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Explicação da Xana – Portugal nos Séculos XIII e XIV

História e Geografia de Portugal – 5.º Ano

O reino de Portugal e do Algarve


1. Alargamento do território e definição de
fronteiras
Portugal foi uma monarquia desde 1143 até 1910, ou seja, durante este período
Portugal foi sempre governado por um rei.
A monarquia portuguesa era hereditária. Isto significa que quem sucede um rei
é o seu filho mais velho (o príncipe herdeiro).
Depois da morte de D. Afonso Henriques sucederam-lhe:
 D. Sancho I;
 D. Afonso II;
 D. Sancho II;
 D. Afonso III;
 Etc…
Os primeiros 4 reis de Portugal, a seguir a D. Afonso Henriques, continuaram a
conquistar territórios aos mouros até que em 1249 D. Afonso III conquista
definitivamente o Algarve.
Entretanto, os limites do território não estavam totalmente definidos pois havia
zonas a norte e a este que ainda estavam em disputa com o reino de Leão e
Castela.
Só em 1297, com o Tratado de Alcanises, entre D. Dinis, rei de Portugal, e D.
Fernando, rei de Leão e Castela, ficaram definidas as fronteiras do território
português que assim se mantiveram aproximadamente até os dias de hoje.
Apenas em 1801 Espanha ocupou Olivença que já não faz parte de Portugal.

2. Características naturais de Portugal


O relevo de Portugal no séc. XIII apresentava características idênticas às de
hoje. De realçar os contrastes que ainda hoje existem:
 Norte/Sul: terras altas, planaltos e serras no norte enquanto que no sul
predominam terras de baixa altitude como as planícies;
 Litoral/Interior: no litoral temos pequenas planícies costeiras enquanto que no
interior encontramos planaltos e serras.
Os rios correm para o Atlântico seguindo a inclinação do relevo e existem em
maior número no Norte.
Sobre o clima destacam-se três zonas climáticas:

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 Norte Litoral: chuvas abundantes e temperaturas amenas tanto no Verão como


no Inverno;
 Norte Interior: poucas chuvas, muito frio no Inverno e quente no Verão:
 Sul: poucas chuvas, invernos suaves e temperaturas muito elevadas no verão,
sobretudo no interior.

No entanto, nem todas as características naturais permanecem exactamente


iguais aos dias de hoje. Ao longo dos tempos a paisagem do território
português foi-se alterando devido à influência humana e da própria Natureza.
Um exemplo disso mesmo é o facto de os rios serem antigamente mais
navegáveis mas com a acumulação de areias trazidas pelos próprios rios o
litoral ficou mais alinhado tornando os rios menos navegáveis ao longo dos
tempos.
No séc. XIII abundava a vegetação natural, ou seja, que ainda não tinha sido
modificada pelo homem. No Norte abundavam bosques e florestas muito
densas com árvores de folha caduca e no Sul as florestas eram menos densas e
predominavam as folhas de folha persistente.

3. Atribuição de terras
Ao serem reconquistadas terras os reis tinham a necessidade de
as povoar, defender e explorar para não voltarem a ser ocupadas pelos mouros.
Os reis reservavam uma parte dessas terras para si e a grande parte era dada
aos nobres e às ordens religiosas militares como recompensa pela sua ajuda
prestada na guerra, bem como às ordens religiosas não militares para que
fossem povoadas mais rapidamente.
Sendo assim, as terras pertenciam ao rei, à Nobreza e ao Clero. O povo
trabalhava nessas terras e em troca recebiam protecção.

4. Aproveitamento dos recursos naturais


O aproveitamento dos recursos naturais das terras era realizado através da:
 Terrenos bravios: pastorícia, criação de gado, caça e recolha de
produtos (como a lenha, a madeira, a cortiça, frutos silvestres, mel e cera).
 Terrenos aráveis: agricultura onde se produzia cereais, vinho, azeite, legumes,
frutos e linho.
 Mar e rios: pesca e salicultura.

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Produção artesanal:
 O vestuário, calçado, instrumentos e todos os objectos necessários para o dia-a-
dia dos pastores, agricultores e pescadores eram feitos por eles mesmos à mão e
através da utilização de produtos retirados directamente da Natureza ou pelos
materiais fornecidos pela agricultura e pela pastorícia.

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A vida quotidiana no séc. XIII


1. Ordens sociais
A população portuguesa no séc. XIII era constituída por três grupos sociais:
 Nobreza: grupo privilegiado que possuía terras, não pagava impostos, recebia
impostos e aplicava a justiça nas suas terras. A sua principal actividade
era combater;
 Clero: grupo privilegiado que possuía terras, não pagava impostos, recebia
impostos e aplicava a justiça nas suas terras. A sua principal actividade era
prestar serviço religioso;
 Povo: grupo não privilegiado que trabalhava nas terras do rei, da nobreza e do
clero e que ainda tinham que pagar impostos.
Todos os grupos sociais deviam ao rei fidelidade, obediência e auxílio.

2. Vida quotidiana nas terras senhoriais


As terras senhoriais, ou senhorios, pertenciam aos senhores nobres que viviam
numa casa acastelada situada na parte mais alta. À sua volta distribuíam-se
campos cultivados, a floresta, o moinho e as casas dos camponeses que
trabalhavam as terras.
Nestas terras era o nobre que aplicava a justiça, recrutava homens para o seu
exército e recebia impostos de todos os que lá trabalhavam. Em troca, tinha
como obrigação proteger as pessoas que estavam na sua dependência.

Atividades dos nobres:


 Em tempo de guerra: combatiam;
 Em tempo de paz: praticavam a caça, a equitação e exercícios desportivos que
os preparavam para a guerra.

Distracções:
 À noite entretinham-se com jogos de sala, como o xadrez e dados, com
os saltimbancos, que faziam proezas, e com os jograis, que tocavam e
cantavam.

Casa senhorial:
 O salão era o aposento mais importante e era onde o nobre dava as suas ordens,
recebia os hóspedes e onde serviam-se as refeições;

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 O mobiliário existente na casa era uma mesa, arcas para guardar a roupa e
outros objetos domésticos, poucas cadeiras e bancos chamados escanos;
 Para a iluminação durante a noite utilizavam-se lamparinas de azeite ou tochas
e velas de cera e sebo.

Alimentação dos nobres:


 Faziam-se normalmente duas refeições, o jantar e a ceia, onde predominava a
carne, pão de trigo, vinho, queijo e um pouco de fruta.
Por outro lado, os camponeses tinham uma vida dura e difícil. Trabalhavam
seis dias por semana nos campos dos senhores nobres e ainda tinham que lhes
pagar impostos pois só assim garantiam proteção.

Atividades dos camponeses:


 Trabalhar nos campos.

Distrações dos camponeses:


 Ida à missa, procissões e romarias.

Casa do camponês:
 Tecto de colmo, paredes de madeira ou pedra, quase sem aberturas, e chão em
terra batida;
 Tinha só uma divisão e havia pouca mobília;
 Dormia-se num recanto coberto de molhos de palha.

Alimentação dos camponeses:


 Baseava-se em pão negro, feito de mistura de cereais ou castanha,
acompanhado por cebolas, alhos ou toucinho. Apenas nos dias festivos havia
queijo, ovos e bocados de carne.

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3. Vida quotidiana nos mosteiros


O clero, cuja principal função era o serviço religioso, dividia-se em dois:
 Clero secular: padres, bispos e cónegos que viviam junto da população nas
aldeias ou cidades;
 Clero regular: frades (ou monges) e freiras que viviam nos mosteiros ou
conventos.

A vida no mosteiro era dirigida pelo abade ou abadessa. Os monges dedicavam


a sua vida a Deus e ao serviço religioso, meditavam, rezavam e cantavam
cânticos religiosos.
Para além do serviço religioso, os monges também se dedicavam
ao ensino. Durante muito tempo, o clero foi a única ordem social a saber ler e
escrever. Fundaram-se algumas escolas junto aos mosteiros, os monges eram os
professores e os alunos eram os futuros monges. Existiam ainda os monges
copistas que dedicavam-se a copiar os livros mais importantes e ilustravam o
texto com pinturas chamadas iluminuras.
Todos os mosteiros tinham enfermarias onde os doentes eram recolhidos e
tratados pelos monges. Era também dada assistência aos peregrinos que se
dirigiam aos santuários para cumprir promessas ou para rezar.
O clero praticava também a agricultura. Produzia tudo o que precisava.

Alimentação dos clérigos:


 A refeição principal era tomada em comum e em silêncio, no refeitório: sopa,
pão, um pouco de carne ou peixe nos dias de abstinência.

4. Vida quotidiana nos concelhos


Um concelho era uma povoação que tinha recebido foral ou carta de foral. A
carta de foral era um documento onde estavam descritos os direitos e os
deveres dos moradores do concelho para com o senhor (dono) da terra.
Os moradores de um concelho tinham mais regalias que os que não lá viviam:
 Eram donos de algumas terras;
 Só pagavam os impostos exigidos no foral.

Existia ainda uma assembleia de homens-bons, formada pelos homens mais


ricos e respeitados do concelho, que resolvia os principais problemas do
concelho. Elegiam juízes entre si para aplicar a justiça e os mordomos que
cobravam os impostos.

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Os concelhos eram formados por uma povoação mais desenvolvida (a vila) e


por localidades rurais à sua volta (o termo).
Muitos dos concelhos foram criados pelo rei mas houve alguns também criados
por grandes senhores da nobreza e pelo clero nos seus senhorios e surgiram da
necessidade de garantir o povoamento e a defesa das terras conquistadas aos
mouros e para desenvolver as atividades económicas.

Principais atividades:
 Agricultura, pastorícia, pesca: camponeses e pescadores;
 Artesanato: havia pequenas oficinas onde os artesãos executavam trabalhos à
mão (manufactura), utilizando técnicas e instrumentos muito rudimentares;
 Comércio: os camponeses e os artesãos reuniam-se para vender os seus
produtos dando origem aos mercados e mais tarde às feiras (maiores que os
mercados e com maior abundância e variedade de produtos).
A criação de feiras contribuiu para o desenvolvimento do comércio interno,
isto é, troca e venda de produtos dentro do país. No entanto, nesta altura
Portugal também comerciava com outros países – comércio externo.
O comércio externo contribuiu para o desenvolvimento das cidades situadas no
litoral e contribuiu também para o surgimento de um novo grupo
social: a burguesia. Os burgueses eram homens do povo, mercadores e
artesãos, que enriqueceram com o comércio externo.

5. Vida quotidiana na corte


A corte era constituída pela família do rei, pelos conselheiros e funcionários. A
corte seguia sempre o rei.

Distrações:
 Banquetes e saraus (festas à noite) onde havia espetáculos de jograis (os
jograis cantavam e tocavam instrumentos musicais).

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Crise de 1383-1385
1. Portugal na segunda metade do séc. XIV
Neste período viveram-se tempos difíceis:
 Fome: deveu-se aos maus anos agrícolas por causa das chuvas intensas;
 Epidemias – deveu-se à falta de higiene e à falta de alimentação;
 Guerras – devido ao conflito com Castela.
A pior calamidade foi a Peste Negra que em menos de três meses matou cerca
de um terço da população.

2. Problema de sucessão
Em 1383, D. Fernando assina um tratado de paz com Castela para salvaguardar
a independência do reino de Portugal – o Tratado de Salvaterra de Magos.
Neste tratado D. Fernando deu a mão da sua única filha, D. Beatriz, a D. João I,
rei de Castela, e ficou estabelecido que o futuro rei de Portugal seria o seu neto,
filho de D. Beatriz, quando atingisse os 14 anos.

3. População dividida e revolta popular


Quando D. Fernando morre, D. Leonor de Teles, sua esposa, assume a regência
do reino e aclama D. Beatriz como rainha de Portugal. O povo ficou
descontente porque não queria ser governado por um rei estrangeiro e temia
que Portugal perdesse a independência.
 Apoiantes de D. Beatriz – alto Clero e alta Nobreza porque temiam perder os
seus privilégios;
 Apoiantes de D. João, Mestre de Avis – povo, burguesia, parte do Clero e
parte da Nobreza porque não queriam ser governados por um rei estrangeiro e
temiam que Portugal perdesse a independência.
Álvaro Pais planeou uma conspiração para matar o conselheiro galego de D.
Leonor de Teles, o conde Andeiro. D. João, Mestre de Avis, filho ilegítimo de D.
Pedro, é escolhido para o matar. Após a morte do conde Andeiro, D. Leonor de
Teles foge para Santarém e pede ajuda a D. João I, rei de Castela. Mestre de
Avis passa a Regente e Defensor do reino com o apoio do povo.

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4. Resistência à invasão castelhana


D. João I, rei de Castela, invade Portugal:
 Ocupa Santarém;
 É vencido na batalha de Atoleiros;
 Cerca Lisboa em 1384.
Lisboa esteve cercada 3 meses e só se libertou quando a peste negra atacou os
soldados castelhanos.
Nas Cortes em Coimbra (1385) João das Regras provou que D. João, Mestre de
Avis, era quem tinha mais direito a ser o rei de Portugal que passa a intitular-se
D. João I.
Ao saber da aclamação de Mestre de Avis como rei de Portugal, D. João I, rei
de Castela, invade novamente Portugal mas é derrotado na batalha de
Aljubarrota (1385) pelos portugueses chefiados por D. Nuno Álvares Pereira.

5. Consolidação da independência
D. João I, Mestre de Avis, recompensou com terras, cargos e títulos os nobres e
burgueses que o apoiaram e retirou privilégios à alta Nobreza que apoiou D.
Beatriz e que fugiu para Castela.
Portugal fez ainda um tratado de amizade com Inglaterra onde os dois países se
comprometeram a ajudar-se mutuamente. Esta aliança foi reforçada com o
casamento de D. João I com D. Filipa de Lencastre em 1387.
Entretanto, só em 1411 o problema com Castela ficou resolvido com um tratado
de paz.
Muito do que sabemos sobre o que aconteceu neste período deve-se a Fernão
Lopes através das suas crónicas sobre o que se passava no reino da época.

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