aparências (19:4,6,7; 14:20,21). Sempre pensa no bem-
estar do outro, não na sua própria gratificação, e não mede esforço para
provocar melhoras no caráter do outro (27:17; cf. 27:5,6). A amizade
verdadeira segue o padrão de amor em 1 Co. 13:4-8. O compromisso de se dar
é muito raro em nossos dias, mesmo entre amigos, e praticamente inexistente
no "ficar".

2. Biblicamente, o envolvimento físico legítimo entre duas pessoas sempre exige


compromisso sério entre elas, especificamente, casamento. A união física de
duas pessoas reflete uma aliança (compromisso) entre elas (Pv. 2:17, Ml. 2:14,
Gn. 2:24). Deus criou as expressões físicas de amor e intimidade como uma
"escada biológica". No plano de Deus, cada degrau da "escada" leva
naturalmente para o próximo, até alcançar o "topo", a consumação sexual. Deus
deixa bem claro que esta experiência se reserva para casais casados (Hb. 13:4).

Mas deve-se perguntar se um casal tem o direito de subir qualquer degrau da escada
quando não há compromisso, seriedade e intimidade interior nos níveis social,
emocional, intelectual e espiritual. 1 Ts. 4:3-8 adverte contra o uso do corpo para
satisfazer desejos impuros de uma forma egoista. A exploração do corpo de uma outra
pessoa barateia tanto a pessoa quanto o propósito de Deus. Na Bíblia isso representa,
na melhor das hipóteses, falsidade e hipocrisia, e na pior, fornicação e prostituição.

Além destas razões, existem algumas conseqüências sérias de "ficar". Mais uma vez,
descobrimos que Satanás tem enganado a muitos para pensarem que ficar "não faz
mal". Vários jovens já afirmaram para mim que estas conseqüências são a realidade em
suas vidas.

1. Você ganha uma "reputação" (cf. Pv. 5:3,5; 7:5-13). Todos os colegas sabem
quem "fica" e quem não "fica", quem está "disponível" e quem não. Conforme a
reportagem da Veja, os próprios jovens ainda policiam as meninas que "ficam
demais". E "as garotas ainda temem ser mal compreendidas pelos rapazes." Isso
porque sabem que os meninos falam.

2. Você perde seu testemunho (Mt. 5:13). Muitos jovens ficam porque dizem que
"todo mundo faz". Mas a Palavra de Deus nos adverte contra sermos
conformados com este mundo (Rm. 12:2). Ter um testemunho implica em ser
diferente! O sal que perde seu gosto não vale para mais nada. Onde estão os
jovens de garra e fibra como José e Daniel, que resistiram tentação no poder do
Espírito?

3. Você se sente sujo, usado, e culpado (Pv. 5:10-13). O jovem em Provérbios 5


reconhece sua insensatez em não dar ouvidos para seus pais e conselheiros.
Pena que foi tarde demais. Tenho falado com muitos jovens que confirmam que
se sentiram explorados depois de "ficar". Veja citou um psicólogo que afirmou
sobre o "ficar" "Nem tudo está perfeito. As meninas ainda têm culpa e os
rapazes não estão acostumados a simplesmente ficar. . . Isso quer dizer que os
próprios jovens acabam se confundindo . . . ficando com um no sábado e com
outro no domingo."

4. Você inicia um processo de dessensibilização e frustração. O jovem que fica


corre o grande risco de não poder parar sua subida da "escada biológica". Os
beijos levam para abraços, e os abraços para carícias. Ficar parado é cada vez
mais difícil, pois as "coisas velhas ficam pra trás". Ouça alguns comentários de
jovens entrevistados pela Veja: "Nada é melhor do que transar com quem e
quando se quer . . ." "Ficar é ótimo, porque tenho sempre uma companhia
diferente. Além disso, preciso aproveitar agora que as meninas estão mais
liberais."
"Sexo, para quem fica, não é mais indispensável. Pode-se praticá-lo ou não,
depende da vontade." Mas para o jovem cristão que "não tem vontade", ainda
pode gerar frustrações interiores que levam a pensamentos impuros, o uso da
pornografia, e a masturbação. Mas Deus não nos chamou para estas coisas, e
sim para "santificação e honra" (1 Ts. 4:4).

5. Você estraga relacionamentos no corpo de Cristo (1 Ts. 4:3-8, Mt. 5:23-26).


Uma das conseqüências de relacionamentos íntimos baratos é que
eventualmente a maioria são desfeitos. Mas muitas vezes isso leva a
ressentimentos, mágoas e ódio. Nossas igrejas estão cheias de jovens e adultos
feridos por outros membros do corpo para quem não podem nem olhar no rosto,
embora uma vez fizeram muito mais que olhar. Fica quase impossível voltar
para a "estaca zero" de amizade "inocente" quando já trocaram intimidades. O
padrão bíblico é para restaurar estes relacionamentos através do perdão. Mas a
medicina preventiva da Palavra é nunca ofender o irmão desta maneira.
Provérbios diz "O irmão ofendido resiste mais que uma fortaleza; suas
contendas são ferrolhos dum castelo" (18:19).

6. Você cultiva um egoismo que pode minar seu futuro casamento. Pessoas que
"ficam" aprendem padrões de auto-gratificação, de exploração, e de falta de
disciplina moral que no mínimo complicarão seus futuros casamentos, e que
poderão facilmente levar à infidelidade conjugal. Isso porque o "ficar" enfatiza os
meus desejos, as minhas necessidades, o meu prazer. E depois do casamento?
O que impede que estes mesmos padrões continuem? Adquirir padrões de
comportamento egoistas é outra conseqüência de "ficar".

As pressões para ficar são muito grandes. Mas pela graça de Deus o jovem cristão pode
resisti-las. Mas, se alguém já ultrapassou os limites estabelecidos por Deus? Mesmo
que alguém já tenha pisado na bola, a graça e a misericórdia de Deus não têm fim (Lm.
3:22, 23). Hoje pode ser o primeiro dia do resto da sua vida-um novo começo. O plano
perfeito de Deus é a nossa santificação. Pela sua graça, colheremos os frutos de uma
consciência limpa, amizades profundas, e lares felizes. Estas são conseqüências que
realmente valem a pena buscar, resistindo as tentações e pressões para ficar.

O negócio é ficar? Creio que para o jovem cristão, a resposta é não. Para o cristão,
"ficação" é mais uma ficção de Satanás.

Pr. Davi Merkh está casado com sua esposa Carol a 22 anos e têm 6 filhos. Leciona no Seminário Bíblico Palavra da Vida,
ministra como pastor auxiliar de exposição bíblica na Primeira Igreja Batista de Atibaia, e é autor de 14 livros com temas voltados
para ministério criativo e o lar cristão pelas Editoras Hagnos e Atos.

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