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A força da voz como salvação na mitologia e na atualidade

“Apollo e Dafne” é uma obra mítica e atemporal que faz parte da


mitologia grega. No mito, Apollo vivenciou a torturante dor da recusa originada
pelas flechas do Cupido, acarreando angustiantes danos para a ninfa Dafne e o
deus do Sol. Desta maneira, as figuras da antiguidade postas e exemplificadas
na obra podem explicitar presentemente a figura da mulher no mundo.

No clímax da obra, Apollo torna-se vítima do Cupido, que depois de


sentir-se insultado, o fere com a flecha de ouro e enfeitiçadamente se apaixona
perdidamente pela ninfa. A mesma sendo também ferida, porém com uma
flecha de chumbo, tornou-se insensível e recusara quaisquer pretendentes.
Fugindo e não concedendo aos caprichos e teimosias do encantado Apollo,
implora amedrontadamente que se transforme em loureiro para se defender do
desejo carnal que o deus sentira pela mesma. A partir deste trecho da obra,
podemos fazer analogia com a mulher Maria da Penha, que lutou com coragem
e voz para conquistar sua proteção feminina diante do sofrimento e da violência
masculina imposta sobre as mulheres.

Em vista disso, mesmo a filha do rio-deus Peneu sendo transformada em


loureiro, Apolo ainda sentira sobre domínio da árvore, no qual fica claro quando
diz "serás a minha planta" e se vê abraçando e beijando o tronco como se
fossem membros da amada, que mesmo perdendo sua aparência humana,
ainda se tornou um símbolo de conquista e posse para o mais belo e
infelizardo deus do Olimpo. No momento em que "os ramos afastaram-se de
seus lábios" a trama traçou a imagem da mulher, que não cedeu a imposição
masculina, pois tem os braços transformados em armas.

Podemos concluir que de uma forma similar nos dias atuais, Apollo seria
enquadrado no Art. 97 que o isenta de pena por imputabilidade em razão do
feitiço, que ao tempo da ação ou omissão, não era capaz de entender e
compreender o caráter ilícito de seu comportamento assedioso ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento. Já Dafne, é uma figura
feminina que remete à Maria da Penha e que, ao deixar de ser silente,
combateu com todas as armas seu assediador, pelo qual lutou a incluir em sua
legislação normas específica para prevenir, punir e erradicar a violência contra
a mulher, e em 2006, se tornando a Lei nº 11.340 assegurando às mulheres as
condições para o exercício dos direitos à vida, à segurança, ao acesso à
justiça, à cidadania, à liberdade, à dignidade e ao respeito. Por fim, Maria da
Penha não fora salva por uma metamorfose como a ninfa Dafne, mas pela sua
própria voz, que se tornou salvação para milhares de brasileiras.

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