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Caros irmãos e irmãs,
uma das santas mais amadas é, sem dúvida, Santa Clara de Assis, que viveu
no século XIII, contemporânea de São Francisco. O seu testemunho mostra-
nos o quanto a Igreja deve a mulheres corajosas e ricas na fé como ela,
capazes de dar um impulso decisivo para a renovação da Igreja.
Quem foi então Clara de Assis? Para responder a esta pergunta, temos fontes
seguras, não apenas as antigas biografias, como a de Tomás de Celano, mas
também os autos do processo de canonização promovido pelo Papa já pouco
depois da morte de Clara e que contêm o testemunho dos que viveram ao seu
lado por muito tempo.
Numa das quatro cartas que Clara enviou a Santa Inês de Praga, filha do rei da
Bohemia, que queria seguir os seus passos, ela fala de Cristo, seu amado
esposo, com expressões nupciais, que podem surpreender, mas que
comovem: "Amando-o, és casta, tocando-o, serás mais pura, deixando-se
possuir por Ele, és virgem. O Seu poder é mais forte, a Sua generosidade,
mais elevada, o Seu aspecto, mais belo, o amor mais suave e toda a graça.
Agora tu estás acolhida no Seu abraço, que ornou o teu peito com pedras
preciosas... e te coroou com uma coroa de ouro gravada com o selo da
santidade" (Lettera prima: FF, 2862).
Sobretudo no início da sua experiência religiosa, Clara teve em Francisco de
Assis não só um mestre a quem seguir os ensinamentos, mas também um
amigo fraterno. A amizade entre estes dois santos constitui um aspecto muito
belo e importante. Efectivamente, quando duas almas puras e inflamadas do
mesmo amor por Deus se encontram, há na amizade recíproca um forte
estímulo para percorrer o caminho da perfeição. A amizade é um dos
sentimentos humanos mais nobres e elevados que a Graça divina purifica e
transfigura. Como São Francisco e Santa Clara, outros Santos viveram uma
profunda amizade no caminho para a perfeição cristã, como São Francisco de
Sales e Santa Giovanna de Chantal. O próprio São Francisco de Sales
escreve: “é belo poder amar na terra como se ama no céu, e aprender a amar-
nos neste mundo como faremos eternamente no outro. Não falo aqui de
simples amor de caridade, porque este devemos tê-lo todos os homens; falo do
amor espiritual, no âmbito do qual, duas, três, quatro ou mais pessoas
compartilham devoção, afecto espiritual e tornam-se realmente um só espírito”
(Introduzione alla vita devota III, 19).
Agradecidos a Deus que nos dá os Santos, que falam ao nosso coração e nos
oferecem um exemplo de vida cristã a imitar, gostaria de concluir com as
mesmas palavras de bênção que Santa Clara compôs para as suas irmãs e
que ainda hoje as Clarissas, que desempenham um precioso papel na Igreja
com a sua oração e com a sua obra, custodiam com grande devoção. São
expressões das quais surge toda a ternura da sua maternidade espiritual:
“Bendigo-vos na minha vida e depois da minha morte, como posso e mais de
quanto posso, com todas as bênçãos com as que o Pai das misericórdias
abençoa e abençoará no céu e na terra os seus filhos e filhas, e com as quais
um pai e uma mãe espiritual abençoa e abençoará os seus filhos e filhas
espirituais. Ámen” (FF, 2856).