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TEOLOGIA E A NOVA ORDEM


ECONÔMICA
Jung Mo Sung

1. A missão da Igreja.

"As ALEGRIAS E AS ESPERANÇAS, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos
pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos
discípulos de Cristo." Essas belas e proféticas palavras abrem o importante do documento do Concílio
Vaticano II, a Constituição Pastoral "Gaudium et Spes". Inspirados pelo Espírito Santo e iluminados por
estas palavras, e também tantas outras nesse mesmo sentido, muitos cristãos e comunidades assumiram a luta
pela causa da vida dos seres humanos, em particular dos pobres.

Essa causa é a causa do Deus da Vida. Pois como disse o papa João Paulo II: "Em Jesus Cristo, todos os
caminhos em direção ao homem, tais como foram confiados de uma vez para sempre à Igreja no contexto
variável dos tempos, são ao mesmo tempo um caminhar ao encontro do Pai e do seu amor".1 Isto significa
que não há outro caminho a Deus senão o caminho que passa pelo ser humano, com os problemas e desafios
do seu contexto social. Cabe à Igreja, "no contexto variável dos tempos", ser fiel à missão de anunciar a
boa-nova do Senhor.

Num contexto social como o nosso, onde quase um terço da humanidade (1,3 bilhões de pessoas) vive numa
pobreza extrema e o desemprego aumenta assustadoramente por causa dos ajustes econômicos impostos
pelo FMI e Banco Mundial e pela atual revolução tecnológica, a nossa mensagem de evangelização não
pode ser abstrata e genérica. Precisa estar concretamente articulada com o nosso contexto histórico, com a
nova ordem econômica internacional. O que significa que o anúncio da boa-nova passa hoje, mais do que
nunca, pela solidariedade com os excluídos, os empobrecidos e com os trabalhadores desempregados, na
defesa da dignidade e da vida de todos os seres humanos. Como diz o papa João Paulo II, esta é a causa da
Igreja "porque a considera como sua missão, seu serviço e como uma comprovação da sua fidelidade a
Cristo, para assim ser verdadeiramente a 'Igreja dos pobres'".2

Esse sentimento de urgência diante dos problemas sociais que agravaram os últimos 15 anos e a convicção
de que palavras e ações solidárias com os pobres são essenciais à nossa missão de anunciar a boa-nova ao
mundo fizeram muitas comunidades e pastorais a se interessarem pela análise de conjuntura. Afinal, não
podemos anunciar a boa-nova "no contexto variável" dos tempos, se não compreendemos o nosso contexto.
Por isso, é tão importante o trabalho dos assessores economistas, sociológos, politólogos e outros nas
nossas atividades pastorais. (A primeira parte deste livro e do "Curso de Verão" é um exemplo claro desse
trabalho conjunto com assessores da área de ciências econômicas e sociais.)

Se a análise da cojuntura econômica e política, felizmente, já é familiar às nossas atividades pastorais, não se
pode dizer o mesmo da reflexão teologia-economia. Apesar de que esse tipo de reflexão já conta com mais
de 15 anos na América Latina,3 por causa de uma série de dificuldades, muitos ainda se perguntam: "O que
Deus e a teologia têm a ver com a economia?"

2. Teologia e economia

Teologia, como todos sabem, é o estudo sistemático (logos) sobre Deus (Theos). O objeto principal da
teologia não é provar que Deus existe, pois isso é um pressuposto da teologia; além de que não é possível
provar definitivamente, com a nossa razão, a existência de Deus. Nesse sentido, Deus é mais objeto de
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esperança e fé do que de certeza. Sem entrar em grande debate sobre o objeto central da teologia, podemos
dizer que é Deus e, portanto, o discernimento das imagens de Deus.

Santo Tomás de Aquino já dizia que de Deus nós sabemos mais o que Ele não é, do que o que Ele é; e que,
por isso, não podemos anunciar a Deus "em si".4 Isso significa que não devemos cair na tentação de
acharmos que possuímos conhecimento certo e exato sobre Deus, mas reconhecer os nossos limites e
procurar discernir, a partir da experiência de fé/revelação narrada na Bíblia e na Tradição, as diversas
imagens de Deus presentes e subjacentes nas nossas vidas, nas Igrejas e nas sociedades.

A partir dessa noção de teologia, aproximemo-nos de uma das primeiras imagens de Deus apresentada pela
Bíblia. Tomemos o texto que nos fala do Paraíso e da criação da humanidade. O livro de Gênesis nos diz
que "Iahweh Deus modelou o homem com a argila do solo, insufluou em suas narinas um hálito de vida e o
homem se tornou um ser vivente". (Gn 2,7) É um modo bonito de falar de Deus e do ser humano. Deus é
apresentado como o doador da vida; por isso o cristianismo sempre ensinou que a vida é o maior dom que
recebemos de Deus. Deus é Deus da Vida; a vida faz parte da "essência" de Deus. O ser humano é
apresentado como um "ser vivente" (corpo + vida), nascido das mãos de Deus.

Na tradição bíbllica não há a noção dualista do ser humano, tão forte na filosofia grega. Nesssa tradição
filosófica e religiosa grega, o ser humano é um composto de corpo e alma, onde o corpo está em luta contra
a alma. E a salvação consistiria na salvação da alma da prisão que é o corpo. Nesse sentido, a religião
deveria se ocupar da alma, na luta contra as tentações materiais e corporais. O que leva a uma separação
radical entre teologia e economia.

Na Bíblia, pelo contrário, Deus se apresenta como dador da vida que se preocupa com a vida do ser
humano. Por isso, logo após a criação do "ser vivente", Deus "plantou um jardim em Éden", com "toda
espécie de árvores formosas de ver e comer",(Gn 2,8-9) e colocou aí o homem "para o cultivar e guardar"
(Gn 2,16). Cultivar a terra para que ele dê frutos para a vida dos seres humanos. Na tradição bíblica, a
contradição fundamental não é da alma X corpo; mas sim a da vida X morte. É por isso que Jesus diz: "Eu
vim para que todos nós tenham a vida, e a tenham em abundância"(Jo 10,10).

Todos nós sabemos que não há vida sem comida, bebida, roupa, casa, saúde, liberdade e afeto/acolhimento.
Por isso é que o evangelho de Mateus (Mt 25, 31-46) nos ensina que esse conjunto, que possibilita a vida, é
o ponto chave no nosso juízo perante Deus. Quando Jesus coloca esses pontos como o critério, ele não está
reduzindo a salvação a uma questão meramente material. A salvação não vem pela preocupação com a
comida, bebida, etc. Pois, todos, mesmo os perversos, se preocupam com essas coisas para si e para os
seus. A salvação vem pela busca da comida, bebida, roupa, casa, saúde, liberdade e afeto/acolhimento dos
pequenos, daqueles que a sociedade excluiu, daqueles que não nos podem pagar ou retribuir. Pois, só os
que são movidos pelo Espírito de Deus são capazes desse tipo de gratuidade. Os que dedicam sua vida a
defender a vida e a dignidade humana dos "pequenos" conhecem a Deus que é Amor, mesmo que não
tenham a consciência disso.

A produção, distribuição e consumo destes bens materiais é o campo da economia. Sendo assim, na
concepção bíblica de Deus, não há contradição entre teologia e economia. Muito pelo contrário, quem
conhece a Deus da Vida, defende a vida ameaçada pelas forças da morte e se "intromete" na economia , em
nome da fé,para que ela esteja a serviço de todos os seres humanos.

3. Economia e teologia

Muitos pensam que a relação entre teologia e economia é uma mão que vai só da teologia para economia e
que na economia não há questões teológicas. Em outras palavras, esta relação seria algo que só os teólogos

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conseguem ver, na tentativa de justificar a "intromissão" das Igrejas em assunto alheio: a economia. Eles
acreditam que a economia é uma ciência moderna, sem relação com a ética e, muito menos, com a teologia,
que deveria tratar só dos assuntos "celestiais".

O que este grupo não consegue ver é que a ciência econômica está fundada, como todas as ciências, em
certos pressupostos filosóficos. Até mais. Está fundada também em pressupostos teológicos, ou metafísicos
(como se dizia antigamente). Isso porque, a economia trata das questões relativas à vida humana e social. A
redução das religiões às questões privadas e "celestiais", como ocorreu nas sociedades modernas, não acaba
com as grandes questões da humanidade que eram tratadas pelas religiões nas sociedades pré-modernas. E
algumas dessas questões são do campo da economia.

Podemos dizer que a ciência econômica tem alguns níveis. O mais aparente e conhecido é o nível da
operacionalidade econômica. Costuma-se identificar esse nível com toda a ciência econômica. Mas ela
possui também implicitamente uma filosofia e, portanto, uma ética.5 Além disso, há também pressupostos
teológicos. Isso porque todas as ciências e teorias precisam ser construídas a partir de algumas premissas
que não podem ser provadas e que na maioria das vezes compõem um mito.

A esse respeito, Celso Furtado diz que "os mitos têm exercido uma inegável influência sobre a mente dos
homens que se empenham em compreender a realidade social. (...) os cientistas sociais têm sempre buscado
apoio em algum postulado enraizado num sistema de valores que raramente chegam a explicitar. O mito
congrega um conjunto de hipóteses que não podem ser testadas. (...) A função principal do mito é orientar,
num plano intuitivo, a construção daquilo que Schumpeter chamou de visão do processo social, sem a qual o
trabalho analítico não teria qualquer sentido."6

Por isso, Joan Robinson, falando do problema moral na economia e na sociedade, diz: "O problema moral é
um conflito que não pode nunca ser decidido. A vida social irá sempre apresentar à humanidade uma escolha
de males. Nenhuma solução metafísica que possa ser formulada parecerá satisfatória para sempre. As
soluções apontadas pelos economistas não são menos ilusórias do que as dos teólogos a quem eles
substituíram."7

Cristovam Buarque, por sua vez, diz que a ciência econômica "formulou um marco teórico que se encontra
mais perto de uma teologia do processo produtivo. Como toda teologia, a econômica foi construída sobre
dogmas que formam suas premissas básicas".8 E um outro economista importante, J.K. Galbraith, que
chama a ideologia neoliberal de "teologia do laissez-faire", diz que a defesa do neoliberalismo hoje se faz
baseado em "fundamentos teológicos mais profundos. Assim como é preciso ter fé em Deus, é preciso ter fé
no sistema; em certo sentido, ambos são idênticos."9

Se é verdade o que dizem estes economistas, precisamos desmascarar a teologia implícita na atual ordem
econômica internacional que está sendo implantada a partir da globalização, da queda do bloco socialista e
da revolução tecnológica e gerencial. Desvelar para por a "nu" a teologia que move essa ordem e que, por
causa da sua base religiosa, fascina as pessoas.

A importância de revelar essa teologia implícita ou, como diz Hugo Assmann, "teologia endógena", do
sistema de mercado fica mais claro se tivermos em conta duas coisas. Primeiro, quem pratica o mal em nome
de alguns deus perverso (ídolo), ou de uma devoção religiosa, possui uma consciência tranqüila (cf. Sl
73,12). Isso porque o mal que ele pratica contra os "pequenos" não é visto como mal, mas sim como uma
obra salvífica. Com isso, o seu mal não conhece limites. Segundo, se o sistema capitalista produz uma
"religião econômica", ele consegue fascinar as pessoas com as suas promessas e exigências de sacrifícios.
Um povo fascinado pelo "aroma religioso" capitalista luta para entrar no "santuário" do mercado, mas não
para construir uma sociedade mais fraterna, justa e humana.
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4. Teologia da nova ordem econômica

Não vou tratar aqui dos detalhes e da dinâmica da nova ordem econômica que está sendo implantada no
mundo. Mas sim dos seus pressupostos teológicos. Se é verdade que o capitalismo atual tem uma "teologia
endógena", ele deve ter algumas características fundamentais de todas as religiões. Por exemplo, a promessa
do "Paraíso"; a noção do "pecado original", ou a explicação da causa fundamental dos sofrimentos e do mal
no mundo; e o caminho e o preço a pagar (os sacrifícios necessários) para se atingir o "paraíso".

É claro que esses temas não são tratados com uma linguagem religiosa tradicional pelos defensores do
sistema capitalista, mas a mudança no linguajar não significa necessariamente que estas questões não estejam
sendo tratadas de uma forma mítico-religiosa.

4.1. Paraíso e o progresso técnico

Um primeiro ponto que precisamos ter claro quando falamos da "religiosidade do capitalismo" é o fato de
que as sociedades modernas não romperam totalmente com a visão mítico-religiosa das sociedades
medievais. Na Idade Média, o Paraíso ou a utopia era objeto de uma esperança escatológica. Ele se localiza
após a morte e o fim da história, e era fruto da intervenção divina. Na modernidade esta utopia (Paraíso) foi
deslocado da transcendência pós-morte para o futuro. Agora a utopia não é mais visto como fruto da
intervenção divina pós-morte, mas sim fruto do progresso tecnológico. É o chamdo "mito do progresso".
Com esse mito, desaparece a noção do limite para ações humanas e surge a idéia de que "querer é
poder".10

Com essa transformação da noção da utopia e da ação humana, a modernidade é portadora de uma boa-
nova que concorre com as boas-novas religiosas tradicionais. Serge Latouche chega a afirmar que a
burguesia "fundou seu poder graças ao mito da erradicação da morte em suas três formas (violenta,
miserável, natural)"11 A civlização ocidental e o seu sistema judiciário e policial acabaria com a morte
violenta; o crescimento econômico capitalista, a morte pela fome; e o avanço das ciências, a morte natural.

Esse mito-promessa da erradicação da morte levou à transformação na própria noção da morte. Hoje a
morte não é mais vista como uma parte natural da nossa condição humana, mas sim a derrota das ciências
diante das doenças e de outras "enfermidades sociais". Tanto isso é verdade que a localização e a estétia dos
cemitérios modernos são bem diferentes dos velhos cemitérios. Talvez as empresas que se especializam em
congelar os doentes terminais sejam os exemplos mais típicos desse mito. Existem, nos Estados Unidos,
empresas que cobram 100 mil dólares para congelar o corpo inteiro ou 30 mil dólares para congelar só a
cabeção dos doentes terminais. A lógica é seguinte. A morte preemente é vista como uma derrota da
medicina diante da doença. Antes que o "jogo" termine, pede-se um "tempo" -congela-se o doente- para que
a ciências médicas se desenvolvam e encontre a cura. Descongela-se o doente e o cura. Quando for pego
por uma outra doença ainda incurável, congela-o de novo até a nova descoberta. Assim sucessivamente até
que sejam encontrados remédios para todas as doenças -até do envelhecimento. Enfim, chegamos à
imortalidade.

É dentro deste horizonte de esperança utópica, de esperança mítico-religiosa, que F. Fukuyama afirma que
"as boas-novas chegaram".12 Com a derrocada do bloco socialista, segundo Fukuyama, está definitivamente
provado que o sistema de mercado capitalista é o ápice da evolução da história humana e estamos a um
passo de adentrar na "Terra Prometida".13 Por isso que ele diz que chegamos ao "fim da história". Não o fim
dos acontecimentos históricos, mas sim o fim da sua evolução.

Ele diz:

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"A conquista progressiva da natureza, possibilitada pelo desenvolvimento do método científico nos séculos
XVI e XVII, processou-se de acordo com certas regras definidas, determinadas, não pelo homem, mas pela
natureza e pelas leis da natureza. (...) A tecnologia torna possível o acúmulo ilimitado de riqueza, e
portanto, da satisfação de um conjunto sempre crescente de desejos humanos."14

Segundo o Fukuyama, o segredo do Paraíso, a satisfação de todos os desejos humanos, está no progresso
infinito que possibilita a aumulação infinita de riqueza. Ele só não explica como o ser humano, que é finito,
trabalhando a natureza, que também é finita, pode chegar à acumulação infinita. Aqui está o segredo do
mito. A passagem do "finito" para o "infinito" sem explicação racional ou razoável. O problema é que sem
essa passagem indevida o mito do progresso não se sustenta, e nem se pode afirmar que estamos chegado à
Terra Prometida.Por isso que é "mítico-religioso", porque pressupõe uma fé num ser supra-humano ou numa
"lei da história" também supra-humana que faça essa passagem.

Fukuyama, como tantos outros pensadores liberais e neoliberais, credita à tecnologia essa capacidade
mágica. Mas não qualquer tecnologia, aquela que foi desenvolvida "de acordo com certas regras definidas,
determinadas, não pelo homem, mas pela natureza e pelas leis da natureza". E qual é essa natureza que é
capaz de gerar uma "ciência tão poderosa"?

É a mesma natureza que, segundo Fukuyama, dirigiu a evolução da história em direção aos sistema de
mercado. Nesse mesmo sentido, Paul A. Samuelson, Prêmio Nobel da Economia, também diz que o sistema
de mercado capitalista "simplesmente evoluiu e, como a natureza, está sofrendo modificações"15 .

O sistema de mercado, o sistema de concorrência de todos contra todos, é apresentado como aquele que
possibilita o progresso técnico infinito que vai nos possibilitar a acumulação infinita que vai satisfazer todos os
nossos desejos atuais e os ainda por vir. O capitalismo é apresentado como realizador das promessas que o
cristianismo fazia para após a morte.

Diante dos problemas sociais e econômicos que enfrentamos, todos os defensores do atual processo de
globalização da economia na perspectiva neoliberal concordam em dizer que os problemas não são oriundos
do sistema de mercado, mas sim da falta de sua implementação completa. Eles têm uma fé tão forte no
mercado, que diante de problemas sociais criados pelo mercado, eles propõe mais mercado para solucionar.
Quando o mercado for "tudo em todos", eles acreditam que os problemas acabarão.

Para uma promessa tão grande como a "acumulação ilimitada de riqueza" que satisfará "todos os desejos", é
necessário também uma fé imensa. A fé que Milton Friedman, Prêmio Nobel de Economia, cobra dos
críticos do capitalismo: "Subjacente à maior parte dos argumentos contra o mercado livre está a ausência da
fé na liberdade como tal".16

4.2. Pecado original

Quando a promessa do Paraíso entra em contradição com a realidade cheia de problemas sociais e
econômicos, é preciso explicar a causa desses sofrimentos e males. Além de mostrar o caminho -"o mercado
total"-, é preciso explicar a origem das dificuldades e crises sociais.

Como todas ideologias ou religiões, o neoliberalismo parte de um diagnóstico sobre a causa fundamental dos
problemas sociais. Isto é, o mal fundamental (ou, em termos religiosos, o pecado) que está na origem de
outros males. Um dos textos da Bíblia que tratou desse tema é o mito de Adão e Eva e a teologia cristã
chamou isso de "pecado original". Não no sentido cronológico do termo "origem", mas no sentido lógico.
Isto é, não estamos tratando do "primeiro pecado" cometido na história da humanidade, mas sim do pecado
que está na base de todos outros pecados.

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Hayek, por ocasião do recebimento do Prêmio Nobel da Economia, em 1974, proferiu uma conferência que
revela a base teológica, epistemológica e antropológica do neoliberal. O título da conferência, "Pretensão de
Conhecimento",17 que lembra o "pecado original" de Adão e Eva, já mostra a questão de fundo que ele vai
tratar. Na conferência ele defendeu a tese de que as tentativas de estabelecer políticas econômicas com o
intuito consciente de superar problemas sociais estão na raiz de crises econômicas e causam muito mal à
sociedade. Isso porque essas tentativas pressupõe a pretensão de conhecer os mecanismo incosgnoscíveis
do mercado, além de ir contra as leis do mercado. Para ele não há outro caminho senão sermos humildes
diante do mercado e deixar livre os mecanismos do mercado para que estes resolvam -de modo
inconsciente- os nossos problemas sociais. Nessa releitura da teologia do "pecado original", a pretensão de
conhecer o mercado e dirigí-lo em busca de superação de problemas sociais é a origem de todos os males
econômicos e sociais. Em outras palavras, o maior pecado é cair na "tentação de fazer o bem".

Aliás, esse é o título de um romance escrito por Peter Drucker -o "guru dos guros" da administração de
empresas norte-americanas. Nesse romance, o bispo O'Malley diz: "'Abençoados sejam os humildes", dizem
os Evangelhos. Mas, sabe, Tom [padre, seu secretário], nunca vi os humildes fazerem uma contribuição ou
realizarem alguma coisa. Os realizadores são sempre pessoas que se têm em conta suficiente para imporem
altas exigências sobre si mesmos, gente altamente ambiciosa. Esse é um enigma teológico de que desisti há
muito tempo."18 Após essa teologia bem compatível com a lógica do sistema de mercado, o bispo
recomenda ao seu secretário que ajude o reitor da Universidade Católica, o padre Heinz Zimmerman, o
personagem principal do livro, dizendo que "sua única falta foi ter cedido à tentação de fazer o bem e agir
como cristão e padre, ao invés de agir como um burocrata."19

Um bom padre, um bom cristão, é aquele que supera a tentação de fazer o bem e age como um burocrata,
isto é, cumpre as "leis do mercado". Não se pode pretender ir contra as leis do mercado, que como já vimos
acima são apresentados como as leis da evolução da natureza.

O que podemos fazer é cumprir as leis do mercado, isto é, as leis que regem o sistema da sobrevivência do
mais forte e a morte do mais fraco, e não cair na tentação de fazer o bem. Isso significa que nós não
devemos buscar o bem, mas somente podemos evitar o mal. Mas o que é o mal? O mal é querer fazer o
bem e, assim, querer dirigir ou intervir no mercado. Logo, o único bem que que podemos fazer é lutar para
que eu e outras pessoas não caiam na tentação de querer fazer o bem e, em nome disso, queiram interferir no
livre mercado.

Com essa reinterpretação do "pecado original", nós temos uma completa inversão do mandamento do amor.
Amar não é mais ser solidário com os que sofrem, mas sim defender os interesses próprios no mercado
(concorrência no mercado) e evitar a tentação de fazer o bem.

Só que, felizmente, muitass pessoas continuam tendo a "tentação de fazer o bem", a tentação de serem
solidários, porque ainda estão abertos ao Espírito do Amor, ao Espírito Santo. Contra essa espiritualidade
soidária, os neoliberais defendem o fim do que eles chamam de "paternalismo" e a introdução de uma nova
espiritualidade compatível com a modernização neoliberal. Roberto Campos diz explicitamente que "a
modernização pressupõe uma mística cruel do desempenho e do culto da eficiência".20 "Mística" para
superar a tentação e assumir um novo culto. "Cruel" porque esse novo culto significa colocar a vida humana
subordinada aos números do lucro, isto é, pressupõe uma insensibilidade ou cinismo diante dos sofrimentos
dos menos "competentes" e menos eficazes, os pobres.

Em termos concretos, na atual conjuntura de globalização com ajustes impostos pelo F.M.I. e o Banco
Mundial, não há outra saída para os países pobres e devedores da dívida externa senão pagar os juros e a
dívida e fazer os ajustes (privatização desenfreada, cortes em gastos sociais, diminuição do papel do Estado
na economia e nas questões sociais e a abertura da economia) exigidos em nome das "leis do mercado". Não
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importa se esses pagamentos e esses ajustes signifiquem desemprego e morte de milhões de crianças e
adultos pobres. Para os neoliberais, não há outro caminho. Buscar outros caminhos seria a "pretensão do
conhecimento" que geraria muito mais problemas.

Por isso, a revista The Economist diz que "a melhor coisa que os países ricos podem fazer para ajudar o
mundo pobre é persuadir seus governos a adotar políticas corretas"21 , isto é, adotar as medidas de ajuste
econômico impostos pelo F.M.I. e Banco Mundial e a liberalização da economia de acordo com a atual
dinâmica de globalização da economia.

4.3. Sacrifícios necessários

Quando se crê, tem fé, que a satisfação de todos os desejos é possível com a acumulação ilimitada de
riquezas propiciado pelo progresso técnico; se acredita também que o sistema social que gera o máximo de
progresso tecnológico é o verdadeiro caminho para o "Paraíso", a "vida em abundância". Na medida em que
se crê que o sistema de mercado capitalista é esse caminho único, sem alternativa, tudo é justificado e
legitimado em nome do mercado. O sistema de mercado é visto como o "caminho e a verdade" que nos leva
à vida em abundância.

Só que sabemos que a lógica do mercado impõe cortes nos gastos sociais e exclui os "incompetentes" (os
pobres) e os que não são mais necessários no atual processo de acumulação de capital. Samuelson,
explicando a natureza do mercado, diz que as mercadorias devem ir aonda há maior número de votos ou de
dóalres. E que nessa única lógica viável, "o cachorro pertencente a J.D. Rockfeller pode receber o leite que
uma criança pobre necessita para evitar o raquitismo".22 Ele reconhece que do ponto de vista ético é
terrível, mas não do ponto de vista do mercado, o único mecanismo capaz, segundo ele, de coordenar o
processo econômico nas sociedades modernas.

Os sofrimentos e as mortes dos pobres, na medida em que são considerados como o outro lado da moeda
do "progresso redentor", são interpretados como "sacrifícios necessários" para esse mesmo progresso. A
miséria e a morte são fatos que, como todos os fatos, permitem diversas interpretações. Alguns os
interpretam como "assassinatos", outros como "sacrifícios necessários".

Quem compartilha da esperança utópica do mercado, interpreta a morte de milhões de pessoas como
"sacrifícios necessários". Para Fukuyama, por exemplo, "o bombardeio de Dresden ou de Hiroshima que, no
passado, teriam sido considerados genocídios"23 , na verdade não são genocídios, poraue milhares de
pessoas mortas nestas duas cidades foram mortas em nome da defesa do sistema de mercado liberal.

Mário H. Simonsen também diz o que se pode buscar é minimizar mas não acabar com "os sacrifícios
necessários ao progresso"24 . E que "a transição de uma fase de estagnação ou semi-estagnação para uma
de crescimento acelerado, costuma exigir sacrifícios que naturalmente envolvem certo aumento da
concentração de rendas".25 O que significa que os sacrifícios são sempre impostos sobre a população mais
pobre, enquanto que o setor mais rico se beneficia dos sacrifícios de vida dos pobres com o aumento de sua
riqueza. Tudo em nome das leis do mercado que promete nos levar para a acumulação ilimitada.

Quando os sofrimentos e mortes são interpretados como "sacrifícios necessários" entramos num círculo
vicioso perverso. Na medida em que esses sacrifícios não resultam no que os "sacerdotes" do sistema de
mercado prometem, entramos na crise de legitimidade dos sacrifícios. Para que esses sacrifícios não sejam
visto como "em vão", e, com isso, os "sacerdotes" do mercado não se tornem em simples assassinos de
milhões de pessoas, é preciso reafirmar a fé no mercado e no valor salvífico dos sacrifícios. Se diz então que
os sacrifícios ainda não frutificaram porque ainda não se sacrificou o suficiente. Assim, se exige mais
sacrifícios para que os sacrifícios anteriores não tenham sido em vão. Podemos ver isso na política salarial

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dos nossos governos. Para que os arrochos salariais do passado (os sacrifícios) não tenham sido em vão,
impõe-se mais sacrifícios à população, com a continuação de políticas que levam ao arrocho salarial,
desemprego e recessão.

Além dessa "fidelidade" à lógica de sacrifícios necessários, temos também a prática de acusar os "soberbos"
-os que não tem humildade diante do mercado e procuram intervir no mercado- como os culpados pelo não
frutificação dos sacrifícios. Os sindicatos combativos, movimentos e comunidades eclesiais populares os
partidos de "esquerda" são geralmente apontados como os culpados de irem contra os sacrifícios
necessários, atrasando assim a chegada ao "paraíso.".

É importante termos em conta que essa lógica sacrificial está muito enraizado na consciência social do
ocidente, para não falarmos em todo mundo. Em quase todas as religiões encontramos uma teologia do
sacrifício, ou equivalentes. Na nossa tradição ocidental cristã é mais do que conhecida a idéia de que "sem
sacrifícios não há salvação".26 Esse tipo de teologia tem a grande vantagem de dar um sentido ao sofrimento
às pessoas que não sabem como superá-los; e a grande desvantagem de servir de legitimação ao processo
de opressão.

A percepção da presença marcante da lógica sacrificial na base da consciência social nos ajuda
compreender porque a grande maioria das pessoas das nossas sociedades não se rebelam contra a lógica
capitalista. Além de compartilhar dos "sonhos de consumo" do sistema de mercado, a grande maioria da
população acha normal e natural a exigência de sacrifícios para se conseguir o "paraíso".

4.4. Mercado, globalização e o Reino de Deus

Toda a teologia do mercado neoliberal que vimos acima foi tirada de economistas e teóricos neoliberais. Não
é uma "invenção" de algum teólogo. Apesar de que existem teólogos profissionais, como Michael Novak,
chefe do departamento de teologia do Instituto Americano de Empresas, que escrevem livros e artigos de
teologia explícita para mostrar que o sistema de mercado capitalista é a encarnação do Reino de Deus na
história27 , preferimos analisar somente os não-teólogos profissionais para mostrar que o capitalismo está
fundando numa lógica mítico-religiosa.

É a presença objetiva dessa estrutura mítico-religiosa no capitalismo, que Marx analisou a partir do seu
conceito de "fetiche", que possibilita que alguém como Michel Candessus, diretor-geral do F.M.I., pronuncie
conferências como "Mercado-Reino: a dupla pertença"28 . Nessa conferência pronunciada ao Congresso
Nacional da Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas, ele disse: "Mercado-Reino, sabemos bem
que a estes dois nós devemos casá-los".29 Após dizer que o "Rei [Deus] se identifica com o POBRE" e que
na perspectiva do Reino de Deus e do juízo final o "meu juiz e meu rei, é meu Irmão que tem fome, que tem
sede, que é estrangeiro, que está nú, enfermo ou prisioneiro"30 , tema central na Teologia da Libertação, ele
diz que Jesus se dirige hoje aos empresários e aos responsáveis da globalização da economia para que
cumpram a missão de aliviar os sofrimentos dos irmãos pobres e expandir a liberdade de Deus.31 Seguindo
a inversão que ocorre no capitalismo com respeito ao "mandamento do amor", como vimos acima, ele diz:
"Nós somos aqueles que receberam esta Palavra [se referindo ao texto de Lc 4,16-23]. (...) Sabemos que
Deus está conosco na tarefa de fazer crescer a fraternidade. Somos os que administramos a troca e também
somos portadores do partilhar. Como é isso concretamente?"32

Como buscar a maximização do lucro nas relações de concorrência no mercado (a defesa do interesse
próprio), ao mesmo tempo em que busca a partilha, a solidariedade? Não seria isso impossível, ou
contraditório? Não para quem tem "fé no mercado".

Camdessus diz:

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"Vocês são homens do mercado e de empresa, em busca de eficácia para a solidariedade. O Fundo
Monetário foi criado para por a solidariedade internacional ao serviço dos países em crise que se
esforçam para tornar suas economias mais eficazes. A busca da eficácia no e pelo mercado, e vocês sabem
tanto quanto eu quão relacionadas estão a eficácia e solidariedade (...)".33

Camdessus estabele um círculo: eficácia para a solidariedade e solidariedade a serviço da eficácia. Como
temos visto até aqui, para os capitalistas a condição para a solidariedade para com os mais pobres (o critério
do juízo final) é a eficácia na produção de bens. E como, para eles, só há eficácia no e pelo mercado", o
mercado é a condição de solidariedade. Por isso, Camdessus diz que "o mercado é uma solidariedade
internacional".34 Desaparece a diferença e a oposição entre a concorrência (no mercado) e a solidariedade.
Ser solidário, preocupar-se com os problemas do outro, significa agora a defesa dos interesses próprios
contra os interesses dos outros. Pois, só a defesa dos interesses próprios no mercado geraria a eficácia e,
portanto, a solidariedade.

Essa "mágica" que transforma o "egoísmo" em solidariedade seria realizado pela "mão invisível" do mercado
(Adam Smith). É o "ente sobre-natural" que falamos acima, o ser supra-humano capaz de realizar a
acumulação ilimitada, a satisfação de todos os desejos e a unidade da humanidade. Na tradição bíblica isso
se chama idolatria.

Mas, como próprio Camdessus sabe, ajustes econômicos e a liberalização da economia, nos moldes
propostos pelo F.M.I. e GATT, provoca, nos países menos competitivo, desemprego e outros problemas
sociais. Por isso, ele conclui a frase dizendo "o mercado é uma solidariedade internacional prometida
mediante abundante eloqüência, mas que vem lentamente e sob forma as vezes inadequada".

Mas a sua fé no mercado o faz acreditar que o mercado "escreve direito por linhas tortas", por isso crê que
"formas as vezes inadequadas" não são na verdade inadequadas, mas os estranhos caminhos do mercado no
processo de instaurar um mundo de unidade e fraternidade.

A respeito desse outro sonho do cristianismo, a unidade e a fraternidade universal, Camdessus tratou em
uma outra conferência, "O Mercado e o Reino frente à globalização da economia mundial"35 . Ele disse que
o evangelho ao anunciar o Reino fala "não de uma fraternidade complacente -ia dizer paternalista- mas de
uma fraternidade que se constrói na competição, nas tensões, nas diferenças. Uma fraternidade que, no
universo da economia, deve ser vivida no mercado e na mundialização; no mercado onde ela anuncia e
chama à partilha".36

Fraternidade baseada na competição no mercado! Eis aqui um exemplo cabal da inversão do conceito de
fraternidade cristã.

5. Teologia cristã e economia

Diante desta inversão idolátria de tantos valores humanos e cristãos; diante de um sistema econômico que
diviniza uma instituição humana, o mercado, e em seu nome exige sacrifícios de vidas humanas em troca da
promessa de "acumulação ilimitada de riqueza"; qual deve ser a a atitude dos cristãos? Qual é a contribuição
que a fé cristã pode dar na luta contra esse "império"?

Se tem algum fundamento tudo o que vimos até aqui, diante de um sistema "divinizado" devemos levar em
consideração o que já dizia Marx: "a crítica da religião é a condição preliminar de toda a crítica".37 Só se
pode criticar algo que não seja visto como sagrado. O que significa que nossa crítica ao sistema capitalista só
terá efeito multiplicador na sociedade se conseguirmos tirar a sua "aura religiosa sagrada" e mostrar que essa
religiosidade não passa de uma perversão, de uma idolatria.

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O tema da idolatria é um ponto central em vários teólogos da libertação que trabalham a relação teologia e
economia/sociedade. Mas não é um conceito restrito à teologia. Erich Fromm, por exemplo, ao fazer uma
análise sócio-psicanalítica da sociedade capitalista utilizou esse conceito com muita naturalidade. Max
Horkheimer é um outro crítico do capitalismo que o usou: "Qualquer ser limitado - e a humanidade é limitada
- que se considera como o último, o mais elevado e o único, se converte em um ídolo faminto de sacrifícios
sanguinários, e que tem, ademais, a capacidade demoníaca de mudar a identidade e de admitir nas coisas um
sentido distinto."38 Com isso queremos dizer que a fé e a teologia cristã tem uma contribuição específica a
fazer na crítica teórica e prática do capitalismo.

5.1. A fé na ressurreição de Jesus e a crítica da idolatria

A defesa da tese de que não há alternativa ao sistema capitalista está fundanda, em grande parte, na sua
"vitória" contra o sistema socialista. Essa vitória é apresentada como prova da "veracidade" das propostas
capitalistas e da sua justiça. Todas outras noções de justiça, como a da "justiça social", que vão contra a
noção da justiça capitalista baseada na propriedade privada e "leis do mercado" são consideradas
equivocadas e contrárias ao progresso.

Essa identificação da vitória e poder com a verdade e justiça e, no fundo, com Deus não é nova na história.
O historiador judeu Flavio Josefo narrou, no seu livro "As Guerras dos judeus", o pronunciamento que o
general Agripa fêz para os judeus para convencê-los a não iniciar uma guerra contra o Império Romano. O
seu argumento está baseado nos fatos conhecidos por todos: "Pois que todos os que vivem debaixo do céu
temem e honram as armas dos romanos, querei vós sós fazer-lhes guerra? (...) Pois a quem tomareis por
companheiros para a guerra? (...) Pois não há outra ajuda nem socorro senão o de Deus; mas a este também
os romanos o têm, porque sem sua particular ajuda, seria impossível que o império tal e tão grande
permanecesse e se conservasse".39

É também conhecido o costume da Idade Média de resolver em um duelo quando dois cavaleiros tinham
versões diferentes sobre algum assunto importante. A lógica é a mesma. Deus está do lado do justo que fala
a verdade. Portanto, quem fala a verdade vai vencer o duelo mesmo sendo mais fraco. Isso porque Deus
não abandona o justo no duelo e lhe dá a vitória. Logo, o vencedor é o justo e fala a verdade.

Essa é a lógica usada pelos capitalistas para dizerem que o sistema de mercado é justo e que os ricos são
merecedores das sua riqueza.

Há entre os críticos do sistema capitalista que também se utilizam dessa mesma lógica, só que com sinal
invertido. Eles acreditam que a luta em favor dos pobres é uma luta justa e que, por isso, vencerá
necessariamente. Para eles não é tão importante se há ou não condições objetivas para vitória política, pois
acreditam que Deus, ou a "lei da história", está do seu lado por serem justos, e assim não poderão ser
derrotados. Mesmo que essa vitória tarda um pouco.

Esse tipo de "confiança" levou e ainda leva muitos "militantes" e grupos de boa vontade a cometerem erros
estratégicos importantes; além de reforçar a lógica que legitima a dominação capitalista.

A fé cristã não está fundada nessa concepção de Deus que está sempre do lado do vencedor-justo. Pelo
contrário, está fundada na confissão de que Jesus de Nazaré ressuscitou. Ela é o núcleo da nossa fé.
Confessar que Jesus, derrotado, condenado e morto pelo Império Romano e o Templo, ressuscitou é crer
num Deus que não está associado com o vencedor (o Império e o Templo). Essa fé permite distinguir a
vitória e o poder da verdade e justiça.

Os discípulos de Jesus não eram presos por ensinarem que há vida após a morte, mas sim por "anunciar, em

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Jesus, a ressurreição dos mortos" (At 4,2). A grande novidade "revolucionária" consiste em afirmar a
ressurreição não dos vitorios e poderosos, mas sim de alguém, política e religiosamente derrotado, que para
olhos de Deus era "o Santo e o Justo"(At 3,14).

Ao descobrirmos que Jesus, o crucificado, ressuscitou, descobrimos que a ordem social estabelecida e os
detentores do poder não são justos e nem representam a vontade de Deus. Essa fé nos move a
testemunharmos a ressurreição de Jesus de um único modo possível: defendendo a vida e a dignidade
humana dos pobres e pequenos.

Lucas nos diz como as primeiras comunidades testemunhavam a ressurreição de Jesus:

A multidão dos que haviam crido era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava exclusivamente
seu o que possuía, mas tudo entre eles era comum. Com grande poder os apóstolos davam o testemunho da
ressurreição do Senhor, e todos tinham grande aceitação. Não havia entre eles necessitado algum. De fato,
os que possuíam terrenos ou casas, vendendo-os, traziam os valores das vendas e os depunham aos pés dos
apóstolos. Distribuía-se então, a cada um, segundo a sua necessidade. (At 4,32-35)

Esse texto tão bonito tem algo bem estranho. O centro da mensagem é o testemunho da ressurreição do
Senhor. Mas, essa mensagem central vem "envolto" com dois parágrafos semelhantes que falam não da
ressurreição, mas de questões econômicas: a coleta dos bens e propriedades conforme as possibilidades de
cada um e a distribuição deles segundo as necessidades de cada um, visando não ter necessitados entre eles.
A partilha que transformava a multidão em comunidade. Alguém poderia dizer que os dois parágrafos que
envolvem a mensagem central estão lá por um equívoco de Lucas e que, portanto, o testemunho da
ressurreição do Senhor não tem nada a ver com questões econômicas. Outros poderiam dizer, com razão,
que, muito pelo contrário, é na atitude em relação aos bens concretos que se testemunha a ressurreição do
Senhor. Porque a fé na ressurreição de Jesus revela que a salvação não está em acumular poder e riqueza,
mas sim em formar comunidades humanas, onde todas as pessoas sejam reconhecidas, independente de sua
riqueza ou outras características sociais.

A fé na ressurreição de Jesus é uma "revolução epistemológica" -uma revolução na maneira de conhecer-


que nos permite descobrir a verdadeira imagem de Deus e do ser humano. Ao descobrirmos a verdade face
de Deus e a dignidade humana fundamental de todos os seres humanos, sentimos interpelados pelos
"clamores dos pobres" e chamados a construir uma sociedade mais humana e justa.

5.2. Reino de Deus e sacrifícios

Confessar que Jesus é o Cristo, o Messias, tem também outras implicações fundamentais na nossa discussão.
Após a crise do bloco socialista, a derrota dos sandinistas em Nicarágua e de tão poucas vitórias após tantos
anos de lutas populares no Brasil, muitos se sentem como os discípulos de Emaús: "Nós esperávamos..."

Esses discípulos esperavam "que fosse ele [Jesus de Nazaré] quem iria redimir Israel" (Lc 24,21). Como ele
e seu grupo tão pequeno iria conseguir a proeza de expulsar os romanos, "limpar" o Templo e, assim, redimir
Israel? Porque ele é Messias! Ou melhor, porque eles acreditavam que ele fosse o Messias. Mas a sua morte
na cruz mostrou que estavam equivocados. Agora eles estavam voltando às suas casas para esperar o
verdadeiro Messias aparecer.

Os judeus que assistiam a sua morte também haviam dito: "que desça agora da cruz, para que vejamos e
creiamos". (Mc 15,32) Descer da cruz era o mínimo que o Messias, o enviado de Deus, podia fazer. Afinal,
se Jesus fosse realmente o Messias teria que fazer coisas mais grandiosas do que simplesmente descer da
cruz.

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Como ele não desceu e nem implantou o Reino de Deus na terra, a maioria dos judeus não creram nele.
Porque eles acreditavam que o Reino de Deus seria estabelecido em plenitude com a vinda do verdadeiro
Messias. Não pela sua força, mas pela força de Deus que estaria com ele. Messias derrotado não é Messias.

No fundo voltamos à teologia de que o vitorioso o é porque Deus está com ele. Se essa teologia é correta,
devemos admitir que todos os vitoriosos da história tiveram o poder porque Deus estava com eles. Devemos
aceitar que os europeus que dizimaram milhões e milhões de indígenas na América Latina -e outros que com
os seus poderes mataram tantos- venceram porque Deus estava do lado deles.

Mas sabemos que não isso não é verdade. Sabemos, pela ressurreição de Jesus, que a vitória não é prova
de justiça; o que significa que os justos nem sempre vencem. Se cremos que Deus estava com Jesus e por
isso o ressuscitou, confirmando-o como o Cristo, também devemos tirar as conclusões que seguem dessa fé.
Se Jesus que era o Messias, nem ele conseguiu implantar plenamente o Reino de Deus na história, é porque
o Reino de Deus não cabe na nossa história. Na história humana só podemos construir e vivenciar presenças
antecipatórias do R.D., relações sociais, econômicas, políticas, culturais e religiosas que sejam sinais da
presença do R.D. entre nós.

Afirmar que o "paraíso", o RD ou o Reino da Liberdade não se constroem na história humana é afirmar que
"querer não é poder". Nós seremos humanos somos capazes de desejar para além das nossas possibilidades
humanas. Mas há mais do que isso. É negar a legitimidade de qualquer exigência de sacrifícios de vidas
humanas, seja em nome do mercado, do Estado, do Partido ou da Igreja. Porque todas as exigências de
"sacrifícios necessários" são feitos em nome de uma instituição sacralizada que se apresenta como o único
caminho para a construção do "paraíso". Como o paraíso não cabe na história, nenhuma instituição humana é
portadora desse paraíso. Logo, não se pode fazer exigência de "sacrifícios necessários". A crítica à idolatria
na tradição bíblica consiste exatamente nisso.

É por isso que Jesus vai afimar: "Misericórdia é que eu quero, e não sacrifício".

O Reino de Deus, o "paraíso", não é obra de nossas mãos, muito menos fruto de sacrifícios em obediência às
leis do mercado; mas sim é fruto da graça e da misericórdia de Deus. E a manifestação plena dessa graça, do
R.D., se dará na escatologia, quando Deus "enchugará toda lágrgima dos nossos olhos, pois nunca mais
haverá morte, nem luto, nem clamor, e nem dor haverá mais" (Ap 21,4).

Afirmar que o RD não cabe na história não significa deixar de lado o RD. Muito pelo contrário. O RD é o
horizonte que nos dá sentido para a nossa vida e nossa luta contra sistemas de opressão e exclusão. Mas,
como todo horizonte está sempre mais adiante de nós, por mais que caminhamos.40

Para que a nossa postura não-sacrificial não seja comprendida equivocadamente, é preciso esclarecer a
diferença entre "sacrifícios" e "dom de si". Sacrifícios são imposições externas, em nome de uma lei
divinizada, que vai contra a liberdade da pessoa vitimada e exigidas em nome de uma divindade (ou
instituição sacralizada), em troca da promessa do paraíso ou de uma recompensa. O "dom de si" é fruto do
amor e da liberdade. É um movimento que nasce dentro da pessoa e vai em direção à pessoa amada ou
daquele a quem nutre solidariedade.

A diferença entre sacrifício e dom de si pode ficar mais clara se tomarmos o exemplo de uma mãe que não
consegue deixar de passar a noite toda ao lado do seu filho em estado terminal, mesmo sem poder fazer
nada, e o da enfermeira que gostaria de ir dormir mas fica ao lado, fazendo o sacrifício, para poder receber o
seu pagamento.

Quem luta por amor, livremente, como "dom de si", não diz que a luta não valeu a pena porque não obteve a

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vitória. Porque a motivação principal para a luta não foi a promessa da vitória, mas sim a solidariedade e a
afirmação da dignidade huamana, e nem a experiência da luta foi uma coisa amarga. Mas quem assume
qualquer coisa por sacrifício, por obrigação, a única coisa que compensa o amargor da luta e da própria vida
é a vitória ou a recompensa. Quando não se atinge a vitória, só sobra a sensação de frustração por
sacrifícios que não valeram a pena.

Na experiência de "dom de si", experienciamos a graça de Deus que nos dignifica e compreendemos o que
significa dizer que "Deus é Amor". Na experiência de "sacrifício" só conseguimos experienciar obediência ao
deus (ídolo) da Lei.

E "onde está o Espírito do Senhor está a liberdade" (2Cor 3,17), e não a obediência à lei (do mercado).

6. Conclusão

Vivemos um tempo muito difícil. Os problemas sociais aumentam, e a insensibilidade das pessoas também.
Parece que o cinismo é marca do nosso tempo. Até muitas comunidades cristãs estão caindo na mesma
tentação dos discípulos por ocasião da multiplicação dos pães. Diante de uma multidão com fome, que
"estavam como ovelhas sem pastor", (Mc 6,34), os discípulos sugerem a Jesus: "Despede-os para que vão
aos campos e povoados vizinhos e comprem para si o que comer" (Mc 6,36).

Mas quem são esses quase cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças? Provavelmente a maioria era
pessoas desempregadas ou diaristas que não conseguiram o serviço e, por isso, podem passar o dia todo
ouvindo a pregação de Jesus. Se isso é verdade, e parece que sim, pois Jesus "ficou tomado do compaixão
por eles" (Mc 6,34), a proposta dos discípulos resolve problemas de quem? Provavelmente de um pequeno
número de pessoas que tinham um pouco de dinheiro para comprar algo para comer. Mas não da maioria. E
provavelmente também a dos discípulos que se sentiam mal com o sentimento de impotência que lhes invadia
vendo a fome da multidão. É como se eles dissessem a Jesus: Senhor manda-os passar fome longe dos
nossos olhos, para que o nosso coração não sinta mais esse sentimento de impotência.

Jesus responde: "dai-lhes vós mesmos de comer" (Mc 6,37). E os discípulos não conseguindo sair da lógica
do mercado, respondem que não têm tanto dinheiro assim para comprar tanta comida. Jesus sabia que eles
não tinha esse dinheiro, pois sabia muito bem que ele não pregava coisas agradáveis aos ricos e poderosos
para que recebssem muitas doações. Mas sabia também o mais importante: a mesma lógica que expulsa os
pobres (a lógica do mercado) não pode solucionar a fome dos pobres. Por isso ele buscou uma alternativa.

Não queremos discutir aqui a proposta alternativa de Jesus na multiplicação dos pães. Mesmo que
conseguíssemos chegar a uma conclusão de como realmente aconteceu essa "multiplicação", ela não serviria
para nós. Afinal, vivemos num mundo muito diferente de Jesus. O que precisamos é ficar atento para não
cairmos na tentação de repetir "o que os olhos não vêem, o coração não sente" e fechar os olhos das nossas
comunidades à fome e sofrimento dos pobres.

A nossa fé em Deus da Vida, em Jesus que veio para que todos tenham vida em abundância, e no Espírito
Santo, o Espírito de Amor e Liberdade, deve ser testemunhada através da nossa solidariedade na defesa da
vida dos pobres e excluídos.

A nossa esperança em Deus que ressuscitou Jesus deve ser a base da nossa espiritualidade para sermos
sementes de esperança no meio do povo. Esperança e sonho de um mundo solidário e humano, que
desmascara a pequenez do sonho do consumo e acumulação ilimitada do mercado.

Movidos por esta fé e essa esperança, sigamos os passos de Jesus e dos pais da nossa fé e lutemos, com
coragem e criatividade, pela vida de todos, em particular a dos "pequenos". A nossa luta deve se dar em
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diversos níveis. Em ações imediatas de solidariedade e defesa da vida; e em ações de médio e longo prazo
visando a construção de uma ordem econômico-social mais justa e humana. A nossa caminhada não é fácil,
mas é gratificante. Pois na solidariedade, no repartir do "pão", experienciamos a presença de Jesus
ressuscitado que caminha conosco.

Sugestões de leitura:
Livros mais introdutórios:
Hugo ASSMANN, Clamor dos pobres e racionalidade econômica, São Paulo, Paulinas.
Hugo ASSMANN, Crítica à lógica da exclusão, São Paulo, Paulus.
Júlio de SANTA ANA, O amor e as paixõea: crítica teológica a economia política, Aparecida,
Santuário.
Jung Mo SUNG, Deus numa economia sem coração, São Paulo, Paulus.
Jung Mo SUNG, Se Deus existe, por que há pobreza?, São Paulo, Paulinas.
Pablo RICHARD, A força espiritual da Igreja dos pobres< Petrópolis, Vozes.

Livros mais "densos":


Franz HINKELAMMERT, Ar armas ideológicas da morte, São Paulo, Paulinas.
Franz HINKELAMMERT, Crítica da razão utópica, São Paulo, Paulinas.
Franz HINKELAMMERT, Sacrifícios humanos e sociedade ocidental: Lúcifer e a Besta, São Paulo,
Paulus.
Hugo ASSMANN & Franz HINKELAMMERT, Idolatria do mercado, Petrópolis, Vozes.
Jung Mo SUNG, Teologia e economia: repensando a T.L. e utopias, Petrópolis, Vozes.

Notas:
1 Encíclica Dives in Misericordia, n. 1
2 Encíclica Laborem Exercens, n. 8
3 Além dos primeiros livros da Teologia da Libertação, que já trataram da relação teologia e economia,
podemos dizer que o primeiro livro que assumiu explicitamente esta relação como o assunto central foi o de
Franz Hinkelammert, Las armas ideológicas de la muerte, San José (Costa Rica), EDUCA-DEI, em
1977. (Traduzido para o português pela Ed. Paulinas)
4 cf. Suma Teológica, q.1, art.9.
5 Sobre esta questão, vide, por ex., Joan Robinson, Filosofia econômica, Rio de Janeiro, Zahar, 1979; e
Manfredo A. Oliveira, Ética e economia, S. Paulo, Ática (a sair).
6 FURTADO, Celso, O mito do desenvolvimento econômico, Rio de Janeiro, Paz e terra, 1974, p.15.
7 ROBINSON, Joan, Filosofia econômica, Rio de Janeiro, Zahar, 1979, p.120.
8 BUARQUE, Cristovam, A desordem do progresso, S. Paulo, Paz e Terra, 1991, p.86.
9 GALBRAITH, John Kenneth, A cultura do contentamento, São Paulo, Pioneira, 1992, p.53.
10 Sobre esse deslocamento da utopia na modernidade e suas implicações, vide, por ex., HABERMAS, J.,
Discurso filosófico da modernidade, Lisboa, D.Quixote, 1990; e SUNG, Jung Mo, Teologia e economia:
repensando a T.L. e utopias, 2a.ed, Petrópolis, Vozes, 1995, cap.4 e 5.
11 LATOUCHE, Serge, A ocidentalização do mundo, Petrópolis, Vozes, 1994, p.25.
12 FUKUYAMA, F., O fim da história e o último homem, Rio de Janeiro, Rocco, 1992, p.14.
13 Cf. IDEM, ibidem, p.174.
14 IDEM, ibidem, p.15. O grifo é nosso.
15 SAMUELSON, P.A., Introdução à economia, 8a.ed., Rio de Janeiro, Agir, vol.1, p.45.
16 FRIEDMAN, M., Capitalismo e liberdade, 2a.ed., São Paulo, Nova Cultural (Col. Economistas),
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29/ 11/ 12 Teologia e nova or dem econom ica

1985, p.27.
17 em Humanidades, Brasília, out-dez/80, vol.II, n.5, pp 47-54.
18 DRUCKER, Peter F., A tentação de fazer o bem, Rio de Janeiro, Rocco, 1986, pp.52-53.
19 Idem, ibidem, p. 136.
20 CAMPOS, Roberto, Além do cotidiano, Rio de Janeiro, Record, 2a.ed., 1985, p.54.
21 The Economist, Londres, 18/03/95, p.16.
22 SAMUELSON, P.A., op.cit., p.49.
23 FUKUYAMA, F., op. cit., p.32.
24 SIMONSEN, Mário Henrique, Brasil 2002, 6ª ed., Rio de Janeiro, APEC, 1976, p.28.
25 IDEM, ibidem, p. 58.
26 Sobre a questão do sacrifício no ocidente, vide o importante livro de F. Hinkelammert, Sacrifícios
humanos e sociedade ocidental: Lúcifer e a Besta, S. Paulo, Paulus, 1995.
27 Por ex., O espírito do capitalismo democrático, Rio de Janeiro, Nórdica, s/d. (orig. inglês, 1982)
28 Documents Episcopat: Bolletin du Secrétariat de la Conférence des Évêques de France, n. 12, jul-
ago/1992.
29 Idem, p.3.
30 Idem, p.4.
31 Cf. p.5.
32 Idem, p. 5.
33 Idem, p.1. O grifo é nosso.
34 Idem, p.3.
35 Conferência pronunicada por ocasião do XIX Congresso Mundial da UNIAPAC, em Monterrey,
México, no dia 29/10/93, editado em português pela Newswork, São Paulo.
36 IDEM, Ibidem, p.11.
37 MARX, K., "Crítica da Filosofia do Direito de Hegel", em MARX & ENGELS, Sobre a religião,
Lisboa, Ed.70, p.45.
38 HORKHEIMER, Max, "La añoranza de lo completamente otro", em: MARCUSE. H., POPPER, K. e
HORKHEIMER. M, A la búsqueda del sentido, Salamanca, Sígueme, 1976, p.68.
39 JOSEFO, Flavio, Las guerras de los judíos, Tomo I, Barcelona, Clie, 1988, pp.258-260.
40 Sobre essa questão da tensão dialética entre a utopia irrelizável e as instituições sociais, vide:
HINKELAMMERT, F., Crítica da razão utópica, S. Paulo, Paulinas, 1985; SUNG, Jung Mo, Teologia e
economia, op.cit., cap.5.

Jung Mo Sung:
Teólogo católico leigo. Doutor em Ciências da Religião. Professor do Instituto Ecumênico de Pós-graduação
em Ciências da Religião, do I.M.S., em São Bernardo do Campo-SP, e do Alfonsianun Instituto de Teologia
Moral, em São Paulo. Autor, entre outros, de Deus numa economia sem coração (Paulus), Teologia e
economia (Vozes) e Se Deus existe, por que há pobreza? (Paulinas).

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