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O FIM DO BRASIL
Este ano foi emblemático como amostra da situação atual do setor elétrico
brasileiro. Dois anos depois da MP 579, que reduziu na marra as tarifas de energia
para o consumidor, tivemos reajustes de dois dígitos na maior parte dos estados,
com as contas voltando aos patamares pré Medida Provisória.
Neste novo estudo, abordaremos (i) o impacto das escolhas erradas e do clima
adverso nos resultados das empresas e (ii) o impacto para o consumidor e
contribuinte. Por fim, recomendaremos as principais ações para este cenário e
revistaremos as sugeridas no primeiro relatório do tema, em 23 de julho.
Chances de racionamento
[1]
A necessidade de 80% de chuva da média histórica para garantir que não haja
racionamento cai para 75% se consideradas as expansões de capacidade previstas
para o próximo ano. Em especial, as entradas em operação de Santo Antonio, Teles
Pires, Jirau e Jari, fundamentais para o abastecimento do sistema.
[2]
O preço permaneceu alto durante todo o ano, em diversas semanas ficando no limite
estabelecido (R$ 822/MWh até o final deste ano). Sobretudo com a necessidade de
geração de energia térmica, mais cara, e reservatórios em baixa ao longo de todo ano,
não tinha como ser diferente.
Esse preço alto gerou problemas tanto para geradoras como distribuidoras - as
transmissoras foram as únicas relativamente blindadas no tema, uma vez que suas
receitas são insensíveis a volume e não há necessidade de comprar energia no
mercado, apenas manter a disponibilidade da linha.
No caso das distribuidoras, a exposição ao PLD se deu por vias involuntárias. Com os
preços muito altos, as geradoras preferiram ficar com a energia a vendê-las em
leilões, com preço teto mais baixo. Assim, as distribuidoras não conseguiram comprar
a energia necessária para distribuir, fazendo explodir a linha de “energia comprada
para revenda”. Como essa não é uma “responsabilidade” da distribuidora, todo esse
[3]
Para o próximo ano, entra em vigor o sistema de bandeiras tarifárias, que ajudará o
caixa das distribuidoras - ao invés dos repasses anuais, eles passam a ser mensais, e o
consumidor enxerga como está o custo de energia no período, um incentivo a se
adaptar a momentos de custo mais alto, como o atual.
Veja que a linha entre os R$ 720 e R$ 960 mostra o teto atingido ao longo de
praticamente todo o primeiro semestre e o final do ano.
[4]
Mesmo com o alívio das bandeiras tarifárias, o que foi emprestado pelos bancos e
Tesouro precisará ser repassado na conta para o contribuinte. Há uma conta
perversa aqui, temperada pelo timing do quarto ciclo de revisão tarifária: de um lado,
as distribuidoras estão quebradas e precisam de uma revisão mais branda; por outro,
repasses muito altos pressionam a inflação; no meio de tudo, a fonte do Tesouro
secou (ou deveria ter secado).
Com os preços da energia tão elevados, os leilões do ano foram fracos, com preço
teto mais baixo do que o negociado no mercado à vista (spot). Assim, as
distribuidoras continuam com situação complicada para o primeiro semestre do ano
que vem, até que entrem as expansões.
A indenização está prevista em lei, mas a conta alta pode ser postergada em
momento delicado do ponto de vista fiscal. Além de afetar as três empresas, essa
indefinição traz mais incertezas para o setor como um todo.
Para quem sempre foi associado a fluxos estáveis de ganho, proteção à inflação e
bons pagamentos de dividendos, veja que a visibilidade é baixa e o peso das decisões
governamentais é muito grande, dado o perfil altamente regulado. Isso tudo
temperado pela dependência do clima. Não é o tipo de investimento que buscamos
na série, com muita interferência política e muitos fatores de risco mapeados, fora os
que estão obviamente fora do radar. Posto esse cenário, vamos às recomendações.
Recomendações
Em 23 de julho, quando tratamos dos problemas do setor elétrico pela primeira vez
na série Fim do Brasil, sugerimos exposição às ações de Transmissão Paulista e Alupar.
[5]
Transmissão Paulista subiu 42% no período (sugerimos colocar esse lucro no bolso;
para frente, há mais risco de queda do que de alta, com grande dependência da
decisão sobre a indenização pelo governo), Alupar permaneceu estável, embora
tenha batido alta de 15% no ínterim e pago R$ 99 milhões de dividendos (R$ 0,48
por unit), e Cesp caiu 15%.
Com a redução das perdas de energia, Celpa tem conseguido bons deltas de volume,
o que combinado a reajuste das tarifas, permite bom crescimento na primeira linha.
O fornecimento de energia também melhorou, mas ainda há muita gordura a ser
queimada. O modelo está no estado ao lado, com a Cemar, que já esteve na mesma
situação e hoje é referência em diversos indicadores. Operando com eficiência, a
distribuidora vira uma vaca leiteira, com forte geração de caixa.
[6]