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Direito transnacional e a premissa de uma

comunidade internacional universalista


Bruno Smolarek Dias
Professor do Programa de Mestrado em Direito Processual e Cidadania da Universidade
Paranaense - UNIPAR. Doutor em Ciência Jurídica pela Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, SC.
Doutor em Diritto Publico pela Universitá degli Studi di Perúgia, Itália. Ex-bolsista CAPES para
Doutorado Sanduíche com a Universidade do Minho, Portugal. Mestre em Direito pela Pontifícia
Universidade Católica do Paraná - PUC-PR. Graduado em Direito pelo Centro Universitário Positivo, PR.

Resumo

Este artigo tem como escopo a reflexão o papel do Direito na sociedade contemporânea, caracterizada
pelo relacionamento e interação internacional, pela multiculturalidade e pelas constantes transforma-
ções sociais. Objetiva-se através desta reflexão demonstrar a necessidade de absorção da Transnacio-
nalidade como fenômeno pelo qual os Estados Contemporâneos estão sujeitos e as implicações para a
Soberania desta nova organização social mundial. Com base nestes dois institutos proporcionar-se-á
uma reflexão acerca da existência de uma Comunidade Internacional e sua necessidade de regulação
para desenvolver-se dentro da premissa axiológica do Direito. Seu escopo principal é o de funda-
mentar a existência da Comunidade Internacional de cunho Universal com base na existência destes
direitos básicos oriundos do Direito Internacional Geral. Este desiderato se considera consolidado
através das normativas de Direitos Humanos e a constante adaptação social aos padrões e parâmetros
internacionais. O método a ser utilizado na fase de investigação será o Indutivo; na fase de tratamento
dos dados será utilizado o método Cartesiano, serão utilizadas como técnicas de pesquisa o referente,
a categoria, os conceitos operacionais, a pesquisa bibliográfica, e o fichamento.
Palavras-Chave: Direito. Transnacionalidade. Comunidade Internacional.

1 Introdução minhar deste desenvolvimento teórico. Analisan-


do num primeiro momento o papel que se propõe
ao Direito pela sua teorização, e sua estruturação
O problema que move esta pesquisa vincula-
tendo em vista o paradigma positivista.
se a proporcionar uma reflexão acerca do papel do
Reputa-se ao estudo da Teoria do Ordena-
Direito Transnacional na construção da sociedade
contemporânea, multicultural, interativa, na qual mento Jurídico do Positivismo, vez que o período
o papel do Estado e do próprio Direito tenha de atual é considerado por todos como Pós-Positivis-
ser repensado. ta, tendo como base uma reestruturação e remo-
Fundamentada por esta modernidade líqui- delação do paradigma jurídico, sem a obliteração
da, que como o próprio nome já diz, cá está e das conquistas emanadas do passado. A estrutura
continua inexoravelmente em mudanças, afetan- do Ordenamento Jurídico leva ao questionamen-
do o Direito como ciência. Faz-se uso do Direito to de qual a reforma necessária para a adaptação
Transnacional para demonstrar a possibilidade para a nova conformação social?
do reconhecimento de uma Comunidade Interna- Apresenta-se então Transnacionalidade como
cional de cunho Universal. novo paradigma social no qual as condicionantes
Para obter este desiderato, como objetivos sociais geram a aproximação dos povos e culturas,
específicos serão analisados pontualmente o ca- por meio de relações de comunicação ou econô-

Revista Brasileira de Direito, 11(1): 68-79, jan.-jun. 2015 - ISSN 2238-0604 68


DOI: 10.18256/2238-0604/revistadedireito.v11n1p68-79
Direito transnacional e a premissa…

micas dentre outras, que geram a relativização do como se apura na leitura de seu “Leviatã”, onde
Estado como modelo único basilar do grupamento o homem, que, a priori, vivia em um “estado de
internacional, levando, assim, a reestruturação das natureza”, estado esse que se caracteriza pela li-
premissas obtidas na Paz de Vestfália. berdade de ação humana, na qual o único repres-
Ao relativizar-se o papel desempenhado pelo sor de suas vontades seria o próprio agente e sua
Estado na atualidade e no porvir, geram-se con- consciência (HOBBES, 2002).
sequências primariamente à soberania deste Esta- Assim, para Hobbes, “Os homens, no estado
do como entidade isolada e suprema dentro das de natureza, são egoístas luxuriosos, inclinados a
relações internacionais. Sendo imperativa a ne- uma vida solitária, pobre repulsiva, animalesca e
cessidade de que todos devem se submeter a uma
interação maior, sob pena de não possuírem con- que vêem a origem da sociedade e o fundamento
do poder político (chamado, quando em quando,
dições de tutelar as relações atuais de seu povo. potestas, imperium, Governo, soberania, Esta-
Fruto desta necessidade premente de inte- do) num contrato, isto é, num acordo tácito ou
ração conceitua-se a Comunidade Internacional. expresso entre a maioria dos indivíduos, acordo
que assinalaria o fim do estado natural e o início
Presente em textos de Direito Internacional a pelo do estado social e político [...] fazem do estado de
menos quatro séculos, hoje é mais atual do que natureza mera hipótese lógica, a fim de ressaltar a
nunca, visto os fenômenos que nos aproximam e idéia racional ou jurídica do Estado, do Estado tal
qual deve ser, e de colocar assim o fundamento da
relativizam as nossas fronteiras físicas, sociais e obrigação política no consenso expresso ou tácito
jurídicas. dos indivíduos a uma autoridade que os representa
e encarna; outros, ainda, prescindindo totalmente
Como hipótese prevista para este artigo está do problema antropológico da origem do homem
a necessidade, como consequência desta realida- civilizado e do problema filosófico e jurídico do
de fática, de que o Direito deva adotar as premis- Estado racional, vêem no contrato um instrumen-
to de ação política capaz de impor limites a quem
sas da Transnacionalidade para possibilitar um detém o poder. [...]
regramento mais eficaz tendo em vista o objetivo No segundo nível, aquele em que se move de pre-
primário do Direito, qual seja, a tutela do homem ferência o Contratualismo clássico, predomina,
mas não é exclusivo, o elemento jurídico como ca-
e de suas relações. tegoria essencial da sintaxe explicativa: é que se
vê precisamente no direito a única forma possível
de racionalização das relações sociais ou de subli-
mação jurídica da força. Isto se explica com base
2 Desenvolvimento numa tríplice ordem de considerações: a influência
contemporânea da escola do direito natural, com a
qual o Contratualismo está estreitamente aparen-
2.1 Direito tado; a necessidade de legitimar o Estado, seja suas
imposições (as leis), num período em que o direito
criado pelo soberano tende a substituir o direito
Em dado momento histórico, não identificá- consuetudinário, seja seu aparelho repressivo, num
vel e muito discutido, o homem passa a viver em período em que o exercício da força era por ele mo-
nopolizado; finalmente, uma exigência sistemática,
conjunto com outros seres humanos, assim criando a de construir todo o sistema jurídico — aí com-
pequenas glebas, comunas, tribos ou sociedades. preendido o público e o internacional — usando
uma categoria tipicamente privada que evidencia a
Segundo alguns autores, tal fato deve-se a seu ca- autonomia dos sujeitos, como é o contrato, e colo-
ráter de necessidade de contato e de convívio para cando assim, como base de toda a juridicidade, o
com outros seres de sua espécie, com a conclusão pacta sunt servanda. Tudo isto se desenrola dentro
de um novo clima cultural que vê cada vez mais o
de Aristóteles de que “o homem é naturalmente um Estado como máquina, isto é, como algo que pode
animal político” (ARISTÓTELES, 1998). e deve ser construído artificialmente, em oposição
Existem outros autores, no entanto, que des- à concepção orgânica própria da Idade Média.
Foram três as condições para a consolidação na
crevem que tais condutas foram fruto da intelec- história do pensamento político das teorias contra-
tualidade. O homem, no uso de suas capacidades tualistas, no âmbito de um debate mais amplo so-
mentais, percebe que o fato de viver em socieda- bre o fundamento do poder político. [...] Em segun-
do lugar, que houvesse uma cultura política secular,
de, contribuindo para com seu próximo, poderia isto é, disposta a discutir racionalmente a origem e
favorecê-lo naquilo que se tornaria uma vivenda os fins do Governo, não o aceitando passivamente
por ser um dado da tradição ou de origem divina.
benéfica para todos os envolvidos. [...] A finalidade é sempre a de dar uma legitima-
O contratualismo1 é perceptível em Hobbes, ção racional às ordens do poder, mostrando que
ele se fundamenta no consenso dos indivíduos.”
1  Sobre o contratualismo, traz-se o texto de Norber- BOBBIO, Norberto; MATTEUCI, Nicola; PAS-
to Bobbio como oportunidade de elucidar maiores QUINO, Gianfranco. Dicionário de política. Trad.
dúvidas: “Em sentido muito amplo, o Contratua- VARRIALE, Carmen C. Brasília: Universidade de
lismo compreende todas aquelas teorias políticas Brasília, 1998. p. 272-3.

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breve. Isto é o que acarreta, segundo sua expres- O Direito passa então a selecionar os com-
são clássica, a permanente ‘guerra de todos con- portamentos considerados como aceitáveis e os
tra todos’” (DALLARI, 2005, P. 13). comportamentos considerados como inaceitáveis
O homem não estava na busca de algo com em determinada organização social (KELSEN,
que compor na busca de crescimento, e sim na 1998). A aceitabilidade ou não de um determi-
busca por segurança das coisas que já havia con- nado comportamento social depende dos bens
quistado. O homem busca por formas e estilos de jurídicos por eles tutelados (VON LISZT, 1899),
conformar a sociedade de forma a que esta garan- doutrina majoritariamente penal, mas que pode
ta os direitos e liberdades já conquistadas por ele, ser aplicável a qualquer área do Direito, pois a ju-
enquanto indivíduo. ridicização de determinada conduta só ocorre vez
Dentro dessa premissa, o contrato social que as consequências a determinado bem jurídi-
é celebrado na forma de uma cessão de direitos co tutelado sejam inaceitáveis, ou não desejosas
entre os Sujeitos de Direito libertos e “soberanos”
(ZAFFARONI, 2001).
em seu “estado de natureza”, e fruto dessa cessão
Bens estes, tratados de formas diferentes pe-
de Direitos de cunho puramente racional, cria-se
los mais variados autores. Para Isaac Newton Sab-
uma personalidade jurídica que passa a organizá-
bá Guimarães (2000), o bem jurídico trata-se dos
-los em sociedade, obrigando-os na manutenção
da ordem dessa sociedade (HELLER, 1968). bens achados relevantes pelo legislador para que
Para que tais convivências fossem tornadas fossem protegidos pela norma, ou seja, passam a
possíveis, esta personalidade jurídica que passa a existir ao momento em que tenham sido positi-
regular as ações dos homens é o Estado, uma en- vados, para que possam compor os fundamentos,
tidade de grande poder, construído pelo homem ou bens essenciais de uma sociedade. Teoria que
natural para sua proteção e defesa. não deve ser considerada a mais aceitável, tendo
O Estado, para que seja compreendido no em vista que a existência do bem jurídico deve ser
sentido que este artigo procura dar, deve ser en- anterior a existência da norma, para que possa, em
tendido como não apenas o “aparelho burocrático função dessa existência, ser tutelado, protegido,
administrativo” (BERCOVICI, 2006), mas como pelo Direito.
o conjunto de atos de governo e política abstrata Já para Von Liszt (1899), os bens jurídicos
que recepcionaram a figura da soberania, quando devem ser observados pelos legisladores na so-
esta foi retirada dos Monarcas Absolutos. ciedade para que então sejam incorporados, ou
Uma vez estabelecidos alguns parâmetros melhor, protegidos pelas normas. Atingiu desta
sobre as causas da convivência humana em mo- forma o autor uma delimitação dos poderes de
delos sociais, ou seja, do porquê de o ser humano legislar, ao dar a incumbência de basear-se nos pi-
viver em conjunto ao invés de fazê-lo só, passa- lares erigidos pela sociedade ao legislador. Pilares
se a estabelecer parâmetros para a existência de estes que o Poder Legiferante intenta retratar de
uma organização, de existência de ordem nesta forma normativa.
convivência. Tendo em vista a estrutura apresentada aci-
O Direito surge então como forma de re- ma podemos dizer que com base nas questões so-
gulação do comportamento social, uma vez que ciais de maior sensibilidade para os cidadãos são
os homens decidam organizar-se em sociedade, criadas regras de conduta para organizar tal gru-
compartilhando espaços entre eles, e dependen- pamento social em torno de ações consideradas
do da teoria a que se filie, buscando entre eles be- como aceitáveis e como inaceitáveis.
nefícios que não obteriam de outra forma, o Di- Dessa forma, é possível estruturar a lógica
reito regulador surge como inerente e necessário que permeia o Direito. A sociedade decide e refe-
a esta organização social2 . renda determinados valores e bem jurídicos a se-
2  “Se este caos é o inimigo da sociedade política, rem especialmente protegidos, e o governo, aqui
contra o qual os homens lutam de várias formas
– e aqui o direito ocupa um papel central, como na acepção de Norberto Bobbio (1997), deve por
forma privilegiada de estabilização e fechamento meio de seus instrumentos políticos e jurídicos
de sentido – ao mesmo tempo ele significa a afir- fazê-lo na medida dos interesses do grupamento
mação da ação política pois, sem ele, esta seria ca-
rente de sentido. Se a ordem natural fosse a esta- social que ele regula.
bilidade, não haveria necessidade de momentos e Apesar dos problemas inerentes ao positi-
instrumentos de estabilização”. KOZICKI, Katya.
Analisando as relações entre o Direito e a Política vismo kelseniano e sua teoria pura do Direito, a
Democrática. In XXIII LASA International Con- estruturação do ordenamento jurídico continua a
gress, 2001, Washington: LASA 2001, 2001.

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respeitar, ao menos no que tange à hierarquia das Em consonância com os pensamentos aqui
normas e sua validação, suas determinações. explicitados, acredita-se na necessidade de exis-
O Direito é considerado então como uma tência de um conjunto de valores, decisões po-
ciência normativa cujo objeto de estudo é a norma líticas e de bens jurídicos que fundamentarão a
posta (KELSEN, 1998). Esta norma posta passa a existência de um conjunto de normas que se pro-
ser considerada como válida para os fins científi- pugna a regular uma comunidade jurídica, seja
cos da teoria se houver passado por um sistema ela composta por indivíduos ou por entidades po-
de validação composto por inúmeras camadas de líticas como ocorre no Direito Internacional.
sobreposição normativa.
Existe uma Norma Fundamental Hipoté- 2.2 Transnacionalidade
tica que dá fundamento ao sistema, seguida de
uma norma que estabeleça os sistemas e formas de
A transnacionalidade é vista como um novo
uso dos poderes governamentais de um povo (sua
paradigma social, representativo de um novo con-
Constituição), e, por conseguinte, as normas que
texto socioeconômico no qual as fronteiras esta-
estabeleçam quando e como estes controles serão
tais já não representam limites à comunicação
exercidos, e por fim, aquele que exerce o controle e
entre as diversas sociedades. Com a intensificação
aplica as sanções concernentes ao descumprimento.
do sistema de comunicação mundial ocorrida na
A sanção só tem validade por estar estabele-
evolução pós-guerras (1 e 2), e as transações eco-
cida dentre deste sistema que possui tanto validade
nômicas entre pessoas alocadas nas mais variadas
lógica, por estar de acordo com o sistema, quanto
localidades planetárias, foi gerada a “desterrito-
validade positiva, por ter sido feito de acordo com
rialização” social, que culmina com a necessidade
o procedimento estabelecido pelo sistema.
de novo regramento para ordenar uma nova con-
A designação geométrica dada ao sistema é o
formação social (STELZER, 2010).
de pirâmide de Kelsen, tendo em vista o aumento
do número de normativas uma vez que se desce
Não se deve descolar a transnacionalização da
cada uma destas camadas de legalidade, especifi- globalização ou da mundialização3, circunstância
cidade e abrangência (BOBBIO, 2011).
3  Para uma compreensão melhor dos termos utiliza-
Um sistema jurídico só terá validade uma vez dos dos diversos textos que fazem referência a estes
que estabelecido sobre uma norma racionalmen- institutos nas diversas línguas, faz-se uso da expli-
te postulada que possa garantir a existência desse cação dada por Mireille Delmas-Marty para se-
paração dos termos empregados: “Retornemos ao
sistema e sua validade (KANT, 1994). Esta norma significado mais específico e aos termos emprega-
hipotética fundamental kelseniana deve estar tra- dos até o momento como sinônimos: mundializa-
duzida na Constituição de um Estado, funcionan- ção, universalização, globalização. Se uns e outros
descrevem um movimento, um processo em curso,
do como base lógico-jurídica e como limitador ju- eles adquiriram colorações diferentes, as quais a
rídico-normativo do ordenamento jurídico. etimologia não esclarece verdadeiramente, levan-
do no mais das vezes a confusão. Se o significado
Carl Schmitt (1996) ao imaginar esta pro- de globo se reduz, com efeito, ao planeta, em troca
posição e estruturação do ordenamento jurídico, o mundo e o universo são, à primeira vista, sinô-
vê a Constituição como a decisão política fun- nimos em sua extensão sem limites conhecidos. A
mundialização é com freqüência confundida com
damental, traduzindo seus interesses de maior a globalização (único termo disponível em inglês),
monta e relevância que devem funcionar como enquanto a universalização é geralmente delas dis-
basilares do sistema jurídico de uma determinada tinguida, às vezes fortemente, como sugere nota-
damente Zaki Laidi. Ele pediu a Philippe Petit para
sociedade. precisar a diferença entre a mundialização e a uni-
Acreditando nas determinações de Her- versalização, ao que ele respondeu com um exem-
mann Heller de “colocar em novos termos (e com plo: ‘Dizer-se que a Coca-Cola é bebida mundial,
global ou universal é rigorosamente a mesma coisa.
novos pressupostos) o problema da unidade políti- Em contrapartida, quando se passa dos objetos aos
ca, de modo distinto das soluções de Kelsen e Sch- produtos, ou das técnicas a alguns valores, o sen-
tido dos termos universal e mundial diverge seria-
mitt” (BERCOVICI, 2006). O Estado não pode ser mente. A mundialização remete à difusão espacial
entendido como parte do Direito que o conforma, de um produto, de uma técnica ou de uma idéia. A
mas sim como fenômeno social, ligado a totali- universalização implica um compartilhar de sen-
tidos’. ‘Difusão espacial’ de um lado ‘compartilhar
dade dos atos da vida social, o governo deve ser de sentidos’ de outra, estas duas fórmulas descre-
estudado de forma que seja analisado sob o pris- vem muito bem as diferenças que separam os dois
ma da holística e não como parte dos fatos sociais fenômenos que eu denominarei globalização para
a economia e universalização para os direitos do
(HELLER, 1968). homem, guardando assim o termo mundialização

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que levaria o pesquisador à complexa e infinita bi ou multilaterais; na transnacionalidade o Esta-


pesquisa de doutrinadores, cada um a seu jeito, do Nação é relativizado, “[...] de tal modo eu em
a denominar as emergentes circunstâncias, que determinadas dimensões legais, não se reconhece
moldam a vida contemporânea ou, como Ulrich mais o ente político-jurídico em suas característi-
Beck alude, buscar para a globalização uma de-
cas elementares” (STELZER, 2010, p. 21).
finição “mais parece um tentativa de pregar um
pudim na parede” (STELZER, 2010).
Relativização esta que não exclui o ente esta-
tal, apenas o relega a planos menores ou em con-
No que se refere aos termos, como explici- corrência com os demais atores transnacionais,
tado por André-Jean Arnaud (1999), os termos como organizações não-governamentais, empre-
globalização e mundialização diferem não apenas sas transnacionais, dentre outros.
no quesito origem, como determinado por alguns. Com relação à relativização da sobera-
Visto que além da origem aglo-saxônica do termo nia, recorre-se ao famoso escritor italiano Lui-
globalização ele é mais vinculado a assuntos polí- gi Ferrajoli (2002), que explica que a soberania
ticos e econômicos, enquanto que o termo mun- do Estado em sua acepção externa sempre teve
dialização, de origem europeia continental (fran- como justificativa a necessidade de defesa do
cesa), esta expressão fica mais restrita ao mundo Estado contra outros inimigos externos, que se-
jurídico e suas análises de seus reflexos. riam então inimigos da sociedade que precisaria
Realidades complexas e multifacetadas são então se proteger destes. No contemporâneo, com
interpretadas pelas diversas áreas sociais, sejam a queda dos dois blocos contrapostos que polari-
elas econômicas, sociais, políticas, jurídicas, reli- zaram todas as relações internacionais dos anos
giosas ou culturais com nomenclaturas distintas, 1950 ao final da década de 80, e a interdependên-
mas que ao serem verificadas enquanto conjunto cia dos mercados mundiais, como bem explanado
possibilitam a conclusão de que passa-se por um por Ferrajoli (2002), esta necessidade se encontra
processo de aproximação dos distantes, seja ele ultrapassada. O mundo se reuniu em inúmeras
denominado globalização, mundialização ou uni- novas propostas pela paz para a não repetição dos
versalização (SANTOS, 2005). horrores presenciados nas Grandes Guerras, ci-
Assim sendo, a transnacionalidade pode ser tando como exemplo a própria Carta da ONU.
entendida como o fenômeno no qual as limita- Este fenômeno demanda a criação de novos
ções dos Estados Nacionais não mais contêm as sistemas de regulação de suas atividades, tendo
relações sociais, que passam então a perpassar, em vista o fato do Estado não conseguir regular
a ultrapassar os contentores do território, nacio- de forma satisfatória vários elementos referentes
nalidade e primordialmente a soberania (STAF- a esta realidade.
FEN; NISTLER, 2014). Como visto anteriormente, o Estado Nacio-
No que tange à diferenciação da transnacio- nal não possui condições de solução das novas
nalidade, da internacionalidade e da globalização, realidades complexas existentes na contempora-
Joana Stelzer explicita tais diferenças: Não se está neidade4 .
referindo de forma diferida sobre a internacionali-
Essa crise de legitimação afeta hoje em seus ali-
dade, pois nesta “[...] as relações político-jurídicas
cerces aquilo que na história moderna tem sido o
desenvolvem-se de forma bilateral ou multilateral, fulcro da política e, ao mesmo tempo, o principal
mas sem que tal circunstância esteja envolvida com obstáculo à hipótese, levantada inicialmente por
a multiplicação de enlaces decorrentes das trans- Francisco de Vitoria, depois por Immanuel Kant,
formações tecnológicas, de comunicação ou trans- 4  Sobre o assunto ver: BECK, Ulrich. O que é globa-
porte em escala planetária” (STELZER, 2010). lização? trad. André Carone, S. Paulo: Paz e Terra,
O fenômeno não é o mesmo, pois na inter- 1999. Título Original: What is globalization?; ou
BECK, Ulrich. Sociedade de Risco - Rumo a uma
nacionalização a figura do Estado Nação conti- outra modernidade. Sao Paulo: Editora 34, 2010.
nua sendo protagonista da atividade, aceitando as Título Original: Risk Society – towards a new mo-
limitações em sua soberania, por meio de acordos dernity.; ou ainda, BAUMAN, Zygmunt. Globa-
lização: As Conseqüências Humanas. Traduzido
uma neutralidade que ele jamais perderá, caso não por Marcus Penchel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
se resigne rapidamente ao primado da economia Editor. 1999. Título Original: Globalization: The
sobre os direitos do homem”. DELMAS-MARTY. Human Consequences. New York: Columbia Uni-
Mireille. Três Desafios para um Direito Mundial. versity Press.; ou, BAUMAN, Zygmunt. Moderni-
Tradução de Fauzi Hassan Choukr. Rio de Janeiro: dade Líquida. Traduzido por Plínio Dentzien. Rio
Editora Lumen Juris, 2003. Título Original: Trois de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 2001. Título Origi-
Défis pou un Droit Mondial. p. 8-9. nal: Liquid Modernity. Cambridge: Polity.

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e finalmente por Hans Kelsen, de uma comuni- relação igualitária, que a diferenciaria de uma so-
dade mundial sujeita ao direito: a própria figura ciedade comum (SIMMA; PAULUS, 1998).
do Estado soberano, ou seja, legibus solutus, des- O que se propõe neste artigo é o reconheci-
vinculado das leis, que, após ter permeado du- mento da existência de uma comunidade transna-
rante toda a Idade Moderna as relações entre os
cional, tendo em vista a territorialidade que nos
países europeus, tem sido no século XX expor-
tada ao mundo inteiro por meio de sua própria
liga, ou seja: pertencemos à mesma comunidade
obra de “civilização” (FERRAJOLI, 2002, p. 48). transnacional por compartilharmos o mesmo es-
paço, leia-se o mesmo planeta6, pelas inúmeras co-
A crise do Estado Nacional abre espaço para nexões ambientais que, apesar de difusas, ligam a
a criação de novas estruturas, ou instituições todos os que nela estão inseridos, compartilhando
(CRUZ, 2010), capazes de respostas mais eficien- os mesmos riscos (BOSSELMANN, 2008).
tes aos anseios da população frente aos fenômenos Na criação das sociedades, que hoje se or-
acima descritos. ganizam nas estruturas estatais, houve a conver-
gência de interesses que criou a entidade centra-
lizadora do poder e limitada pelos ditames desta
2.3 Comunidade transnacional sociedade passou a regulá-la.
A sociedade internacional (BULL, 1977, p.
Dentre estas possibilidades surge a hipótese 13) “existe quando um grupo de Estados (políti-
de uma comunidade política única, “[...] pues si cas entre pares/terminais), conscientes de certos
la vocación no es otra que la protección del Eco- interesses e valores comuns... concebem a si mes-
sistema Planetario su correspondencia social no mos como estando ligados por um grupamento de
puede ser otra que la especie humana” (FERRER, normas comum em suas relações entre si, e divi-
2002, p. 23). dem-se no trabalho de instituições comuns”7.
Se a sociedade 5 contemporaneamente é vi- Segundo Jack Donnelly, esta teoria apresen-
sualizada como uma sociedade global, em que os tada por Bull é, mormente sociológica, depen-
riscos e benesses são globalmente divididos, ape- dendo de complementação para que se faça com-
sar de não equitativamente (BECK, 2009), a solu- preensível.
ção está na globalidade da resposta. Para o jurista americano a sociedade in-
ternacional é constituída pela interação entre: a)
A sociedade evoluiu da célula-mater (família) valores culturais hegemônicos 8 ; b) princípios e
para os grupos familiares (clãs), destes para as ci-
6  “A sociedade desponta, em primeiro plano, como
dades, das cidades para os Estados, destes para a um necessário conjunto geográfico, resumido –
Nação, e desta para as grandes comunidades in- até o momento – ao Planeta Terra. A estrutura
ternacionais, que nada mais são do que o reflexo geográfica e política do Planeta tece os contornos,
do processo de globalização pelo qual está pas- os limites, da sociedade internacional no século
XXI”. TEIXEIRA, Carla Noura. Por uma nova or-
sando o mundo neste final de século (BASTOS, dem internacional – Uma proposta de Constituição
2004, p. 31). Mundial. 306 pp. Tese de Doutorado em Direito.
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo –
PUC-SP. São Paulo, 2009. p. 30.
A criação de uma comunidade transnacio- 7  “exists when a group of states [terminal/peer pol-
nal é possível desde que verificados os seus requi- ities], conscious of certain common interests and
sitos básicos, como a espontaneidade em sua cria- common values ... conceive themselves to be bound
by a common set of rules in their relations with one
ção e a subjetividade identitária que vincula seus another, and share in the working of common insti-
membros, sejam eles laços de família, sociais, tutions” (Tradução livre). BULL, Hedley. The An-
culturais ou religiosos. Comunidade esta que se archical Society: A Study of Order in World Politics.
New York: Columbia University Press, 1977. p. 13.
organiza de maneira a proporcionar a todos uma 8  “Por outro lado, a organização de uma ‘cidadania
5  “A expressão sociedade pode assumir vários sig- multicultural’ exige políticas e regulamentações
nificados: I) de campo de relações intersubjetivas, que abalam a fundamentação nacional da solida-
ou seja, das relações humanas de comunicação; e, riedade dos cidadãos transformada em uma segun-
também II) de totalidade dos indivíduos entre os da natureza. Nas sociedades multiculturais, torna-
quais ocorrem essas relações; e, ainda, III) como se necessária uma ‘política de reconhecimento’,
um grupo de indivíduos entre os quais essas re- porque a identidade de cada cidadão singular está
lações ocorrem em alguma forma condicionada entretecida com as identidades coletivas e não pode
ou determinada”. TEIXEIRA, Carla Noura. Por prescindir da estabilização em uma rede de reco-
uma nova ordem internacional – Uma proposta de nhecimentos recíprocos. O fato de que o indivíduo
Constituição Mundial. 306 pp. Tese de Doutorado é dependente de tradições divididas de modo inter-
em Direito. Pontifícia Universidade Católica de subjetivo e de comunidades que marcam a identi-
São Paulo – PUC-SP. São Paulo, 2009. p. 25. dade explica por que em sociedades diferenciadas

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B. S. Dias

práticas de legitimidade internacional; c) institui- Trindade14 , Hildebrando Accioly15 e Francisco


ções internacionais fundamentais; e d) princípios Rezek16 , a comunidade internacional se organiza
e práticas de legitimidade interna9. de forma descentralizada, sem a estrutura conju-
Ao referir-se aos princípios e práticas de legi- gante que dá forma ao Estado Nacional.
timidade internacional, Jack Donnelly propugna A Comunidade Internacional enquanto sis-
pelos princípios e práticas que designam o status e tema de convívio social e enquanto sistema nor-
alocam a jurisdição dos direitos e deveres particu- mativo é passível de diferenciação. A mais refe-
lares de pertencimento à sociedade internacional. renciada sendo a atribuída a Hedley Bull, para o
No que tange aos princípios e práticas de le- qual um sistema “é formado quando dois ou mais
gitimidade interna, referencia os valores e práti- Estados (políticas entre pares/terminais) possuem
cas que são comumente compartilhados pela so- suficiente contato entre elas, e possuem suficiente
ciedade internacional, causando reflexos em suas impactos nas decisões de ambas, fazendo com que
atuações perante a coletividade. estas se comportem – ao menos em alguma medi-
Os valores culturais hegemônicos seriam da – como parte de um todo”. Sendo este conceito,
correlatos às estruturas culturais predominantes na visão de Jack Donnelly, mecanizado, ao reduzir
em determinados períodos de influência, como já o sistema internacional ao impacto que as deci-
ocorreu com os valores cristãos, e com valores eu- sões de um país influenciariam o outro, levando-
ropeus durante a idade média. -os a agir em conjunto.
Sobre as instituições internacionais funda- Existe uma negativa por parte da doutrina
mentais relaciona o conceito com as práticas de majoritária internacionalista em reconhecer a
procedimento, identificação e regulação exercidas existência de uma sociedade de cunho universa-
pelas instituições. Justifica alegando que a socie- lista, visto que inexiste uma estrutura estatal de
dade é composta tanto por seus mecanismos de cunho universal. No entanto, fazem uso do termo
interação quanto por seus atores, sendo esta uma comunidade em vistas de solucionar esta aparen-
realidade que não se pode relegar. te incongruência, visto que na inexistência de um
Na Comunidade Internacional o fenômeno modelo monoestrutura, a comunidade possibilita
se desenvolve de maneira diferente. Nas lições a multifacetada realidade que conforma o conjun-
dos grandes internacionalistas, entre eles, Mal- to de nações, interesses, valores e pessoas.
colm Shaw10, Henry Steiner, Philip Alston e Ryan Mas, Immanuel Kant (1995, p. 15-6), em sua
Goodman11, Ian Brownlie12 , Alfred Verdross13, e Paz Perpétua já vaticinava que:
dentre os brasileiros, Antonio Augusto Cançado
os povos, enquanto Estados, podem considerar-
se como homens singulares que, no seu estado
culturalmente a integridade da pessoa jurídica in- de natureza (Isto é, na independência de leis ex-
dividual não pode ser assegurada sem a igualda- ternas), se prejudicam uns aos outros já pela sua
de dos direitos culturais”. HABERMAS, Jürgen. A simples coexistência e cada um, em vista da sua
constelação pós-nacional: ensaios políticos. Tradu- segurança, pode e deve exigir do outro que entre
ção de Márcio Seligmann-Silva. São Paulo: Littera
Mundi, 2001. Título Original: Die postnationale com ele numa constituição semelhante à consti-
Konstellation: Politische Essays. p. 94. tuição civil, na qual se possa garantir a cada um
9  DONNELLY, Jack. The Constitutional Structure o seu direito (grifo nosso).
of International Societies. Denver, Colorado: 2006.
Digitado. Disponível em: <http://mysite.du.edu/~-
jdonnell/papers.htm>. Acesso em: 08 Agosto 2012. Noção esta que nos leva a refletir, os Estados
17hs 13min. podem e devem exigir de suas contrapartes que
10  SHAW. Malcolm. International Law. 6. ed. Cam-
bridge: Cambridge University Press, 2008.
11  STEINER, Hnery J.; ALSTON, Philip; GOOD- 14  CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Os
MAN, Ryan. International Human Rights in Con- Princípios do Direito Internacional em um Mundo
text: law, politics, morals. 3. Ed. New York: Oxford em Transformação. In: BROWNLIE, IAN. Princí-
University Press Inc. 2007 pios do Direito Internacional Público. Tradução de:
12  BROWNLIE, IAN. Princípios do Direito Inter- Maria Manuela Ferrajota; Maria João Santos; Vic-
nacional Público. Tradução de: Maria Manuela tor Richard Stockinger e Patrícia Galvão Teles. Lis-
Ferrajota; Maria João Santos; Victor Richard Sto- boa: Fundação Caloutste Gulbenkian, 1997. Título
ckinger e Patrícia Galvão Teles. Lisboa: Funda- Original: Principles of Public International Law.
ção Caloutste Gulbenkian, 1997. Título Original: 15  ACCIOLY, Hildebrando; NASCIMENTO E SIL-
Principles of Public International Law. VA, G. E. do. Manual de Direito Internacional Pú-
13  VERDROSS, Alfred. Derecho Internacional Pu- blico. São Paulo: Saraiva, 2000.
blico. Tradução de Antonio Truyol y Serra. Madrid: 16  REZEK, José Francisco. Direito Internacional Públi-
Aguilar, 1980. Título Original: Völkerrecht. co: Curso Elementar. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

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Direito transnacional e a premissa…

se constituam em torno de uma comunidade de from presupposing the existence of any form of
interesses em comum. Como diria o velho bro- community among its subjects, it is a law which
cardo jurídico “ubi societas, ibi jus”, mas de certa aimed to establish and manage the disintegration
forma reestruturado para contemplar a existên- of a community18“19.
cia da comunidade internacional e o Direito que Segundo Georges Abi-Saab (1998), seria uma
o conformará, tendo em vista a existência e pu- forma de regulação que se aventura a estabelecer
jança do Direito Internacional, poder-se-ia dizer uma ordem mínima entre entidades antagônicas
“ubi jus, ibi societas” (SIMMA; PAULUS, 1998). que não reconhecem quaisquer autoridades supe-
Esta comunidade transnacional, que con- riores a si mesmas, logo soberanas, e que perce-
verge a população global, necessita de um direito, bem suas relações como um jogo em que a vitória
também transnacional, tendo como base além de de um é imediatamente e irrevogavelmente vista
outros princípios, o princípio da sustentabilidade como a derrota do outro.
para propugnar o devir da humanidade. O direito de cooperação, por outro lado,
deve ser visto como uma possibilidade de interes-
2.4 Direito transnacional ses comuns entre os diversos sujeitos20, e que es-
tes interesses ou bens jurídicos não são possíveis
de serem tutelados de maneira unilateral, apenas
O Direito é “[...] uma ordem da conduta hu-
com a cooperação de todos os interessados passa a
mana” (KELSEN, 1998), confluência de uma so-
ser possível a tutela de maneira eficaz destes inte-
ciedade organizada com objetivos comuns, sen-
resses. “In other words, it is based on a premise or
do resultado da convivência humana (KELSEN,
an essential presumption, which is the existence
1998), em sendo a atual sociedade uma sociedade
of a community of interests or of values”21.
global, deve o direito também se tornar global.
O Direito Transnacional deve ser constru-
Dessa forma, como propugnado pelos profes-
ído sobre a base de um direito de cooperação,
sores Paulo Márcio Cruz e Zenildo Bodnar (2010),
dentro da estrutura de Friedmann, ou, com base
deve o Direito também transnacionalizar-se. Lógi-
kantiana, de acordo com Bull, que determina que
co que não mais sob a batuta de um Estado, como
aqueles aderentes a esta teoria, apesar de preconi-
o conhecido e reconhecido na temática atual.
zarem o fim do Estado, não vêem o Estado como
O Direito transnacional pode ser fruto de
um fim em si mesmo (BULL, 1995), ou como uma
uma sociedade, ou comunidade, que não se orga-
via Grotiana estrita ou Friedmanniana, em que
nize no formato de Estado, pois como já dito por
Hermann Heller (1968), o Estado é uma organiza- 18  Referência feita pelo autor ao período de guerras
religiosas, Guerra dos Trinta Anos, na Europa ao
ção peculiar de um determinado período e com qual a Paz de Vestfália pôs fim.
determinadas características que não podem ser 19  “longe de pressupor a existência de qualquer for-
ma de comunidade entre os seus sujeitos, é uma lei
trasladadas a outros formatos ou períodos. que procurava obter estabilidade e gerir a desinte-
Já Wolfgang Friedmann (1964) descrevia gração de uma comunidade”. ABI-SAAB, Georges.
a existência de duas modalidades dentre as pos- Whither the International Community. The Euro-
pean Journal of International Law. Vol. 9. 1998. pp.
sibilidades do Direito Internacional, o direito de 248-265. p. 251.
coexistência e o direito de cooperação17. 20  “In this conception, the element which distin-
A divisão proposta por Friedmann incorpo- guishes a ‘community’ from its components it a
‘higher unity’, as it were, the representation and
ra duas maneiras ou modalidades em que se pode prioritization of common interests as agains the
abordar o Direito Internacional, muito mais do egoistic interests of individuals. In this view, a mere
‘society’ (Gesselschaft), in contrast, does not presup-
que uma divisão de normas que podem ser verifi- pose more than a factual interdependence among
cadas como sendo materialmente coexistentes ou a number of individuals. Hence, if there is an in-
cooperativas. A divisão refere-se à abordagem fei- ternational community, it needs to have certain
interests common to all its members and a certain
ta pelo Direito Internacional ao regular-se pode set of common values, principles and procedures”.
ser verificada como coexistente ou cooperativa. SIMMA, Bruno; PAULUS, Andreas L. The ‘Interna-
No que tange ao direito de coexistência re- tional Community’: Facing the challenge of global-
ization. The European Journal of International Law.
puta-se ao período de transição entre o medievo N. 9. 1998. P. 266-277. p. 268.
e a modernidade, em que o Pacto de Vestfália 21  “Em outras palavras, é baseada em uma premissa
ou em uma presunção essencial, que é a existência
constitui-se como principal caractere, pois “Far de uma comunidade de interesses ou de valores”.
17  FRIEDMANN, Wolfgang. The Changing Struc- ABI-SAAB, Georges. Whither the International
ture of International Law. New York: Columbia Community. The European Journal of International
University Press, 1964. Law. Vol. 9. 1998. pp. 248-265. p. 251.

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B. S. Dias

passe a existir uma organização comunitária de 3 Considerações finais


Estados, com ênfase em interesses comuns e a
criação de instituições comuns.
O Direito apresentado como estruturação e
As duas teorias de Hedley Bull apresenta-
limitação de uma Sociedade através de bens jurí-
das são apropriadas para a discussão do Direito
dicos tutelados e de condutas aceitáveis denota a
Transnacional vez que trazem a discussão o papel
definição de valores e de parâmetros de proteção.
dos Estados, e o papel daqueles representados pe-
A complexidade da sociedade contemporânea
los Estados e os momentos que estes dispensam
projetou alterações nesta estrutura, produzindo
esta representação e se fazem ouvir.
novos sujeitos de direito como as organizações
O Direito Transnacional já deve ser visuali-
internacionais e o indivíduo.
zado, não como um campo em que o indivíduo
Sendo que esta complexidade da sociedade
seja visto como sujeito pleno de direito, mas sim
não era restrita àquele tempo ou situação, a reali-
como sempre deveria ser visto, como finalidade
dade social se torna cada vez mais complexa, im-
do Direito. As obras de filosofia do Direito sempre
portando na necessidade de uma adaptação cada
designam como finalidade do Direito a ordenação
vez mais frequente de suas instituições jurídicas.
social, e a finalidade da sociedade como o bem-
A contraposição entre as teorias jusnaturalis-
comum daqueles que compõem esta sociedade.
tas e juspositivistas, não provocam a exclusão recí-
O jusfilósofo Joaquim Maria Rodrigues
proca, e sim devem ser estruturadas em função da
de Brito, catedrático da faculdade de Direito de
criação de uma nova teoria que possa responder
Coimbra em 1871 publicou uma obra chamada
aos anseios da Comunidade Internacional, dando
de “Philosophia do Direito”, na qual já dizia que
espaço para os benefícios teóricos de ambas as teo-
o “direito é um produto do Homem para o Ho-
rias, quais sejam a vinculação à normas de valida-
mem”, logo “não é o Homem que é criado pelo
de de inspiração axiológica, a estruturação em um
direito, antes é o direito que surge como criação
sistema hierárquico de normas jurídicas, a supe-
do Homem”.
ração do voluntarismo em busca da concretização
A fundamentação do Direito Transnacional
dos interesses coletivos, e o respeito e efetividade
deve ser no ser humano, que em decorrência das
das normas juridicamente estabelecidas.
alterações efetuadas e obtidas na sociedade con-
A existência fática da Comunidade Interna-
temporânea se vê na necessidade imperiosa de
cional, a sua realidade, provoca a reestruturação
uma reestruturação que lhe possibilite a susten-
obrigatória do Direito Internacional, que ao ser
tabilidade e a perpetuidade tanto desejada.
reescrito, deve ter em mente o pungente movi-
Como já dito por Habermas o mundo foi
mento social da Transnacionalidade.
unido em função dos riscos expostos por todos
Transnacionalidade esta que devido ao re-
(HABERMAS, 1996). Assim sendo, o papel do
lacionamento entre os membros da Comunidade
Direito Transnacional seria o de sedimentar os
Internacional, gerou a eliminação das fronteiras
valores em torno dos quais o Direito Interno dos
de diferenciação entre eles, sendo hodiernamente
Estados poderá constituir suas bases de convi-
impossível a separação entre o nacional e o in-
vência para com outros povos, tendo em vista as
ternacional, entre o próprio e estrangeiro, entre o
premissas da Norma Hipotética Fundamental da
público e o privado.
qual, se não todos, quase todos os Ordenamentos
A incorporação de institutos e instrumentos
Jurídicos se estruturam, com bases nos valores
jurídicos pelos inúmeros ordenamentos jurídicos,
apresentados em suas cartas constitutivas.
e a existência de um núcleo valorativo axiológico
Devolver ao Direito o seu caráter de manu-
universal destrói qualquer pretensão de sustenta-
tenção de seu maior bem jurídico tutelado, o ser
ção teórica com base na soberania medieval e no
humano, garantindo, dessa forma, maior efetivi-
isolamento teórico da esfera coletiva global.
dade nas predisposições dos Direitos Humanos.
Em vistas do problema da pesquisa estar
Não necessariamente levando a criação de
vinculado a uma reflexão acerca do papel do Di-
instituições, mas no estabelecimento de regras
reito Transnacional na construção da sociedade
gerais sob as quais todos possam conviver e,
contemporânea, entendendo suas características
como diria Friedmann (1964), cooperar em busca
básicas como sendo interativa, multicultural e de
de desenvolvimento, num momento em que até o
constantes alterações, fruto desta complexidade, é
primeiro mundo passa por dificuldades.
possível dizer que através do apresentado é possí-

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Direito transnacional e a premissa…

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Direito transnacional e a premissa…

Transnational Law And The Premise Of An Universal


International Community

Abstract

This article targets the reflection of Laws role in contemporary societies, characterized by relation-
ship and interaction between Sates, by multicultural influences and constant social changes. It is set
through such reflection to demonstrate the need to absorb Transnationality as a phenomenon in which
Contemporary States are subjected to, and the sovereignty implications to such global social organi-
zation. Based in this two institutes a reflection will be purposed over the existence of a International
Community and the regulation necessity to develop such an axiological fundament of Law. The prime
objective is set to base the existence of an Universal International Community founded in basic rights
blossomed in the General International Law. This objective is considered consolidated by the Human
Rights norms and the constant social adaptation led to fulfill international patterns and parameters.
The method used in the investigation will be the Inductive, in dada treatment it will be used the Car-
tesian method, and the referent, category, operational concepts, bibliographical research and filing
techniques will be used.
Keywords: Law. Transnationality. International Community.

Recebido em: junho/2015.


Aprovado em: julho/2015.

Revista Brasileira de Direito, 11(1): 68-79, jan.-jun. 2015 - ISSN 2238-0604 79

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