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Dial 15 Rafael Michel Houellebecq
Dial 15 Rafael Michel Houellebecq
- Agostinho
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Rafael Agostinho é internacionalista, graduado em Letras-Tradução-Francês pela Universidade de
Brasília e mestrando em Estudos Europeus e Internacionais pelo Instituto de Estudos Políticos de
Grenoble.
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principalmente, devido aos seus diversos problemas de saúde no fim de sua vida
terrestre.
O narrador de Submissão o escolheu como centro de estudos, ao ponto de
escrever uma tese de doutorado por sete anos e com 788 páginas, com certa
inconsciência de que sua trajetória de vida seria tão conexa à de Huysmans, mas certo
de que reconhecia sua própria situação de miséria humana à deste escritor. Não foi por
acaso que o autor desta obra escolheu Huysmans como representação da ante vida do
personagem principal. Houellebecq foi vencedor do prêmio da Academia de Goncourt
em 2010 que teve como um dos fundadores e como presidente o escritor Joris Karl
Huysmans.
Para o personagem François, a vida acadêmica nas ciências humanas assim
como os estudos na área de letras, não levam a quase lugar nenhum. Passa a viver à
deriva do tempo, com relações amorosas e sexuais voláteis e descartáveis com prazo de
validade de um ano acadêmico, em uma rotina de prazeres materiais e etílicos. François
observa, portanto, de forma inerte a corrida eleitoral à Presidência da França no ano de
2022. Enquanto isso, o aumento da violência e confrontos interétnicos são abafados
pelas meios de comunicação e pelas mídias televisas.
Enquanto François tenta, de forma abissal, manter o caso com a jovem aluna
Myriam, no primeiro turno das eleições presidenciais vemos a ascensão no quadro
político de um partido pouco conhecido e chamado de Fraternidade Muçulmana. Para
um segundo turno absolutamente inédito e imprevisível, o Partido Socialista está fora do
páreo e a corrida eleitoral se polariza entre a Frente Nacional, de extrema direita
representada por Marine Le Pen e o partido recém projetado Fraternidade Muçulmana
representado por Mohammed Ben Abbes. François se despede de Myriam não de forma
tão trágica, mas teoricamente romântica para o mundo atual, tendo em vista que seria
possível manter contato por meio da internet. Ela parte para Israel com sua família judia
pois seus pais preveem um cenário pouco favorável para a liberdade religiosa.
No âmbito político, com o objetivo de evitar uma vitória da extrema direita, o
tradicional Partido Socialista apoia e faz alianças políticas com a Fraternidade
Muçulmana. Um dos acordos que representa a perda da grande conquista intelectual
ocidental na visão da França, a submissão do ensino à uma religião, sobretudo ao Islã. O
islamismo impõe regras estritas e restringe a liberdade, principalmente das mulheres.
Com a vitória do Partido Fraternidade Muçulmana e a ascensão ao poder de Mohammed
Ben Abbes, há uma queda da taxa de desemprego pois os homens dominam o mercado
de trabalho, funcionárias da Sorbonne são obrigadas a usar véus para manterem suas
rendas, professoras passam a não ter mais o direito de lecionar em universidades
públicas, mulheres são estimuladas a estudar somente até os 12 anos de idade, já que
seu papel social é casar-se e realizar trabalhos domésticos. A poligamia passa a ser
estimulada pelo governo e ser reconhecida juridicamente. E assim, o personagem
houellebecquiano, já que não é muçulmano, tem como única alternativa profissional a
aposentadoria precoce.
François mergulha em um período depressivo da sua vida e como de costume
sem objetivos pessoais, sofre com a distância e com saudades de Myriam, usufrui ainda
mais dos grandes prazeres sexuais e materiais. Ele se vê perdido espiritualmente e cada
vez mais indiferente aos acontecimentos políticos. Até que passa a observar a mudança
comportamental das mulheres submissas aos seus maridos.
Posteriormente, é convidado pelo novo diretor nietzschiano da Sorbonne, o Sr.
Robert Rediger, a retomar suas atividades junto à Universidade. O primeiro passo seria
ler o livro intitulado “Dez questões sobre o islã”. No início, um livro pouco interessante
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Tradução feita pela autor deste artigo.
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Bibliografia
BAUMAN, Zigmunt.. Modernidade Líquida. Tradução: Plínio Dentzien. Rio de
Janeiro: Zahar, 2003.
CANDIDO, A. Direito à literatura. In: Vários escritos. São Paulo: Duas cidades, 1995.
HOUELLEBECQ, M. Soumission. Flammarion, 2015.
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