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Arte sobre foto de Marcos Santos

Um intérprete africano do Brasil:


Kabengele Munanga
Sylvia Dantas
Ligia Ferreira
Maura Pardini Bicudo Véras
resumo abstract

Em 28 de setembro de 2016, o grupo On September 28, 2006 the Intercultural


Diálogos Interculturais do IEA-USP Dialogue Group from the Institute for
organizou uma conversa com o professor Advanced Study (IEA) of the University
Kabengele Munanga, intitulada of São Paulo (USP), organized a talk with
"Trajetória entre culturas: Kabengele Professor Kabengele Munanga, named A
Munanga, um intérprete africano do pathway between cultures: Kabengele
Brasil". O encontro foi coordenado Munanga, an African interpreter of
por Ligia Ferreira e Maura Véras com a Brazil. The meeting was coordinated by
presença da coordenadora do grupo, Ligia Ferreira and Maura Véras; and was
Sylvia Dantas, e dos professores membros attended by the group coordinator Sylvia
Adriana Capuano e Paulo Farah. Dantas and Professors Adriana Capuano
and Paulo Farah.
Palavras-chave: Kabengele Munanga;
educação; racismo. Key words: Kabengele Munanga;
education; racism.
O
diálogo a seguir é Maura Pardini Bicudo Véras: Bom dia a
uma oportunidade de todas e a todos, é uma honra e uma alegria
compreensão a partir estarmos aqui com o professor Kabengele.
da história de vida do
professor e antropólogo Ligia Ferreira: O professor Kabengele dis-
Kabengele Munanga, pensa apresentações. Foi professor durante
especialista na ques- vários anos... depois ele mesmo vai com-
tão da identidade negra pletar isso, porque faz parte da trajetória
no Brasil, e seu olhar da FFLCH, do Departamento de Antropolo-
arguto sobre as arti-
manhas de 20 anos de
colonização na Repú- Transcrição editada do evento “Trajetória entre Culturas:
Kabengele Munanga, um Intérprete Africano do Brasil”,
blica Democrática do realizado pelo grupo Diálogos Interculturais do Instituto
Congo, que realizou uma verdadeira “lava- de Estudos Avançados (IEA) da USP, em 28 de setembro
de 2016.
gem cerebral” na educação da população.

Ligia Ferreira: Eu gostaria primeiramente


de agradecer. É um agradecimento quase
SYLVIA DANTAS é professora do Departamento
reverência ao professor Kabengele. Foi de Medicina Preventiva da Universidade Federal
uma ideia de todo o grupo trazer o pro- de São Paulo (Unifesp) e coordenadora do grupo
Diálogos Interculturais do IEA-USP.
fessor, não para fazer uma conferência,
uma palestra. A gente não pode falar em LIGIA FERREIRA é professora de Língua
e Literatura Francesa da Universidade Federal
interculturalidade, em diálogo, sem essa de São Paulo (Unifesp) e membro do grupo
coisa preciosa que está se tornando muito Diálogos Interculturais do IEA-USP.
rara que é o encontro, neste evento que MAURA PARDINI BICUDO VÉRAS é professora
batizamos como uma “Trajetória entre Cul- titular de Sociologia e do Programa de Estudos
Pós-Graduados em Ciências Sociais da
turas: Kabengele Munanga, um Intérprete PUC-SP e membro do grupo Diálogos
Africano do Brasil”. Interculturais do IEA-USP.

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gia, e atualmente é professor convidado da milhões de congoleses, para traduzir a Bíblia.


Universidade do Recôncavo Baiano. Como É uma das grandes línguas de alfabetização
todos vocês sabem, o professor Kabengele na região, e a partir do segundo ano do
veio deste continente que é mãe de todos primário começo o estudo do francês. Algu-
nós, veio da África e tem um caminho muito mas noções da língua francesa, que era uma
interessante. Eu gostaria que você falasse língua da colonização belga. Na Bélgica
do seu nascimento, dos seus pais, da sua existem duas línguas: o flamengo, que é um
terra, como é que foi? Como é que era essa dialeto do holandês, e o francês. Então a
República do Congo quando você chegou ao língua da colonização era o francês, e a
mundo? Depois nós debateremos. partir do segundo ano primário começo a
ter algumas noções da língua francesa. Mas
Kabengele Munanga: Quero agradecer por você aprende algumas noções na escola,
esse encontro, que eu considero o encontro quando volta para casa a língua é a língua
simplesmente humano. Bom, não sei quem materna e até o fim da escola primária, ter-
sou, às vezes eu tenho dificuldade em me minando o sexto ano, você deixa de apren-
definir, cresci exatamente entre culturas, um der em língua materna, para aprender tudo
ex-colonizado que viveu 20 anos de colo- em francês. Difícil, porque você não domina
nização, que começou a vida numa aldeia, essa língua, você tem que aprender todos
onde nasceu, de pais analfabetos. Naquela os conceitos matemáticos, tudo numa língua
época, na minha, na geração dos meus pais, que não é a sua. Então era difícil, comecei
não tinha nenhuma pessoa alfabetizada no a ter alguns bloqueios porque não entendia
sentido ocidental da palavra. Éramos colo- praticamente nada, a única sobrevivência era
nizados pelos belgas na Segunda Guerra o quê? Era uma boa memória, era memo-
Mundial, praticamente no início dela, e toda rizar tudo, mesmo sem entender nada; era
a nossa formação, a escola, era uma escola reproduzir tudo, porque o ensinamento era
cujo monopólio estava nas mãos dos mis- isso, um bom aluno era aquele que sabia
sionários católicos. A formação era o quê? reproduzir, então eu reproduzia os textos,
Era, na verdade, a lavagem de cérebro, a fórmulas de física, sem entender nada. A
Bíblia, o catecismo, essas coisas todas; uma inteligência é saber em que momento repro-
escola totalmente segregada, os filhos de duzir e que parte eles querem escutar, e as
colonizadores estudavam em outra escola. pessoas que não têm essa possibilidade logo
Não tínhamos praticamente nenhum contato são excluídas da escola. Isso me criou alguns
humano, nem cotidiano, a gente não se cru- problemas, porque eram alunos soltos na
zava ou se encontrava. Os bairros residenciais escola, por causa da dificuldade de língua,
eram bairros segregados com uma área verde de comunicação. Eu comecei a ter um com-
no meio para não haver nenhum contato. E plexo, um complexo espelhar, porque os
nesse processo foi que eu finalmente con- melhores alunos, considerados inteligentes,
segui terminar a escola primária, a alfabe- eram aqueles que tinham facilidade de falar
tização básica na minha língua materna, a língua do colonizador. Comecei a ter pro-
porque os missionários tiveram que aprender blemas, ficava calado todo o tempo, levei
a língua, o tiluba, falada por cerca de 2 um tempo, minha produção começou a bai-

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que termine, reza, e vai para a sala de aula.
IEA/USP

Vem o padre: “Bom dia, padre”; em pé, reza,


termina a aula, reza, vem o outro, reza... a
gente rezava tanto que eu tinha calos, era
toda a formação, a disciplina. Não tinha água
encanada no colégio, ia para o rio uma vez
por semana para tomar banho. Os padres
diziam que não era bom tomar banho todos
os dias porque estragava a pele, e por isso
[risos] eles mesmos não tomavam banho, e
não deixavam os estudantes tomarem banho.


Eu comecei a ter um complexo, E aquele cheiro, não? [Risos.] E nesse indo,
um complexo espelhar, porque indo, reproduzindo, memorizando, dominando
os melhores alunos, considerados
a língua, pouco a pouco, começa a história,
inteligentes, eram aqueles que
a história do colonizador, a história da


tinham facilidade de falar
a língua do colonizador. Europa, a história da própria Bélgica, o con-
flito na Europa, da África a gente não conhe-
cia nada. Não se falava da história da África,
xar por causa do problema da língua. A eu não sabia, até o fim do colégio, que o
partir de um certo momento passei a domi- continente africano teve império, principa-
nar a língua, então melhorei um pouquinho dos, monarquias, a gente não sabia absolu-
o meu rendimento na escola. No fim da tamente nada. A história que a gente conhe-
escola primária, a gente vai para o colégio cia era a dos países ocidentais dos
interno, que era colégio jesuíta, com toda a colonizadores. Mas quase no fim do processo
disciplina do jesuíta que a gente sabe. Aí é sempre tem livros que a gente começa a
que eu aprendi outra disciplina, para ler, entrar em contato, com uma certa literatura
estudar, mas tudo isso numa língua que a que entrava não sei como, através dos cole-
gente não dominava totalmente. Eram pou- gas mais velhos. Começamos a ter contato
cos os que iam para o colégio, escolhidos com livros sobre a negritude, o pan-africa-
pelos leigos, pelos padres, os jovens consi- nismo, e aí começou a abrir os nossos hori-
derados como melhores alunos, aqueles que zontes para descobrir o que era aquele sis-
têm uma boa memória, para memorizar os tema e aquela gente que integrava
textos da Bíblia, reproduzir. Inclusive eu fui automaticamente, sem nenhuma crítica, o
até coroinha, além de ouvir e decorar coisa complexo de inferioridade de negro. Tudo
de latim, que eu não entendia nada, para isso passou por um processo lento, sobre o
ajudar o padre a fazer a missa. Uma disci- qual você não tem nenhum controle. A única
plina muito dura no colégio interno. Jesuíta coisa que salvava é que, quando a gente saía
acorda às 5 horas da manhã no dormitório, para as férias, voltava para as famílias, que
ajoelhado reza e vai para a missa; reza, sai continuavam a viver suas culturas, suas reli-
e vai para o refeitório, para tomar café da giões, suas visões do mundo, não tinha nada
manhã – que café da manhã! Reza, antes a ver com o colonialismo. Os colonizadores

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não viviam nas aldeias para controlar a vida próprios colonizadores. Até os missionários
dessas pessoas. Podia haver, e havia, prisão começaram a fazer isso. O colégio jesuíta
arbitrária, trabalho forçado, mas no cotidiano onde eu estudei fechou porque a gente não
esses povos continuavam a viver sua cultura, podia mais atravessar; eram dois dias de
não havia nenhuma força para mudar as trem para chegar ao colégio, mas não podia
coisas. O processo de alienação era através mais, porque os conflitos com o grupo onde
de nós, jovens que passavam pela escola, ficava o colégio com o meu grupo se acir-
mas o colonizador não estava lá no cotidiano. raram na véspera da independência. Então
Ele podia obrigar um pai: “Para seu filho eu fui obrigado, depois de três anos de colé-
ir para o colégio, você tem que se casar na gio, a ficar um ano sem estudar. Em 1961
igreja, abandonar suas outras mulheres”. O fui para a capital, Kinshasa [...], e lá não
cara casa na igreja para o filho entrar no dava para continuar no colégio porque não
colégio, mas na aldeia continua com suas tinha espaço para todo mundo. Entrei numa
mulheres, ninguém tem controle, ninguém escola técnica, nada de uma formação de
sabe o que está acontecendo [...]. Foi até um colégio regular, formação humanitária.
assim que a gente conseguiu viver entre a Mas eu consegui escapar, porque houve um
cultura da colonização e manter também a exame, chamado Exame de Maturidade, para
nossa cultura tradicional, que tem também ver se tinha alguns candidatos que podiam
alguns valores como o respeito com as pes- entrar diretamente no primeiro ano sem fazer
soas mais velhas, a solidariedade do grupo, o pré-universitário. Era preparatório, tinha
do clã, tudo isso. Então esse processo coin- 200 candidatos, foram aprovados dez. Eu
cide com as independências. Quando o Congo fui aprovado entre os dez, e fui diretamente
teve a sua independência, em 30 de junho para a faculdade, em 1964. Nota-se que a
de 1960, eu tinha 20 anos, então vivi 20 universidade oficial, a primeira Universidade
anos de colonização. Aí que começam os do Congo, foi criada em 1956, quatro anos
conflitos, porque, até então, eu não sabia a antes da independência, então eu faço parte
que etnia eu pertencia. Eu sempre soube da segunda geração de jovens que entraram
que pertencia, que era membro de uma na universidade quando o Congo, então, teve
aldeia, de uma comunidade, da minha linha- sua independência. Em 1960 existiam ape-
gem, mas a ideia de que vocês são grupos nas oito jovens com diploma universitário!
diferentes, culturas diferentes em que alguns Então você imagina um país, naquela altura,
são superiores, isso veio com a própria colo- com 24 milhões de habitantes...
nização. Introduzindo isso na véspera da
independência, eles começam a dividir, a Ligia Ferreira: Só para a gente lembrar, quando
introduzir consciência étnica: “Ah, vocês começou a colonização belga no Congo?
são balubas, vocês são mais inteligentes que
os outros, vocês são aqueles…”. É dividir Kabengele Munanga: Imediatamente depois
para dominar [...]. Evidentemente, com a da Conferência de Berlim, que começou em
política de dividir para dominar, nas vés- 1884 e terminou em fevereiro de 1885. Foi
peras da independência começam a estou- uma colonização atípica porque o Congo
rar esses conflitos étnicos, incentivados pelos era propriedade do rei dos belgas.

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Ligia Ferreira: O famoso Leopoldo II. xismo, nem Karl Marx, nada, não fazia
parte da bibliografia de ciências sociais.
Kabengele Munanga: Leopoldo II. Não Quando fiz antropologia, era antropologia
era uma colônia, mas uma propriedade que funcionalista (meu orientador foi aluno
se chamava Estado Independente do Congo, de Evans-Pritchard), era basicamente fun-
independente porque era propriedade do rei cionalismo, não tinha outro conhecimento
Leopoldo II, rei dos belgas, como eles cha- em antropologia, era parentesco. De Lévi-
mam. Eles não dizem rei da Bélgica, mas -Strauss se dizia: “É muito complicado para
rei dos belgas. Ele o explorou por 24 anos, você, não dá para ler”.
depois deu de presente à Bélgica e foi então
que se tornou uma colônia, colônia belga. Ligia Ferreira: Você trabalhou campo já
Com a independência belga, imagine, eles nessa ordem?
não queriam formar elite, simplesmente
uma alfabetização. Até a independência, o Kabengele Munanga: Sim, eu fui fazer
Congo tinha 60% da população alfabetizada, pesquisa de campo e produzi um trabalho
era a população mais alfabetizada, mas só chamado Memória. Fiz defesa, em nível de
alfabetização. Por isso o Congo chegou à dissertação de mestrado, quase como uma
independência com oito jovens com diploma defesa, não se diz dissertação de mestrado
universitário em ciências sociais, não havia porque no sistema belga não tem mes-
um médico, um advogado, um engenheiro. trado, estudando direto o doutorado. Uns
Imagine um país recém-independente com seis meses depois... eu era assistente de um
apenas oito jovens com diploma universitá- grande professor belga, da Universidade
rio: o que seria o futuro desse país? Então Livre de Bruxelas, André Coupet, que tra-
eu entro na universidade como a segunda balhava com linguística africana e que era
geração de jovens universitários para fazer considerado por meus colegas como racista.
ciências sociais. Eu estava na Universidade Diziam que André Coupet era um racista
Oficial do Congo, e ninguém queria fazer neurótico, e esse racista neurótico me olhou
antropologia porque já tinha informação um dia e disse: “Mas você tem capacidade
entre os colegas de que era uma ciência para fazer doutorado em dois anos. Eu vou
colonial. Entrei na antropologia em 1966, fazer tudo para você ir para a Bélgica”.
como único estudante, não tinha outro, com Então eu sou um homem de muita sorte na
professores que vinham da França, da Bél- vida, até racista! Voltei para o Congo para
gica, da Inglaterra… fazer a pesquisa de campo, aí, no momento
de voltar, cortaram a bolsa. O governo con-
Ligia Ferreira: Só uma curiosidade: quais golês cortou a bolsa porque havia um pro-
eram os conteúdos dessa então chamada blema: uma parte da minha família, primos
“ciência colonial”? que se formaram fora, como eu, estavam
presos e, com isso, eles cortaram a minha
Kabengele Munanga: Alguns autores a bolsa, então fiquei praticamente quase quatro
gente não estudava, na minha formação em anos parado, sem saída. Aí consegui uma
ciências sociais não tinha nada de mar- bolsa da Fundação Rockefeller para fazer

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doutorado e voltar para Louven, dessa vez

IEA/USP
com Vansina. Vansina dava aulas nos Esta-
dos Unidos, na Universidade de Wisconsin,
mas continuava dando aulas no país dele,
ele é belga. Por causa dos conflitos entre
os próprios belgas, ele decidiu dar a aula
dele em inglês: “Não vou dar aula nem em
francês, nem em flamengo, vou dar aula
em inglês”. Então fiz um curso de inglês
para poder ir para a Bélgica. Quando che-
gou a bolsa, outro problema: o diretor da


faculdade era um americano, conselheiro Vi o filme de Cacá Diegues,
na Casa Branca sobre a política congolesa. e a ideia que a gente tem do
Ele confiscou minha bolsa e a deu para o Brasil é essa: um país de
democracia racial onde os
assistente dele, que trabalhava sobre a vida
negros não tinham problemas


política do primeiro-ministro. como nos Estados Unidos.

Ligia Ferreira: Ou seja: depois do campo,


ir para a Bélgica novamente? música africana na música popular. Ele foi
o primeiro a receber o formulário para a
Kabengele Munanga: Para ir de novo para bolsa, em 1974, e em 1975 eu cheguei aqui,
a Bélgica, com o Vansina, que é um grande em julho.
antropólogo. Mas sem a bolsa eu não pude.
Foi então que, por acaso, conheci o Fer- Ligia Ferreira: Como é que você recebeu
nando Mourão, professor do Departamento esse convite, o que era o Brasil para você
de Sociologia que criou o Centro de Estudos no momento em que estava se preparando?
Africanos da USP, de passagem em 1974.
Kabengele Munanga: A ideia do Brasil...
Ligia Ferreira: Fernando Mourão, que tam- o futebol, Pelé, carnaval do Rio de Janeiro
bém é brasileiro? [risos].

Kabengele Munanga: Sim, o fundador do Ligia Ferreira: Ou seja, aquelas imagens


Centro de Estudos Africanos. Eu o conheci de base [risos].
através de um amigo espanhol, tenho a sorte
de ter muitos amigos fora das fronteiras Kabengele Munanga: Vi o filme de Cacá
raciais: “Estamos com convênio com alguns Diegues, e a ideia que a gente tem do Brasil
países africanos e você poderia fazer o seu é essa: um país de democracia racial onde
doutorado na Universidade de São Paulo os negros não tinham problemas como nos
através do Centro de Estudos Africanos”. Estados Unidos. Então, era essa a ideia que
Éramos eu e o professor Kazadi, que fez o eu tinha do Brasil, e quando veio a bolsa,
doutorado aqui sobre as contribuições da meus colegas disseram: “Você vai fazer dou-

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torado no Brasil? Por que você não espera Ligia Ferreira: Depois da independência o
para ir para a Europa? O Brasil tem antro- seu país passou a ser o Zaire.
pologia? O que você vai fazer naquele país?
Só tem samba, carnaval e futebol” [risos]. Kabengele Munanga: É, veio a ser Zaire...
Você vê os preconceitos... Bom, eu, um Era um desconhecimento total da África
aventureiro, aceitei a bolsa e cheguei aqui até entre alunos da USP. Então você ima-
em julho de 1975. O professor Fernando gina o resto da população, o conhecimento
Mourão já tinha entrado em contato com que eles tinham da África, e aí, nesse coti-
o professor João Baptista Borges Pereira, diano, é que comecei a destruir o mito da
que foi meu orientador. Cheguei aqui já democracia racial, porque quando entrava
inscrito, e comecei a fazer os créditos. em algum lugar, antes de abrir a boca, já
Como não tinha mestrado, João Baptista perguntavam: “Você não é daqui, não?”.
olhou meu trabalho sobre memória e disse: Como? Mas não abri a boca! Era só a
“Isso aqui tem nível de nossos trabalhos maneira de ser, de andar. Antes de abrir a
de mestrado, então você vai diretamente boca já sabiam que eu não era brasileiro,
para o doutorado”. não era um negro brasileiro, para você ver
o que a discriminação faz com a pessoa...
Ligia Ferreira: E a língua portuguesa? até na maneira de se comportar, de ser,
de se apresentar. Foi quando eu comecei a
Kabengele Munanga: Eu aprendi a lín- dizer que essa coisa de democracia racial
gua aqui. não existe. E aí nas aulas de pós-graduação,
com o meu orientador que é especialista na
Ligia Ferreira: Você morou no Crusp? questão do negro no Brasil, João Baptista
Borges Pereira, comecei a leitura de Flo-
Kabengele Munanga: Fui o primeiro restan Fernandes, Octavio Ianni... Aprendi
morador do Crusp. Depois de 1968 o Crusp mais antropologia nesta universidade do que
fechou, e reabriu comigo... nas universidades belgas. Aqui tive acesso
aos autores, ao estruturalismo, que eu não
Ligia Ferreira: O que foi ser africano nesse tinha estudado. Fiz os créditos correndo, e
programa de doutoramento da USP nesse sou uma pessoa de sorte: cheguei em julho
momento em que você chegou? de 1975, em outubro de 1977 defendi o meu
doutorado e fui aprovado, sendo o segundo
Kabengele Munanga: Olha, os colegas não louvor na história da Antropologia da USP.
conheciam a África, não conheciam os países
africanos. Eu me lembro dos colegas que Maura Pardini Bicudo Véras: A gente
faziam pós-graduação. Eles me perguntavam: conhece algumas das coisas que o senhor
“Você toca algum instrumento musical?”. escreveu, sobre identidade, sobre as lutas
Eu dizia que não. “Mas como? Você não é com as cotas, e tem uma frase que o senhor
africano? Você já caçou um leão?” Eu dizia falou em uma das entrevistas, acho que foi
que não era caçador. “Mas como? Você não em 2009, que eu gostaria de ouvi-lo sobre
é africano? E lá tem carro?”. isso. O senhor falou: “O racismo brasileiro

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é o crime perfeito”. Eu entendi que o senhor perspectivas possíveis. Para mim, Kabengele
estava desmistificando a democracia racial. hoje representa essa outra figura. Você é
Eu acho que toda essa sua trajetória e o que um intérprete, obviamente você já se natu-
o senhor escreveu me fazem perguntar: por ralizou brasileiro. Por isso nós queríamos
que é um crime perfeito? trazer à tona e conhecer melhor essa tra-
jetória, porque eu acho que você tem um
Kabengele Munanga: Todos os racismos olhar que não é o do estrangeiro, do brasi-
são abomináveis, são crimes, mas eu achei lianista; num certo sentido, sim, mas você
que o racismo brasileiro é um crime per- está dentro, você não está olhando o Brasil
feito partindo da ideia de um judeu prê- de fora, então eu acho que, como você disse,
mio [Nobel] da Paz que disse uma vez você acabou aprendendo com o Brasil, mas
que o carrasco mata sempre duas vezes, também o reinterpretou.
a segunda pelo silêncio, e nesse sentido
achei o racismo brasileiro um crime per- Kabengele Munanga: Olha, eu acho que
feito. É como um carrasco que você não um olhar distante ajuda muito, porque até
vê te matando, está com um capuz; você meu próprio olhar da África mudou pelo
pergunta pelo racista e você não encontra, fato de eu estar aqui. Tive um olhar dis-
ninguém se assume, mas o racismo e a dis- tante, mais crítico sobre as realidades afri-
criminação existem. Esse racismo matava canas, talvez um olhar que não teria se
duas vezes, mesmo fisicamente, a exclusão tivesse passado o resto da minha vida no
e tudo, e matava a consciência da própria continente africano. O fato também de não
vítima. A consciência de toda a sociedade ter nascido aqui me deu um olhar diferen-
brasileira em torno da questão, o silêncio, ciado sobre a realidade brasileira, sobre as
o não dito... Nesse sentido, era um crime realidades dos negros, diferente dos meus
perfeito, porque não deixava nem a forma- colegas brasileiros brancos, diferente dos
ção de consciência da própria vítima, nem a meus colegas brasileiros negros. Acho que
do resto da população através do chamado essa distância me ajudou muito na minha
mito da democracia racial. [...] visão do Brasil, na minha maneira de apre-
ender o Brasil. Eu fui e continuo a dizer
Ligia Ferreira: Tudo o que você tem rela- que fui aluno, tanto na academia como na
tado confirma um pouco mais da nossa ideia própria militância negra, mas eu soube fazer
inicial. Eu escolhi a palavra “intérprete” a minha leitura, a partir da minha própria
quando a propus para as minhas colegas intuição – sou uma pessoa muito intuitiva
porque nós todos aqui, principalmente quem –, de leituras selecionadas – tenho sorte de
for da História, e outros, estamos muito habi- fazer algumas leituras selecionadas – e, às
tuados a falar dos intérpretes do Brasil, os vezes, de coisas-chave que as pessoas não
brasileiros Gilberto Freyre, Sérgio Buarque percebem: eu aprendo com outras pessoas,
de Holanda, enfim, os grandes explicado- eu aprendo com tudo, às vezes com uma
res do Brasil, e os de fora, os brasilianistas palavra, com uma frase, às vezes com uma
europeus e norte-americanos. Mas eu acho ideia que vale mais do que ler um, dois
que a gente esquece, talvez, que há outras ou três livros. Não sei como, isso entra em

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mim de uma maneira diferenciada, que me cussão com Darcy Ribeiro, da questão da
ajuda a fazer uma leitura diferente. Minha mestiçagem – se o senhor poderia falar um
maneira de escrever também – eu acho – é pouco mais sobre isso. O senhor tem essa
completamente diferente, não escrevo em uma vivência na família inclusive. Como isso se
linguagem acadêmica fechada, sofisticada, eu coloca nesta sociedade, aqui, da sua experi-
escrevo simplesmente. Acho que as coisas ência, enfim, nesse sentido? Obrigada.
que eu entendo os outros podem entender, e
se eu mesmo não entender, então ninguém Kabengele Munanga: Eu costumo dizer
vai entender, então essa é a possibilidade que a mestiçagem faz parte da história da
de comunicar. humanidade. É inevitável, até os próprios
racistas concordam, como Arthur de Gobi-
Sylvia Dantas: Professor, é uma honra neau, que escreveu que a mestiçagem faz
ouvi-lo, e eu acho que a gente está sempre parte da história da humanidade. O pro-
aprendendo, e aprendendo aqui com todos, blema para ele era que os cruzamentos e
com as perguntas, com esse diálogo, a sua incruzamentos, que é degradar raças, fazem
vasta experiência e esse olhar que, como a os mestiços serem degradados das aptidões
Ligia bem apontou, ilustrou esse olhar de intelectuais de suas raízes. O Brasil é um
fora e de dentro. Eu venho trabalhando com país muito rico e, nesse sentido, um país
esse olhar de fora e de dentro, em termos de mais mestiçado, mas a questão é a leitura
psicologia, tanto a psicologia social quanto a que se faz da mestiçagem no Brasil. Para
clínica. A questão que eu gostaria de colocar Nina Rodrigues, o Brasil não poderia ter
é a questão da nossa mestiçagem, o aspecto mestiço, um povo degenerado. Como expli-
psicológico nesse sentido é extremamente car o destino de um país que se constrói,
forte. Eu vejo isso na discussão com os alu- que vai contar com o sangue degenerado
nos e orientandos, falar de preconceito em de descendentes de índio, de negro e de
sala de aula é muito delicado, porque eu tra- branco, que era um problema da sociedade?
balho com alunos também trazendo as suas Aí Gilberto Freyre entra em cena a partir da
vivências. E a gente vê, quer dizer, todos os década de 30 para dizer que a mestiçagem
países colonizados e essa diversidade que não é um problema para a sociedade, pelo
nós temos, riquíssima no Brasil. Nós ainda contrário, os próprios portugueses já eram
somos colonizados cotidianamente, a televi- mestiços, antes saíram com os mouros e
são, os meios de comunicação... Isso passa com outros. Mas ele trouxe um outro pro-
pelas famílias, o clareamento, a ideologia de blema: pensar já é dizer que nós não somos
“branquisação” está aí, ela é presente. E ela um povo racista por causa da mestiçagem.
passa pelo afeto, então os pais veem os seus O português não teve problema em ir para
filhos: “Ai, que bom, o cabelo é liso. Ai, que a cama com a índia e com a negra, então
bom, ele é mais claro”. Eu tenho relatos de não há preconceito no Brasil por causa da
alunos que falam: “Meu pai é negro, mas mestiçagem, entende? Construiu-se, a partir
ele fala que a cor é escura porque ele toma da mestiçagem, o mito da democracia racial,
muito sol”. A questão do pertencimento, eu que se mantém até agora, porque qual a lei-
gostaria de colocar – o senhor até faz a dis- tura que se faz do Brasil? Um país mestiço,

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que não tem negro, não tem índio, não tem que é um problema. É inevitável, até eu já
branco, todo mundo é mestiço. Quem vai tenho mestiço na minha família, tenho neta
discriminar quem? Com isso você escamo- e neto mestiços, um filho mestiço, mas que,
teia os problemas da sociedade, você nega pela educação, se assumem como negros. Me
as desigualdades, você nega a discriminação lembro da minha neta. Perguntaram para
racial. A gente viu isso. Em pleno debate ela: “Mas você é quem? Você é mestiça?
sobre cotas, a pessoa diz: “Mas cota para Você é o quê? Sua mãe é branca?”. “Não,
quê? Não tem negro no Brasil! Cota vai tra- eu sou negra.” “E seu avô?” “Mas eu sou
zer a raça de volta, num país onde não tem negra clara, e meu avô é negro escuro.” Ela
raça, não tem racismo; teremos problemas, tem consciência disso, todos têm consciência
como os americanos não conseguiram evitar, disso, depende da educação. [...] Existem
por causa dessas coisas de cotas num país famílias que têm mestiçagem e que negam
mestiço”. Claro, os mestiços existem, mas completamente. Que não querem que os
tem mestiços que se assumem como negros filhos e netos saibam que tem mestiços na
politicamente, ideologicamente. O Brasil tem família. Faz parte de nossas histórias, por
branco, tem negro, tem mestiço, tem índio, que você vai negar isso? A gente viu no
nós não podemos negar. Se você for lá para debate sobre cotas – você deve ter acompa-
o Sul do Brasil, onde a maioria da popula- nhado –, muitas teorias. Por que o Demétrio
ção é de ascendência europeia... isso aqui é Magnoli me acusou de cara de querer supri-
história: de ascendência europeia porque a mir os mestiços? Por causa da defesa. Que
migração levou esse contingente lá. Como a poder eu tenho para suprimir, começando
tendência do ser humano é casar entre seme- com os próprios mestiços da minha família?
lhantes, então continuaram a produzir mais Não tem cabimento, é inevitável a mestiça-
brancos do que negros, nenhum problema. gem na história da humanidade, qualquer
A maioria da população americana que contexto de paz ou de guerra é inevitável,
nós chamamos de negra é mestiça, Obama mas nós não podemos a partir daí começar
é um mestiço, mas, na ideologia da pureza a negar os problemas das sociedades porque
de sangue americano, é uma pessoa negra. tem pessoas que se assumem como negras,
O problema é o que se faz ideologicamente, como mestiças, pessoas mestiças que cons-
politicamente, da mestiçagem, que é inevitá- troem a sua identidade negra, pessoas mes-
vel na história da humanidade. Então acho tiças que não querem assumir a identidade
que é esse o problema, as pessoas continuam negra, e têm razão, se elas podem construir
a bater nas mesmas teclas. Me lembro que, a sua identidade, tudo bem. Mas generalizar?
quando escrevi Rediscutindo a Mestiçagem, Você vai lá e diz para os descendentes de
fiz uma crítica ao Darcy Ribeiro, a O Povo gaúchos, italianos: “Vocês são mestiços?”.
Brasileiro, um livro que eu amei. Eu gosto Eles vão rir na sua cara, eles são brancos,
muito das ideias do Darcy, mas ele conti- não são mestiços. Por que você quer trans-
nuava com a ideia de que todo mundo é formá-los em mestiços? Esse é o problema,
mestiço no Brasil, e não tem mais negro... esse uso político-ideológico da mestiçagem
Não é negar a mestiçagem, mas o que se em nossa sociedade. Meu livro Rediscutindo
faz da mestiçagem na nossa sociedade é a Mestiçagem passa por isso, por esse uso

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mia nem pensar, meus pais analfabetos não
IEA/USP

sabiam nem o que é um talão de cheque.


Como eu podia fazer economia? Então eu
fui aprender por que sou inferior [risos] e
eu consegui aprender [risos].

Ligia Ferreira: Você fala das amizades sem


barreiras.

Kabengele Munanga: Minhas amizades são


amizades mesmo, sem fronteiras. Eu convivi


Todas as sociedades humanas nesse mundo inter-racial com muita facili-
são machistas e aprendi a me dade. É claro que eu continuo com a minha
transformar em homem de formação tradicional de solidariedade e de
verdade porque a minha mulher
me ensinou que o lugar do
respeito, idade, formado numa sociedade.


homem também é na cozinha. Todas as sociedades humanas são machistas
e aprendi a me transformar em homem de
verdade porque a minha mulher me ensinou
político da mestiçagem. [...] Você tocou numa que o lugar do homem também é na cozinha.
outra questão [...] Durante a colonização, os Então eu posso dizer que sou um homem
colonizadores diziam o seguinte: “Como o de sorte porque consegui me transformar,
negro não é inteligente como o branco, ele sair de todas as barreiras que impedem o
não vê na abstração, ele é concreto. Certas desenvolvimento de todo ser humano. Mas
áreas do conhecimento como a matemática, nem por isso eu abri mão da solidariedade.
física, não são com ele. A única coisa que Se você me pegar, hoje, e me botar numa
ele deve aprender é antropologia e sociologia, etnia em algum lugar na África, eu vivo
porque, através dessas disciplinas, ele vai como eles; se você me tirar de lá e me botar
descobrir por que ele é inferior ao branco”. numa família burguesa, eu também me viro
Diziam isso, exatamente: “Economia? Mas como eles [risos]. Então eu nasci mesmo com
os pais dele não sabem nem o que é um essa coisa entre culturas, tem a ver com a
talão de cheque, como um negro vai fazer minha trajetória de vida. Agora, os precon-
economia?”. É por isso que, quando criaram ceitos... Um dos dados: o preconceito entre
a universidade naquela região, a primeira os próprios brasileiros de ascendência euro-
coisa era simplesmente ciências sociais, e peia existe. Nordestinos também são vítimas
nada mais. E ciências sociais com a biblio- de preconceitos até na maneira de falar a
grafia selecionada, porque certas áreas do língua portuguesa, e tudo isso desenvolveu
conhecimento não poderiam ser ensinadas os mitos da preguiça nordestina. Uma das
naquelas universidades coloniais. Foi nesse minhas orientandas fez uma tese de douto-
sentido que fui fazer ciências sociais, porque rado sobre o mito da preguiça baiana. Acham
não tinha abstração. Não podia fazer mate- que os baianos são preguiçosos por natureza
mática, não podia fazer engenharia, econo- pelo fato, talvez, de serem negros, em sua

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dossiê interculturalidades Homenagem

grande maioria, mas é um mito porque, se os homem que atravessou culturas e que por
baianos não estivessem trabalhando, eu acho sorte veio parar no Brasil. Nós temos a sorte
que nenhum turista iria lá, eles passariam de poder contar com a consciência do pro-
fome. Eles estão trabalhando, só que têm o fessor Kabengele, que tão generosamente tem
conceito de tempo completamente diferente ajudado o Brasil a se pensar e não ocultar
do tempo capitalista. Eles chegam atrasados, isso que é uma riqueza. Professor, eu acho
saem mais tarde, acabam por preencher a que o público que se reúne hoje aqui, no
mesma carga horária e sabem dividir suas Instituto de Estudos Avançados da USP, é
atividades. Vão à missa de manhã, à noite um retrato desse Brasil que está progredindo.
estão no terreiro de candomblé; vivem um Eu estudei na USP, não tive colegas negros,
certo pluralismo religioso, que faz parte da professor, ainda menos. Eu comecei como
vida deles. Batizam os filhos, se casam, mas professora, não só universitária, e raramente
estão no terreiro de candomblé. tive alunos negros, como tenho hoje na Uni-
fesp, por exemplo. Eu acho que preciso regis-
Ligia Ferreira: Hoje a gente teve a opor- trar isso. Muito obrigada em nome do grupo
tunidade de conhecer um pouco mais deste Diálogos Interculturais [aplausos].

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