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Prefácio Virilio PDF
Prefácio Virilio PDF
O livro que agora se reedita, Guerra e Cinema, foi inicialmente lançado em Paris
no ano 1984, tendo como subtítulo “logística da percepção”. Se, antes, interessou-
lhe o “poder-mover” da logística da guerra, agora sua atenção volta-se ao “poder-
comover”. Resultado da ação da velocidade sobre os sentidos, o poder
dromoscópico 1 rouba do homem o tempo para a reflexão, petrifica o espectador,
põe em causa a própria realidade. Eis aí, os objetivos da guerra: “A guerra não
pode jamais ser separada deste espetáculo mágico porque sua principal finalidade
é justamente a produção deste espetáculo:abater o adversário é menos capturá-lo
do que cativá-lo, é infligir, antes da morte, o pânico da morte”.
O fato de Virilio iniciar este percurso dromoscópico em 1904 é devido ser este o
ano da instalação, em Port Arthur, do primeiro “projetor de guerra”, dando início a
“guerra da luz” que culminará no clarão nuclear de Hiroshima . Estava aberto pois
o caminho que transformaria o campo de batalhas num set cinematográfico. Foi
preciso, entretanto, esperar 10 anos para que, com o casamento entre a luz e a
velocidade do avião, o mundo se deparasse com um novo percepto.
1
Virilio inventa o neologismo “dromologia” e seus derivados a partir da palavra grega dromos, para expressar
a idéia de uma lógica da corrida, de uma sociedade que privilegia a mobilidade, de um equivalente-
velocidade.
Em seu segundo capítulo Virilio nos apresenta os termos desse acoplamento:
canhões, esquadrilhas de caça, bombardeiros juntam-se a holofotes e às
câmeras-metralhadoras deixando ver aquilo que somente a luz solar tornava
visível. Será entretanto a visão aérea – que em 1914 era ainda tributária da noite e
das condições climáticas – que permitirá que se escape da visão euclidiana
experimentada em terra firme: “É portanto normal que a violenta violação
cinemática do continuum espacial – deflagrada pela arma aérea – e os notáveis
progressos das tecnologias de guerra tenham literalmente rompido, a partir de
1914, com a antiga visão homogênea e engendrado a heterogeneidade dos
campos de percepção. A metáfora da explosão é então corretamente empregada
tanto na arte quanto na política. Os cineastas que sobreviveram ao primeiro
conflito mundial evoluíram continuamente do campo de batalha à produção de
cinejornais e, mais tarde, para os ‘filmes de arte’”.