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Márcio André Lopes Cavalcante

Julgado excluído por ter menor relevância para concursos públicos: RMS 30548/DF.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITOS POLÍTICOS
 Inconstitucionalidade das doações eleitorais feitas por pessoas jurídicas.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA


 Sindicância e delegação de competência.

DIREITO ELEITORAL
FINANCIAMENTO DE CAMPANHA ELEITORAL
 Inconstitucionalidade das doações feitas por pessoas jurídicas.

DIREITO PENAL
MAUS ANTECEDENTES
 Cinco anos após o cumprimento ou extinção da pena, a condenação pretérita ainda poderá ser utilizada como
maus antecedentes?

CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA (LEI 8.137/90)


 Dosimetria da pena.

DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITOS POLÍTICOS
Inconstitucionalidade das doações eleitorais feitas por pessoas jurídicas

As contribuições de pessoas jurídicas para campanhas eleitorais e partidos políticos são


inconstitucionais.
As contribuições de pessoas físicas são válidas e regulam-se de acordo com a lei em vigor.
STF. Plenário. ADI 4650/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 16 e 17/9/2015 (Info 799).

Para maiores informações, veja comentários em Direito Eleitoral.

Informativo 799-STF (24/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
Sindicância e delegação de competência

A competência constitucional do CNJ é autônoma (e não subsidiária).


É regular a designação de juiz auxiliar, seja ele originário do Judiciário estadual ou federal,
para a condução de sindicância, por delegação do Corregedor-Nacional de Justiça, ainda que o
investigado seja magistrado federal. A autoridade delegada atua em nome do CNJ, sendo
irrelevante, portanto, se é Juiz Estadual ou Federal.
STF. 2ª Turma. MS 28513/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 15/9/2015 (Info 799).

Imagine a seguinte situação adaptada:


O CNJ instaurou sindicância para apurar infração disciplinar que teria sido praticada por determinado
Desembargador Federal.
Na portaria que instaurou a sindicância, o Corregedor-Nacional de Justiça determinou que algumas
diligências fossem realizadas por um Juiz de Direito (juiz estadual) que atua no local onde os fatos
ocorreram, devendo ele ouvir as testemunhas e remeter os depoimentos ao CNJ.

Mandado de segurança
O Desembargador investigado impetrou mandado de segurança no STF contra o ato do CNJ invocando, em
síntese, duas teses:
1) A competência disciplinar do CNJ é subsidiária e, antes de o Conselho atuar, deveria ter sido dada
oportunidade para que o caso fosse apurado pela Corregedoria do TRF ao qual o Desembargador é vinculado;
2) As diligências determinadas pelo CNJ deveriam ter sido delegadas a um Juiz Federal, e não a um Juiz de
Direito, considerando que o CNJ é um órgão federal.

O STF acolheu os pedidos formulados no MS?


NÃO.

1) O STF já firmou posição no sentido de que a competência constitucional do CNJ é autônoma (e não
subsidiária).

2) É regular a designação de juiz auxiliar, seja ele originário do Judiciário estadual ou federal, para a
condução de sindicância, por delegação do Corregedor-Nacional de Justiça, ainda que o investigado seja
magistrado federal. A autoridade delegada atua em nome do CNJ, sendo irrelevante, portanto, se é Juiz
Estadual ou Federal.

Informativo 799-STF (24/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


DIREITO ELEITORAL
FINANCIAMENTO DE CAMPANHA ELEITORAL
Inconstitucionalidade das doações feitas por pessoas jurídicas

Importante!!!
As contribuições de pessoas jurídicas para campanhas eleitorais e partidos políticos são
inconstitucionais.
As contribuições de pessoas físicas são válidas e regulam-se de acordo com a lei em vigor.
STF. Plenário. ADI 4650/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 16 e 17/9/2015 (Info 799).

Contribuições para campanhas eleitorais e partidos políticos


A legislação eleitoral permite que pessoas físicas e pessoas jurídicas façam doações em dinheiro (ou em bens
estimáveis em dinheiro) para campanhas eleitorais e também para partidos políticos. Isso está previsto na Lei
nº 9.504/97 (conhecida como Lei das Eleições) e na Lei nº 9.096/95 (Lei dos Partidos Políticos).

Veja abaixo os dois principais artigos que tratam sobre o tema:

Lei nº 9.504/97 (Lei das Eleições):


Art. 81. As doações e contribuições de pessoas jurídicas para campanhas eleitorais poderão ser feitas a
partir do registro dos comitês financeiros dos partidos ou coligações.

Lei nº 9.096/95 (Lei dos Partidos Políticos):


Art. 39. Ressalvado o disposto no art. 31, o partido político pode receber doações de pessoas físicas e
jurídicas para constituição de seus fundos.

ADI 4650
O Conselho Federal da OAB ajuizou Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 4650) no STF pedindo que
sejam declarados inconstitucionais os dispositivos da legislação eleitoral (Leis nº 9.096/95 e nº 9.504/97)
que autorizam doações de empresas a candidatos e a partidos políticos.
Na ação, a entidade também pede que seja fixado um limite máximo para as doações feitas por pessoas físicas.
Para a OAB, existe uma infiltração do poder econômico nas eleições, o que gera graves distorções, como a
desigualdade política, na medida em que aumenta a influência dos mais ricos sobre o resultado dos pleitos
eleitorais, e, consequentemente, sobre a atuação do próprio Estado. Além disso, essa forte influência do
poder econômico inviabiliza a possibilidade de sucesso eleitoral dos candidatos que não têm patrimônio
para suportar os gastos de campanha nem acesso aos financiadores privados.

Qual foi o resultado do julgamento?


O STF julgou parcialmente procedente a ADI e entendeu que:
 os dispositivos legais que autorizam as contribuições de pessoas JURÍDICAS para campanhas eleitorais
e partidos políticos são inconstitucionais.
 por outro lado, as contribuições de pessoas FÍSICAS são válidas e podem continuar sendo feitas de
acordo com a legislação em vigor.

Veja abaixo o resumo dos principais argumentos utilizados pelo STF:

Violação ao regime democrático e à cidadania


Para o STF, as doações feitas por pessoas jurídicas para campanhas eleitorais não são compatíveis com o
regime democrático e com a cidadania.

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Pessoa jurídica não exerce cidadania
O exercício de cidadania, em sentido estrito, pressupõe três modalidades de atuação física:
a) o “jus sufragius”: direito de votar;
b) o “jus honorum”: o direito de ser votado; e
c) o direito de influir na formação da vontade política por meio de instrumentos de democracia direta
como o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular de leis.

Essas modalidades de exercício da cidadania são inerentes às pessoas naturais e, por isso, é desarrazoado
estendê-las para as pessoas jurídicas.

Doações feitas por pessoas jurídicas inflacionam os custos das campanhas


A participação de pessoas jurídicas apenas encarece o processo eleitoral, sem oferecer, como
contrapartida, a melhora e o aperfeiçoamento do debate.
Esse aumento dos custos de campanhas não é acompanhado do aprimoramento do processo político, com
a veiculação de ideias e de projetos pelos candidatos.
Na verdade, o que se observa é que os candidatos que gastam maiores recursos em suas campanhas
possuem, em geral, maior êxito nas eleições.

Desequilíbrio da competição e a violação do princípio da igualdade


A excessiva participação do poder econômico no processo político desequilibra a competição eleitoral e
viola a igualdade política entre candidatos. Isso acaba repercutindo na formação do quadro
representativo, ou seja, nas pessoas que são eleitas.
O êxito das eleições atualmente depende mais dos recursos despendidos nas campanhas do que das
plataformas e ideias políticas. Essa realidade é muito nociva porque faz com que grande parte da população
fique desestimulada a disputar os pleitos eleitorais já que não teria condições econômicas de ter sucesso.

Mesmo sem as doações de pessoas jurídicas, será possível a realização das campanhas
Vale ressaltar que o fim das doações feitas por pessoas jurídicas não prejudicará a sobrevivência dos
partidos políticos nem impedirá que os candidatos façam suas campanhas. Isso porque todos os partidos
políticos têm acesso ao fundo partidário e à propaganda eleitoral gratuita nos veículos de comunicação,
podendo assim promover suas ideais e propostas.

Não basta melhorar os mecanismos de controle dos financiamentos de campanha


Havia um argumento no sentido de que as doações de pessoas jurídicas deveriam continuar sendo
permitidas e que o mais importante seria melhorar os mecanismos de controle desse financiamento.
Tal argumentação foi afastada.
Entendeu-se que isso seria insuficiente para resolver o atual cenário, no qual o poder político mostra-se
atraído pelo poder econômico.

Mas as pessoas jurídicas poderão continuar doando para campanhas e partidos de forma escondida
("caixa dois")...
É verdade. Isso é possível. No entanto, tal realidade não pode servir como argumento para evitar que o
STF declare inconstitucionais as leis que autorizam a doação por pessoas jurídicas.
A possibilidade de que as empresas continuem a investir elevadas quantias — não contabilizadas (caixa dois) —
nas campanhas eleitorais não constitui empecilho para que o STF declare ser errado o atual modelo.

Violação à isonomia
O STF invocou ainda um último argumento para declarar inconstitucionais as doações por pessoas
jurídicas. Trata-se do fato de que o art. 24 da Lei das Eleições proíbe que determinadas pessoas jurídicas
façam doações. É o caso, por exemplo, das associações de classe, entidades sindicais e entidades do

Informativo 799-STF (24/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4


terceiro setor. Como resultado dessa proibição, o que se observava, na prática, é que apenas as empresas
privadas (que se destinam ao lucro) faziam doações. Isso representava um tratamento desigual entre as
próprias pessoas jurídicas, já que as empresas privadas poderiam doar e as entidades sem fins lucrativos e
os sindicatos não.

Dispositivos declarados inconstitucionais:


O STF declarou inconstitucionais:
 o art. 23, §1º, I e II; o art. 24; e o art. 81, “caput” e § 1º, da Lei nº 9.504/97 (Lei das Eleições), que
tratam de doações a campanhas eleitorais por pessoas físicas e jurídicas, no ponto em que cuidam de
doações por pessoas jurídicas.
 o art. 31; o art. 38, III; o art. 39, “caput” e § 5º, da Lei nº 9.096/95 (Lei Orgânica dos Partidos Políticos),
que regulam a forma e os limites em que serão efetivadas as doações aos partidos políticos, também
exclusivamente no que diz respeito às doações feitas por pessoas jurídicas.

Votos vencidos
Ficaram vencidos os Ministros Teori Zavascki, Gilmar Mendes e Celso de Mello.

Modulação dos efeitos


O STF cogitou modular os efeitos da decisão, fazendo com que ela somente produzisse efeitos daqui a
alguns anos. No entanto, não foi atingido o número mínimo de votos necessários para a modulação
(segundo o art. 27 da Lei nº 9.868/99, exige-se o voto de 2/3 dos membros do STF - 8 Ministros - para que
haja a modulação dos efeitos).
Assim, a presente decisão já se aplica para as eleições de 2016. O STF afirmou também que a decisão já
vale independentemente da publicação do acórdão (algo que não é ordinário, comum, de acontecer).
Em outras palavras, nas próximas eleições (em 2016 e nas seguintes) já não mais serão permitidas doações
de pessoas jurídicas para as campanhas eleitorais e para os partidos políticos.

DIREITO PENAL

MAUS ANTECEDENTES
Cinco anos após o cumprimento ou extinção da pena, a condenação pretérita ainda poderá ser
utilizada como maus antecedentes?

A existência de condenação anterior, ocorrida em prazo superior a cinco anos, contado da


extinção da pena, poderá ser considerada como maus antecedentes? Após o período
depurador, ainda será possível considerar a condenação como maus antecedentes?
1ª corrente: SIM. Posição do STJ.
2ª corrente: NÃO. Posição do STF.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 323.661/MS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 01/09/2015.
STF. 2ª Turma. HC 126315/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/9/2015 (Info 799).

O que é reincidência?
A definição de reincidência, para o Direito Penal brasileiro, é encontrada a partir da conjugação do art. 63
do CP com o art. 7º da Lei de Contravenções Penais.

Com base nesses dois dispositivos, podemos encontrar as hipóteses em que alguém é considerado
reincidente para o Direito Penal (inspirado no quadro contido no livro de CUNHA, Rogério Sanches.
Manual de Direito Penal. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 401):
Informativo 799-STF (24/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5
Se a pessoa é condenada E depois da condenação Qual será a consequência?
definitivamente por definitiva pratica novo(a)
CRIME
CRIME REINCIDÊNCIA
(no Brasil ou exterior)
CRIME CONTRAVENÇÃO
REINCIDÊNCIA
(no Brasil ou exterior) (no Brasil)
CONTRAVENÇÃO CONTRAVENÇÃO
REINCIDÊNCIA
(no Brasil) (no Brasil)
NÃO HÁ reincidência.
CONTRAVENÇÃO
CRIME Foi uma falha da lei.
(no Brasil)
Mas gera maus antecedentes.
NÃO HÁ reincidência.
CONTRAVENÇÃO
CRIME ou CONTRAVENÇÃO Contravenção no estrangeiro
(no estrangeiro)
não influi aqui.

A reincidência é uma agravante da pena


Se o réu for reincidente, sofrerá diversos efeitos negativos no processo penal.
O principal deles é que, no momento da dosimetria da pena em relação ao segundo delito, a reincidência
será considerada como uma agravante genérica (art. 61, I do CP), fazendo com que a pena imposta seja
maior do que seria devida caso ele fosse primário.
Art. 61. São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime:
I — a reincidência;

Os efeitos negativos da reincidência duram para sempre?


NÃO. Os efeitos deletérios da reincidência perduram pelo prazo máximo de cinco anos, contados da data
do cumprimento ou da extinção da pena. Após esse período, ocorre a caducidade da condenação anterior
para fins de reincidência. É o que afirma o art. 64, I, do CP:
Art. 64. Para efeito de reincidência:
I — não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a
infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o período de
prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação;

Assim, diz-se que, em tema de reincidência, o Código Penal adota o sistema da temporariedade, uma vez
que os efeitos negativos da reincidência duram apenas por determinado período de tempo.

O prazo de 5 anos em que a reincidência ainda vigora é chamado de “período depurador”.

Curiosidade: na redação original do Código Penal (antes da Reforma de 1984), vigorava o sistema da
perpetuidade, ou seja, os efeitos negativos da reincidência duravam para sempre.

Exemplo:
Douglas praticou um furto, foi condenado e terminou de cumprir sua pena em 02/02/2010. Em
03/03/2015, ele comete um outro crime. No julgamento desse segundo delito, Douglas não poderá ser
considerado reincidente, porque já se passaram mais de cinco anos desde o dia em que terminou de
cumprir a pena pelo primeiro crime.

Informativo 799-STF (24/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6


Assim, após o prazo de cinco anos, não poderá mais ser considerado reincidente. Contudo, essa
condenação anterior poderá ser valorada como maus antecedentes? Após o período depurador, ainda
será possível considerar a condenação como maus antecedentes?
SIM. Posição do STJ NÃO. Posição do STF
Para o entendimento pacificado no STJ, mesmo A existência de condenação anterior, ocorrida em
ultrapassado o lapso temporal de cinco anos, a prazo superior a cinco anos, contado da extinção
condenação anterior transitada em julgado pode da pena, também não poderá ser considerada
ser considerada como maus antecedentes, nos como maus antecedentes.
termos do art. 59 do CP. Após o prazo de cinco anos previsto no art. 64, I,
do CP, cessam não apenas os efeitos decorrentes
“Apesar de desaparecer a condição de reincidente, da reincidência, mas também qualquer outra
o agente não readquire a condição de primário, valoração negativa por condutas pretéritas
que é como um estado de virgem, que, violado, praticadas pelo agente.
não se refaz. A reincidência é como o pecado Ora, se essas condenações não mais servem para o
original: desaparece, mas deixa sua mancha, efeito da reincidência, com muito maior razão não
servindo, por exemplo, como antecedente devem valer para fins de antecedentes criminais.
criminal (art. 59, caput)” (BITENCOURT, Cezar “O homem não pode ser penalizado eternamente
Roberto. Código Penal Comentado. São Paulo: por deslizes em seu passado, pelos quais já tenha
Saraiva, 2007, p. 238). sido condenado e tenha cumprido a reprimenda
que lhe foi imposta em regular processo penal.
Faz ele jus ao denominado ‘direito ao
esquecimento’, não podendo perdurar
indefinidamente os efeitos nefastos de uma
condenação anterior, já regularmente extinta.”
(Min. Dias Toffoli).
Esse lapso de cinco anos é chamado de "período
depurador".
Reincidência: sistema da temporariedade. Tanto a reincidência como os maus antecedentes
Maus antecedentes: sistema da perpetuidade. obedecem ao sistema da temporariedade.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 323.661/MS, Rel. Min. STF. 1ª Turma. HC 119200, Rel. Min. Dias Toffoli,
Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 01/09/2015 julgado em 11/02/2014.
STJ. 6ª Turma. HC 240.022/SP, Rel. Min. Maria STF. 2ª Turma. HC 126315/SP, Rel. Min. Gilmar
Thereza de Assis Moura, julgado em 11/03/2014. Mendes, julgado em 15/9/2015 (Info 799).

Obs.1: o tema será pacificado pelo STF no RE 593818 RG, que foi afetado para julgamento pelo Plenário
sob a sistemática da repercussão geral.

Obs.2: cuidado. Alguns livros de Direito Penal fornecem uma explicação em sentido contrário ao que vem
sendo decidido pelo STF.

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CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA (LEI 8.137/90)
Dosimetria da pena

Determinado réu foi condenado por sonegação fiscal (art. 1º, I, da Lei 8.137/90).
O STF considerou correta a sentença do juiz que, na 1ª fase da dosimetria da pena, aumentou a
pena-base com fundamento em dois argumentos:
1) Na análise das circunstâncias, o magistrado aumentou a pena sob a alegação de que o réu
omitiu seu nome do quadro societário da empresa com o objetivo de esconder que era ele
quem realmente administrava a empresa.
O STF afirmou que o ardil utilizado pelo réu (omissão do seu nome do quadro societário da
empresa) teve como objetivo acobertar sua real condição de administrador da empresa
investigada e, com isso, furtar-se de possível aplicação da lei penal. Essa omissão do nome do
réu no quadro societário não é a mesma omissão de que trata o inciso I do art. 1º.
A omissão que é elementar do tipo é a omissão para suprimir ou reduzir tributo. A omissão do
nome do réu foi para evitar que ele fosse descoberto. Logo, punir a omissão do nome do réu
não significa punir o condenado duas vezes pelo mesmo fato.
2) No exame das consequências do crime, o juiz também majorou a pena argumentando que o
crime praticado gerou um grande prejuízo ao erário (mais de 2 milhões de reais), o que
autorizaria a elevação da pena-base. Segundo entende o STF, em se tratando de infrações
penais contra a ordem tributária, a extensão do dano causado pode ser invocada na 1ª fase da
dosimetria como critério para exasperação da pena-base, sem que tanto implique bis in idem.
STF. 2ª Turma. HC 128446/PE, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 15/9/2015 (Info 799).

Critério trifásico
A dosimetria da pena na sentença obedece a um critério trifásico:
1º passo: o juiz calcula a pena-base de acordo com as circunstâncias judiciais do art. 59, CP;
2º passo: o juiz aplica as agravantes e atenuantes;
3º passo: o juiz aplica as causas de aumento e de diminuição.

Primeira fase (circunstâncias judiciais)


Na primeira fase, as chamadas circunstâncias judiciais analisadas pelo juiz são as seguintes:
a) culpabilidade, b) antecedentes, c) conduta social, d) personalidade do agente, e) motivos do crime, f)
circunstâncias do crime, g) consequências do crime, h) comportamento da vítima.

Imagine agora a seguinte situação hipotética:


João foi condenado por sonegação fiscal (art. 1º, I, da Lei 8.137/1990):
Art. 1º Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e
qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:
I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias;

Na 1ª fase da dosimetria (circunstâncias judiciais), o juiz aumentou a pena-base fundamentando essa


decisão em dois argumentos:

1º) Na análise das circunstâncias, o magistrado aumentou a pena sob a alegação de que o réu omitiu seu
nome do quadro societário da empresa com o objetivo de esconder que era ele quem realmente
administrava a empresa.

2º) No exame das consequências do crime, o juiz também majorou a pena argumentando que o crime
praticado gerou um grande prejuízo ao erário (mais de 2 milhões de reais), o que autorizaria a elevação da
pena-base.

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A defesa questionou essa dosimetria.

Segundo sustentou a defesa, quando o magistrado aumentou a pena pelo fato de o réu ter omitido seu
nome do quadro societário, houve bis in idem. Isso porque "omitir informação" é uma elementar do crime
do art. 1º, I. Assim, se é uma elementar do tipo penal, não pode servir para aumentar a pena-base.

Quanto ao segundo aumento, a defesa afirmou que o montante do prejuízo ao erário não serve para
majorar a pena.

O juiz poderia ter aumentado a pena-base com fundamento na omissão do nome do réu do quadro
societário?
SIM. O STF afirmou que o ardil utilizado pelo réu (omissão do seu nome do quadro societário da empresa)
teve como objetivo acobertar sua real condição de administrador da empresa investigada e, com isso,
furtar-se de possível aplicação da lei penal. Essa omissão do nome do réu no quadro societário não é a
mesma omissão de que trata o inciso I do art. 1º.
A omissão que é elementar do tipo é a omissão para suprimir ou reduzir tributo. A omissão do nome do
réu foi para evitar que ele fosse descoberto.
Logo, punir a omissão do nome do réu não significa punir o condenado duas vezes pelo mesmo fato.
O ardil considerado, portanto, não seria aquele inerente ao tipo penal do crime contra a ordem tributária.

O juiz poderia ter aumentado a pena-base com fundamento no valor do prejuízo?


SIM. Em se tratando de infrações penais contra a ordem tributária, a extensão do dano causado pode ser
invocada na 1ª fase da dosimetria como critério para exasperação da pena-base, sem que tanto implique
bis in idem.

JULGADOS NÃO COMENTADOS


Anistia e regime celetista
A Primeira Turma negou provimento a recurso ordinário em mandado de segurança em que servidores
anistiados pleiteavam o reingresso ao serviço público em regime estatutário. No caso, os recorrentes,
anistiados pela Lei 8.878/1994, teriam questionado ato que determinara o retorno ao serviço público, em
quadro especial em extinção do Ministério das Cidades, sob o regime celetista. A Turma afirmou que a
possibilidade de transformação de empregos em cargos públicos não garantiria amparo automático à
pretensão dos recorrentes. Ressaltou que a Lei 8.878/1994 dera tratamento especial aos casos de
exoneração, demissão ou dispensa em virtude de o tomador dos serviços haver sido extinto, liquidado ou
privatizado. O benefício previsto na citada lei ficara jungido à transferência, absorção ou execução da
atividade do órgão extinto por outro da Administração Pública Federal. Enfatizou que o reingresso nos
quadros do Poder Executivo não implicaria necessária submissão ao estatuto dos servidores públicos
federais. Na situação concreta, a manutenção do regime celetista resultaria das características originais dos
vínculos rompidos. Salientou que isso se dera em atenção às normas que regulamentaram a anistia, as
quais teriam previsto a observância do cargo ou emprego anteriormente ocupado (Lei 8.878/1994, art. 2º e
Decreto 6.077/2007). Ademais, descaberia atribuir natureza autárquica à extinta Empresa Brasileira de
Transportes Urbanos – EBTU, simplesmente em razão das atividades por ela desempenhadas. A entidade
teria sido expressamente qualificada como empresa pública, consoante previsão do art. 5º da Lei
6.291/1975, dotada, portanto, de personalidade jurídica de direito privado e, consequentemente,
submetidas à CLT. O Ministro Edson Fachin consignou que a adoção do regime estatutário violaria,
também, o princípio do concurso público.
RMS 30548/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 15.9.2015.

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OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 14 a 18 de setembro de 2015

REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 901.963-SC


RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. EXECUÇÃO DE SENTENÇA CONDENATÓRIA
GENÉRICA PROFERIDA EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA AJUIZADA POR ASSOCIAÇÃO. LEGITIMIDADE ATIVA. LIMITES DA COISA
JULGADA. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. A presente demanda consiste em execução individual de sentença proferida em ação civil pública. O recurso extraordinário suscita a ilegitimidade
ativa dos exequentes, ao argumento de que não deram autorização individual e específica à associação autora da demanda coletiva para os
representarem no processo de conhecimento, tampouco demonstraram sua condição de associados. Alega-se ofensa ao art. 5º, XXI e XXXVI, da
Constituição, bem como ao precedente do Plenário do Supremo Tribunal Federal formado no julgamento do RE 573.232/SC.
2. Ocorre que, conforme atestaram as instâncias ordinárias, no dispositivo da sentença condenatória genérica proferida no processo de conhecimento
desta ação civil pública, constou expressamente sua aplicabilidade a todos os poupadores do Estado de Santa Catarina. Assim, o fundamento da
legitimidade ativa para a execução, no caso, dispensa exame sobre a necessidade de autorização das associações para a representação de seus
associados. Em verdade, o que está em jogo é questão sobre limites da coisa julgada, matéria de natureza infraconstitucional cuja repercussão geral,
inclusive, já foi rejeitada por esta Corte em outra oportunidade (ARE 748.371-RG, Rel. Min. GILMAR MENDES, DJe de 1º/8/2013).
3. Outrossim, ao tratar dos limites subjetivos de sentença condenatória genérica proferida nos autos de ação civil pública ajuizada por associação, o
Tribunal de origem valeu-se de disposições da Lei 7.347/85 e do Código de Defesa do Consumidor, cujo exame é inviável em recurso extraordinário.
4. É cabível a atribuição dos efeitos da declaração de ausência de repercussão geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada ou quando
eventual ofensa à Carta Magna ocorra de forma indireta ou reflexa (RE 584.608-RG, Rel. Min. ELLEN GRACIE, DJe de 13/3/2009).
5. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos termos do art. 543-A do CPC.
Decisões Publicadas: 1

CLIPPING DO D JE
14 a 18 de setembro de 2015

ADI N. 3.926-SC
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
PROJETO DE LEI – INICIATIVA EXCLUSIVA DO EXECUTIVO – EMENDA PARLAMENTAR – DESVIRTUAMENTO. A ausência de
pertinência temática de emenda da casa legislativa a projeto de lei de iniciativa exclusiva do Executivo leva a concluir-se pela inconstitucionalidade
formal.
CARGO PÚBLICO – PROVIMENTO – INADEQUAÇÃO. A teor do Verbete nº 685 da Súmula do Supremo, “é inconstitucional toda modalidade de
provimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia aprovação em concurso público, em cargo que não integra a carreira na qual
anteriormente investido”.
*noticiado no Informativo 793
AG. REG. NO ARE N. 903.790-RJ
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO
TRIBUTÁRIO. MATÉRIA COM REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA E JULGADA. RE 566.621 (REL. MIN. ELLEN GRACIE).
ACÓRDÃO RECORRIDO CONFORME O PRECEDENTE. PREVIDÊNCIA PRIVADA. IMPOSTO DE RENDA. RESGATE. REPETIÇÃO DE
INDÉBITO. PRESCRIÇÃO. VERIFICAÇÃO. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. INCIDÊNCIA DE IMPOSTO DE RENDA SOBRE
BENEFÍCIO DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR APÓS A LEI 9.250/95. EVENTUAL OFENSA REFLEXA NÃO VIABILIZA O MANEJO
DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ART. 102 DA LEI MAIOR. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM 06.05.2015.
1. Ao exame do RE 566.621, Rel. Min. Ellen Gracie, esta Suprema Corte declarou a inconstitucionalidade do art. 4º, segunda parte, da LC 118/2005,
considerando válida a aplicação do novo prazo prescricional de 5 anos tão somente às ações ajuizadas após o decurso da vacatio legis de 120 dias, ou
seja, a partir de 9 de junho de 2005. O entendimento adotado pela Corte de origem não divergiu dessa orientação.
2. A controvérsia não alcança estatura constitucional. Não há falar em afronta aos preceitos constitucionais indicados nas razões recursais.
Compreender de modo diverso exigiria a análise da legislação infraconstitucional encampada na decisão da Corte de origem, a tornar oblíqua e
reflexa eventual ofensa, insuscetível, como tal, de viabilizar o conhecimento do recurso extraordinário. Desatendida a exigência do art. 102, III, “a”,
da Lei Maior, nos termos da remansosa jurisprudência desta Suprema Corte.
3. As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada.
4. Agravo regimental conhecido e não provido.
AG. REG. NA AC N. 932-AP
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NA AÇÃO CAUTELAR. CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. FINANCEIRO. INSCRIÇÃO DE
ESTADO-MEMBRO EM CADASTRO DE INADIMPLENTES. TOMADA DE CONTAS ESPECIAL. ATOS DECORRENTES DE GESTÕES

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ANTERIORES. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA SUBJETIVA DAS SANÇÕES. PRECEDENTES. INEXISTÊNCIA
DE OFENSA AO PRINCÍPIO COLEGIADO. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. O princípio da intranscendência subjetiva das sanções, consagrado pela Corte Suprema, inibe a aplicação de severas sanções às administrações por
ato de gestão anterior à assunção dos deveres Públicos. Precedentes: ACO 1.848-AgR, rel. Min. Celso Mello, Tribunal Pleno, DJe de 6/11/2014;
ACO 1.612-AgR, rel. Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, DJe de 12/02/2015.
2. É que, em casos como o presente, o propósito é de neutralizar a ocorrência de risco que possa comprometer, de modo grave e/ou irreversível, a
continuidade da execução de políticas públicas ou a prestação de serviços essenciais à coletividade.
3. A tomada de contas especial é medida de rigor com o ensejo de alcançar-se o reconhecimento definitivo de irregularidades, permitindo-se, só então,
a inscrição do ente nos cadastros de restrição ao crédito organizados e mantidos pela União. Precedentes: ACO 1.848-AgR, rel. Min. Celso Mello,
Tribunal Pleno, DJe de 6/11/2014; AC 2.032, Rel. Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, DJe de 20/03/2009.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO RHC N. 126.853-SP
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: CONSTITUCIONAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM RHC. CRIME DE PORNOGRAFIA INFANTIL (ART. 241, CAPUT, DA
LEI N. 8.069/90, COM A REDAÇÃO DADA PELA LEI N. 10.764/03). TESTEMUNHA DESCONHECEDORA DOS FATOS E DO RÉU. INDEFERIMENTO DA
OITIVA. DECISÃO FUNDAMENTADA (ARTIGO 400, § 1º, DO CPP): TESTEMUNHA HABILITADA EM INFORMÁTICA E/OU DIREITO ELETRÔNICO.
OPORTUNIDADE DE JUNTADA DE DOCUMENTO PERTINENTE A TAIS CONHECIMENTOS TÉCNICOS. AUSÊNCIA DE AFRONTA À AMPLA DEFESA.
DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGA SEGUIMENTO A PEDIDO OU RECURSO EM CONTRARIEDADE COM A JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL (ARTIGOS
21, § 1º, E 192 DO RISTF). PRECEDENTES.
1. O princípio do livre convencimento racional, previsto no § 1º do art. 400 do CPP, faculta ao juiz o indeferimento das provas consideradas
irrelevantes, impertinentes ou protelatórias. Precedentes: HC 106.734, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, 1ª Turma, DJe de 04/05/20110; HC nº
106.734/PR, Primeira Turma, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, DJe 4/5/11; HC 108.961, Rel. Min. Dias Toffoli, 1ª Turma, DJe de
08/08/2012; AI nº 741.442/SP-AgR, Primeira Turma, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, DJe de 15/6/11; AI nº 794.090/SP-AgR, Segunda
Turma, Relator o Ministro Gilmar Mendes, DJe de 10/2/11; e AI nº 617.818/SP-AgR, Primeira Turma, Relator o Ministro Dias Toffoli, DJe de
22/11/10 e RHC 115.133/DF, rel. Min. Luiz Fux.
2. In casu, o recorrente foi condenado a 2 anos e 11 meses de reclusão pela prática do crime de pornografia infantil (art. 241, caput, da Lei n. 8.069/90
com a redação dada pela Lei n. 10.764/03), sendo que a defesa arrolara três testemunhas, das quais duas figuraram como assistentes técnicos, restando
apenas uma como testemunha na acepção do termo, tendo o magistrado indeferido sua oitiva, fundado em que “versaria exclusivamente sobre
matéria de informática e/ou direito eletrônico”, uma vez que não detinha conhecimento dos fatos e, por não conhecer o réu, não apresentaria
informações relativas aos seus antecedentes, ressalvando, contudo, que o teor do seu relato, adstrito a conhecimentos técnicos em informática e/ou
direito eletrônico, poderia ser documentado nos autos, à critério da defesa.
3. Deveras, tendo o magistrado indeferido fundamentadamente a oitiva, não cabe a esta Corte imiscuir-se em seu juízo de conveniência para aferir se
a oitiva da testemunha era pertinente ou não ao interesse da defesa.
4. Os artigos 21, § 1º, e 192, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, preveem a atuação monocrática ao possibilitarem ao Relator negar
seguimento a recurso ou pedido manifestamente contrário à jurisprudência do Tribunal ou a concessão de habeas corpus quando houver entendimento
pacificado no sentido da tese exposta.
5. A ratio essendi desse entendimento, longe de constituir afronta ao princípio do colegiado, busca evitar o assoberbamento das Turmas e do Pleno
com matérias pacificadas, cabendo ressaltar ainda a possibilidade de a parte interpor agravo regimental caso entenda que o decisum monocrático lhe
causou prejuízo, prestigiando-se o princípio da ampla defesa (RTJ 181/1133-1134, Rel. Min. CARLOS VELLOSO – AI 159.892-AgR/SP, Rel. Min.
CELSO DE MELLO, entre outros).
6. Agravo regimental no recurso ordinário em habeas corpus desprovido.
RHC N. 121.075-AL
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: CONSTITUCIONAL, PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. HOMICÍDIOS TRIPLAMENTE
QUALIFICADOS - ART. 121, § 2º, INC. I, IV E V (QUATRO VEZES), C/C OS ARTS. 29 E 69. CASO CECI CUNHA. RÉU SOLTO DURANTE OS TREZE ANOS
DE TRÂMITE DA AÇÃO PENAL. PRISÃO PREVENTIVA DECRETADA NA SENTENÇA. POSSIBILIDADE: ARTIGOS 387, § 1º, E 492, I, E, DO CPP.
GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. GRAVIDADE CONCRETA DOS CRIMES, PERICULOSIDADE E PROPENSÃO AO CRIME. BASES EMPÍRICAS IDÔNEAS.
EXCESSO DE PRAZO DA INSTRUÇÃO CRIMINAL. TEMA NÃO SUSCITADO NO TRIBUNAL A QUO. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. SAÚDE DEBILITADA.
DEVER DE ASSISTÊNCIA MÉDICA DO ESTADO.
1. A prisão preventiva pode ser decretada na sentença condenatória, conforme previsto nos artigos 387, § 1º, e 492, inciso I, alínea e, do Código de
Processo Penal, este último com a redação conferida pela Lei n. 11.689/2008, restando de somenos importância o fato de o réu ter permanecido solto
durante a instrução criminal, máxime quando demonstrados, como in casu, elementos concretos que a justifique.
2. A gravidade in concreto do crime, revelada pelo modus operandi, e a propensão à reiteração delituosa constituem fundamentos idôneos à
determinação da custódia cautelar para a garantia da ordem pública (HC 103.716, Relator Min. Luiz Fux, 1ª Turma, julgado em 2/8/2011; HC
104.699/SP, 1ª Turma, Relatora a Ministra Cármen Lúcia, DJe de 23.11.10; HC 103.107/MT, 1ª Turma, Relator o Ministro Dias Toffoli, DJe de
29.11.10; HC 101.717, Relator o Ministro Luiz Fux, 1ª Turma, DJe de 14/9/2011; HC 103.716, Relator o Ministro Luiz Fux, 1ª Turma, julgado em
2/8/2011).
3. O título condenatório superveniente justifica a prisão cautelar, mormente quando da dosimetria da pena o Magistrado destaca outros fatos que
demonstram a periculosidade exacerbada do paciente, o desprezo pela vida humana e o egoísmo na busca de seus ideais, in verbis:
“- […] o acusado é portador de personalidade talhada para o crime. Desprovido de sensibilidade e sem qualquer resquício de respeito pelo ser
humano; o acusado, segundo os depoimentos colhidos nos autos, sempre se referiu à prática de homicídios com aberrante naturalidade […].
- […] Segundo depoimento prestado por Maurício Guedes às fls. 43/51, o acusado mencionou sem qualquer pudor moral a intenção de matar outras
pessoas, mostrando-se ainda indiferente à morte de seus companheiros de coligação partidária ao revelar que seu único objetivo era assumir o
mandato como Deputado Federal, independentemente do tipo de violência necessária a tal fim.
- […] A personalidade predisposta a práticas criminosas se extrai do fato de o acusado estar determinado a eliminar qualquer um dos deputados
eleitos por sua coligação, exigindo a morte de todos os presentes na ação, mas também no fato de estimular o homicídio de pessoas cuja morte não
lhe interessaria.
- […] deflui-se que sua personalidade egoística e antiética impede que o acusado enxergue na vida humana valor superior a seus interesses pessoais
mais elementares. Tal embotamento do senso moral torna o acusado pessoa capaz de práticas perversas tais quais aquelas que motivaram a presente
ação penal, sem o mínimo traço de remorso ou hesitação.
- […] Também há nos autos a notícia de que o acusado teria ameaçado matar qualquer de seus assessores cujo comportamento fosse considerado
inadequado aos seus interesses.
- […] Em relação aos motivos, os elementos colhidos ao longo da instrução indicam que a ação do acusado foi movida não somente pelo desejo de
garantir o exercício do mandato de deputado federal inalcançado [por] meios legítimos, o que por si somente seria suficiente para configurar a

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torpeza do motivo, mas também de extrair do exercício do cargo vantagens ilícitas, exigindo pagamento em dinheiro em troca de votos nas sessões
da Câmara dos Deputados.”
4. In casu, por fatos ocorridos em 16/12/1998 (caso Ceci Cunha), o paciente, juntamente com outros corréus, foi condenado à pena de 103 (cento e
três) anos e 4 (quatro) meses de reclusão, em regime inicial fechado, pela prática do crime tipificado no art. 121, § 2º, incisos I e IV, (homicídio
qualificado mediante paga ou promessa de recompensa ou outro motivo torpe, e mediante a traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro
recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima) e pelo crime previsto no art. 121, § 2º, incisos I, IV e V (homicídio qualificado mediante
paga ou promessa de recompensa ou outro motivo torpe, e mediante a traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte
ou torne impossível a defesa da vítima e para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime), na forma dos artigos 29 e
69, todos do Código Penal.
5. A sentença condenatória, proferida em 19/01/2012, revela-se harmônica com a jurisprudência desta Corte no tópico da prisão preventiva para
garantia da ordem publica ao assentar a periculosidade in concreto, o modus operandi do crime e a propensão delituosa como fatores idôneos e
justificadores da medida extrema de cerceio ante tempus da liberdade, qual se infere facilmente dos seguintes trechos:
“- […] há hipóteses excepcionais, nas quais a violência e gravidade dos crimes imputados aos réus geram tamanho clamor popular, que a
manutenção dos condenados em liberdade põe em risco a ordem pública e recomendam a prisão, nos termos do artigo 312 do CPP,
independentemente de primariedade ou bons antecedentes dos condenados.
- Não bastasse a violência dos crimes e sua repercussão social a exigir a prisão como forma de garantir a ordem pública, a espera de mais de treze
anos para o julgamento da Corte soberana é, por si só, suficiente para revestir de total ilegalidade a prisão dos condenados.
[...]
- Com efeito, em rumoroso caso de homicídio passional atribuído ao jornalista Pimenta Neves, o Supremo Tribunal Federal entendeu que o longo
período decorrido entre o seu julgamento pelo Tribunal do Júri de São Paulo (cerca de onze anos), em razão da sucessiva interposição de recursos
por parte do réu, ainda que legítimos, imporia a imediata execução da pena privativa de liberdade, independentemente do trânsito em julgado.
- Situação esta que muito se assemelha ao caso em perspectiva, porquanto na presente ação penal os réus lançaram mão de todos os recursos
disponíveis, inclusive habeas corpus, levando suas irresignações às mesas de julgamento do STJ e STF, sem que até o momento atual possa-se falar
definitivamente da pronúncia.
- Aliás, aqui, o tempo que medeia entre o crime e a reunião do Tribunal do Júri é ainda maior do que no citado precedente do STF, eis que já se
passaram treze anos dos fatos descritos na denúncia, sem que a sentença de pronúncia haja transitado em julgado em razão do hábil manejo dos
recursos generosamente admitidos pela legislação processual.
- Essa similitude, inclusive, trouxe este caso aos debates que se seguiram ao voto do Ministro Celso de Melo (Relator do AI 7965677 AgR), quando o
Ministro Gilmar Mendes citou expressamente o homicídio da Deputada Federal Ceci Cunha como hipótese excepcional em que deveria ser admitida
a prisão dos réus, independentemente do trânsito em julgado da sentença condenatória.
- As semelhanças entre os casos são evidentes, sendo os fatos que embasam a presente demanda, inclusive, ainda mais graves. No caso ora utilizado
como paradigma, o autor agiu só, deixando uma única vítima; aqui, foram múltiplos agentes e quatro foram os mortos, entre estes uma Deputada
Federal, ao passo que no paradigma uma jovem foi assassinada em crime passional, aqui, exterminou-se uma família com o objetivo de garantir a
assunção de poder político. No paradigma, o uso dos recursos cabíveis gerou uma demora de cerca de dez anos, enquanto aqui mais de treze.
- Assim, ao considerar, no caso paradigma, que a excessiva demora ocasionada pelo uso de meios processuais legítimos, associada à gravidade dos
fatos levados a julgamento configuraram situação extraordinária o suficiente para excepcionar entendimento firme, sufragado pelo Plenário da
Suprema Corte desde 2009, o STF claramente sinalizou no sentido de admitir a prisão preventiva dos autores da chacina que vitimou a Deputada
Federal Ceci Cunha e seus familiares.
- Em face do exposto, seguindo o entendimento adotado pelo Supremo Tribunal Federal nos autos do AI 7965677 AgR e utilizando os argumentos
acima para todos os réus, tenho por bem decretar a prisão preventiva de JADIELSON BARBOSA DA SILVA; JOSÉ ALEXANDRE DOS SANTOS;
ALÉCIO CEZAR ALVES VASCO; MENDONÇA MEDEIROS E PEDRO TALVANE LUÍS GAMA ALBUQUERQUE NETO.”
6. O tema atinente ao excesso de prazo da instrução criminal não passou pelo crivo do Tribunal a quo, por isso que sua análise neste writ traduz
indevida supressão de instância. A análise da questão ex officio resta inviabilizada ante a necessidade da colheita de informações ao juízo processante
e ao Tribunal Regional Federal da 5ª Região, a fim de verificar, com prudência, a responsabilidade pela mora processual. Demais disso, não é crível
que a anormal tramitação do processo, por longos treze anos, se deva apenas às dificuldades materiais do Poder Judiciário, impondo-se sindicar a
responsabilidade de tal excesso pelo cotejo das razões da impetração com as informações dos órgãos judicantes envolvidos diretamente; isso, diga-se
de passagem, nas instâncias competentes, e não diretamente nesta Corte.
7. No que tange à questão de saúde debilitada do paciente, supõe-se que o Estado lhe preste, como a tantos em idêntica situação, a assistência médica
de que necessita.
8. Recurso ordinário em habeas corpus conhecido em parte e, nessa extensão, desprovido.
AG. REG. NO MI N. 6.326-DF
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
E M E N T A : A G R A V O R E G IM E N T A L N O M A N D A D O D E IN J U N Ç Ã O . C O N S T IT U C IO N A L E AD M IN IS T R A T IV O .
A P O S E N T A D O R I A E S P E C I A L D E S E R V ID O R P Ú B L IC O P O R T A D O R D E D E F IC IÊ N C I A . O R IE N T A Ç Ã O
J U R IS P R U D E N C IA L CORRENTE NESTA CORTE PELA APLICABILIDADE DA LE I COMPLEMENTAR 142/2013 ATÉ QUE
SOBREVENHAM AS LEIS COMPLEMENTARES QUE REGULAMENTEM O ART. 40, § 4º, DA CONSTITUIÇÃO. PRECEDENTES DO STF.
PERMANÊNCIA DO DEVER DA AUTORIDADE ADMINISTRATIVA COMPETENTE PARA A CONCESSÃO DA APOSENTADORIA DE
VERIFICAR O PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS NO CASO CONCRETO. LIMITES OBJETIVOS DA DECISÃO EM
MANDADO DE INJUNÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. A aposentadoria especial de servidor público portador de deficiência é assegurada mediante a aplicação da Lei Complementar 142/2013, até que
editada a lei complementar exigida pelo art. 40, § 4º, I, da Constituição Federal. Precedentes do STF.
2. A decisão concessiva da ordem no mandado de injunção deve limitar-se à determinação da norma regulamentadora de direito constitucional
aplicável ao caso sub judice, sem, no entanto, abordar o efetivo preenchimento dos requisitos legais no caso concreto para a concessão da
aposentadoria especial, a serem verificados pela autoridade administrativa competente.
3. In casu, a omissão legislativa diz respeito tão somente à adoção de critérios diferenciados para a concessão da aposentadoria especial. Nesse
ponto, a decisão agravada colmatou integralmente a lacuna, ao determinar a incidência da sistemática prevista na Lei Complementar 142/2013.
4. Agravo regimental desprovido.
Ext. N. 1.367-DF
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
COMPETÊNCIA – EXTRADIÇÃO – ESTADO REQUERENTE. Havendo notícia de prática delituosa voltada a introduzir substância entorpecente
no território do Governo requerente, incumbe ter como de boa origem o pedido de extradição.
DUPLA TIPICIDADE – EXTRADIÇÃO – CONSPIRAÇÃO – ASSOCIAÇÃO PARA LAVAGEM DE RECURSOS. A Convenção das Nações
Unidas contra o Crime Organizado Internacional, por ter sido assinada por Brasil e Estados Unidos, inseriu, no Tratado de Extradição firmado pelos
dois países, o crime de lavagem de capitais, se presente a transnacionalidade.

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EXTRADIÇÃO – REQUISITOS. Uma vez atendidos os requisitos legais sob o ângulo da existência de ordem de prisão ou de título condenatório
criminal, da dupla tipologia e da ausência de prescrição, estando os documentos anexados ao processo em harmonia com a forma prevista em lei, há
de ser reconhecida a possibilidade de entrega do extraditando, cabendo o ato definidor ao Chefe do Poder Executivo Nacional.
PRISÃO PERPÉTUA – EXCLUSÃO – EXTRADIÇÃO. No deferimento da extradição, deve-se impor cláusula, considerada a norma do artigo 75 do
Código Penal e, portanto, a impossibilidade de o extraditando cumprir pena perpétua cerceadora da liberdade de ir e vir, observando-se a detração.
DETRAÇÃO – CUSTÓDIA NO BRASIL – PRISÃO – DURAÇÃO. Impõe-se, na entrega do extraditando, a formalização de compromisso,
visando subtrair de possível pena aplicada ao extraditando o período em que esteve preso no Brasil, procedendo-se, de igual forma, quanto ao prazo
máximo de prisão – 30 anos.
AG. REG. NO ARE N. 879.909-SP
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
DEVIDO PROCESSO LEGAL – PRESTAÇÃO JURISDICIONAL – NULIDADE – RECURSO EXTRAORDINÁRIO. Se, de um lado, é possível
haver situação concreta em que transgredido o devido processo legal a ponto de enquadrar o recurso extraordinário no permissivo que lhe é próprio,
de outro, descabe confundir a ausência de aperfeiçoamento da prestação jurisdicional com a entrega de forma contrária a interesses.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO – MATÉRIA FÁTICA E LEGAL. O recurso extraordinário não é meio próprio ao revolvimento da prova, também
não servindo à interpretação de normas estritamente legais.
AG. REG. NO ARE N. 897.489-RS
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: DIREITO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. LEGISLAÇÃO
INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE MATÉRIA CONSTITUCIONAL. CONTROVÉRSIA DECIDIDA COM BASE NO CONJUNTO
FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. SÚMULA 279/STF.
1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal afasta o cabimento de recurso extraordinário para o questionamento de alegadas violações à
legislação infraconstitucional, sem que se discuta o seu sentido à luz da Constituição. Precedente.
2. Para chegar a conclusão diversa do acórdão recorrido, imprescindível seria uma nova apreciação dos fatos e do material probatório constante dos
autos (Súmula 279/STF), procedimento inviável em recurso extraordinário.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
HC N. 125.614-SP
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: HABEAS CORPUS. DIREITO PROCESSUAL PENAL. IMPETRAÇÃO CONTRA DECISÃO MONOCRÁTICA DO
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. NÃO ESGOTAMENTO DE JURISDIÇÃO. HOMICÍDIO QUALIFICADO E TENTATIVA DE
HOMICÍDIO QUALIFICADO. PRISÃO PREVENTIVA. EXCESSO DE PRAZO NA FORMAÇÃO DA CULPA. SUPRESSÃO DE
INSTÂNCIA. SENTENÇA CONDENATÓRIA SUPERVENIENTE. SUBSTITUIÇÃO DO TÍTULO PRISIONAL. NOVO TÍTULO. PERDA
DE OBJETO.
1. Há óbice ao conhecimento de habeas corpus impetrado contra decisão monocrática, indeferitória de writ, do Superior Tribunal de Justiça, cuja
jurisdição não se esgotou, ausente o manejo de agravo regimental. Precedentes.
2. Inviável o exame da tese defensiva não analisada pelo Superior Tribunal de Justiça, sob pena de indevida supressão de instância.
3. A sentença condenatória superveniente em que o Juízo aprecia e mantém a prisão cautelar anteriormente decretada implica a mudança do título da
prisão e prejudica o conhecimento de habeas corpus impetrado contra a prisão antes do julgamento.
4. Não mais se cogita de excesso de prazo da prisão ante o julgamento de mérito da ação penal. Precedentes.
5. Habeas corpus extinto sem resolução do mérito.
EMB.DECL. NO AG. REG. NO AI N. 787.988-RS
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
EMBARGOS DECLARATÓRIOS – ACÓRDÃO – INEXISTÊNCIA DE VÍCIO – DESPROVIMENTO. Uma vez voltados os embargos declaratórios ao
simples rejulgamento de certa matéria, inexistindo, no acórdão proferido, qualquer dos vícios que os respaldam – omissão, contradição e
obscuridade –, impõe-se o desprovimento.
EMB.DECL. NO AG. REG. NO ARE N. 873.282-MG
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Embargos de declaração no agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Questões afastadas nos julgamentos
anteriores. Não há omissão, contradição ou obscuridade a ser sanada. Precedentes.
1. No julgamento do recurso, as questões postas pela parte recorrente foram enfrentadas adequadamente. Inexistência dos vícios do art.
535 do Código de Processo Civil.
2. Embargos de declaração rejeitados.

Acórdãos Publicados: 343

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Pronúncia e envelopamento por excesso de linguagem (Transcrições)


(v. Informativo 795)
RHC 127.522/BA*
RELATOR: Ministro Marco Aurélio

Informativo 799-STF (24/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13


EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL EM HABEAS CORPUS – EXCESSO DE LINGUAGEM NA PRONÚNCIA –
ENVELOPAMENTO – INSUFICIÊNCIA. Reconhecido o excesso de linguagem da pronúncia, causa de nulidade absoluta, cumpre anulá-la,
determinando-se que outra seja prolatada, não sendo suficiente o desentranhamento e o envelopamento da decisão, em atenção ao parágrafo
único do artigo 472 do Código de Processo Penal e à vedação aos pronunciamentos ocultos.
RELATÓRIO: O Juízo da Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Porto Seguro/BA, no Processo nº 591/02, pronunciou o paciente, junto com
outros corréus, em 10 de julho de 2005, pela suposta prática do crime previsto no artigo 121, § 2º, incisos I, III e IV (homicídio qualificado pela
torpeza, pela crueldade e por meio que tornou impossível a defesa da vítima), do Código Penal.
Formalizou-se o Recurso em Sentido Estrito nº 49.571-7/2005, sustentando-se a ausência de nexo causal entre a conduta e o resultado
alcançado, bem como a existência de causa relativamente independente que, por si só, levou ao resultado. Arguiu-se a falta de prova da
autoria, buscando-se o afastamento da pronúncia. Requereu-se a desclassificação do delito para lesão corporal seguida de morte. A Segunda
Câmara Criminal do Tribunal de Justiça da Bahia, ao desprover o recurso, assentou a existência de elementos conducentes à autoria delitiva.
Salientou a causalidade entre os golpes desferidos contra a vítima e o resultado morte, não se podendo conceber causa superveniente. Refutou
a desclassificação para o crime de lesão corporal, pois as características da agressão sinalizam dolo eventual contra a vida.
Interpôs-se recurso especial, inadmitido na origem, com alusão ao Verbete nº 7 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça.
Protocolou-se agravo de instrumento, provido, sendo determinada a subida do recurso especial. A Sexta Turma desproveu-o, ante a vedação
de reexame da prova nessa sede. Assentou a ausência de prequestionamento quanto à alegação de excesso de linguagem na pronúncia.
Impetrou-se, no Superior Tribunal de Justiça, o Habeas Corpus nº 138.489/BA. Arguiu-se a nulidade do acórdão alusivo ao julgamento
do recurso em sentido estrito, em razão da eloquência acusatória. A Sexta Turma não admitiu a impetração, porque substitutiva de recurso,
mas implementou a ordem de ofício. Consignou o excesso de linguagem no acórdão impugnado, determinando o envelopamento, lacrando-o,
de maneira a impossibilitar o acesso pelos jurados, em vez de anulá-lo, tendo em conta a economia e a celeridade processuais.
Protocolados embargos declaratórios, foram parcialmente providos, apenas para determinar a juntada da degravação dos votos
vencidos.
Neste recurso ordinário, alega-se a insubsistência do acórdão, no que diz respeito ao simples envelopamento da pronúncia. Aponta-se a
possibilidade de qualquer cidadão ter acesso à peça. Por consubstanciar nulidade absoluta, requer-se a declaração de nulidade da sentença de
pronúncia.
O Ministério Público Federal manifestou-se pelo provimento do recurso.
Lancei visto no processo em 1º de agosto de 2015, liberando-o para ser examinado na Turma a partir de 18 seguinte, isso objetivando a ciência
do recorrente.
É o relatório.
VOTO: Na interposição deste recurso, atendeu-se aos pressupostos de recorribilidade. A peça, subscrita por profissional da advocacia, foi
protocolada dentro do prazo legal. A notícia do acórdão veio a ser veiculada no Diário de 12 de dezembro de 2014, ocorrendo a manifestação do
inconformismo em 19 subsequente. Conheço.
O excesso de linguagem apto a influenciar os jurados mostra-se incontroverso, tendo sido reconhecido, até mesmo, pelo Superior Tribunal de
Justiça, à unanimidade, não cabendo o reexame do tema. O abandono da linguagem comedida conduz, principalmente o leigo, a entender o ato não
como um mero juízo de admissibilidade da acusação, mas como título condenatório.
Reconhecida a insubsistência do acórdão confirmatório da pronúncia, por excesso de linguagem, a única solução contemplada no ordenamento
jurídico é a anulação, com a prolação de outra decisão. O simples envelopamento não é suficiente, ante os termos do parágrafo único do artigo 478 do
Código de Processo Penal, segundo o qual serão entregues aos jurados cópias não apenas da pronúncia, mas “das decisões posteriores que julgaram
admissível a acusação e do relatório do processo”.
Consoante ressaltei no Habeas Corpus nº 103.037, relatora ministra Cármen Lúcia, julgado pela Primeira Turma em 22 de março de 2011,
com publicação do acórdão no Diário de Justiça de 31 de maio subsequente, “o Código é um sistema, e, nesse sistema, tem-se a problemática do que
apontei como decisão oculta, que o sistema não agasalha, e a regra segundo a qual os jurados devem receber cópia da sentença de pronúncia”.
Recentemente, o Colegiado defrontou-se novamente com o tema, em situação idêntica, de excesso verbal em pronúncia. Mais uma vez,
proclamou a nulidade absoluta da decisão, determinando a prolação de outra – Habeas Corpus nº 123.311, da relatoria do ministro Luiz Fux, julgado
em 24 de março de 2015, com publicação do acórdão em 13 de abril imediato. A mesma óptica foi adotada pela Segunda Turma, à unanimidade, no
Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº 122.909, relatora ministra Cármen Lúcia, julgado em 4 de novembro de 2014, decisão publicada em 12 de
dezembro seguinte.
Friso, por oportuno, que o próprio Superior Tribunal de Justiça, ante a jurisprudência firme do Supremo acerca da matéria, evoluiu, para
reconhecer a nulidade da pronúncia viciada pelo excesso de linguagem, determinando a formalização de nova sentença – Agravo Regimental no
Recurso Especial nº 1.442.002/AL, relator ministro Sebastião Reis Júnior, julgado em 28 de abril de 2015 pela mesma Sexta Turma, acórdão publicado
no dia 6 de maio subsequente.
Provejo o recurso, declarando a insubsistência do acórdão do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia a confirmar a pronúncia, a fim de que
outra decisão interlocutória ou terminativa venha à balha na linguagem própria.
É como voto.
*acordão pendente de publicação

Secretaria de Documentação – SDO


Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

Informativo 799-STF (24/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14

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