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Rainer Maria Rilke

● Nasceu em Praga, em 1875


● Morreu em Valmont, Suíça, em 1926
Foi uns dos grandes poetas da língua alemã do século XX.
Inicialmente chamava-se René, alterou-o depois para Rainer.
Fez os seus estudos na Universidade de Praga, Munique e Berlim.
Escritor precoce, publicou o seu primeiro livro antes dos 20 anos, intitulado “Vida e
Canções”, uma coleção de versos de amor.

Teve um caso durante vários anos com Lou Andreás-Salomé, psicanalista de filha de
um general russo.
Casou, mas o casamento durou muito pouco. Teve uma filha.
Trabalhou como secretário do escultor Auguste Rodin.
Possui uma obra original, provocava uma reflexão existencialista. Apresenta marcas
do expressionismo.
A sua obra influenciou muitos escritores por diversas partes do mundo.

Cartas a um jovem poeta


É o livro mais conhecido de Rilke. As cartas foram escritas entre 1903 e 1903, tendo
como destinatário Franz Kappus, jovem militar que se pretendia tornar escritor, envia
seus versos para Rilke fazer uma espécie de auxílio/análise e, logo de cara, o
consagrado poeta já desconstrói algumas das necessidades que Kappus achava ter.
A obra é como um manual para os aspirantes a poeta, ou até a qualquer artista.
Podemos-o considerar um livro de auto-ajuda em torno do ato criador e do desespero
que por vezes os artistas sentem quando estão sem imaginação para escrever um
livro, ou pintar um quadro.

O escritor oscila entre passagens densas e a simplicidade de uma voz conhecedora e


intemporal. Rilke tem a oportunidade de transmitir alguma da sua experiência sobre o
dedicar de uma vida à arte e à escrita.
Na obra é possível ver que Rilke procura superar o vazio, aprendendo a ter-se a si
mesmo como a melhor companhia. Diz também que, quando existe uma vontade para
criar, essa mesma vontade deve ser respeitada e usada como primeiro princípio para
todo o ato criador.
Já Kappus, embora apenas tenhamos as respostas de Rilke, lida mal, de forma
obsessiva com a solidão.
Rilke não escreve apenas...sobre escrita e a solidão. Faz também confidências sobre
a vida, o amor e novo papel da mulher.
Inicialmente, Rilke guarda ainda bastantes resquícios do romantismo. Inclusivé, diz a
Kappus que não leve os seus impulsos sexuais a sério, porque eles seriam uma
espécie de engano para o que há de maior no amor.
Enquanto Kappus diz que viver deveria ser como “escrever no cio”, Rilke expõe um
idealismo, dizendo que deveríamos viver como na véspera de Natal, à espera do
nascimento de Jesus

Rilke fala acerca da sexualidade ideal, aquela em que o homem e a mulher, libertados
de todos os sentimentos falsos, se deveriam procurar como irmão e vizinhos.

Percebe-se também um “apagamento de funções sociais” do homem e da mulher.

Diz ainda que o amor é uma tarefa imposta.

A sexualidade ideal, ressaltada por Rainer Maria Rilke, seria aquela em que os dois
sexos gradualmente se apagam:

O homem e a mulher, libertados de todos os sentimentos falsos, de todos os


empecilhos, virão a procurar-se não mais como contrastes, mas sim como irmãos e
vizinhos; a juntar-se como homens para carregarem juntos, com simples e paciente
gravidade a sexualidade difícil que lhes foi imposta.

Nesse trecho acima, embora se ressalta “os sentimentos falsos” do homem e da


mulher, já se percebe traços de uma androgenia moderna, de uma parceria e
apagamento de “funções sociais” de cada um. Isso se amplia quando Rilke começa a
abandonar um tipo de amor, embora ainda o veja como algo “bom”. Para ele, o amor
nada mais é que uma tarefa que nos foi imposta. Repito: o amor é uma tarefa imposta:

As Cartas a um Jovem Poeta são, na verdade, uma espécie de manual para se viver
no início do século XX. As mentalidades, que oscilavam em uma cidade que crescia,
estavam confusas, não se sabia para onde olhar, pensar e agir. Ao fim, uma dica final
para Kappus: não observar demais. É isso, quanto mais se olha, mais se vê e mais se
sofre. Rilke, nesse ponto, já era moderno.

A minha opinião sobre a obra

O livro não faz o meu género, achei-o muito “pesado”, mesmo tendo poucas páginas, porque
Rilke aborda temas pelos quais não me interesso muito, especialmente a arte. Contudo, há
alguma frases chamativas e metáforas bonitas. É um bom livro para quem gosta de escrever
poesia ou percebe de arte, ou para quem está triste com a vida. Como não é o meu caso, não
gostei muito da obra, apesar da escrita de Rilke ser prolífera e complexa.
“Uma obra de arte é boa quando nasceu por necessidade. Nesse caráter de origem está o seu
critério – o único existente. Também, meu prezado senhor, não lhe posso dar outro conselho
fora este: entrar em si e examinar as profundidades de onde jorra a sua vida; na fonte desta é
que encontrará a resposta à questão de saber se deve criar. Aceite-a tal como se lhe
apresentar à primeira vista sem procurar interpretá-la. Talvez venha a significar que o senhor é
chamado a ser um artista. Nesse caso, aceite o destino e carregue-o com seu peso e sua
grandeza, sem nunca se preocupar com recompensa que possa vir de fora. O criador, com
efeito, deve ser um mundo para si mesmo e encontrar tudo em si e nessa natureza que se
aliou.

Mas talvez se dê o caso de, após essa descida em si mesmo e em seu âmago solitário, ter o
senhor de renunciar a se tornar poeta. (Basta, como já disse, sentir que poderia viver sem
escrever para não mais se ter o direito de fazê-lo.) Mesmo assim, o exame de consciência que
lhe peço não terá sido inútil. Sua vida, a partir desse momento, há de encontrar caminhos
próprios. […]”

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