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A ORDEM ECONÔMICA CONSTITUCIONAL

O que significa uma Ordem Econômica Constitucional? A Ordem Econômica de um país consiste no conjunto de normas
constitucionais que definem e norteiam os objetivos de um modelo econômico de um país e as modalidades de intervenção
do estado nesta área.

Como organiza-se a Ordem Econômica Constitucional? Os princípios da ordem econômica constitucional do Brasil dividem-
se em dois grupos, que estão em constante conflito. Princípios Programáticos e Princípios Liberais Clássicos. Normalmente,
em constante tensão. Para ser resolvido esse impasse é necessário o uso da técnica de ponderação e o respeito às escolhas
políticas.

PRINCÍPIOS LIBERAIS CLÁSSICOS PRINCÍPIOS PROGRAMÁTICOS

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a
todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

I - soberania nacional;

II - propriedade privada;

III - função social da propriedade;

IV - livre concorrência;

V - defesa do consumidor;

VI - defesa do meio ambiente;

VII - redução das desigualdades regionais e sociais;

VIII - busca do pleno emprego;

IX - tratamento favorecido para as empresas brasileiras de capital nacional de pequeno porte.

Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de
autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.

O que são os princípios programáticos? Primeiramente, é preciso entender como funcionam as normas constitucionais
brasileiras. As classificamos por grau de eficácia, ou seja, existem três categorias de normas constitucionais: normas de
eficácia plena, contida e limitada.

 Norma constitucional de eficácia plena: são aquelas que possuem aplicabilidade direta, imediata e integral. Direta
porque é aplicada diretamente no caso concreto. Imediata porque não há nenhuma condição para sua aplicação, basta
ser publicada. Integral porque não pode ser restringida por outra lei, e se for será inconstitucional. Vale dizer que estas
normas, desde sua gênese, possuem todos os efeitos visados pelo poder constituinte (derivado e originário). Exemplo
deste tipo de norma é o artigo 2° da CR/88: São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo,
o Executivo e o Judiciário.
 Norma constitucional de eficácia contida: são normas de aplicabilidade direta, imediata, mas não integral. Ou seja,
estão sujeitas a limitações, reduções e regulações a atos posteriores advindos do Poder Público. O ator legislador
responsável regulou suficientemente a matéria versada, mas possibilitou a atuação restritiva posterior por parte do
Poder Público. São, também, autoaplicáveis. O exemplo do autor é o parágrafo 1º do artigo 9º da Constituição, que
autoriza a lei infraconstitucional a definir os serviços essenciais e, quanto a eles, restringir o direito de greve. “Art. 9°.
É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os
interesses que devam por meio dele defender. § 1º - A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o
atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade”.
 Norma constitucional de eficácia limitada: possuem aplicabilidade indireta, uma vez que dependem da formulação de
uma norma posterior para surtir efeito. São definidas como normas não autoaplicáveis porque não produzem com a
simples promulgação na constituição. Elas dependem de uma regulamentação posterior que lhes entregue eficácia. A
utilização de certas expressões como “a lei regulará”, “a lei disporá”, ou “na forma da lei” indicam que a vontade do
constituinte precisa ser complementada para o ulterior efeito da norma constitucional. Normas constitucionais de
eficácia classificam-se de duas formas diferentes: normas de princípio institutivo e de princípio programático.
o Norma constitucional de eficácia limitada definidora de princípios institutivos: são normas das quais o legislador
constituinte traça diretrizes e esquemas gerais de estruturação e atribuições de órgãos, entidades ou institutos,
para que o legislador ordinário os estruture em definitivo, mediante leis. Exemplo: “Art. 33°. Ressalvados os
créditos de natureza alimentar, o valor dos precatórios judiciais pendentes de pagamento na data da promulgação
da Constituição, incluído a remanescente de juros e correção monetária, poderá ser pago em moeda corrente, com
atualização, em prestações anuais, iguais e sucessivas, no prazo máximo de oito anos, a partir de 1º de julho de
1989, por decisão editada pelo Poder Executivo até cento e oitenta dias da promulgação da Constituição”.
o Norma de eficácia limitada definidora de princípios programáticos: são as que estabelecem programas, metas,
objetivos a serem desenvolvidos pelo Estado, típicas das Constituições dirigentes. Impõe um objetivo de resultado
ao Estado – não diz como o Estado deverá agir, mas o fim a ser atingido. Dirigem-se, normalmente, ao legislador
ordinário, apesar de em muitos casos terem como destinatários o Poder Público e os órgãos estatais. Esta
vinculação significa, pois, que as leis que não se ajustarem às diretrizes por elas tratadas perderão sua validade,
sendo superadas pelas normas programáticas. São normas que contém em si mesmos interesses ou matérias às
quais o Poder Constituinte conferiu natureza constitucional. Soberania Nacional; Defesa do meio ambiente;
Defesa do consumidor; Busca do pleno emprego; Função Social; Redução das desigualdades regionais e sociais;
Tratamento favorecido as empresas de pequeno porte. Entram em conflitos com os Princípios Liberais Clássicos
pois dão margem para a intervenção, mesmo que benéfica. Rompem o individualismo. “Art. 7º. São direitos dos
trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:
IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender as suas necessidades vitais básicas
e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência
social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer
fim. Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a
colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania
e sua qualificação para o trabalho”.

PRINCIPIOS LIBERAIS CLÁSSICOS

O que é liberalismo clássico? É um conjunto de ideias que coloca o indivíduo como o seu centro. Liberais clássicos
discordam em muitas coisas, mas eles concordam em dez princípios básicos.

Liberdade; II. Individualismo; III. Ceticismo quanto ao Poder; IV. Império da Lei ;V. Sociedade Civil; VI. Ordem Espontânea;
VII. Livre mercado: O comércio, os negócios, devem ser deixados para as atividades voluntárias entre indivíduos. O
governo não deve dizer às pessoas onde trabalhar, o que vender, quanto gastar, o que construir. Isto deve ser deixado
por conta das interações voluntárias entre as pessoas. A propriedade privada permite isso. Também é necessário
garantir que quando há disputas elas possam ser resolvidas pacificamente. Como nos mostra a história, quando se
deixa a Economia na mão de mercados livres em vez de organização ou planificação estatal, a prosperidade aumenta,
a pobreza diminui e aumenta também a produção de bens que as pessoas querem consumir. A livre concorrência é
dupla inseparável da livre iniciativa, uma vez que o mercado traz bons resultados somente quando as duas atuam
conjuntamente. O princípio da livre concorrência é concretizado pelo SBDC (Sistema Brasileiro de Defesa da
Concorrência), que é formado pelo CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e pela SEAE (Secretaria de
Acompanhamento Econômico), do Ministério da Fazenda. A legislação concorrencial não busca impor a concorrência
perfeita, mas uma concorrência viável à cada um dos mercados; VIII. Tolerância; IX. Paz; X. Governo Limitado.

ORDENAMENTO ECONÔMICO CONSTITUCIONAL E A LIVRE INICIATIVA

Em nosso ordenamento constitucional, a livre iniciativa é em primeiro lugar mencionada como fundamento da república,
no art.1º, inciso IV, reaparecendo como princípio da ordem econômica no caput do art.170. Essa liberdade – de iniciativa
- será exercida na atividade econômica de produção, circulação, distribuição e consumo de bens e serviços, dentro do
mercado, palco onde atuam os agentes econômicos que são o Estado, os empresários, os trabalhadores e os
consumidores. É evidente que, para que alguém se lance numa atividade lícita é necessário que se tenha ciência da
possibilidade de exercício da atividade, a que chamaremos de sensibilidade (saber que existe a possibilidade), bem como
tenha acesso à atividade econômica eleita, a que chamaremos de acessibilidade (acesso ao desempenho da atividade
econômica eleita para ser exercida). Uma vez no exercício da atividade econômica, o agente deve desfrutar da faculdade
de contratar ou não; deve poder escolher com quem contratar e que tipo de negócio efetuar, fixando o conteúdo do
contrato, bem como podendo mobilizar o aparelho estatal para que se faça cumprir o avençado entre as partes. Sobre
a noção de livre iniciativa diz Celso Ribeiro Bastos, no seu Direito Econômico Brasileiro, São Paulo: Celso Bastos Editor,
2000, na pag. 119: “A liberdade de iniciativa consagra tão-somente a liberdade de lançar-se à atividade econômica sem
encontrar peias ou restrições do Estado. Este princípio conduz necessariamente à livre escolha do trabalho, que, por sua
vez, constitui uma das expressões fundamentais da liberdade humana”. Podemos dizer que a livre iniciativa abrange a
liberdade de comércio e indústria e liberdade de livre concorrência, as quais, conectadas com a liberdade pública e a
liberdade privada teremos o seguinte painel:

a) Liberdade de comércio e indústria (não ingerência do Estado no domínio econômico);


b) Faculdade de criar e explorar uma atividade econômica a título privado (liberdade pública);
c) Não sujeição a qualquer restrição estatal senão em virtude de lei (liberdade pública);
d) Faculdade de conquistar a clientela, desde que não por meio de concorrência desleal (liberdade privada);
e) Proibição de formas de atuação que deteriam a concorrência (liberdade privada);
f) Neutralidade do Estado diante do fenômeno concorrencial, em igualdade de condições dos concorrentes
(liberdade pública).

Direito Objetivo e Direito Subjetivo

O direito objetivo é o conjunto de normas que o estado mantém em vigor. Constitui uma entidade objetiva
frente aos sujeitos de direitos, que se regem segundo ele.
Sendo assim, é o conjunto de normas que obrigam a pessoa a um comportamento consentâneo com a ordem social. Ou
seja, através das normas, determina a conduta que os membros da sociedade devem observar nas relações sociais. O
direito objetivo é tudo que está previsto na lei, como por exemplo, o caso da gestante que tem direito a licença à
maternidade, esse direito está previsto na lei, na constituição.
Também chamado de direito positivo, pois é um direito posto. Ou seja, o conjunto de regras (leis, costumes,
regulamentos) que preside à nossa vida em sociedade. A norma de agir (NORMA AGENDI).
Então, podemos chamar de direito objetivo, o conjunto de regras vigentes num determinado momento, para reger as
relações humanas, e que são impostas coativamente, à obediência de todos. Ou melhor, pode definir-se como o
complexo das regras impostas aos indivíduos nas suas relações externas, com caráter de universalidade, emanadas dos
órgãos competentes segundo a constituição e tornadas obrigatórias mediante coação. É o conjunto de leis vigentes, que
nasceram da vontade geral e passam a integrar o ordenamento jurídico. Como por exemplo, a Constituição, as
legislações, Penal, Civil, de Proteção e Defesa do Consumidor, etc.
O Direito Objetivo estabelece normas de conduta social. De acordo com elas, devem agir os indivíduos.
Já o direito subjetivo, designa a faculdade da pessoa de agir dentro das regras do direito (FACULTAS AGENDI). É o poder
que as pessoas têm de fazer valer seus direitos individuais.
Então, nasce da vontade individual. É a faculdade de alguém fazer ou deixar fazer alguma coisa, de acordo com a regra
de ação, ou seja, de acordo com a norma. Os direitos subjetivos revelam poder e dever. Poder de cobrar e dever de
pagar uma dívida. Está ligado a pessoa, exige o direito objetivo que está na lei. Por exemplo, posso exigir a licença à
maternidade, sendo esse direito objetivo. Mas preciso provar esse direito subjetivo, ou seja, preciso provar que estou
grávida. É aquele que pode ser exigido pelo seu titular. Assim, direito subjetivo é a prerrogativa do indivíduo invocar a
lei na defesa de seu interesse, ou ainda, os direitos subjetivos encontram proteção na norma, do Direito Objetivo. É este
que os garante. Em outras palavras, é o Direito Objetivo que confere às pessoas direitos subjetivos.
Portanto, o direito objetivo indica o ordenamento positivo colocado diante de nós e o direito subjetivo a faculdade de
exigir seu cumprimento. A livre iniciativa pode ser dividida em duas dimensões: uma subjetiva (produz direitos
subjetivos), outra objetiva (traz um valor para o Ordenamento Econômico).

No âmbito subjetivo temos três direitos:

1. Liberdade de criar e explorar qualquer atividade econômica, salvo restrição legal;

2. Liberdade de gestão, administração da atividade econômica, salvo restrição legal;

3. Neutralidade concorrencial do Estado.

O âmbito objetivo declara que as atividades econômicas devem ser dirigidas pelo agente privado em regra.

O DIREITO DE PROPRIEDADE
O direito de propriedade é o mais completo dos direitos subjetivos. A propriedade privada faz com que os donos
suportem os ganhos ou perdas individualmente (incentivo a investimentos racionais). De acordo com o artigo do
Código Civil, o proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la de quem quer que
injustamente a possua. Portanto, o direito de propriedade engloba as seguintes faculdades:
 USAR: Direito de colocar a coisa a seu serviço.
 GOZAR: Direito de tirar, colher, extrair os frutos e resultados que a propriedade possa trazer.
 DISPOR: Direito de transacionar o bem (alugar, vender).
 REAVER: Direito de recuperar a propriedade de quem a detém de forma injusta.

O que é a posse? Tem a posse quem efetivamente desfruta das faculdades do proprietário (direitos de usar, gozar,
dispor e reaver a coisa). A posse é a expressão da conduta de quem age como proprietário. A posse pode ser
classificada como justa ou injusta, sendo justa aquela que não é violenta, clandestina ou precária.

 Posse violenta: A propriedade é adquirida pelo uso da força.


 Posse Clandestina: Resultante da ocultação da posse
 Posse Precária: Ocorre quando quem recebe a coisa, a recebe com a obrigação de restituir.

TEORIA GERAL DOS CONTRATOS


É descrito pela literatura jurídica como a veste jurídica dos negócios jurídicos. Contrato pode ser definido como: acordo
de vontades na conformidade da Lei e com a finalidade de adquirir, resguardar, transferir, conservar, modificar ou
extinguir direitos. No Direito Romano, os contratos estavam presos à leis específicas. Foi somente com o pensamento
canônico e a Escola de Direito Natural que a vontade das partes passou a ser vista como elemento básico dos contratos.
O contrato é usualmente definido como um negócio jurídico patrimonial bilateral, mas pode ser plurilateral.

Teoria Clássica do Contrato = consenso (acordo, conformidade, unanimidade) é o elemento central.

O Direito Contratual funda-se em três princípios clássicos:

1. Autonomia Privada: Ideia de que as pessoas tem o direito de contratar, sem que seja objeto ilícito, bem como
possuírem liberdade sobre o conteúdo do contrato.

2. Pacta Sunt Servanda (Os acordos devem ser cumpridos): Significa a obrigatoriedade de cumprimento do contrato,
não sendo lícito arrepender-se e revogar o contrato senão por consentimento mútuo.

3. Relatividade dos Contratos: Afirma que o contrato somente deverá produzir efeitos, ou seja, ser eficaz, entre os
contratantes. Diz ainda que os termos contratuais só podem ser questionados pelos contratantes.

PRINCÍPIOS ATUAIS (social = colocam em crise o conceito de Contrato Clássico):

4. Boa-fé objetiva: Atitude de lealdade e respeito pelas expectativas do outro, visando o êxito do contrato de modo
cooperativo.

5. Equilíbrio Contratual: Trata da desproporcionalidade no contexto da alocação concreta de riscos delineada pelas
partes.

6. Função Social: Ideia de que o contrato deve abranger os interesses legítimos da sociedade, ou seja, seus efeitos
devem levar em consideração os anseios sociais.

INTERVENÇÃO ESTATAL NA ATIVIDADE ECONÔMICA


Direta (diz respeito a atuação do Estado como empresário):

 Por absorção, com a constituição de monopólios públicos. A intervenção estatal direta por absorção é possível
somente nos termos do artigo 173 da Constituição Federal, nas hipóteses de relevante interesse público ou
segurança nacional. As hipóteses previstas na Constituição Federal são: pesquisa e lavra de petróleo e derivados,
minérios nucleares, recursos minerais e potenciais hidráulicos.
 Por participação, através da concorrência com empresas privadas. As empresas estatais podem ser criadas por lei
ordinária e devem ser criadas para atender relevante interesse coletivo ou questão de segurança nacional. As
empresas estatais devem ter as mesmas obrigações, direitos e deveres que as empresas privadas. Devem concorrer
em igualdade de condições, ou seja, sem nenhuma isenção ou privilégio que eventualmente consiga contornar o
princípio da livre concorrência.
Indireta (diz respeito à imposição de normas e pode ser referida como regulação):

 Por Direção, através de mecanismos compulsórios. (Medidas adotadas pelo estado que interferem na economia.
Taxa de juros, você não a opção de aceitar ou não o que eles impõem).
 Por Indução, através de incentivos econômicos ou outros mecanismos indiretos. (Desconto, doação do imposto de
renda).

A regulação estatal no Brasil adotou o modelo de agências reguladoras setoriais a partir da década de 1990. Essas
agências são órgãos públicos que estabelecem as regras para a atuação das empresas privadas. São dotadas de
autonomia (administrativa, funcional, orçamentária), tem competência técnica, podem solucionar conflitos e
possuem como objetivos promover a concorrência e contribuir para o desenvolvimento econômico, uma vez que o
mercado dificilmente irá atingir uma situação de competição perfeita.

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