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Actividade Formativa 1

Proposta de Resolução

1. No que se segue, consideremos a função de Heaviside


(
0, se x ≤ 0
H(x) := ,
1, se x > 0

um intervalo real [a, b] e um ponto a ≤ c < b.


1.1. Tem-se (
0, se x ≤ c
H(x − c) = ,
1, se x > c
pelo que, no caso de c = a, a restrição da função H(· − a) ao intervalo [a, b],
(
0, se x = a
H(x − a) = , (1)
1, se a < x ≤ b

coincide com a função g do Exemplo 18 do texto “Integral de Riemann: Alcance


e Limitações”. Por esse exemplo, qualquer função f : [a, b] → R contı́nua no
ponto a é R-S-integrável em relação à função (1), tendo-se
Z b
(R − S) f (x) dH(x − a) = f (a).
a

Caso a < c < b, então a restrição de H(· − c) ao intervalo [a, b],


(
0, se a ≤ x ≤ c
H(x − c) = , (2)
1, se c < x ≤ b

coincide com a função ḡ do Exemplo 22 do mesmo texto. Agora note-se o seguinte:


no intervalo [a, c], a função (2) é constantemente igual a 0. Logo e pelo Exemplo
17 do texto anteriormente referido, qualquer função h : [a, c] → R é R-S-integrável
em relação a H(· − c) no intervalo [a, c] e
Z c
(R − S) h(x) dH(x − c) = 0.
a
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Pela Proposição 21 do mesmo texto, isto significa que qualquer função f : [a, b] →
R é R-S-integrável em relação a H(· − c) no intervalo [a, b] se, e só se, f|[c,b] é R-
S-integrável em relação a H(· − c) no intervalo [c, b]. Mas, no intervalo [c, b],
tem-se (
0, se x = c
H(x − c) = ,
1, se c < x ≤ b
que é o caso estudado na primeira parte. Por ela, podemos então concluir que
qualquer função f : [a, b] → R contı́nua no ponto c é R-S-integrável em relação a
H(· − c) no intervalo [a, b], tendo-se
Z b Z c Z b Z b
f (x) dH(x−c) = f (x) dH(x−c)+ f (x) dH(x−c) = f (x) dH(x−c) = f (c).
a a c c

(Aqui, os integrais são no sentido de Riemann-Stieltjes.)

1.2. Suponhamos agora que c = b. Neste caso, a restrição de H(· − b) ao


intervalo [a, b] é igual à função constantemente igual a 0. Deste modo, pelo
Exemplo 17 do texto “Integral de Riemann: Alcance e Limitações”, qualquer
função f : [a, b] → R é R-S-integrável em relação a H(· − b) no intervalo [a, b],
tendo-se Z b
(R − S) f (x) dH(x − b) = 0.
a

2. A resolução da primeira parte deste exercı́cio segue as linhas da demonstração


da Proposição 2 do texto “Integral de Riemann: Alcance e Limitações”, a qual
surge como um caso particular para a função (estritamente crescente) g(x) = x.
Assim, dada uma partição {[x0 , x1 ] , [x1 , x2 ] , . . . , [xn−1 , xn ]} de [a, b] que sa-
tisfaça a Definição 14 do texto referido com δ = 1, tem-se
n
X

f (ci )(g(xi ) − g(xi−1 )) − I < 1, ci ∈ [xi−1 , xi ] , i = 1, . . . , n.

i=1

Logo,
n n
X X
f (ci )(g(xi ) − g(xi−1 )) − |I ′ | ≤ f (ci )(g(xi ) − g(xi−1 )) − I ′ < 1,



i=1 i=1

ou seja, n
X
f (ci )(g(xi ) − g(xi−1 )) < 1 + |I ′ |.



i=1

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Consequentemente,
n n

X X

|f (c1 )|(g(x1 ) − g(x0 )) = f (ci )(g(xi ) − g(xi−1 )) − f (ci )(g(xi ) − g(xi−1 ))

i=1
n
i=2
n

X X

≤ f (ci )(g(xi ) − g(xi−1 )) + f (ci )(g(xi ) − g(xi−1 ))

i=1 i=2

Xn

< 1 + |I | + f (ci )(g(xi ) − g(xi−1 )) .

i=2

Assim, mantendo fixos os pontos c2 , . . . , cn e fazendo variar c1 ∈ [x0 , x1 ], resulta


que a função f é limitada no intervalo [x0 , x1 ], tendo-se
n !
1 X

|f (c1 )| < 1 + |I | + f (ci )(g(xi ) − g(xi−1 )) , ∀ c1 ∈ [x0 , x1 ] .
g(x1 ) − g(x0 )
i=2

Aqui, sublinhe-se que g(x1 ) − g(x0 ) > 0, por g ser estritamente crescente e por
x0 < x1 (cf. definição de partição). Deste modo fica provado que f é limitada no
intervalo [x0 , x1 ]. O mesmo raciocı́nio aplica-se aos restantes intervalos [xi−1 , xi ],
i = 2, . . . , n, da partição de [a, b] e, por conseguinte, f é limitada em todo o
intervalo [a, b].
Contudo, se g for uma função crescente, mas em sentido lato, já não é verdade
que uma função R-S-integrável em relação a g é limitada. Considere-se, por
exemplo, g uma função constante (portanto, crescente em sentido lato) num
intervalo [a, b], digamos [a, b] = [0, 1], e a função f : [0, 1] → R definida por
(
n, se x = n1 , n ∈ N
f (x) = .
0, caso contrário

Pelo Exemplo 17 do texto “Integral de Riemann: Alcance e Limitações” tem-


se que f é R-S-integrável em relação a g no intervalo [0, 1]. Contudo, f não é
limitada numa vizinhança de 0, pelo que f não é limitada no intervalo [0, 1].

3. Por definição de σ-álgebra e pelas observações subsequentes (texto “Medidas


e o Que Medir”) é imediato que qualquer σ-álgebra é, em particular, uma álgebra
de Boole. O exercı́cio reduz-se então a provar a implicação contrária. Para tal
há que verificar que se A é uma álgebra de Boole que verifica a propriedade
[
An ∈ A, n ∈ N, sucessão crescente =⇒ An ∈ A, (3)
n∈N

então X ∈ A e A verifica a propriedade (iii) da definição de σ-álgebra (Definição


1 do texto “Medidas e o Que Medir”).

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Para verificar que X ∈ A comece-se por observar que, de acordo com o enun-
ciado, A 6= ∅. Logo, existe um A ∈ A. Mas pela propriedade a) da definição de
álgebra de Boole, também Ac ∈ A, pelo que, pela propriedade b) da definição de
álgebra de Boole, X = A ∪ Ac ∈ A.
Sejam então An , n ∈ N, quaisquer elementos de A. Dado que A é uma álgebra
de Boole,
n
[
Ai ∈ A, ∀ n ∈ N.
i=1

Designemos por Bn a união ∪ni=1 Ai . É claro que

B1 ⊆ B2 ⊆ ... ⊆ Bn ⊆ ...,

ou seja, Bn , n ∈ N, é uma sucessão crescente de elementos de A. Logo e pela


hipótese (3), ∪n∈N Bn ∈ A. Como ∪n∈N Bn = ∪n∈N An , fica assim demonstrado
que A verifica a propriedade (iii) da definição de σ-álgebra.

4. Seja X um conjunto não numerável (por exemplo, X = Rn para n ≥ 1). Isto


significa que se A ⊂ X é um conjunto numerável, então Ac não é numerável (caso
o fosse, viria X = A ∪ Ac numerável, o que vai contra a hipótese de X não ser
numerável). Do mesmo modo, se Ac ⊂ X é um conjunto numerável, então A não
é numerável.
4.1. Como X c = ∅ é um conjunto numerável, X ∈ A. Ou seja, a propriedade (i)
da definição de σ-álgebra verifica-se.
Dado A ∈ A, dois casos podem acontecer: ou A é numerável, ou Ac é nume-
rável. Se Ac é numerável, então e automaticamente, Ac ∈ A. Se A é numerável,
então, derivado de (Ac )c = A, tem-se Ac ∈ A (por (Ac )c ser numerável). Inde-
pendentemente do caso considerado tem-se sempre Ac ∈ A, pelo que A verifica
a propriedade (ii) da definição de σ-álgebra.
Resta assim provar que A também verifica a propriedade (iii) da definição de
σ-álgebra. Para o efeito, consideremos An ∈ A, n ∈ N. Duas situações podem
acontecer:
1.a Situação: Suponhamos que os An são todos numeráveis. Como a união nu-
merável de conjuntos numeráveis é um conjunto numerável, tem-se então
[
An ∈ A.
n∈N

2.a Situação: Existe um n0 ∈ N para o qual Acn0 é numerável. Sob esta hipótese,
tem-se
!c !c
[ \ [
An = Acn ⊆ Acn0 numerável =⇒ An numerável,
n∈N n∈N n∈N

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ou seja, [
An ∈ A.
n∈N

Em qualquer das situações tem-se sempre


[
An ∈ A,
n∈N

com o que fica completa a prova que A verifica a propriedade (iii) da definição
de σ-álgebra.

4.2. Comece-se por observar que dado x ∈ X, o conjunto complementar {x}c =


X \{x} não é, nem vazio, nem se reduz a um conjunto singular, pois, por hipótese,
X é um conjunto não numerável. Deste modo, {x}c ∈ / M e, por conseguinte, M
não é uma σ-álgebra sobre X.
Vejamos que σ(M) = A, onde A é a σ-álgebra definida na alı́nea 4.1. Dito
de outro modo, equivalente, provemos que A é a menor σ-álgebra1 sobre X que
contém M. Para o efeito, há que verificar que

M⊆A

e que
M ⊆ G σ-álgebra sobre X =⇒ A ⊆ G.
A primeira parte é uma consequência dos conjuntos ∅, {x}, x ∈ X, serem
finitos (em particular, numeráveis) e, portanto, M ⊆ A.
Para verificar a segunda parte, consideremos uma σ-álgebra G sobre X tal
que M ⊆ G. Provemos que A ⊆ G, ou seja,

A ∈ A =⇒ A ∈ G, (4)

cf. Definição 4 do texto “Medidas e o Que Medir”. Dado A ∈ A, qualquer, dois


casos podem acontecer:
1.o Caso: A é numerável. Nesta situação, como

M := {∅, {x}x∈X } ⊆ G,

tem-se {x} ∈ G para cada x ∈ X e, consequentemente,


[
A= {x} ∈ G (união numerável)
x∈A

por G ser uma σ-álgebra.


1
No sentido da Definição 4 do texto “Medidas e o Que Medir”.

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2.o Caso: Ac é numerável. Analogamente, conclui-se que Ac = ∪x∈Ac {x} ∈ G.


Donde, (Ac )c ∈ G, por G ser uma σ-álgebra. Isto é, A = (Ac )c ∈ G.
Conclusão: em qualquer um dos dois casos possı́veis tem-se sempre A ∈ G,
com o que fica completa a prova da implicação (4).

5. Por definição do conjunto vazio tem-se, naturalmente, que x ∈ / ∅, pelo que


δx (∅) = 0. Ou seja, δx verifica a propriedade (i) da definição de medida.
Dados An ⊆ X, n ∈ N, disjuntos dois a dois, duas situações podem acontecer:
ou x ∈ ∪n∈N An , ou x ∈/ ∪n∈N An .
No primeiro caso, tem-se então
!
[
δx An = 1.
n∈N

No entanto, os conjuntos An são disjuntos dois a dois, pelo que o ponto x ∈


∪n∈N An só pode pertencer a um, e a um único, conjunto An . (Se x ∈ Ai e x ∈ Aj
para i 6= j, então os conjuntos Ai e Aj não seriam disjuntos, o que contradiz o
facto de An , n ∈ N, serem disjuntos dois a dois.) Logo, existe um único n0 ∈ N
para o qual x ∈ An0 . Deste modo,
(
1 se n = n0
δx (An ) :=
0, se n 6= n0

e, por conseguinte,

X
δx (An ) = δx (An0 ) = 1.
n=1

Se x ∈
/ ∪n∈N An , então x não é elemento de nenhum dos conjuntos An , n ∈ N.
Portanto, !
[ X∞
δx An = 0 = δx (An ).
n∈N n=1

Os dois casos analisados separadamente provam que δx também verifica a


propriedade (ii) da definição de medida. Assim sendo e por definição de me-
dida (Definição 15 do texto “Medidas e o Que Medir”), podemos concluir que a
aplicação (não negativa) δx é uma medida sobre (X, P(X)).

6. Este grupo 6 está naturalmente relacionado com o Exercı́cio 1 do texto “Medi-


das e o Que Medir”. Por este, nas condições do enunciado deste grupo 6, tem-se
A \ B, A∆B ∈ A.
6.1. Como
A ∪ B = (A \ (A ∩ B)) ∪ B,

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em que a união é disjunta, decorre da igualdade (11) do texto “Medidas e o Que


Medir” que
µ(A ∪ B) = µ(A \ (A ∩ B)) + µ(B),
onde, pelo Exercı́cio 7 do texto “Medidas e o Que Medir”,

µ(A \ (A ∩ B)) = µ(A) − µ(A ∩ B),

já que, por hipótese, µ(A ∩ B) < +∞. Logo,

µ(A ∪ B) = µ(A) + µ(B) − µ(A ∩ B).

6.2. Observe-se que


A ⊆ B ∪ A = B ∪ (A∆B).
Logo, pela monotonia da medida µ (Proposição 18 do texto “Medidas e o Que
Medir”) e pela alı́nea 2 da mesma Proposição,

µ(A) ≤ µ(B ∪ (A∆B)) ≤ µ(B) + µ(A∆B) = µ(B).


| {z }
=0

De igual modo, B ⊆ A ∪ (A∆B), donde e pelos mesmos argumentos,

µ(B) ≤ µ(A ∪ (A∆B)) ≤ µ(A) + µ(A∆B) = µ(A).

Conclusão: µ(A) = µ(B).

7. No espaço mensurável (Q, P(Q)) considerem-se a medida de contagem µ e a


sucessão decrescente

(]−1, 1[ ∩ Q) ⊃ (]−1/2, 1/2[ ∩ Q) ⊃ . . . ⊃ (]−1/n, 1/n[ ∩ Q) ⊃ . . . n ∈ N.

Como Q é denso em R, cada intersecção ]−1/n, 1/n[ ∩ Q tem um número infinito


de elementos e, por conseguinte,

µ(]−1/n, 1/n[ ∩ Q) = +∞, ∀ n ∈ N.

Contudo, \
(]−1/n, 1/n[ ∩ Q) = {0}
n∈N

com µ({0}) = #({0}) = 1.

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