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Filosofia da
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Cidade Filosófica
A CIÊNCIA DA MORTE
O ser humano tem a mania de mana - o pavor da utilização da a necessidade de discutir a étnica
sempre achar um culpado para bomba atômica. no interior da relação entre técni-
tudo de ruim que ocorre ao seu re- O desenvolvimento de uma ci- ca e ciência é ancestral a isso tudo.
dor, principalmente quando isso ência bélica é produto de uma so- Contudo, pela primeira vez, o re-
determina seu fracasso enquanto ciedade conflituosa, mas, ao mes- sultado dessa aliança destituída de
coletividade. Pois então, o cientis- mo tempo, num estado de des- responsabilidade plena do cientis-
ta, principalmente a partir do sé- compasso recíproco, num paradig- ta ocasionou um morticínio de mi-
culo XX, foi o terceiro responsá- ma de descontrole generalizado. lhões de pessoas em um curto es-
vel, principalmente com a inven- Então o que a ciência fez para a paço de tempo, então, nos pergun-
ção de técnicas mais baratas e so- ponsável pela desinfecção dos O que a ciência fez foi transfor- vida? No recorte belicoso, é uma tamos qual tamanho da responsa-
fisticadas de eliminação humana hospitais, acabou com a caça às mar o modo de fazer a guerra, pri- ciência da morte, da ameaça e da bilidade da ciência. Cremos que o
em massa na segunda grande guer- bruxas, determinou aumento ex- meiro alargou e distorceu a ampli- guerra - armas biológicas assom- cientista não é um santo, que não
ra, como as câmaras de gás e a ponencial na produção de alimen- tude de seu poder, depois deu no- bram nossas vidas enquanto resul- está ileso de responsabilidade e im-
bomba atômica, para citar ambos tos, interligou o mundo com o ce- vas coisas para as nações se desen- tado da inevitabilidade da ciência putação pelo que cria e faz, mas
os lados do conflito. lular e depois a internet, em suma, tenderem, principalmente com a na vida humana. também não é a figura do "maldi-
O homem é o único animal ela propiciou a melhora na condi- criação do "supérfluo", faz-se guer- Não conseguimos mais pen- to" no todo. Devemos pensar
onde a guerra se expressa não de ção da vida humana. ra pelo domínio de minas de urâ- sar nossa vida sem a ciência, res- numa gestão de corresponsabilida-
forma individual, em uma compe- Nesse binômio, entre o bem e nio, por fama e por poder e, por piramos e sentimos seus resulta- de nesse tema, pensando no alar-
tição por um prêmio personalíssi- o mal, o bom e o ruim, a constru- último, "criou os nervos da guerra dos em cada parte da nosso exis- gamento solidário dos efeitos ma-
mo como em outras espécies, ele ção e a destruição, o cientista é, em e a guerra dos nervos" (BRO- tir, mais isso coloca em xeque se léficos da ciência.
só faz guerra em grupos e, para verdade, um bode expiatório, pois NOSKI, 1977), principalmente podemos continuar criando "coi- Devemos então refletir em que
tanto, necessita de sociedades não é ele responsável, exclusiva- quando instala o medo generali- sas" sem pensar na sua instru- medida uma fraqueza ética e uma
muito bem organizadas para sua mente e no todo, pela produção zado, transforma estabilidade em mentalidade e na sua funcionali- perversão moral da existência nos
realização - os Estados. das guerras. Em verdade, o homem desconfiança, segurança em terror. dade para o homem e a socieda- contamina. Bronoski alerta para a
Enquanto de um lado respon- detém uma natureza conflitiva e A simples possibilidade do início de. Eis o nó górdio. necessidade de uma ética eficaz e
sabilizamos os cientistas pelo as- competitiva, e a guerra sempre da guerra apavora o homem, pois Depois do holocausto, a Filo- forte para regular essa seara da
sassínio massivo do último sécu- existiu independente do nível de os efeitos da possibilidade da guer- sofia ganhou força evidenciando condição humana, mas não diz
lo, a ciência é também é responsá- conhecimento adquirido histori- ra se traduzem na possibilidade da o atrito ético no interior da ciên- como fazer. Se fácil fosse, já tería-
vel por suavizar a nossa existên- camente. eliminação de si e da espécie hu- cia, mas essa não é a grande novi- mos a muito removido essa pedra
cia, ela acabou com tabus, foi res- dade filosófica do século XX, pois no sapato.