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(Rubrica do Dicionário do Teatro Brasileiro, página 139)

Etnocenologia
Termo formulado por Jean-Marie PRADIER, em 1995, para designar o estudo das
práticas espetaculares de diferentes culturas sob uma perspectiva analítica não
eurocêntrica e atenta ao aspecto global das manifestações expressivas em questão,
incluindo suas dimensões físicas, espirituais, emocionais e cognitivas. Seu objetivo é
estudar essas formas tomando-as não mais a partir da referência ao teatro ocidental, mas
remetendo a práticas e conceitos correntes nas culturas e civilizações em que são
produzidas. Interessam-lhe, de forma particular, as práticas derivadas do rito, do
cerimonial e da dança. Procurando descrever o processo de troca entre pólos
interculturais, a etnocenologia propõe-se a estabelecer padrões de análise que lhe
permitam observar os processos de interatividade presentes nas manifestações enfocadas,
adotando a perspectiva da transculturalidade e buscando superar a noção de intercâmbio
cultural puro e simples. Situada no campo das etnociências, a etnocenologia revela a
consolidação de um paradigma científico baseado no conceito de alteridade e na
afirmação do multiculturalismo*. Entre os fatores que contribuíram para sua formulação
podem-se apontar o interesse suscitado por formas teatrais não ocidentais, a reavaliação
das artes do circo, da dança, da bioarte e da street dance, as pesquisas realizadas por
Jerzy GROTÓVSKY, Peter BROOK e Eugênio BARBA, o crescimento dos estudos
sobre ritos, rituais, xamanismo e cerimônias, o desenvolvimento dos estudos de
etnomusicologia e a ação institucional de órgãos como a UNESCO, a Maison des
Cultures du Monde, a International School of Theatre Anthropology e o Centre for
Performance Research of Cardiff.
No contexto brasileiro, os estudos etnocenológicos estão associados a iniciativas
de grupos de pesquisas como o GIPE-CIT (Grupo Interdisciplinar de Pesquisa e Extensão
em Contemporaneidade, Imaginário e Teatralidade), coordenado por Armindo BIÃO, na
Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia; o TRANSE-UNB (Núcleo de
Estudos Transdisciplinares sobre a Performance*), coordenado por João Gabriel
TEIXEIRA, e o NIEI-UFPE (Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre o Imaginário),
coordenado por Danielle Rocha PITTA, na Universidade Federal de Pernambuco. Deve-
se ressaltar ainda a realização do I Congresso da ABRACE (Associação Brasileira de
Pós-Graduação em Artes Cênicas), no Departamento de Artes Cênicas da ECA-USP
(Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo), em setembro de 1999,
no qual relatos de performances e pesquisas ligadas à etnocenologia tiveram considerável
destaque, contribuindo assim para a sua divulgação, enquanto área de pesquisa. (MSB)

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