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57CBC0159 - Discussão NBR 7680 Extração de Testemunhos Paulo Helene PDF
57CBC0159 - Discussão NBR 7680 Extração de Testemunhos Paulo Helene PDF
Resumo
Durante a construção de estruturas de concreto, Laboratórios especializados realizam o controle da
resistência deste material e fornecem aos construtores e projetistas resultados de ensaios de determinação
da resistência à compressão. No Brasil, a partir destes resultados, o concreto pode ser considerado
conforme ou não, de acordo com os procedimentos da norma ABNT NBR 12655:2015. Para os casos onde
há não-conformidade, deve-se recorrer ao procedimento estabelecido na norma ABNT NBR 7680-1:2015,
recém-publicada, que, através da extração de testemunhos, busca confirmar a baixa resistência do
concreto. Em ambas as ocasiões, o Laboratório deve realizar estes procedimentos de forma adequada e
eficiente, de modo a obter resultados que mais se aproximem da resistência potencial máxima do material.
Por outro lado, cabe lembrar que além das práticas laboratoriais, outras variáveis podem vir a interferir nos
resultados dos ensaios realizados no concreto, tais como as operações de bombeamento, lançamento,
adensamento, cura, desforma e outros. Neste contexto, apresenta-se neste trabalho uma análise do texto
da nova norma ABNT NBR 7680-1:2015, à luz da normalização e literatura nacional e internacional.
Procura-se também esclarecer e amadurecer os conceitos e parâmetros apresentados pelos autores
durante os trabalhos de revisão da norma, realizados pela comissão de estudos do CB-18 da ABNT, com o
objetivo de demonstrar que são vários os fatores intervenientes nos eventuais casos de não-conformidades.
Palavra-Chave: Resistência à compressão. Conformidade do concreto. Controle do concreto.
Abstract
During the construction of concrete structures, specialized laboratories perform the strength control of this
material, and provide to builders and designers the determination of the compressive strength of concrete. In
Brazil, from these results, the concrete of these structures shall be considered approved or not, in
accordance with the procedures of the Brazilian standard ABNT NBR 12655:2015. For cases of low strength
results in concrete specimens, should then be used the procedure established by ABNT NBR 7680-1:2015,
recently published, which, from obtained cores, confirms or not the low strength results. In both situations,
the laboratories shall perform these procedures properly and efficiently, in order to obtain the closest results
to the maximum potential strength of the material. On the other hand, it is emphasized that, besides the
laboratorial practices, other variables can affect the results of concrete strength, such as the operations of
pumping, depositing, consolidation, curing, demoulding and more. In this context, this paper presents an
analysis of the new standard ABNT NBR 7680-1:2015, according to Brazilian and international standards
and literature. It also seeks to clarify and discuss the concepts and parameters presented by the authors
during the revision of the standard, made by Brazilian Committee of Cement and Aggregates (CB-18 ABNT),
in order to demonstrate that many factors can affect the possible low strength concrete cases.
Keywords: Compressive strength. Concrete compliance. Concrete control.
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 PROPOSTA DA ABNT NBR 7680-1:2015
Durante a execução da estrutura, o concreto produzido é controlado por meio de corpos
de prova, que não representam a mesma resistência do concreto presente nas peças
estruturais. Estes corpos de prova foram moldados e mantidos em condições ideais até a
data de ensaio, diferentes do concreto empregado na execução da estrutura. Sendo
assim, os resultados dos ensaios de resistência à compressão baseados nestas amostras
presumem a resistência média máxima potencial de um volume definido e homogêneo de
concreto bem misturado, ao sair da betoneira.
Segundo a ABNT NBR 7680-1:2015, as principais diferenças entre os resultados de
corpos de prova moldados e testemunhos extraídos devem-se principalmente aos
seguintes fatores:
a) As dimensões de testemunhos e de corpos de prova podem não ser as mesmas;
b) O testemunho pode refletir deficiências do processo executivo;
c) O testemunho sofre o efeito de broqueamento devido ao procedimento de
extração;
d) Nos testemunhos, a direção da moldagem nem sempre é a mesma da aplicação da
carga no ensaio de ruptura;
e) O corpo de prova moldado é adensado de forma enérgica e homogênea, o que
nem sempre ocorre em todos os pontos da estrutura;
f) A retirada precoce de escoramentos pode gerar microfissurações no concreto em
elementos submetidos à flexão, o que não se verifica em corpos de prova;
g) O concreto de um testemunho pode não ter recebido cura adequada após a
concretagem, além de ser submetido a um regime de temperatura diferente do de
laboratório;
h) A idade avançada dos testemunhos pode apresentar resistências mais elevadas
que as de um concreto ensaiado a 28dias.
Mesmo considerando que são vários os fatores podem influenciar a resistência do
concreto obtida por meio de testemunhos extraídos, a correção da resistência “extraída”
(fc,ext,j) à “moldada” (fc,j,eq) proposta pela ABNT NBR 7680-1:2015 leva em conta apenas
quatro coeficientes, como se expõe na Equação 1.
2.2.9 Coeficiente k9: correção devida ao efeito das cargas de longa duração
(efeito Rüsch)
Todo concreto sob carga elevada, admitida como acima de 50% da carga de projeto,
mantida por um período superior a 20 minutos, fica sujeito ao fenômeno de redução
significativa de sua resistência, podendo chegar a perder 27% de sua resistência sob
carga elevada mantida dos 28dias aos 50anos. O modelo clássico, adotado pelo fib Model
Code 2010 e ABNT NBR 6118:2014, que representa esse fenômeno, é:
fc,sus,t
0,96 0,12 4 ln{72 (t t 0 )} (Equação 5)
fc,t0
Portanto, é possível obter a resistência inicial na idade t0 ou de 28dias, desde que se
tenha medido a resistência do concreto sob carga na idade j ou t, através do uso desse
modelo, ou seja;
k 9 [0,96 0,12 4 ln{72 (t t0 )} ]1 (Equação 6)
3 DISCUSSÕES
Percebe-se que a análise proposta pela ABNT NBR 7680-1:2015 não contempla uma
grande parte dos coeficientes de correção que constam na bibliografia consultada,
restringindo-se apenas ao fator geométrico da relação h/d, efeito de broqueamento, efeito
da direção de extração com relação à direção de adensamento do concreto e a condição
de umidade ou sazonamento do testemunho precedente a sua ruptura.
Outro ponto de divergência se dá no modelo empregado para o cálculo da resistência
corrigida, onde na Norma Brasileira adota-se um modelo de somatório de coeficientes,
enquanto em todas as demais referências, sem nenhuma exceção, adota-se o modelo
multiplicativo dos coeficientes de correção (COUTO et al., 2015).
Os autores entendem que esta foi uma decisão conservadora, que não considerou
resultados de vários estudos laboratoriais apresentados na literatura, os quais comprovam
a influência negativa de outros fatores (de responsabilidade do construtor, que ocorrem
ANAIS DO 57º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2015 – 57CBC 10
durante o período de transporte, aplicação e cura do material, por exemplo) sobre a
resistência final obtida, beneficiando claramente, assim, apenas um dos intervenientes
nas questões comerciais.
Ressalta-se que os resultados dos experimentos realizados para conhecimento das
perdas de resistência (causadas por cada um dos fatores mencionados neste artigo) são
calculados de forma isolada diretamente sobre a resistência obtida em corpos de prova de
referência. Mesmo entendendo que ainda não foram apresentados estudos que
comprovem a real magnitude da perda de resistência provocada pela atuação sinérgica
de dois ou mais destes fatores, considera-se conveniente que estes coeficientes de
correção deveriam ser aplicados de forma multiplicativa, com o intuito de compensar
estas perdas e como é adotado internacionalmente.
Observe-se que a prática da engenharia requer bom senso e conceitos firmes, pois não
tem sentido corrigir sempre utilizando todos os coeficientes apresentados. Por exemplo,
se não houve variação significativa de temperatura ou se a estrutura está na Amazônia
onde a UR é equivalente à de uma câmara de cura, o coeficiente de cura e sazonamento
não deverá ser utilizado.
Lembre-se aqui que, com exceção dos coeficientes propostos pela Norma Brasileira, as
demais correções apresentadas levam em conta perdas irreparáveis de resistência do
concreto ocasionadas pela má execução da obra, de modo que as mesmas não devem
ser levadas em conta na análise de segurança estrutural, restringindo-se ao mérito de
resolução de questões comerciais.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, os autores consideram apropriado que novas discussões sejam
promovidas na comunidade técnica com o objetivo de se aprimorar as análises de
estruturas acabadas, e também buscar que os critérios de análise empregados estejam
sempre alinhados com a prática internacional, dentro do seu estado da arte.
É notório que ainda há uma grande lacuna, em termos de pesquisas no campo das
estruturas de concreto sob carga mantida, a exemplo do trabalho iniciado por Rüsch em
1960, no que tange a avaliação da resistência do concreto a partir de testemunhos,
quando estes são oriundos de estruturas já submetidas a carregamento.
Não se sabe ainda, de forma fidedigna, como tratar esse tipo de resultado, em outras
palavras, se deve-se ou não regredir a resistência do concreto a uma determinada idade,
e ainda se o histórico de carregamento deve ser considerado nessa análise.
Nota-se que a atual revisão da ABNT NBR 7680 a deixou equivalente, em termos de
resultados, as mais consagradas normas mundiais, apesar de ainda ter uma forma de
análise conservadora e pouco pragmática.
Por fim, os autores recomendam que as entidades técnicas ligadas ao concreto,
estabeleçam comitês permanentes para a discussão sistemática da análise de estruturas
acabadas, incluindo análise de testemunhos extraídos, de forma a aprimorar os critérios
normativos para esse fim.
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