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Direito Da Uniao Europeia PDF
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LINHA DE SEBENTAS
Direito da União Europeia
Índice
1. Introdução – A União Europeia ................................................................................................. 3
2. Os antecedentes da União Europeia ......................................................................................... 5
3. A União Europeia segundo o Tratado de Lisboa ..................................................................... 15
4. Revisão dos Tratados da União Europeia ................................................................................ 18
5. Os Princípios Fundamentais da União Europeia ..................................................................... 20
6. A Proteção dos Direitos Fundamentais da União Europeia .................................................... 27
7. A Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia .......................................................... 31
8. A Organização Institucional da União ..................................................................................... 35
9. A aplicação jurisdicional do Direito da União – Tribunal de Justiça e Tribunais Nacionais .... 39
10. A eficácia interna do Direito da União – O princípio da aplicabilidade direta ...................... 45
11. O Primado do Direito da União Europeia .............................................................................. 53
12. O princípio da autonomia processual dos Estados-Membros e os seus limites: os princípios
da equivalência e da efetividade................................................................................................. 57
13. Atos Jurídicos da União ......................................................................................................... 58
14. Os procedimentos decisórios: processos legislativos e a “comitologia” .............................. 65
Repetitório de perguntas ............................................................................................................ 71
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Não cabe à U.E fixar a sua própria competência, sendo esta fixada pelos Estados-
Membros através dos tratados. Não obstante isto a competência da União é
extremamente vasta, sendo que existem matérias que são da sua competência exclusiva
e outras que são partilhadas entre a U.E e os Estados-Membros. O regime jurídico de
base da U.E assenta em dois tratados essenciais de cariz jurídico-internacional:
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Para além dos dois tratados referidos, importa também dar destaque à Carta dos
Direitos Fundamentais que foi aprovada em 2000, porém sem força jurídica na altura. O
Tratado de Lisboa, por força do seu artigo 6º, estabeleceu que esta tem valor jurídico
igual ao dos Tratados, sendo que a União reconhece todos os direitos, liberdades e
princípios enunciados na referida carta. Estes são os três principais instrumentos
jurídicos do estatuto jurídico-político da U.E.
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Desde sempre que existiram projetos para a construção de uma Europa Unida, tendo
todos eles acabado por falhar. Porém as circunstâncias no pós-II Guerra Mundial
proporcionavam mais do que nunca a unificação da Europa para fazer face à nova ordem
internacional que estava a surgir. Pela primeira vez na História a Europa tinha perdido o
lugar de comando dos destinos do Mundo, estando agora essa chefia entregue a dois
pólos: o soviético e o americano. A somar a isto todos os países europeus que não se
encontravam sob o domínio da U.R.S.S enfrentavam problemas comuns – problemas
políticos, económicos, sociais e de defesa – e só em conjunto é que seria possível
ultrapassar eficazmente tais problemas.
O caminho para a unidade europeia deveria ser feito com base numa potencialização
do lastro comum europeu do ponto de vista cultural, político e histórico para que a
situação que originou a II Guerra Mundial não se repetisse. Os vários países europeus
começaram a entender que sozinhos não seriam capazes de fazer face ao Mundo que
resultou do fim da Guerra e que teriam de se unir. Para que a referida União resultasse
efetivamente as querelas e pretensões nacionalistas teriam de ser abandonadas de vez,
sendo que a ideia da Europa Unida teria de ser superior à ideia do Estado-Nação.
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um ato de fé dos europeus na Europa. Do ponto de vista concreto deveriam ser dados
alguns passos entre os quais se destacam os seguintes:
A construção da Europa Unida tem de ser feita o mais depressa possível, pois
no momento existe paz, mas as ameaças ainda permanecem.
Deve haver uma contribuição cada vez maior para o fortalecimento da ONU
e o contributo da Europa passaria pela criação de um Conselho da Europa
(Tratado de Londres)
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A somar a isto existe uma assembleia de cariz meramente consultivo, mas cujo
impacto é muito reduzido nas decisões do Comité de Ministros.
Este comité não pode criar regras obrigatórias criadoras de direitos e obrigações
para os Estados, podendo antes criar soft law que só entra em vigor nos Estados se estes
o entenderem e pode também dirigir recomendações aos Estados.
Estes dois países há cerca de 1 século que tinham vários problemas entre si,
sendo que o principal problema era de base económica levando a muitos outros
problemas. Assim sendo a solução para o referido problema seria a de permitir o
controlo bilateral da produção de matérias-primas fundamentais para o
desenvolvimento de qualquer futuro esforço de guerra ou prossecução de objetivos de
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A CECA era composta por órgãos de decisão política que eram controlados por
órgãos de decisões jurisdicionais. Com estes órgãos independentes face à vontade dos
Estados-Membros coexistiam também órgãos representantes dos Estados-Membros.
Este quadro institucional é bastante mais complexo que o do Conselho da Europa,
distinguindo-se assim o intergovernamentalismo do federalismo.
À Alta Autoridade cabia verificar que o tratado seria cumprido. Era composta por
9 membros e estes exercem as suas funções de forma independente, tendo em conta o
interesse geral da comunidade e não podem aceitar instruções dos governos e não
podem praticar atos contrários às suas funções supranacionais. O Tribunal pode demitir
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Este avanço foi extremamente significativo, porém face aos grandes anseios de
união europeia anteriormente expressos, uma integração limitada aos sectores do
carvão e do aço constituía, sem dúvida, um projeto modesto. Porém a criação da CECA
veio desbloquear uma situação de impasse, pondo em movimento uma engrenagem,
que naturalmente, pelo simples jogo dos fenómenos económicos e políticos a que daria
lugar, acabaria por ultrapassar o quadro apertado de uma organização sectorial.
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e a França não o fez. Apesar a ideia original ter surgido por iniciativa francesa, esta foi
dada no auge do poderio soviético que, à data prevista para a retificação, tinha
acalmado devido à morte de Estaline. Com esta não entrada em vigor do Tratado da
Comunidade Europeia de Defesa a Europa Unida atravessa a sua primeira crise, que só
seria resolvida em 1955 através da Declaração de Messina e da posterior criação da CEE
e da Euratom.
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Até 1987 a cooperação política foi sendo feita com base num registo informal e
baseado em boas práticas. Porém nesse ano entrou em vigor o Ato Único Europeu. Este
novo tratado surge da necessidade clara de novos impulsos para a criação da tão falada
União Europeia e que tais impulsos careciam de uma adaptação do sistema institucional
comunitário. Devido aos sucessivos alargamentos da CEE, esta perdera a sua
homogeneidade pelo que os processos comunitários de decisão encontravam-se já
inadequados para um conjunto de doze Estados-Membros.
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24º mostra a especificidade da PESC. Este determina que o processo decisório está na
“mão” dos Estados-Membros uma vez que as decisões têm de ser tomadas por
unanimidade estando assim reservados para cada Estado o direito de veto. A Comissão,
como órgão supranacional por excelência da União, é afastada do domínio da PESC. A
Comissão é a representante externa da União em todos os seus domínios, à exceção da
PESC e também não pode adotar atos legislativos neste domínio, vendo-se claramente
a negação método comunitário. O Parlamento, que regra geral assume um papel de co-
legislador, na PESC também está afastado. Por fim o Tribunal de Justiça da União não
tem competência para avaliar as disposições daquele domínio, fora nas exceções do
artigo 40º do T.U.E e do 275º do T.F.U.E. Esta permissão de fiscalização por parte do
Tribunal demonstra a pequena “contaminação” do método comunitário no seio da
PESC.
Face a isto e segundo o número 1 do artigo 31º do T.U.E as decisões relativas à PESC
são tomadas pelo Conselho e pelo Conselho Europeu, deliberando por unanimidade,
salvo disposição em contrário (podem haver decisões tomadas por maioria qualificada)
e afastando a adoção de atos legislativos. Os Estados podem abster-se de votar, mas
deve haver a consciência de que apesar da abstenção a decisão tomada vincula a União,
logo os Estados não devem tomar qualquer tipo de atuações que venham a colidir com
a ação da União baseada na referida decisão ou que a dificultem. Caso haja abstenções
de, no mínimo, um terço dos Estados e que esse terço reúna um terço da população da
União, então a decisão não é adotada. O nº 2 deste artigo estipula mais uma das
“contaminações” feitas pelo método comunitário no âmbito da PESC ao elencar um
conjunto de situações em que podem ser adotas decisões naquele domínio, mas por
maioria qualificada e não por unanimidade. Porém estas decisões que podem ser
tomadas por maioria qualificada e que o são feitas pelo Conselho, para seguirem este
molde têm de, primeiro, ser tomadas por unanimidade no Conselho Europeu.
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Tudo isto levou a que a “porta comunitária” da PESC, que já era estreita, fique ainda
mais estreita devido ao carácter modesto e ténue da influência do método comunitário
neste domínio sendo impossível negar a essência muito forte do método
intergovernamental no seio da PESC.
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Este é o domínio da União Europeia em que o seu regime jurídico se assemelha com
os regimes utilizados para rever os tratados de Direito Internacional Público do que os
regimes utilizados para rever as constituições dos Estados Federais como os E.U.A ou o
Brasil. Nestes a revisão é feita por um órgão da federação, carecendo depois de uma
maioria de 3/5 dos Estados a retificar a revisão, ficando os restantes vinculados à mesma
a partir do momento em que a referida maioria é conseguida.
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Conselho Europeu analisa a questão fazendo uma certa pressão política sobre esses
Estados-Membros para que o ratifiquem, mas isso não tem efeitos jurídicos. (art.48º/5).
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Este princípio e o artigo 3º/2 chegam-nos por intermédio do acórdão AETR (1971).
A situação verificou-se no âmbito da política de transportes, prevista no tratado como
um dos domínios de ação da U.E, onde já tinha sido adotado um regulamento em
matéria de transportes rodoviários. Para que este regulamento fosse verdadeiramente
efetivo ter-se-ia de celebrar um acordo de Direito Internacional com a Suíça, pelo facto
de esta não ser um Estado-Membro e devido à sua localização geográfica no centro da
Europa. A questão colocada era sobre a quem competia concluir o acordo com a Suíça:
se a própria U.E ou os Estados-Membros. O tratado, à época, não previa nenhuma
norma específica que atribuísse à Comunidade competência para concluir acordos de
Direito Internacional. Face a isto e face ao facto de o tipo de competência da União ser
uma competência de atribuição, o Conselho veio dizer que “à partida teriam de ser os
Estados-Membros bilateralmente com a Suíça, a concluir o acordo”. Porém o Tribunal
de Justiça não entendeu assim estabelecendo o princípio do paralelismo de
competências. Com isto os Estados-Membros deixam de poder estabelecer acordos
internacionais com países terceiros em matérias exclusivas da União. O contrário só
poderá acontecer em casos concretos e expressamente autorizados, como por exemplo
o que se encontra previsto no Protocolo nº 23.
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força jurídica do preceito que resulta do artigo 3º/2 do T.F.U.E. Uma vez que estamos
perante uma exceção não podem ser feitas aplicações analógicas para outras situações
com base neste Protocolo e o mesmo deve ser alvo de uma interpretação restritiva. Caso
este Protocolo não existisse os Estados não poderiam celebrar acordos internacionais
sobre esta matéria. O acórdão Omega é de bastante importância para a compreensão
do princípio do pluralismo constitucional, ou seja aquele que afasta a conceção da U.E
como uma união de constituições. Este acórdão resulta de um pedido de reenvio de uma
questão prejudicial feito pelo supremo tribunal administrativo alemão ao tribunal de
justiça europeu. O pedido feito pelo tribunal alemão versava sobre problemas de
interpretação do direito comunitário face a um despacho administrativo da autoridade
policial de Bona. Por outro lado a matéria de facto em relação ao caso reportava-se ao
encerramento por parte da referida autoridade policial das instalações de uma empresa
(Omega) onde se jogava laser tag, ou seja onde se simulavam homicídios. O argumento
invocado para o encerramento era o de que as atividades praticadas violavam o
princípio da dignidade da pessoa humana. Por outro lado a empresa Omega alegava que
a restrição imposta pela autoridade policial de Bona viola o princípio comunitário da
liberdade de prestação de serviços. A somar a isto acrescentavam que no Reino Unido
(país de onde eram provenientes os equipamentos utilizados) não havia qualquer tipo
de restrições em termos de acesso a esta atividade. Com base nisto a questão prejudicial
chega a Tribunal de Justiça dividida em duas questões separadas:
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sempre de forma unânime, consolidou a seguinte posição: “de acordo com uma
jurisprudência constante, os direitos fundamentais fazem parte integrante dos princípios
gerais de direito cujo respeito o Tribunal assegura na conformidade das tradições
constitucionais comuns aos Estados-Membros e dos instrumentos internacionais a que
estes tenham aderido ou para a celebração dos quais tenham cooperado”. A 5 de Abril
de 1977 os Presidentes do Parlamento Europeu, do Conselho e da Comissão das
Comunidades Europeias consideraram útil e oportuno, devido à fase que atravessavam,
subscrever uma declaração comum relativa aos direitos fundamentais: “A Assembleia,
o Conselho e a Comissão sublinham a importância primordial que ligam ao respeito dos
direitos fundamentais tal como estes resultam, designadamente, das Constituições dos
Estados-membros e da Convenção Europeia de Salvaguarda dos Direitos do Homem e
das Liberdades Fundamentais. No exercício dos seus poderes e na prossecução dos
objetivos das Comunidades Europeias, eles respeitam e continuarão a respeitar esses
direitos.” Devido à sua importância esta Declaração foi considerada pelo Tribunal de
Justiça como fonte de direito comunitário.
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O artigo 6º/2 é também bastante importante uma vez que consagra a adesão da
União Europeia à CEDH, sendo que essa adesão não altera as competências da União,
tal como definidas nos Tratados. A grande mais-valia que se obtém, no âmbitos dos
direitos fundamentais, em se ser parte da CEDH é a possibilidade dos particulares
poderem recorrer, em última instância, para o TEDH, caso considere que o Estado lesou
um dos direitos consagrados na CEDH. Esta adesão por parte da União justifica-se pelo
facto desta poder, através dos poderes que exerce, afetar a esfera jurídica dos
particulares. Com a referida adesão os particulares passam a poder recorrer para o TEDH
face a decisões da U.E e aos tribunais desta. A União ainda não é parte da CEDH, apesar
de tal estar para breve, porém tal significa que atualmente os particulares ainda não
podem recorrer para o TEDH face a atos da União. As dificuldades relativas à adesão da
U.E à Convenção foram, em primeiro lugar, relativas à necessidade de rever a
Convenção, pois esta só previa que fossem partes nela Estados. Após esta alteração teve
de ser assinado um tratado entre a U.E e os Estados-membros que estes tiveram de
ratificar. Do ponto de vista político, a adesão da União à CEDH significará a convergência
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europeia no domínio dos direitos fundamentais, bem como a partilha séria de valores
em toda a Europa. Tal como já foi referido foi a progressiva transformação da União
numa entidade política, dotada de poder político, segundo o modelo do Estado, que
tornou evidente a necessidade de um controlo internacional dos direitos humanos.
Porém e não obstante os pontos de convergência entre a ordem jurídica da União e a
da CEDH, também se encontram aspetos em que as divergências entre elas são visíveis,
pelo que a União se rodeou de cautelas para não ser “sugada”, por uma ordem jurídica,
especializada em direitos humanos. Estas cautelas encontram-se expressas no
“Protocolo respeitante à adesão da União à CEDH”. Assim sendo, na ótica da União, o
acordo de adesão deve, em primeiro lugar, preservar as características próprias da
União e do seu direito, com especial relevo para a consagração de regras específicas
relativamente à participação da União nas instâncias de controlo da CEDH e a criação de
mecanismos necessários para assegurar que os recursos interpostos sejam
corretamente dirigidos contra os Estados-membros ou contra a União (artigo 1º). Em
segundo lugar, o acordo deve assegurar que as atribuições e competências da União não
sejam afetadas pela adesão à CEDH (artigo 6º/2 do T.U.E e artigo 2º). Em terceiro lugar,
a situação dos Estados-membros não deve ser afetada, designadamente, no que diz
respeito aos seus protocolos, às medidas tomadas pelos Estados-membros em
derrogações da CEDH e às reservas (artigo 2º). Por último, a adesão à CEDH não deve
afetar o artigo 344º do T.F.U.E, o qual impõe aos Estados-membros a obrigação de
submeterem todos os diferendos relativos à interpretação ou aplicação dos Tratados a
um modo de resolução nele previsto (artigo 3º). A adesão à CEDH por parte da U.E não
deve ser encarada como o assumir de que a Convenção protege direitos que a Carta não
protege. Esta adesão deve ser encarada como uma possibilidade de realizar um
escrutínio externo aos atos da União.
O artigo 6º/1 é da máxima importância, pois vem atribuir ao à Carta dos Direitos
Fundamentais da União Europeia (C.D.F.U.E) o mesmo valor jurídico dos Tratados. Esta
é uma novidade resultante do Tratado de Lisboa, pois entre 2000 e a entrada em vigor
deste a Carta não tinha valor jurídico vinculativo, pelo que o seu estatuto jurídico
aproximava-se do soft law da União. Porém, atualmente, a Carta faz parte integrante do
hard law, dado que a sua força jurídica é idêntica à dos Tratados da União. Porém, o
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Com esta Carta, pela primeira vez a União dispõe de um texto proclamatório de
direitos fundamentais. A Carta elenca vários direitos fundamentais e de diferentes
gerações. Esta organização inter-geracional da C.D.F.U.E leva a que sejam consagrados
diferentes tipos de direitos fundamentais. A Carta encontra-se dividida em sete títulos:
(i) Dignidade, (ii) Liberdades, (iii) Igualdade, (iv) Solidariedade, (v) Cidadania, (vi) Justiça
e (vii) Disposições gerais que regem a interpretação e aplicação da Carta. A atribuição
de força jurídica à Carta traz várias vantagens, sob a forma das seguintes características:
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O artigo 53º deve ser interpretado de forma cuidada, pois de uma interpretação
literal deste resulta que a C.D.F.U.E poderá sempre ceder face às constituições dos
Estados-membros e esta interpretação levaria à conclusão que a Carta não tem validade
autónoma e que teria uma força jurídica muito reduzida. Esta interpretação não é a
melhor, visto que esta deve ser articulada com a jurisprudência do Tribunal de Justiça e
sempre que desta resultar um certo sentido para a proteção de determinado direito, as
Constituições internas, mesmo que tenham um sentido contrário, não podem ser
invocadas. Este artigo ao permitir tornar jurídicos compromissos políticos levaria a que,
no limite, os Estados-membros poderiam invocar uma proteção mais ampla do seu
direito interno levando assim uma derrogação do direito comunitário. Esta conclusão é
possível retirar-se do acórdão Melloni, uma vez que este consagrou que quando existe
uma solução legislativa europeia (que resulte do consenso dos Estados-membros e
adotada por unanimidade) e se for considerada legítima pela C.D.F.U.E não pode ser
deturpada pelos Estados-membros ao invocarem uma maior proteção do seu direito
interno para não a aplicarem.
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Nos casos em que certos direitos se encontrem previstos quer na Carta quer nos
Tratados, o artigo 52º/2 da Carta vem estabelecer que esses direitos se exercem de
acordo com os termos que estão estabelecidos nos Tratados. O artigo 45º da C.D.F.U.E
é uma disposição análoga do artigo 20º do T.F.U.E que versa sobre a liberdade de
circulação e permanência nos Estados-membros. Este direito tem origem no
ordenamento jurídico dos E.U.A que, em 1941 no caso Edwards vs. California, veio
estabelecer que uma pessoa, desde que tenha cidadania americana, pode circular
livremente por todos os Estados. No caso da União Europeia o direito não é absoluto
conhecendo um importante limite: cada Estado-membro dispõe da prerrogativa de
impedir a entrada e permanência de cidadãos de outros Estados-membros no seu
território. Esta prerrogativa remete-nos uma vez mais para o acórdão Zambranno.
Zambranno e a sua mulher fugiram da Colômbia para a Bélgica onde procuraram o
estatuto de refugiado, porém o mesmo foi-lhes recusado. Apesar da recusa
permaneceram na Bélgica onde, apesar de não serem cidadãos, arranjaram emprego,
pagaram impostos e se foram integrando. Estes tiveram dois filhos que, ao nascerem
em território belga, adquiriram a cidadania belga e, consequentemente, a cidadania da
União. As autoridades belgas pretendiam expulsar a família Zambranno tendo por base
os artigos 20º e 21º do T.F.U.E e a ausência de cidadania europeia dos pais Zambranno.
Esta questão era de direito interno e não de direito comunitário, porém o Tribunal de
Justiça da União decidiu introduzir uma exceção ao considerar que, apesar de ser uma
questão interna, o Direito da União deveria intervir. O Tribunal utilizou o argumento de
que os principais beneficiários dos direitos consagrados nos artigos invocados pelas
autoridades belgas eram os filhos do casal, pois se os seus pais forem expulsos da União
eles, que são cidadãos da U.E vêm esse seu direito fundamental anulado e estes só
podem restringidos, mas nunca ver o seu fim anulado. A intervenção por parte do
Tribunal foi para salvaguardar o conteúdo essencial do direito de cidadãos da União,
pois aquelas crianças em concreto, com a expulsão dos pais não teriam outra opção se
não a de ir com eles, vendo assim o seu direito anulado.
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membro para outro. Esta casou com um cidadão caribenho, mas porém este, segundo
o direito britânico, não poderia residir em Inglaterra sem uma autorização de residência.
Devido à falta de exercício do direito de circulação o artigo 21º não podia ser invocado,
pois está numa situação puramente interna. Face a isto o Tribunal de Justiça veio
determinar que a Senhora pode ficar no Reino Unido, mas sem o marido. Esta decisão
não ofende o direito fundamental de ser cidadã da União, pois a Senhora McCarthy não
depende do seu marido para a sua subsistência, como os filhos do casal Zambranno
dependiam dos seus pais. Esta é principal razão para a diferença entre as decisões deste
acórdão e do acórdão Zambranno, ou seja o Tribunal optou por determinar a
permanência do casal Zambranno no território da União por considerar que a decisão
em contrário iria anular o conteúdo fundamental de um direito fundamental. Por outro
lado a expulsão do marido da Senhora McCarthy não implicava a anulação do direito
fundamental da mesma, uma vez que o conteúdo essencial desse direito não seria
anulado.
Cabe aos órgãos representativos da União (as Instituições) exprimir, no âmbito das
respetivas competências e na conformidade do Direito que a rege, a vontade desta
particular organização institucional. Atualmente a União Europeia dispõe dos seguintes
órgãos:
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b) Órgãos de controlo:
Como já foi referido a União não tem competência para fixar a sua própria
competência, o que significa que vigora, na ordem jurídica europeia, o princípio da
competência de atribuição. As normas que atribuem as competências à União, para
além de normas de competência são simultaneamente normas de processo, uma vez
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que indicam a forma como a competência atribuída deve ser exercida. Existem dois tipos
de competências:
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nacional pode emitir um parecer fundamentado em que exponha as razões pelas quais
considera que o projeto em questão não obedece ao princípio da subsidiariedade. Em
consequência desta possibilidade conferida aos Parlamentos nacionais, o artigo 7º/2
determina que caso haja pareceres fundamentados a representarem 1/3 dos votos
atribuídos aos Parlamentos nacionais o projeto de ato legislativo deve ser reanalisado.
Em consequência da apresentação dos referidos pareceres a Comissão pode manter,
alterar ou retirar o projeto. Caso decida mantê-lo tem de fundamentar essa decisão de
forma inequívoca e absolutamente explícita. Caso a Comissão mantenha o projeto e este
chegue a ato legislativo, podem os países apresentar recurso para o Tribunal de Justiça,
caso considerem que o princípio da subsidiariedade continua a ser violado.
No seio da União existe também uma separação horizontal dos poderes desta,
sendo que esta separação obedece a alguns princípios. O primeiro desses é o princípio
do equilíbrio institucional previsto no artigo 13º/2 do T.U.E que determina que “Cada
instituição atua dentro dos limites das atribuições que lhe são conferidas pelos Tratados,
de acordo com os procedimentos, condições e finalidades que este estabelecem.” Este
princípio, posto em relevo pelo Tribunal de Justiça, está baseado na ideia de que a
repartição de poderes no quadro da União Europeia deve ser rigorosamente respeitada
por cada Instituição e dele decorre que (i) no exercício dos poderes que lhe foram
reconhecidos pelos Tratados, cada Instituição deve respeitar o lugar e o papel que lhe
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cabem segundo o sistema neles estabelecidos e também que (ii) uma Instituição não
pode ser privada do exercício de um poder que lhe caiba em proveito quer de outra
Instituição, quer de um organismo não previsto pelos Tratados, mesmo quando a criação
de um tal organismo não seja em si ilegal. O princípio do equilíbrio institucional constitui,
pois, no quadro da União, uma apreciável contrapartida do princípio clássico da divisão
de poderes cuja falta de rigor no seio da União traria, sem dúvida, um défice
democrático e uma falha no sistema de garantias do cidadão. Este equilíbrio
institucional deve assentar numa base de cooperação leal entre as diversas instituições,
sendo que existe uma interdependência entre os diversos órgãos da União, sendo
exemplo desta caber ao Parlamento Europeu nomear o Presidente da Comissão
Europeia. O princípio da cooperação leal é igualmente importante no âmbito das
relações internas entre as diferentes instituições da União. Em primeiro lugar este não
se trata apenas de não interferir em competências alheias, mas também de cooperar
sempre que for conveniente. Este princípio é essencial no processo legislativo, dado o
carácter triangular do legislador da União, uma vez que estres três órgãos têm de
colaborar e articular-se, chegando a acordo, uma vez que só assim poderão ser criadas
leis. Neste sentido criam-se acordos-quadro institucionais que resultam do consenso
entre as instituições, para o estabelecimento das boas práticas de relacionamento, no
âmbito das competências em que são chamados a colaborar. Por outro lado a
independência manifesta-se, por exemplo, na faculdade das instituições poderem
determinar o seu auto-regulamento em matéria de funcionamento.
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O reenvio prejudicial não constitui uma via processual aberta aos particulares, ou
seja não é um processo entre partes, mas sim entre juízes (nacionais, por um lado, e
europeus, por outro) de caráter ternário: (i) o juiz nacional suspende o processo
principal e coloca a questão prejudicial ao Tribunal de Justiça, independentemente de
as partes lhe terem solicitado que o faça ou não; (ii) o Tribunal de Justiça responde-lhe;
(iii) o juiz nacional resolve o processo principal aplicando obrigatoriamente a decisão
prejudicial proferida por aquele. Disto resulta que as partes não têm o direito de fazer
chegar ao Tribunal de Justiça uma questão prejudicial, como também não têm o direito
de se oporem a que o juiz nacional lha remeta. Assim sendo é o juiz que decide se haverá,
ou não, lugar ao reenvio prejudicial, independentemente do que as partes pretendam a
esse respeito. Apesar disto está reservada para as partes a possibilidade de
apresentarem observações, na qualidade intervenientes, no decurso do processo que
se abre perante o Tribunal de Justiça, dando-lhe a conhecer o modo como entendem
que a questão prejudicial deve ser resolvida. Em nome da boa cooperação com os
tribunais nacionais, o Tribunal de Justiça estabeleceu uma presunção de pertinência, ou
seja que à partida todas as questões deste âmbito são pertinentes. Tal presunção só
pode ser afastada em casos excecionais: (i) quando se verifique, de forma manifesta,
que a interpretação solicitada do direito da União não tem qualquer relação com a
realidade ou com o objeto do litígio no processo principal pendente perante o tribunal
nacional; (ii) quando o problema for hipotético; (iii) quando o Tribunal de Justiça não
disponha dos elementos de facto e de direito necessários para responder utilmente às
questões que lhe são colocadas. Nestes casos excecionais, o Tribunal de Justiça declara
inadmissíveis tais questões prejudiciais.
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a questão ao Tribunal de Justiça, isto uma vez que este Tribunal não funciona como via
de recurso. Este conceito não engloba apenas os tribunais nacionais que se encontrem
no topo das respetivas hierarquias judiciárias, mas todos aqueles que concretamente
possam decidir em última instância, independentemente do lugar que ocupem nessas
hierarquias, como resulta do acórdão Costa/ENEL. Porém há quem, como o Professor
Mota Campos, considere que os tribunais de instância não estão sujeitos à obrigação de
reenvio, mesmo quando julguem em causas que não admitem recurso, defendendo a
sua posição com os seguintes argumentos:
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O juiz que julga nos casos em que não há recurso pode reenviar, se assim
o entender; se não reenvia, é porque assim o entende e decide; e não há
forma de o obrigar, precisamente porque das suas decisões não há
recurso.
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É certo que a União Europeia não é uma federação de Estados, porém a prossecução
dos objetivos enunciados nos Tratados exigia a aplicação uniforme do Direito da União
como direito comum a um conjunto de Estados que pretendem realizar a sua integração
económica, sendo que esta aplicação uniforme implica:
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Este acórdão que data de 1963 radica no primitivo artigo 12º do Tratado CEE
(agora 30º do T.F.U.E) que dispunha o seguinte: “Os Estados-Membros abster-se-ão de
introduzir entre si novos direitos aduaneiros de importação e de exportação ou encargos
de efeito equivalente e de aumentar aqueles que já aplicam nas suas relações comerciais
mútuas”. No caso concreto um importador holandês foi obrigado a pagar um montante
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Tal como referido foi com o acórdão Simmenthal que o Tribunal de Justiça
consagrou uma noção de aplicabilidade direta ao determinar que tal princípio significa
“que as normas comunitárias produzem a plenitude dos seus efeitos, de modo uniforme
em todos os Estados-Membros, a partir da sua entrada em vigor e durante todo o
período da respetiva vigência. Assim estas disposições constituem uma fonte imediata
de direitos e obrigações para todos os seus destinatários, quer se trate de Estados-
membros ou de particulares que sejam titulares de relações jurídicas às quais se aplique
o direito comunitário. Isto vale igualmente para o juiz que no âmbito das suas
competências tem, enquanto titular de um órgão de um Estado-membro, por missão
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proteger os direitos conferidos aos particulares pelo direito comunitário”. Assim sendo
são três os componentes desta noção:
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nacionais de aplicação das diretivas) não podem ser invocadas por um particular contra
outro particular para fazer valer um direito subjetivo a que não corresponderia qualquer
obrigação da parte demandada.
Para uma correta compreensão deste princípio é preciso relembrar que a ordem
jurídica da União Europeia é um ordenamento autónomo, ou seja distinto quer da
ordem internacional quer das diferentes ordens jurídicas dos seus Estados-Membros.
Esta autonomia implica que cabe à União definir as suas relações com as outras ordens
jurídicas segundo os seus próprios critérios e princípios, ou seja sem subordinação às
leis ordinárias ou constitucionais dos Estados-membros. Como também já foi abordado
as normas da União são integradas na ordem jurídica interna dos Estados para aí serem
efetivamente aplicadas pelos tribunais nacionais que funcionam como tribunais comuns
da ordem jurídica da União, já que o Tribunal de Justiça dispõe apenas das competências
específicas que lhe foram atribuídas.
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respeitá-lo. Importa também notar que o princípio do primado está intimamente ligado
com o da aplicabilidade direta, uma vez que se o direito da União se destina a produzir
efeitos internos imediatos e a criar direitos individuais que os órgãos jurisdicionais
devem salvaguardar, tal só se tornará possível, em muitos casos, se o direito nacional
contrário, anterior ou posterior, constitucional e infraconstitucional, puder ser
desaplicado pelos mesmos órgãos jurisdicionais em prol do direito da União. A somar a
isto a obrigatoriedade da decisão prejudicial proferida pelo Tribunal de Justiça leva a
que o juiz nacional possa ter que desaplicar o direito nacional sempre que aquela
decisão o leve a concluir pela sua incompatibilidade com o direito da União.
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desta ordem que foi instituída leva a que, em caso de conflito, tenha
de prevalecer o direito comunitário face ao direito nacional;
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eventualmente contrária da lei nacional, quer esta seja anterior que seja posterior à
regra comunitária. Num outro acórdão, Comissão/Itália, o Tribunal havia declarado que
o direito comunitário “implica para as autoridades nacionais competentes a proibição,
de pleno direito, de aplicar uma disposição nacional que é incompatível com o Tratado
e, sendo caso disso, a obrigação de tomar todas as medidas para facilitar a realização
do efeito pleno do direito comunitário. A realização dos objetivos da Comunidade exige
que as normas de direito comunitário se apliquem de pleno direito, no mesmo momento
e com efeitos idênticos em todo o território da Comunidade, sem que os Estados-
Membros lhes possam opor seja que obstáculos forem”.
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Pelo seu caráter geral os regulamentos são equiparáveis aos atos legislativos
nacionais. Tal como estes, o regulamento estabelece regras, impõe obrigações ou
confere direitos a todos os que se incluam ou possam vir a incluir-se na categoria de
destinatários que o regulamente define em abstrato e segundo critérios objetivos. Todas
as pessoas (singulares, coletivas, empresas, Estados, etc) que se encontrem no seu
âmbito de aplicação estão por ele vinculadas.
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Este ato obriga apenas os destinatários que ela própria designa, que sendo
sempre exclusivamente os Estados-Membros, podem ser todos eles, alguns ou apenas
um. Porém, mesmo podendo ser dirigida a todos os Estados, continua a ser um ato de
caráter individual, uma vez que os seus destinatários são certos e determinados. Faz
sentido que os Estados, habilitados a coordenar os respetivos comportamentos em
função de tais objetivos, devam ser os destinatários das diretivas. Nesta distinguem-se
dois níveis de regulamentação:
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execução das obrigações que incumbem aos Estados no quadro da transposição de uma
diretiva.
Da leitura do artigo 288º não resultava que a diretiva fosse diretamente aplicável
na ordem jurídica interna dos Estados-Membros, isto é, que ela pudesse por si própria
originar direitos individuais em benefício dos nacionais dos Estados destinatários. Do
ponto de vista formal, de facto, a recusa da aplicabilidade direta das diretivas teria uma
certa lógica, pois esta não poderia modificar só por si o direito nacional e alterar as
situações jurídicas que ela teve em vista. Só as regras de execução da diretiva é que
teriam a capacidade de originar para os particulares direitos e obrigações que os
tribunais nacionais estariam habilitados a salvaguardar ou impor. Porém a
jurisprudência do Tribunal de Justiça veio revelar as falhas desta tese.
A Diretiva gera para o Estado, a partir da sua vigência a nível da União, uma
vinculação imediata. Se o Estado-Membro estava obrigado a transpor a Diretiva e não o
faz, coloca-se numa situação de incumprimento, sancionável contenciosamente e não
pode, segundo o Tribunal de Justiça, prevalecer-se perante os particulares do seu
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No acórdão Van Duyn uma particular holandesa que havia sido expulsa do Reino
Unido, com base em razões de ordem pública, recorreu para os tribunais ingleses
alegando que este ato correspondia a uma violação do princípio do “tratamento
nacional” que lhe deveria ser conferida pela diretiva 64/221, mas que não havia sido
transposta pelo Reino Unido. Nesta o artigo 3º/1 previa que “as medidas de ordem
pública devam ser fundadas exclusivamente sobre o comportamento pessoal do
indivíduo em causa, pretende limitar o poder discricionário que as legislações nacionais
atribuem em geral às autoridades competentes em matéria de admissão e expulsão de
estrangeiros.” Porém, a expulsão não se baseava neste preceito e o mesmo cria a favor
dos particulares direitos que estes devem fazer valer em justiça em qualquer Estado-
Membro e que às jurisdições nacionais cumpre salvaguardar, independentemente da
transposição ou não. Assim sendo sempre que as disposições de uma diretiva sejam
incondicionais e suficientemente precisas, os particulares têm o direito de as invocar
contra o Estado nos tribunais nacionais, quer quando este não tenha feito a sua
transposição para direito nacional nos prazos previstos quer quando tenha feito uma
transposição incorreta. Porém este efeito direto das diretivas só existe quando o prazo
para a transposição tenha findado e denomina-se de efeito direto vertical.
Por outro lado e através do acórdão Dori, é determinado que este efeito direto das
diretivas não se aplica entre particulares, ou seja não existe o efeito direto horizontal,
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No caso a Sra. Dori fez uma compra que não lhe interessava fora de um
estabelecimento comercial e posteriormente pretendia rescindir o contrato, baseando-
se numa diretiva que lhe dava tal direito. Este tinha caráter preciso e incondicional, logo
seria aplicável por via do efeito direto, contudo deste resultaria um dever para a
empresa (aceitar a rescisão) e esse dever seria com fundamento em direito comunitário
na sua origem e não em direito comunitário transformado em direito nacional, como
está previsto que aconteça. Assim sendo as diretivas não transpostas não têm efeito
direto horizontal, não podendo os particulares invocar os direitos que delas decorrem.
Concluindo para que uma diretiva tenha efeito direto são precisos três requisitos: (i) a
disposição tem de ser clara, precisa e incondicional, (ii) a diretiva não foi transposta e
(iii) o litígio em causa tem de envolver um particular e o Estado, não podendo versar
sobre dois particulares.
Ainda assim existe uma solução que se encontra relacionada com o princípio da
interpretação conforme: o juiz nacional deverá recorrer ao próprio direito nacional e
procurar interpreta-lo em conformidade com a diretiva não transposta, procurando uma
disposição que garanta o mesmo resultado. Caso tal não seja possível entra-se no
domínio da responsabilidade extracontratual do Estado por violação do direito da União.
Voltando aos atos da União importa ainda analisar as decisões. A definição desta
foi alterada pelo Tratado de Lisboa excluindo a obrigatoriedade de indicação de
destinatários, o que aumenta o número de matérias e situações em que poderá ser
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Por força dos artigos 14º/1, 16/1 e 17/2 do T.U.E o Parlamento Europeu exerce
juntamente com o Conselho, a função legislativa, detendo a Comissão o monopólio da
iniciativa legislativa, tal como também se pode inferir pelo artigo 289º/1 que dispõe que
“o processo legislativo ordinário consiste na adoção de um regulamento, de uma diretiva
ou de uma decisão conjuntamente pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho, sob
proposta da Comissão”. A par deste processo existe o processo legislativo especial que,
segundo o nº2 do artigo 289º, acontece nos casos específicos pelos Tratados em que os
referidos atos jurídicos são adotados pelo Parlamento Europeu com a participação do
Conselho. Uma das grandes mudanças introduzidas por este artigo foi a previsão de atos
legislativos por oposição a atos não-legislativos, sendo que os primeiros constituem a
principal categoria de atos de direito derivado da União. Estes são caracterizados, em
primeiro lugar, pelo seu processo de formação. O processo legislativo inclui um regime
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Com isto chega-se à fase da “segunda leitura”. No prazo de três meses após a
transmissão da posição do Conselho, o Parlamento Europeu pode: (i) aprovar
expressamente a posição do Conselho ou (ii) não se pronunciar, o que é entendido como
uma aprovação tácita, sendo que em ambos os casos o ato considera-se adotado com a
formulação correspondente à posição do Conselho, chegando o processo ao fim. Porém
o Parlamento pode fazer uma de duas coisas: (i) rejeitar pura e simplesmente a posição
do Conselho, o que leva a que o ato proposto pela Comissão não foi adotado, ou (ii)
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nessa conformidade o ato em causa. Se nesse prazo uma das Instituições não o fizer o
processo chega, sem sucesso, ao seu termo.
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REPETITÓRIO DE PERGUNTAS
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