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ESCOVA PROGRESSIVA

Abordagem crítica do uso de formaldeído em procedimentos de alisamento


Tatiana S. Balogh1, André R. Baby2, Ricardo T. Villa3, Valcinir Bedin4, Maria Valéria R. Velasco2

(1) Mestranda em Fármacos e Medicamentos pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas - USP


(2) Prof. Dr. - Cosmetologia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas - USP
(3) Médico Dermatologista Coordenador da Fundação Pele Saudável
(4) Médico Dermatologista Presidente do Instituto de Pesquisa e Tratamento do Cabelo e da Pele

INTRODUÇÃO ANVISA

O cabelo humano é um ornamento passível de mudanças em sua forma, cor A Agência Nacional de Vigilância Sanitária permite a utilização de formol
e comprimento. Atualmente, percebe-se, no Brasil, uma preferência em em produtos de higiene pessoal e cosméticos, como conservante. A
relação aos cabelos lisos. concentração máxima permitida é de 0,1% para produtos de higiene oral e
Existem diversos procedimentos de alisamento, mecânicos ou químicos, de 0,2 % para outros produtos cosméticos e, expecionalmente, em produtos
que proporcionam a obtenção de cabelos lisos por um curto intervalo de para endurecimento das unhas, permite uma concentração de até 5%, sendo
tempo ou por um período prolongado. O alisamento mecânico envolve metais obrigatória a proteção das cutículas como cera ou óleo.
com alta temperatura que modificam as ligações de hidrogênio mais fracas, o Nas concentrações previstas na legislação, como conservante, o formol
alisamento químico utiliza agentes redutores alcalinos que quebram as pontes não causa danos à saúde. Na concentração de uso permitida em
de dissulfeto do córtex. As pontes de dissulfeto são reestruturadas com o endurecedores de unha, desde que protegidas as cutículas, o formol
auxílio de pentes que alisam mecanicamente o cabelo e consolidadas com o apresenta baixa probabilidade de causar irritação ou alergia. Qualquer
uso de agentes oxidantes. emprego fora dessas especificações pode acarretar câncer na boca, narina,
Nos últimos anos, introduziu-se nos salões de beleza brasileiros um novo pulmão, traquéia, etc.
procedimento de alisamento capilar, conhecido como escova progressiva.
Este procedimento promete um alisamento duradouro, em torno de 1 a 4 Anvisa proíbe o uso de formol em alisamentos capilares
meses, e é utilizado, em escala crescente, em diversos salões de beleza.
Existem diversos tipos de escovas progressivas, a maioria delas apresenta A utilização de formol em alisamentos capilares é proibida pela Agência
formaldeído na composição química. Nacional de Vigilância Sanitária. No entanto, muitos salões de beleza do país
utilizam ilegalmente o produto, expondo o consumidor e o profissional a
FORMALDEÍDO inúmeros riscos. Não existe nenhum produto utilizando formol como
alisante registrado na Anvisa. O risco do formol em sua aplicação indevida é
tanto maior quanto maior a concentração e a freqüência do uso, e se dá pela
O formaldeído, cuja fórmula estrutural está representada na Figura 1, é um inalação dos gases gerados com o uso de chapinhas de aquecimento e pelo
aldeído. Aldeídos são compostos químicos orgânicos que apresentam como contato com a pele. A Anvisa permite a utilização de outras substâncias
característica comum à classe a presença de um grupo carbonila ligado a um como alisantes capilares, algumas substâncias aprovadas pela legislação
hidrogênio. O formaldeído apresenta as propriedades físicas descritas na brasileira são:
Tabela 1.
* Ácido tioglicólico
* Hidróxido de sódio
* Hidróxido de lítio
* Carbonato de guanidina
* Hidróxido de cálcio

As Figuras 1, 2 e 3 demonstram alguns danos provocados pela utilização


de produtos ilegais de alisamento capilar à base de formol, conhecidos
como escovas progressivas.
Figura 1 – Fórmula estrutural do formaldeído

Fórmula Química Fórmula Estrutural Ponto de fusão Ponto de ebulição (°C) Solubilidade
(°C) em água
HCHO -92 -21 Muito
solúvel
Tabela 1 Características físicas do formaldeído

O formaldeído é um gás, normalmente utilizado em solução aquosa a cerca


de 37% em massa (formol). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), Figura 1 - Reações alérgicas na nuca Figura 2 - Irritação cutânea
o formaldeído é cancerígeno.
Quando absorvido pelo organismo por inalação e, principalmente, pela
exposição prolongada, apresenta como risco o aparecimento de câncer na
boca, nas narinas, no pulmão, no sangue e na cabeça. O uso de formaldeído
apresenta diversos riscos, a Tabela 2 apresenta de forma sintética estes
principais riscos.
Forma de contato Reações

Contato com a Tóxico, causa irritação à pele gerando vermelhidão, dor e


pele queimaduras
Contato com os Causa irritação, vermelhidão, dor, lacrimação e visão Figura 3 - Queda Capilar
olhos embaçada. Em altas concentrações causam danos
irreversíveis
Inalação Pode causar dor de garganta, irritação do nariz, tosse,
Conclusão
diminuição da freqüência respiratória, irritação e sensibilização
do trato respiratório. Pode ainda causar câncer no aparelho A maioria das mulheres brasileiras almejam obter cabelos lisos, assim
respiratório, graves ferimentos nas vias respiratórias, levando torna-se grande a procura por procedimentos de alisamento em salões de
à edema pulmonar e pneumonia. É fatal em altas beleza. A Anvisa autoriza o uso de alguns alisantes, como o ácido
concentrações tioglicólico, hidróxido de sódio, hidróxido de lítio, carbonato de guanidina e
Exposição crônica Pode causar hipersensibilidade, dermatites, reação alérgica, hidróxido de cálcio, entretanto, proíbe a utilização de formol como alisante.
debilitação da visão e aumento do fígado Apesar da proibição, diversos salões de beleza utilizam ilegalmente o formol
em procedimentos de alisamento, conhecidos como escovas progressivas.
No uso em escovas progressivas, dependendo da
Essa prática expõe consumidores e profissionais à graves riscos, tais
concentração do formol, pode causar queda capilar.
como: carcinogenicidade, irritação de pele e olhos, hipersensibilidades,
Tabela 2 – Principais reações do uso do formaldeído entre outros.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Informações técnicas. Disponível em:
http://www.anvisa.gov.br/cosmeticos/alisantes/alisante_formol.htm Acesso em 20 abr. 2009
Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Anvisa alerta sobre o uso de formol em alisamento capilar. Disponível em:
http://www.anvisa.gov.br/divulga/noticias/2007/210307.htm. Acesso em 20 abr. 2009
SOLOMOS G.; FRYHLE C. Química Orgânica. 7ed., v. 2 Rio de Janeiro – LTC, 474 p., 2002.

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