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1) Corpo e modos de subjetivação

Podemos dar inicio ao tema e os atravessamentos que este tem nos dias de hoje, fazendo
emergir o pensamento de FOUCAULT e CAPONI onde eles pontuam que o controle da
sociedade sobre os indivíduos, como temos visto ao longo de muitos anos, não se opera
simplesmente pela consciência ou ideologia, mas começa no corpo, com o corpo. FOUCAULT
aponta para a existência das tecnologias de poder, que segundo ele se subdivide em poder
disciplinar (anatomo-política do corpo), produzindo efeitos individualizantes manipulando o
corpo como foco de forças, onde é preciso tornar úteis e dóceis ao mesmo tempo; E, de outro
lado, a biopolítica da população”, caracterizada pelo controle, regulamentação dos processos
biológicos (tais como reprodução, natalidade, nivel de saúde, etc), com ela o biológico ingressa
no registro da política, permitindo que o corpo e a vida sejam vistos de outra forma e com
outros olhos.

Sendo assim, ele pontua que a disciplina não é mais simplesmente uma arte de repartir os
corpos, de extrair e acumular o tempo deles, mas de compor forças para obter um aparelho
eficiente, cabendo ao poder do soberano de fazer morrer ou de deixar viver, ao contrário do
novo direito que se instala, o Biopoder, de fazer viver e de deixar morrer. O biopoder
contemporâneo; conclui AGAMBEM reduz a vida a sobrevida biológica e sua característica
principal segundo CAPONI é a importância crescente da norma sobre a lei, a ideia de que é
preciso definir o que normal do que é anormal.

Diante disso, MACHADO (APUD DELEUZE) pontua que essas sociedades disciplinares
estão sendo substituídas pelas sociedades de controle e que o cotidiano se transforma cada
vez mais em uma coleção de tarefas sem cor, sem sabor, sem cheiro. DELEUZE sugere que o
“poder sobre a vida” encontra-se diluído hoje na chamada “sociedade mundial de controle”,
entre o cruzamento da norma da disciplina e a norma da regulamentação, produzindo outros
mecanismos de poder. Biopoder e resistência lançam mão das mesmas estratégias relativas
aos espaços micropolíticos nos quais a vida é capturada e também ganha força, é inventada.
Surgem então os questionamentos bem colocados por ZAMORA: Como deixar que outras
forças nos atravessem? Quais as possibilidades de resistência dos corpos abúlicos, dos corpos
de vida nua? Como manter a alegria?

Podemos lançar mão então, nesse momento do pensamento de DELEUZE, que diz que
a única oportunidade dos homens está no devir revolucionário, o único que pode “conjurar a
vergonha ou responder ao intolerável”, na reativação dos saberes locais “minoritários”, sendo
preciso analisar os agenciamentos coletivos, promover acontecimentos que escapem ao
controle. BENEVIDES DE BARROS pontua que é preciso estar atento e sucitar as redes de
entrecruzamentos que se formam, de vários rizomas, composta por várias linhas(....) e que
operam transversalmente. “Acreditamos na possibilidade de não somente agir e reagir, como
de buscar caminhos diferenciados, sair desse lugar de sujeitos movidos por forças que
desconhece e dos especialismos detentores do saber dos caminhos do desejo.” CONDE.
Esses modos de subjetivação então segundo MACHADO,referem-se a essa prórpia
força de transformação, a esse devir, ao intempestivo, aos processos de dissolução das formas
dadas e cristalizadas. Sendo preciso todo um processo de desterritorialização, que é um
movimento de destruição dos territórios constituídos em processos de territorialização, onde
novos territórios seriam inventados. PARA DELEUZE nessa linha de fuga (desterritorialização)
podemos utilizar maquinas de guerra (movimentos revolucionários, artísticos), no intuito da
potencialização de devires e despolitização da vida. Dessa forma estaríamos dando vazão ao
potencial inventivo, ao “reconhecimento dos entrecruzamentos de pertencimentos e
referencias (sociais, econômicos, ideológicos e políticos) que atravessam nossa vidas.”
GUATARRI, a pratica dos “bons encontros”, em relações que venham a aumentar a nossa
potência” MACHADO, a conceber a subjetividade comprometida com a invenção de novas
possibilidades de vida, como salienta BARROS.
Sendo assim, a ideia da caixa de ferramentas, onde cada profissional constrói a sua
própria caixa e tenta abolir classificações hierarquizantes e produção de repetições (BARROS),
com os dispositivos-ferramentas, próprios, cada vez mais elaborados e ampliados, não se
restringindo aquelas que estão já habituados a usar, nos levam a rever também nossa forma
observar e pesquisar as realidades, deixando nos envolver e também sermos transformados.
Como bem afirma POZZANA , as estruturas são produzidas e produzem, são afetadas e
também afetam. Nesse sentido a visão de corpo aqui diferencia-se do corpo disciplinar
inicialmente citado no texto, pois por ele se faz presente a prática da cartografia, e é definido
como salienta LATOUR (in POZZANA) pelos afetos, pelos encontros que se tem com entidades
humanas e não humanas, pelas paixões que é capaz, uma trajetória dinâmica na qual
aprendemos a nos tornar sensíveis aquilo que o mundo é feito.

2) Processos de intervenção e Trabalho

Quando falamos de processos de intervenção em analise institucional, temos que ter


em mente que ela vai questionar o lugar dos trabalhadores como especialistas, capazes de
decifrar uma realidade quanto ao campo e objeto de estudos. LOURAU fala de uma analise
de impliação que segundo ele é um processo de reflexão sobre nossas múltiplas ligações
com as instituições. Intervir então para REGINA BENEVIDES é fazer um mergulho no plano
implicacional em que posições de quem conhece e do que é conhecido, de quem analisa e
do que é analisado se dissolvem na dinâmica da propagação das forças instituintes
características do processo de institucionalização.
DESPRET salienta que o experimentador, longe de se manter em segundo plano,
envolve-se: envolve seu corpo, envolve seu conhecimento, sua responsabilidade e seu
futuro. A prática do saber se transforma numa prática do importa-se. Pesquisar com o
outro nesse sentido para ele, implica tomá-lo como “alvo” de intervenções. Não se trata
de tomar o outro como um sujeito qualquer que responde as perguntas do pesquisador.
MORAES E KASTRUP nessa mesma linha narram a história da bailarina cega e nos fala da
necessidade de criar dispositivos de intervenção que nos engaje num processo de
transformação da reealidade e cita DESPRET quando ele trabalha no conceito do mal
entendido promissor que em suma cria uma nova versão possível do acontecimento.
Dito isso podemos pensar um pouco sobre o caráter que devem assumir nossas
práticas a luz do próprio pensando de MORAES E KASTRUP (APUD LAW , MOSER) que vão
pontuar que as práticas são performativas, e devem fazer existir realidades que não
estavam antes dadas e que não existem em nenhum outro lugar senão nestas e por estas
práticas. A intervenção para esses autores nos coloca diante do fato de que nossas
práticas não são neutras, elas constroem vetores que produzem realidades. Na Visão de
DELEUZE a “prática é um conjunto de revezamentos de uma teoria a outra e a teoria um
revezamento de uma prática a outra. Nenhuma teoria pode se desenvolver sem encontrar
uma espécie de muro e é preciso a prática para atravessar esse muro.”
O método cartográfico, de natureza política, nos possibilita essa intervenção ao nível do
vivido (analisadores), pois como afirma (TEDESCO, SADE, CALLIMAN) nele o caminho é
construído ao caminhar. Ela tira o pesquisador do papel meramente descritivo, “coletor de
dados”, e propõe o traçado pelo plano da experiência, acompanhando os efeitos (sobre o
objeto, o pesquisador e a produção de conhecimento) do próprio percurso de
investigação. PASSOS, KASTRUP, ESCOCIA. Transformar para conhecer, visando o aumento
do coeficiente de transversalidade, dando lugar aos espaços intermediários, as relações
entre as relações, tendo em vista que os grupos, as instituições, e as organizações são
redes de inter-relações.
BARROS nos diz que “Pensar o trabalho, supõe cartografá-lo”, e que o trabalho nos produz
e nos transforma, é gestionário por definição e se move, é elaborado coletivamente no
tempo e muda ao durar. Ela considera o “fator humano” e descreve a experiência que
prioriza a palavra do trabalhador, que se torna a principal estratégia de acesso ao modo
como se realizam as vivências subjetivas e intersubjetivas do trabalho. “Trabalhar é gerir,
é co-gerir.” BARROS. Nesse sentido CLOT pontua que a palavra está dentro da observação
e que a atividade realizada (trabalho) é o que se pode ver, observar, descrever como
também aquilo que não se pode fazer, que não se faz, que gostaríamos de ter feito. Em
suma, o que devemos tem em mente aqui é a experimentação, o rompimento com as
formas dadas e cristalizadas, um processo de aprendizagem e desaprendizagem
permanente e a invenção de novas possibilidades de vida.

3) Transversalidade

O entrecruzamento de pertencimentos e referências (sociais, econômicos, ideológicos,


políticos

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