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O DEBATE ENTRE SALAZAR BONDY E LEOPOLDO ZEA

Vanderlei Luiz Trindade*


Janeiro de l998

Introdução
Na tradição cultural dos países que compõem a América Latina encontramos
um de seus aspectos que se designou como filosofia, ou seja, uma forma
peculiar de reflexão visando encontrar soluções a variados problemas relativos
ao homem, às sociedades e às culturas latino-americanas.
Recentemente, essa filosofia passou a tomar como objeto de reflexão a si
mesma, colocando questões relativas à sua originalidade, autenticidade e,
inclusive, questões problematizando sua eventual existência ou não existência.
É no período que se estende de l968 a l973 que essas questões emergem de
forma acentuada em autores como Augusto Salazar Bondy e Leopoldo Zea. O
primeiro publica em l968 o livro Existe una filosofía de nuestra
América ? (1) questionando a existência de uma filosofia autêntica e original na
América Latina. Leopoldo Zea, por sua vez, discute essa problemática em seu
livro La filosofía americana como filosofía sin más (2) publicado em l969. Em
l973, dando prosseguimento às suas reflexões, os autores proferem em San
Miguel, na Argentina, as conferências: La filosofía latinoamericana como
filosofía de la liberación, de Leopoldo Zea (3) e Filosofía de la dominación e
filosofía de la liberación, de Salazar Bondy. (4)
Os dois livros citados mais as respectivas conferências circunscrevem o campo
de trabalho no qual nos movemos para compor os quatro capítulos desse estudo.
No primeiro capítulo, mencionamos Horácio Cerutti Guldberg como um dos
autores que tem trabalhado as referidas obras de Bondy e Zea, problematizamos
seu ponto de vista e nos propomos a desenvolver uma abordagem alternativa ao
estudo do autor na procura de outros elementos ampliadores da compreensão
do tema aqui estabelecido. Nos dois capítulos seguintes buscamos definir os
conceitos de originalidade e autenticidade em ambos autores, no contexto de
suas respectivas reflexões. No quarto capítulo, finalmente desenvolvemos uma
análise comparativa dos conceitos de originalidade e autenticidade dos autores
considerados.
Objetivamos com esse trabalho o estudo da filosofia latino-americana a partir
dos aportes dos autores que consideramos, ou seja, qual é o "balanço" que os
dois autores fazem da filosofia produzida no continente; se existem rasgos de
originalidade em tal produção ou se tal labor não significou nada além de
simplesmente cópia e transposição mecânica de conceitos e atitudes originários
dos centros culturais e de poder do mundo ocidental (Europa e Estados Unidos).
Buscamos, entretanto, - e principalmente - explicitar o que é para os autores
uma filosofía autêntica e original e de que forma essa filosofia pode
efetivamente contribuir no desvelamento crítico e na superação da realidade
de subdesenvolvimento, dependência e dominação a que estão subjugados os
países da América Latina, sua cultura e o próprio Homem latino-americano.

Cap. 1 - Considerações preliminares

Horácio Cerutti Guldberg em sua obra ‘Filosofía de la liberación


latinoamericana’ (5) fez um estudo das obras ‘Existe uma filosofia de nossa
América ? ( publicada em l968) de Salazar Bondy e ‘A filosofia americana
como filosofia sem mais’ de Leopoldo Zea ( publicada em l969 ) , além das
conferências de ambos autores realizadas em San Miguel, na Argentina, em
l973 (6) . Para o autor, em tais elaborações Salazar Bondy e Leopoldo Zea travam
uma "polêmica" extremamente fecunda no contexto da filosofia latino-
americana.. Além disso, juntamente com outras elaborações teóricas do período
em variados campos e disciplinas como na Pedagogia (7) , Sociologia (8) ,
Antropologia (9) , Teologia (10) além de outras reflexões (11) , a ‘polêmica’ entre
Salazar Bondy e Leopoldo Zea se constituiu, segundo Cerutti, como um
"antecedente" teórico que influenciou o surgimento da chamada "Filosofia da
Libertação". (12)
A "polêmica", segundo o autor, girou em torno dos aspectos "...referidos a
originalidad, autenticidad, novidad, ... del filosofar en nuestra América" (13) . A
partir do livro ‘Existe uma filosofia de nossa América ?’ iniciou-se, conforme
Cerutti, a "polêmica" entre os dois autores. Tal livro traz três interrogações com
relação à filosofia latino-americana : "Si há habido o no una filosofía de nuestra
América, en caso de respuesta negativa si podría haberla y bajo que
condiciones y, por último, hasta qué punto tiene sentido y valor tomar como
tema u objeto privilegiado de atención la realidad latinoamericana". (14)
Segundo a interpretação de Cerutti, Salazar Bondy quanto à primeira pergunta,
responde-a afirmando a não existência de uma filosofia hispano-americana pelo
fato de que o que tem ocorrido historicamente foi "... la mera recepción y
repetición imitativa de oleadas de pensamiento europeo que sin ninguna
evolución interna ni reelaboración en América Latina se han sido
superponiendo unas a otras de acuerdo a las modas y necesidade más o menos
sentidas de los sectores dominantes de los cuales há comulgado salvo honrosas
excepciones". (15)
Quanto à Segunda pergunta Salazar Bondy afirma a necessidade de romper com
o sistema de dependência e subdesenvolvimento a que estão subjugados os
países hispano-americanos como única condição para se produzir um
pensamento libertado e libertador.
Para Cerutti, a terceira pergunta de Bondy está estreitamente relacionada à
segunda, ou seja, tendo em vista a impossibilidade de uma reflexão filosófica
na América Latina enquanto não se romper com o subdesenvolvimento e a
dependência, é impensável que se tenha um objeto privilegiado de reflexão.
Conforme Cerutti, Zea concebe a filosofia latino-americana, ao responder as
três interrogações de Salazar Bondy, de forma distinta:
"En primer lugar há habido una tradición de pensamiento auténticamente
latinoamericano y dejarla de lado es una de las peores y más nefastas actitudes
que pueda tomar un pensador que pretenda seguir aportando a esse proceso. En
cuanto al segundo aspecto, es indudable que la filosofía es un elemento que
debe colaborar en el proceso de destrucción del subdesarollo y la dependencia
presente ... . Com nuestra filosofía sin más o sea, plenamente ideológica en
función de la transformación de una realidad intolerable, se garantizará un
cambio efectivamente radical. Por último, no sólo cabe pensar en um tema u
objeto específico de reflexión, sino que debe advertirse que es el componente
ineludible e específico del pensar latinoamericano". (16)
Para Cerutti, Leopoldo Zea concebe a filosofia latino-americana como uma
antropologia que se desenvolveu progressivamente tematizando a questão do
ser do homem americano e uma filosofia da história e da cultura que "... tem
buscado siempre estabelecer nuestro lugar en relación com el resto de las
culturas y nuestro papel e función en relación com la historia universal." (17)
A "polêmica" Zea-Bondy despertou a atenção de vários autores sobre a
problemática da filosofia latino-americana. Destes autores Cerutti cita, entre
outros, Helio Gallardo pelo fato deste autor ter feito um estudo aprofundado da
‘polêmica’ e ter demonstrado o fato de que Zea não assumiu o questionário de
Bondy no sentido de que formulou suas respostas a partir de pressupostos que
não são os mesmos pressupostos implícitos no questionário de Salazar Bondy.
Além disso, conforme Cerutti, Gallardo demonstra que as categorias de
autenticidade e originalidade usadas por ambos autores possuem significados
diferentes.
Em l973, em San Miguel, Bondy e Zea dão prosseguimento à polêmica.
Segundo Cerutti, nesse encontro Zea volta a mostrar a necessidade de assumir
o passado filosófico da América Latina ao mesmo tempo que critica os autores
que, negando tal passado, se propõem a começar do zero.
Quanto às colocações de Salazar Bondy nesse encontro, Cerutti se utiliza das
análises de Manuel Santos para caracterizá-las : "Según Santos, Salazar Bondy
palantea ab initio las coordenadas de la cuestión a debatir: la existencia de la
filosofía de la liberación como problema. Las condiciones mínimas de
posibilidad de constitución de esta filosofía". (18)
Portanto, no entender de Cerutti o que está em jogo nas considerações feitas por
Bondy nesse encontro, é a própria filosofia da libertação como problema: "La
filosofía y sus posibilidades epistemológicas mínimas de operar como
coadyuvante a un proceso de liberación que la excede ampliamente". (19)
Conforme Cerutti, em artigo de l974, Leopoldo Zea ( logo após a morte de
Bondy ) volta a reafirmar a necessidade de se levar em consideração o passado
filosófico da América Latina. Por sua vez, Bondy, no entender de Cerutti, volta
a emitir ecos da ‘polêmica’ em sua obra póstuma "Diálogos Indianos".
Para Cerutti a "polêmica" Zea-Bondy : "...es uno de los eslabones centrales del
pensar filosófico actual en América Latina. Su influencia se tem ramificado de
modo sorprendente y seguramente inesperado por se sus mismos protagonistas.
La importância de las cuestiones en ella debatida há hecho que los
protagonistas de la misma se multipliquen y seguramente hay que pensar que
no están dichas todavía las últimas palabras al respecto ".(20)
Tendo em vista esse interessante trabalho de Cerutti sobre a problemática da
filosofia latino-americana, especificamente no que diz respeito às concepções
de Leopoldo Zea e Salazar Bondy, nos propomos trabalhar também tal
problemática. Entretanto, nossa proposta de estudo é no sentido de uma leitura
comparativa dos textos de Zea e Bondy em função da busca de outros elementos
que possam contribuir para o aprofundamento da temática em questão.

Cap. 2 - Os conceitos de originalidade e autenticidade em Salazar Bondy


Preliminarmente, para compreender os conceitos de originalidade e
autenticidade em Salazar Bondy e o que significa para esse autor uma filosofia
original e autêntica é preciso definir sua concepção de filosofia. Filosofia para
Salazar Bondy é: " ... varias cosas: es análisis, es iluminación de la experiência
del mundo y de la vida; entre estas cosas es tanbién la conciencia racional de
un hombre y de la comunidad en que éste vive, la concepción que expresa el
modo cómo las agrupaciones históricas reaccionam ante el conjunto de la
realidad y el curso de su existencia, su manera peculiar de iluminar e
interpretar el ser en que se encontran instaladas. " (21)
Salazar Bondy faz algumas distinções. Para ele, a filosofia distingue-se da
Ciência pelo fato de referir-se ao todo, ao conjunto do dado e, portanto, ao
Homem em geral ao passo que a Ciência não visa o Homem em sua totalidade.
A filosofia distingue-se também da religião, pois enquanto a última tem como
ponto de partida os sentimentos e a sugestão, a primeira parte dos dados
objetivos, ou seja, o mundo, a vida...com o intuito de racionalmente torná-los
inteligíveis.
A filosofia não se confunde, portanto, com a Ciência e com a fé religiosa,
mas "... tiene que ver com la verdad total de existencia racionalmente
clarificada, lo que apela a la plena lucidez del hombre, a un esfuerzo total de
su capacidad de compreensión" (22) . Nesse sentido, Salazar Bondy dá à filosofia
o caráter de ser esta uma compreensão racional da realidade no sentido de
buscar uma explicação total.
Salazar Bondy ao tratar da Filosofia Hispano-americana (23) utiliza os conceitos
de originalidade e autenticidade que são conceitos que se relacionam entre si ao
mesmo tempo que vêm acompanhados pelo conceito de peculiaridade. Se faz
necessário definir esses conceitos conforme a concepção do autor.
Por originalidade entende-se "el aporte de ideas y planteos nuevos, en mayor o
menor grado, com respecto a las realizaciones anteriores, pero suficientemente
discernibles como creaciones y no como repeticiones de contenidos
doctrinários." (24)
O conceito de autenticidade, por sua vez, é concebido pelo autor como "...um
producto filosofico - al igual que un produto cultural calquiera – que se da
como propriamente tal y no como falseado, equivocado o desvirtuado". (25)
Por fim o conceito de peculiaridade entende-se como "... la presencia de rasgos
histórico-culturales diferenciales, que dan carácter distinto a un producto
espiritual, en este caso filosófico; se trata de un tono, digamos, local o personal
, que no implica innovaciones de contenidos sustantivos". (26)
Tais conceitos se dão interconectados, porquanto uma filosofia de caráter
original, tal como definimos acima, o é também autêntica, visto que um produto
que resulta como uma criação nova não pode deixar também de ser autêntico
no sentido de não ser falso, dominado pela ambigüidade. Por outro lado, uma
filosofia de caráter autêntico possui um caráter original, pois um produto
filosófico não falseado, nem equivocado não resulta como simples repetição de
conteúdos doutrinários.
Entretanto, o conceito de peculiaridade possui uma determinada margem de
independência com relação aos conceitos de autenticidade e originalidade, ou
seja, uma filosofia original e autêntica o é também peculiar, mas nem toda
filosofia de caráter peculiar precisa ser necessariamente autêntica e original.
Com efeito, a peculiaridade de determinada filosofia pode ser simplesmente
uma imitação ( portanto, sem ser original e autêntica ) com traços culturais e
históricos distintos, de outra filosofia produzida em um contexto histórico e
cultural diferente pelo fato de imprimir-lhe um modo particular de enfocá-la ou
aplicá-la.
Tal é, pois, a conotação dada pelo autor aos conceitos de originalidade,
autenticidade e peculiaridade e que são aplicados ao caso da filosofia hispano-
americana.
Para Salazar Bondy a filosofia pode trilhar dois caminhos opostos: ou expressar
a vida de uma comunidade ou falhar nesse intento. Ao fazer-se como um
produto que expressa a vida de uma determinada comunidade a filosofia
constitui-se como pensamento original e autêntico. Quando à filosofia acontece
o contrário, dá-se um pensamento inautêntico e sem originalidade alguma. A
falta de originalidade e autenticidade de determinada filosofia: "... ocorre
cuando la filosofía se construye como un pensamiento imitado, como una
transferencia superficial y episódica de ideas y principios de contenidos
teóricos motivados por los proyetos existenciales de otros hombres, por
actitudes ante el mundo que no pueden repetirse o compartirse en razón de
diferencias históricas muy marcadas..." (27)
Esse é o caso, segundo Salazar Bondy, da filosofia hispanoamericana que
constituiu-se ao longo de sua história como um produto sem originalidade e
autenticidade, como imitação de conteúdos filosóficos alheios surgidos em um
contexto histórico diferente.
Para Salazar Bondy, o fato de a filosofia hispanoamericana apresentar-se como
inautêntica e sem originalidade ao longo de sua história revela o caráter
alienado dos países que compõem a comunidade hispanoamericana. Caráter
alienado no sentido de que tais países são subdesenvolvidos e dependentes.
Com efeito, nos diz o autor: "No nos extrañe que una comunidad desintegrada
u sin potencialidad, una comunidad alienada, dé una conciencia filosófica
mistificada. La filosofia, que en una cultura plena es la cima de la conciencia,
en una realidad defectiva es dificil que tienda a ser la consagración de la
pérdida de sí, um pensar transcendente pero sin sustancia ni efecto en la
história, una meditación extraña al destino de los hombres que la alimentan
com su inquietud reflexiva" (28)
Uma comunidade desintegrada, subdesenvolvida e dependente expressa, pois,
uma filosofia sem originalidade e autenticidade. Tal constatação do autor leva
à conclusão de que o problema da filosofia hispanoamericana não é um
problema da filosofia como tal, mas da comunidade hispanoamericana ou, para
usar um outro conceito do autor, aos ‘países’ hispano-americanos tomados em
seu conjunto. ‘País’ aqui é concebido pelo autor como uma: "...agrupación de
gente que está en un território dentro de la jurisdición de un estado ( o que
facilmente podemos identificar como la Argentina, el Peru, Chile, México,
Paraguay ...) , com todo lo que dentro hay de divergencias, contrastes e
inclusive relaciones de dominación e intereses. Vamos a entender, pues, ‘país’
en el sentido de conjuntos de sociedades globales dentro de un território y
jurisdicción de un estado". (29)
Salazar Bondy fala do conjunto dos países hispano-americanos no sentido de
que possuem o mesmo status sócio-econômico, político e cultural, ou seja,
pertencem ao Terceiro Mundo. Nesse caso, para explicar o fenômeno da
filosofia hispano-americana é imprescindível, conforme o autor, a utilização de
conceitos como os de subdesenvolvimento, dependência e dominação.
Tendo chegado a esse ponto, se faz necessário definir o que Salazar Bondy
entende por tais conceitos para entendermos o núcleo de sua explicação sobre
o caráter inautêntico e não original da filosofia hispano-americana.
O conceito de dominação Salazar Bondy concebe-o como: "...una relación
entre dos instancias que pueden ser personas, o clases, o países, relación tal
que A domina B , tiene el poder de decisión sobre lo que es fundamental
respecto a B. B, que es el dominado, sufre como resultado una depresión, una
falta de posibilidades de desarrollo, una limitación, es decir, todo lo que se
puede como defectivo porque el dominador lo subyuga en cuanto tiene la
capacidad de decidir siempre por él." (30)
O conceito de subdesenvolvimento define-se para Bondy como um "... estado
de depresión y desequilibrio crónico en que están los países que se encuentran
en una determinada situación, ejemplificados por el Peru, Paraguay, Ecuador,
tanbién la Argentina y otros países como pueden ser el Congo, Tanzânia,
etc" . (31)
O conceito de dependência está ligado ao conceito de dominação pelo fato de
que numa relação de dominação entre duas classes, por exemplo, uma depende
da outra no sentido de que se relacionam entre si de uma forma necessária,
relação na qual, no entanto, uma domina a outra. Bondy exemplifica essa
situação quando afirma ser este o caso ‘histórico’ dos países hispano-
americanos que estiveram e estão vinculados à condição de dependência . Em
princípio dependentes com relação à Espanha ( no caso do Brasil, a Portugal ) ,
mais tarde à Inglaterra e, no presente, aos Estados Unidos.
A dominação diz respeito, segundo o autor, a duas situações intimamente
relacionadas: l . ) Situação em que determinado país ou centros de poder
mantém sob sua hegemonia econômica, política e cultural outro país ou
conjunto de países periféricos ; 2 . ) Situação que se dá no interior do próprio
país dominado ou países periféricos em que uma classe ou determinados grupos
detentores dos meios de produção e do controle político e cultural impõe sua
hegemonia sobre outra classe ou grupos desapropriados dos meios de produção
e subjugados política e culturalmente.
Ora, essa tem sido e hoje ainda é a situação dos países de Hispanoamérica, cuja
situação de dominação e dependência com relação aos centros de poder
mundiais resultou em seu subdesenvolvimento. Tendo em vista tal situação é
de se esperar que a cultura nos países hispano-americanos resulte débil, cheia
de limitações, portanto sem originalidade alguma. Com efeito, por cultura o
autor entende "...un sistema de valores, símbolos, actitudes, com el cual un
grupo humano, de cualquier magnitud, responde a las solicitaciones y
conflictos que provien del mundo y de la existencia"
Considerando tal definição é possível verificar, conforme o autor, que a cultura
produzida pelos países hispano-americanos, por ser uma simples imitação de
modelos culturais estranhos, surgidos de outro contexto histórico, constitui-se
como alienação e mistificação e não como resposta às solicitações e conflitos
provenientes do próprio contexto histórico hispano-americano.
A filosofia como produto específico de determinada cultura de dominação
resulta, nesse sentido, como uma filosofia de dominação ( alienante) , sem
originalidade e autenticidade, sem espírito criativo. É o caso, segundo o autor,
da filosofia hispano-americana.
Tendo chegado a essa constatação com relação à filosofia hispano-americana,
o autor se pergunta se tal realidade tem que ser assim eternamente,
‘necessariamente’. Para Salazar Bondy é possível uma filosofia original a partir
do momento em que lhe sejam dadas condições históricas de surgimento, ou
seja, tendo sido superada a dependência em que se encontram os países hispano-
americanos seria possível, então, um pensamento original. Entretanto, quanto
ao caráter autêntico de uma filosofia hispano-americana esse é possível
anteriormente a já consumada superação da dependência e
subdesenvolvimento, ou seja, o caráter autêntico da filosofia estaria implícito
no próprio processo de superação desta condição no sentido de que a filosofia
seria uma crítica radical e des-trutiva aliada a uma práxis política de libertação.
As condições históricas de superação do subdesenvolvimento e da dependência
de hispanoamérica e, portanto, do surgimento de uma filosofia original são
possíveis pelo fato de que:"...el hombre en ciertas circunstancias – no
frecuentes ni previsibles – salta por en cima de su condición actual e
transciende en la realidad hacia nuevas formas de vida, hacias manifestaciones
inéditas que perdurán o darán frutos en la medida en que el movimiento
iniciado pueda extenderse y provocar una dialética general, una totalización
de desenvolvimiento, eso que en el terreno político-social son las
revoluciones". (32)
As circunstâncias não são, pois, plenamente determinantes, mas sempre
apresentam-se possibilidades de algo novo. Conclui-se, pois, que a
originalidade da filosofia está condicionada à superação histórica do
subdesenvolvimento e dependência e a filosofia encontra aqui o seu papel na
medida em que passe a ser autêntica, ou seja, passe a ‘articular-se com o resto
da realidade e provocar nesta uma mutação de conjunto’, superá-la. Com efeito,
tendo em vista que a falta de originalidade da filosofia hispano-americana é
produto de um contexto político, econômico e cultural de dependência e
subdesenvolvimento, a conquista da originalidade só é possível a partir de uma
superação globalizante de todos estes níveis.
Nesse caso, para haver uma filosofia autêntica,"...ella há de ser fruto de este
cambio histórico transcendental. Pero no necessita esperarlo; no tiene porque
ser sólo un pensamiento que sanciona y corona los hechos consumados. Puede
ganar su autenticidad como parte del movimiento de superación de nuestra
negatividad histórica, asumiéndola y esforzándose en cancelar sus raíces".(33)
A filosofia, portanto, que se propõe ser autêntica tem seu papel e este consiste
em buscar o cancelamento das raízes do subdesenvolvimento e da dominação.
Para isso é preciso que essa filosofia converta-se numa crítica e numa análise
da situação hispano-americana no sentido de alcançar uma consciência sempre
maior e mais ampla dessa situação. Evidencia-se aqui o papel des-trutivo da
filosofia proposta por Salazar Bondy, ou seja, num primeiro momento a
filosofia ( autêntica ) atuaria como uma crítica des-alienante, des-mascaradora
da realidade hispano-americana. Outro requisito indispensável de uma filosofia
autêntica é despertar o sentido problemático da realidade buscando uma forma
de enfocá-la numa perspectiva distinta ou numa ótica nova. Juntamente com
essas duas dimensões, qual seja, de crítica e problematização é preciso,
conforme o autor, que se proceda no sentido de recolocar os problemas do
pensamento filosófico tradicional dentro de uma perspectiva nova, ou seja,
reconstruí-lo a partir de uma ótica hispano-americana. Temos num segundo
momento, portanto, a parte des-trutiva da filosofia proposta pelo autor.
Para o autor tal projeto de uma filosofia autêntica, por assim dizer, apenas é
possível tendo em vista sempre as conjunturas histórico-sociais. Portanto, é
preciso: "...ir haciendo,( ...), un trabajo crítico en la medida en que la realidad
histórica lo permita, un trabajo de replanteo en la medida en que vamos
emergindo hacia una óptica nueva, y una reconstrucción de la filosofía, en la
medida en que esa óptica nos da una manera de producir un pensamiento ya
orientado en el sentido de la filosofía de la liberación". (34)
Eis, portanto, todo processo no qual o autor operando com os conceitos de
originalidade e autenticidade, formulou sua concepção da filosofia hispano-
americana chegando, assim, às conclusões que procuramos tornar explícitas no
decorrer deste capítulo.

Cap. 3 – Os conceitos de originalidade e autenticidade em Leopoldo Zea

Segundo Arturo Ardao "El historicismo, en su esencia, proclama la


originalidad, la individualidad,la irredutibilidad del espíritu en función de las
circunstancias de tiempo e lugar e refiere a esas mismas circunstancias el
processo de su actividad constituyente."(35)
Leopoldo Zea formula sua concepção de filosofia a partir desses pressupostos
historicistas e que nos permitirão compreender melhor sua argumentação
quanto aos conceitos de originalidade e autenticidade que se perseguem nesse
trabalho. Filosofia, pois, que parte de circunstâncias determinadas, ou melhor,
dos problemas que tais circunstâncias colocam ao homem e sobre os quais se
buscam soluções. Para o autor, entretanto, juntamente com o historicismo há o
existencialismo como complemento da atitude filosófica que concebe o Homem
em suas circunstâncias concretas. O existencialismo como corrente filosófica
parte "...de una experiencia determinada, concreta, del hombre al que
interrogan, el hombre occidental, europeu, alemán o francés. El hombre en un
determinado mundo o situación." (36)
Para Zea, o historicismo juntamente com a corrente existencialista por
buscarem uma filosofia concebida a partir de circunstâncias existenciais,
culturais e históricas determinadas fazem com que a América Latina se
descubra, no século XX, como objeto filosófico, se descubra na realidade
concreta de sua cultura. Ora, no processo de descobrir-se a si mesma surgem as
perguntas e a preocupação pela originalidade, autenticidade do Homem, da
cultura, enfim da realidade da América Latina como tal.
Nesse sentido, se pergunta especificamente no campo da filosofia pela sua
originalidade, autenticidade, inclusive se existem possibilidades de um filosofar
na América Latina, embora a questão assim posta já implique em certo sentido
um modo de filosofar. Conforme o autor, o núcleo do problema reside
justamente no porque desse perguntar pela possibilidade de perguntar, no
porque da preocupação por originalidade, autenticidade da Filosofia
Americana. Tal perguntar ( pela possibilidade de perguntar ) emerge a partir de
uma dimensão antropológica que o autor denomina "sentimento de
diversidade", ou seja, "Cuando nos preguntamos por la existência de una
filosofía americana, lo hacemos partiendo de sentimiento de una diversidade,
del hecho de que nos sabemos o sentimos distintos." (37)
Portanto, a resposta ao por que de se perguntar pela possibilidade de perguntar,
pela originalidade e autenticidade em filosofia ( ou na Filosofia Americana
nesse caso ) é compreendida a partir desse sentimento de diversidade. Nesse
sentido, a circunstância latino-americana por aparecer como distinta, peculiar,
reflete-se na filosofia do século vinte ( XX ) , principalmente no historicismo e
existencialismo que a captam muito bem nos seus contornos históricos e
culturais. No entanto, - e aqui a ressalva - esse "sentimento de diversidade"
sempre esteve presente na tradição filosófica latino-americana fazendo surgir
no seu decorrer perguntas tais como as surgidas neste século presente.
Perguntas, por exemplo, pela humanidade dos índios. Tendo em vista a
expansão da civilização ocidental sobre o continente latino-americano e a
presença dos povos indígenas nesse continente surgiram várias indagações
relativas á humanidade dos indígenas; se possuíam, por exemplo, o "logos"
capaz de ordenar e organizar sua existência no mundo. Com efeito, esta
expansão do mundo ocidental sobre o continente americano configurou-se
como uma negação do ser do indígena surgindo, por isso, a sempre presente
necessidade do indígena afirmar-se como Homem que possui uma
personalidade, sentimentos e uma cultura que lhe são característicos.
Entretanto, este esforço do latino-americano para afirmar-se como "Homem"
teve como ponto de partida os limites do próprio "logos" europeu dominador,
um lógos que concebe o "Homem" a partir de seu modelo específico de homem
( o europeu ) : Homem é o que possui todos os traços e características do homem
europeu, ou seja, ser branco, olhos azuis, cristão...
Nesse sentido, as respostas que surgem relativas ao ser dos indígenas são
sempre respostas alienantes pois são dadas a partir de um lógos dominador, que
nega o que está além de suas fronteiras. Respostas que, ao invés de desvendar
e afirmar o ‘Ser’ do homem americano, encobre-o e nega-o .
Essa pergunta pelo Homem é uma pergunta essencialmente filosófica. Por isso,
para Leopoldo Zea: "En la polêmica de Las Casas com Sepúlveda se inicia esa
estraña filosofía que en siglo 20 ( vinte ) se preguntará si posee o no una
filosofía". (38)
Essa estranha filosofia se inicia, portanto, tentando dar uma resposta à
indagação de se o índio é humano ou o seu contrário, ou, ainda, se possui a
essência humana tal como a possui o europeu. Com efeito, "Al regateo, o
negación de humanidad, los hombres de esta América, como ahora los hombres
de otros continentes sometidos a la misma negación, argumentarán,
contestarán, tratando de mostrar su propia humanidad. Y son estas
argumentaciones las que inician y continuán los que hemos llamado nuestro
estraño filosofar." (39)
Portanto, a princípio, a filosofia latino-americana constituiu-se como afirmação
antropológica do índio que sentiu-se como distinto, diferente do europeu e que
por isso precisava ser considerado como ‘Homem’. Em seguida, século
dezenove ( XIX ), há na história da filosofia latino-americana o que se
denominou "emancipação mental" ou "a consciência do fato da dependência
dos países latino-americanos com relação às suas metrópoles"- Portugal e
Espanha. A relação de dependência entre colônias e metrópoles, segundo os
propugnadores da "emancipação mental", apenas pode ser eliminada com a
eliminação da cultura dependente em geral, ou seja, hábitos e costumes
herdados das metrópoles, e não apenas eliminando-se a dominação política pela
violência. Tal problemática constitui o campo da reflexão filosófica no século
19, juntamente com o Romanticismo, corrente literário e filosófica que põe no
contexto cultural latino-americano a questão de uma cultura latino-americana
original ou, mais precisamente, de uma cultura nacional tal como as culturas e
as identidades nacionais dos países europeus.
Nesse contexto todo no qual o autor afirma a existência da filosofia na América
Latina ( e, portanto, de uma história da filosofia latino-americana ) fica
descaracterizada e sem sentido de ser o perguntar-se pela possibilidade de uma
filosofia na América Latina ou perguntar-se pela autenticidade e originalidade
dessa filosofia. Contudo, segundo nosso autor, essas perguntas existem e não
surgem do acaso, sendo necessário, portanto, tratá-las.
Com efeito, a preocupação que se tem quanto à originalidade e autenticidade da
filosofia latino-americana é uma preocupação que surge pelo fato desta
configurar-se como um corpo de concepções estranhas, alheias. Por isso: "Eco,
ajena vida es lo que parece expresarse en ... América Latina. Los filósofos
latinoamericanos han sido y son concientes de este hecho enfocándolo desde
diversos ángulos. Enfoques que, en su conjunto, apuntarán a una sola gran
meta, la originalidad." (40)
O problema da originalidade e autenticidade da filosofia latino-americana é
posto justamente pelo fato desta parecer estranha, diversa e sem consistência.
Se faz necessário nesta altura, para acompanharmos o raciocínio do autor,
definir o conceito de originalidade por ele empregado em sua avaliação da
filosofia latino-americana. Com efeito, para o autor: "Ser original implica, ya
antecipábamos, partir de sí mismos, de lo que se es, de la propia realidad. Y
una filosofía original latinoamericana no puede ser aquella que imite o repita
problemas y questiones que sean ajenas a la realidad de la que hay que partir.
Pero ser original no quiere decir, tampoco, ser tan distinto que nada se tenga
que ver pura e simplemente, com la filosofía. En último término la problemática
que la realidad concreta plantee a toda filosofía tendrá que culminar en
soluciones o respuestas que también pueden ser válidas para otras
realidades." (41)
Portanto, ser original para Leopoldo Zea implica partir do que se é, da própria
realidade. Uma filosofia original é aquela que parte das próprias circunstâncias
que dão origem a seus problemas, a suas indagações e vai em busca de soluções.
Soluções que não se limitam, porém, às circunstâncias que as desejaram,
podendo ser solução para outros contextos histórico-culturais. É o que se deu,
por exemplo, com a filosofia européia quando de seu transplante para a América
Latina no processo de sua colonização. Nesse sentido, é um fato, segundo o
autor, a inautenticidade inicial da América Latina quanto à filosofia. Por isso,
foi uma "... filosofía tomada de prestado, pero encodada consciente o
inconscientemente a la solución de problemas semejantes a los que han
preocupado a eses grandes filósofos." (42)
Filosofia tomadas emprestadas para solucionar os problemas da América
Latina! Aqui reside o núcleo da questão, ou seja, o fato de se fazer da filosofia
européia como que um instrumento para a solução dos problemas da América
Latina. Neste fato reside a questão da originalidade e autenticidade da filosofia
latino-americana.
Leopoldo Zea demonstra isso afirmando que o uso que se faz da filosofia
européia é um procedimento eminentemente político, ou seja, os problemas
postos pelas circunstâncias sócio-políticas da América Latina são problemas
que exigem uma solução que seja de cunho político, e a filosofia apresenta-se
como uma justificativa de ações políticas. De forma mais precisa, toda ação
política antecipa-se à filosofia e esta vem a posteriori como sua justificativa.
Do contrário, tal filosofia não é adaptada às circunstâncias, mas imposta sem
nenhuma motivação. Para o autor esse processo de adaptação se deu ao longo
de toda história da filosofia latino-americana.
Entretanto, para que tal filosofia torne-se justificativa de uma prática ou ação
política, ela precisa passar por um processo de nivelamento, de seleção e isso,
de certa forma, a transforma e modifica, sendo tal procedimento portador de
originalidade. Com efeito, a filosofia que passa por tal processo deixa de ser
aquilo que foi na Europa: "Por ello el europeu, u occidental, verá en las
expresiones de su filosofía en Latinoamérica algo que le resultará ajeno,
desconocido, y que, en su orgulhosa pretensión de arquetipo universal,
acabará por calificar como mallas cópias, como infames y absurdas
imitaciones." (43)
Nesse sentido, adverte o autor, não se deve buscar a compreensão da filosofia
latino-americana pelas semelhanças que tenha com a filosofia européia: só
encontrar-se-ão distorções! É preciso, ao contrário, buscar a relação dessa
filosofia européia importada, com a realidade latino-americana.
Em síntese, pode-se dizer que o autor afirma a existência de um passado
filosófico na América Latina e a existência de uma filosofia original. Adverte,
inclusive, que tal passado filosófico na América Latina precisa ser visto já como
parte de nossas circunstâncias e das quais deve surgir seja qual for a filosofia
desejada. Outra advertência do autor é no sentido de que a originalidade não é
algo que deve ser buscado como um fim, pois o que é original é já implícito no
fazer filosófico, toda obra humana é, afinal, original e portadora de criatividade.
Portanto, para Leopoldo Zea: "..., lo original habrá de darse no como una meta
a alcanzar sino como algo que fatalmente se há dado y se da a toda obra
humana. En la misma acción de copiar, de calcar, se da, aun sin pretenderlo y
quizá a pesar nuestro, algo de nuestro modo de copiar, ( ... ) de calcar que hace
distinto el original de la calca. Lo importante es filosofar, pura y simplemente
filosofar. Esto es, enfrentarse racionalmente a los problemas que nos plantea
la realidad, buscando a tales problemas la solución más amplia y
adecuada." (44)
Percebe-se, portanto, que para o autor o que é preciso é filosofar sem mais ou
simplesmente filosofar sobre os problemas postos pelas circunstâncias latino-
americanas e sobre as quais é preciso forjar soluções racionais e adequadas.
Entretanto, segundo o autor, tal pretensão pode levar a determinados equívocos
ou a determinado extremismo perigoso, ou seja, transformar a filosofia em
serva da técnica, por exemplo; fazer com que à filosofia seja dada apenas função
de lógica, como forma de possibilitar à técnica o domínio sobre a natureza.
Esquece-se desta forma, o próprio Homem em seu contexto histórico e cultural
como ponto de partida da filosofia. Com efeito, "La filosofía es algo más que
ciencia rigurosa, algo más que lógica capaz de deslindar, com precisión lo que
se supone que es de lo que no es; la filosofía es, también, ideología, como há
sido y es ética." (45)
Leopoldo Zea propõe, pois, uma filosofia plenamente ideológica, capaz de
buscar soluções aos problemas da dependência e dominação a que estão
submetidos os países latino-americanos; uma filosofia como instrumento de
transformação da realidade. Com efeito: "La filosofía es un elemento que debe
colaborar en el processo de destrucción del subdesarollo y la dependencia
presente ( ... ). Com nuestra filosofía sin más o sea, plenamente ideológica en
función de la transformación de una realidad intolerable, se garantizará un
cambio efectivamente radical." (46)
Nesse sentido, Zea concebe a filosofia na perspectiva da ação, uma ‘filosofia
da práxis’ e ressalta, inclusive, o fato de que tal concepção de filosofia ( voltada
para a práxis ) é tendência crescente no cenário filosófico latino-americano.
Tendência que acentua-se cada vez mais em contraposição àquelas tendências
especulativas presentes na história da filosofia latino-americana dos períodos
anteriores.
Entretanto, adverte o autor, é preciso tomar cuidado para que esta filosofia da
práxis não desemboque na inautenticidade, ou seja, siga o mesmo caminho
percorrido pelas filosofias que, consoante á história da humanidade,
preconizando a libertação, desembocaram historicamente em filosofias de
dominação. Com efeito, nos diz o autor: "Hasta ahora la liberación parece
descansar en la dominación de otros hombres. Una especie de hombres se
liberan para imponer, a su vez, su dominación a outra especie de hombres,
hasta que estos tomam conciencia y se liberan, pero para imponer nuevas
subordinaciones." (47)
O fato, por exemplo, da libertação política dos Estados Unidos com relação ao
império britânico e sua posterior hegemonia no sentido de subjugar à
dependência os países latino-amerianos é ilustrativo do que o autor denomina
uma libertação inautêntica, parcial: a libertação de um homem ( ou de uma
comunidade ) anteriormente dominado por outro tem o caráter de nova
dominação no sentido de subjugar o dominador anterior ou outra comunidade,
ou seja, apenas trocam-se os papéis de dominado e dominador. Ora, essa
dinâmica ‘libertação-dominação-libertação’... precisa, conforme o autor, ser
anulada. É necessário pensar esses processos de libertação de uma forma
diferente e não equivocada e parcial. Com efeito, o primeiro requisito a
considerar é o fato de que: "El hombre a liberar no es sólo el hombre de esta
América o del Tercer Mundo sino el hombre, en cualquier lugar que éste se
encuentra, incluyendo al próprio dominador. Es esta especie de hombre el que
debe desaparecer, no el hombre. No el ser, sino un determinado modo de
ser." (48)
Nesse sentido, Leopoldo Zea propõe o problema da libertação em termos, por
assim dizer, universais, abarcando todos os povos do mundo. Em outras
palavras, já não se deseja a libertação de uma determinada comunidade ou país
em contrapartida da dominação de outra comunidade ou país. Ora, desejar a
libertação nestes termos supõe pensá-la filosoficamente dentro de uma ótica
diferente da que até agora se pensou. Nesta perspectiva, a proposta do autor
com relação a uma filosofia que se diga de libertação precisa caminhar no
sentido de um pensar analógico, uma filosofia analógica, ou seja: "... capaz de
reconocer en el outro al semejante. Semejante en su diversidad, en su ser
distinto. Pero no tan distinto, ni tan diverso que acabe creyendose un
superhombre o un subhombre. No el hombre com una determinada filosofía
abstracta, sino un hombre y, como todo hombre concreto; y com una filosofía
que partiendo de su concreción, su propia experiencia, pueda comunicarla
hasta hacer de ella filosofía sin más. No una filosofía especial, que acabe
siendo como las anteriores filosofías de la liberación. Esto es, filosofías propias
del hombre que las reflexionó, dispuesto siempre a marginar cualquier
reflexión que no encajase en la estructura de sus reflexiones." (49)
Portanto, um pensar analógico constitui a condição para se construir uma
filosofia e respectiva práxis de libertação que seja autêntica, não esquecendo,
segundo nosso autor, que para isso existe uma condição indispensável : não se
deve ignorar o passado filosófico, a história da filosofia, especificamente a
história da filosofia latino-americana. Com efeito, a ignorância do passado
constitui, segundo nosso autor, a marca própria da filosofia latino-americana (
e de seus filósofos ) e origem dos problemas de inautenticidade dessa filosofia.
Com relação a isso o autor nos diz: "Nuestros problemas, el problema de
nuestro pensar, de nuestra filosofía, lo há originado el tratar de mantenernos
entre dos abstracciones. La abstracción de un pasado que no consideramos
nuestro, y la abstracción de un futuro que nos es estraño." (50)
Nesse sentido, é preciso resgatar o passado filosófico, aquilo que se foi e que
constitui o que se é no presente; proceder ao contrário é negar aquilo que se é,
e negando o que se é cai-se no nada do qual nada surge, nada se constrói; nem
mesmo é possível ser ( a partir do nada ) algo que se apresenta como modelo a
imitar. Com efeito, afirma o autor que na história das idéias latino-americanas
é perceptível o fato da constante negação daquilo que se foi ( negação do
passado ) em função de ‘modelos’ importados. É preciso adaptar o que vem de
fora àquilo que se é, às próprias circunstâncias e, dessa forma, construir uma
filosofia própria e que seja comum, também, a outras circunstâncias históricas.
Em síntese, filosofar numa perspectiva analógica e, portanto, autêntica.

Cap. 4 – Comparação entre os conceitos de originalidade e autenticidade


de Salazar Bondy e Leopoldo Zea
Tendo sido feito no segundo e terceiro capítulos a caracterização do que se
entende por originalidade e autenticidade nas concepções filosóficas de Salazar
Bondy e Leopoldo Zea, esse quarto capítulo se destina a estabelecer um estudo
comparativo entre tais conceitos.
Vimos no segundo capítulo que Salazar Bondy ao tratar da filosofia hispano-
americana emprega os conceitos de originalidade,autenticidade e peculiaridade
a partir de recíprocas relações. Ao fazer um resgate do que até agora se produziu
em se tratando de filosofia em hispanoamérica, Bondy afirma a tese de que não
está presente o caráter de originalidade em tal filosofia pelo fato de que esta tem
se configurado ao longo de sua história como uma simples imitação e
transplante de modelos de pensamento gestados em outro contexto histórico e
cultural ( na Europa, EUA ) e que não expressam as solicitações e conflitos do
contexto histórico e cultural de hispanoamérica. Entretanto, há filosofias em
hispanoamérica que possuém caráter peculiar, ou seja, foram trabalhadas de tal
forma que existem traços que lhe são próprios, peculiares.
Quanto ao caráter de autenticidade, a filosofia hispanoamericana não o possui,
pois se configurou sempre como consciência alienada frente aos problemas
mais cruciais dos países hispano-americanos. Há, porém, a possibilidade de que
seja autêntica na medida em que viabilize uma crítica à situação histórica e
cultural hispano-americana, passando a expressar as solicitações e conflitos
próprios do contexto hispano-americano.
Em síntese, para o autor não há em hispanoamérica uma filosofia original ( o
que houve foi imitação de modelos europeus de pensamento ) e muito menos
autêntica ( visto seu caráter de consciência alienada ), apesar de possuir traços
peculiares que lhe facilitam uma certa distinção. (51)
Leopoldo Zea, por sua vez, trabalha os conceitos de originalidade e
autenticidade em separado. Para esse autor a originalidade está presente na
filosofia latino-americana porque o que tem ocorrido no desenrolar de sua
história foi um processo de contínua adoção, por parte dos pensadores latino-
americanos, das filosofias européias, norte-americanas. (52) Tais filosofias foram
selecionadas, adaptadas e aplicadas em função da solução de problemas
surgidos nas circunstâncias históricas, culturais e políticas da América Latina e
é em tal procedimento que reside a originalidade da filosofia latino-
americana. (53) Nesse sentido, para Zea, a filosofia possui um caráter de
universalidade, ou seja, ao ser gestada por determinadas circunstâncias
históricas e culturais, ela pode ser aplicada a outros contextos, não se limitando,
por isso, às circunstâncias na qual foi gestada.
Quanto ao conceito de autenticidade, Zea concebe-o em duas perspectivas, ou
seja, numa perspectiva ética e numa perspectiva histórica. Na primeira
perspectiva Zea afirma a tese de que no decorrer da história do Homem,
produziu-se algumas filosofias e respectivas práxis de libertação de caráter
parcial. Tais processos de libertação são parciais porque ao se tematizar o
Homem de determinado contexto histórico e cultural não se leva em
consideração a possibilidade de que tal tematização possa ser atribuída a outros
homens de contextos históricos e culturais diferentes, ou seja, são tematizações
ou filosofias que se articulam de tal forma que não reconhecem "... en el outro
al semejante. Semejante en su diversidad, en su ser distinto. Pero no tan
distinto, ni tan diverso que acabe creyéndose un superhombre o un
subhombre." (54) Não tematizam o Homem em sua universalidade, mas sempre
determinado tipo de homem.
Tais filosofias não seriam, portanto, "analógicas". Por isso o autor nos diz: "Es
así que han surgido filosofías, no analógicas, capaces de justificar genocidios
de hombres y pueblos en nombre de la libertad y para su supuesta
defensa" (55) . Filosofias que buscam a tematização do homem numa perspectiva
que não seja analógica são, portanto, segundo a concepção de Zea, filosofias
inautênticas, não possuem caráter de autenticidade.
O conceito de autenticidade empregado numa perspectiva histórica entende que
a filosofia produzida na América Latina é inautêntica no sentido de que os
pensadores-políticos latino-americanos, frente à emergência de mudanças da
realidade latino-americana, partiram em busca de modelos de pensamento
europeus, ao mesmo tempo que negaram, em função de tais modelos, o passado
próprio da América Latina. Por isso, segundo as palavras do autor: "Pensamos
que cerrando los ojos a nuestro pasado, y a nuestro presente, íbamos a saltar,
milagrosamente, a la libertad. Pensábamos que imitando los frutos de hombres
que habían alcanzado esa libertad íbamos a ser como ellos, libres." (56)
Portanto, para Leopoldo Zea, determinadas filosofias latino-americanas são
inautênticas pelo fato de negarem o passado filosófico e cultural da América
Latina (57). Por outro lado, as filosofias não analógicas são também filosofias
inautênticas, pois tematizaram parcialmente processos de libertação ao longo
da história.
Nas elaborações dos dois autores os conceitos de originalidade e autenticidade
estão articulados aos conceitos de dominação, dependência e
subdesenvolvimento explicando-se, também, por estes últimos. Nesse sentido,
quando Salazar Bondy afirma a falta de originalidade da filosofia hispano-
americana está se referindo à realidade de subdesenvolvimento e dependência
da América Latina que não possibilita uma filosofia original, criativa, com
novidade conceitual... . Com efeito, uma comunidade des-estruturada,
dependente e subdesenvolvida faz surgir uma filosofia sem originalidade.
Superados, no entanto, os entraves do subdesenvolvimento e da dependência
surgiria, no entender de Bondy, uma filosofia original. Por sua vez, toda
filosofia que se apresenta como crítica dessa situação caracteriza-se como uma
filosofia autêntica. Crítica no sentido de constituir-se como uma instância des-
trutiva das ideologias alienantes e articulada a uma práxis de libertação.
Ressalte-se o fato de que uma filosofia autêntica para Salazar Bondy, em sua
obra ‘Existe uma filosofia de nossa América ?’ de l968, é algo que não se
configura como falsa consciência, mas se propõe desvelar criticamente a
realidade concreta da sociedade e cultura hispano-americana. Já em sua
conferência de l973, sem San Miguel, o autor concebe como autêntica aquela
filosofia aliada a uma práxis de libertação, uma "Filosofia da libertação",
preocupada com o cancelamento do subdesenvolvimento e dependência
hispano-americanos. Em outras palavras, uma filosofia plenamente ideológica
e politicamente militante.
Leopoldo Zea, por sua vez, afirma a necessidade de afirmação do Homem em
sua plenitude, em todos os aspectos que lhe dizem respeito: econômico, social,
político, cultural... .Esse empreendimento, contudo, precisa ser pensado numa
perspectiva autêntica, ou seja, analógica. Faz-se necessário uma filosofia e
respectiva práxis que, levando em consideração o Homem em suas
circunstâncias históricas e culturais se desenvolva tendo como horizonte
regulador a libertação universal de todos os homens.
No caso específico da América Latina é preciso, segundo o autor, que a filosofia
expresse, por um lado, a diversidade antropológica do continente tratando, por
exemplo, do problema racial e, por outro lado, problematize a posição da
América Latina no contexto das outras culturas e da história universal
avançando na tematização de problemas como o da conquista, da visão do
vencido e, principalmente, da luta pela superação do subdesenvolvimento e a
dependência.
Feitas essas distinções e comparações precedentes avançaremos para a
reconsideração de alguns elementos do estudo de Cerutti Guldberg resenhados
anteriormente na ‘Considerações Preliminares’.
Quanto à suposta "polêmica" havida entre os dois autores, conforme defende
Cerutti , pensamos que efetivamente o que houve, em San Miguel na Argentina,
na ocasião em que ocorreram as conferências dos autores, foi uma exposição de
suas pesquisas e um "debate" a partir de pressupostos teóricos diferentes. Os
dois autores, como atestam suas respectivas obras - que citamos na introdução
desse estudo - pesquisaram largamente e por muitos anos a tradição filosófica
latino-americana com critérios diferentes de análise e avaliação. Além disso,
mostramos no quarto capítulo, em nosso estudo comparativo, que os autores
além de conceberem de forma distinta os conceitos de originalidade e
autenticidade, articularam tais conceitos numa estratégia diferente de
argumentação: Bondy, fazendo do conceito de autenticidade o pressuposto da
originalidade na filosofia e Leopoldo Zea, por outro lado, tratando-os em
separado. Isso evidencia, a nosso ver, que entre os autores há posições
conceituais diferentes que originaram um "debate" importante no contexto da
filosofia latino-americana.
No que diz respeito à afirmação de Cerutti de que a "Polêmica" entre Leopoldo
Zea e Salazar Bondy e as elaborações existentes na época como a Teoria da
Dependência, a Pedagogia Libertadora, a Sociologia e a Teologia da
Libertação, além de outras elaborações afins foram os "antecedentes" teóricos
que influenciaram o surgimento da chamada "Filosofia da Libertação"
pensamos, ao contrário, que as elaborações dessa filosofia foram simultâneas
àquelas. Já em l966 existiam grupos na Argentina refletindo filosoficamente
temas ligados à práxis de libertação. Não há, portanto, relações de antecedência,
mas relações de influência recíproca entre todas essas elaborações no período
que compreende a Segunda metade da década de 60 e inícios da década de 70:
período histórico, por sinal, de efervescência política, social e cultural profunda.

CONCLUSÃO

Pudemos perceber ao longo das páginas anteriores que a análise e a avaliação


empreendida pelos dois autores sobre a filosofia na América Latina é muito
instigante e de uma relevância incontestável tanto para quem se dedica à
pesquisa da Filosofia Latino-americana – pois os autores aqui considerados são
grandes estudiosos e representantes dessa filosofia – quanto para quem busca
perceber como essa filosofia foi vivenciada e produzida, qual foi sua função no
contexto cultural e político latino-americano e o que é possível aprender com
essa experiência, sobretudo no que diz respeito à maneira como nossos filósofos
encaminharam as questões mais pertinentes e críticas de nossa cultura, de nossa
vida política.
Com efeito, constatamos que ao longo da tradição filosófica latino-americana
houve, segundo nossos autores, aportes significativos no campo filosófico.
Pudemos perceber, com Leopoldo Zea, que a "crítica da conquista" significou
um primeiro aporte significativo no campo desta tradição filosófica, crítica essa
levada a efeito por Las Casas quando denunciava o "racismo" presente nas
afirmações de Sepúlveda a respeito de uma suposta sub-humanidade do
indígena latino-americano; assim, também, as formas de pensamento gestadas
no momento das lutas de independência política das colônias latino-americanas
foram significativas pois orientaram a ação dos líderes políticos locais nas lutas
empreendidas contra as metrópoles. Isso demonstra que nossa filosofia foi
autêntica e profundamente original. Por outro lado, pudemos perceber também,
com Zea, que variadas tentativas de reflexão não alcançaram êxito como se
espera da filosofia quando ela é crítica: é o caso das tentativas dos
"emancipadores mentais" de produzir formas de pensamento des-enraizadas da
realidade latino-americana, assumindo estilos e atitudes alheias de fazer
filosofia e que funcionaram mais como encobrimento de nossa realidade do que
seu des-velamento crítico, como se espera de uma filosofia autêntica.
Com Salazar Bondy, aprendemos que em grande parte a filosofia na América
Latina foi inautêntica, pois funcionou muito mais como consciência alienada e
alienante, não possibilitando a compreensão crítica de nossa realidade.
Aprendemos, com esse autor, que o influxo da realidade de
subdesenvolvimento, dependência e dominação que sofre a América Latina
desde a chegada do homem branco europeu nesse continente, determinou
largamente o estatuto de nossa filosofia, suas condições de possibilidade e de
originalidade. Vimos também, por outro lado, que para esse autor existem
possibilidades de emergência de uma filosofia autêntica, pois a realidade não é
plenamente determinante e que a filosofia, na medida em que seja
rigorosamente vinculada à práxis de libertação pode adquirir originalidade e
contribuir para a superação de tal realidade. De fato, para o autor, a
autenticidade de toda a filosofia começa na medida em que contribua
diretamente no des-nudamento dos mecanismos econômicos, sociais, políticos
e culturais que fazem da América Latina um continente dependente e dominado.
De nossa parte entendemos que a questão fundamental para a filosofia na
América Latina é não esquecer a dimensão política de toda filosofia, pois a
filosofia, no contexto mais geral da cultura e da existência do Homem, possui
uma função de extrema relevância, significando um empreendimento valoroso
na medida em que contribua – vinculando-se autenticamente a toda práxis de
libertação – na compreensão de nossa realidade em função da solução do
problema da miséria de grande parcela da humanidade mergulhada nas garras
do capitalismo pós-industrial e excludente desse final de milênio. Ou a filosofia
na América Latina pensa tais problemas ( sendo, pois, uma filosofia autêntica )
ou, ao contrário, se transformará em um exercício de retórica e terá a cara
daquelas "filosofias" aqui produzidas que não lograram nenhuma originalidade,
sendo, antes, um produto alheio, sem importância no seio de nossa cultura.
__________________________________________

Notas:
 Pós-graduado em Filosofia Política Moderna pela UFPR; membro do IFIL – Instituto de Filosofia da Libertação e professor da rede pública
do Estado do Paraná.

1. BONDY, A. Salazar. Existe una filosofía de nuestra América ?. ll ed. México: Siglo XXI Editores, l988. 95 p.
2. ZEA, Leopoldo. La filosofía americana como filosofía sin más. 3 ed. México: Siglo XXI Editores, l975. 124 p.
3. ZEA. La filosofía latinoamericana como filosofía de la liberación. Stromata. San Miguel, Argentina, 29 (4) : 399-413, out-dez l973.
4. BONDY. Filosofía de la dominación y filosofía de la liberación. Stromata. San Miguel, Argentina, 29 (4) : 393-397, out-dez l973.
5. CERUTTI GULDEBERG, Horácio. Filosofía de la liberación latinoamericana. l ed. México: F.C.E., l983. 326 p.
6. Para conferir as obras mencionadas veja-se as notas precedentes.
7. Trata-se da Pedagogia Libertadora de Paulo Freire: veja-se José Carlos LIBÁNEO, "Tendências Pedagógicas na Prática Escolar" , Revista
ANDE N.3 (vol. 6) , p. l5-l6

8. Veja-se Pedro Negre Rigol. "Sociologia da libertação" in: Sociologia do Terceiro Mundo – Crítica ao modelo desenvolvimentista.
Petrópolis, Vozes, l977 p.99. Este livro foi originalmente publicado em l975 pela Editorial Paidós com o título Sociología del Tercer Mundo.

9. Veja-se Alberto VIVAR FLORES. Antropologia da libertação latinoamericana. São Paulo, Edições Paulinas, l99l.
10. Veja-se os trabalhos de Gustavo Gutierrez, Teología de la liberación, Lima, Editorial Universitária, l97l, de Leonardo BOFF, Jesus
Cristo Libertador, Petrópolis, Vozes, l972, e de Juan LUIS SEGUNDO, A Libertação da Teologia, publicado originalmente em l975

11. Veja-se J. Leite LOPES. Ciência e Libertação. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, l969., Frantz FANON Les Damnés de la terre, Paris,
Ed. Máspero, l96l; Ébénézer NJOH-MOUELLE. Jalons, Recherches d’ une mentalité neuve, Youndé, Ed. Clé , l970., Herbert MARCUSE. n
Essay on liberation. Boston, Beacon Press. Tradução francesa sob o título Vers la libération - au – dela de l’homme inidimensionel. Paris, Les
Editions de Minuit, l969 , André Gunder Frank, l969, : "Antropologia Liberal versus Antropologia da libertação" ( conferencia citada por
VIVAR FLORES, op. cit. P.3l ) ; James CONE . A Black Theology of Liberation, Genebra, l972.

12. Veja-se Euclides André MANCE , "Filosofia da Libertação e Filosofia Latino-americana – Acervo Bibliográfico da SIEFIL", Filosofia,
Curitiba, N.4, out. l992, p. l09-l58 e Euclides André MANCE, Mil Títulos – Filosofia da Libertação e Filosofia Latino-americana. Curitiba,
SIEFIL, l995

13. CERUTTI GULDBERG, Horácio. Filosofía de la liberación latinoamericana. p. l63


14. CERUTTI, p. l63
15. CERUTTI, p. l63
16. CERUTTI, p. l64
17. CERUTTI, p. l64
18. CERUTTI, p. l66
19. CERUTTI, p. l67
20. CERUTTI, p. 167
21. BONDY, A. Salazar. Existe una filosofía de nuestra América ? p. 80
22. BONDY, p. 8l
23. A utilização do termo ‘Filosofia Hispanoamericana refere-se à delimitação do campo de trabalho feita pelo próprio autor na introdução
de seu livro ‘Existe uma filosofia de nossa América’. Conforme suas palavras, "sólo atenderemos al pensamiento filosófico del área
hispanoamericana, no al americano en general, ni siquiera al ibero o latinoamericano, aunque haya buenas razones para pensar que las
conclusiones de nuestro estudio pueden ser extendidas sin esfuerzo a la filosofía del Brasil o, lo que es práticamente lo mismo, al conjunto de
la América Latina".

24. BONDY, p. 72
25. BONDY, p. 72
26. BONDY, p. 72
27. BONDY, p. 8l
28. BONDY, p. 85
29. BONDY, p. 393-394
30. BONDY, P. 393
31. BONDY, 394
32. BONDY, P. 88
33. BONDY, p. 89
34. BONDY, 397
35. Arturo Ardao citado por Leopoldo ZEA in: La filosofía americana como filosofía sin más, p. 94
36. ZEA, Leopoldo. La filosofía americana como filosofía sin más. 3 ed. México: Siglo XXI Editores, l975. L34 p.
37. ZEA. P. 11
38. ZEA. P. 13
39. ZEA. P. 15
40. ZEA. P. 32
41. ZEA. P. 33
42. ZEA. P. 42
43. ZEA. P. 43
44. ZEA. P. 58-59
45. ZEA. P. 6l
46. CERUTTI GULDBERG, Horácio. Filosofía de la liberación latinoamericana. p. 164
47. ZEA. La filosofía latinoamericana como filosofía de la liberación. P. 408
48. ZEA. P. 409
49. ZEA. P. 410
50. ZEA. P. 401
51. Veja-se que o conceito de originalidade em Salazar Bondy supõe o entendimento de seu conceito de autenticidade: a filosofia
hispanoamericana não é original, segundo o autor, porque não apresenta categorias vigorosas, nem evolução interna no sentido de constituir
uma tradição de pensamento ( uma ‘história da filosofia’). A causa principal disso, entretanto, resulta do fato de que as elaborações existentes
em hispanoamérica na área filosófica não expressam a vida das comunidades hispano-americanas, ou seja, são cópias e imitações de formas
de pensamento e vida de outros contextos históricos. Daí tais elaborações serem inautênticas e funcionarem como falsa consciência ou
consciência alienada e alienante. Note-se que tal ponto de vista descarta, sob pena de não lograr originalidade, qualquer tentativa de adoção
em um determinado contexto de filosofias surgidas noutro contexto.

52. Veja-se que para Leopoldo Zea, diferentemente de Salazar Bondy, a filosofia surgida em determinada circunstancia histórica é passível
de ser adotada em qualquer outra circunstancia. Isso porque toda filosofia possui um caráter universal. No que diz respeito à América Latina,

a filosofia européia ou norte-americana é bem vinda, desde que seja adequada à solução de nossos problemas.

53. Isso se deu, principalmente, no que diz respeito às elaborações de cunho político e ideológico, visto que tais elaborações consideravam
problemas concretos e urgentes relativos à realidade de dominação tanto de indígenas, na polêmica de Las Casas com Sepúlveda quando o

primeiro argumentava a favor da natureza humana dos indígenas, quanto no período da emancipação política dos países latino-americanos,

quando inspirando-se nas idéias iluministas, se buscou romper com a dominação ibérica.

54. ZEA. Leopoldo. La filosofía latinoamericana como filosofía de la liberación. P. 410


55. ZEA. P. 410
56. ZEA. P. 411
57. Há, entretanto, segundo Leopoldo Zea, rasgos de autenticidade na tradição filosófica latino-americana, na medida em que a adoção
crítica de certas filosofias européias, permitiram fazer a denúncia da dominação indígena e, também, da dominação metropolitana sobre as
colônias latino-americanas.

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