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ÍNDICE

INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 2
Matar ou não Matar: Eis a questão… ...................................................................................... 2
I. A DISCUSSÃO SOBRE A PENA DE MORTE .................................................................... 3
1. Generalidades ....................................................................................................................... 3
2. A lógica da pena de morte .................................................................................................... 3
3. Fundamentos ......................................................................................................................... 4
a. A dissuasão .......................................................................................................................... 4
b. A incapacitação.................................................................................................................... 5
c. A retribuição ........................................................................................................................ 6
II. A PENA DE MORTE NA PRÁTICA ..................................................................................... 7
1. A discriminação .................................................................................................................... 7
2. Os riscos ............................................................................................................................... 7
3. A crueldade ........................................................................................................................... 7
CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 8
BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................................... 9

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INTRODUÇÃO
Matar ou não Matar: Eis a questão…
Na discussão a respeito da conveniência ou não da instituição da pena de morte para punir
delinquentes que cometam delitos atrozes, há uma pergunta que necessita ser feita aos que
defendem o castigo capital: qual a reação adequada quando um crime hediondo é perpetrado pelo
próprio Estado?
Sabemos todos os que têm conhecimento da realidade internacional, que em inúmeros países o
nível de violação dos direitos humanos chega às raias da insanidade. Indivíduos que nunca
propugnaram pela violência são sumariamente executados pelas forças de segurança tão-só pela
divulgação de suas ideias; políticos oposicionistas que jamais advogaram o uso da força são
detidos, torturados e mortos sem qualquer julgamento; pessoas que se destacam nas lutas pacíficas
pela melhoria das condições de vida de suas comunidades são sequestradas à luz do dia e
desaparecem para sempre.

“A pena de morte é um argumento político muito utilizado quando a


violência é discutida por pessoas que não têm a mínima idéia de como
resolver o problema da criminalidade.”
Bryan Stevenson

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I. A DISCUSSÃO SOBRE A PENA DE MORTE
1. Generalidades
A pena de morte, utilizada como meio de protecção da sociedade comprovadamente desnecessária;
usada como método de vingança é embrutecedora e reacionária. Um simples exame da história da
pena capital demonstra o esforço que o homem vem fazendo há séculos para erradicá-la seja através
da diminuição gradativa do número de delitos puníveis com a morte seja através da tentativa de
suavizar os processos de execução.
Do “olho por olho, dente por dente”, da Lei de Talião, saltamos para as fogueiras da Idade Média.
Das mutilações e torturas que precediam o enforcamento dos plebeus franceses, alcançamos a
guilhotina instituída pela revolução burguesa de 1789. Do garrote vil espanhol, que aos poucos
quebrava a espinha dos condenados, atingimos o pelotão de fuzilamento. Da cadeira elétrica, que
descarrega dois mil volts sobre o corpo do sentenciado durante períodos alternados, chegamos até
a injecção letal aplicada aos norte-americanos penalizados com a morte.
A pena capital tem progredido - se assim se pode dizer – não - só no concernente às formas pelas
quais ela é posta em prática, mas também em relação à natureza dos delitos e ao tipo dos criminosos
passíveis de condenação à morte. Se atualmente em algumas poucas nações mulheres adúlteras
ainda são apedrejadas até que a vida se lhes acabe, na maioria apenas homicidas cruéis são levados
ao patíbulo. Se no alvorecer do primeiro milénio os cristãos eram jogados aos leões para
divertimento dos cidadãos de Roma, e se dava fim aos desequilibrados mentais por serem
julgados endemoniados, hoje a maior parte dos ordenamentos penais existentes no mundo veda a
aplicação da pena de morte a prisioneiros de consciência, a menores, a anciãos, a mulheres grávidas
ou que acabem de dar à luz, a pessoas mentalmente enfermas O empenho que o ser humano vem
fazendo a centenas e centenas de anos para aprimorar o Direito, justificando sua condição de animal
inteligente, é comprovado claramente pela contínua e definitiva restrição que as normas legais
vigentes vêm fazendo à vingança pessoal ou estatal.

2. A lógica da pena de morte


A defesa da pena de morte baseia-se na convicção de que as execuções correspondem as
necessidades importantes da sociedade, que não poderiam ser satisfeitas de outra forma. O
argumento utilizado é de que a pena capital é necessária, pelo menos provisoriamente, para o bem
da sociedade. Ocorre que, em primeiro lugar, jamais se pode justificar a violação de direitos
humanos fundamentais. Não se pode justificar a tortura alegando-se que em algumas situações ela
poderia ser útil.
O Direito Internacional estabelece claramente que uma pena cruel, desumana ou degradante é
sempre proibida, inclusive em situações excepcionais que ponham em perigo a vida de uma nação.
Em segundo lugar, apesar da experiência derivada de séculos de vigência da pena de morte e de
numerosos estudos científicos acerca da relação entre este castigo e as taxas de criminalidade, até
hoje inexistem provas convincentes de que ela proteja eficazmente a sociedade da delinquência ou
satisfaça as exigências de justiça.

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Normalmente, a pena de morte é apresentada como medida eficiente e apropriada para impedir e
castigar o crime, mas numerosos estudos, realizados em diversos países e com metodologias
diferentes, não puderam demonstrar que a pena capital dissuada mais fortemente do que outros
métodos punitivos.
Os países que já aboliram a pena de morte ou não a aplicam na prática possuem diferentes culturas,
tradições e sistemas sociopolíticos; têm níveis diferenciados de desenvolvimento económico e
muitos deles enfrentam graves problemas sociais.
Apesar disso, não se tem conhecimento de que qualquer um deles tenha sofrido prejuízos de ordem
social ou política que pudessem estar claramente relacionados com a abolição da pena de morte,
sendo raríssimo que uma sociedade restaure tal castigo após tê-lo abolido.
Aqueles que acreditam que a pena de morte é uma poderosa medida preventiva estão atribuindo
um poder excessivo à essa ameaça legal, à capacidade de tal castigo controlar comportamentos
anti-sociais e à racionalidade do criminoso.
Esquecem-se que a perspectiva de prazer ou ganho imediato ultrapassa largamente todos os riscos
remotos, incluindo o da morte. Um marginal em confronto com a polícia, por exemplo, enfrenta
um risco de morte imediata muito maior do que o risco de uma execução legal.

3. Fundamentos
É evidente que aquele que mata deve receber uma punição severa, de modo a exprimir a
condenação social pelo assassinato. Porém, seria o uso da pena capital a forma mais correta de
afirmar o valor da vida? É difícil imaginar como tal castigo, oficializado, possa promover o respeito
pelo ser humano.
a. A dissuasão
O argumento utilizado com mais frequência em favor da pena de morte é o da dissuasão. Ou seja,
necessário matar o criminoso para dissuadir outras pessoas de cometerem o mesmo tipo de delito.
À primeira vista, parece um argumento aceitável. O que poderia deter com maior eficácia aqueles
que têm a intenção de matar ou de cometer outros crimes graves, senão a ameaça do mais terrível
dos castigos - a morte? Ocorre que as provas empíricas não apoiam esse raciocínio. Mais: sua
lógica se baseia em suposições discutíveis.
Não é correto pensar-se que todos - ou a maioria - aqueles que comentem delitos tão sérios como
o assassinato o fazem depois de calcular racionalmente suas consequências. Na maior parte das
vezes os assassinatos são perpetrados em momentos em que sentimentos ou emoções, levados a
um alto grau de intensidade, sobrepõem-se à lucidez e à razão. Também podem ser praticados sob
a influência do álcool ou de drogas, ou em situações de pânico, como quando o ladrão é
surpreendido roubando. Algumas pessoas que cometem delitos violentos sofrem de fortes
instabilidades emocionais ou são doentes mentais. Em nenhum desses casos pode-se aguardar que
o medo da pena de morte sirva de dissuasão.

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O argumento da dissuasão não está corroborado por fatos. Se a pena de morte realmente dissuadisse
os criminosos em potencial com maior eficiência que outras penas, seria de se esperar um aumento
das taxas de criminalidade nos países que abolem a pena de morte e uma diminuição da mesma
taxa nos países em que a pena capital é adotada. No entanto, sucessivos estudos e pesquisas
realizados em todo o mundo, por organizações oficiais e particulares, não puderam estabelecer, até
hoje, nenhuma relação dessa natureza entre a pena de morte e os índices de delinquência.

b. A incapacitação
Segundo o argumento da incapacitação, um preso deve morrer (e portanto ficar “incapacitado”) a
fim de que a sociedade assegure-se de que ele nunca mais voltará a delinquir.
Uma vez morta, obviamente uma pessoa fica incapacitada para sempre. Não obstante, não se pode
condenar alguém à morte baseado unicamente no inegável fato de que os mortos não agem. Uma
política desse tipo está fundamentada na errônea suposição de que o Estado pode determinar, com
absoluta precisão quais são os presos que reincidirão ou não (se não fosse assim, o Estado deveria
estar ciente de que se arriscaria a incluir entre os executados um número considerável de presos
que não reincidiriam). O argumento da incapacitação através da morte igualmente supõe que é
impossível encontrar qualquer outro meio eficaz de impedir a reincidência. Nenhuma dessas
hipóteses está respaldada pelos fatos.
É possível prevenir-se a reincidência internando-se os réus em prisões ou outras instituições
semelhantes. Este método já é empregado no caso de indivíduos de conduta anti-social compulsiva
ou loucos violentos, pois os princípios humanitários proclamados nas legislações nacionais e no
Direito Internacional proíbem a execução de enfermos mentais - Assim, se os Estados descobriram
que o encarceramento é um meio eficiente para incapacitar doentes mentais com tendências
homicidas, por que não é possível utilizar esse mesmo método para incapacitar os réus qualificados
como normais?
Os que defendem o argumento da incapacitação acenam com casos de apenados perigosos postos
em liberdade condicional que voltaram a delinquir. Acontece que a resposta a esta questão não é a
execução dos presos, mas sim um aprimoramento dos procedimentos judiciais que antecedem a
soltura dos prisioneiros sob o regime de liberdade vigiada. Há meios bastante eficazes para se
proteger a sociedade, como o cumprimento obrigatório de longas penas de prisão antes da
concessão de liberdade condicional. O apoio à pena capital cai substancialmente quando a opinião
pública toma conhecimento desta alternativa.
O internato, que aparta os delinquentes da sociedade, tem uma grande vantagem sobre a pena de
morte como meio de incapacitação: eventuais erros judiciais, possíveis em qualquer sistema,
podem ser corrigidos, pelo menos em parte. A pena de morte, ao contrário não só tira a vida de
delinquentes que poderiam ser reabilitados, como também de pessoas inocentes condenadas
injustamente.

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c. A retribuição
Diferentemente dos argumentos da dissuasão e da incapacitação, o do castigo merecido
(retribuição) sustenta que alguns criminosos devem morrer não para impedir a delinquência, mas
como uma exigência de justiça. A execução é considerada o pagamento pelo mal cometido; ao
matar o delinquente, a sociedade demonstra sua repulsa pelo crime perpetrado.
A crença de que alguns criminosos merecem morrer decorre da profunda aversão que os cidadãos
comuns sentem pelos crimes atrozes, crimes tão ofensivos que a morte parece ser a única resposta
justa.
Este é um raciocínio emocionalmente poderoso, mas também um argumento que, se considerado
válido, abalaria os alicerces sobre os quais se estrutura o edifício dos direitos humanos. Se uma
pessoa que comete um ato terrível “merece” a crueldade da morte, por que não poderiam outras,
por razões similares, “merecerem” ser torturadas, presas sem julgamento ou simplesmente abatidas
a tiros? A essência dos direitos humanos fundamentais é que eles são inalienáveis e deles não
se pode privar o mais “inferior” dos indivíduos. Os direitos humanos são aplicáveis tanto às piores
quanto às melhores pessoas e, precisamente por isso, protegem a todos.
O argumento da retribuição se reduz, com frequência, a não mais que um desejo de vingança,
mascarado por um princípio de justiça. O desejo de vingança pode ser compreendido, mas deve-se
resistir a ele. Se os ordenamentos penais não determinam que se queime a casa de um incendiário,
que se viole um estuprador ou que se torture um torturador, não é porque tolerem tais delitos, mas
porque as sociedades entendem que elas devem construir-se sobre um conjunto de valores
diferentes daqueles que condenam. Uma execução não pode servir como manifestação de censura
a um assassinato, pois ela mesma consiste em matar. Tal ato, por parte do Estado, reflete idêntica
disposição do criminoso de empregar a violência física contra sua vítima.

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II. A PENA DE MORTE NA PRÁTICA
A pena de morte não é uma questão abstrata. A decisão de aplicá-la significa que homens e
mulheres serão selecionados para morrer. É a realidade da sua aplicação, e não meras teorias, o que
destaca a necessidade de aboli-la.
A pena capital, como já se viu, não proporciona nenhuma proteção, nenhum benefício à sociedade.
Quando tal castigo excepcional, extremamente cruel e irrevogável, é empregado por sistemas
falíveis, sujeitos a erros humanos, tem-se como resultado não o aprimoramento da justiça, mas sim
sua perversão, como veremos a seguir.

1. A discriminação
Seria surpreendente que a imposição de um castigo tão terrível e definitivo não recaísse
principalmente sobre as camadas menos favorecidas de uma sociedade: os pobres e os membros
das minorias raciais, políticas, religiosas ou étnicas. Em todo o mundo, a pena de morte é aplicada
de maneira desproporcional contra os despossuídos de toda sorte, que comprovadamente não
teriam que se defrontar com ela caso fizessem parte das camadas mais favorecidas. Isso acontece
porque são incapazes de se defender eficazmente em um processo penal (por falta de
conhecimentos, de amizades influentes ou de dinheiro) ou porque o sistema judicial reflete de
alguma forma os preconceitos e as intolerâncias que a sociedade ou seus governantes têm contra
eles. Também existem provas contundentes de que os criminosos têm mais possibilidades de serem
condenados à morte se suas vítimas integram as classes mais abastadas da sociedade.
2. Os riscos
Mesmo que os efeitos da discriminação racial e da desigualdade económica pudessem ser
eliminados, permaneceriam outras causas que possibilitariam erros em qualquer sistema judicial
concebido e administrado por seres humanos, naturalmente falíveis. As decisões arbitrárias que
privam indivíduos de sua liberdade são inaceitáveis e devem ser corrigidas, mas á decisão arbitrária
que tira a vida de uma pessoa é simplesmente intolerável e não tem remédio.
3. A crueldade
A pena de morte supõe que o Estado vai levar a cabo exatamente o mesmo ato que a lei pune mais
severamente. Praticamente todos os ordenamentos jurídicos que prevêem a pena capital, a reservam
para o homicídio deliberado e premeditado mas inexiste forma mais premeditada e deliberada de
dar morte a um ser humano que mediante uma execução, um verdadeiro assassinato a sangue frio.
E. assim como não é possível criar um processo que imponha a pena capital livre de arbitrariedades,
discrimnações ou erros, tampouco é possível encontrar uma maneira de executar uma pessoa que
não seja cruel, desumana e degradante.
Uma execução, como a tortura física, implica em uma agressão programada contra o preso, e não
em um ato de legítima defesa da sociedade, como querem alguns. A legítima defesa constitui-se
sempre em uma reação frente a uma ameaça iminente, enquanto uma execução consiste em matar
de forma planejada.

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CONCLUSÃO
Todos os sistemas de justiça criminal são vulneráveis e passíveis de erro. Nenhum sistema é, nem
será, capaz de decidir com justiça, com consistência e sem falhas. Porém, na pena de morte, a
situação se agrava ainda mais, pois, na ocorrência do erro judicial, o sentenciado perde o seu bem
maior, que é a vida, e sem direito à reparação do dano, na hipótese de erro, pois é irreversível.
Segundo a Anistia Internacional, mesmo os Estados Unidos da América, país que se orgulha e é
referência para o mundo por ter um sistema legal equilibrado e justo, foram compelidos a soltar,
desde 1975, mais de oitenta e cinco apenados, condenados à pena de morte, em virtude de se provar,
posteriormente, que eram inocentes. Isso sem contar os que foram mortos e não tiveram,
naturalmente, a oportunidade de gozar novamente da liberdade.

Ademais, não há porque exterminar o delinquente, seja ele o cidadão ou o Estado. Como
afirmou corretamente Cesare Beccaria, famoso penalista italiano, não é a crueldade da pena que
inibe o criminoso, mas sim a crença de que ela será infalivelmente aplicada. Confiando-se que
todos os delitos serão punidos de forma honesta, a criminalidade - inclusive a do “colarinho
branco”, que indiretamente ceifa mais vidas do que a marginal - diminuirá.
A vida é o maior bem da humanidade e ninguém deve ter o direito de eliminá-la. Se não houver
respeito pela vida humana, ou não for reconhecido que ela é o nosso maior bem, acima de qualquer
outro bem do homem, o mundo entrará num completo caos, pois não haverá mais respeito a
qualquer valor, e ninguém terá segurança.

“Mesmo sendo uma pessoa cujo marido e sogra foram assassinados, sou firme e decididamente
contra a pena de morte... Um mal não se repara com outro mal, praticado em represália. A justiça
nunca progride tirando-se a vida de um ser humano. O assassinato legalizado não contribui para
reforço dos valores morais.”

Kerta Scott King, viúva de Martin Luthert King - EUA

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BIBLIOGRAFIA

AMARAL NETTO, Fidélis dos Santos. A pena de morte em defesa da vida. Rio de Janeiro: Record,
1991.
BÍBLIA SAGRADA. Tradução de Frei João José Pedreira de Castro. 110. ed. Rio de Janeiro: Ave
Maria, 1998.
Documento da Anistia Internacional, A questão da Pena de Morte, Dezembro de 1998

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