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Gilson Ludmer
Universidade Federal de Pernambuco, Brasil
RESUMO
Com o mercado cada vez mais competitivo, as empresas buscam constantemente por
resultados mais satisfatórios nos negócios, levando-as a procurarem pelas melhores
soluções tecnológicas de gestão. Os sistemas integrados de gestão, ERP (Enterprise
Resource Planning), apresentam-se hoje como uma importante ferramenta gerencial que
tem proporcionado maior competitividade às empresas. A implantação desses sistemas
ERP nas organizações requer uma análise minuciosa dos fatores estratégicos, para que
seja garantido o sucesso do projeto, alcançando os objetivos organizacionais para os
quais a decisão de implantar o sistema foi tomada. Contudo, diversas implantações de
sistemas ERP falham em atingir seus objetivos, porque as organizações subestimam os
esforços que devem ser empregados no gerenciamento de mudanças (Bhatti, 2005;
Caldas; Wood Jr, 1999), por isso quando o ERP começa a ser utilizado no dia-a-dia da
organização, é comum surgirem problemas decorrentes não só da tecnologia. O objetivo
desse trabalho é analisar como o gerenciamento de mudanças pode interferir no
resultado final da implantação. Para a realização da pesquisa utilizou-se o método do
estudo de caso, que, conforme apontado por Yin (2001) é ideal para as situações
organizacionais reais em que o pesquisador não tem controle dos fenômenos. A
pesquisa teve como objeto de estudo uma empresa de distribuição atacadista situada no
nordeste brasileiro, que passou por esse processo entre os anos de 2010 e 2011.
1. Introdução
Devido ao alto nível de competitividade existente atualmente, as empresas estão
buscando cada vez mais estarem preparadas para enfrentar a concorrência, captar novos
clientes e entrar em novos mercados. Com isso, as mudanças dentro das organizações
tornaram-se intensas e constantes. Kotter (1996) justifica que, as organizações,
impulsionadas pelas forças econômicas, estão cada vez mais preocupadas em reduzir
custos, melhorar a qualidade de seus produtos e serviços, buscar novas oportunidades de
crescimento e aumentar sua produtividade.
Para conseguir dar conta de um mercado dinâmico e cada vez mais exigente, é
vital que as empresas gerenciem seus processos com eficiência. Assim, obter
informações integradas, com garantia de qualidade e confiabilidade para dar suporte na
tomada de decisões, tornou-se essencial. A tecnologia de informação vem servindo
como esse suporte, de forma fundamental, no sentido de disponibilizar sistemas que
controlem partes importantes dentro de uma organização e, principalmente, permitindo
a integração entre estas áreas.
Como forma de obter esse diferencial e ganhar vantagem competitiva,
melhorando processos, reduzindo custos e garantindo informações de qualidade e
confiáveis, as organizações estão investindo em sistemas ERP, estes que se apresentam
como uma importante ferramenta gerencial e tem proporcionado maior competitividade
às empresas. Os Sistemas Integrados de Gestão - Enterprise Resource Planning (ERP)
constituem-se em um diferencial competitivo e nos dias de hoje são muito importantes
para um melhor desempenho na gestão e consequente mudança nas organizações, na
medida em que agilizam o fluxo de informações e eliminam trabalhos redundantes,
aumentando, desse modo, a eficiência e eficácia das empresas. Esses sistemas
experimentaram uma relevante expansão e diversificação nas últimas duas décadas.
Contudo, adotar a uma nova tecnologia, não significa somente uma
transformação do ponto de vista computacional, mas também uma mudança na forma
como as empresas trabalham, envolvendo indivíduos e processos. Zanela et al (1999)
ressaltam que o uso da tecnologia de informação requer uma avaliação criteriosa de seu
impacto e das mudanças que provoca na organização. Vasconcelos e Pinochet (2002)
descrevem que a implantação de uma nova tecnologia, como por exemplo, um sistema
integrado de gestão ERP, implica em mudança de hábitos, comportamentos, estratégias
e práticas sociais.
De acordo com Kisil (1998) qualquer que seja a Mudança Organizacional
proposta, é sempre necessário tomá-la como um processo organizacional que precisa ser
gerenciado, como, por exemplo, conhecer o responsável pelo processo, aquele que tem
autoridade e responsabilidade pelas ações que devem ocorrer. Conhecer quem decide
acerca da mudança é uma necessidade organizacional. Dependendo do caráter da
mudança e da complexidade de seu gerenciamento, é importante definir uma equipe de
mudança, que, sob a liderança do gerente da mudança, possa estabelecer os diagnósticos
organizacionais, os planos de mudança, supervisionar e avaliar suas implantações.
O objetivo deste trabalho é um estudo de caso sobre a implantação do SAP R/3
em uma empresa de distribuição atacadista, abordando suas características, mercado de
atuação, fatores críticos e o importante processo de recuperação de falhas, decorrentes
de um mau planejamento e um deficiente gerenciamento de mudanças.
A empresa objeto deste estudo, que denominar-se-á Empresa ALFA
ATACADISTA, constituída sob a forma de Sociedade Limitada, está situada no
Nordeste Brasileiro e possui pouco mais de 1.000 funcionários, distribuídos em 4
unidades de negócio, detalhes que serão apresentados no decorrer do trabalho. Será feita
uma análise de como se deu o processo de mudança do sistema na empresa, saindo do
antigo sistema WinThor para o atual sistema, o SAP R/3, além de quais as dificuldades
e como foram solucionadas, bem como a importância da comunicação interna entre
gestores e demais funcionários para que a implantação do sistema se desse da forma
mais eficaz possível.
O presente artigo foi estruturado de modo a apresentar uma abordagem teórica
sobre os temas ERP e Mudança Organizacional. Este trabalho consiste em uma pesquisa
qualitativa, com a utilização do método de estudo de caso único. Para Yin (2005), o
estudo de caso único é análogo a um experimento único e representa o teste decisivo de
uma teoria significativa, podendo representar uma contribuição importante à base de
conhecimento e à construção da teoria, bem como redirecionar investigações futuras e
possíveis casos múltiplos.
1.2 Objetivos
1.2.1Objetivo Geral
Avaliar a questão da mudança organizacional associada a sistemas ERP e os
impactos causados na implantação do SAP R/3 em uma empresa atacadista do nordeste
brasileiro.
2. Fundamentação Teórica
2.1 Sistema Integrado de Gestão Empresarial
Conforme Padovese (2004, p.51) um Sistema Integrado de Gestão Empresarial “tem por
objetivo fundamental a consolidação e aglutinação de todas as informações necessárias para a
gestão do sistema empresa”.
Para Norris et al. (2001, p. 5) o que o ERP faz é “organizar, codificar e padronizar
os processos e dados de negócio de um grupo empresarial”. Os autores ainda citam que
os sistemas ERP podem apoiar às decisões de negócio. Assim expande-se sua
funcionalidade, apontada por Turban (2005) e Souza e Zwicker (2000) como softwares
apenas de caráter operacional.
Um dos fatores fundamentais, apontados por Gomes e Ribeiro (2004), para a
implantação e consequentemente o sucesso na utilização de softwares ERP se refere a
processos. O sistema ERP deve se compatibilizar com os processos de negócios da
empresa e não o inverso. Para isto, o sucesso de implantação do ERP está diretamente
relacionado a quanto os processos da organização apresentam-se bem definidos.
A partir do momento em que uma empresa decide implantar um sistema ERP são
necessárias algumas mudanças em diversos níveis da empresa, de modo com que a
organização se adeque ao novo sistema. O ERP integra diversas áreas da empresa,
acarretando em que as mudanças ocorram em vários departamentos. Mas sob a ótica da
empresa, o que significa mudar?
Para Pettigrew e Whipp (1992), este processo poder, ser melhor entendido se
dividido em três aspectos:
“Contexto da Mudança: representa os fatores contextuais fora da
empresa e que podem afetar o processo de mudança, como taxa de
desemprego, leis trabalhistas, etc.;
De acordo com Bareta e Jordan (2008), existem forças externas e internas que
surgem do processo de mudança das organizações, e estas forças podem ser exógenas
ou endógenas. As exógenas são as forças do ambiente e as endógenas, as forças do
comportamento organizacional. Segundo os autores, uma das principais forças
endógenas é a implantação de um novo ERP, como forma das organizações se
adaptarem às mudanças impostas pelos ambientes interno e externo.
Faz-se importante citar o que alguns autores abordam sobre a importância do líder
no processo da mudança organizacional. Carvalho (1999) menciona que muitos líderes
são resistentes, pois a mudança pode ameaçar o sistema de poder estabelecido. Peter
Drucker (1995) por sua vez, ressalta a importância do líder na gestão das mudanças, e
defende que ele precisa aprender a gerenciar em situações nas quais não tem autoridade
de comando, não é controlado, nem está controlando, permitindo assim que a mudança
fundamental aconteça.
3. Estudo de caso
3.1 A empresa
No ano de 2001 a ALFA ATACADISTA decide implantar pela primeira vez o ERP
SAP R/3 devido aos seus processos se tornarem cada vez mais complexos e o seu antigo
sistema já não era mais adequado aos processos da empresa. Segundo informações de
funcionários que hoje ocupam cargos de gerência e que naquela época ocupavam cargos
operacionais, a implantação se deu de forma mal gerenciada na qual foram necessários
gastos expressivos no pós-implantação para corrigir os GAP’s deixados pelo projeto.
Estes gastos se tornaram tão altos que a empresa já não suportava mais e 8 anos após a
implantação do SAP, a ALFA ATACADISTA resolveu optar então por implantar um
novo sistema ERP que custava mais barato, o Win Thor. No início de 2010, o novo
diretor financeiro, que já havia participado de várias implantações do SAP, sugeriu ao
comitê de direção que o R/3 voltasse a ser o ERP utilizado pela empresa, principalmente
pelo fato de que o Win Thor também não suportava os processos complexos da ALFA,
fornecendo muitas vezes informações inconsistentes. Começou então em março de 2010
o projeto que visava pela segunda vez a implantação do SAP R/3 na ALFA
ATACADISTA. Mais adiante serão apresentados detalhes do projeto.
Então o que aconteceu após três meses de virada de sistema são exatamente os
pontos que deveriam ter sido mais bem analisados e mais bem testados. As principais
falhas que ocorreram nos processos foram:
- Produtos (custos errados, duplicidade de códigos, unidade de venda errada, códigos
trocados).
- Sistema da frente de loja do autosserviço (problemas de integração do sistema de
frente de loja com o SAP, caixas sem conseguir fechar os números do dia, cupons sem
serem baixados pelo sistema, Cadastro Crédito e Cobrança sem controle de quais
clientes deviam e do valor desse débito, limite de compra sem controle).
- Área financeira (inúmeros títulos sem conseguir ser baixados gerando problema nos
relatórios de liquidez da comissão da equipe de vendas)
- Área de faturamento (problema de emissão das notas fiscais, falha no programa que
envia informações para a SEFAZ).
- Palmtop da equipe de vendas (os produtos não apareciam nos palm’s, preços trocados
entre os produtos, unidades de venda erradas, pedidos transmitidos e que desapareciam
no sistema, pedidos que o sistema duplicava e seguiam gerando grande índice de
devoluções)
- Formação de preço de compra e de venda (impostos como crédito presumido e
substituição tributária).
- Área de compras (pedidos de compra com muitos problemas de tributação dos
produtos gerando inconsistência na entrada das mercadorias).
Vários desses problemas ainda persistem mesmo após três meses de virada do
sistema e a consultoria está buscando a solução. Os setores mais afetados com essa
mudança foram os que precisavam ter os controles nas mãos, como, Cadastro, Crédito e
Cobrança, Financeiro, área de Informações Gerenciais, área de Compras, controle de
Estoque, ou seja, todos os setores que precisavam ter informações seguras e corretas.
Apesar de o SAP ser um sistema que a consultoria informou que seria de extremo
controle em seus processos, isso não ocorreu no pós-virada, exatamente em função das
falhas de implantação e de preparação para essa virada.
5. Conclusão
Este trabalho tinha por objetivo conhecer os resultados alcançados pela Empresa
ALFA ATACADISTA com a implantação do SAP R/3 em termos de gerenciamento de
mudança. Em relação à metodologia para implantação de um sistema ERP, a empresa
seguiu as recomendações da consultoria contratada, desde a decisão e escolha do
sistema a ser adquirido até a sua implantação, o que revela consistência e coerência
técnica.
Outro ponto que não se mostrou adequadamente tratado foi a conscientização dos
usuários em relação ao possível sucesso da mudança e a parcela de responsabilidade de
cada um de forma a criar um clima favorável aos sentimentos de comprometimento nos
funcionários da empresa. Vasconcelos e Pinochet (2002) descrevem que a implantação
de uma nova tecnologia, como por exemplo, um sistema integrado de gestão ERP,
implica em mudança de hábitos, comportamentos, estratégias e práticas sociais. Se
dentro de uma empresa os indivíduos se organizam em grupos fechados, tais como
“feudos”, e não trocam informações entre si, então a implantação do sistema ERP será
em vão. Portanto, novas regras organizacionais e sistemas de recompensa devem ser
definidos para que os atores organizacionais mudem o seu comportamento e suas
estratégias anteriores, e percebam que o novo sistema será “um bom negócio” tanto para
eles quanto para a organização.
Percebe-se também que tanto o treinamento quanto os testes integrados não foram
suficientes. Eles deveriam ter tido uma maior duração e poderiam ter sido mais
abrangentes, agregando mais conhecimentos associados aos demais processos e também
outras percepções que também fossem relevantes para uma boa utilização do sistema.
Os treinamentos intensivos e constantes, de acordo com Corrêa et al (2001),
desempenham um papel importante para não permitir o desânimo das pessoas, visto que
eles relembram periodicamente onde a organização pretende chegar, porque tanto
esforço é necessário, quais “pequenas” vitórias estão acontecendo todos os dias e que o
objetivo maior logo será alcançado.
O pequeno prazo para implantação (13 meses) foi considerado insuficiente para a
adequada integração entre equipes e usuários. Através de entrevistas feitas com os
funcionários da ALFA um dos pontos mais citados foi o de que a implantação poderia
ter tido um resultado mais satisfatório caso houvesse uma maior aproximação entre a
equipe de projeto e os demais funcionários. O curto período para os testes integrados fez
com que os usuários tivessem que aprender no dia a dia, com esforço próprio. Esse erro
acabou culminando em funcionários sem perfil para a nova função e que operavam o
sistema sem conhecimento dos demais processos da empresa, indo contra uma das
premissas básicas de um sistema ERP, integração.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SENGE, Peter M.. A Quinta Disciplina. 4. Ed São Paulo: Best Seller, 1999.