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Introdução
Na tradição cultural dos países que compõem a América Latina encontramos
um de seus aspectos que se designou como filosofia, ou seja, uma forma
peculiar de reflexão visando encontrar soluções a variados problemas relativos
ao homem, às sociedades e às culturas latino-americanas.
Recentemente, essa filosofia passou a tomar como objeto de reflexão a si
mesma, colocando questões relativas à sua originalidade, autenticidade e,
inclusive, questões problematizando sua eventual existência ou não existência.
É no período que se estende de l968 a l973 que essas questões emergem de
forma acentuada em autores como Augusto Salazar Bondy e Leopoldo Zea. O
primeiro publica em l968 o livro Existe una filosofía de nuestra
América ? (1) questionando a existência de uma filosofia autêntica e original na
América Latina. Leopoldo Zea, por sua vez, discute essa problemática em seu
livro La filosofía americana como filosofía sin más (2) publicado em l969. Em
l973, dando prosseguimento às suas reflexões, os autores proferem em San
Miguel, na Argentina, as conferências: La filosofía latinoamericana como
filosofía de la liberación, de Leopoldo Zea (3) e Filosofía de la dominación e
filosofía de la liberación, de Salazar Bondy. (4)
Os dois livros citados mais as respectivas conferências circunscrevem o campo
de trabalho no qual nos movemos para compor os quatro capítulos desse estudo.
No primeiro capítulo, mencionamos Horácio Cerutti Guldberg como um dos
autores que tem trabalhado as referidas obras de Bondy e Zea, problematizamos
seu ponto de vista e nos propomos a desenvolver uma abordagem alternativa ao
estudo do autor na procura de outros elementos ampliadores da compreensão
do tema aqui estabelecido. Nos dois capítulos seguintes buscamos definir os
conceitos de originalidade e autenticidade em ambos autores, no contexto de
suas respectivas reflexões. No quarto capítulo, finalmente desenvolvemos uma
análise comparativa dos conceitos de originalidade e autenticidade dos autores
considerados.
Objetivamos com esse trabalho o estudo da filosofia latino-americana a partir
dos aportes dos autores que consideramos, ou seja, qual é o "balanço" que os
dois autores fazem da filosofia produzida no continente; se existem rasgos de
originalidade em tal produção ou se tal labor não significou nada além de
simplesmente cópia e transposição mecânica de conceitos e atitudes originários
dos centros culturais e de poder do mundo ocidental (Europa e Estados Unidos).
Buscamos, entretanto, - e principalmente - explicitar o que é para os autores
uma filosofía autêntica e original e de que forma essa filosofia pode
efetivamente contribuir no desvelamento crítico e na superação da realidade
de subdesenvolvimento, dependência e dominação a que estão subjugados os
países da América Latina, sua cultura e o próprio Homem latino-americano.
CONCLUSÃO
Notas:
Pós-graduado em Filosofia Política Moderna pela UFPR; membro do IFIL – Instituto de Filosofia da Libertação e professor da rede pública
do Estado do Paraná.
1. BONDY, A. Salazar. Existe una filosofía de nuestra América ?. ll ed. México: Siglo XXI Editores, l988. 95 p.
2. ZEA, Leopoldo. La filosofía americana como filosofía sin más. 3 ed. México: Siglo XXI Editores, l975. 124 p.
3. ZEA. La filosofía latinoamericana como filosofía de la liberación. Stromata. San Miguel, Argentina, 29 (4) : 399-413, out-dez l973.
4. BONDY. Filosofía de la dominación y filosofía de la liberación. Stromata. San Miguel, Argentina, 29 (4) : 393-397, out-dez l973.
5. CERUTTI GULDEBERG, Horácio. Filosofía de la liberación latinoamericana. l ed. México: F.C.E., l983. 326 p.
6. Para conferir as obras mencionadas veja-se as notas precedentes.
7. Trata-se da Pedagogia Libertadora de Paulo Freire: veja-se José Carlos LIBÁNEO, "Tendências Pedagógicas na Prática Escolar" , Revista
ANDE N.3 (vol. 6) , p. l5-l6
8. Veja-se Pedro Negre Rigol. "Sociologia da libertação" in: Sociologia do Terceiro Mundo – Crítica ao modelo desenvolvimentista.
Petrópolis, Vozes, l977 p.99. Este livro foi originalmente publicado em l975 pela Editorial Paidós com o título Sociología del Tercer Mundo.
9. Veja-se Alberto VIVAR FLORES. Antropologia da libertação latinoamericana. São Paulo, Edições Paulinas, l99l.
10. Veja-se os trabalhos de Gustavo Gutierrez, Teología de la liberación, Lima, Editorial Universitária, l97l, de Leonardo BOFF, Jesus
Cristo Libertador, Petrópolis, Vozes, l972, e de Juan LUIS SEGUNDO, A Libertação da Teologia, publicado originalmente em l975
11. Veja-se J. Leite LOPES. Ciência e Libertação. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, l969., Frantz FANON Les Damnés de la terre, Paris,
Ed. Máspero, l96l; Ébénézer NJOH-MOUELLE. Jalons, Recherches d’ une mentalité neuve, Youndé, Ed. Clé , l970., Herbert MARCUSE. n
Essay on liberation. Boston, Beacon Press. Tradução francesa sob o título Vers la libération - au – dela de l’homme inidimensionel. Paris, Les
Editions de Minuit, l969 , André Gunder Frank, l969, : "Antropologia Liberal versus Antropologia da libertação" ( conferencia citada por
VIVAR FLORES, op. cit. P.3l ) ; James CONE . A Black Theology of Liberation, Genebra, l972.
12. Veja-se Euclides André MANCE , "Filosofia da Libertação e Filosofia Latino-americana – Acervo Bibliográfico da SIEFIL", Filosofia,
Curitiba, N.4, out. l992, p. l09-l58 e Euclides André MANCE, Mil Títulos – Filosofia da Libertação e Filosofia Latino-americana. Curitiba,
SIEFIL, l995
24. BONDY, p. 72
25. BONDY, p. 72
26. BONDY, p. 72
27. BONDY, p. 8l
28. BONDY, p. 85
29. BONDY, p. 393-394
30. BONDY, P. 393
31. BONDY, 394
32. BONDY, P. 88
33. BONDY, p. 89
34. BONDY, 397
35. Arturo Ardao citado por Leopoldo ZEA in: La filosofía americana como filosofía sin más, p. 94
36. ZEA, Leopoldo. La filosofía americana como filosofía sin más. 3 ed. México: Siglo XXI Editores, l975. L34 p.
37. ZEA. P. 11
38. ZEA. P. 13
39. ZEA. P. 15
40. ZEA. P. 32
41. ZEA. P. 33
42. ZEA. P. 42
43. ZEA. P. 43
44. ZEA. P. 58-59
45. ZEA. P. 6l
46. CERUTTI GULDBERG, Horácio. Filosofía de la liberación latinoamericana. p. 164
47. ZEA. La filosofía latinoamericana como filosofía de la liberación. P. 408
48. ZEA. P. 409
49. ZEA. P. 410
50. ZEA. P. 401
51. Veja-se que o conceito de originalidade em Salazar Bondy supõe o entendimento de seu conceito de autenticidade: a filosofia
hispanoamericana não é original, segundo o autor, porque não apresenta categorias vigorosas, nem evolução interna no sentido de constituir
uma tradição de pensamento ( uma ‘história da filosofia’). A causa principal disso, entretanto, resulta do fato de que as elaborações existentes
em hispanoamérica na área filosófica não expressam a vida das comunidades hispano-americanas, ou seja, são cópias e imitações de formas
de pensamento e vida de outros contextos históricos. Daí tais elaborações serem inautênticas e funcionarem como falsa consciência ou
consciência alienada e alienante. Note-se que tal ponto de vista descarta, sob pena de não lograr originalidade, qualquer tentativa de adoção
em um determinado contexto de filosofias surgidas noutro contexto.
52. Veja-se que para Leopoldo Zea, diferentemente de Salazar Bondy, a filosofia surgida em determinada circunstancia histórica é passível
de ser adotada em qualquer outra circunstancia. Isso porque toda filosofia possui um caráter universal. No que diz respeito à América Latina,
a filosofia européia ou norte-americana é bem vinda, desde que seja adequada à solução de nossos problemas.
53. Isso se deu, principalmente, no que diz respeito às elaborações de cunho político e ideológico, visto que tais elaborações consideravam
problemas concretos e urgentes relativos à realidade de dominação tanto de indígenas, na polêmica de Las Casas com Sepúlveda quando o
primeiro argumentava a favor da natureza humana dos indígenas, quanto no período da emancipação política dos países latino-americanos,
quando inspirando-se nas idéias iluministas, se buscou romper com a dominação ibérica.