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ALGUNS

ASPECTOS
DA APLICAÇÃO
DO MÉTODO
DA EQUIVALÊNCIA
PATRIMONIAL - II

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José Rodrigues de Jesus Susana Rodrigues de Jesus REVISORES OFICIAIS DE CONTAS

1. 3.
Na sequência do trabalho publicado, com análogo título, no recente Nas Normas Internacionais de Relato Financeiro (NIRF) o método
número 54, Julho-Setembro, da Revista Revisores _ Auditores, o da equivalência patrimonial (MEP) não é apresentado a propósito
presente artigo tem por objecto o tratamento contabilístico das da contabilização das subsidiárias.
designadas “transacções ascendentes “ e “transacções descendentes”
em relação com a aplicação do método da equivalência patrimonial De facto, da NIC 27 – “Demonstrações Financeiras Consolidadas e
e no que se refere a empresas participantes e suas subsidiárias e Separadas” apenas constam os procedimentos da consolidação
associadas. (junção da empresa-mãe e das subsidiárias) e do modo de
apresentação nas contas separadas dos investimentos em
subsidiárias, entidades conjuntamente controladas e associadas (cf.
números 1 e 3).
2.
No anterior artigo observa-se, de passagem e sem significado para Em conformidade com aquela NIC, na preparação das demonstrações
a substancial proximidade entre a consolidação e o MEP nas Normas financeiras separadas os investimentos em subsidiárias e em
de Contabilidade e Relato Financeiro (NCRF), uma diferença no associadas são registados pelo custo ou de acordo com a NIC 39 –
tratamento dos resultados de transacções que ficam incluídos nos “Instrumentos Financeiros – Reconhecimento e Mensuração” (cf.
“stocks”: enquanto no parágrafo 15 da NCRF 15 são totalmente número 38), não se aplicando, pois, em qualquer caso, o MEP.
excluídos (como na consolidação), no parágrafo 46 da NCRF 13, não
se opta pela exclusão total daqueles resultados. Ainda em conformidade com a NIC 27, o tratamento nas
demonstrações financeiras consolidadas das participações em
O presente trabalho é dedicado a esta questão: a mensuração dos associadas é efectuado de acordo com a NIC 28 – “Investimentos
em Associadas” (cf. número 5 da NIC 27, sendo aplicado, relativamente
resultados dos exercícios abrangidos pelas operações, por efeito da
às associadas, o MEP).
periodização.
Nos casos em que uma empresa detém apenas participações em
Aproveita-se a oportunidade para estudar o modo de registo daqueles associadas, é aplicável a NIC 28, excepto em algumas circunstâncias
resultados. (cf. números 1 e 5).

A exposição será apoiada por exemplos e servida pela apresentação Parece, deste modo, poder concluir-se que, no âmbito das NIRF, se
de alguns quadros. uma empresa tiver a característica de empresa-mãe tem

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CONTABILIDADE

demonstrações financeiras consolidadas, nas quais as associadas No caso do Quadro I, a empresa A é titular da totalidade das acções
são tratadas pelo MEP, e se uma empresa não for uma empresa- representativas do capital social da empresa B (não havendo, pois,
mãe e tiver participações em associadas aplica o MEP relativamente interesses que não controlam).
a estas.
No ano X, A debita juros a B no montante de 1 000 u.m., não sendo
Tanto num caso como no outro pode haver demonstrações financeiras estes juros capitalizados em B (não são, por exemplo, incluídos nos
separadas, onde não é aplicado o MEP – a característica destas custos dos inventários ou dos activos fixos tangíveis).
demonstrações é, exactamente, a de não conterem a aplicação do
MEP.
O resultado consolidado é nulo (o rendimento compensa-se
integralmente com o gasto) e é também nulo o resultado com a
No domínio das NCRF, o processo é análogo no que respeita às contas
aplicação do MEP, já que ao rendimento de 1 000 u.m. das contas
consolidadas (cf. NCRF 15 – “Investimentos em Subsidiárias e
Consolidação”), mas acresce o facto de o próprio MEP ser usado nas de A se contrapõe, nas mesmas contas, o resultado negativo do
demonstrações financeiras chamadas individuais (também mesmo montante do MEP, correspondente ao prejuízo da subsidiária.
designadas, por vezes, estatutárias) - inclusivamente no que respeita
ao registo contabilístico das subsidiárias, neste caso complementado
nos termos que vão ser explanados (cf. números 8 e, por remissão
deste, 14 e 15).

4.
Nos termos da NIC 27 e da NCRF 15, os procedimentos de consolidação
determinam que nas transacções intragrupo os rendimentos e gastos
devem ser eliminados por inteiro, incluindo os lucros e prejuízos que
sejam reconhecidos nos activos (cf. números 20 e 21 da NIC 27 e 14
e 15 da NCRF 15).

Os rendimentos e gastos que tenham sido reconhecidos nos activos


e que tenham sido inicialmente eliminados são, naturalmente,
reconhecidos como resultados aquando da saída daqueles activos
(por exemplo, por venda ou depreciação).

Para simplificar a leitura, usar-se-á no texto a expressão “operações


com “stocks”” ou idêntica para significar as operações em que “os
lucros ou prejuízos sejam reconhecidos nos activos” mencionados
nas NIC 27 e NCRF 15.

Sem entrar em pormenores, deve anotar-se que a hipótese de perdas


nas vendas da participante à participada de bens que ficam em
“stock” terá ou poderá ter tratamento diferente do que é dado no
caso de ganhos (em termos simples: se a vendedora-participante
aliena com prejuízo, este deve ser imediatamente assumido).

Neste trabalho, por comodidade, apenas de estuda a questão na


vertente de ganhos nas transacções que determinam “stocks”.

Ver-se-á que, no âmbito das NCRF, os procedimentos adoptados na


elaboração das demonstrações financeiras individuais conduzem a
um resultado que é idêntico ao resultado apropriado pelos sócios da O exemplo do Quadro II é em tudo análogo ao anterior, excepto
empresa-mãe nas contas consolidadas. quanto ao facto de, agora, A participar no capital social de B em
apenas 70%.

Nas contas consolidadas compensam-se os rendimentos e os gastos,


5. mas, no seio do resultado agregado nulo, emerge um resultado
Da eliminação por inteiro dos rendimentos e gastos que não implicam negativo atribuído aos interesses que não controlam – interesses
“stocks” com reconhecimento de lucros ou prejuízos, decorre que nos minoritários (IQNC-IM) de 300 u.m. e um resultado positivo do
“interesses que não controlam” (designação que, nas NIRF, substituiu mesmo montante de que são titulares os sócios de A (na prática, os
a de “interesses minoritários”) é imediatamente reconhecida a parcela sócios de A emprestaram 30% do montante total a B e recebem
dos resultados correspondente àqueles rendimentos e gastos, dos IQNC-IM de B 30% dos juros).
naturalmente na proporção da participação, o mesmo acontecendo
no resultado reconhecido para os efeitos dos titulares do capital da Nas contas individuais, segundo o MEP, a situação é análoga – há
empresa-mãe. um resultado de 300 u.m. em A, determinado pela diferença entre
o rendimento de 1 000 u.m. e o resultado negativo de 700 u.m.
Vejam-se os exemplos dos Quadro I e II, apresentados ao diante, advindo pelo MEP (70% do resultado negativo, de 1 000 u.m., nas
sendo o primeiro apresentado por mera ordem metodológica. contas de B).

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CONTABILIDADE

A expressão de acordo com o MEP é idêntica – ainda neste caso de


operações sem “stocks” - nas contas consolidadas no que respeita
às participações em associadas e nas contas individuais, quer quanto
a subsidiárias como a associadas.

6.
Passemos, agora, às situações em que há “stocks”, que podem ser
formados na participada, em consequência de transacções
descendentes, ou na participante, por efeito de transacções
ascendentes.

Anote-se, antes de mais, um pormenor terminológico.

Quando as NIRF e as NCRF definem o MEP, referem-se aos resultados


da participada que são incorporados pela participante (cf., por
exemplo, a definição inserida no número 2 da NIC 28).

Ora, nas transacções descendentes que determinam a formação de


“stocks” na participada não há, aquando do reconhecimento do
“stock”, a formação de resultados nesta (não podendo, assim, haver
qualquer resultado da participada que a participante possa colher),
pelo que não parece integralmente correcto referir, a este propósito,
a aplicação do MEP.

Pelo menos por mera comodidade de apresentação, usar-se-á a


expressão MEP para abranger também os casos das transacções
descendentes.

Há duas questões centrais no uso do MEP na hipótese de existência


de “stocks” – a quantificação e a expressão dos resultados e das
participações financeiras.

É importante referir a diferença de tratamento quando a relação é


com uma subsidiária (eliminação por inteiro do resultado, tanto nas

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CONTABILIDADE

contas consolidadas como nas contas individuais segundo o MEP) terceiros na participada – isso mesmo foi evidenciado logo nos
ou com uma associada (eliminação na proporção da participação). exemplos iniciais: por exemplo, a conjugação dos juros debitados
por uma empresa à outra (e registados como rendimentos e gastos
Na circunstância da relação de grupo, a NCRF 15 determina que, nas de juros nas respectivas contas) com o resultado segundo o MEP (e
contas individuais, se aplique o MEP e, além disso, se proceda à contabilizado como tal na participante) implica que, finalmente, o
cativação dos resultados não realizados no grupo e que permanecem resultado da participada seja o montante dos resultados (positivos
em “stock”: “8. Nas demonstrações financeiras individuais de uma ou negativos) inerentes à transacção com os terceiros.
empresa-mãe, a valorização dos investimentos em subsidiárias deve
ser efectuada de acordo com o método de equivalência patrimonial, Nos casos das vendas com “Stock” também acontece isso mesmo,
aplicando-se, ainda, o disposto nos parágrafos 14 e 15”. mas de modo diferido – o resultado na participante apenas é
reconhecido aquando da venda dos inventários, ou, no caso de outros
O segundo período do número 15 daquela NCRF – “Os resultados activos, pela venda ou amortização.
provenientes de transacções intragrupo que sejam reconhecidos
nos activos, tais como inventários e activos fixos, são eliminados por De sublinhar ainda uma gradação das dificuldades na aplicação do
inteiro” – quer exactamente significar que os resultados da MEP quando se trata de uma subsidiária ou de uma associada.
participante apenas são nesta realizados após a venda pela
participada. No caso da subsidiária, há o domínio da participada e,
consequentemente, o pressuposto da minuciosa informação
A expressão, no número 8 da norma, “aplicando-se, ainda” implica requerida (para a consolidação e para o MEP).
que não se usa apenas o MEP, mas este e o complemento do número
15. Na hipótese da associada o conhecimento não é, eventualmente,
tão fluído, havendo, pois, limitações apreciáveis no acesso à
Pretendeu-se, afinal, com esta disposição que, na participante, os informação que, certamente, careceria de indiscutível fiabilidade
resultados nas contas individuais fossem os mesmos que figuram (por exemplo, conhecimento da existência de “stocks” na participada,
nas contas consolidadas. nas transacções descendentes, e das margens de lucro na participada,
nas transacções ascendentes).
De mencionar, também, que, nos citados números 14 e 15, quando
referidos às contas individuais, a referência à eliminação, de saldos, Nos números seguintes procurar-se-á estudar, com quatro exemplos,
transacções, rendimentos e ganhos e gastos e perdas intragrupo só este tema.
pode ser entendida, rigorosamente, quando se tenha querido, na
base, adoptar a mesma metodologia da consolidação de contas –
não pretende significar que, nas contas individuais, se façam aquelas
eliminações (o que não tem sentido), mas fica claro que se pretende,
7.
Comecemos por referir o tratamento das associadas, relativamente
no fim, ter o resultado das contas individuais idêntico ao das contas
às quais podemos encontrar, com actualidade prática, informações,
consolidadas.
sugestões ou recomendações nos livros da Ernst & Young, KPMG
e Deloitte de que nos socorremos: Ernst & Young, International
A NIC 28 especifica, naturalmente, no seu número 20, que “muitos
GAAP 2011, General Accepted Accounting Practice under
dos procedimentos apropriados para a aplicação do método da
International Financial Reporting Standards, Willey, 2011, páginas
equivalência patrimonial são semelhantes aos procedimentos de
685 e seguintes, KPMG, Insights into IFRS, KPMG´s practical guide
consolidação”, o que é repetido no número 57 da NCRF 13.
to International Financial Reporting Standards, 8th edition,
2011/2012, Sweet & Maxwell, 2011, páginas 391 e seguintes, e
Os resultados provenientes das transacções ascendentes e
Deloitte, iGAP 2011, A guide to IFRS reporting, Lexis Nexis, 2010,
descendentes são, porém, agora, tratados de modo diferente do que
páginas 2602 e seguintes.
consta relativamente à consolidação.
Em todos estes textos é assinalado que a norma internacional não
Na verdade, é estabelecido no número 22 da NIC 28 e no número
fornece uma regra ou a indicação de modo de registo das operações,
46 da NCRF 13 que, na relação com as associadas, os resultados
no quadro do MEP.
provenientes daquelas transacções são reconhecidos nas contas da
participante “somente na medida em que correspondam aos
interesses de outros investidores na associada, não relacionados
com o investidor” (redacção da NIC 28) ou, “apenas até ao ponto dos 8.
interesses não relacionados da investidora na associada” (texto da No que refere às transacções descendentes aqueles textos fazem
NCRF 13). reflectir a cativação (ou suspensão, ou adiamento, ou diferimento)
dos resultados (na parte proporcional) nas contas de vendas e de
Em ambas aquelas normas se completa afirmando que a parte da custo das vendas (Ernst & Young e KPMG), apenas na conta de
participada nos resultados da associada resultante daquelas custo das vendas (Ernst & Young), ou na conta de vendas (KPMG),
transacções é eliminada. sendo sempre aqueles resultados registados, em contrapartida, na
conta do activo da participação financeira.
Não existe, assim, qualquer diferença no tratamento das associadas
nas contas consolidadas e nas contas individuais – sempre se aplica Será esta a melhor solução, designadamente no nosso contexto?
o MEP e não há diferenças na sua aplicação. Será útil, especialmente, alterar os valores das contas de vendas e
custo das vendas? Ter-se-á reduzido o valor da participação pela
Como se afirmou, no caso das transacções sem “stocks” o resultado, venda de bens que ficaram em “stock” na participada?
pelo simples jogo das contas, é o correspondente à participação de

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CONTABILIDADE

Ou será preferível deixar que os registos nas contas de vendas e de apresentados na demonstração da posição financeira quer tomando
custos das vendas sigam o seu curso normal e que, à parte, se cative o subsídio como rendimento diferido, …” (cf. número 24 da NIC 20).
o resultado não realizado das vendas como um proveito diferido (ou
Se for entendido que não pode ser um passivo o ganho diferido das
suspenso ou cativo), debitando conta autónoma apropriada de
vendas descendentes, parece que a solução deva ser a de subtrair
resultados? tal ganho na conta do activo da participação financeira – salientando,
todavia, que existe alguma incongruência, uma vez que a participação
Propendemos a crer que este último procedimento será o mais não sofreu qualquer perda.
apropriado.
Deve assinalar-se que nesta solução pode acontecer que a quantia
Desta forma, não se perturbariam os valores das contas de vendas do resultado positivo suspenso seja superior ao valor contabilístico
e de custos das vendas, com as inerentes vantagens de controlo da participação, o que determina considerações adicionais, como é
corrente e de compatibilidade com os montantes fiscalmente descrito nas citadas publicações e que aqui nos dispensamos de
relevantes. transcrever.

O que dizer do uso da conta das participações financeiras como Refira-se, ainda, que a utilização de uma conta do passivo para o
ganho diferido pode, em alguns casos, influenciar de forma material
contrapartida do débito da conta autónoma de resultados?
os rácios da situação financeira.
Esta questão envolve a concepção do rendimento ou ganho diferido Em qualquer caso, terá de ser efectuada a necessária divulgação,
na estrutura do balanço. que deverá mencionar todas as quantias relevantes (vendas, custo
das vendas, inventários, resultados).
É certo que no SNC existem as contas “28 – Diferimentos”, com as
subcontas “281 – Gastos a reconhecer” e “282 – Rendimentos a
reconhecer”, que conduzem às contas de “Diferimentos” que se
encontram no balanço, tendo aquela conta geral a anotação de que
9.
Quanto às transacções ascendentes, nas citadas publicações
“compreende os gastos e os rendimentos que devam ser reconhecidos recomenda-se que seja deduzido ao valor dos inventários (Ernst &
nos períodos seguintes”. Young e Deloitte) ou ao valor dos inventários ou ao da participação
financeira (KPMG) a parte proporcional (à participação) do lucro
Constituirá, porém, o rendimento diferido por efeito da venda registado na participada, por contrapartida de igual redução do lucro
descendente descrita um passivo (cuja característica essencial é a obtido directamente segundo o MEP, na prática neutralizando esse
de que a empresa tenha uma obrigação presente (cf. Estrutura mesmo lucro.
Conceptual, número 59, do SNC)?
De notar que, tanto nas NIRF como nas NCRF podemos encontrar Pode haver, pelo menos, três soluções:
no passivo elementos que, se bem se pensa, não constituem
obrigações presentes. - aumentar o valor da participação financeira por contrapartida de
rendimentos de MEP e, simultaneamente, reduzir os inventários por
Por exemplo, os ganhos diferidos que ficam no passivo nas débito desta mesma conta ou de uma conta específica de gastos
transacções de venda seguida de locação, são diferidos e amortizados que neutralize o rendimento de MEP (a primeira hipótese seria
durante o prazo da locação (número 59 da NIC 17 e número 52 da idêntica a simplesmente aumentar a participação financeira e reduzir
NCRF 9). os inventários);
- aumentar o valor da participação financeira por contrapartida de
Outro exemplo é o da consideração como passivo dos subsídios rendimentos diferidos;
recebidos relacionados com activos, que nas NIRF “devem ser - não efectuar qualquer registo.

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Pensamos que será preferível nada registar na conta de inventários com o CMV de 1600 u.m., tendo B conservado no termo daquele
(e na conta de custo das vendas que é subsequentemente ano a totalidade das mercadorias adquiridas a A e vendido
movimentada aquando das posteriores vendas), deixando que aquela, integralmente as mesmas em X2.
pelas razões de controlo e fiscais já invocadas, mantenha o trato
corrente. O resultado consolidado no ano X1 é nulo, mesmo sendo a
participação apenas de 70%, pois as mercadorias não chegaram,
Não afectar, também, a conta da participação financeira parece nem parcialmente, a sair do grupo e, assim, não é possível reconhecer
natural: se, em conformidade com o MEP, a participante não reconhece qualquer resultado agregado.
o lucro da venda que a participada lhe fez, também o valor da
participação financeira não deve ser aumentado por tal montante. Também nas contas individuais de A do ano X1 o resultado é nulo,
podendo acrescentar-se que é também nulo o resultado em B, que
É certo que, deste modo, o valor da participação financeira não fica limitou a adquirir as mercadorias.
em consonância com a parcela do capital próprio da participada
registada após a aquisição da participação – mas, julgamos, a
O resultado suspenso, de 400 u.m., fica registado a débito na conta
necessária divulgação, que, em qualquer caso terá de haver,
completará um melhor entendimento das contas na hipótese de resultados “Gastos e perdas por diferimento de ganhos com
preferida. subsidiárias diferidos” (que compensa os valores das contas de
vendas e de custo das vendas) por contrapartida do registo a crédito
Deve, igualmente, referir-se que, no contexto do MEP, se a participada na conta de rendimentos diferidos “Diferimentos-ganhos e perdas
distribuir à participante o lucro que esta ainda não considerou em operações com subsidiárias diferidos”.
reconhecido, o que estará a acontecer, na prática, é, do ponto de vista
da participante, uma distribuição de resultados da participada pré-
existentes e, no limite, do capital da participada pré-existente à
própria aquisição.

O registo numa conta de rendimentos diferidos tem os inconvenientes


conceptuais e práticos já analisados.

10.
Exposta, assim, a questão relativamente às associadas, passemos
ao caso das subsidiárias.

Como este tema não é tratado nas NIRF, apenas podemos admitir
que seria esperado dos autores citados tratamento idêntico ao
mencionado quanto às associadas – sendo, também, igual o modo
de expressão para que nos inclinamos a propósito das mesmas
associadas.

Há, porém, na relação com as subsidiárias uma questão nova – nas


NCRF os resultados são eliminados por inteiro na aplicação do MEP,
tal como nas contas consolidadas.
Assim, nas transacções descendentes é cativado o inteiro resultado
da venda, ainda que a participante não seja titular da totalidade do
capital da participada e nas transacções ascendentes a participante
não reconhece qualquer parcela do resultado da venda da participante.

Em suma, o resultado nas contas individuais da participante é igual


ao resultado apurado na consolidação – foi isto mesmo que se quis
na NCRF 15, mediante os seus números 8, 14 e 15.

11.
Os exemplos dos quadros seguintes procuram ilustrar as soluções
que sugerimos, usando-se, para as contas não convencionais,
designações cuja letra esteja próxima do objecto a retratar (e que,
obviamente, teriam de ser simplificadas, no caso de adopção destas
sugestões de registo).

Independentemente do acerto da solução, usa-se, nestes exemplos,


uma conta do passivo para albergar os rendimentos ou ganhos
diferidos.

Comecemos pelo exemplo do Quadro III, em que A detém 70% do


capital de B e no ano X1 vende mercadorias a B, por 2 000 u.m. e

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CONTABILIDADE

Em X2, o resultado é reconhecido nas contas de A, tanto consolidadas A reversão do diferimento ou reconhecimento final do resultado em
como individuais – nestas por reversão, digamos assim, dos registos X2 expressa-se de forma análoga à indicada no número anterior.
da suspensão do ano anterior: daí um registo de 400 u.m. a crédito
da conta “Diferimentos - ganhos e perdas em operações com
subsidiárias diferidos” e outro a crédito, do mesmo valor, numa conta
de rendimentos com a designação, por exemplo, de “Reversão de
13.
Este número e o seguinte têm por objecto transacções ascendentes
gastos e perdas por diferimento de ganhos em operações com
– para não alongar o texto, supõe-se, no primeiro exemplo a mesma
subsidiárias”.
relação societária enunciada no número 11, mas em que a venda se
realiza de B para A. O quadro V, seguinte, ilustra a expressão
contabilística.
12.
Admitindo, agora, o mesmo exemplo do número anterior, mas usando
uma participação de A em B de 20%, a expressão é em tudo idêntica,
sendo o valor da suspensão apenas de 20% do resultado, como se
expõe no quadro IV, seguinte.

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CONTABILIDADE

14.
Sendo, agora, a relação com uma associada e usando os dados do
número 12, com a venda, porém, formulada de B para A, apresenta-
se a solução no quadro VI seguinte.

Em X2, quando as mercadorias são vendidas em A, na contabilidade


desta é realizado o lucro suspenso de 80, debitando a conta do
passivo “Diferimentos - ganhos e perdas em operações com
associadas diferidos” por contrapartida de um crédito em Ganhos
do MEP.

15.
É tempo de terminar, sublinhando, a título de conclusão, a diversidade
de situações nas relações entre participantes e participadas e o
respectivo cruzamento com os métodos utilizados na elaboração
das contas, tanto consolidadas como individuais.

Aquela diversidade é, de resto, compatível com diferentes


apresentações ou modos de expressar os resultados, merecendo
particular estudo os casos em que, com ou sem IQNC-IM, existem
A alternativa, como de indicou, seria não registar o valor de 280 u.m. ganhos incluídos nos activos fixos tangíveis e nos inventários.
– nem no activo, nem no passivo.
O Sistema de Normalização Contabilística não mostra as soluções
No ano X2, com a realização das vendas por A, o resultado de 280 práticas, designadamente com a atribuição de contas específicas
torna-se reconhecido nas contas de A consolidadas e de A individuais para albergar as soluções dos diferentes problemas.
segundo o MEP, por reversão ou realização do diferimento de 280
u.m. do ano anterior; nas contas consolidadas emerge, também, o Julga-se, aliás, conveniente que a CNC nem sequer venha a esmiuçar
valor de IM de 120 u.m. que não podia ser expresso no ano X1, dado quaisquer soluções a estes propósitos.
que a transacção tinha sido completamente eliminada, tanto para
os interesses de A como para os IQNC-IM, em B. De facto, sendo muito diversas as situações e com diferentes graus
de materialidade, é desejável que se deixe aos preparadores e
Há uma observação evidente: o ganho total na venda em B (que auditores das contas a escolha do modo que de forma mais
está nos resultados de B) está no valor dos inventários em A - na
transparente e eficiente mostre a realidade.
prática ter-se-á efectuado uma reavaliação das mercadorias no
interior do grupo.
Em muitos casos o efectivo tratamento fino destes temas, sobretudo
na relação com as associadas e em que não haja materialidade,
O modo como está resolvida a questão no Quadro V corresponde a
apenas servirá para reduzir a compreensão das contas.
assumir essa reavaliação na conta da Participação Financeira
(debitando-a pelo ganho) e a creditar, pelo mesmo valor, uma conta
do passivo de diferimentos – “Diferimentos - ganhos e perdas em O presente estudo não pretende, obviamente, ser mais do que um
operações com subsidiárias diferidos”. contributo para o estudo destas questões.

Como ficou assinalado, há outras soluções e não se pretende afirmar São temas miúdos, com a particularidade de versarem, muitas vezes,
que esta seja preferível. quantias imateriais - isto não impede que os devamos ter presentes.

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