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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

Laboratório em Propriedades Mecânica – EMC5110 | 05203A


Relatório 3

Ensaio de flexão

Alunos:

Lucas Schroeder (15100639)

Gabriel Tarnowsky (12100632)

Florianópolis, 11 de abril de 2017


1 Resumo
O presente relatório trata do estudo de materiais cerâmicos. Estes têm a características de
romperem de modo frágil, ou seja, não apresentam deformação significativa ao absorverem
energia até o rompimento. Devido à baixa homogeneidade do material ensaiado (e dos
materiais cerâmicos em geral) existe também existe uma certa dispersão na força máxima e na
posição da ruptura. Desta forma o ensaio de flexão de 4 ponto é mais vantajoso, pois gera um
momento fletor, e, portanto, uma força de tração constante em uma grande superfície,
diferente do ensaio de tração, por exemplo, que apresenta uma tensão trativa constante apenas
em uma seção transversal pequena.

Esta maior área de aplicação da tensão é muito importante, dada a natureza probabilística
da ruptura de materiais cerâmicos. Assim, também se faz necessário o tratamento
posteriormente dos dados através do método de Weibull, que determina um fator m, que indica
a confiabilidade do material.

2 Introdução
Materiais cerâmicos são geralmente muito duros e excelentes quando se trata de suportar
esforços compressivos. Entretanto apresentam baixa resistência à tração, alta fragilidade e baixa
homogeneidade. Para a análise da resistência a tração de materiais cerâmicos, as últimas duas
características citadas dificultam a realização de ensaios de tração. Uma boa alternativa é o
ensaio de flexão, o qual permite submeter uma grande superfície do corpo de prova (CP) a uma
mesma tensão trativa, atenuando os efeitos da baixa homogeneidade e eliminando a
necessidade de prender o CP com garras, uma dificuldade quando se trata de materiais muito
duros e frágeis.

2.1 Material
Os dados obtidos na tabela 1 são relativos a ensaios de flexão em corpos de prova
cerâmicos (pisos), recobertos com uma camada de esmalte — sempre voltada para baixo nos
ensaios realizados.

Os CP’s eram paralelepípedos com espessura de 10 𝑚𝑚, largura de 54 𝑚𝑚 e


comprimento maior que 102 𝑚𝑚, porém não especificado.

2.2 Procedimento
Foram ensaiados 31 corpos de prova numa máquina de ensaio de flexão por 4 pontos,
ilustrado na figura 1. Os aplicadores de carga (os dois cilindros na parte superior) desciam sobre
os CP, mediando a força, até rompê-los. A tabela 1 mostra o resultado dos 31 ensaios, listando
a forma máxima e a deflexão máxima no momento de ruptura para cada CP.
Tabela 1 - dados experimentais dos ensaios de flexão

corpo de deformação força máxima


prova [mm] [N]
CP 1 0,15 897,74
CP 2 0,12 841,89
CP 3 0,14 952,21
CP 4 0,11 844,65
CP 5 0,14 813,62
CP 6 0,09 945,32
CP 7 0,07 666,07
CP 8 0,09 926,01
CP 9 0,09 981,86
CP 10 0,18 978,41
CP 11 0,05 599,18
CP 12 0,08 721,92
CP 13 0,02 4,14
CP 14 0,13 737,09
CP 15 0,15 959,11
CP 16 0,13 758,46
CP 17 0,13 608,84
CP 18 0,09 677,1
CP 19 0,08 575,74
CP 20 0,07 824,65
CP 21 0,12 1094,25
CP 22 0,08 1299,73
CP 23 0,11 1200,44
CP 24 0,09 1262,49
CP 25 0,11 1176,3
CP 26 0,13 1219,05
CP 27 0,08 1245,94
CP 28 0,18 1201,13
CP 29 0,08 1550,02
CP 30 0,12 1549,33
CP 31 0,08 1158,38

Figura 1 - configuração dos corpos de prova no ensaio de flexão realizado


Figura 2 - cálculo do momento fletor no interior do corpo de prova entre os dois aplicadores de carga (F em newtons)

A principal vantagem do método de ensaio de flexão por 4 ponto é que a tensão trativa
máxima atua sobre uma extensa área da superfície do material. A figura 2 mostra como são
calculados os esforços internos no corpo de prova.
𝐹 𝐹
𝑀− ∙ 𝑥 + ∙ (𝑥 − 25,5) = 0
2 2
𝑀 = 12,75 ∙ 𝐹 [𝑁 ∙ 𝑚𝑚]
Fica claro então que, para 25,5 ≤ 𝑥 ≤ 51 𝑚𝑚, o momento fletor no CP é constante,
variando apenas com a intensidade da força F, como ilustra a figura 3.

Figura 3 - distribuição do momento fletor ao longo do eixo x do corpo de prova (em função da força aplicada)

Com o momento fletor em mãos, podemos calcular a tensão normal ao longo da seção
transversal dos corpos de prova. Mas primeiro precisamos calcular o momento de inércia da
seção transversal (figura 4) em torno do eixo neutro.
Figura 4 - seção transversal dos corpos de prova

Cálculo do momento de inercia da seção transversal em torno do eixo z dos corpos de


prova:

𝑏ℎ3
𝐼𝑧𝑧 = [𝑚𝑚4 ]
12
103
𝐼𝑧𝑧 = 54 ∙ = 4500 𝑚𝑚4
12
Dessa forma, podemos calcular a distribuição da tensão normal no interior dos CP’s,
ilustrada na figura 5.

Figura 5 - distribuição da tensão normal na seção transversal dos corpos de prova

Cálculo da tensão trativa na superfície inferior dos corpos de prova na região entre os
dois aplicadores de carga:
𝑀∙𝑦
𝜎= [𝑀𝑃𝑎]
𝐼𝑧𝑧

12,75 ∙ 𝐹 ∙ (10⁄2)
𝜎𝑚á𝑥 = = 0,014166667 ∙ 𝐹 [𝑀𝑃𝑎]
4500
O resultado acima relaciona a tensão normal (trativa) na superfície inferior (esmaltada)
dos corpos de prova. Usando as forças obtidas na tabela 1, calculou-se a tensão normal para
cada CP e o resultado é mostrado na tabela 2.
Tabela 2 - máxima tensão trativa na superfície inferior de cada corpo de prova

corpo de deformação força máxima tensão


prova [mm] [N] [MPa]
CP 1 0,15 897,74 12,718
CP 2 0,12 841,89 11,927
CP 3 0,14 952,21 13,490
CP 4 0,11 844,65 11,966
CP 5 0,14 813,62 11,526
CP 6 0,09 945,32 13,392
CP 7 0,07 666,07 9,436
CP 8 0,09 926,01 13,118
CP 9 0,09 981,86 13,910
CP 10 0,18 978,41 13,861
CP 11 0,05 599,18 8,488
CP 12 0,08 721,92 10,227
CP 13 0,02 4,14 0,059
CP 14 0,13 737,09 10,442
CP 15 0,15 959,11 13,587
CP 16 0,13 758,46 10,745
CP 17 0,13 608,84 8,625
CP 18 0,09 677,1 9,592
CP 19 0,08 575,74 8,156
CP 20 0,07 824,65 11,683
CP 21 0,12 1094,25 15,502
CP 22 0,08 1299,73 18,413
CP 23 0,11 1200,44 17,006
CP 24 0,09 1262,49 17,885
CP 25 0,11 1176,3 16,664
CP 26 0,13 1219,05 17,270
CP 27 0,08 1245,94 17,651
CP 28 0,18 1201,13 17,016
CP 29 0,08 1550,02 21,959
CP 30 0,12 1549,33 21,949
CP 31 0,08 1158,38 16,410

Tabela 3 - ordenação dos tensões máximas

número da corpo de tensão


amostra prova [MPa]
1 CP 13 0,059
2 CP 19 8,156
3 CP 11 8,488
4 CP 17 8,625
5 CP 7 9,436
6 CP 18 9,592
7 CP 12 10,227
8 CP 14 10,442
9 CP 16 10,745
10 CP 5 11,526
11 CP 20 11,683
12 CP 2 11,927
13 CP 4 11,966
14 CP 1 12,718
15 CP 8 13,118
16 CP 6 13,392
17 CP 3 13,490
18 CP 15 13,587
19 CP 10 13,861
20 CP 9 13,910
21 CP 21 15,502
22 CP 31 16,410
23 CP 25 16,664
24 CP 23 17,006
25 CP 28 17,016
26 CP 26 17,270
27 CP 27 17,651
28 CP 24 17,885
29 CP 22 18,413
30 CP 30 21,949
31 CP 29 21,959

O resultado do corpo de prova 13 é claramente um outlier, possivelmente devido a


algum defeito incomum no material ou a um erro na operação do ensaio. Para não prejudicar a
análise estatística do material, o ponto foi ignorado nas contas a seguir.

Weibull (1887-1979) sugeriu a seguinte relação:


𝜎 − 𝜎𝜇 𝑚
𝑓(𝜎) = ( )
𝜎0
Onde 𝜎 [𝑀𝑃𝑎] é a tensão normal aplicada, 𝜎𝜇 [𝑀𝑃𝑎] é a maior tensão em que a
probabilidade de fratura é zero (para materiais frágeis 𝜎𝜇 = 0) e 𝜎0 [𝑀𝑃𝑎] é a tensão onde a
probabilidade de fratura é de 63,2%.

Para um material frágil, a probabilidade de fratura é uma função do volume, pois quanto
maior o volume, maior as chances de haver um defeito na composição do material – um elo
fraco – e, portanto, maior as chances de fratura. A probabilidade de fratura levando em conta o
volume pode ser equacionada como:
𝜎 𝑚
− ∫𝑉 ( ) ∙𝑑𝑉
𝐹 =1−𝑒 𝜎0

Dessa forma, para simplificar as contas e garantir um resultado estatístico coerente,


todos os corpos de prova têm as mesmas dimensões, portanto o mesmo volume.

Para determinar o coeficiente 𝑚, aproximamos a probabilidade de fratura da amostra


𝑛𝑖 com a equação seguinte, onde 𝑁 é o número de amostras testadas. A tabela 4 lista a
aproximação da probabilidade para cada nível de tensão.
𝑛𝑖
𝐹𝑖 =
𝑁+1

Tabela 4 - frequência estimada de ocorrência de ruptura para cada nível de tensão

corpo de número da tensão


𝐹𝑖
prova amostra [MPa]
CP 19 1 8,156 0,0323
CP 11 2 8,488 0,0645
CP 17 3 8,625 0,0968
CP 7 4 9,436 0,1290
CP 18 5 9,592 0,1613
CP 12 6 10,227 0,1935
CP 14 7 10,442 0,2258
CP 16 8 10,745 0,2581
CP 5 9 11,526 0,2903
CP 20 10 11,683 0,3226
CP 2 11 11,927 0,3548
CP 4 12 11,966 0,3871
CP 1 13 12,718 0,4194
CP 8 14 13,118 0,4516
CP 6 15 13,392 0,4839
CP 3 16 13,490 0,5161
CP 15 17 13,587 0,5484
CP 10 18 13,861 0,5806
CP 9 19 13,910 0,6129
CP 21 20 15,502 0,6452
CP 31 21 16,410 0,6774
CP 25 22 16,664 0,7097
CP 23 23 17,006 0,7419
CP 28 24 17,016 0,7742
CP 26 25 17,270 0,8065
CP 27 26 17,651 0,8387
CP 24 27 17,885 0,8710
CP 22 28 18,413 0,9032
CP 30 29 21,949 0,9355
CP 29 30 21,959 0,9677

Figura 6 - gráfico da probabilidade estimada para cada nível de tensão (em azul) e a (linha de tendência (em laranja)
calculada com a equação de Weibull

Como utilizou-se o mesmo volume para todos os CP’s a integral da expressão F fica
simplificada e a equação se reduz a:
𝜎 𝑚
−( )
𝐹 =1−𝑒 𝜎0

A equação acima é mais fácil de trabalhar na sua forma linearizada, onde o coeficiente
𝑚 representa a inclinação da reta gerada.
1
ln (ln ( )) = 𝑚 ∙ ln(𝜎) − 𝑚 ∙ ln(𝜎0 )
1−𝐹
(𝑒−1)
Na equação acima pode-se perceber que quando 𝐹 = 𝑒
= 0,6321205 tem-se 𝜎 =
𝜎0 , ou seja, 𝜎0 [𝑀𝑃𝑎] é a tensão na qual o material têm 63,21% de chance de romper.
Tabela 5 - linearização das frequência de ocorrência de ruptura

1
𝑛𝑖 𝜎𝑖 [MPa] 𝐹𝑖 ln(𝜎𝑖 ) ln(ln ( ))
1 − 𝐹𝑖
1 8,16 0,0323 2,0988 -3,4176
2 8,49 0,0645 2,1387 -2,7077
3 8,63 0,0968 2,1547 -2,2849
4 9,44 0,1290 2,2445 -1,9794
5 9,59 0,1613 2,2610 -1,7379
6 10,23 0,1935 2,3251 -1,5366
7 10,44 0,2258 2,3458 -1,3628
8 10,74 0,2581 2,3744 -1,2090
9 11,53 0,2903 2,4446 -1,0702
10 11,68 0,3226 2,4581 -0,9430
11 11,93 0,3548 2,4788 -0,8250
12 11,97 0,3871 2,4821 -0,7143
13 12,72 0,4194 2,5430 -0,6095
14 13,12 0,4516 2,5740 -0,5095
15 13,39 0,4839 2,5947 -0,4134
16 13,49 0,5161 2,6019 -0,3203
17 13,59 0,5484 2,6091 -0,2295
18 13,86 0,5806 2,6291 -0,1404
19 13,91 0,6129 2,6326 -0,0523
20 15,50 0,6452 2,7410 0,0355
21 16,41 0,6774 2,7979 0,1235
22 16,66 0,7097 2,8133 0,2125
23 17,01 0,7419 2,8336 0,3035
24 17,02 0,7742 2,8342 0,3975
25 17,27 0,8065 2,8490 0,4961
26 17,65 0,8387 2,8708 0,6013
27 17,89 0,8710 2,8840 0,7167
28 18,41 0,9032 2,9130 0,8482
29 21,95 0,9355 3,0887 1,0083
30 21,96 0,9677 3,0892 1,2337

A equação de Weibull linearizada pode ser plotada em um gráfico linear 𝑦 = 𝑎 ∙ 𝑥 + 𝑏


1
quando fazemos 𝑦 = ln (ln (1−𝐹)), 𝑎 = 𝑚 e a constante 𝑏 = −𝑚 ∙ ln(𝜎0 ). O gráfico pode ser
visto na figura 7, onde a reta mais escura é a linha de tendência (linear).

Usando as funções “=INCLINAÇÃO()” e “=INTERCEPTAÇÃO()” do Microsoft Excel©,


obteve-se os fatores 𝑚 = 4,030286524 e −𝑚 ∙ ln(𝜎0 ) = −10,97540182, o que resulta em
𝜎0 = 15,22945154 𝑀𝑃𝑎. Logo, a equação de probabilidade de fatura em função da tensão
aplicada no CP é:

𝜎 4,0303
−(15,229)
𝐹 (𝜎) = 1 − 𝑒
A reta em azul escuro na figura 7 foi gerada usando a linearização da equação acima, em
azul claro estão os pontos experimentais.
ln(𝜎𝑖 )
ln(ln 1Τ1 − 𝐹𝑖 )

Figura 7 - distribuição de Weibull para os corpos de prova analisados

3 Discussões
 Para que somente 1 em 10.000 corpos de prova falhe, a tensão não pode ser maior que
𝜎 = 0,106 𝑀𝑃𝑎

𝜎 4,0303
1 −( )
=1−𝑒 15,229 ⇒ 𝜎 = 0,1060 𝑀𝑃𝑎
10000

Com a tensão causada pelos aplicadores de carga citados anteriormente, a força 𝐹 não pode
superar:

𝜎𝑚á𝑥 = 0,014166667 ∙ 𝐹 = 0,1060 ⇒ 𝐹𝑚á𝑥 = 7,484 𝑁

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