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hannah arendt ENTRE 0 PASSADO E O FUTURO SV, Ss perseectva Ai Mm ‘Uma crise na eduecagio em qualquer ocaslo ori- nara séria preoeupapio, mesmo se nio refletise, {como ocorre no presente Caso, uma erise © uma insta: bilidade male gersis na sociedade modem. Aedu- cagdo. std eptte at atvidades-mais.clemeatares.©.e- fxssrias da sociedade humana, que jams: permanece tal qual 6 porém Se renova continuamente através-do nascinento, da vinda de novos seres humanos, Estes fecém-chepuos, além disso, nlo se acham acabados, mat em um estado de vie a ser, Asim, a criang, 24 cbjeto da educagSo, posi para 0 educador um duplo aspecto: nora em.um mundo qve Ihe & estraihe © se snc em proce de formayi &m-aovor humeno e €um ser bumano em formagio. Ete duplo sipecio nio é de manciraalguma evden por sme, ‘mo, ¢ ndo t aplca is formas de vida anins; cnr ponde un dupld relicionamento, 0 relacionameno fom 0 mundo, de um Jado, e com a vids, de cute, ‘Aveiangagartiha 0 estado de it set com todas coisas vivas com fspeito & vide © teu deenvolvimen (0, erianga € un] ser humano em processo de forma. 4p, do mesmo modo que um gainho 6 um ato em processo de formato, " Mas-a.ccianea 36-6 nova.em ‘elsgda- un. mundo. que.exista-antes dela jue-con- invard_apxs_sua.motie-e-n0. qual ransconeni—ve vila... S60 eranga nfo fose ven ecém-chegado esse tnundo humane, porém simplesmente wma criaita viva Binda no concluda, a eduesgso eta apenas uma fore ‘do da vida e no’ teria que consistr em nada além {i preocupacio para com a preservagso da via € do treitameato ena pratca do vive que todos ox animals ssoumem eur relyao 8 seus (0s pais humanos,contudo, no apenas troureram seus fils & vida mediante a eoncepgao e 0 nascimen” to, mas simulaneamente 8 ftroduzvam em mun. do, "Els assumem.sa-edvcagSo.a responsabilidad a0 mesmo tempos pela vila. desenvolvimento. daexaaga ¢ pea eoatinidade-do-mundo. Esar duas response biidades de modo algum coincidem; com eteito posem gnirar em tuo eoafto. A responsabilidad pelo desenvolvinsata.d_crianga_solinse. em-cerio~eatide mio deve tr eranyas,-c-6 preci probila de tomar parte em sta edveasio. 'Na_edveacio,ss0_responsbidade_pele_mondo osume a forma de aulodade. A auoridaie doa cador € as qualificagses. do. professor.ndo.sia.a. mesma co Eobor cet qualiicago anders bifa 3 auleridde, a quallicagor por maior que 3, hunca engenra por a a6 autre, A. qoaliicanso 4 professor conte em comer © mundo o 57 c¥ pez de instruir os outcos acetea deste, porém sua abio- ese asenta na -esponsabiidade.Gue-cle. sume fot este mundo, Face 4 cianca, €-com se de fs {in epreentntedefodos or habitants slon, Pom tundo on detates © eizndo A-crngar —~ Ino € © neni mundo 29 Pois bom: tabemos todos como at coisas andam hoje em dia com respeito & autoridade, Qualquer gue soja nossa attude pesvoal face a este problema, & Sbvio ave, na vide publica e politics, a autoridads_ou nia representa, mais nada. — pois. violénis-e-o. tear txereidos pelos pales toalitrice evidentemente- nada {2m a ver.com avtoridade.—, ov, no. méximo, desem- penba um papel allamente contesiado. Iso, contudo, Simalehate sei, em esac, ge a pans a0 jeter mais engi ov confiat a ninguém stato de-ss- Sie raponsbaiads porto oma pos sae ‘que # auioridade leetimiaexistniela este astoiada com 4 responsabiiade pelo curto das coisas no mute 0, Aa Temovermos a autordade x yida, poitea. ¢ pblica, pode. ser qué Tio, sigifique. que, de agora.em Aiani, © enija de todos uma. jgualresponsabilidase pelo rumo.do.mundo, Mas isto pods tambern signe far que as cugéncias do mundo’ e seus reclamos de ‘ordem estejam sendo consciente ou inconscientemente repadiades; toJa-e _gualguer_sespontaniidade pelo mundo esti sendo rejitada, scja-a tesponsbilidade de dar orden, seia a. de.obedecélas. No sta. divida ‘2 que, na perda moderna. da autordade, ambas.as i- teogbes deempenbam um papel. tm, mites vez, Simultanea e ioexticvelmente, tabalhad jun [Na educapio, ao contrério, ndo pode haver tl an- bihidade face a, perda hodieta de autoridade. AS cnangas nio podem derrubar a autoridade edveacio~ ‘al, como st eativessem sob a opressio de vina male fa 'sdulla — embora mesmo esse absurdo fratamento as erisngas como uma minoria oprimica carente de liberagio tenba sido efetvamente submetido a prova ‘pric eddcacional moderna. A aUtoridade {01 r- cusada pelos adultos, ¢ isto somente pode signifcar oma coisa: que ok adullos.se_recusamt_a-assumic-a responisbldade pelo mundo. so qual rouxeram. as anges, Evidentemente, hé ume conexio ene. perda. de suloridade ma vida piblica epoca e nos dmbitos privados¢ pré-politicos da familia e da escola, Quanto ‘mais radical te trna a desconfanga face & autoridade na esfera publica, mais aumenta, natoralmente, 8 pro- 240 bubildade de que a esfera privada nfo permancgs in- slums. Hi ato adeional mato provaeients decisive, de que hi tempos imemorais nos acostuma- mos, em nossa tradigdo de pensamento politico, a con- Siderar a antoridade dos pats sobre os filhos ede pro- fessores sobre alunch como o modelo por cijo intr- médio se compreendia @ auioridade politica. © just. ‘mente tal modelo, que pode sex encontrado jé em Pla- {Go e Aristiteles, gue confere 130 extraordinéia am- Pigtidade 20 conayto de avtoridade em politica, Ele Se baseia sobrotufo em una superordade absolut aque jamais podeid exstic entre adultos © que, do pon- to de viata da dignidade humana, no deve nunca exis- tir. Em segundo lugar, ao seguir © modelo da cra do dos files, baseiase em uma superiordade por Iente temporttia, tomando-se, pois, autocontradtsrio quando aplicado relagées que por natureza nio sio temporisias —~ como a Telapbes entre govermantes sovernados, Desorre da natureza do problema — isto da natureza da stual crise de aulotidade ¢ da natu- reza de nosso peasamento politico tradicional — que 4 perda de autoridade iniciada na esfere politca deva ietminar na este privada; obviamente nao € sciden- tal que o lugar em que a autordade polica foi sole- pada pela primeira vez, isto 6, a América, seja onde a érise moderna da edacagio st faga sentir com mtiot intensidade. ‘A perda geral de autoridade, de fato, nio pode- ria encontrar expressfo mais radical do. que sua intu- slo na esfera pré-poltca, em que a autoridade pare- cia ser ditada pia. propria natireza e independer de todas as mudangas histérieas © condigdes poltcas. O hhomem modemo, por outro lado, no poderia encon- trar nenhuma expressio mais clara para sua insatst so com o mundo, para seu desgosto com o extado de coisa, que sua recusa a assumit, em relagio a crian- 25, a responsabiliade por tudo isso. como s2 0s pais dssessem todos os dias: — Nesse mundo, mesmo nds nio estamos muito a salvo em casa; como se mo- vimentar nele, © que saber, quais haildades domisir, {do isso também $80 mistrios par ands. Voots devem tentar entender iso” do jeto que paderem: em todo ML cus, vorts nfo wat 0 dio de ee sats Simos cent, vamos us nap wale 2 te std 6 cry nada fa room 9 de sno revlon de ua nore orden senda ‘bne Onde Srtoner gue ers ines hoa Tex que incr atoms, doce odes CSrankumento do mundo" vatel em tle pane oe fee wyrcen om forms putcdaraate ries Sipe oh ene de ye ne sme "E erase que or tape polapsicn et dy eat Ane Pores moi Tevolonra, 0 gue angen a sera onto # diiuldade de iectiiar a stuaplo com ci. teem fovrando st pau de confisto'm drasta do prciinn Em conte Sry toes ees cy poctaesie contin stn s ts geesiated Seige trite 0 perooom gue a Anise ee mee animads por ee sap evens feat smtou Wie neve nde pa aaa Femmncndo, a0 cutis, sommes mae Sheba ‘Aim de evi males: pugs ee 9 comelateutna ag sated cee ected svadeeducatonal sacle tee _ pee abgat pops alga set 4 ean on Gia mds, mmo cones © etajare nva-eo. ta glob bp soae'e nove, Mosman Woe. ‘shill tina plo grndo gue &. a sum Hae Taner va ites soutien Mar hie er ‘tans vido apes no ints dx edu, on me Torna agente adoro cana © fo no Uti da policy onde apis oto ale ¢ . tom ipa” 'Ta itn Seeders em pal Stato 0 minds cone te & prose tomes presen © ty qvo no pose sno evar te Iragi, vio que'o mundo, tat 0 toto como en are, § reopen tedado' tuna peo tmp, Sno gus est sees heavoydetenace t Inca tare ogo qe €or Ar ple win deat" “The tie bt oe. O eed {pte tater was brn ot gh hs 2a fou menos verdicas para cada nova geragéo, embora {enham adqutdo tales, desde o into de bono seco, uma validee mais persasiva do que antes. Basicamente, estamos sempre edveando para un smundo que oti eat fora dos eos ou para af cam fh, poss é esta sf sivagio. humana bésia, em muado &ciado dor mon moras © se dele Son tora durante tempo imltado, "O mundo, visto gee feito por moras, go espsta, c, dado que seus hair antes mudam confnwament, corte 0 rtco de torar- 4 mortal como ts. Para preserar o- mundo contra 4 mortalidade de Sous criadores e habitants, ele deve fer, contnuamente, pesto em oréem,O. problema é fimpleamente educar ce tal modo qbe Um por-emro dem continue sendo eleuvamente poushel, ainda que ‘nfo posta nuncs, 6 claro, ser astepurado,” Nossa Petanga.extt-pendente sempre. do.nove-que.cada.gera- ers; Pecsamene por bai ota ee. fanga apenas nisso, porém, € que tudo destuimos se tentarmos controlar Oy novos de tl modo que ny, oF velhos, possamos dsr sua aparénia futur. Exata- Imente'em benefiio dagailo que & novo e revluciond: Fo em cada crianga 6 que a educagao precisa set com: Servadora: ela deve. presrvar esta hovdade © intoda- Zila came algo, novo em Um mundo velho, que, or mais revolucionério que possa ser em suas agdes, & Sempee, do ponto do vst da geagio sequin, obsle- tore rene A destragio, Wv ‘A verdadeira diculdade na educagio modema std no fato de que, a despeito de toda a conversa da moda acerea de um’novo conservadorismo, até mesmo aguele minimo de coaservagio e de atitode conserva. dora sem o qual a educapso simplesmente no & pos- Sivel se torna, em nossos dies, extraordinaiamente di fic de atingir, HH silidas razbes para iso. 4 iso 44 autoridade ‘na educacio.guarda-s. mais eseita.cox ea crise. de tradicdo,-ou-seja,com_ a crise 42 Goa atfide face ao-dmbio'da passadg, tobe od da crise moderna, pois & de seu oficio serve como me- diador entre 0 vetho © 0 novo, de tal modo que sua propria. profissia.Ihe-exige-aum resp is elo passada... Durante muitos séculos, isto por todo © petiodo da civiizagio rommo-crsti, nfo foi neces- " sério tomar conscitncia dessa qualidade particular de proprio, pois a reveréacia ante 0 passado era parte essencial da mentalidade romana, ¢ i30 no foi modi- ficado ou extinto pelo Cristiacismo, mas apenas desle- cado sobre fundamentos diferentes, Era da essincia da atitude romana (embora de mancira alguraa iso fosse Verdadeiro pars qualquer G vilizagio, ou mesmo para a tradiggo odidental como wm todo) considerar 0 passado qua passado como um me. delo, os antepassados, em cada insténeis, como exem: pos de conduta para’seus descendentes; erer que toda grandeza jax no que foi, e, pertanto, que a mais exce: Tente qualidade humana 6 a idade provecta; que 9 ho- ‘mem emvelhecido, visto ser ji quase um antepassado, Pode servir de modelo para os vivos. Tudo isto se ‘Pbe em contradieso nfo’ s6 com nosso mundo e com 2 época moderna, da Renasceasa em diante, como, por ‘exemplo, com a atitude grega diante da vida, Quando Gosthe disse que envelhecer & “o.gradativo retirarse do mundo das aparéncias”, ua observagio era feta zo expitito dos gregos, para 9s quais ser e aparéncia coincidiam. A atitade romana teria sido.que-justamente a0 envelhecer © a0 desaparestr_gradstivamente, da, co- rmunidade dos morta o homem alinge. sua forma mais caracteristica de existéncia, ainda que, em relagio 40 sudo Gas aparéncias,esteja.em_vias de_desapiareéer, a ele se pode acerear.da.exis- serd ua astoridade para os outros. Cémira’6 pano de fundo inabalado de uma tradigéo dessa natureza, na qual a educapdo possul uma fon- ‘glo politica (e esse caso era Gnico), & de fato relati- vamentefécil fazer dteto a8 coisas em matéria de edu- ccagdo, sem sequer fazer ume pausa para apreciat 0 que s exté fazendo, tio completo € 0 acotdo entre o ‘ethos expecifico do principio pedagdgico © as convie- ‘9608 Kticas © moras bésicas da sociedade como um odo, Nas palavras de Polibio, educar era simplesmnen- ae te “fazves ver que soit intirmente dignos de vos. sos antepasndos", e nesse miter o educa podia set tim “companbeiro de Tuts” ou un “compashel ae Trabalho" por ter também, embors em avel siveso, AMravessado vida com or ofhes gradados po Companbeismo ¢ aftorsdase nko eram nee ras s: dois aspects df mesma robetaca,¢ 2 aulogdade do mesrearraigava-se-firmementene-aulidede- im elusive do_passado caquanto ta. Hoje em dia, pore, ‘io nos encontamys mah em fl pity no ae ul? to sentido aginacs Pomo se a situado fose a mesma, eno se apenas nck bouvéssemos como que extaviado Go camino cere, sao lives pare, 8 qualquer mo- mento reencontrac 0 Tomo. Ito quer cer que ao {= pole, onde quer que a erse hajt ocomido no mun. do" morro, if simplesmente em frente, ¢ tampouso Simplesmente vollar para (as. Tal revocsso, nonce nos lvard-a parte alguma, exceto mesma stags 4 qual «crise acabou de suri. O retoro nlo pasa ia de uma repetigao da execughe —~ embora‘alvez fm forme diferente, visto no bates limite St posit biidades do nogdes absurd © capichosas que #80 a= viadas como a tltima pelara em coca." Por oat lado, a mera e irreletda pertveraca,sejapresonan- do para frente a vse sje aderind 8 rodina que cre- dita bonachonamente que a eitenio engolfard sua cx feca particular de vido, #6 pode, vito qs 20 rende 80 curso do tempo, conduzi & runs, para ter mas po- cis, cla 36 pode sumentar 0 exrthamenta do mundo elo qual jé somos ameagados de todos of Manco.” Ad onsierar os pinepios da educa temos de levar em conta esse proceso de estranhamesto do mundo; pode- ‘mos até admitr que nor defrontanos aga presume mente com um procsso autométic, sob ania con- digo de nfo exquecsrmos ue esti a0 alsance do po- der do pensamento © da ago humana iteromper © Aeter tas, process. 0 problema da-educagio-no-mundo. modero-eh no fato de. por sua natures, nio poder eta abi mio nem. da aufridade, nem da tradi, e set obnexts, apesar dito, a gamiahac em um mundo que.nio.6 «= ttnturado nem pela autoridade nem taipouca mani MS oct pla wat, uo sige, ena ue nfo Beta plete elacadores por tose hoe as ics om que enor em wands jt A notes Slant ate jr, evemortneoelalo det Shu tiede retaincns'dvesn eur’ perdanet tin para com 0 auvo, Come divrcrmor dere SOG ios dara Sib dio arate pea © polten, pre sir exclusamente a de um conceit de auiteade ¢ ust Since Tod te aus ae ep tee to posse welds prt nto dewende selon ds ‘plein pncalinda nc don ada Ya pete, «primeira eoneena. dso sera wpa coopreeiio tom lars aa imo de St [Sines tos canoe mate fen ae Stirs au denee-Dado fuse mondo Clo, Sempre mal fs das meine trendungem vlc SSevaveimente pra‘ pasado, noo hao guns is en tanta ne present, Eo see fia tata taada ene Coane alt dees Spar oc tpt adscar ashe fem tua eaten cone ons sep madras uae

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