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4 - Engenharia Biologica (Hans Jonas) PDF
4 - Engenharia Biologica (Hans Jonas) PDF
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> com uma determinação feita por que a Engenharia convencional pode
utilização para benefício de um intervenções e não por construções. sempre corrigir os seus erros, e não só
determinado utilizador, ou seja para (3) Tudo isto afecta ainda a impor- nos estádios de planeamento e teste.
um suposto bem humano, mesmo que tante questão da previsibilidade. Na Mesmo os produtos acabados, por
sejaamorte de alguns homens por outros Engenharia de hardware, o número de exemplo os automóveis, podem ser
ou de muitos homens por poucos. Até ao situações desconhecidas é praticamente reconduzidos à fábrica para a correcção
presente, toda a tecnologia ocupou-se nulo e o engenheiro pode prever com de defeitos. Isto não sucede na Enge-
de materiais sem vida, sobretudo metais, exactidão as propriedades do seu nharia Biológica cujas acções são
transformando artefactos não-humanos produto. Mas o engenheiro biológico que irrevogáveis. Quando surgem os resul-
para uso humano. A divisão parece clara: tem de gerir às cegas uma complexidade tados já é muito tarde para os modificar.
o homem era o sujeito, a natureza o incontável de determinantes já exis- 0 que está feito, feito está. Não é possível
objecto do domínio tecnológico, o que tentes, cada qual com a sua dinâmica, voltar a fazer uma pessoa nem uma
excluia que o homem se tornasse de confronta-se no seu design com um população. Assim, que fazer com os
forma imediata o objecto da sua enorme número de elementos désconhe- inevitáveis falhanços das intervenções
aplicação. 0 aparecimento da Engenha- cidos. Se o engenheiro biológico tem de genéticas, com os lapsos, as monstruo-
ria Biológica assinala uma ruptura radi- atribuir a parcela que lhes cabe na tota- sidades? Dever-se-ia introduzir o termo
cal nesta divisão e, de facto, uma ruptura lidade das causas, a previsão do "posto de parte" na equação humana se
com importância metafísica. O homem resultado final reduz-se auma adivinha, forem adoptadas algumas formas de
torna-se um objecto directo, ao mesmo um planeamento cego, um jogo. 0 re- Engenharia Genética actualmente
tempo que o sujeito da arte da Enge- design, modificação ou melhoria pre- planeadas? Tudo isto são questões éticas
nharia. tendidas são de facto üma experiência, que podem ser enfrentadas e respon-
Outras diferenças concomitantes uma experiência de tamanha duração didas, mesmo antes de se dar o primeiro
ajudam a qualificar a analogia de en- no campo da genética que o seu resultado passo nessa direcção.
genharia biológica com a engenharia está para além da capacidade de previsão (6)0 facto de a Engenharia Biológica
convencional. do experimentador. até aqui referida significar sobretudo
(1)Em primeiro lugar, a intenção do (4)Tudo isto modifica completamente Engenharia Genética, introduz outra
"fazer" que está em jogo. Na Engenharia a relação convencional entre experiência diferença significativa face à Enge-
de hardware que opera com matéria pura e acção real. Na Engenharia nor- nharia da matéria inorgânica. Não existe
inerte, a construção e a produção vão mal, tal como decorre da aplicação das analogia entre as máquinas e os
desde os primeiros elementos até ao Ciências Naturais, as experiências não fenómenos de geração e hereditariedade.
produto final que é montado a partir de exigem um empenhamento; podem ser Na perspectiva do produtor, isto significa
partes independentes. A Engenharia realizadas com modelos de substituição que há uma diferença entre a solução
Biológica propõe-se modificar estruturas eventualmente alteráveis ou destruí- causal directa e indirecta para o resul-
dadas anteriormente e cuja realidade e veis, testáveis e retestáveis antes que o tado final. A produção na Engenharia
tipo são o dado primário; não são inven- modelo finalmente aprovado atinja a Biológica é indirecta, através da injecção
tadas nem produzidas de novo, mas linha de produção. Só então se exige um de novos determinantes na sequência
tornam-se objecto de melhorias inven- real empenhamento. Ora na Engenharia genética na qual os efeitos manifestar-
tivas tal como são encontradas. : Assim, Biológica especialmente humana, não é se-ão na próxima geração e depois se
estamos perante um fabrico parcial (e possível uma substituição do caso real auto-propagam através das gerações.
não completo), uma alteração do design pelo caso "como se". Para a experiência Por consequência, o fluxo de trans-
e não propriamente de um novo design, ser válida tem de operar no próprio formações iniciado acabará por apanhar
não sendo o resultado propriamente um original, como coisa real no seu sentido o próprio produtor.
artefacto; estamos a lidar com uma mais profundo. E o que aqui está em (7) Surge ainda a questão do poder,
fracção de uma modificação. jogo entre o início e a conclusão da expe- tão intimamente relacionada com a da
(2)Tudo isto implica uma importante riência são as vidas actuais das pessoas tecnologia. De acordo'com a fórmula de
diferença face aos procedimentos da e mesmo de populações inteiras. Isto é: Francis Bacon "a Ciência e a Tecnologia
Engenharia de hardware, onde o pro- entre a experiência pura e a acção defi- aumentam o poder do homem sobre a
dutor é o único agente perante o mate- nidora desapareceu a separação e assim, natureza". Claro que também aumen-
rial passivo. Com organismos, a modi- a inocência da experiência pura. A tam os poderes dos homens sobre os
ficação é um co-agente com um material experiência é o facto real e o facto real é outros homens e, por consequência, a
já activo ou seja, um determinado uma experiência. submissão, para não falar da submissão
sistema biológico de cuja afito-actividade (5) Surge ainda a questão da rever- às necessidades e dependências criadas
ele infere a nova determinação parcial a sibilidade versas irreversibilidade. pela tecnologia. De um ponto de vista
ser integrada na totalidade dos seus Qualquer construção mecânica é comunitário, é razoável afirmar que o
determinantes autónomos através de reversível; mas é propriedade peculiar poder cumulativo ou total da espécie
um trabalho. 0 efeito modificador do orgânico que as suas acções sejam humana aumentou em relação à natu-
resulta do trabalho da entidade auto- irreversíveis. Trata-se de um assunto reza extra-humana. Mas o controle
activa. A autonomia é aproveitada como demasiado complexo para aqui ser eminente que o homem poderá vir a ter
principal dinamismo. Confrontamo-nos resumido. Mas pelo menos fique claro
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