Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo OBJETIVO: A colocação de cateter para acesso venoso central é uma prática médica cada vez mais comum,
sendo a fratura e embolização de fragmentos do cateter raras, porém correspondem aos corpos estranhos
intravasculares mais comuns. O objetivo é demonstrar nossa experiência na retirada desses corpos estra-
nhos intravasculares utilizando técnicas endovasculares. MATERIAIS E MÉTODOS: Análise retrospectiva dos
últimos cinco anos permitiu a avaliação de dez casos consecutivos, com a idade variando entre nove meses
e 67 anos. RESULTADOS: O procedimento foi realizado com sucesso em todos os casos, por diferentes
técnicas, sem complicações. Os locais mais comuns de alojamento dos fragmentos foram átrio direito, veia
cava superior e artéria pulmonar esquerda. A retirada desses corpos estranhos por técnicas endovasculares
é procedimento relativamente simples quando comparado à alternativa cirúrgica, tendo sido utilizada com
segurança e sucesso em inúmeros pacientes. Os dispositivos disponíveis mostraram-se bastante eficazes,
sendo o laço o mais versátil. CONCLUSÃO: A alta taxa de sucesso com poucas complicações relatadas,
mesmo em crianças, permite a afirmação que os corpos estranhos intravenosos devem ser extraídos por
técnicas percutâneas sempre que possível. Contudo, a familiarização com as diversas técnicas é fundamen-
tal, permitindo combinações e modificações, adaptando-as à situação do caso.
Unitermos: Vias de acesso vascular; Corpos estranhos; Embolia.
INTRODUÇÃO sos venosos centrais torna-os responsáveis acesso venoso central foram realizados por
pela enorme maioria de corpos estranhos cirurgiões, sem orientação por imagem.
A obtenção de acesso venoso central é intravenosos(1). A fratura do cateter ocorre, geralmente,
prática crescente na medicina, sendo rara O objetivo deste estudo é demonstrar durante a inserção, porém em um caso
a embolização desses cateteres ou frag- nossa experiência na retirada de corpos es- ocorreu na retirada (Tabela 1 – paciente 8;
mentos, o que representa apenas cerca de tranhos intravenosos, utilizando técnicas Figura 3). Uma vez percebida a fratura e
1% das complicações(1–3). Apesar dessa pe- endovasculares, nos últimos cinco anos confirmada por radiografia do tórax, o pa-
quena incidência, o grande número de aces- (dez pacientes). ciente era encaminhado ao nosso serviço de
radiologia intervencionista em caráter
MATERIAIS E MÉTODOS emergencial.
* Trabalho realizado na Angiorad – Grupo de Radiologia Inter-
vencionista, Recife, PE.
1. Médicos Radiologistas Intervencionistas da Angiorad. Entre fevereiro de 1999 e março de 2004, RESULTADOS
2. Cirurgião Vascular da Angiorad.
Endereço para correspondência: Dr. Gustavo Andrade. Angio-
um grupo de dez pacientes consecutivos é
rad. Avenida Agamenon Magalhães, 2291, sala 302. Recife, PE, descrito, com variação na idade entre 9 Todos os procedimentos foram realiza-
50100-010. E-mail: gustavoandrade@angiorad.com.br
Recebido para publicação em 25/5/2005. Aceito, após revi-
meses e 67 anos (Tabela 1). Todos os pro- dos em sala de angiografia sob acompa-
são, em 2/9/2005. cedimentos de colocação do cateter de nhamento anestésico. Através de punção
Tabela 1 Ordem cronológica dos dez pacientes consecutivos submetidos à retirada percutânea de fragmento fraturado de cateter venoso, incluídos neste
estudo.
Nº Sexo Ano Idade Inserção cateter Alojamento do corpo estranho intravenoso Acesso/retirada Dispositivo(s)
1 M 1999 63 anos Subclávia direita Veia cava superior, átrio direito Femoral direita Basket
2 M 1999 67 anos Subclávia direita Subclávia direita, veia cava superior Femoral direita Basket
3 F 1999 51 anos Subclávia direita Veia cava superior, átrio direito Femoral direita Basket
4 M 2000 60 anos Subclávia esquerda Subclávia esquerda, veia cava superior Femoral direita Basket
5 M 2000 9 meses Jugular direita Veia cava superior, átrio direito Femoral bilateral Pig-tail e loop-snare
6 F 2001 49 anos Subclávia esquerda Subclávia esquerda, veia cava superior Femoral direita Loop-snare
7 F 2002 41 anos Jugular direita Veia cava superior, átrio direito Femoral direita Basket
8 F 2002 2 anos Subclávia esquerda Veia cava superior, átrio direito Femoral direita Loop-snare
9 F 2003 58 anos Subclávia direita Ventrículo direiro, pulmonar esquerda Femoral bilateral Pig-tail e loop-snare
10 M 2004 32 anos Jugular direita Pulmonar esquerda Femoral direita Loop-snare
M, masculino; F, feminino.
DISCUSSÃO
CONCLUSÃO 2. Andrews RE, Tulloh RM, Rigby ML. Percutane- ence with 19 cases. Kaohsiung J Med Sci 2002;
ous retrieval of central venous catheter fragments. 18:492–499.
A alta taxa de sucesso, com pouquíssi- Arch Dis Child 2002;87:149–150. 9. Egglin TK, Dickey KW, Rosenblatt M, Pollak JS.
3. Uflacker R, Lima S, Melichar AC. Intravascular Retrieval of intravascular foreign bodies: expe-
mas complicações, mesmo em crianças, foreign bodies: percutaneous retrieval. Radiology rience in 32 cases. AJR Am J Roentgenol 1995;
permite a afirmação que os corpos estra- 1986;160:731–735. 164:1259–1264.
nhos intravasculares devem ser extraídos, 4. Gabelmann A, Kramer S, Gorich J. Percutaneous 10. Cekirge S, Weiss JP, Foster RG, Neiman HL,
retrieval of lost or misplaced intravascular ob- McLean GK. Percutaneous retrieval of foreign
sempre que possível, por técnicas percutâ- jects. AJR Am J Roentgenol 2001;176:1509– bodies: experience with the nitinol goose neck
neas. Para isto, é fundamental a disponibi- 1513. snare. J Vasc Intervent Radiol 1993;4:805–810.
lidade dos materiais, bem como a familia- 5. Hehir DJ, Cross KS, Kirkham R, Moore DJ, 11. Yang FS, Ohta I, Chiang HJ, Lin JC, Shih SL, Ma
Shanik DG. Foreign body complications of cen- YC. Non-surgical retrieval of intravascular for-
rização do médico operador com as diver- tral venous catheterisation in critically ill patients. eign body: experience of 12 cases. Eur J Radiol
sas técnicas e materiais, permitindo-o com- Ir J Med Sci 1992;161:49–51. 1994;18:1–5.
biná-las e modificá-las, adaptando-as à si- 6. Huang CH, Chen WJ, Ho YL, Wu CC, Lee YT. 12. Yedlicka JW Jr, Carlson JE, Hunter DW, Casta-
Nonsurgical transvenous retrieval of fractured ñeda-Zuniga WR, Amplatz K. Nitinol goose neck
tuação. Contudo, algumas vezes, a criati- implantable central venous access device. J snare for removal of foreign bodies: experimen-
vidade é essencial. Formos Med Assoc 1999;98:265–270. tal study and clinical evaluation. Radiology
7. Chow LM, Friedman JN, Macarthur C, et al. Pe- 1991;178:691–693.
REFERÊNCIAS ripherally inserted central catheter (PICC) frac- 13. Casserly IP, Goldstein JA, Rogers JH, Lasala JM.
1. Smouse HB, Fox PF, Brady TM, Swischuk JL, ture and embolization in the pediatric population. Paradoxical embolization of a fractured guide-
Castañeda F, Pham MT. Intravascular foreign J Pediatr 2003;142:141–144. wire: successful retrieval from left atrium using
body removal. Semin Intervent Radiol 2000;17: 8. Liu JC, Tseng HS, Chen CY, et al. Percutaneous a snare device. Catheter Cardiovasc Interv 2002;
201–212. retrieval of intravascular foreign bodies: experi- 57:34–38.