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07/03/2018 As Técnicas e a Tecnologia (1941/1948), por Marcel Mauss | Sociofilo

Sociofilo

As Técnicas e a Tecnologia (1941/1948), por
Marcel Mauss

março 5, 2018 por blogdosociofilo

Criança geopolítica observando o nascimento do homem novo – Salvador Dalí (1943)

A Série “A História Antropológica de um Ponto de Vista Tecnológico”

A  Série,  publicada  em  Fascículos  pelos  Cadernos  do  Ateliê,  do  Ateliê  de  Humanidades*,  tem
o  propósito  de  disponibilizar  ao  grande  público  ensaios  de  “antropologia  das  tecnologias”.  Ela
tem o intuito de publicar, principalmente, traduções de textos clássicos da história da antropologia
(e de suas ciências irmãs, como a arqueologia e a etologia) que tenham assumido uma posição do
“ponto de vista tecnológico”. Pretendemos trazer também ensaios contemporâneos que trabalham
com uma abordagem antropológica das técnicas, dos objetos técnicos e das tecnologias.

Nesse primeiro fascículo da série trazemos o artigo de Marcel Mauss, “As Técnicas e a Tecnologia”
(1941/1948).

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07/03/2018 As Técnicas e a Tecnologia (1941/1948), por Marcel Mauss | Sociofilo

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Apresentação do texto[1]

André Magnelli (Ateliê de Humanidades / Sociofilo‑UERJ)

A importância da obra de Marcel Mauss para os estudos sobre magia, religião, sacrifício, formas
de  classificação,  contrato  e  troca  é  bastante  conhecida  e  reconhecida  dentro  das  ciências  sociais.
Mais recentemente, tem‑se descoberto também o significado das pesquisas do antropólogo francês
sobre  a  nação  e  a  civilização.  Contudo,  ainda  é  dada  pouca  atenção  para  (mais)  um  projeto
esboçado e inacabado de Mauss: o de uma teoria geral (isto  é,  uma  “tecno‑logia”),  das  técnicas  e  dos
objetos técnicos.

Exceto o célebre ensaio maussiano sobre As técnicas do corpo (1934), os demais textos e trechos da
obra do antropólogo francês não receberam ainda a devida atenção.[2] Mas a questão das técnicas
é  uma  presença  constante  em  sua  obra  e  em  seus  cursos.  Em  grande  parte,  a  razão  por  sua
desconsideração  está  no  fato  dele  ter  pouco  escrito  sobre  o  tema,  legando‑nos  uma  escassa
documentação  sobre  um  tópico  cujas  lições  influenciaram  obras  como  a  do  arqueólogo  André
Leroi‑Gourhan (1911‑1986) e do etnólogo e linguista André‑Georges Haudricourt (1872‑1927).

No itinerário de Mauss, uma primeira reflexão sobre o fenômeno técnico aparece no Esboço de uma
Teoria Geral da Magia (1902‑1904), escrito a quatro mãos com o arqueólogo e amigo Henri Hubert
(1872‑1927).[3]  Nele  os  autores  tratam  das  artes,  técnicas  e  ciências  mostrando  suas  similitudes
funcionais e, mesmo, suas origens históricas com a magia. Fora algumas intervenções em torno do
tema[4] e algumas considerações marginais no tratamento da origem das categorias sociológicas,
notadamente a de “matéria”[5], a questão das técnicas e dos objetos técnicos ganha contornos mais
claros na sua relação com a obra maussiana em três momentos.

Em  primeiro  lugar,  as  pesquisas  tecnológicas  ganham  feições  de  projeto,  pela  primeira  vez,  nos
seus  Cursos  de  Etnografia,  onde  é  encontrado  um  extenso  capítulo  sobre  tecnologias,  com
tipologia  e  análise  das  técnicas  e  dos  objetos  técnicos  nas  sociedades  ‘primitivas’  (1926).[6]  Em
segundo lugar, encontramos, no ensaio de sociologia geral “Divisões e proporções das divisões da
Sociologia” (1927), a apresentação da tecnologia, juntamente com a morfologia social, a estética e a
linguagem,  como  sendo  um  dos  fenômenos  sociológicos  fundamentais,  mas  que  teriam  sido
injustamente  classificados  na  seção  “Diversos”  de  L’Année  Sociologique.[7]  E,  em  terceiro  lugar,
aparece uma primeira definição maussiana do fato técnico na forma específica de sua encarnação
tradicional e eficaz no corpo humano, no ensaio já mencionado sobre as técnicas corporais (1934).
[8]  Tais  técnicas  do  corpo  serão  não  apenas  um  gênero  de  técnica,  mas  também  o  próprio
paradigma da técnica – posição teórica criticada posteriormente pelo ex‑aluno Leroi‑Gourhan.

O Texto

O  texto  por  ora  traduzido  é  muito  provavelmente  o  último  escrito  por  Marcel  Mauss,  em  um 2/11
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O  texto  por  ora  traduzido  é  muito  provavelmente  o  último  escrito  por  Marcel  Mauss,  em  um
momento em que ele já sofria dos sintomas de uma provável degenerescência do sistema nervoso
central, vindo a falecer 2 anos após sua publicação. Ele consiste em uma comunicação enviada a
uma jornada de psicologia e história do trabalho e das técnicas, ocorrida em Toulouse, em 1941.
Um extrato dele foi publicado em 1948 no Journal de Psychologie, com aparentes revisões textuais
feitas pelo próprio autor.

O argumento se divide em algumas partes. Primeiro (1), o autor propõe que se desenvolva uma
“tecnologia”, entendida como estudo geral das técnicas, no que realiza um contraste entre o atraso
francês e o avanço alemão. Segundo (2), ele define, classifica e estabelece as bases do método de
estudo  das  técnicas.  Terceiro  (3),  passa  a  considerações  sobre  o  papel  das  técnicas  no
desenvolvimento  histórico  e  trata  do  imbricamento  entre  técnicas  e  ciências  nas  sociedades
modernas; enfim, (4) diagnostica, bem no espírito da época, um processo de planificação técnica
do social.

1.  Um  programa  de  pesquisa  se  enuncia,  para  nós,  quando  Mauss  faz  uso  do  conceito  de
“tecnologia” como teoria geral das técnicas. Falando diante de um auditório francês especializado
no  uso  da  psicologia  aplicada  a  técnicas  –  as  “psicotécnicas”  ‑,  sobretudo  para  o  mundo  do
trabalho, ele defende a necessidade de uma reflexão histórica e científica sobre as técnicas. Tendo o
intuito  de  “estudar  todas  as  técnicas,  toda  a  vida  técnica  dos  homens  desde  a  origem  da
humanidade até nossos dias” (p. 1), a tecnologia busca

assinalar qual é o lugar da tecnologia, quais trabalhos ela produziu, quais resultados já foram
adquiridos,  o  quanto  ela  é  essencial  para  todo  estudo  do  homem,  de  seu  psiquismo,  das
sociedades,  de  sua  economia,  de  sua  história,  do  próprio  solo  do  qual  vivem  os  homens  e,
consequentemente, de sua mentalidade (p. 2).

Percebe‑se,  em  tal  passagem,  que  o  conceito  maussiano  do  fato  social  total,  elaborado  em  outro
lugar  de  sua  obra,  deve  incluir  não  apenas  o  dom  e  o  simbólico,  mas  também  o  técnico  e  o
tecnológico.

Ao  defender  a  necessidade  de  tal  ciência,  ele  diagnostica,  em  plena  IIa  Guerra  Mundial,  que  a
França  se  encontra  atrasada  em  relação  à  Alemanha  e  aos  EUA.  Atribuindo  aos  alemães  não
somente uma forte tradição de teoria e história das técnicas, mas também, com o trabalho pioneiro
de  Franz  Reuleaux,  o  estabelecimento  do  ensino  geral  da  tecnologia  nas  escolas,  o  antropólogo
francês  parece  defender  uma  causa  bem  atual  para  o  século  XXI:  “Em  um  momento  em  que  a
técnica e os técnicos estão em moda – por oposição à ciência chamada pura e à filosofia, acusadas
de serem dialéticas e vazias ‑, seria preciso, no entanto, antes de exaltar o espírito técnico, saber o
que  ele  é”  (p.  3).  Para  isso,  o  ensino  geral  sobre  a  natureza  das  técnicas  e  dos  objetos  técnicos
deveria fazer parte do currículo dos estudantes e da agenda de pesquisa dos universitários.

2.  Após  tal  defesa  de  uma  ciência  e  o  estudo  das  técnicas,  somos  surpreendidos  negativamente
com a definição por ele proposta. Preocupado em distinguir “técnica” de “religião” e de “arte”, ele
a  restringe  a  muito  pouco:  “Chama‑se  técnica  um  grupo  de  movimentos,  atos,  geralmente  e  na
maioria  manuais,  organizados  e  tradicionais,  que  concorrem  para  obter  um  objetivo  conhecido
como  físico  ou  químico  ou  orgânico.”  (p.  3).  Por  que  restringir  a  técnica  a  “movimentos,  atos,
geralmente e na maioria manuais”, parece‑nos um enigma, pois, no mesmo texto, Mauss mostra
ter conhecimento das mais avançadas técnicas de seu tempo – incluindo a radioatividade – e falar
de  um  processo  de  automação  irreversível.  Se  aceitássemos  tal  definição  estrita,  boa  parte  das
tecnologias  modernas,  incluindo  obviamente  as  contemporâneas  –  tecnologias  de  informação,
biotecnologias, inteligências artificiais, etc. – acabaria por sair do escopo de seu projeto. A noção
de  técnicas  corporais  deve  ter  enviesado,  desta  forma,  o  seu  olhar  sobre  o  fenômeno  como  um
todo.
De  todo  modo,  se  deixamos  de  lado  tal  ponto,  podemos  centrar  atenção  nas  feições  do  projeto 3/11
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07/03/2018 As Técnicas e a Tecnologia (1941/1948), por Marcel Mauss | Sociofilo

De  todo  modo,  se  deixamos  de  lado  tal  ponto,  podemos  centrar  atenção  nas  feições  do  projeto
antropológico  geral.  Muito  embora  o  texto  esteja  datado  (e  muito)  do  ponto  de  vista  dos  dados
arqueológicos, uma parte dos princípios continua vigente. Parece‑nos fundamental a proposta de
uma  abordagem  antropossociológica,  em  que  as  técnicas  e  os  objetos  técnicos  são  analisados
tomando‑se  em  conta  a  dimensão  social‑histórica  de  sua  inserção,  mas  sem  que,  com  isso,  as
técnicas sejam redutíveis a ela. Como mostra bem Mauss, as técnicas e os objetos técnicos são de
uma  ordem  própria  impossível  de  ser  reduzida,  a  priori,  seja  ao  econômico,  ao  político  ou  ao
social.

Além  disso,  há  outra  contribuição  para  o  debate  sobre  o  lugar  da  técnica  na  história  humana.
Lidando  com  a  tese  do  homo  faber,  ele  se  recusa  a  pensar  o  humano  somente  pela  via  da
“tecnicidade”,  pois  o  que  o  caracteriza  é,  antes  de  tudo,  a  criação.  Neste  sentido,  utilizando
Bergson,  ele  defende  uma  ruptura  entre  animalidade  e  humanidade  que,  hoje,  é  amplamente
contestada pela etologia e a antropologia. Independente disso, fica o princípio: falar em técnicas,
objetos  técnicos  e  tecnologias  humanas,  é  falar,  para  Mauss,  em  mais  do  que  uso  de  meios  para
chegar  a  fins,  é  falar  em  invenção  e  criação:  Ars  homo  additus  naturae,  diz‑nos,  citando  Francis
Bacon.

3. Se Mauss critica as teses evolucionistas, recomendando precaução na tentação de ler a história
humana somente do ponto de vista da técnica, ele afirma, contudo, a importância da “indústria”
(no  sentido  lato  do  termo)  para  a  história  e  o  estudo  comparado  das  sociedades.  Parafraseando
Kant,  podemos  dizer  que  há  um  esboço  de  projeto  de  história  universal  de  um  ponto  de  vista
tecnológico (logo, cosmopolita). Diante de uma tendência, existente desde o estruturalismo e o pós‑
estruturalismo, de interpretar o mundo em termos de simbólico, de linguagem e de discurso – o
que  é  feito  muitas  vezes,  com  razão,  remetendo  ao  próprio  Marcel  Mauss  como  sendo  grande
predecessor  ‑,  não  deixa  de  ser  terapêutico  encontrar  o  “inventor  do  simbólico”  defendendo  a
aderência da imaginação e da cultura no material, afirmando a indissociabilidade entre os sistemas
simbólicos e o fazeres técnicos, o desenvolvimento do espírito e o da técnica.

4.  O  texto,  escrito  sobre  o  pano  de  fundo  de  uma  guerra  mundial  e  do  nazismo,  é  muito
ambivalente. O seu desfecho chega ao cume, quando o autor trata da planificação social. Ele nos
parece  enunciar  a  entrada  definitiva  na  era  do  tecnicismo  –  dos  “planos”  chegamos  ao  Plano,  à
planificação.  Difícil  imaginar  um  judeu,  que  experimentava  a  força  técnica  de  um  nazismo
antissemita,  ser  impassível  a  tal  fato.  Dentre  as  entrelinhas  se  enuncia  o  afeto,  mas  ele  é  dito  na
forma de uma mera constatação: “não há mais como dominar o demônio desencadeado” (p. 6).

Como  sempre  em  sua  obra,  há  uma  tensão  entre  passagens  quase  pueris  e  outras  com  traços  de
gênio. Se ele é capaz de agregar significantes sem quaisquer análises, de forma arbitrária, dizendo
que “quem diz plano, diz a atividade de um povo, de uma nação, de uma civilização, diz, melhor
que jamais, moralidade, verdade, eficácia, utilidade, bem”, ele o faz enunciando, no mesmo lugar,
que,  diante  da  formação  de  um  sistema  técnico  inteiramente  interligado,  não  podemos  mais  nos
contentar com uma crítica “tecnofóbica”.

O mesmo autor que, algumas vezes, é visto e apropriado como uma espécie de “arcaísta do dom”
– acusação inteiramente injusta, pois o paradigma do dom não tem nada de arcaísmo ‑, acaba por
afirmar, sem grandes mediações, o caráter incontornável do círculo técnico‑científico: “Os planos
de ação são mais que uma moda; eles são necessidades. As técnicas já são independentes, melhor,
elas já estão em ordem entre si” (p. 6). Oscilando entre um otimismo do progresso técnico e uma
consciência dos riscos nele implicados, o velho Mauss quer, no fim das contas, continuar a passar
as  lições  de  sobriedade  do  durkheimianismo  aprendido  na  juventude:  “Não  acusemos  nem
louvemos”,  diz‑nos;  o  que  quer  dizer:  “apenas  pesquisemos  e  entendamos”.  Afinal,  conclui  ele,

àquele que queira recuperar os motes dualistas do idealismo, é importante começar a perceber ser 4/11
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àquele que queira recuperar os motes dualistas do idealismo, é importante começar a perceber ser
“Inútil  opor  matéria  e  espírito,  indústria  e  ideal.  No  nosso  tempo,  a  força  do  instrumento  é  a  força  do
espírito, e seu emprego implica a moral, assim como a inteligência” (p. 7).

As Técnicas e a Tecnologia (1941/1948)[9]

Marcel Mauss

Extrato  do  Journal  de  Psychologie,  41  (1948),  Paris.  A  comunicação  foi  enviada  às  Journées  de
psychologie et l’histoire du travail et des techniques em Toulouse, no ano de 1941. Publicado em: Les
techniques et la technologie. In: Oeuvres. 3. Cohésion sociale et division de la sociologie. p. 250‑256).

[Por uma tecnologia como estudo geral das técnicas: contraste entre França e Alemanha]

[71] Para falar adequadamente das técnicas, é preciso, antes de tudo, conhecê‑las. Ora, existe uma
ciência  que  se  interessa  por  elas,  aquela  que  é  chamada  “a  tecnologia”,  e  que  não  encontra  na
França o lugar que lhe é de direito.

É  útil  indicá‑la  aqui,  sobretudo  quando  é  a  Sociedade  de  Estudos  Psicológicos  que  organiza  esta
“Jornada de psicologia e história” (“Journée de psychologie et d’histoire”).

Nestas  matérias  de  psicologia  propriamente  dita  a  França  tem,  de  fato,  ultrapassado  os  outros
países. Aqueles da minha geração assistiram à invenção – por Binet, Simon, Victor Henri, a que se
somam  em  seguida  Piéron,  depois  Meyerson  e  Lahy,  e  que  outros  continuam  com  eficácia  –
aplicações da psicologia às técnicas, e, mais particularmente, ao recrutamento dos operários e dos
técnicos.

Não  é  senão  após  a  guerra  de  1914  que,  tendo  sido  aperfeiçoada  na  América  do  Norte,  a
psicotécnica,  que  havia  se  desenvolvido  por  todo  lugar,  teve  seu  primeiro  boom  na  França,
sobretudo  em  Paris,  e  que  procedimentos  consideráveis  obtiveram  resultados  não  menos
palpáveis, até mesmo indispensáveis.

Se esta parte do estudo das técnicas tem uma boa origem francesa, é preciso dizer, ao contrário,
que a ciência da qual ela é um capítulo não teve os mesmos desenvolvimentos: eu quero falar da
tecnologia.

É claro que a psicologia das técnicas que se faz atualmente é aquela de um momento da história e
da natureza dessas.

A tecnologia é uma ciência muito mais desenvolvida alhures do que na França. Ela pretende, com
razão, estudar todas as técnicas, toda a vida técnica dos homens desde a origem da humanidade
até nossos dias. Ela está na base e também no topo de todas as pesquisas que têm este objeto. A
psicotécnica  não  é  [72]  senão  uma  técnica  das  [sic.]  técnicas.  Ora,  ela  [a  tecnologia]  supõe
profundos conhecimentos gerais do objeto geral, as técnicas.

É  preciso,  portanto,  antes  de  tudo,  assinalar  qual  é  o  lugar  da  tecnologia, 
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07/03/2018 As Técnicas e a Tecnologia (1941/1948), por Marcel Mauss | Sociofilo

É  preciso,  portanto,  antes  de  tudo,  assinalar  qual  é  o  lugar  da  tecnologia,  quais  trabalhos  ela
produziu,  quais  resultados  já  foram  adquiridos,  o  quanto  ela  é  essencial  para  todo  estudo  do
homem, de seu psiquismo, das sociedades, de sua economia, de sua história, do próprio solo do
qual  vivem  os  homens  e,  consequentemente,  de  sua  mentalidade.  Não  existe  razão  para  que  ela
não  seja,  na  França,  objeto  de  ensinos  regulares  e  para  que  não  falemos  dela  aqui.  (Eu  conheço,
certamente, um curso, mas ele é demasiado elementar, e, além disso, destinado à observação das
técnicas  dos  povos  chamados  “primitivos”,  ou  “exóticos”,  como  o  queira;  eu  não  conheço
nenhuma outra).

Na  verdade,  essa  ciência  [a  tecnologia]  foi  fundada  na  Alemanha:  o  país  de  eleição  do  estudo
histórico e científico das técnicas – que, juntamente com a América do Norte agora, permanece à
frente  de  todos  os  progressos  técnicos.  Na  verdade,  ela  foi  instituída  por  [Franz] Reulaux [1829‑
1905],  o  grande  teórico  e  matemático,  mecânico  e  técnico  da  mecânica.  Ele  encontrou  junto  às
autoridades  prussianas  um  eco  imediato.  Sob  sua  direção,  foi  aberta  a  primeira  das  Escolas
Superiores Técnicas (as Technische Hochschulen),  a  de  Berlin,  que  tem  estatuto  de  Universidade,  e
da qual o diploma (Dipl. Ing.) tem estatuto de doutorado. O ensino geral da tecnologia, teoria e
história, é obrigatório para todas as seções especiais que conduzem aos diferentes diplomas. Está
aí a base natural do estudo geral das técnicas; ela deveria ser reconhecida entre nós.

Ora, aqui [na França], mesmo nos mais honoráveis estabelecimentos científicos, mesmo em nosso
ilustre  e  sempre  glorioso  Conservatório  [nacional]  das  artes  e  dos  ofícios,  a  tecnologia  não  tem
lugar  de  teoria  geral  dos  ofícios.  Em  Saint‑Germain,  no  Museu  das  antiguidades  nacionais,  meu
saudoso irmão de trabalho Henri Hubert tinha certamente instalado a Sala de Março, consagrada à
arte e à tecnologia comparada da idade da pedra; neste momento, essa sala não está mais nem em
uso.  No  Museu  do  Homem,  com  a  ajuda  do  Instituto  de  Etnologia,  conseguiu‑se  fazer  alguma
coisa, estabelecida agora mesmo, mas ainda modesta. O Museu de Viena, o Piၗ‑Rivers Museum, o
de Nordenskiöld em Göteborg são, por muitos pontos de vista, melhor estabelecidos do que nós.

[73]  Quanto  à  teoria  ou  à  descrição  histórica,  geográfica,  econômica,  política  dos  ofícios,  ela  foi
retomada  de  diversas  maneiras  na  França;  mas  ela  nunca  é  feita.  Nós  não  temos  nem  mesmo
mantido  a  tradição  das  boas  histórias  da  indústria  tais  como  eram  feitas  pelos  Becquerel  e  os
Figuier, que, ainda que anedóticas, instruíam o jovem e mesmo a criança. Meu tio Durkheim me
fez lê‑los. Um desses que estavam por um bom caminho, meu velho mestre [Alfred] Espinas, nos
ofereceu um curso sobre essas questões em Bourdeaux, do qual eu me lembro. (Seu livro sobre as
Origines de la technologie têm ainda valor). Mas ele não desenvolveu suficientemente suas ideias e
nem estendeu nem aprofundou suficientemente suas pesquisas.

[A “técnica” e os fatos técnicos: definição, classificação e método]

Algumas observações vão indicar as vias já abertas, e para onde elas conduzem.

Suponhamos  conhecidos  um  grande  número  de  fatos  que  até  mesmo  vários  dentre  vocês  talvez
não conheçam. Em um momento em que a técnica e os técnicos estão em moda – por oposição à
ciência  chamada  pura  e  à  filosofia,  acusadas  de  serem  dialéticas  e  vazias  ‑,  seria  preciso,  no
entanto, antes de exaltar o espírito técnico, saber o que ele é.

Antes de tudo, eis aqui uma definição:

Chama‑se  técnica  um  grupo  de  movimentos,  atos,  geralmente  e  na  maioria  manuais,  organizados  e
tradicionais, que concorrem para obter um objetivo conhecido como físico ou químico ou orgânico.

Essa definição tem por objetivo eliminar da consideração das técnicas aquelas sobre a religião ou a
arte, das quais os atos são também, com frequência, tradicionais e até mesmo técnicos, mas cujo
objetivo  é  sempre  diferente  do  objetivo  puramente  material,  e  cujos  meios,  mesmo  quando
superpostos  a  uma  técnica,  são  sempre  diferentes  dela.  Por  exemplo,  os  rituais  do  fogo  podem
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07/03/2018 As Técnicas e a Tecnologia (1941/1948), por Marcel Mauss | Sociofilo

superpostos  a  uma  técnica,  são  sempre  diferentes  dela.  Por  exemplo,  os  rituais  do  fogo  podem
comandar a técnica do fogo.

Este  modo  de  considerar  as  técnicas  permite  classificá‑las,  dar  um  quadro  comparado  do  que
ainda se chama os trabalhos, as artes e os ofícios;  assim  nós  dizemos  “o  ofício  da  pintura”,  mesmo
para o pintor de arte pura.

[74] Esta definição permite classificar os diferentes setores da tecnologia.

Há, antes de tudo, a tecnologia descritiva. Estes são os documentos:

1o histórica e geograficamente classificados: ferramentas, instrumentos, máquinas; no caso desses
dois últimos, analisados e montados;

2o  fisiológica  e  psicologicamente  estudados:  maneiras  de  se  servir  das  técnicas,  fotografias,
análises, etc.;

3o  classificados  por  sistemas  de  indústrias  em  cada  sociedade  estudada;  exemplos:  alimentação,
caça,  pesca,  cozimento,  conservação,  vestimentas,  transportes;  estudo  das  utilidades  gerais  e
particulares, etc.

A  esse  estudo  prévio  do  material  das  técnicas,  deve  ser  superposto  o  estudo  da  função  dessas
técnicas, de suas relações, de suas proporções, de seu lugar na vida social.

Esses últimos estudos conduzem a outros. Chega‑se a determinar então a natureza, as proporções,
as  variações,  o  uso  e  o  efeito  de  cada  indústria,  seus  valores  no  sistema  social.  E  todas  essas
análises  precisas  permitem,  então,  considerações  mais  gerais.  Elas  permitem,  antes  de  tudo,
diversas  formas  de  classificação  das  indústrias,  mas,  sobretudo,  elas  permitem  classificar  as
sociedades em relação a suas indústrias.

Daí  uma  terceira  ordem  de  considerações  gerais.  Um  número  crescente  de  cientistas  (etnólogos,
antropólogos,  sociólogos,  etc.)  dão  uma  extrema  importância  às  comparações  feitas  entre  essas
sociedades  que  têm  tais  indústrias.  Eles  pensam  poder  provar  os  empréstimos  dessas,  os  ares  de
repartição  daquelas,  e  mesmo  as  camadas  históricas  de  repartição,  como  já  fizeram  os  pré‑
historiadores. Uns mais prudentes, e mesmo muito prudentes, como os americanos, constatam os
fatos, e, de tempo em tempo, deduzem deles a história; outros, menos prudentes, reconstituíram
toda uma história da humanidade com a história das técnicas. Chega‑se daí a falar em uma idade
da  pedra  no  Congo,  que  pertenceria  à  época  da  civilização  onde  o  direito  de  herança  era  de
descendência uterina.

[75] Mas estes exageros não impedem a excelência do método quando ele é bem conduzido.

Mesmo  a  propósito  das  sociedades  mais  primitivas  conhecidas,  as  técnicas,  suas  funções
propagadas, após conservadas pela tradição, são – desde Boucher de Perthes – o melhor meio de
classificar,  mesmo  cronologicamente,  as  sociedades.  Sinanthropus,  o  homem  das  cavernas  de
Pequim, sabia cozinhar no fogo, o que prova que esse ser era seguramente um homem. Nós não
sabemos se ele falava; é provável, já que ele podia guardar certo modo de conservar o fogo.

Eu mesmo propus algumas opiniões sobre as técnicas do corpo e suas funções.[10] Por exemplo, a
técnica de natação varia e permite classificar civilizações inteiras.

Todas  são  específicas  a  cada  uma,  instrumentos  e  manejamento 


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07/03/2018 As Técnicas e a Tecnologia (1941/1948), por Marcel Mauss | Sociofilo

Todas  são  específicas  a  cada  uma,  instrumentos  e  manejamento  de  instrumentos  variando
infinitamente.  As  técnicas  são,  portanto,  ao  mesmo  tempo  que  humanas  por  natureza,
características de cada estado social.

Eu sei que outros vêem nisso mistérios. Homo faber, que seja. Mas a ideia bergsoniana da criação é
exatamente a ideia contrária da tecnicidade, da criação a partir de uma matéria que o homem não
criou, mas que ele se adapta, transforma, e que é digerida pelo esforço comum, esse esforço sendo
alimentado,  a  cada  instante  e  em  cada  lugar,  por  novos  aportes:  “Ars  homo  additus  naturae”  é
verdade  para  as  artes  e  os  ofícios,  ainda  mais  do  que  para  a  arte:  é  a  partir  da  penetração  da
natureza  física  que  resulta  a  arte,  o  ofício,  que  vive  o  artesão,  o  industrial,  e  em  que  se
desenvolvem a indústria e as civilizações, a civilização.

[Técnica & Ciência nas sociedades modernas: a centralidade da técnica]

Por um outro ponto de vista, o estudo das técnicas é ainda mais importante. É aquele das relações
que  ela  sustenta  com  as  ciências,  filhas  e  mães  das  técnicas.  De  fato,  hoje,  a  imensa  maioria  dos
homens  está  mais  ou  menos  engajada  nestas  ocupações.  A  maior  parte  de  seu  tempo  está
engrenada  [76]  neste  trabalho  do  qual  a  coletividade  guarda  e  aumenta  o  tesouro  das  tradições.
Mesmo a ciência, sobretudo a magnífica ciência de nossos dias, tornou‑se um elemento necessário
da  técnica,  um  meio.  Nós  escutamos  ou  vemos  elétrons  ou  os  íons  por  uma  técnica,  que  todo
“rádio” conhece. Um mecânico de precisão opera por perspectivas, [usando] o suporte de verniers,
que,  outrora,  era  o  privilégio  dos  astrônomos.  Um  piloto  de  avião  lê  um  mapa  como  nós  nunca
havíamos feito, ao mesmo tempo que ele vê as alturas das montanhas ou o fundo do mar, como
nenhum de nós em nossa juventude podia sonhar. O  hino à ciência e aos ofícios do século XIX é,
no século XX, mais verdadeiro do que nunca. A embriaguez da produção não foi perdida. Existem
belas e boas máquinas, belos automóveis. Faz‑se das máquinas um bom ofício. Há o gozo da obra,
há aquele do cálculo seguro, da realização perfeita e em massa, com máquinas inventadas sobre
planos  precisos,  sobre  esboços  precisos,  para  fabricar  em  série  máquinas  ainda  mais  precisas  e
mais gigantescas, ou mais finas e que fabricam elas próprias outras máquinas, em uma cadeia sem
fim onde cada uma delas não é senão um elo. Eis aí o que nós vivemos. E isso não terminou.

Se  nós  acrescentarmos  que,  em  nosso  dias,  a  técnica  mais  elementar,  por  exemplo  aquela  da
alimentação (nós sabemos alguma coisa dela nesse momento), entra nesta engrenagem dos planos
industriais; se nós notarmos que a “Economia industrial”, aquela que se continua indevidamente a
considerar  apenas  como  parte  da  Economia  denominada  política,  torna‑se  uma  roda  dentada
essencial  da  vida  de  cada  sociedade,  até  mesmo  das  relações  entre  sociedades  (ersa柽,  etc.),  nós
mediremos a extensão da contribuição indefinida da técnica para o próprio desenvolvimento do
espírito.

Assim, desde um tempo longínquo, muito longínquo, onde Sinanthropus, o homem das cavernas
de  Chou‑Kou‑Tien,  perto  de  Pequim,  o  menor  homem  de  todos  os  homens  que  nos  são
conhecidos, sabia ao menos conservar o fogo, o sinal certo da humanidade, trata‑se da existência
das  técnicas  e  de  sua  conservação  tradicional.  A  classificação  certa  das  humanidades  existe,  é
aquela de suas técnicas, de suas máquinas, de suas indústrias, de suas invenções. Neste progresso
se inscreve o espírito, a ciência, a força, a habilidade, a grandeza de sua civilização.

[77]  Não  acusemos  nem  louvemos,  há  outras  coisas  na  vida  coletiva  além  das  técnicas,  mas  a
predominância de tal ou qual técnica em tal ou qual idade da humanidade, qualifica as nações. Em
um belo trabalho publicado na Revue de naturalistes, um de nossos bons “comparadores”, Senhor
Haudricourt,  acabou  de  mostrar  como  nossas  melhores  técnicas  de  atrelar  bois  ou  cavalos  a
veículos vieram todas e bem lentamente da Ásia. Nisso, a Ásia foi sempre superior e, em muitas
outras coisas, permanece ainda um modelo.

Pode‑se  mesmo  falar  quantitativamente  dessas  questões.  O  número  de  patentes  adquiridas  ou 8/11
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07/03/2018 As Técnicas e a Tecnologia (1941/1948), por Marcel Mauss | Sociofilo

Pode‑se  mesmo  falar  quantitativamente  dessas  questões.  O  número  de  patentes  adquiridas  ou
licenciadas na França, e cujas patentes foram reconhecidas alhures, é infelizmente bem inferior às
licenças alemãs, inglesas e, sobretudo, americanas. São estas últimas que conduzem o trem, dão a
cadência.

Mesmo a ciência torna‑se cada vez mais técnica e a técnica age cada vez mais sobre ela. As mais
puras  pesquisas  chegam  a  resultados  imediatos.  Todo  mundo  conhece  a  radioatividade.  Está‑se
agora  conservando‑se  e  concentrando‑se  os  nêutrons.  Logo  talvez  se  conhecerá  o  arreio.  Os
elétrons,  nos  microscópios  para  elétrons,  crescem  para  o  milionésimo.  Está‑se  próximo  de
fotografar  os  átomos.  Vê‑se,  “experimenta”‑se  com  eles.  O  círculo  das  relações  ciência‑técnica  é
cada vez mais vasto, mas, ao mesmo tempo, melhor e melhor fechado.

Não há mais como dominar o demônio desencadeado.

Mas  seu  perigo  é  exagerado.  Não  falamos  nem  de  bem,  nem  de  mal,  nem  de  moral,  nem  de
direito, nem de força, nem de moeda, nem de reserva, nem de jogo de Bolsa. Tudo isso é menor do
que o que se prepara.

Na hora em que se está, o destino pertence aos escritórios de estudos [bureaux d’études] tais como
aqueles que as grandes fábricas sabem montar, e estes escritórios de estudos devem ter estreitas
relações com aqueles de estatística, de economia, porque uma indústria não é mais possível senão
por suas relações com uma quantidade de outras, com uma quantidade de ciências, quantidade de
Economias  dirigidas,  individuais  ou  públicas,  tão  fortes  quanto  possível.  Os  planos  de  ação  são
mais que uma moda; eles são necessidades. As técnicas já são independentes, melhor, elas já estão
em  ordem  entre  si,  elas  já  têm  seu  lugar,  elas  não  são  mais  apenas  ganchos  suspensos  sobre
cadeias de felizes acasos, de adaptações fortuitas, de interesses e de invenções. Elas vêm se alojar
em  planos  premeditados,  onde  é  preciso  estabelecer  edifícios  gigantescos  para  máquinas
gigantescas que fabricam outras, as quais fabricarão ainda outras, finas ou fortes, mas dependendo
umas  das  outras  e  destinadas  a  produtos  tão  exatos,  algumas  vezes  mais  exatos  do  que  aqueles
produtos de laboratórios de antigamente.

[Força do instrumento e força do espírito: a planificação social]

Mas o conjunto destes planos deve ser acordado de outra forma, e não pelo acaso. As técnicas se
entrelaçam, as bases econômicas, as forças de trabalho, as partes da natureza que as sociedades se
apropriaram, os direitos de cada um e de todos, entrecruzam‑se. Agora mesmo, além dos planos,
eleva‑se a silhueta do “plano”, do planismo como se diz, e como em certos países já foi feito.

Eu  vejo  ainda  nosso  genial  François  Simiand,  adjunto  de  Albert  Thomas  no  Ministério  do
armamento da outra guerra, calcular “as existências” mundiais e também as necessidades militares
ou  civis  do  país  –  decidir  sobre  o  possível  e  o  inútil.  Economia  de  guerra,  dir‑se‑á,  era  verdade.
Mas  os  métodos  instituídos  então  fizeram  progresso,  não  apenas  na  guerra,  onde  eles  são
necessários, mas na paz.

E, quem diz plano, diz a atividade de um povo, de uma nação, de uma civilização, diz, melhor que
jamais, moralidade, verdade, eficácia, utilidade, bem.

Inútil opor matéria e espírito, indústria e ideal. No nosso tempo, a força do instrumento é a força
do espírito, e seu emprego implica a moral, assim como a inteligência.

Notas

*  Ateliê  de  Humanidades  é  um  espaço  de  livre  estudo,  pesquisa,  escrita  e  formação,  sediado  na 9/11
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07/03/2018 As Técnicas e a Tecnologia (1941/1948), por Marcel Mauss | Sociofilo

*  Ateliê  de  Humanidades  é  um  espaço  de  livre  estudo,  pesquisa,  escrita  e  formação,  sediado  na
cidade  do  Rio  de  Janeiro.  E‑mail:  ateliedehumanidades@gmail.com;  Site:
ateliedehumanidades.com  (em  construção  e  lançamento  em  breve).  Os  Cadernos do Ateliê  são  um
meio  de  publicação  não‑periódico  do  Ateliê  de  Humanidades,  voltado  a  apresentar  ao  grande
público,  por  redes  sociais  ou  meio  impresso,  artigos,  ensaios,  revisões  bibliográficas  e  traduções
resultantes das atividades de estudo e pesquisa do Instituto.

[1] Outras apresentações da questão da tecnologia na obra de Mauss podem ser encontradas em:
SCHLANGER, Nathalie. Une technologie engagée : Marcel Mauss et l’étude des techniques dans
les  sciences  sociales,  par  Nathan  Schlanger.  In:  Techniques,  technologie  et  civilisation.  Paris:  PUF,
Collection Quadrige, 2012 ; VATIN, François, « Mauss et la technologie », Revue du MAUSS 2004/1
(no 23), p. 418‑433.

[2]  Felizmente,  foi  publicada  na  França,  com  edição  e  apresentação  de  Nathan  Schlanger,  uma
compilação  dos  seus  textos  sobre  técnicas,  tecnologia  e  civilização:  MAUSS,  Marcel;
SCHLANGER, Nathan (org.). Techniques, technologie et civilisation. Paris: PUF, Collection Quadrige,
2012.

[3] MAUSS, Marcel (1902‑1904) Esboço de uma teoria geral da magia. In: Sociologia e Antropologia.
São Paulo: Cosac Naify, 2003. p. 47‑181.

[4]  Por  exemplo:  MAUSS,  Marcel.  (1927‑1928).  (1929)  Débat  sur  l’origine  de  la  technologie
humaine.    In:  Oeuvres.  3.  Cohésion  sociale  et  division  de  la  sociologie.  p.  257;  (1938)  [Techniques  et
économie].  Intervention  à  la  suite  d’une  communication  de  Robert  Marjolin.  In:  Oeuvres.  3.
Cohésion sociale et division de la sociologie, p. 247‑249.

[5]  MAUSS,  Marcel.  (1939/  1945)  Conceptions  qui  ont  précédé  la  notion  de  matière.  In:  Oeuvres,
tome II. représentations collectives et diversité des civilisations.  Paris:  Éditions  de  Minuit,  1969.  p.161‑
168.

[6] Os cursos de etnografia, que foram lecionados entre 1926 e 1939, chegaram a nós pelo Manuel
d’Ethnographie (1947), que foi uma publicação não de manuscritos do autor, mas sim de anotações
de  curso,  organizadas  por  Denise  Paulme:  MAUSS  (1926)  Manuel  d’ethnographie.  Paris:  Éditions
sociales, 1967, cap. 4. Veja também: MAUSS, Marcel (1929) Les civilisations. Éléments et formes. In:
Oeuvres, tome II. représentations collectives et diversité des civilisations. Paris: Éditions de Minuit, 1969.
p. 459‑487.

[7] MAUSS, Marcel (1927). Divisions et proportions des divisions de la sociologie. In: Oeuvres. 3.
Cohésion sociale et division de la sociologie. p. 178‑245 (em especial p. 189‑190, 194‑200).

[8]  MAUSS,  Marcel  (1935).  As  técnicas  do  corpo.  In:  Sociologia  e  Antropologia.  São  Paulo:  Cosac
Naify, 2003.  p.399‑420).

[9]  O  presente  texto  foi  traduzido  por  André  Magnelli,  com  revisão  de  Rafael  Damasceno  e
Maryalua Meyer. Foram acrescidas seções ao texto, com fins didáticos.

[10] Les techniques du corps. Journal de Psychologie, 1935, p.27.

https://blogdosociofilo.wordpress.com/2018/03/05/as­tecnicas­e­a­tecnologia­1941­1948­por­marcel­mauss/ 10/11
07/03/2018 As Técnicas e a Tecnologia (1941/1948), por Marcel Mauss | Sociofilo
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